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História Race of Hearts - Vingt et un - História escrita por NonaSensate - Spirit Fanfics e Histórias
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História Race of Hearts - Vingt et un


Escrita por: NonaSensate

Capítulo 22 - Vingt et un


"You can throw your hands up, you can beat the clock

You can move a mountain, you can break rocks

Some will call it practice, some will call it luck

But either way, you're going to the history books"

(Hall of fame - The Script)

 

 

Amélie Lombardi

 

 

Novembro de 2020

 

 

Ficar esse tempo parada realmente não vinha ajudando minha ansiedade, porém como eu agora já tinha meu contrato eu fui autorizada pela alfa romeo a utilizar o simulador da equipe e já estava tentando me ambientar ao que aparentemente seria o meu novo normal. Acho que a ficha só vai cair quando eu realmente entrar na pista pilotando um carro de fórmula 1 em uma corrida, até lá eu deixo a minha ansiedade trabalhar com as inúmeras possibilidades que mesmo a essa altura do campeonato, algo ainda poderia dar errado.

 

— Ótimo trabalho, Amélie! Você bateu o tempo do Giovinazzi.

 

— Ainda tenho algumas coisas pra melhorar, acho que preciso de um pouco mais de prática.

 

— Fica tranquila, não vejo o time tão empolgado assim em muito tempo. Quase parecido com o que o Charles causou, mas no caso dele nós sabíamos que seria passageiro e com você meio que estão esperando que possando talvez melhorar um pouco e seguir assim por um tempo.

 

Sorrio para Alessandro que segue de volta para seu escritório enquanto eu encaro o corredor vazio. Viver com essas expectativas colocadas em mim por todo um time era estranho e libertador ao mesmo tempo, mas acho que eu nunca tinha pensado por esse lado. Não importava que eu estava na academia da Ferrari por todo esse tempo, nem o quão talentosa eu era, no fim chegar na fórmula 1 já era algo além das minhas capacidades aparentemente e eu tinha que ser grata por conseguir isso.

 

Afinal tudo o que eu conseguiria em minha carreira seria uma vaga, não tão segura assim, em uma equipe de fundo do grid. Novamente, sou extremamente grata pela oportunidade, mas ouvir que esse seria o ápice da minha carreira doeu de uma forma que eu não imaginaria.

 

Sempre soube que eu nunca seria tratada como Charles foi e é até hoje, o pequeno prodígio da Ferrari e provável sucessor de Schumacher, o salvador que traria a scuderia de volta aos tempos de glória. Acho lindo a relação que ele tem e construiu com os tifosi durante todos esses anos e sei como toda uma nação conta com ele para garantir a volta ao sucesso de uma marca tão importante que recentemente vem mais fazendo seus torcedores sofrerem do que honestamente sorrirem e desfrutarem o esporte. Como fã da scuderia eu mesma é realmente surreal a forma como ele trouxe a esperança de volta a Maranello, como sua primeira temporada aqui já nos fez acreditar que é possível e como mesmo em uma temporada tão complicada como essa ele ainda assim consegue se sobressair e ter performaces melhores do que se parecia possível com esse carro. Não é algo que se explica e eu nunca chegaria a esse nível, mas poxa. Carlos Sainz que nunca foi colocado como um talento geracional por ninguém mais que os espanhóis, que normalmente são bem cegos neste departamento, está na Ferrari, mas eu não posso sonhar?

 

Por quê?

 

Solto um suspiro quando uma vozinha grita no fundo da minha mente o motivo, você é mulher e por mais que tente vai estar sempre um passo atrás de todos os outros, eles nunca vão te ver como veem eles mesmos.

 

Havia bastante tempo que não pensava muito sobre isso, acho que meu sucesso ultimamente, dentro do esperado fez eu começar a achar que fosse possível certas coisas que simplesmente nunca seriam. A lendária Ferrari nunca deixaria uma mulher vestir suas cores na maior categoria do esporte, progressista demais para uma marca que não precisa ser um gênio para saber que preferiam continuar na tradição.

 

No fundo eu tentava falar para mim mesma como eles vem tentando mudar, como de forma geral cada vez se vê mais mulheres no paddock de fórmula 1 nas mais variadas funções, como o fato de eu estar no grid com apenas 20 vagas já era uma conquista e tanto. Mas no fundo não podia ignorar a dor física que vinha do fato de que não importava o quanto eu conquistasse, sempre haveria algo que eu iria querer muito e regras ridículas impostas pela sociedade até hoje me impediriam de conquistar.

 

Dirigia de volta para o apartamento que havia alugado tentando esquecer todos os pensamentos que vinham me atormentando, eu não pisava em Mônaco há quase um mês e como estávamos ainda em uma pandemia e tanto eu quanto eles estavam muito ocupados ultimamente, a última vez que vi qualquer pessoa da minha família havia sido mais de três semanas atrás. Felipe praticamente estava morando comigo esse tempo, ele estava muito ocupado com sua nova equipe que agora era britânica e como ela estava localizada relativamente perto da sede da alfa romeo, alugamos juntos um apartamento para passarmos juntos esse mês. Honestamente era um tanto quanto estranho a nossa dinâmica, depois da conversa que tive com Charles uns meses antes eu vinha tentando colocar na minha cabeça que estava namorando, porque realmente o que tínhamos era isso. Porém eu não conseguia me jogar de cabeça no que eu estava vivendo sem pensar em milhões de coisas antes.

 

— Boa noite, linda. Eu fiz janta!

 

Sorrio com sua animação e vejo que ele fez uma macarronada pra gente, ultimamente ele vinha fazendo alguns pratos brasileiros e eu honestamente estava adorando aquilo, mas estava me atrapalhando um pouco na minha dieta e hoje aparentemente ele resolveu deixar tudo ainda pior com a culinária italiana.

 

— Eu vou aparecer 10 quilos mais gorda para os testes, o que eu você acha que a alfa romeo vai pensar?

 

— Que em vez de 20, você estará apenas 10 quilos abaixo do peso mínimo pro piloto.

 

Rolo os olhos e deixo minha mochila no quarto, voltando para a sala já o encontrando nos servindo.

 

— Como foi hoje?

 

— Ótimo, acho que eu realmente tenho chances de ir bem no ano que vem, talvez herdar seu título?

 

Sorrio para sua fala e também para meu prato depois da primeira garfada.

 

— Isso está divino!

 

— Obrigada, eu sei que sou perfeito em tudo que faço.

 

Eu realmente queria poder escolher as pessoas pela qual eu me apaixono, muitas coisas da minha vida se tornariam bem mais fáceis.

 

[...]

 

Cheguei no Bahrein e já conseguia sentir meu sangue borbulhar, eu odiava calor e ficava impressionada em como as pessoas conseguiam viver em um lugar assim diariamente. As mudanças no calendário por conta da pandemia alteraram algumas coisas importantes, como a retirada de Abu Dhabi e a inclusão do Bahrein, sendo que haveriam duas etapas por aqui. Minha liderança confortável indicava que eu conseguiria confirmar o título já nesse fim de semana, se eu conseguisse manter a distância que eu tinha para o Mick no momento após a corrida de domingo, eu já iria para a última etapa do campeonato consagrada campeã.

 

Por conta disso, minha família ignorou qualquer protocolo sanitário e todos vieram em peso para o oriente médio me acompanhar, o que obviamente só aumentou o meu nervosismo e a pressão que eu colocava em mim mesma, mas sabia que iria conseguir.

 

— Nervosa?

 

Em uma das milhares de tentativas que meus pais vinham tendo para fingirem que estava tudo bem, na quinta à noite fomos jantar juntos no nosso próprio hotel, mas claro precisávamos estar os quatro na mesa para provar como sempre apoiamos uns aos outros.

 

— Bastante, mas o pior eu já consegui, ganhar a fórmula 2 agora é o de menos, certo?

 

Meu irmão sorri e eu ignoro a pequena discussão entre meus pais ao nosso lado pelo simples motivo do local onde ficaria a mesa em que iríamos sentar.

 

— Eu lembro que quando foi o Charles ele ficou mais nervoso na hora de decidir o campeonato do que quando ele fez a reunião decisiva para decidir se ele assinaria o contrato na fórmula 1 ou não.

 

Solto um riso e lembro do momento, é louco pensar que aquele menino se tornou o que é hoje.

 

— Vamos combinar, ele iria para o grid de qualquer maneira.

 

Victor também sorri e finalmente nossos pais entram em acordo e nós seguimos o garçom até a área externa do restaurante do hotel.

 

— Você também. Sabe Amélie, às vezes eu acho que você não tem noção da dimensão do seu talento.

 

— Se eu fosse tudo isso muita coisa na minha vida teria sido mais fácil.

 

— Tipo o quê, exatamente? Honestamente, sua carreira foi praticamente igual a do Charles e eu não vejo ele reclamar desse aspecto.

 

— Ele foi contratado pela Ferrari no primeiro ano de fórmula 1, Victor. Sabe quantas pessoas passaram por isso?

 

— Não importa, você é a primeira mulher em sei lá quantos anos a estar no grid da fórmula 1. Você é talentosa para caralho e vai muito longe, mas primeiro de tudo você precisa acreditar em si mesma. Acha que consegue fazer isso?

 

— Estou trabalhando nisso.

 

[...]

 

Cruzar a linha de chegada depois de conseguir completar uma volta perfeita é uma das sensações que eu mais amo no automobilismo, a ansiedade dos momentos seguintes esperando os outros completarem suas respectivas voltas só aumenta ainda mais a felicidade quando finalmente ouço as palavrinhas que tanto amo: "Pole position, Amélie. Pole position!" estacionar meu carro em frente a placa com o número 1 é algo que irei sentir muita falta, realmente não há nada mais reconfortante do que isso. Porém eu sabia que não seria fácil, na sprint eu larguei de trás mas consegui terminar em P5, eram menos pontos em jogo o que me tranquilizou quando vi Mick no pódio e até fez com que eu no fundo ficasse feliz por ele, ao menos o P2 no campeonato ele havia conseguido e claro, também pude ver meu namorado no degrau mais alto do pódio.

 

Namorado, ainda era estranho tudo aquilo.

 

Na manhã de domingo eu acordei antes do despertador tocar, eu sabia que o dia seria longo e não conseguiria dormir tranquilamente de qualquer forma, então logo fui me arrumar e consequentemente fui uma das primeiras a pisar no paddock. Não queria pensar em mais nada, eu estava em primeiro e tinha que permanecer naquela posição até o final, simples assim e honestamente? Nenhuma novidade para mim.

 

Mesmo assim não foi nada fácil, correr naquela temperatura e climas secos já era tortura o suficiente e passar a prova inteira com alguém constantemente ameaçando minha posição com certeza não facilitou em nada a minha tarefa, por conta disso quando finalmente cruzei a linha de chegada eu soltei um berro que honestamente nem sabia que guardava dentro de mim. 

 

"P1 Amélie! P1 hoje, P1 no campeonato. O título é seu!"

 

Sai do carro com dificuldades, eu realmente estava exausta e honestamente não estava me importando muito com isso no momento. Praticamente pulei no chão e nem sei exatamente como comemorei, deixei toda a equipe me abraçar e também logo vi minha família ali e logo fui até eles.

 

— Você é meu maior orgulho, filha. Estou muito feliz por você.

 

Estava me segurando até esse momento, mas ouvir as palavras do meu pai fizeram com que lágrimas aparecessem em meus olhos e agradeci mentalmente por ainda estar de capacete. A cerimônia foi mais especial do que o normal e ali, ouvindo o hino de Mônaco e olhando da maior altura possível para todos que me ajudaram a chegar até aqui eu soube que não importava o que falavam ou o que acreditavam, eu poderia fazer absolutamente tudo que colocasse em minha mente que faria.

 

[...]

 

— Acabaram as entrevistas, campeã?

 

Sorri para Victor e aceitei seu abraço, minha agenda lotou no pós corrida e foram horas até eu conseguir estar livre dos compromissos de mídia.

 

— Finalmente, né?

 

— Lide com a fama, Amélie. Daqui é só pra pior.

 

Sorri para Pascale e me acomodei no pequeno local que tínhamos para ficar por ali, a corrida da fórmula 1 estava prestes a começar.

 

— Vou deixar para preocupar com isso quando eu tiver nesse grid ai e não poder mais andar tranquilamente por este paddock.

 

— Por acaso você consegue hoje, garota?

 

Ignorei a fala do meu melhor amigo e foquei meu olhar na televisão. Charles largaria apenas em 12º, mas eventualmente em algum momento dessa temporada eu passei a aceitar o destino de que esse carro era realmente horrível e parei de esperar algo deles.

 

A largada foi tranquila, Bottas estava perdendo posições e no geral estavam tendo algumas disputas proporcionadas pelo circuito também. Charles era um dos pilotos que estava ganhando posições e no momento que a câmera foca em seu carro logo vejo que ele parecia estar subindo de posição, porém logo depois o ângulo da câmera abre e tudo o que eu vejo é fogo, segundo depois de ouvir um barulho horrível, mas distante. Literalmente dou um pulo com a imagem, principalmente por pensar de primeira que era o monegasco ali, logo percebo que não era, mas a bandeira vermelha instantânea e o tamanho do incêndio fazem com que eu comece a soar frio e ficar ainda mais nervosa independente de quem seja. 

 

Ser piloto não é fácil, sabemos que todos os anos mais medidas de segurança são feitas e os pilotos estão cada vez mais seguros, porém não é exagero nenhum afirmar que nós enfrentamos a morte diariamente quando entramos em nossos carros e ver um acidente dessa magnitude parece que acende ainda mais esse fato que no fundo aterroriza qualquer um. Costumo falar que é isso que mais me motiva, o perigo constante é o que faz eu acordar todos os dias sabendo que preciso dar o meu melhor e mesmo assim pode não ser o suficiente em alguma situação assim.

 

Um acidente desse acontece com um piloto, mas todos nós sentimos como se fosse nós mesmos ali.

 

Foram minutos sem resposta, ouvi os áudios mas Grosjean não respondia e era notável a aflição de todos. Quando finalmente saíram as imagens dele literalmente saindo do meio das chamas eu soltei a respiração que nem havia percebido que estava prendendo, foram segundos que pareceram horas e pelo estado que o carro ficou, eu honestamente fiquei surpresa de ver ele sair andando.

 

Sebastian e Charles logo chegaram no pit lane e entraram na garagem, era óbvio que a bandeira vermelha demoraria bastante e honestamente eu não sabia se gostaria de ainda ver uma corrida naquele dia, mas eu tinha certeza que a FIA não iria cancelar já que por mais horrível que tenha sido o acidente, felizmente Grosjean estava vivo e relativamente bem, pelo menos dentro do possível.

 

— Você está bem?

 

Charles parecia bem abalado, pelas imagens ele provavelmente viu tudo praticamente do seu lado e eu tenho certeza que não foi algo legal de se presenciar. Então ele entrou na garagem, tirou o capacete e se isolou em um canto onde ninguém ousou chegar perto, mas eu não consegui ignorá-lo.

 

— Eu vi tudo.

 

— Na hora a câmera estava fechada no seu carro, então a imagem abriu e tinha um incêndio e...

 

Ele me encara por alguns segundos e depois suspira.

 

— Eu estou bem.

 

Acho que vi um pequeno sorriso em seu rosto, o que me fez concordar e me apoiar na bancada em que ele estava sentado.

 

— Isso é uma merda.

 

— Ei, nem consegui falar com você. Parabéns pelo título.

 

— Obrigada.

 

— Eu honestamente fiquei muito feliz por você, mal posso esperar para dividir o grid com você ano que vem.

 

Sorrio genuinamente com sua fala, mas meu sorriso some pouco depois quando uma voz estridente atinge meus ouvidos.

 

— CHARLES!

 

Assim que vejo a morena aparecer ao meu lado eu me distancio, manter distância é a única coisa que me impede de voar na cabeça dessa insuportável todos os dias em que ela aparece em minha frente. Ela é tão mimada que prefere ver a corrida na sala climatizada, sentada em um sofá confortável e não na garagem imunda e cheia de gente (palavras dela). Mas não deixaria aquilo me abalar hoje.

 

Pouco tempo depois, o chefe de equipe da haas comunicou que Grosjean estava bem, com pequenas queimaduras nas mãos e no tornozelo e iria para o hospital com suspeita de ter fraturado as costelas. Mas estava acordado e conversando o que honestamente era um milagre, mas fiquei aliviada e feliz por ele.

 

A corrida foi retomada algum tempo depois, acabou não sendo tão emocionante quanto pensei que seria, mas Charles pontuou em 10º o que esse ano vinha realmente sendo uma alegria. O dia foi movimentado e quando finalmente deitei em meu colchão a noite eu desejei um calendário diferente em que eu pudesse deitar em minha própria cama depois de um dia de tanto estresse, mas era apenas mais uma etapa como piloto de fórmula 2 e depois minha vida seria piloto de fórmula 1.

 

Mal podia esperar.

 

Dezembro de 2020

 

A última vez que entrei em um carro de fórmula 2 foi um tanto quanto empolgante, por saber que eu já era campeã e não tinha mais esse peso em minhas costas, por saber que em poucos dias eu estaria subindo o degrau mais importante de minha carreira, que sempre sonhei e finalmente se tornaria realidade. Honestamente isso era ruim por um lado, minha ansiedade fazia eu focar no futuro e eu esqueci que ainda tinha um presente, me classifiquei apenas em P7 e apenas disso ter me garantido um pódio no dia anterior, triplicaria o meu trabalho no dia de hoje. Mesmo assim, talvez o fato de ter a sensação de dever cumprido eu passei pela linha de chegada satisfeita com meu P5 e dando adeus a categoria que honestamente, havia até me apegado um pouco.

 

Vi a cerimônia do pódio com Mick no lugar mais alto e meu namorado em P2 finalizando a temporada por cima, ele havia sido incrível para uma primeira temporada e eu estava muito orgulhosa.

 

Charles havia feito mais um de seus milagres no classificatório e estava largando em P4, porém com Max ao seu lado eu estava honestamente preocupada com a largada. Mas, isso foi o de menos, o próprio Charles mesmo errou a tomada da curva 4, fez Sérgio Perez rodar e toda a confusão terminou com os dois rivais fora da corrida antes de completar uma volta.

 

Com isso, eu acabei decidindo ir embora do circuito antes mesmo de acabar a corrida, eu estava muito cansada e precisava me preparar para o que provavelmente seria o ápice da minha carreira até o momento.

 

Ficar com tal pensamento em mente não me ajudou muito durante a semana, já me incomodava o suficiente eu estar naqueles países que não eram exatamente receptivos com pessoas do sexo feminino e com certeza estar onde eu estou hoje não ajudava muito com isso. Minha exposição fazia com que as pessoas se sentissem livres de me tratar como se eu fosse um monstro e eu honestamente estava odiando cada segundo de tudo aquilo.

 

— Se você ignorar eles eventualmente te deixarão em paz.

 

Respirei fundo e me virei focando no meu exercício, estava uns 50º do lado de fora e ser obrigada a malhar com máscara já era tortura o suficiente, como eu estava usando a academia do hotel que eu estava, bem reservado e por ser semana de corrida na cidade grande parte dos hóspedes eram de equipes do fórmula 1. Ainda assim, não conseguia fazer um movimento que fosse sem notar alguns olhares me julgando simplesmente por eu estar de short.

 

— Eu odeio esse país.

 

Larguei a barra do supino e vi o treinador de Max ajustar o peso enquanto ele tomava meu lugar no banco. Nos encontramos no elevador e viemos treinar juntos, Charles e Pierre já estavam aqui e pude ver que Lando, Daniel e Carlos chegaram logo depois. Ter vários rostos conhecidos por aqui me ajudava um pouco e eu me sentia ao menos 1% mais protegida e torcendo para não ser raptada e estuprada a qualquer momento.

 

— Ansiosa para os testes?

 

Via o meu treinador ajustando um aparelho para meu próximo exercício enquanto eu descansava e continuava conversando com o holandês.

 

— Honestamente? Acho que nunca atingi esse nível de ansiedade antes em minha vida.

 

Ele sorri e eu o acompanho, era surreal ainda pra mim que nesse momento na próxima semana eu estarei vestindo o traje da minha equipe, na fórmula 1. Pela primeira vez realmente estarei na pista com todos que estarei no ano que vem, já na maior categoria do esporte.

 

— Você está certa, caramba ainda não acredito que você vai estar dividindo o grid com a gente ano que vem. Ainda lembro perfeitamente de uma mini você me xingando quando eu tirei o Charles de uma corrida sei lá quantos anos atrás.

 

Sorri com a lembrança, isso na verdade provavelmente aconteceu mais de uma vez, a grande rivalidade dos dois na época hoje parece hilária, mas era algo bem sério naquele tempo. Lembro do Charles reclamando de Max infinitamente, o que era irritante pra caramba, mas com o tempo acabou que eu peguei ranço do holandês também e cheguei a defender o monegasco em algumas ocasiões. Mas claro, o mundo iria mudar bastante e com eles crescendo e amadurecendo por incrível que pareça uma espécie de amizade até surgiu entre os dois e quando eu parei para conhecer mais e descobri a pessoa incrível que ele é, acabamos nos aproximando bastante.

 

— Pois é, tudo ainda parece surreal pra mim. Acho que a ficha só vai cair quando eu entrar no carro em uma corrida pra valer.

 

— E isso está mais perto do que nunca.

 

Sorri e voltei a focar no meu próprio treino, honestamente não queria permanecer aqui mais tempo do que apenas o estritamente necessário, honestamente.

 

Precisava frequentar aquele local diariamente por praticamente duas semanas e eu estava odiando cada segundo daquilo, mas por algum motivo ia ficando mais fácil a cada dia. Charles e Lando perceberam meu incômodo desde o primeiro dia e faziam questão de sempre estarem por perto e eu os agradeci mentalmente por isso, sabia que ano que vem tudo iria piorar e saber que eu poderia ter alguns no grid em quem confiar era algo bastante positivo devido a todo o ambiente no automobilismo que mesmo já tendo acostumado com tudo isso, ainda assim nunca era fácil ter que passar por coisas tão desnecessárias em pleno século XXI.

 

A corrida mesmo foi chata, mas o circuito realmente não favorecia e estranho seria se ela fosse empolgante. Kimi acabou terminando a corrida na frente das duas Ferraris e por mais que eu sabia que isso não era tão difícil esse ano e seria bem diferente ano que vem, era legal imaginar que eu não estava indo para uma equipe em que eu não conseguiria fazer nada, poderia pontuar bastante e era nisso que eu estava me agarrando no momento.

 

Os testes finalmente chegaram e ver meu número e meu rosto na garagem fez um sorriso aparecer em minha face e não sair tão facilmente. Fui bastante elogiada pela equipe e percebi que o esforço realmente compensa, não era engenheira e nem chegaria perto disso, mas estudar bastante para conhecer o suficiente os carros que piloto é algo que vem sendo cada vez mais raro na fórmula 1 e eu conseguir dar um feedback tão preciso nos testes surpreendeu muita gente. Eu sabia que iria precisar me provar bastante e aguentar significativas críticas pelo fato de que eu estaria aonde muitos acreditam que eu não deveria estar, porém eu estava tão confiante quanto poderia estar e sabia que iria provar que cada um que já duvidou de mim estariam errados.



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