Inverno - 2016
Pouco mais de uma hora havia se passado desde que cheguei da clínica onde meu pai está internado. Após um longo banho quente, já de pijama, resolvi ficar aqui pela sala. Sentada no sofá, coberta por um edredom. O tempo da minha ducha foi o suficiente para a noite se fazer presente.
A televisão está ligada em um noticiário qualquer, não sei o porquê... Sequer presto atenção. Meus olhos não estão fixados no aparelho, e sim no retrato que carrego em mãos. Uma fotografia minha e de Robin.
Estávamos sorridentes.
Felizes, para ser mais exata. Éramos felizes. Éramos, pois agora estou só.
Recordo-me da conversa que tive com o meu pai horas antes...Contar a ele como conheci Robin me fez bem. Até agora.
Minhas emoções estão intensas. Sinto dor.
Lágrimas já percorrem o meu rosto. Resolvo beber um pouco do vinho que havia servido alguns minutos atrás. Uma tentativa frustrada de conter meu sofrimento. O efeito foi contrário. Chorei mais, sofri mais.
Me arrependo de ter tido esperança, esperança no amor, foi um erro. Porque, assim como a vida, ela também morre. Só desejo esquecer, esquecer que o amei, que o tive, e que o perdi. Mas isso é impossível, eu sei. Pois jamais esquecemos quem amamos, quem verdadeiramente amamos.
Eu o amei até o último beijo selado, abraço trocado... O amo da mesma forma que antes, até mais, se for possível. Eu o amo, mesmo sem poder tê-lo por perto. O amo.
Levo a mão ao lábio, lembro-me do nosso primeiro beijo. A nossa dança. Aquele baile... Me perco nessas recordações.
Um ano antes
Agosto de 2015
A brisa de verão soprava leve. Assim como a oscilação do mar. O céu estava estrelado. E, lá estava ela, Regina Mills. Parada no convés.
Robin estava no salão onde o baile ocorria. Pessoas dançavam, enquanto ouviam o belo repertório dos músicos, as canções eram tão belas quanto aquela noite, devido a vasta quantidade de instrumentos que havia no ambiente. A variedade de lustres pendurados no teto iluminavam o ambiente. Nas mesas, além da presença de ramos de flores, louças de porcelana e taças de cristais... Havia o general proferindo uma piada, ao lado de sua acompanhante, Belle. Certamente queria agrada-la. Entretanto, desde que o mais velho lhe informou que Regina havia chegado. Ele guiava o olhar a sua procura.
Afinal, o baile já não estava tão lotado quanto antes, algumas pessoas já se dispersavam. O próprio acreditou que ela não fosse mais. Até o general lhe contar de sua chegada. E, agora, enquanto espiava por uma das pequenas janelas do navio, pode enxerga-la.
O tenente esqueceu tudo ao seu redor, pensava apenas em se aproximar e dar início a sua vingança.
Pediu licença e retirou-se da mesa.
Regina estava distraída contemplando as estrelas. Sorriu. Lembrou-se de sua infância, certa vez disse ao seu pai que gostaria de ser brilhante como uma. Questionou se deveria estar ali de fato, sua presença era necessária em casa. Seu pai estava doente, com uma pessoa que ela sequer conhecia o suficiente para saber se ele ficaria bem. Não devia ter escutado Emma, que a aconselhou a se “divertir”, não tinha esse privilégio.
-Pelo visto terei a honra de dançar com você essa noite.
Disse Robin, a assustando.
Virou-se, o encarando. Estava belo, com suas vestes militares, devidamente aninhadas. Fitavam um ao outro.
O convite dele no fim daquela tarde fora decisivo na sua escolha.
Percebendo a expressão de Regina, o homem profere, –Me desculpe, você parece distraída.
Esboçando um pequeno sorriso, Regina responde. –Estava pensando no meu pai. Eu tinha que estar em casa.
Suspirou. Não compreendia o fato de dizer aquilo na frente de Robin.
-Mas você está aqui... –ele proclama, interrompendo o silêncio que havia sido gerado –E nós dois vamos dançar.
Finalizou, aproximando-se.
Robin depositou a mão esquerda no quadril dela, e a direita se encontrou com a dela. Percebeu que ela sorria.
Regina não podia negar para si mesma que era agradável sentir o toque de alguém. O tenente aproximou ainda mais seus corpos, sendo possível sentir o aroma da mulher que estava em seus braços. Cheirosa. Pensou.
Lembrou-se de seu principal objetivo, vingança.
Endless Love
-Nós vamos dançar aqui? Pensei que fossemos para o salão.
-Aqui é melhor, apenas nós dois. –sussurrou no ouvido dela, percebeu que havia lhe deixado arrepiada. Conquista-la não seria tão difícil.
Robin conduzia Regina lentamente, dançavam pelo convés. A mulher sentiu o homem inalar seu perfume, sentindo também o calor que o corpo deste emanava.
Os olhos de Regina estavam fechados, entregou-se a ocasião. Por um breve momento, enquanto se permitia ser guiada por Robin, pensou que sua vida estava leve como a brisa da noite, ou, até mesmo, brilhante, como as estrelas.
Fora capaz de esquecer de seus problemas.
Em um murmúrio, o tenente proferiu um pequeno trecho da canção, no ouvido da mulher.
-Dois corações que batem como um só. Nossas vidas apenas começaram...
Aquelas palavras a fizeram questionar o que o homem que a fitava com adoração estava querendo dizer? Qual a razão da mesma gostar de ouvir aquilo?
Suas respirações estavam ofegantes. Se olhavam com esplendor.
Por um instante, Regina pensou que ele fosse beija-la. Mas, não foi isso que aconteceu. Repentinamente, o olhar dele mudou, parecia perdido, receoso. Disse que buscaria bebida, logo em seguida se dispersou em meio as pessoas.
Antes que pudesse compreender o que estava acontecendo, Regina é surpreendida por Emma.
-Eu não sabia que rolava um clima entre você e o tenente Locksley.
-Nós estávamos apenas dançando.
Respondeu, ruborizando em seguida.
-Eu gosto do Locksley, ele é meio frio às vezes, mas é boa pessoa. Só... –hesitou –Tome cuidado. –Regina franziu o cenho, Emma se explicou. –Digamos que o tenente nem sempre foi correto como aparenta. Ele se apaixonou por uma mulher –a expressão de Regina continuou a mesma, como se aquilo fosse óbvio. Afinal, era natural que homens e mulheres se apaixonassem um pelo outro. Adivinhando os pensamentos da amiga, Emma continua –Enquanto ele era casado. Ele teve um caso com essa mulher.
Dessa vez percebeu a mudança no semblante de Regina. A mesma ficou sem saber o que dizer, abriu a boca, fechando-a em seguida.
-Apenas tome cuidado. Só não quero que você sofra.
-Tudo bem...É...Não vale a pena arriscar. –sua frustração era perceptível. Encarou o convés do navio –É melhor eu ir.
-Regina...
-Tudo bem.
Disse, se afastando.
Caminhava em passos largos pelo navio, pensava apenas em partir. Não conseguia entender por que estava tão abalada com aquela informação. Locksley era um desconhecido.
Ao perceber que estava na rua, firmou ainda mais o passo. Porém, o escutou chama-la.
-Regina!
Seu corpo congelou.
-Onde você está indo? –perguntou ele, aproximando-se.
-Para casa.
-Eu achei que fossemos conversar, beber...
-Eu não posso.
Respondeu ríspida. Continuou caminhando, sendo seguida por Robin.
-Tudo bem, então –suspirou –Eu acompanho você até seu carro.
-Eu não estou com o meu carro, vou a pé.
-Não quer uma carona?
-Não.
-Vai voltar sozinha? É perigoso.
-Minha casa fica algumas quadras daqui.
-Vou acompanha-la então.
-Não será necessário.
-Eu faço questão.
Regina bufou, não podia impedi-lo. Além do mais, ele era insistente.
Caminhavam lado a lado. Em silêncio. O único som audível eram os saltos da mulher, contra a calçada. Regina passou a mão em seus braços, abraçando a si mesma. Estava com frio.
O homem logo retirou seu terno, colocando na mulher ao seu lado. A princípio ela recusou, mas não pode manter aquela postura assim que o viu sorrir.
-Por favor.
Ele pediu. Mills consentiu com um breve sorriso.
Não havia movimento algum na rua, somente os dois. A lua cheia, as vastas estrelas, e os postes, iluminavam ambos.
-Você não acha que seria perigoso voltar sozinha? Por que não está de carro?
-Não gosto de dirigir –suspirou –Não tenho boas recordações. Além do mais, já estou acostumada a andar sozinha.
-Não se depender de mim.
Robin comentou, fazendo-a parar de caminhar. Fitando o homem a sua frente. Ele fez o mesmo.
-Olha... –ela começou a dizer –Eu agradeço pelo que está fazendo agora, por aquela carona, mas eu não sou uma distração tenente. Sou uma mulher ocupada, tenho o meu pai para cuidar. Não há tempo para certas diversões com está acostumado.
Finalizou, firmando seus passos novamente.
-Pelo visto já contaram a você... –comentou, constrangido –Eu não sei o que te disseram, mas ficaria grato se escutasse a minha versão, por favor. Eu não sou mais aquele homem.
-Você não precisa me explicar nada, sequer nos conhecemos.
-Apenas como amigos.
Pediu, gentilmente, colocando sua mão sobre o ombro da mulher.
Regina continuava sem compreender o motivo de tanta insistência, mas aceitou.
Voltaram a caminhar em passos lentos. Robin começou a contar como conhecera Victória, que para Regina, disse ser Rachel. Disse em como a forte relação de cumplicidade de ambos logo transformou-se em algo que ele temia. Se apaixonaram. O que consequentemente tornou-se um caso. Uma traição.
Ao seu primeiro amor, Marian. Sua namorada desde os tempos do colegial.
-Conseguimos esconder nosso relacionamento por um ano. Eu estava confuso, precisava tomar uma decisão, escolher com quem eu queria ficar. –suspirou-Com Marian eu tinha uma vida, uma família constituída. Já com Vi... Rachel –corrigiu -Eu tinha paixão. Por fim, minha mulher descobriu, pediu o divórcio, nos separamos. Compartilhamos a guarda do nosso filho. Rachel e eu ficamos noivos, contra a vontade da minha família, que não aceitava o que eu tinha feito. Nem sequer chegaram a conhece-la. –Murmurou, seu tom de voz diminuiu gradativamente. –Meses depois ela descobriu que estava doente e... –Regina pode ver lágrimas se formando naquele belo par de olhos azuis –Rachel faleceu.
Concluiu com pesar. Percebendo a feição entristecida do homem, deposita sua mão no braço dele –Eu sinto muito.
Proferiu, por um momento, Robin sentiu sinceridade no olhar que a mulher emitia. Porém, recordou-se que era ela, a culpada da morte de Victória.
Assassina.
Ironizava a situação nos seus pensamentos. Acabara de narrar o trágico desfecho de sua história, tendo ao lado a responsável por todo seu sofrimento.
Fitava Regina, era dominado por um misto de sentimentos. A tristeza em seu olhar era substituída por raiva. O que não passou despercebido por Regina. Notou que o homem a sua frente adquiria a mesma expressão de semanas atrás quando saiu repentinamente da enfermaria.
-Você está bem?
Contendo sua fúria, Robin encarou o chão, respirando pesadamente. Quando a fitou, fingiu sorriso.
-Ainda é difícil falar sobre a morte dela.
Fez um gesto para que prosseguissem o caminho que havia sido pausado.
-Então, você tem um filho.
Disse Regina, esboçando um sorriso, na tentativa de mudar de assunto.
-Sim. Roland é tudo que eu tenho agora. É o que me faz feliz, por ele tento ser um homem melhor.
Confidenciou, sendo sincero pela primeira vez naquela noite.
-Deve ser um bom menino, pela forma que você fala dele.
-Ele é. Tem apenas cinco anos, em uma semana quer ser músico, na outra, um grande soldado como eu fui, ontem me disse que gostaria de ser astronauta.
Aquele comentário fez Regina gargalhar, ecoando na rua vazia. Robin não podia negar que a risada dela fora uma das mais belas que já escutou.
Se odiou por admira-la. Mesmo que fosse por segundos.
Percebeu que as risadas da mulher cessaram rapidamente, a expressão extrovertida fora substituída por preocupação. Ela observava um senhor em frente a uma bela casa branca, o mesmo estava podando algumas flores.
-O que foi?
Robin perguntou.
-É o meu pai.
Ela disse caminhando rapidamente. Logo chegou até o senhor.
-Pai, o que está fazendo aqui fora? E a enfermeira? –questionava Regina, preocupada. Seu olhar encaminhou-se para dentro de casa, a porta escancarada, as luzes acesas...
-Ela teve que ir embora, aconteceu algo.
O descontentamento era visível no rosto da mulher.
-Esse é o seu pai? –Robin pergunta, já próximo aos dois. –É um prazer, senhor.
Ambos apertaram a mão um do outro.
-Pai, esse é um amigo do pentágono.
Disse Regina, ainda aflita. Não gostaria de pensar no que poderia ter acontecido se seu pai tivesse se encaminhado para outro lugar.
-Não fique preocupada, filha. –o senhor tocou no braço de Regina –Eu estava apenas cuidando dessas flores. –pegou algumas rosas – Escolhi essas para entregar a sua mãe quando ela chegar.
Finalizou sorridente, subindo os degraus que ficavam em frente a residência. Entrou e fechou a porta. Observando rapidamente a figura de sua filha acompanhada do homem que a levara para casa.
A angústia que Regina exalava em sua feição, não estava mais presente. Dor, era isso que Robin pode decifrar na mulher a sua frente.
-Ela não vai voltar... –sussurrou mais para si mesma do que para Robin, este a encarava –Minha mãe morreu há dez anos.
Completou.
O tenente não pode esconder sua expressão de curiosidade.
-Meu pai está com Alzheimer.
Proferiu, encarando as estrelas.
-Eu sinto muito.
-Tudo bem... –fitou Robin – Obrigada por me acompanhar. –entregou a ele seu terno.
Dirigiu-se a escada. Subia o segundo degrau, então o escutou dizer algumas palavras, belas palavras.
-Você não será uma distração, doutora. Eu quero algo sério com você. -percebendo que ela havia parado, foi até a mesma. Já estavam próximos novamente, como na dança.
-Por que eu? Você nem me conhece.
“Porque, quero me vingar de você, destruir sua vida como fez com a minha. Em um dia terá tudo, no outro, nada.”
Pensou.
Levou sua mão até o rosto da mulher, acariciando-o. Notando que ela não recusou o afeto, aproximou seu rosto ainda mais.
Naquele momento, Locksley só pensou o quanto queria que suas palavras soassem verdadeiras.
-Porque me deixei ser surrado por um soldado qualquer quando te vi. –os dois sorriram –Adorei conversar com você enquanto te concedia uma carona, foi um prazer ser o seu par em uma dança, e será igual ao te beijar.
Encontraram seus lábios, em um beijo tímido que logo transformou-se em algo caloroso. Só fora cessado quando necessidade de fôlego se fez presente.
Ainda de olhos fechados, e respiração acelerada. Robin murmurou –Porque fico nervoso toda vez que está ao meu lado. –sorriu –Quero que você me permita te conhecer, cada imperfeição, ou, qualidade. Apenas permita.
Finalizou acariciando a maçã do rosto da mulher com seu polegar.Emocionada, Regina abriu os olhos para fita-lo.
Talvez valesse a pena se arriscar.
X X X
“Sete dias depois da minha chegada no Outono, conheci o tenente Locksley. Algumas horas de conversa e já bastou para que nos tornássemos amigos. O guerreiro e o escritor. Por vezes, dividimos o que comer, ou tomar. Depende da necessidade do outro.
No começo, eu tinha medo do que poderia acontecer conosco. Agora que sei, desejo a morte. Não há nada pior do que a tortura. Já perdi parte da minha perna esquerda, e o meu amigo está lá, suportando essa crueldade...
Escrevo nesse pequeno bloco de papel, com o intuito de relatar o que de fato acontece por aqui. Espero que um dia sirva de ajuda, mesmo que ainda seja distante.
Acredito que estamos em meados de dezembro, gostaria de estar sendo agraciado por uma tempestade de neve, ou, algo do tipo. Porém, ao invés disso, conto, nesse pedaço de papel, meu desespero. O medo de perder meu amigo.
Espero ansioso pela primavera, talvez ela me traga as flores, o paraíso. “
Escuridão é tudo que vejo. Meu corpo está despido. Agarro ele com precisão, na tentativa de conter o frio. Meu lábio está sangrando, sequer consigo abrir os olhos.
Minha última lembrança são gritos estridentes no meu ouvido, o inimigo pedindo por informações das quais eu jamais poderia conceber. Não recordo, e mesmo que soubesse, sempre fui astuto, não me atreveria a dizer. Contudo, sei que falta algo, minhas memórias são vagas, algumas lembranças sem sentido.
Enigmas.
Embora seja difícil admitir, meu amigo Jefferson está certo. Algo está errado.
Só não sei se viveria para descobrir.
X X X
A neve que cai cobre a calçada e os quintais. Estou indo jantar na casa da minha cunhada. Parece que Louisa tem uma novidade para me contar. Devo escolher entre a direita e a esquerda, o mesmo que fosse o sofrimento e o nada. Preciso evitar essa dor, sendo assim, escolho a direita.
Alguns minutos e já estou em frente à casa de Zelena. Do lado de fora, enquanto apresso meus passos, posso escutar a bela melodia sonora que Louisa repercute no local. É uma violoncelista nata.
Toquei a campainha e logo fui recebida com um abraço caloroso de Mary Margaret, esposa de David, irmão mais novo de Robin.
-Regina, como você está? –perguntou, mas tenho certeza que ela percebeu meus olhos inchados de tanto chorar.
-Estou bem. –sorri, mesmo que fosse mentira, por outro lado, me sentia bem quando estava na companhia deles. Eram como uma família, não me sentia só.
Fui até a sala e lá estavam todos me aguardando. Até mesmo Roland, assim que me viu, correu até mim e se jogou em meus braços. Retribui o afeto do meu enteado, que na verdade, ele é como meu filho. Beijei seus cabelos encaracolados, e logo em seguida acariciei eles, o fazendo sorrir. Sei que ele gosta.
Todos me receberam com abraços e beijos, como sempre. Deviam perceber que a minha aparência não estava tão boa, como eu dizia estar, mas não perguntaram nada. Afinal, pareciam comemorar algo. Fiquei feliz por ser convidada, a morte de Robin não nos afastou, pelo contrário, nos uniu. Ainda mais.
Sempre tive um bom relacionamento com a família de Robin, quando começamos a namorar, ele havia se retratado com eles recentemente. Muitos disseram para mim que eu fui o motivo de tal mudança no comportamento e nas atitudes dele. Afinal, não mantinham contato contínuo, desde que, a traição de Robin com Rachel foi descoberta. Certa vez, Robin me confidenciou que ficou triste por sua família sequer o apoiar quando ela veio a falecer...
Tudo mudou quando eu cheguei. Os laços foram concretizados novamente. E, agora, estou aqui.
Minha sobrinha acaba de anunciar que foi uma das escolhidas para tocar nas apresentações de natal no fim do ano. O que foi motivo de comemoração para todos nós. Afinal, sempre é uma grande conquista quando realizamos nossos sonhos. Ou, quando presenciamos a vitória de alguém que amamos.
O jantar foi realizado em comemoração, por vezes, eu até consegui ignorar o fato da cadeira ao meu lado estar vazia. Onde Robin estaria.
Éramos contemplados pela neve que caia lá fora, gargalhadas, vinho tinto, frango. Seria perfeito se ele estivesse ali, ao meu lado. Contando uma piada, como fez tantas vezes, ou simplesmente aborrecido com alguma situação. Eu não era a única que sentia falta dele, as vezes percebia o olhar deles sob a cadeira. Um objeto como qualquer outro, que era capaz de tirar o sorriso estampado no rosto de alguém. Não era por ela em si, obviamente, e sim pela pessoa que esteve nela tantas vezes, em confraternizações.
Cada um vivia o luto de uma forma distinta.
Depois do delicioso e harmônico jantar, fui ajudar Zelena com a louça. Percebi que ela me observava, queria dizer algo.
-Marian e eu colocamos o apartamento de Robin a venda... – ela disse finalmente – Ela quer investir nos estudos de Roland. Você não se importa, não é?
-Não, claro que não –finjo um sorriso, na verdade, eu me importo, quero mantê-lo vivo, mas sei que ele não vai voltar. Não vai voltar para mim, como me prometeu. Mas, sei que essa é a atitude certa a ser tomada. Sensata, continuo –Fico feliz que ela pense assim. Roland terá um futuro brilhante!
Dessa vez meu sorriso é sincero.
-E a casa? –Zelena pergunta, sei que meu semblante já deve ter mudado, esse é um assunto delicado. A nossa casa.
-Como? –pergunto, espantada.
-Marian sabe que vocês a compraram juntos, você tem a sua parte, Robin a dele...
-Eu compro a parte dele, não vou vendê-la. –digo, brava.
-Regina... Você vai sofrer ainda mais se ficar com ela. Não pode viver para sempre apenas com a figura de um retrato. O Robin está morto.
-Eu não consigo, Zelena, ele ainda está aqui, comigo. Permanece vivo em mim. Eu não vou me desfazer daquela casa, a nossa casa. –suspiro, ficamos em silêncio -Se ele estivesse naquele avião! –bato em punho na pia, alterada, com raiva. Zelena me olha, assustada. –Ele estaria aqui.
Completei, minha voz já estava embargada. Meus olhos ardentes.
Quando percebo, já estou sendo amparada, nos braços da minha cunhada.
-Me desculpe, eu não devia ter tocado nesse assunto.
Minutos depois, já recuperada. Me despedi, e fui embora. Dessa vez não fiz uma escolha consciente, o mal já havia sido feito. Dobrei a esquerda. Alguns passos, e lá estava ela. A nossa casa.
Branca, de dois andares, aberturas verde musgo. Uma bela varanda com duas cadeiras a sua frente, uma pequena escada. Um jardim, coberto pela neve.
Me posiciono em frente a cerca, e me vejo ali. Fazendo moradia.
Vislumbro facilmente Roland correndo pelo jardim. Enquanto eu e Robin o observamos na varanda, estaria envolvida nos seus braços musculosos, o escutando me elogiar; o quanto eu fico bela em um vestido vermelho.
Seria domingo, e Louisa estaria repercutindo em seu violoncelo uma bela canção de Beethoven.
Poderia ser um dia de sol escaldante, de neve, de flores, ou de folhas de outono caídas pela calçada, não importa a estação, se estivéssemos juntos.
Seria perfeito.
Se tudo não passasse de uma imaginação fértil. Suspiro. Sou forte o suficiente para não me permitir chorar, mas aquele vazio continuaria ali, esse sim, fazendo uma moradia real no meu peito. Resolvo voltar para casa, o que não me consola nem um pouco.
Afinal, o tempo parece ser meu inimigo. E, as noites, essas são infinitas.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.