Você é a luz, você é a noite
Você é a cor do meu sangue
Você é a cura, você é a dor
Você é a única coisa que quero tocar
Não sabia que podia ser tão importante
- Love me like you do, Ellie Goulding
S/N
Seul, Coréia do Sul
Eu estava decidida a confrontar Mi-rae.
Não iria mais me permitir tolerar ela ou qualquer uma das atitudes que haviam feito minha família sofrer.
Enquanto eu a encarava no final do corredor, muitas perguntas se formaram na minha cabeça. Milhares de hipóteses surgiam como flashs, assim como cada lembrança de dias difíceis que eu havia enfrentado por culpa dela. Quando os olhos dela cruzaram com os meus, Mi-rae arqueou as sobrancelhas e suspirou, caminhando com um meio sorriso até mim enquanto segurava uma pasta cheia de papéis.
– Não é possível. – vociferei sentindo meu peito pesar quando paramos uma de frente para a outra no meio do corredor. Era como encarar toda a minha dor. – O que diabos você está fazendo aqui? É sua habilidade aparecer que nem um parasita quando as pessoas estão felizes?
– Uau! Boa tarde para você também, S/n. – força um sorriso e estende a mão que está livre, para que eu pudesse pega-la. – É ótimo ver você.
– Eu não posso dizer o mesmo. E se você queria ser simpática comigo está atrasada, não está? – a ignoro e ela baixa a mão, concordando comigo. – O que você está fazendo aqui, Mi-rae?
– Eu não estou aqui para ver Jungkook, não se preocupe. Mesmo que fazer isso seja tentador. – ela torce os lábios. – Você não parece aquela garota ingênua de um tempo atrás. Isso é bom, te torna alguém mais interessante. Antes era tão sem graça que eu me perguntava como Jungkook não se entediava.
– A minha ingenuidade acabou junto com a minha paciência assim que eu vi fotos do meu filho espalhadas pela internet. – as palavras saem firmes da minha boca. Dawon nos observava de longe com Hyeon em seu colo, junto de Sejin. Eles pareciam prontos pra interferir. – Eu não quero mais saber de nenhuma merda vindo de você. Eu estou tão esgotada do seu circo, que não vou pensar duas vezes em quebrar a sua cara, então não tente me provocar, Mi-rae.
– Eu não estou tentando fazer isso.
– Não me interessa, eu estou te avisando. – repito mais uma vez. – Eu passei noites acordada com medo de ter o meu filho sem Jungkook ao meu lado… ou que ele me odiasse por simplesmente virar as costas sem dar ao menos um motivo. Por sua culpa, Mi-rae, eu quase permiti que a parte mais importante da minha vida me fosse tirada. E eu não vou mais aceitar. Naquela época eu senti medo por Jungkook, porque diferente de você, eu nunca me permitiria acabar com a vida de alguém, ainda mais com a dele. Mas agora eu me arrependo tanto por ter deixado você manipular a minha vida.
– Nunca imaginei que você pudesse guardar tanto rancor aí dentro. – suspira. – Isso faz tanto tempo, S/n. As coisas estão bem, não estão? Você e Jungkook estão juntos, afinal. Era isso o que você queria, não era? Manter a galinha dos ovos de ouro na palma da sua mão.
– Você é suja, Mi-rae. E é louco como eu soube isso desde o primeiro dia em que coloquei meus olhos em você naquela empresa.
– As coisas são engraçadas, né? Porque aquele dia na empresa, quando Jungkook saiu da sala de reuniões e olhou desesperado para você, algo me disse que você seria o maior problema que eu enfrentaria por ele. – ela deixa uma risada cinica escapar. – E eu estava certa. Você conseguiu manipula-lo como um cachorrinho.
– Você consegue se ouvir? – pergunto indignada, ouvindo a respiração pesada de Sejin atrás de nós. – Você é tão doente que acredita que fez algo para o bem dele? Todos os problemas que Jungkook está tendo que lidar foram causados por você. Ninguém mais.
– Eu amo Jungkook, S/n. Amei aquele garoto desde o primeiro dia em que nos vimos, e eu faria qualquer coisa por ele. Então não repita isso.
– O amor não machuca ninguém, Mi-rae. – falo convicta, a observando engolir em seco. – Jungkook está passando por tanta merda nesses últimos dias, que as vezes eu me pergunto como ele é capaz de aguentar. Se você o amasse tanto quanto diz, saberia disso.
Mi-rae não me respondeu. Ela apenas riu e passou uma das mãos entre os fios do cabelo, suspirando. Ela sabia que eu estava certa. Sabia que era um ser humano egoísta e desprezível.
– Eu entendo os seus motivos para me odiar. Jungkook também e…
– Você entende? Você realmente tem coragem de dizer que entende? – questiono indignada. Sejin se aproximou colocando uma das mãos em meu ombro, enquanto Dawon entrava com Hyeon em uma sala. – Se você cogitar fazer alguma coisa contra o meu filho de novo ou ameaçar Jungkook, você vai ver o diabo na sua frente. E eu vou ser ele.
– Eu nunca faria mal a Hyeon. – ela me encara de maneira acusatória. – Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
– Uma das mais baixas que eu tive o desprivilegio de conhecer. – respondo firme. – Eu sempre fui otimista em pensar que o seu ódio se resumisse a mim, mas a ele? Por que você simplesmente não deu a minha identidade para a Dispatch? O seu problema esse tempo todo não sou eu?
– Você acha mesmo que eu não pensei em vazar o seu rosto? Eu pensei em tantas hipóteses, S/n… com a raiva que eu estava sentindo de Jungkook eu poderia ter vazado até o rosto de Hyeon. Isso sim transformaria a sua vida em um inferno. Imagina… o rostinho dele estampado pela internet. Eu fui boa com vocês…
Aquilo foi um gatilho para mim. Ouvi-la falando de Hyeon como se ele fosse um objeto que ela pudesse manipular o destino a qualquer momento me fez perder a cabeça. Antes mesmo que eu pudesse raciocinar, senti meu sangue ferver seguido por uma ardência insaciante na palma da minha mão. Os olhos de Mi-rae imediatamente se arregalaram e Sejin se pôs no nosso meio, me impedindo de partir para cima dela.
– S/n… – ele me chama sério, tocando meu ombro. – Calma.
– E pensar que Jungkook não teve coragem de processar você apesar de tudo. Você é doente, Mi-rae. Doente! – cuspo as palavras em cima dela, ignorando Sejin e a observando tocar o lado do rosto em que eu havia dado um tapa. – É inacreditável a forma como você consegue ficar que nem um inseto no meio das nossas vidas.
– S/n, você precisa ficar calma. – Sejin repete. – Por favor. Jungkook está dentro da última sala desse corredor.
– Sejin está certo. – Dawon se aproxima aflita, já sem Hyeon. – Você sabe que não vale a pena. Isso só vai deixar Jungkook se sentindo ainda mais culpado.
– A senhorita Mi-rae já está de saída. – Sejin argumenta, me olhando com segurança. Ela deixou uma risada escapar e balançou a cabeça. – Agora. Eu estou lhe dando a oportunidade de sair por vontade própria.
– Uau, Sejin. Você é o novo cão de guarda da S/n? – ela ri, ajeitando a bolsa no ombro. – Eu costumava achar você uma pessoa sensata. No fundo eu ainda acredito estar certa. Você sabe que ela é a pior coisa que poderia ter acontecido na vida de Jungkook.
– Chega, Mi-rae. – ele fala sério.
– Repita isso e eu vou arrebentar o seu rosto. – vocifero com raiva. Tentei me aproximar de Mi-rae, mas fui contida delicadamente por Sejin. – Sua vagabunda!
– Você não precisa perder a personagem de boazinha mais uma vez, S/n. Não vai ser necessário. – força um sorriso para mim. – E antes que eu me esqueça, Jungkook só não aceitou me processar porque é uma pessoa boa. Não porque ele gosta ou tem algum tipo de consideração por mim. – fala calma. – Eu nunca gostei de ter a pena das pessoas, mas dependi da dele.
– Que merda você está falando?
– Eu preciso de um emprego mais do que qualquer coisa. Jungkook é uma das poucas pessoas que sabe disso e só não me processou porque sabe que se fizesse isso, estaria acabando com as minhas chances de trabalhar em outro lugar. Você deve lembrar da Blacklist, não é? Eu mesma fiz questão de apresentar ela para você. – deixa uma risada fraca escapar. – Eu estou aqui apenas para buscar as minhas coisas e fazer um acordo com os advogados da Big Hit. – continua, levantando a pasta cheia de papéis. – Estou indo para os Estados Unidos por indicação de Hitman. E eu posso ter todos os defeitos que você disse que eu tenho, mas nunca faria mal para um bebê. E eu não odeio você, S/n. Odeio apenas o fato de Jungkook amar você. E ele ama muito, acredite. Eu o conheço há tanto tempo, e sei que ele faria qualquer coisa por você e Hyeon.
– Eu também sei. – a olho firme. – Jungkook é tão bom que pode até se enganar com você, mas eu não. Eu sei exatamente o ser humano podre que você é, e a única coisa que eu desejo é que você suma das nossas vidas de uma vez por todas. – falo com raiva. – Porque se você cruzar o nosso caminho de novo, Mi-rae, eu juro que eu passo por cima de você igual a uma ceifadeira. Jungkook é bom. Eu não sou mais.
Mi-rae apenas assentiu e caminhou acompanhada de Sejin até a porta de saída. Enquanto ouvia o som do atrito dos sapatos dela com o chão, permaneci parada no mesmo lugar por alguns minutos, sentindo um turbilhão de sensações me atingirem.
Jungkook era um ser humano bom. Tão bom que não parecia verdadeiro. Tão bom que me causava raiva.
Jungkook era discreto e gostava de passar despercebido pelos lugares, mesmo que isso fosse praticamente impossível, porque ele detinha uma luz única. Porém mesmo que não fosse explícito, como nada na vida dele, eu ainda assim conseguia enxergar a bondade em cada pedacinho de seu corpo e alma. Tudo em Jungkook era entrelinhas. O entender não era nada fácil e levava tempo. Você muitas vezes se perguntaria os motivos dele para tantas coisas, mas no fim tudo faria sentido. Conhecer o interior de Jungkook era uma jornada demorada, mas o destino final era lindo. O entender e sentir que você realmente o conhece, vale mais do que tudo.
A bondade de Jungkook estava na maneira como ele amava as pessoas mais do que elas mereciam. A bondade de Jungkook estava em cada uma das noites em que ele chegava exausto e ainda assim ficava acordado com Hyeon quando ele era um recém-nascido para que eu pudesse descansar. A bondade de Jungkook estava em cada sentimento que ele havia reprimido com medo de prejudicar os garotos e o BTS. A bondade de Jungkook estava no olhar verdadeiro e sereno dele, assim como em cada toque que me acalmava. A bondade de Jungkook estava na capacidade em que ele detinha de olhar com o coração até mesmo aqueles que não mereciam, como Mi-rae.
Jungkook era feito de bondade, e se tinha algo que eu havia aprendido com ele, era isso. A bondade não precisa de motivos, apenas coração. E eu o enxergava inteiramente com o meu coração.
– Você está bem? – Dawon passa as mãos nas minhas costas. Assenti a abraçando e deixando algumas lágrimas rolarem. – Hyeon já está com Jungkook. Eu disse que você estava falando ao telefone com a sua mãe. Foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça.
– Obrigada, Dawon. – forço um sorriso em meio as lágrimas. – Eu precisava tanto disso. Precisava colocar uma pedra em cima dessa garota.
– Você conseguiu. E foi lindo. – deixa uma risada escapar.
X
Heyon acabou dormindo no colo de Jungkook depois de ser incrivelmente mimado pelos meninos e por quase todos os funcionários da Big Hit que estavam presentes. Até mesmo Hitman tirou fotos e o pegou no colo, dizendo que o pequeno era o xerox do maknae. Nós o colocamos no carrinho e conversamos até um dos staffs comunicar que os meninos entrariam ao vivo no V-live, para conversar um pouco com os fãs.
Eu e Dawon ficamos sorrindo feito bobas em meio a equipe da BigHit, observando os garotos interagindo com o Army. Faltavam cerca de vinte e cinco minutos para o lançamento de Dynamite quando me peguei pensando no quão precioso Jungkook é e tudo o que ele significava na minha vida.
Todos os dias com ele são bons, mesmo os difíceis. Jungkook faz tudo ficar mais bonito ou ao menos mais suportável. Um dia sem um resquício dele na minha vida seria quase como um dia perdido.
Sai dos meus pensamentos com os tapas de Dawon nas minhas costas. Fizemos uma contagem regressiva e a introdução da BigHit começou a passar na televisão.
Foi impossível não olhar para Jungkook e rir feito uma idiota, enquanto ele piscava todo galanteador para mim do outro lado da sala.
A beleza dele estava de outro universo para a minha - não - surpresa. Jungkook sabia o quanto eu gostava do cabelo dele exatamente da forma como estava no MV, e provavelmente também sabia que eu estava surtando internamente. A dualidade dele sempre foi algo que me deixou completamente rendida.
Os visuais dos meninos estavam impecáveis, assim como cada movimento de dança.
Meu visual favorito de Jungkook em um MV até agora era o de Black Swan e eu pensava que por muito tempo não haveria outro para competir páreo a páreo. Mas ve-lo dançando o refrão de Dynamite em uma roupa de época foi o suficiente para colocar essa minha teoria abaixo.
Fizemos um brinde ao final e alguns dos produtores já gritavam sobre o número de visualizações estar crescendo meteoricamente e de recordes estarem sendo quebrados. Estávamos presenciando a história ser feita naquele exato momento. Os garotos estavam fazendo história com Dynamite. O BTS era histórico.
Eu não consegui prestar totalmente atenção nos números astronômicos que a equipe brindava naquele momento, pois queria apenas abraçar Jungkook e dizer o quanto eu o amava.
– O que você achou? – pergunta com um sorriso de orelha a orelha, quando enfim se aproxima de mim. – Espero que o meu inglês esteja tão bom quanto o seu coreano.
– Eu acho que estou ainda mais apaixonada por você, se é que isso é possível. – dou um selinho rápido, antes de o apertar. – Os cenários, a estética, as roupas… nossa! Está incrível, amor. Vocês destruiram de novo.
– Eu disse para Namjoon hyung que você iria amar.
– Eu amo você, Jungkook. – o olho nos olhos. – Eu amo tudo o que vem de você de uma maneira que eu nunca imaginei ser possível.
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