Nashville, Tennesse – 23 de agosto de 2009
Mansão Clost
Selena Clost
Perdoa—me, padre, eu pequei...
O meu telefone não parava de tocar que nem um louco desvairado, meus olhos ainda estavam embaçados e grunhi de raiva por aquilo estar tocando tanto que deitei de barriga pra baixo colocando o travesseiro na minha cabeça e não adiantou nada. Deixei aquilo tocar até aquilo parar e não parava tanto que Beatrice acordou pedindo para desligar. Eu bufei estressada e tirei a coberta do meu corpo, me sentei na cama e cocei os meus olhos com as costas das minhas mãos antes de atender o celular que estava em meu criado mudo.
— Quem será agora a essa hora da manhã? — estiquei a mão pegando o celular vendo o nome da Tracy Reusier no visor, apertei o botão verde de aceitar a ligação e coloquei no ouvido — Bom dia pra você também.
— Selena, eu poderia me atender aqui em baixo — sua voz estava estranha no telefone tanto que arqueio uma sobrancelha — Eu preciso falar com você e com certa urgência.
— Porque você está em Nashville? — arrumei o meu cabelo para trás que estava voando na minha cara — E olha só me dá 6 minutos que eu já desço.
— É uma longa historia — ela parecia que estava triste e nervosa, temi que aconteceu alguma coisa em New York tanto que eu saberia que ela não gastaria uma hora pra vir pra cá — Eu já estou te esperando.
Desliguei o celular verificando a hora que eram já 8 da manhã em pleno domingo, desci da cama e calcei os chinelos. Fui em direção ao espelho, passei a mão no cabelo e arrumei a minha blusa de alcinha fina que usava que estava toda amassada e levantei minha calça moletom.
Coloquei o celular no bolso e andei rapidamente em direção a porta, pousei a mão na maçaneta e girei a mesma, abrindo a porta dando espaço para sair do mesmo e assim que sair, eu fechei a porta e andei depressa pelo corredor até chegar as escadas. Desci as escadas rapidamente e fui até a porta pegando as chaves em um quatro na parede do lado da porta, escolhi a certa e inseri na fechadura, girando a mesma e puxei a maçaneta a abrindo.
— Entra. — Ela sorriu fraco sem dizer mais nada e carregava um papel em mãos, ela foi andando devagar entrando na mansão e suspirou fundo — O que aconteceu?
— As meninas já estão acordadas? — ela me olhou chateada, percebi que eu não estava entendendo nada — Eu preciso falar com todas vocês juntas.
— Não. — coloquei as mãos no bolso e a analisei com o seu vestido preto que cobria os seus ombros e tinha uma pequena bolsa, dei alguns passos ficando de frente para ela depois que tranquei a porta e coloquei as chaves de volta no lugar — Elas estão no quarto e posso acordar elas.
— Então vamos lá — ela sorriu fraco e a fui acompanhando devagar enquanto subíamos as escadas — Elas precisam saber.
O vestido preto, olhar triste e o mistério para me contar as coisas somente na frente das meninas. Eu deduzi que alguém do colégio ou algum parente dela tinha morrido em Nova York e que teríamos que ir no funeral ou não. Eu não gosto de tirar conclusões próprias o tempo todo e esse mistério tá me matando e eu já devo saber que coisa boa não é.
Subimos as escadas e passamos pelo corredor sem falar nada, abri a porta do quarto das cortinas deixando a claridade entrar e abri a janela fazendo com que a claridade invada mais ainda o quarto e que acorde as meninas enquanto a Tracy observava tudo o que eu fazia e as meninas conversando.
— Pra que nos acordou? — Beatrice se sentou na cama resmungando ainda com os olhos meio fechados e ela se sentou na cama coçando os olhos — Deixa a gente dormir.
— A Tracy quer falar com a gente e isso daqui é o código 23—19 tanto que nos envolve — coloquei as mãos na cintura vendo Rosalie acordar e se sentar na cama ficando de frente para Beatrice, ela coçou os olhos com as costas da sua mão, pegou o seu urso agarrando o mesmo — Para ela ter vindo de ônibus por uma hora, a coisa é séria.
— Bom, eu quero que todas se sentem em seus baús — Tracy gesticulou com as mãos para nos sentarmos e as meninas saíram de suas camas para puxarem os seus baús e colocarem um do lado do outro, nos sentamos — Quem ai se lembra do Diego Villanueva?
— Quem é que não se lembra dele? — Tracy me entregou um envelope onde continha um adesivo mostrando um símbolo do exercito americano — O que é isso?
— O que eu quero contar a vocês está ai e é sobre o Diego — eu apontei para o envelope como quem diz se devo abrir aquilo — Abra.
Tirei o adesivo e abri o envelope puxando a carta dobrada, entreguei o envelope para Beatrice que segurou ansiosa para saber o que tinha naquela carta. Eu a desdobrei com cuidado de cabeça para baixo e girei a mesma colocando a mesma na posição certa. Li para mim mesma cada palavra tanto que eu esta chocada e coloquei minha mão sobre a boca.
— Diz logo o que está escrito — Beatrice me olhou com pressa tanto que ela quase tomou a carta e a Tracy não se agüentou logo começando a chorar, porque ela sabia o que tinha naquela carta — Leia logo o que está ai.
— Através deste comunicado, viemos falar sobre o nosso soldado Diego Villanueva Shakur de 19 anos que entrou no exercito em meados de novembro de 2009 e partiu em servir ao nosso exercito em uma missão no Afeganistão ao lado dessa tropa em honrar ao nosso país em janeiro deste ano. — eu me senti mal em só continuar a ler aquilo porque eu não sabia que ele ia servir mesmo ao exercito que era tão sério assim essa decisão dele — Ontem teve uma seqüência de ataques em nossas bases durante esta cruel guerra que se segue em atividade há 9 anos, o soldado Villanueva está sinalizado como desaparecido desses ataques tanto que ainda não foi encontrado o corpo. Presumimos com a tristeza de falar que as buscas por seu corpo foram encerradas e optamos por anunciar que o Sr. Villanueva faleceu ontem. Todos nós do Exército Americano mandamos nossos pensamentos e orações a família Villanueva.
— Eu achei que precisava saber — Tracy segurou a mão sobre a sua bolsa e vi que as lagrimas surgiam em seus olhos mais uma vez, ela limpou os olhos tentando manter sua classe ainda ao chorar — Acho que merecia saber mesmo com tudo que aconteceu depois do Natal.
— Sinto muito — não pensamos duas vezes em nos levantarmos e abraçarmos Tracy em grupo tentando dar um conforto a ela — Eu estou em choque.
Ela retribuiu o abraço em cada uma de nós, era verdade que estávamos em choque com aquela noticia. Não era uma noticia adequada para nos dar em uma chamada por Facetime ou uma ligação comum que eu juro que se tivesse recebido essa ligação, eu teria derrubado o mesmo com uma queda no chão e o mesmo teria se espatifado.
Eu estava sem reação, em choque com aquela noticia. Diego? Morto? Era uma coisa que ninguém esperava principalmente de um cara tão desenrolado como ele. Isso era uma coisa inacreditável, chocante, insano e sem palavras para isso. Sei que não éramos mais amigos desde dezembro do ano passado, sei que houve muita coisa tanto que levei meses para me recuperar.
Fim da amizade? Foi como se ele tivesse colocado a mão dentro do meu peito e quebrado todos os meus ossos da costela e pegado o meu coração arrancando o mesmo com tanta força. Minhas pernas ficaram bambas, perdi as forças com aquela dor e o vi ir embora tão fácil da minha vida igual a que tinha entrado.
Quando o Brian terminou comigo também foi essa mesma sensação, porém eu senti mais decepção. Engraçado não é? Toda vez que eu retribuía amor e reconstruía completamente vinha alguém e o arrancava. O ano passado foram duas arrancadas em meses completamente diferentes por dois garotos completamente diferentes, mas com a mesma paixão por música até em arrancar o meu coração, eles tinham sincronia perfeita.
— A Sra. Villanueva vai fazer um funeral, mas como não há um corpo para ser enterrado — entreguei a carta para ela e nos sentamos nos baús a olhando colocar a carta dentro do envelope que ela pegou das meninas e colocou na bolsa — Ela vai encomendar um caixão para que possamos colocar tudo relacionado a ele como fotos nossas, cartas, mensagens. Ela não acredita que ele esteja realmente morto tanto que vai procurar um detetive para mandar investigar o exercito.
— E o que a gente tem haver com isso? — a olhei enquanto cruzava as pernas e ela engoliu a saliva com a mão sobre o cotovelo e olhando para os lados — Eu não falo com o Diego já faz 9 meses, não somos mais amigos e outra ele seguiu a vida dele como ele queria cercado de todos que ele amava, cercado de todas aquelas irmandades desde os Hyde até as irmandades menos importantes.
— Nós éramos os reais amigos dele — me levantei andando em direção a janela, encarei a mesma tentando controlar minhas emoções naquele momento — A gente devia ter consideração mesmo sabendo que não estávamos falando com ele.
Eu não estava acreditando naquilo que a Tracy estava falando, ela queria que fossemos naquele funeral. Depois do que ele fez comigo? Depois do que fizeram comigo? Depois daquele inferno que passei em dezembro? Eu odiava sentir aquela sensação de gatilho acionado atingir o meu coração e fazer com que aquilo ficasse dolorido em meu peito.
Toda vez que tocavam ou falavam no nome dele, me dava uma sensação horrível de chorar. Meu corpo tremia todo dia e era como um inferno a sensação ao ouvir o seu nome tanto que eu não conseguia ouvir suas músicas. Engraçado não é? Suas músicas falavam de sexo, dinheiro, amor, ostentação e as mesmas me fizeram chorar por um longo tempo.
Ás vezes gostaria de ter tido mais tempo, gostaria de não o ter conhecido. Eu tinha me isolado de tudo naquela época, senti minha confiança sobre ele ter sido jogada o lixo e mesmo que nós voltássemos a ser amigos um dia, teria certeza que minha confiança não seria a mesma. Ele conseguia seguir em frente tão rápido e me perguntava como ele fazia isso.
— Selena, eu sei que isso é duro para você — Beatrice se aproximou de mim colocando as mãos sobre os meus ombros tentando me consolar. — Olha, encare isso como uma forma de se despedir dele de uma vez por todas.
Essa era a segunda vez que iria me despedir do Diego e parecia que o meu coração tinha sido arrancado de novo. Aquilo doía tanto que parecia se infiltrar pelo o meu corpo como se eu tivesse consumido radiação que queimava em meus ossos como a Supergirl sendo atingida pela Kryptonita.
— Eu não acredito no que eu vou dizer, mas a Beatrice está certa — me virei ficando de costas para a janela sentindo o calor queimar os meus ombros — Por mais que ele tenha partido o seu coração e ter terminado a amizade com você, devemos ter consideração por ele e ir no funeral dele.
Pra quem não sabe: Amigos também partem corações.
— Você tem razão — descansei os ombros e passei a mão sobre o pescoço coçando o mesmo e pousando as mãos na cintura. — Acima de tudo, ele ainda era humano e foi um bom amigo para nós.
— Isso! — Beatrice saiu de perto e andou em direção ao closet dela, eu a olhei pegar uma caixa e fechar a porta do closet — E vamos precisar de algo para levar para o funeral.
— O que? — a olhei com a caixa da cor marrom e tentei entender o que ela queria dizer com aquilo — Eu não tenho nada para levar para o funeral.
— Agora tem — ela me entregou a caixa e abri a tampa da mesma onde tinha todas as minhas fotos com o Diego quando éramos crianças e as fotos recentes de algumas visitas que fiz no final de outubro — Você tinha jogado tudo fora e eu guardei tudo isso, caso um dia precisasse.
— De que horas é esse funeral? — coloquei a caixa sobre a minha cama bagunçada e peguei a foto mais recente que foi em uma festa em New York que fui escondido pelo uso do portal, ele estava segurando a latinha de cerveja na mão e sorriu para foto ao meu lado, eu vestia uma calça preta de cintura um pouco alta e uma blusa jeans amarrada deixando um pouco da minha barriga de fora com mangas compridas com meus pulsos cobertos de pulseiras coloridas, meus cabelos estavam cortados até o ombro, minha franja estava crescendo naquela época e eu segurava uma lata de cerveja na mão e debaixo do meu braço estava um papel.— E o que você vai levar?
— Ás 11 da manhã — ela olhou no relógio em seu pulso e olhou em sua bolsa mais uma vez — Eu vou levar uma foto junto com uma carta pra colocar naquele caixão.
— Eu escolhi o que irei levar — olhei para o verso vazio da foto e me inclinei sobre a cama colocando a foto sobre a mesma e puxei o cabelo para trás me levantando e indo ao meu criado mudo pegando uma caneta e me sentando na cama puxando a foto para mim — Essa foto é bem recente e é uma das melhores fotos que tiramos.
“Aquí se va una leyenda, que vaya en paz con serenidad igual estaba cuando sacamos esa foto.
Com amor,
Selena Nicole Clost”
Coloquei a mão na gaveta do criado mudo puxando um envelope vazio e peguei alguns adesivos do homem aranha que eu havia roubado do quarto de um dos meninos. Abri o envelope e coloquei a foto lá dentro ainda me lembrando daquele dia que foi tão divertido naquela festa.
Destaquei um dos adesivos do homem aranha e colei no verso do envelope fechando bem direitinho. Eu guardei aquelas coisas todas dentro da gaveta do criado mudo deixando o envelope com a foto em cima da cama e me levantei da mesma, fechei a caixa com a tampa e me abaixei colocando a caixa debaixo da cama.
— Bem, são 9 horas e temos que pegar o ônibus ás 10 para chegarmos a tempo no funeral — digo olhando para o horário do meu celular e ponho o envelope junto com o celular no criado mudo — Temos que começar a nos arrumar agora.
[...]
Encarei minha imagem no espelho com aquele vestido preto, passei a mão sobre a saia do mesmo e arrumei a minha bolsa que atravessava o meu corpo. Arrumei minhas luvas sem dedo na minha mão, me abaixei arrumando as minhas sandálias e me levantei arrumando o meu cabelo.
Abri a minha bolsa verificando se o envelope estava lá dentro junto com o meu celular e o meu batom além dos meus documentos, virei para as meninas que estavam prontas. Tracy abriu a porta do quarto e saímos do mesmo esperando Rosalie trancar a mesma, andamos pelo corredor até chegar as escadas que descemos rapidamente e fomos para a cozinha pedir para o Dexter autorização para irmos para New York.
Explicamos toda a situação para ele, ele assentiu com a cabeça tanto que pediu para tomarmos muito cuidado e avisarmos que chegamos bem. Saimos da cozinha indo em direção ao hall de entrada e os seguranças abriram a porta para nós. Agradecemos aos mesmos e caminhamos pelo jardim da mansão sem perder tempo.
Atravessamos o portão grande, assim que um taxi parou lá em frente entramos no mesmo e seguimos para a rodoviária de Nashville. Assim que chegamos na rodoviária, compramos nossos bilhetes e esperamos o nosso ônibus chegar para podermos partirmos e me sentei em uma das cadeiras colocando a minha bolsa em meu colo e puxei o meu celular desbloqueando o mesmo e puxando a aba de notificações.
Noticias:
“O álbum G.U.N com participações dos cantores da banca Ca$a 3 empacam em segundo lugar apenas perdendo para o álbum do cantor Maxon Clost”
“Indecente — Thuggers está em 7 lugar no top 100 da billboard”
Assenti com a cabeça pensando comigo mesma que ele conseguiu aquilo depois de tanto tempo lutando pelo sucesso. Agora ele era famoso e não podia comemorar aquilo porque estava morto ou desaparecido até pra saber noticias sobre ele era complicado. Ele era complicado tanto que eu não duvido nada que ele está bem com alguns ferimentos do ataque e provavelmente ensinando as crianças sobreviventes do Afeganistão o que era música para ele.
Vindo do Diego? Tudo pode se acontecer, porém fazia bem para ele se manter longe de tudo que há em Nova York e pode até ter inspiração para canções. Ele saberia como voltar para casa, ele sabe que na hora certa tudo ficará bem ou talvez ele realmente esteja morto e irreconhecível.
Os ônibus chegaram e nos levantamos indo em direção aos mesmos, entregamos os bilhetes e entramos nos ônibus. Sentamos em nossos lugares e coloquei o celular dentro da bolsa fechando a mesma. Tracy me entregou uma garrafa porta bebida de 200mil e abri a tampa cheirando a mesma.
— Whisky? — a olhei entregando o frasco e ela pegou o mesmo virando na boca tomando um gole tão rápido que ouvia o barulho da bebida caindo de gargalo abaixo — Sério isso?
— Vai precisar — ela tentou me entregar novamente e neguei beber aquilo a essa hora da manhã — Vai por mim, depois não diga que eu não avisei.
[...]
Igreja da Trindade — Broadway, New York
Chegamos a igreja da trindade em Nova York que ficava longe do instituto, nunca pensei que fosse um funeral que iria me fazer voltar a minha cidade. Tracy ainda não estava bêbada com 200 ml de Whisky porque eu não deixei e fechei a porta do taxi depois que saímos do mesmo e pagamos.
Subimos as escadas da igreja e coloquei a garrafa de Whisky na bolsa antes de entrar, caminhamos para dentro da igreja onde os sinos tocavam chamando ainda as pessoas que faltavam. Lá estava o caixão aberto no altar da cor preta com uma parte fechada coberta por uma coroa de flores e ao lado do caixão no canto direito a minha direita tinha outra coroa de flores e ao lado esquerdo tinha uma moldura com a foto do Diego.
Parei em frente ao caixão com a parte aberta vendo que tinha algumas coisas que ele gosta e que deve ter sido sua mãe que deve ter pego do seu quarto e colocado ali. Abri a bolsa e retirei o envelope, coloquei ao lado do seu disco favorito do Tupac e me afastei indo para o lugar onde as meninas estavam.
Suspirei fundo e a Sra Villanueva veio falar conosco perguntar como era o seu filho para nós, a confortei diante daquela situação e ela ainda estava em choque com tudo aquilo que estava acontecendo. Ela não parava de falar que o filho dela estava vivo e que o exercito estava errado, ela se agarrava até o ultimo fio de esperança e era o que a mantinha viva.
A Sra. Villanueva saiu de perto de mim e foi conversar com as outras pessoas, a igreja estava enchendo e o padre estava arrumando sua roupa. Já podia se ouvir vozes de outras pessoas já conhecidas de diversas irmandades desde os Hyde’s até mesmo irmandades menos conhecidas como as Vienne’s.
Todo mundo já estava em seus lugares incluindo eu já podia ouvir ecoar na igreja, a voz irônica e sarcástica do terror de Nova Orleans também conhecido por ser dono dos Hydes e dono do grupo Twerk, ele se chamava Tristan Hyde. Olhei para trás vendo que Carolyn chegava com um vestido preto acompanhada de algum segurança ou possível novo namorado, me virei pra frente enfiando a minha mão dentro da bolsa e pegando o frasco de Whisky da Tracy. Eu tava pouco me importando se eram 10 horas da noite ou não e abri o mesmo virando a garrafa na minha boca tomando um gole fazendo o total sentido que Tracy tinha razão na questão de que eu devia beber aquilo.
O padre iniciou a missa e guardei o frasco rapidamente, prestávamos atenção em todas as coisas que ele falava e ele chamou algumas pessoas para discursar sobre o Diego. Tristan falou algumas coisas em primeiro até porque ambos trabalharam juntos como administradores do grupo Twerk no MySpace e ambos se davam muito bem pelo que eu saiba além que o Tristan adorava ele ali se dedicando ao Twerk.
Acho que o Diego teria adorado toda aquela atenção, todo aquele momento sobre ele e ver todo mundo fora do MySpace reunidos ali falando dele, falando da sua música e de quem ele era. Carolyn e algumas de suas ex—namoradas falaram sobre ele em alguns discursos bem simples e curtos, a mãe do Diego falou mais algumas coisas em homenagem ao seu filho e Tracy por sorte ainda estava sóbria e pode discursar com suas próprias palavras sobre o ex—melhor amigo.
Tristan se aproximou de mim encostando a mão sobre o meu queixo fazendo com que eu levante a minha cabeça. Ele me pediu para que eu discursasse, mas eu não tinha pretensão alguma de discursar depois do que houve em dezembro e eu neguei, mas ele insistiu para que eu discursasse.
Após muita insistência, eu me levantei e subi ao altar ficando diante da mesa alta, segurei as mãos nas pontas da mesa e suspirei fundo vendo que todos estavam esperando que eu falasse alguma coisa naquele momento. Beatrice fez gestos dizendo para que eu falasse logo e retomei a postura finalmente começando a falar.
— Eu nunca imaginei que um dia eu ouviria que Diego Villanueva Shakur estava morto, nem tão cedo, tanto que isso soa como se fosse uma mentira — os encarei ainda procurando mais palavras para descrever aqui e encarava mais ainda os meus sentimentos sobre aquele momento — Eu sempre imaginei o Diego alcançando todo o seu sucesso como ele queria, lotando estádios toda a noite — passei a mão sobre o rosto coçando o mesmo rapidamente — Fazendo os shows do jeito que ele queria igual aqueles vídeos de show ao vivo que ele me mandava ou mostrava no Youtube, realizando os seus desejos de fazer suas tatuagens, suas musicas do seu jeito, investir mais em suas coisas como ele desejava e ver até onde ele conseguiria com isso e fazer sua gravadora incentivando novos jovens talentos. Esse era o Diego, o garoto que todo mundo gostava e interagia com todos mostrando sua capacidade de até onde ele iria chegar com os seus sonhos. Eu não posso falar muita coisa sobre ele, não somos mais amigos e somos apenas pessoas que costumávamos conhecer. — eu olhava em volta com todos prestando atenção no que eu falava — Mas quem foi amigo dele depois de mim, foi uma pessoa bastante sortuda e porque eu digo isso por ter conhecido. Eu tive um menino ao meu lado, vocês tiveram um homem e eu tive um passado enquanto vocês tiveram o presente, o futuro com ele. Eu ainda tenho o meu coração acelerado com todas as lembranças que ele me deu, eu sou grata por cada momento e por ter o conhecido. Vocês tiveram um grande amigo e eu tive um parceiro que dava suporte em minhas coisas e que eu tive o prazer de dar apoio em suas coisas. Ele se dizia que ele era o rei, então como eu posso dizer é que o rei teve uma vida longa e boa, que saudemos sua vida e sua morte desejando paz a sua alma que isso não é o seu fim como se diz: “Agora a lenda vai descansar em paz”.
Eu me retirei do altar enquanto todos me olhavam e me sentei ao lado das minhas irmãs devolvi a garrafa de whisky para a Tracy escondido. Foi preciso ter um funeral para reunir todo mundo fora do Twerk, acho que nem todo mundo gostava dele realmente até porque muita gente falava coisas sobre ele fora do alcance dele e também escondiam isso se pagando de amigos dele.
Poucos o amavam, poucos gostavam dele e poucos demonstravam apoio sobre o seu trabalho. Poucos o conheciam realmente, poucos tiveram esse incrível privilégio de conhecer quem é ele e poucos vão esquecer quem é ele. A maioria que está ali não está por ele realmente, boa parte esta fazendo volume naquela igreja e sei que quando esse funeral acabar, ainda vai ter pessoas malvadas que ainda terão coragem de dizer:
“Que bom que ele se foi.”
E o pior que é verdade que existem pessoas assim, os humanos conseguem ser bem piores que os nephlims entre si. Eu não sou assim, jamais falaria isso até porque o Diego foi uma pessoa muito importante para mim mesmo que ele tenha quebrado o meu coração. Ele não merecia esse tipo de comentário infeliz ou como eu poderia dizer é que ninguém merece esse tipo de comentário.
Assim que a missa acabou junto com o velório, os sinos soaram e a tampa do caixão foi fechada. Tristan se juntou com o fundador da irmandade Kingston e mais alguns meninos para ajudarem a carregar o caixão para fora da igreja enquanto eles seguiam em frente carregando aquele caixão sem um corpo.
Todo mundo se levantou seguindo os mesmos que carregavam o caixão pela igreja para fora da mesma. Assim que saímos da igreja, eu e as meninas demos as mãos descendo as escadas e com todos reunidos em um só canto, Tristan pediu para que começássemos a seguir ele a caminho do cemitério mais próximo dali, observei a Carolyn consolar a mãe do Diego que mal conseguia se manter em pé.
Calvin Kingston segurava o quadro do Diego enquanto se mantinha sério ao lado dos meninos que carregavam o caixão e andava devagar os acompanhando. Assim que chegamos ao cemitério onde sua cova estava aberta, os meninos colocavam com tanto cuidado o caixão em uma base e apertaram um controle que abaixava o caixão até a cova.
Os coveiros chegaram e cobriram a cova de terra completamente, enquanto todo mundo saia do cemitério e ia a caminho da casa da Mansão Villanueva onde Tristan ia receber as pessoas e consolar elas com que aconteceu. Eu já não agüentava mais andar com aqueles saltos, eu e as meninas decidimos pegar um taxi para ir aquela casa e olhei o meu celular, já constava que era uma da tarde.
Eu tava morrendo de fome e ainda eu tinha que voltar para Nashville para me preparar para ir ao acampamento com as meninas Cimorelli e minhas irmãs. Liguei para uma delas avisando que estava em New York e que iríamos chegar lá para as 4 horas da tarde, suspirei aliviada ao lembrar o quanto elas eram compreensivas.
Fora que nós tínhamos perdido a missa que costumamos ir aos domingos quando podemos. Travis me mandou mensagem perguntando onde iríamos nos encontrar para ir ao acampamento e avisei que tínhamos que nos encontrar na lanchonete do centro da cidade. Acham que viver em cidade pequena envolve sossego? Não envolve até porque a cidade era linda demais para ficar trancada em uma mansão sem explorar o que tinha lá fora.
[...]
Mansão Villanueva — New York.
Ao entrei na mansão e pude ouvir a música do Diego sendo tocada bem alta como se estivéssemos em uma festa como se o Diego ainda estivesse vivo e estivesse se preparando para descer aquelas escadas todo alegre com uma lata de cerveja em sua mão, acompanhado por duas garotas bem “gostosas” como ele costumava dizer e fazendo piadas.
Eu pude ver sua foto no fundo da sala de estar pendurada em cima da lareira e com velas acesas em sua homenagem. Podia ver que tudo iria ficar bem, que ele estava em paz e também podia ver que Tristan era bom em despedidas e homenagens para seus amigos, ele transformou um momento de consolo em algo festeiro.
Acho que o Diego faria o mesmo com o Tristan, a mansão já estava infestada com o cheiro de maconha e bebidas no ar. As meninas se espalharam pela mansão atrás de alguma bebida e o dono dos Hyde subiu em uma mesa segurando o copo de Whisky na mão falando algumas coisas que nem quis dar atenção em entender.
Subi as escadas devagar me afastando cada vez do barulho da festa improvisada em homenagem ao Diego que agora tocava Trap e Rap na ultima altura. Andei pelo corredor até encontrar o quarto do Diego e puxei um grampo da minha bolsa, me abaixei e inseri na fechadura dando um jeito para abrir a porta.
E não é que deu certo mesmo? Eu ainda tinha pratica em destrancar portas sem uso da chave. Entrei naquele quarto vendo que tudo estava ali do jeito que ele deixou, agora tinha algumas mudanças como bonecos da Marvel sobre sua mesa e alguns DVDs empilhados ao lado dos bonecos. Andei devagar pelo quarto passando a mão sobre a roupa de cama que era estampada com a cara do Homem Aranha até chegar ao criado mudo ao lado da sua cama.
O criado mudo ainda estava com a mensagem do jeito que eu deixei e ao lado estava a foto que ele tirou minha na ultima vez que nos vimos dentro de um quadro bonito. Peguei o quadro vendo aquela foto e me sentei na cama admirando a mesma, eu pensava que ele tinha se livrado daquela foto.
— A foto é bonita não é? — tomei um susto ao ouvir uma voz masculina e virei o meu rosto para trás vendo Tristan encostado no batente e tomando um gole do Whisky — Lembro que ele não parava de falar desse dia do quanto essa festa tinha sido boa.
— Foi a melhor foto que tiraram de mim — coloquei o quadro de volta no lugar e me levantei da cama arrumando o amassado que deixei — Essa festa deu o que falar.
— Ele era um ótimo fotografo — ele desencostou do batente com uma das mãos dentro do bolso da calça — Ele foi o melhor administrador que o Twerk já teve e nunca vou achar um igual a ele.
— Eu te entendo — virei de costas para o Tristan e encarei a janela vendo o meu antigo quarto que continuava do jeito que eu deixei — Ele era único.
— Gostei do que disse naquela igreja — fui me virando devagar para ficar de frente ao Tristan e cruzei os braços ainda perdida em pensamentos ao olhar aquele quarto — Foi sincero, você nem chorou e sabia muito bem o que dizer.
— Você também falou coisas muito boas — me sentei ao seu lado e coloquei as mãos sobre as pernas junto com a bolsa no colo — Ás vezes nós precisamos deixar o coração falar quando é preciso e eu já chorei demais quando ele me disse adeus pela primeira vez que não me sobrou uma lagrima para hoje. Eu sabia o que dizer porque não era nenhuma mentira, Tristan, vocês tiveram um homem perto de vocês e eu tive um garoto sonhador que agora esta com sua canção no top 10 da Billboard nesse momento e ainda com o seu álbum no top 5 que me deixa feliz e orgulhosa.
— Ele conseguiu — Tristan colocou os cotovelos apoiados sobre as pernas com as mãos entrelaçadas — Se despedir de alguém pela primeira vez dói, agora se despedir pela segunda vez de uma vez por todas dói e você foi corajosa em ir naquela igreja, em ir falar do seu coração naquele elogio fúnebre. Nem todos conseguem ter essa coragem, nem todos falam com o coração e alma.
— Era por isso que ele odiava se despedir porque dói e ninguém quer sentir essa dor de dizer adeus. — olhei a foto que estava no criado mudo novamente e assenti com a cabeça concordando com aquilo e comigo mesma — Talvez a razão por eu ter conseguido ter coragem foi porque talvez eu seja boa demais em dizer adeus e ruim demais para aceitar que me deram um adeus tão certo de como quem diz: “É isso, acabou.”
— Isso era o que ele mais odiava mesmo com todo aquele orgulho que o cobria e por incrível que pareça, ele também não era tão bom em dizer adeus. — Ele tomou mais um gole da bebida e me ofereceu um pouco, porém eu recusei aquele copo de whisky — Não é ser boa demais em dizer adeus, é ser corajosa em ignorar a sua dor passada e vir aqui em consideração dele e da família dele prestar apoio para os mesmos, é saber que ele faria o mesmo por você.
— Eu não diria que ele faria o mesmo até porque o orgulho dele fala muito alto com tudo que aconteceu em dezembro. Mas por outro lado ou outras razões ele faria, ele faria um discurso melhor do que eu e colocaria várias piadas. — respirei fundo mais uma vez e passei a mão no cabelo o arrumando para trás, passei a mão sobre o meu rosto coçando a bochecha do lado direito — Ele faria melhor, seria mais corajoso do que eu.
— Como você foi corajosa com tudo isso e veio de Nashville somente para vir aqui se despedir, tenho algo para você. — Tristan andou em direção a uma das gavetas da mesa do Diego e abriu a mesma puxando um cordão que tinha dentro — Isso é para você.
— Que cordão é esse? — Tristan se aproximou de mim e eu estiquei as mãos vendo o cordão cair sobre minhas mãos — Espere, esse era o cordão que ele reclamou que estava velho e desgastado tanto que iria comprar outro. — peguei o pingente de arma que tinha no cordão e esfreguei entre os dedos notando que aquilo estava tão bem polido — Eu pensei que ele tinha levado pro exercito.
— Na noite em que ele foi pro Afeganistão, ele me entregou esse cordão e pediu para polir ele que quando voltasse ele iria vender esse e comprar outro. — olhei para o cordão delicadamente admirando todos os pequenos detalhes — Eu iria entregar a ele quando voltasse, eu guardei aqui no dia que ele já tinha ido e não tive coragem de jogar isso no caixão.
— Ele teria gostado — olhar aquele cordão me lembrava de coisas boas sobre ele, sobre o próximo cordão que ele queria comprar — Porque me mostrou isso?
— Sim, foi polido com o melhor produto que tinha e nem parece que estava desgastado — ele pegou o copo de Whisky que deixou sobre sua mesa e virou o copo de garganta abaixo todo o resto da bebida que tinha — Acho que você merece ter algo dele, já que ele não passa de um cara que conhecemos e que encheu nossas vidas de memórias. Eu não sei que não compensa a dor que lhe causou quando ele foi embora, mas é uma parte dele que ficará com você.
— Obrigada. — abri a minha bolsa e coloquei o cordão lá dentro em um pequeno bolsinho, fechei a mesma e me levantei arrumando a alça da bolsa sobre o meu ombro — Isso é importante para mim.
Eu me despedi do Tristan depois de uma longa conversa, sai daquele quarto e andei pelo corredor vendo aquelas pessoas já ficando bêbadas. Aquilo estava longe de ser um horário em respeito ao Diego tava mais pra ser uma típica festa de irmandade com todo mundo vestindo roupas de luto e enchendo a cara.
Estava descendo as escadas, mas pude de longe a Carolyn provavelmente bêbada chorando agarrada a uma das fotos do Diego que tinha na mesinha de centro da sala. Acho que a hora em respeito ao Diego na casa do próprio só era mais uma desculpa para todo mundo encher o rabo de Vodka logo pelo dia.
Por um lado já estavam certos, não tinham que chorar por terem enterrado um caixão que não tinha corpo e sim comemorar como se ele ainda estivesse aqui. Por outro, o silencio faria com que a alma dele descansasse em paz como deveria e infelizmente não posso fazer mais nada além de ir embora daquela mansão.
É aquele ditado:
“É melhor rir do que chorar.“
“Ele podia ter partido o meu coração, mas isso não me impedia de sentir sua falta.”
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