Passaram-se várias luas até que finalmente chegaram ao destino final: Winterfell, ou Winterhell como já balbuciava internamente. A viagem desde Porto Real foi nada menos que infernal para Arthur Pendragon.
Arthur era primogênito de um grande nobre da Campina, Uther Pendragon, aliado e vassalo dos Tyrell de Jardim de Cima. Era a joia de sua família, o que gerava ciúmes de seu irmão, Lancelot. Arthur era conhecido por ser um pródigo espadachim lapidado durante anos na capital, e teve grande convivência com os membros da guarda real.
Arthur fora enviado para Porto Real quando tinha 11 anos, para ser escudeiro de Jaime Lannister. Porém, apesar de ser grande honra e estima para muitos cavaleiros de Westeros, não era seu objetivo integrar a Guarda real, decisão que seu pai apoiara, pois nada lhe daria mais orgulho que transmitir a Excalibur para seu primogênito, uma lendária espada pertencente aos ancestrais da familia.
Como de costume dos cavaleiros da Campina, Arhtur era conhecido por seu cavalheirismo e seu magnetismo com as mulheres. Afinal, era considerado um jovem atraente, e claramente lembravam-se de seu antepassado Targaryen. Um parente distante em sua árvore genealógica havia se casado com uma bela princesa Targaryen, chamada Rhaena. Herdara os cabelos ouro-prateados dela, porém, seus olhos eram de um firme azul da cor do céu brilhante e charmoso de Camelot, e isso devia à sua mãe.
O sucesso com as mulheres era inevitável, e a convivência com as donzelas nada donzelas da corte, não ajudaram em a acalmar seu o comportamento.
Agora, a pouco menos de um ano desde que se tornara cavaleiro, ainda permanecia na corte, e fora convidado por seu amigo e antigo tutor, Jaime, para acompanhar a comitiva real.
Entre os homens da casa da Rainha Lannister, Jaime Lannister como membro da Guarda Real e outros cavaleiros andantes, estava Arthur com uma imensa vontade de ter recusado o convite.
Sempre fora um homem do verão, das terras quentes e convidativas da Campina, porém, tinha curiosidade e acreditava que era obrigação de um cavaleiro conhecer os sete reinos na palma de sua mão, e já havia visitado todos os reinos, exceto o Norte. Além disso, recusar o convite de seu antigo tutor soaria extremamente rude.
Andaram por trilhas, avistaram pântanos mal cheirosos que beiravam a estrada do rei, e então o inferno surgiu.
No começo ficara encantando com os flocos brancos que caiam do céu, como pequenos pedaços de algodão. E então, os flocos aumentaram, e em determinados pontos, nunca paravam de cair. Era impossível manter-se seco e aquecido durante muito tempo, e à noite, nem o forte vinho dornês que trouxera, lhe aquecia os músculos, cansados de semanas de cavalgada.
O norte era um domínio incrivelmente adverso de tudo que já vira, era selvagem e parecia não ter fim.
Quando por fim avistaram o castelo dos Senhores protetores do reino do Norte, só desejava experimentar as famosas águas termais do lago de Winterfell, em que lia nos livros da biblioteca de Camelot. Meistre Gerold havia lhe dito que essas mesmas águas quentes salvaram vários Starks de grandes e rigorosos invernos, correndo pelas paredes de salões do castelo nortenho.
Assim que atravessou o pátio inferior do castelo, notou a imensidão do local e se perguntava quantas histórias aquelas pedras desgastadas pelo vento e pelo tempo teriam visto.
Os nortenhos eram um povo estranho, duros. Muitas histórias de terror contadas pela sua mãe de leite estavam relacionadas àquele reino, e isso lhe dava arrepios.
Quando se posicionaram, toda a comitiva nortenha estava posta à recepção. Desceu do cavalo, e posicionou-se ao lado de seu antigo tutor e pôde ver os Starks de uma posição privilegiada.
Observou quando o Rei desceu cambaleante e desajeitado do cavalo. Sentia vergonha de seu rei. Foi uma grande decepção quando passou a morar na capital. Aquele velho gordo, quase sempre bêbado, não lhe parecia nada com o galante rebelde Roberth Baratheon, aquele que subjulgou o último dos dragões no tridente com um incrível golpe de seu martelo, espalhando rubis pelo rio. Não... aquele em nada lembrava os tempos de glória que ouvia falarem quando criança.
Robert desceu do cavalo e notou por um instante o olhar surpreso do Senhor Stark, antes do mesmo abaixar-se em sinal de reverência. Observou que o rei abraçou o Lorde Stark com grande estima, antes do nortenho apresentar formalmente o resto de sua família.
Mas o que chamou a atenção de Arthur foi a bela morena protegida de Eddard Stark, posicionada em local de honra, ao lado dos filhos Starks. Era a visão mais bela que tivera pela Westeros inteira.
A bela possuia grandes olhos verdes, da cor das folhas das árvores férteis da Campina, pele branca como a neve do norte, e lábios avermelhados tais como o pôr do sol da capital. Era bela e melancólica. Estava vestida em um vestido cor de azul profundo, com delicados desenhos em prata ao longo da saia. Por cima, usava um grosso manto do mesmo tom azul escuro, com capuz e desenho prateado de uma águia em suas costas.
Seu semblante era triste quando seus olhares se cruzaram e se mantiveram por um tempo. Tal como rápido foi o contato, mais rápido ainda fora a percepção do filho mais velho do Lorde, que ocupara lugar ao lado da bela. O jovem havia lhe lançado um olhar frio e cauteloso. Tal garoto apresentava ter a mesma idade de Arthur, e apesar de possuírem os mesmos profundos olhos azuis, Robb tinha cabelos cacheados e vermelhos de um tom escuro, enquanto Arthur possuía cabelo ouro-prateado e liso, escorrendo pela testa.
Arthur era um cavaleiro da Campina, e sempre sofreu grande pressão para manter seus valores cavalheirescos. Ele sabia que cortejar a prometida do futuro herdeiro do norte não era algo sensato e honroso de se fazer, porém, a curiosidade sobre a garota em sua frente era imensa. Era tão bela... mas por que se sentia tão triste?
Naquele momento sentiu vontade de abraçá-la e protegê-la de tudo. Daquela neve maldita, daquele frio irritante, e qualquer coisa que a perturbava.
Se sentia confuso, afinal, ela era comprometida! Sabia que a jornada no norte seria nada menos que longa para ele.
=^=
Arthur mal acreditou quando entrou em seus aposentos e o aguardava um banho quente. Havia dias que não dispusera de um banho relaxante como aquele. As pousadas ao longo da estrada do rei se tornaram escassas, e os castelos aconchegantes, mais ainda.
Relaxou em um demorado e confortável banho, sentindo-se renovado e relaxado. Sentia-se tão cansado, que adormecera deitado na cama, jurando apenas descansar o corpo para trocar-se e participar do grande jantar no Salão de Winterfell. Acordara assustado, com barulhos de grandes e pesadas portas batendo pelo corredor afora, e tratou-se logo de ajeitar-se o mais adequado que lhe pareceu.
Agradeceu imensamente as águas termais que percorriam as paredes do castelo, o mantendo sempre quente e confortável, e quase sentiu vontade de dar um longo abraço naquelas pedras abençoadamente quentes. Poderia vestir sua roupa mais elegante, sem se embolar em um monte de mantos de pele.
Vestiu uma calça de couro negro como a noite, e uma túnica de veludo vermelha, da cor do brasão de sua orgulhosa Casa, com pequenos botões dourados. Em sua frente, na altura do pescoço até a metade do comprimento da roupa, havia um cordão dourado que transpassava a túnica, enfeitando e dando um aspecto elegante. Arhtur deixou a parte de cima mais frouxa, mostrando um pouco de pele.
Antes mesmo de entrar no Grande Salão de Winterfell, já sentiu o grande barulho dos corredores. Quando atravessou o portal feito de arco de madeira, seus olhos logo se adaptaram para a luz que reluzia lá dentro. Dos dois lados do Salão, duas grandes lareiras eram alimentadas por grandes quantidades de madeira, jogando luz e calor para os convidados de todos os lados. Grandes mesas, em cada uma com dez, por vezes 15 pessoas de cada lado, se acomodavam ao longo do salão, e ao fundo, um grande tablado era visto.
No tablado, havia uma mesa inferior, para os convidados nobres de Winterfell, como os protegidos, os filhos Starks e os príncipes Joffrey, Tomem e Myrcella, E logo acima, estava os homenageados reais e os anfitriões do festim.
De longe, também podia ouvir a música que tocava lá dentro, no lado direito do salão. Quatro músicos que haviam tomado um pouco mais de hidromel do que seria prudente, discutiam entre si sobre o repertório.
Entre as mesas, várias donzelas transitavam transportando tanta comida, quantas bebidas davam conta com suas delicadas mãos, diante da enorme quantidade de pessoas no salão e seus incríveis apetites.
Quando posicionava-se no meio do salão, à caminho de seu lugar de honra, reservado na mesa inferior do tablado, sentiu um enorme vulto branco e peludo passando por suas pernas. Deu um salto para trás, e percebeu que se tratava de uma espécie de lobo. O lobo possuía pelos branquíssimos e espessos, e seus olhos eram vermelhos como chamas. O animal o olhou sem emitir nenhum ruído. Em seguida, lambeu suas mãos, enquanto Arhtur permanecia imóvel como se estivesse em pânico, então o lobo simplesmente sentou para que ele lhe desse carinho entre os pêlos do pescoço .
— Fantasma!... aqui! – Aproximou-se Jon Snow, um garoto de uns 17 anos, com espessos cabelos castanhos escuros e ondulados. Sabia que era o tal bastardo do Lorde Stark. –Desculpe, meu senhor, ele não queria lhe assustar, mas ele é um pouco silencioso demais.
— Está tudo bem. Parece que por minha sorte, nos demos bem logo de primeira, não é, Fantasma? - Disse Arthur, enquanto passava as mãos atrás da orelha do lobo.
— Sim, ele gostou de você. Fantasma é um bom lobo... - Me desculpe, senhor, preciso me retirar do salão.
Instantes antes do rapaz virar as costas para sair do salão, sentiu a troca de olhares do jovem com a senhora Stark. A anfitriã transmitiu um olhar de desaprovação e desprezo, como se a presença do rapaz significasse uma ofensa direta para ela.
Quando deu por si, estava sentindo piedade do jovem rapaz. Sabia como era carregar o peso do mundo nas costas. Arthur carregava o peso de ter de ser perfeito para os olhos dos nobres, afinal, herdaria uma das casas mais importantes de westeros, de grandes histórias, desde os primeiros homens. Jon Snow, carregava um grande peso também. Totalmente oposto de Arthur, mas tão parecidos em sua sina. Jon era um bastardo, e por mais perfeito que tentasse ser, sempre seria um fardo na honra da família mais nobre do Norte. Sabia, assim como Jon, o que era ter seu destino traçado, antes mesmo de nascer.
Com o olhar cabisbaixo com tais pensamentos, acompanhando mais uma vez Jon Snow ir embora por uma porta lateral do Salão, com a maior discrição que era possível, Arthur avistou mais uma vez, a protegida de Ned Stark.
Apenas nas canções Arthur havia imaginado tamanha beleza. A bela protegida de Ned stark havia entrado pela mesma porta que a poucos instantes havia passado. Estava usando um longo vestido de cetim vinho, acinturado que afunilava na altura do pescoço, onde se transformava num elegante colar dourado. Na cintura, havia um cinto feito de um material dourado, em forma de águias. Seus cabelos estavam presos para cima, com fios soltos na frente, que eram apenas duas mechas de um cacheado brilhante.
Naqueles instantes que se seguiram o mundo pareceu parar por alguns segundos, e tudo o que importava é que ela caminhava em sua direção. Podia jurar que vários rostos masculinos e femininos olharam para a mesma visão que estava vendo.
— Pelos sete...
Quando deu por si, viu que ela havia se posicionado no tablado, ao lado do filho mais velho de Ned Stark, que mais uma vez lhe lançava um olhar acusador. Ignorando suas reprimendas gestuais, Arthur subiu no tablado e ia se posicionando na cadeira ao lado dela.
Como que em uma disputa de atenção que se seguiria, Robb Stark já se antecipou e havia tomado a mão da protegida de Ned Stark, e dado um beijo demorado e lançado um olhar apaixonado, retribuído pela morena.
Arthur arqueou a sobrancelha e arrastou levemente a cadeira, fazendo a bela virar sua atenção para si.
— Com licença, Senhora. Se incomodaria com a minha presença ao teu lado? Não quero lhe aborrecer se não for de bom grado.
— Ah, sim. Sem problemas, Senhor. Por favor, fique à vontade, sinta-se em casa em Winterfell.
Com um meio-sorriso sugestivo no rosto, o jovem cavalheiro fez uma reverência cavalheiresca, pedindo a mão da jovem para o cumprimento, se ajoelhando nobremente.
— Esse humilde que tem a honra da sua presença ao seu lado esta noite, chama-se Arthur, da família Pendragon.
Com um sorriso educado, Elaene respondeu:
—Elaene Arryn, filha de Jon Arryn, protegida de Ned Stark, odiada por sua madrasta e provavelmente exilada de casa por um bom tempo.
Arthur levantou sutilmente o rosto, apenas para ver a expressão de Elaene, que dançava com um sorriso malicioso, enquanto podia ouvir que Robb Stark segurava um riso engasgado.
Gentilmente Elaene retirou sua mão da dele e fez um gesto para Arthur se sentar.
— Honra-me com tais gestos, Sor Arthur, és um cavalheiro magnífico. Porém, aqui no norte, somos um pouco mais diretos. A vida é dura por aqui, não temos tempo para perder com tantas cortesias. Divida um vinho comigo e o primogênito de Ned Stark ao meu lado, cantemos e contemos histórias divertidas esta noite.
Arthur não podia acreditar que poderia existir uma mulher com um espírito tão magnífico como aquela. Tão diferente das honrarias engessadas da campina, tão diferente da devassidão das mulheres da corte. Elaene era diferente de tudo que vira.
Dividiram bebidas e contaram histórias. Durante um tempo, o clima com Robb Stark fora tenso. Mas sem perceberem, estava contando ao futuro herdeiro de Ned, sobre suas aventuras com Jaime Lannister como seu tutor, e sobre seu ritual de quando se tornou cavaleiro.
No norte, a cultura dos nobres eram diferentes, não existia ritual para se consagrar um cavaleiro. Um cavaleiro do norte, se auto-proclamava cavaleiro quando era de uma família tradicional, e/ou se fazia ser cavaleiro por merecimento. Não havia tanta formalidade como no Sul, porém, em nada diminuía os Cavalheiros do Norte, pelo contrário, era de conhecimento comum que eram bravos e ferozes guerreiros, igualmente honrados e orgulhosos.
Internamente, e contra sua vontade, talvez pelo feito do vinho doce da campina e do hidromel nortenho, sentiu um certo apreço pelo rapaz ao lado de Elaene. Robb era honrado e sagaz.
Porém, por mais risonha que Elaene parecia estar, divertindo-se com as histórias contadas pelos rapazes ao seu lado, Arhtur sabia que ela estava inevitavelmente de luto por seu pai. Agora Arhtur sabia que a protegida era a primeira filha de Jon Arryn, fruto de um nascimento perverso, em que sua falecida mãe falecera após de enfrentar mais de um dia de luta no parto, em que fatalmente perdera a batalha pela própria vida, mas não antes de salvar a vida da filha.
Pensou triste que Elaene também era como a ele, a Snow e a Robb Stark. Quatros pessoas diferentes, com fardos parecidos. Seus destinos já foram traçados. Elaene se amaldiçoaria por culpa da morte de sua mãe, por toda sua vida. E esse era o seu fardo.
Enquanto a olhava dar uma sonora risada, notou seus olhos tristes não correspondendo ao som de sua boca, e Arthur concluiu com um misto de melancolia e contemplamento.
Mal a conheço e já te quero tanto, que sinto medo, Eleane Arryn.
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