História Quando éramos apenas crianças sob as estrelas - Conhecidos estranhos

Resolvi fazer uma coisa que não fazia por anos.

Resolvi ir até o salão das mulheres.

Sei que agora é simplesmente a hora mais horrível pra ir pra lá. Vai estar cheio de selecionadas e elas provavelmente vao estar falando de Shalom, o que, sinceramente, era algo que eu não queria ouvir.

Chegando lá, meus pensamentos foram confirmados, a não ser pelo fato de elas estarem falando sobre bolos ao invés de Shalom. Era um assunto bem aleatorio, mas eu também não conseguiria pensar em nada de melhor para falar com gente que eu nem conheço. America era o centro das atenções na conversa e uma vez ou outra perguntavam pra ela como tinha sido fazer parte de uma seleção. Eadlyn estava claramente entediada. Pelo o que Shay me dizia, ela gostava de ter atenção, mas acho que a experiência dela com seleçoes era bem diferente da das selecionadas ou da de America.

-Cala a boca, Juny! Você está querendo dizer que isso aqui não é tão legal assim de primeira vista! Esse é meu sonho desde de pequena!

-Eu só estou dizendo que...

-Juny, deu. -A garota não tinha vergonha de parecer insolente nem na frente da rainha e era exatamente o tipo de pessoa que eu já batia o olho e sabia que não ia gostar.

O jeito com ela falava com a amiga e interrompia America me fez perceber que Shalom realmente não passava nenhum tempo com essas selecionadas, já que deixou essa garota ficar.

-Oi. -Eu disse sentando ao lado de Lana e Piper, que observavam a conversa mais de longe. -Quem é aquela garota... -Tentei achar características pra descreve-la.

-Ridicula? -Lana disse. -Marylin Rhivers.

-Ela é exatamente que nem macarrão instantâneo. -Piper disse.

-Macarrao instantâneo? -Perguntei sem entender nada.

-É, a embalagem é bonita, mas o que tem dentro é nojento e ruim.

Eu e Lana rimos e Piper pareceu feliz pela piada que ela devia ter demorado pra fazer ter funcionado.

-Ela é insuportável. A Juny é a única que tenta conversar com ela, mas é porque a Juny conversa com todo mundo e parece mais interessada nas garotas que no príncipe.

-Eu também estaria. Quer dizer, diga uma pessoa que não é bonita aqui? -Lana disse.

-Mas o príncipe também é maravilhoso!

-Mas sempre está cheio de trabalho!

-Ah, eu prefiro virar uma lady e morar no castelo apenas comendo. -Piper disse.

-Invejem-me. -Respondi jogando o cabelo pra trás.

-Invejamos. -As duas disseram e eu ri.

Conversamos sobre coisas idiotas e ficamos falando sobre a cara de cada uma das selecionadas, em pouco tempo já sabia que Mika LeeLan tinha uma família rica e de origem oriental, Marylin Rhivers era sobrinha do governador de Carolina, Lana era filha de uma família simples que antigamente, no período das castas, conseguiu vir para Illea e viver como Seis, Piper era uma garota como Hatty e Juny Pilbers era modelo, como já dava para perceber.

Sai do salão depois de Lana, que foi embora devido a ataques sucessivos de Marylin para Juny.

Estava andando por aí quando esbarrei em Gardner.

-Crys!

-Gard! Meu Deus, você mora aqui agora e eu só te vi duas vezes! Parece outra pessoa...

-Gardner! -Um guarda alto e loiro apareceu. -Eu tava te procurando. Esqueceu isso. -Ele estendeu um livro para Gardner. -Na biblioteca. Não que eu estivesse prestando atenção.

-Obrigado, Gunther. Ah propósito, Gunther, essa é a Crystal, minha amiga. Crys, esse é o Gunther, um guarda amigo meu.

-Se estiver precisando ser protegida, me chama! Bom, vou indo. Tenho várias coisas de guarda pra fazer.

Ele foi pra longe e Gardner olhou para os livros nas suas mãos.

-Como vão as coisas? -Ele suspirou.

-Acho que bem.

-Acha?

Contorci meu rosto e baixei os ombros.

-Quer me falar o que aconteceu? Embora eu já saiba.

-Nao quero, vou.

Puxei ele pro meu quarto e fiz ele sentar pra se preparar para a enxurrada de palavras.

-Como posso começar?

-Que tal por... Shalom?

-Ta tão na cara que é por ele?

-Eu te conheço a mais tempo que qualquer um aqui. E sei muito bem como é me afastar de alguém que gosto muito desse jeito. -Suspirei. -Eu não vou mais trabalhar hoje, posso ouvir tudo o que você quiser.

-Vamos começar, então.

Sentei do lado dele e contei tudo. Desde quando eu e Shay éramos crianças, minha vida na Noruecia, até agora, sem esquecer dos menores detalhes. Os menores detalhes que me fizeram quase chorar e ficar com a voz falhada durante metade da explicação. Eu precisava falar disso pra alguém, e finalmente ter essa pessoa era como tirar quilos das minhas costas e da minha consciência. Podia confiar em Gardner, sabia disso.

-Tenso. -Ele disse depois de um longo suspiro. -Porque você ainda gosta dele.

-O quê?! Não! Não faz sentido, quer dizer, por que eu... -Eu disse ainda com a voz de choro.

-Nao tem um porque. Você simplesmente gosta dele.

-Mas eu não posso!

-Ai é que tá o problema. Se apaixonar não é tão fácil assim, Crystalzinha.

Dei um sorriso triste e duas lágrimas caíram dos meus olhos. Ele me abraçou e eu ri, achando chorar naquela hora ridículo.

-Experiencia própria. -Ele completou.

-Espera aí! -Sequei as lágrimas. -Essa eu quero saber!

-Talvez em outra hora, agora o assunto é você.

Continuamos conversando até muito tarde. Já era quase hora do jantar quando interrompemos as piadas e reflexões e Gardner saiu do meu quarto, me deixando sozinha.

Ficar sozinha não foi bom como sempre dessa vez. Comecei a pensar em tantas coisas, coisas que me sobrecarregaram outra vez e me fizeram soltar algumas lágrimas solitárias antes de descer para o jantar.

Quando eu vim para o castelo pra morar pela primeira vez, foi horrível, porque todos eram estranhos pra mim, mas agora é ainda pior. As pessoas são de novo completos estranhos pra mim, mas dessa vez eu já conhecia elas.