História Querido Diário, Querida Mamãe - Choques

  "Boa noite diário, 

               você lembra do Bruno-Menino-Mais-Chato-Da-Escola-Que-Eu-Gosto? Não gosto mais. Hoje ele não quis brincar comigo, acredita? É um idiota e eu nunca mais quero ver ele, na verdade quero mudar de escola, mudar de escola é isso mesmo!"

           Bruno, o Bruno. Gostava dele até o ano passado, mas vi que já era hora de seguir em frente e cheguei a conclusão de que ninguém merece isso, com a ajuda de Lana, claro. Aliás, foi ela que arrumou meu encontro com Drake e sim, sempre quis me "desencalhar". Pensava nisso minutos antes de Vinícius dizer "tô pronto, vamos?" e fomos pra escola. 

           Vi Thiago pela primeira vez depois de nosso encontro, não sabia o que fazer e não sei se está muito cedo, mas meu coração acelerou, não por vê-lo, mas por vê-lo com uma menina pendurada em seu pescoço. Como assim? Fiquei paralisada olhando e ignorando completamente o que Lana falou, mas deve ter sido algo relacionado, pois quando a olhei também parecia assustada.

-É culpa sua! Você sempre tem que me arrumar alguém que sabe que não daria certo comigo. Alguém mais desejado por outras pessoas, fez o mesmo com Drake, mas por que não se contenta? - disse, embora não quisesse ter dito.

-Culpa minha? Você está louca! Eu não tenho culpa se ele é assim. - ela respondeu.

           Olhei pra minha amiga e era verdade, não tinha culpa de nada, pedi desculpas e a abracei. Disse que fiquei nervosa demais e que ela realmente não tem nada haver com isso, só quis ajudar. Ela me desculpou e nós duas continuamos nos torturando com aquela cena que, por incrível que pareça, ainda acontecia. Eles não se beijaram, mas o que era aquilo? Ele finalmente percebeu que olhavamos e soltou a menina na hora que se assustou e ficou sem entender mais nada pela cara que fez. Thiago veio em nossa direção e minha vontade era de virar e sair andando, mas meu estado era tão grave que fiquei ali parada com a imagem na minha cabeça.

-Sarah, não era isso, é que...

-Thiago, você não me deve explicação nenhuma, afinal, só saímos uma vez, não é mesmo?

          Dito isso, me retirei e ao me virar, ele me puxou para trás e queria que eu o ouvi-se, mas o sino bateu bem na hora e usei isso ao meu favor dizendo que não queria me atrasar para a aula e que mais tarde podíamos conversar.

          O meu normal seria não prestar atenção nas aulas diante de um caso desses, mas me parecia interessante aquele dia, então fiquei atenta a tudo e ia me esquecendo da situação se Lana não tivesse me lembrado no final da terceira aula quando disse "o que vai dizer para Thiago?". O que vou dizer pra Thiago? Boa pergunta!

-Sarah, é verdade, ela estava chorando e eu simplesmente a confortei. - ele disse quando me viu.

-Claro que acredito. - em tom irônico respondi.

-Eu sei que é meio difícil, mas é verdade. Ela escorava em mim e por isso estavamos encostados na parede. Você tem que reconhecer que era só um abraço!

-Eu pareço uma ridícula assim, não é? Sei que não temos nada, mas é chato pensar que teríamos depois daquela noite...e te ver abraçando uma menina por tanto tempo assim. Na verdade você está certo, não namoramos e nem nada.

           "Não ainda" ele disse e me deu um beijo na testa, meu queixo caiu. Me abraçou e depois segurou meu rosto dizendo pra eu parar com isso. Como assim? Cada coisa mais chocante que a outra! De alguma forma, aquilo que ele disse me fez sentir bem de um jeito estranho e acabei deixando pra lá, afinal, era só um abraço.

           Hugo veio me perguntar o que achei de seu amigo, Thiago e disse que a mãe dele está me esperando até hoje pra ir conversar com ela. Eu falei que ainda estamos nos conhecendo e pedi desculpas, mas garanti que um dia irei vê-la. Conversamos sobre a festa anual que ele faz e parecia empolgado, porém tinha um problema e queria minha ajuda, chamar Beca, a única menina que o fazia corar e ficar totalmente sem graça só de chegar perto, imagina falar.

-Hugo, ela namora.

-Eu sei, mas ela é tão linda. 

-Não vou fazer isso, desculpa, mas só faço se ela ficar solteira.

-Então ta.

            Disse pra Vinícius que Thiago me deixaria em casa, ele revirou os olhos e disse que "ta bom". No caminho, o assunto era o que queríamos fazer na faculdade. Thiago disse que ainda não sabe o que gostaria de fazer, mas que gostava de áreas relacionadas a tecnologia e informática, eu contei que sempre quis ser pediatra, mas agora comecei a me questionar se é isso mesmo. Estávamos chegando na minha casa quando o inesperado aconteceu, sim, ele me beijou! Ta bom, a história não foi essa...

            A parte das profissões é verdade, mas quando estávamos chegando na minha casa, eu mesma o beijei. Não sei, não perguntem, nem tentem se perguntar e nem ousem me entender. Simplesmente o beijei. Tudo bem que não é nenhuma ideia tão absurda nos tempos de hoje, mas logo pensei "ele está apenas esperando que eu permita". E foi assim o nosso primeiro beijo.

           Não mudei de escola por causa de Bruno e sobrevivi, então sobreviveria a esse choque também.