Pensador Boruto: Como disse Fernando Pessoa : "A razão calcula, mas é o coração que decide."
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A noite continuava em um ritmo eletrizante. Boruto estava adorando cada momento – fazia tempo que não se divertia tanto. Ele estava cercado pelos amigos e, claro, por Sarada Uchiha, que não era apenas uma amiga qualquer. Ela sempre fora uma pessoa em quem ele podia confiar, alguém que ele protegeria a qualquer custo. Mas, conforme os minutos passavam e os dois se aproximavam, Boruto começou a sentir uma tensão diferente. A cada gesto dela, uma faísca surgia, algo que ele lutava para ignorar.
Ela era só uma amiga, certo?
Por mais que Boruto quisesse acreditar nisso, o toque dela ao dançar, o cheiro suave de seu perfume e o som de sua risada o faziam perder o foco. Ele tentava se manter firme, mas a proximidade de Sarada o fazia questionar sua própria força de vontade.
— Estou com sede… — murmurou Sarada, mas Boruto, distraído pelos próprios pensamentos, não captou suas palavras de imediato.
— O quê? — perguntou, inclinando-se em direção a ela, a voz tentando superar o som da música alta ao redor.
— Estou com sede! — repetiu Sarada, desta vez mais alto, sua boca quase encostando na orelha de Boruto, fazendo-o estremecer com a proximidade.Boruto piscou, finalmente saindo de seu transe e assentiu rapidamente.
— Eu vou pegar uma bebida pra gente. Me espera aqui, tá? — Ele sorriu, ainda com o coração batendo mais rápido do que gostaria de admitir.
— Tá bom — respondeu Sarada, forçando um sorriso tímido enquanto Boruto se afastava, deixando-a sozinha no meio da pista de dança.
Agora, sozinha e cercada por rostos desconhecidos, Sarada começou a se sentir desconfortável. A energia da multidão parecia opressiva, e ela mal podia esperar pelo retorno de Boruto. Ela olhou ao redor, tentando relaxar, mas não podia evitar a sensação crescente de ansiedade.
— E aí, gatinha? — uma voz arrastada e impregnada de malícia soou de repente ao lado dela, fazendo Sarada gelar por dentro.Ela se virou rapidamente, sentindo um arrepio na espinha.
— H-Houki? — Sua voz falhou por um instante ao reconhecer o colega de classe, mas algo estava muito errado.
Os olhos de Houki estavam semicerrados, e o cheiro forte de álcool chegava até Sarada antes mesmo que ele se aproximasse.
— Poxa, Sarada, você tá mó gostosa, hein? Me dando mole assim? — disse Houki, inclinando-se para ela, suas palavras arrastadas e carregadas de intenção.
Sarada recuou imediatamente, chocada e incrédula com a atitude dele. Houki sempre fora um garoto reservado, alguém que ela jamais imaginaria agindo dessa maneira.
— Você está bêbado? E por que tá falando assim comigo? Você não é assim, Houki! — protestou Sarada, tentando manter a voz firme enquanto seu coração disparava.
— Ah, qual é... você também mudou. Desde que começou a andar com aquele otário do Boruto... agora tá toda soltinha, né? — Ele tentou se aproximar ainda mais, um sorriso bêbado no rosto, mas Sarada se afastou, sentindo o medo crescer dentro dela.
— Houki, fica longe de mim! — Ela ordenou, tentando esconder o tremor na voz.
— Por que não tá afim de experimentar algo novo e melhor, gatinha? — Houki sussurrou, segurando a cintura de Sarada com força, um sorriso arrogante e desprezível nos lábios.
— Me solta, Houki, ou… — Sarada tentou se soltar, mas antes que pudesse completar a frase, Houki avançou, forçando um beijo. O choque congelou Sarada por um breve momento, mas logo a realidade a atingiu com força. Num impulso, ela o empurrou brutalmente, livrando-se de seu toque.
Sem hesitar, Sarada desferiu um soco certeiro no rosto dele, fazendo-o cambalear para trás. A dor queimava em seus olhos, mas sua raiva era maior.
— Idiota… — murmurou ela, limpando a boca com o dorso da mão, tremendo de fúria e nojo.
A confusão ao redor parou, as pessoas ao redor começando a notar a tensão entre eles. Houki, humilhado e enfurecido, avançou com os punhos cerrados.
— Ora sua vadia… — começou ele, mas sua fala foi interrompida bruscamente.Um aperto forte em seu ombro fez Houki parar de imediato. Ao virar-se, ele viu Mitsuki, que o encarava com um semblante impassível, mas perigoso.
— Se eu fosse você, tomaria mais cuidado com o que faz — disse Mitsuki com a voz baixa e controlada, sua presença intimidante.
— Vai se foder, novato. Isso não tem nada a ver contigo — rosnou Houki, tentando se desvencilhar da mão de Mitsuki.
— MAS TEM A VER COMIGO! — A voz de Boruto soou como um trovão, e antes que Houki pudesse reagir, Boruto desferiu um soco poderoso no rosto dele, jogando-o no chão com força.
— Eu te avisei pra ficar longe dela! — gritou Boruto, seus olhos inflamados de fúria. Sem perder tempo, ele avançou, seus punhos conectando com o rosto de Houki repetidamente. A multidão ao redor recuava, chocada com a intensidade do ataque.
Cada golpe que Boruto desferia era carregado de raiva, uma mistura de proteção e possessividade por Sarada. Houki tentava levantar os braços para se defender, mas não conseguia acompanhar a fúria incontrolável de Boruto.
— Boruto, para! — Sarada gritou, sua voz trêmula, mas firme. Ela estava em choque com a brutalidade da situação, mas sabia que aquilo tinha que parar.
Boruto, no entanto, estava cego pela ira. Ele não conseguia ouvir nada além do som dos próprios socos e da respiração pesada que ecoava em seus ouvidos.
— Boruto! — gritou Mitsuki novamente, agarrando o braço do amigo antes que ele pudesse desferir mais um soco.
Boruto parou, ofegante, e olhou para Mitsuki, ainda em um estado de pura adrenalina. Aos poucos, ele percebeu a gravidade da situação. Seu olhar então encontrou Sarada, que estava visivelmente abalada, mas segura. Ele soltou Houki, que agora jazia no chão, ensanguentado e quase inconsciente.
— Tá tudo bem? — perguntou Boruto, ofegando, enquanto se aproximava de Sarada. Sua voz estava mais suave agora, um contraste completo com o que acabara de acontecer.
Sarada, ainda trêmula, assentiu, embora sua respiração estivesse irregular. Ela limpou a boca novamente, tentando afastar o nojo e a sensação que Houki havia deixado.
— Eu tô bem — disse ela, a voz baixa, mas firme.
Boruto ainda estava tenso, seu coração martelando no peito, mas ao ver que Sarada estava bem, ele começou a relaxar. Ele olhou para Houki no chão, que gemia de dor, e então para Mitsuki, que mantinha sua expressão impassível.
— Acho melhor nós irmos embora — disse Mitsuki, sua voz calma, mas com uma firmeza que não deixava dúvidas sobre a seriedade da situação.
— É, tem razão... só tem lixo neste lugar — murmurou Boruto, ainda fitando Houki com ódio fervendo em seus olhos.
Houki, derrotado e humilhado, mal conseguia se levantar. Ele tropeçou, desaparecendo na multidão, mas não sem antes lançar um olhar sombrio para Boruto, jurando vingança silenciosamente.
— Vamos embora, por favor — suplicou Sarada, sentindo os olhares curiosos e murmurantes ao redor. Seu corpo tremia levemente, mas ela se esforçava para manter a compostura.
— Tá, vamos — respondeu Boruto com um tom mais suave, puxando Sarada para perto de si, tentando transmitir alguma sensação de segurança. — Mitsuki, vai procurar o Kawaki, tá? — pediu ele, e Mitsuki apenas assentiu, desaparecendo rapidamente entre as pessoas.
No meio da multidão, Himawari surgiu apressada, visivelmente preocupada. Seus olhos ansiosos buscaram o irmão.
— Irmãozão? Ai, meu Kami, o que foi que você fez dessa vez? Está bem? — perguntou ela, os olhos azuis brilhando de preocupação.
Antes que Boruto pudesse responder, Inojin apareceu logo atrás de Himawari, carregando uma expressão divertida.
— Caramba, Boruto! Por onde você passa, sempre tem um show, hein? — disse Inojin com uma risada leve, mas Himawari o olhou de forma repreensiva, deixando claro que não era hora para piadas.
— Eu tô bem, Hima, só dei uma lição num idiota que merecia — Boruto respondeu, tentando tranquilizá-la. — Já vou indo, mas acho melhor você ir também. Inojin, leva ela pra casa agora — ordenou, o tom protetor evidente em sua voz.
— Mas irmãozão, ainda tá cedo! — Himawari protestou, fazendo uma careta. Ela não queria que a diversão acabasse tão rápido.
— Não tô nem aí, Hima. Se o Inojin não te levar, eu te levo à força — disse Boruto, seu tom sério, embora uma pitada de exasperação estivesse presente.
— Boruto, deixa sua irmã curtir a festa — Sarada interveio, colocando a mão no braço dele, seu toque suave, mas firme. Ela olhou para Himawari com um sorriso encorajador. — Tá tudo bem. Ela tá com amigos, pode se divertir um pouco mais.
Boruto suspirou, claramente dividido entre proteger a irmã e confiar nela.
— Tá, tá... mas fica de olho nela, Inojin. Se acontecer qualquer coisa... — Boruto lançou um olhar de advertência para Inojin, que ergueu as mãos em sinal de rendição.
— Relaxa, Boruto, ela tá em boas mãos. Prometo cuidar da Hima. — Inojin piscou para Himawari, que revirou os olhos, mas riu suavemente, aliviada pela intervenção de Sarada.
— Obrigada, Sarada — disse Himawari, abraçando brevemente a amiga antes de se afastar com Inojin.
Boruto observou sua irmã se distanciar, ainda com uma expressão tensa, mas a presença de Sarada ao seu lado parecia acalmá-la um pouco.
— Você é muito protetor, sabia? — Sarada comentou, sorrindo de canto.
— Alguém tem que ser, né? — Boruto respondeu, lançando um olhar preocupado para Sarada. — Tá bem? Aquele babaca te machucou de algum jeito?
— Eu tô bem... Ele só... me beijou à força... — disse Sarada, a voz embargada de desgosto enquanto tentava esconder o incômodo que sentia.
— Merda, eu não devia ter saído de perto de você. — Boruto a abraçou com força, sua voz pesada de culpa. — Me desculpa, Sarada.
— Boruto, não foi culpa sua. Tá tudo bem... essas coisas idiotas acontecem, né? — Sarada tentou sorrir minimamente, mas o desconforto em seu peito era evidente. Por mais que quisesse ser forte, ainda se sentia abalada. — Vamos esperar os meninos lá fora, tá? Preciso de um pouco de ar.
— Tá bom — Boruto assentiu, ainda preocupado, mas respeitando o espaço dela.
Enquanto isso, em um canto afastado do jardim, Kawaki estava imerso em beijos intensos com Eida, que se aninhava em seu colo. O prazer que o envolvia era quase inebriante, mas de repente, um estalo de realidade o atingiu. Ele abriu os olhos e se deu conta da ilusão. Seus pensamentos estavam dominados por Himawari, e não por Eida.
Com um movimento brusco, Kawaki afastou Eida de cima de si, interrompendo os beijos.
— E-Eu... desculpa, mas não posso. — Sua voz estava trêmula, confusa. A imagem de Himawari ainda estava viva em sua mente, mas ao olhar para Eida, percebeu o erro.
Sem dizer mais nada, ele se levantou rapidamente, deixando Eida para trás, caminhando às pressas para longe. Eida, por sua vez, ficou deitada na grama, o sorriso bobo ainda nos lábios. Mesmo que Kawaki estivesse confuso, ela se deliciava com o momento, sabendo que havia finalmente beijado o amor de sua vida.
Kawaki caminhava de volta para a festa, sua mente fervilhando com os acontecimentos recentes. Ele mal podia acreditar que havia beijado Eida, uma garota incrivelmente atraente, mas que não despertava nenhum real interesse nele. Sua mente, no entanto, estava em outro lugar. Himawari. Por mais que tentasse afastar o pensamento, era ela que invadia sua cabeça.
Seus devaneios foram interrompidos abruptamente quando ouviu passos apressados e a voz ofegante de Mitsuki o chamando.
— Kawaki! — Mitsuki apareceu quase sem fôlego. — Onde você estava?
Kawaki franziu o cenho, tentando parecer casual.
— Só saí um pouco pra pegar ar... Só isso.
Mitsuki, ainda recuperando o fôlego, lançou um olhar de ceticismo, mas logo foi direto ao ponto:
— Você não vai acreditar... Houve uma confusão com o Houki. Ele tentou alguma coisa com a Sarada e o Boruto quase o destruiu. A gente decidiu que é melhor irmos embora.
Kawaki arregalou os olhos por um instante, a raiva começando a crescer dentro de si, mas ele controlou o impulso.
— Tsc... Claro que sempre tem alguém fazendo merda — respondeu, suspirando pesadamente. — Vamos sair logo daqui.
Enquanto os dois se dirigiam para a saída da mansão, Kawaki avistou Himawari na pista de dança. Ela estava se divertindo, rindo e girando ao som da música, rodeada por Inojin, Shikadai e Chouchou. No entanto, algo lhe incomodou profundamente: a proximidade dela com Inojin. Eles estavam dançando muito próximos, rindo juntos, e isso fez Kawaki bufar de frustração, seus punhos se fechando inconscientemente.
— Tsc... Esse Yamanaka... — murmurou entre dentes.
Mitsuki percebeu a tensão de Kawaki e ergueu uma sobrancelha, mas não disse nada. Sabia que havia algo mais acontecendo ali, mas agora não era o momento.
Pouco depois, Mitsuki e Kawaki finalmente encontraram Boruto e Sarada esperando por eles do lado de fora. Boruto estava de braços cruzados, visivelmente ainda irritado com o que havia acontecido, enquanto Sarada permanecia ao seu lado, visivelmente desconfortável, mas tentando manter a calma.
— Vamos embora. Já deu por hoje — repetiu Boruto, ainda firme, sem paciência para mais confusões.
— É, pra mim também — respondeu Kawaki, já distante em seus pensamentos, enquanto caminhava em direção ao carro.
De repente, os três foram interrompidos pela voz trêmula de Sarada.
— Meninos…
Boruto, Kawaki e Mitsuki pararam no mesmo instante, virando-se para encarar a Uchiha. Ela estava parada, visivelmente abalada, seus olhos marejados, o semblante tristonho.
— Seria muito incômodo se vocês fossem dormir lá em casa? — Sarada perguntou, com a voz fraca, tentando segurar as lágrimas. — Minha mãe não vai voltar pra casa por causa do turno… E depois do que aconteceu, eu... eu não quero ficar sozinha.
Os três rapazes se entreolharam, surpresos com o pedido. Boruto imediatamente percebeu o quanto o incidente com Houki havia abalado Sarada. Seus olhos revelavam uma fragilidade que ele não costumava ver na amiga. Sem hesitar, ele tomou a decisão.
— Claro, por que não? — respondeu Boruto com um sorriso suave, dando de ombros para quebrar o clima pesado.
Mitsuki, com seu habitual entusiasmo tranquilo, sorriu de leve.
— É, quem sabe a gente até faça nossa própria festa do pijama, né?
Kawaki revirou os olhos, bufando.
— Cara, não inventa.
— Na real, não é uma ideia tão ruim — disse Boruto, pensativo. — A gente pode assistir um filme, comer pipoca… sei lá, até contar histórias de terror, essas coisas.
Enquanto Boruto e Mitsuki continuavam a discutir animadamente os detalhes da noite, Kawaki permaneceu calado, apenas observando, mas sem contestar. Ele sabia que, apesar de sua aparência distante, estar ali era importante para Sarada.
Sarada, por sua vez, suspirou de alívio. O peso do medo e da solidão foi suavizado pela presença dos amigos. Mesmo em meio à confusão emocional que sentia, aquele apoio significava tudo para ela. Ela sorriu, finalmente um pouco mais tranquila, sentindo-se grata por não precisar enfrentar a noite sozinha.
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Já passava das onze da noite quando, fiel à sua palavra, Inojin trouxe Himawari em segurança para casa. A garota desceu da moto, sentindo o cansaço pesar após a noite divertida, apesar dos contratempos.
— Esta noite foi muito divertida, tirando a parte com a Sarada e meu irmão brigando... Mas enfim, obrigada pelo convite, Inojin — disse Himawari, devolvendo o capacete com um sorriso cansado, mas sincero.
— De nada, Sensei — respondeu Inojin, pegando o capacete, ainda sentado na moto. — Na verdade, quem agradece sou eu. Fiquei muito feliz que você aceitou o convite.
— Sério? Bem, de nada… — Himawari respondeu sem jeito, coçando a nuca.
A porta da residência dos Uzumaki se abriu automaticamente, deixando a garota à vontade para se despedir.
— Bem, até segunda, Inojin — disse Himawari acenando, pronta para entrar. Mas, antes de ir, surpreendeu o Inojin com um rápido beijo na bochecha. — Tchau! — disse com um sorriso leve, entrando na mansão.
Inojin ficou lá, atordoado, um sorriso bobo se formando em seu rosto enquanto sentia o toque suave do beijo. Corado e sem conseguir conter a felicidade, deu um pequeno grito de comemoração antes de acelerar a moto, voltando para casa mais feliz do que jamais estivera.
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Era uma da manhã quando Boruto acordou. O silêncio da sala foi interrompido apenas pelo som baixo da televisão. Mitsuki e Kawaki dormiam profundamente no sofá, provavelmente vencidos pelo cansaço. Boruto bocejou, espreguiçando-se, e logo percebeu que Sarada não estava lá. Estranhando sua ausência, ele se levantou, ainda meio sonolento, para procurá-la.
Enquanto caminhava pelo corredor, ouviu um som abafado, como um choro suave. Boruto franziu o cenho e seguiu o som até o banheiro. A porta estava entreaberta, e ao empurrá-la suavemente, ele viu Sarada sentada na banheira, abraçando os joelhos e soluçando em silêncio.
— Sarada… — Boruto murmurou, surpreso e preocupado.
Ela se sobressaltou ao ouvir a voz dele, rapidamente limpando as lágrimas, tentando recuperar a compostura.
— Boruto? — disse, com a voz trêmula, desviando o olhar. — Droga... — ela murmurou, frustrada consigo mesma. — Não é nada, vai embora.
Boruto ignorou o pedido e, sem hesitar, entrou no banheiro, sentando-se no chão de frente para ela. O olhar de Sarada estava carregado de dor, e Boruto sentiu um aperto no peito.
— Eu não vou te deixar sozinha, Sarada. — A voz de Boruto era suave, mas firme. — Você nunca me deixou quando precisei, mesmo quando eu estava mal. Lembra? Você me levou para o hospital e ficou comigo até eu acordar. Agora, é minha vez de estar aqui por você. — Ele sorriu levemente, afastando uma mecha de cabelo que caía no rosto dela com carinho.
As palavras de Boruto tocaram fundo em Sarada, e ela finalmente cedeu, soltando as barreiras que mantinha erguidas. Sem dizer nada, ela se lançou nos braços dele, desmoronando em lágrimas contra o peito do amigo.
Boruto a apertou com força, sentindo o peso da dor dela. Seu coração doía por ver a amiga assim, e uma onda de culpa o invadiu por tê-la deixado sozinha naquela noite.
— Eu sou uma idiota... — sussurrou Sarada, entre soluços.
— Não, você não é — respondeu Boruto, a voz calma, mas cheia de convicção.
— Sou sim… — insistiu ela, os olhos ainda marejados. — Estou chorando por causa disso… Isso é estúpido. Eu sou estúpida.
Boruto segurou o rosto dela gentilmente, forçando-a a olhar para ele.
— Escuta, Sarada — disse com firmeza. — Você não é estúpida. Eu sou o idiota por ter deixado você sozinha naquela festa. E aquele cara? Ele vai se arrepender do que fez, te juro.
Sarada balançou a cabeça, interrompendo-o.
— Boruto, por favor... Não faça nada. Esse idiota já está morto pra mim. Não quero que você se envolva com ele. Promete que vai fazer isso?
Boruto bufou, claramente frustrado, mas viu a sinceridade no olhar de Sarada e cedeu.
— Tá bom… Eu prometo.
Sarada deu um sorriso fraco, aliviada.
O silêncio entre Boruto e Sarada pairava no ar, criando uma atmosfera carregada de sentimentos não expressos. Após alguns minutos, Boruto, levado pelo impulso, começou a cantar baixinho.
— Solo quédate en silencio cinco minutos…
Sarada se surpreendeu com a serenidade da voz de Boruto e, ao ouvir a melodia, um sorriso nostálgico se formou em seus lábios. Ela se lembrou dos momentos alegres com ele e o grupo, especialmente na festa da Namida, e sentiu um conforto inesperado. Sem pensar duas vezes, ela se juntou a ele na canção.
Acaríciame un momento (ven junto a mí)
Te daré el último beso (el más profundo)
Guardaré mis sentimientos
Y me iré lejos de ti.
— De ti…
Enquanto cantavam, um olhar mágico surgiu entre os dois. Os olhos de Boruto refletiam o azul do céu do amanhecer, enquanto os de Sarada capturavam a escuridão da noite iluminada pelas estrelas. Eles se encaravam, com os corações acelerando, nervosos e profundamente conectados
— Sarada, eu...
Boruto começou, mordendo os lábios enquanto seu olhar se perdia nos lábios rosados da Uchiha.
— O quê? — Sarada perguntou, também perdida no momento, fitando os lábios dele.
Os dois, nervosos, começaram a se inclinar lentamente, seus rostos se aproximando de forma quase inevitável.
— Aaaah...
Ambos se sobressaltaram com o som repentino, atordoados. Seus olhares se voltaram de forma sincronizada para a porta, onde Kawaki estava, sonolento, coçando os olhos.
— Kawaki... — disse Boruto, coçando a nuca, tentando disfarçar o clima.
— Dá pra sair? Eu preciso usar o banheiro — disse Kawaki, entrando e levantando a tampa do vaso. Mas, logo, ele percebeu a tensão no ar e franziu o cenho. — Aconteceu alguma coisa?
— Nada, não — respondeu Sarada rapidamente, saindo da banheira e tentando manter a compostura. — Vamos, Boruto, já está tarde. Vamos dormir.
Boruto ainda estava um pouco desconcertado, mas assentiu, seguindo Sarada em silêncio enquanto saíam do banheiro. Kawaki, aparentemente alheio ao que havia interrompido, deu de ombros e continuou o que estava fazendo.
No corredor, Sarada evitava olhar diretamente para Boruto. Seu coração ainda batia forte, mas ela tentava agir como se nada tivesse acontecido.
— Ei, Sarada... — Boruto começou, quebrando o silêncio constrangedor.
— O que foi? — Ela respondeu, a voz um pouco mais firme do que antes.
— Sobre o que aconteceu... — Ele hesitou, sem saber exatamente como colocar em palavras o que ambos estavam sentindo.
Sarada parou e virou-se para ele, finalmente encontrando seus olhos.
— Boruto, não precisa dizer nada. Foi só... um momento. Não vamos complicar as coisas, ok? — Ela disse, tentando manter a calma, embora o tumulto interno estivesse claro em seu rosto.
— Ok, se você diz…
Boruto assentiu, mesmo sem saber se estava realmente de acordo com isso. Parte dele queria continuar aquele momento interrompido, mas outra parte sabia que talvez fosse melhor deixar as coisas como estavam, pelo menos por agora.
— Certo, então eu vou pro meu quarto... — disse Sarada, forçando um leve sorriso. — Boa noite.
— Boa noite. Se você precisar de alguma coisa, tipo conversar ou sei lá, é só me chamar — respondeu Boruto, tentando parecer casual, mas havia uma preocupação genuína em sua voz.
— Obrigada, Boruto — disse Sarada, sorrindo com gratidão. Antes de se afastar, ela surpreendeu Boruto com um beijo suave na bochecha.
O gesto pegou Boruto de surpresa, e ele ficou parado, atônito, enquanto Sarada desaparecia pelo corredor em direção ao quarto. Sua mão instintivamente tocou o local onde ela o beijou, como se quisesse guardar aquele momento. Ele já havia sentido o toque suave de Sarada antes, mas algo nesse beijo o deixou intrigado, despertando algo diferente dentro dele.
Enquanto Boruto estava perdido em pensamentos, Kawaki saiu do banheiro com uma expressão aliviada, notando o amigo parado no meio do corredor como uma estátua.
— Ei, Boruto? Terra chamando Boruto! — disse Kawaki, aproximando-se e acenando na frente do rosto do loiro. — Mister Banana, você tá aí ou foi pro espaço?
Boruto piscou, saindo do transe, mas ainda com um sorriso confuso no rosto.
Boruto piscou algumas vezes, voltando à realidade, enquanto Kawaki o encarava com uma sobrancelha arqueada, esperando uma resposta.
— Ah... foi nada, só... pensando em algumas coisas — disse Boruto, tentando disfarçar o quanto estava distraído. Ele ainda sentia o calor na bochecha onde Sarada o beijara.
Kawaki cruzou os braços, com uma expressão cética, mas deu de ombros.
— Certo, tanto faz. Vou pra sala, dormir. Tô morto de sono.
— É, eu também — Boruto respondeu, ainda meio distante, enquanto seguiam pelo corredor de volta à sala onde Mitsuki ainda dormia no sofá, a televisão iluminando o ambiente com luz suave e piscante.
Os dois entraram na sala em silêncio, com o som baixo da TV e a respiração ritmada de Mitsuki criando um clima de calmaria. Kawaki jogou-se no sofá ao lado de Mitsuki, tentando achar uma posição confortável.
Boruto, por sua vez, ajeitou um colchão que havia deixado no chão antes. Ele desligou a televisão e depois para o teto, perdido em pensamentos sobre Sarada. O cansaço finalmente o alcançou, mas o beijo da Uchiha ainda rondava sua mente, como um enigma que ele tentava desvendar.
Esse sentimento seria uma boa coisa ou uma má coisa ?
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Boruto respirou fundo, sentindo o cheiro delicioso dos ovos fritos invadir o ambiente. Mesmo enrolado no cobertor, o frio matinal o envolvia de forma agradável. Coçando os olhos sonolentos, ele se sentou no colchão, dando uma olhada ao redor. Kawaki ainda estava jogando no sofá, dormindo de boca aberta, mas Mitsuki não estava mais no outro sofá.
Curioso e faminto, Boruto se levantou, seguindo o aroma até a cozinha. Quando entrou, encontrou Sarada e Mitsuki preparando o café da manhã. Sarada estava concentrada, virando os ovos na frigideira com movimentos suaves, enquanto Mitsuki, com seu típico sorriso calmo, ajudava Sarada fazer as torradas.
— Oh, Boruto? Oi, bom dia! — Sarada disse, lançando-lhe um sorriso suave.
Boruto se espreguiçou novamente, ainda um pouco grogue.
— Bom dia... — respondeu ele, bocejando enquanto se aproximava do balcão, sentando-se em um dos bancos altos.
Mitsuki olhou para ele com um brilho divertido nos olhos. — Bom dia, meu Sol. Dormiu bem?
— Dormi sim... acho — Boruto riu de leve, esfregando o rosto com as mãos. — E vocês? Dormiram bem?
— Eu dormi muito bem — disse Mitsuki, pegando alguns talheres para a mesa. — Embora eu tenha acordado cedo por causa de um certo ronco, que eu não vou mencionar quem é.
Boruto franziu o cenho, percebendo que Mitsuki estava falando dele, mas apenas riu e balançou a cabeça, ainda meio sonolento. Seus olhos logo se voltaram para a varanda aberta. Lá fora, o dia estava nublado, com o céu cinza e pesado, típico de manhãs frias. O vento gelado entrava levemente pela porta entreaberta, e Boruto teve a sensação de que uma chuva forte estava a caminho.
— Tá com cara de que vai chover… — ele comentou, observando o horizonte.
Sarada virou-se para Boruto, colocando os ovos fritos em um prato com cuidado.
— É verdade, então é melhor comerem rápido. Imagino que tenham que ir para a escola, não? — disse Sarada, tentando manter a leveza apesar da preocupação que sentia.
— Sim, infelizmente. Antes que meu velho descubra minha ausência ou já tenha descoberto — Boruto respondeu, bufando e passando a mão pelos cabelos com frustração.
— Ai, ai, Boruto — Sarada suspirou, balançando a cabeça com um leve sorriso. Ela se sentou ao lado dele no banco do balcão, tentando oferecer um pouco de conforto e normalidade.
Mitsuki, com o prato de torradas com manteiga e o bule de café em mãos, colocou tudo na superfície do balcão com um sorriso satisfeito.
— Pronto, café da manhã servido — anunciou Mitsuki, a voz tranquila, com um toque de orgulho.
Nesse momento, Kawaki entrou na cozinha, bocejando e coçando a nuca, claramente ainda meio adormecido.
— Olha só quem resolveu aparecer — disse Mitsuki, tentando manter o tom leve. — A bela adormecida acordou! Milagre não é seu costume acordar cedo.
— Cala a boca — respondeu Kawaki com um tom sonolento, mas um sorriso perceptível ao sentir o aroma do café da manhã. — Cheiro bom — acrescentou, sentando-se ao redor do balcão com um semblante mais animado.
— Bom, pessoal, aproveitem logo antes que comecem a chover — disse Sarada, sua voz carregada de uma preocupação gentil. Ela estava claramente fazendo o melhor para garantir que todos começassem o dia da melhor maneira possível.
— Beleza, pessoal, vamos atacar — disse Boruto, finalmente animado. Ele pegou um pedaço de torrada e começou a comer, claramente apreciando o café da manhã.
No entanto, o momento de tranquilidade foi interrompido quando o telefone de Boruto, que estava na sala, começou a tocar, ecoando pela cozinha.
— Droga, quem será agora? — Boruto exclamou, levantando-se rapidamente do banco e indo em direção à sala com uma expressão de frustração.
Boruto encontrou seu celular vibrando na mesa e, ao olhar a tela, viu que era Himawari ligando. Ele suspirou, um tanto entediado, e atendeu a ligação.
— Ai, Hima, provavelmente já descobriram minha fuga — murmurou Boruto, com um tom de resignação. — Oi, Hima… já sabia que você ia ligar. Tá bom, eu já estou indo. Diga para o velho manter a calma, porque o estresse faz o cabelo cair e eu não quero um pai careca, né? Tá, beijo.
Ele desligou a chamada e soltou um longo suspiro, claramente frustrado com a situação.
— Haaan tô vendo que dia vai ser longo…
☆☆☆
Aprontados no carro, Kawaki e Mitsuki esperavam Boruto, que se despedia de Sarada no portão do prédio dela.
— Valeu por emprestar a jaqueta — disse Sarada, meio tímida, estendendo a peça para Boruto.
Boruto franziu o cenho, pensativo, e sorriu com determinação.
— Fica com ela. Combina mais com você — disse Boruto, empurrando gentilmente a jaqueta de volta para ela.
— O-O que? Tem certeza? — Sarada indagou, surpresa.
— Tenho sim. Pode ficar — assentiu Boruto, com um sorriso decidido.
— Obrigada, Boruto — Sarada respondeu, sorrindo emocionada e sentindo seu coração acelerar.
— De nada, nerdinha — Boruto disse, sorrindo sem jeito, tentando parecer descolado.
Um trovão rugiu no céu, fazendo ambos se assustarem.
— BORUTO, VAMOS LOGO! EU NÃO QUERO PEGAR CHUVA! — gritou Kawaki, buzinando impaciente.
— Tá, nerdinha, eu vou indo — Boruto disse, dando um beijo rápido na bochecha de Sarada. — Se cuida, até amanhã no colégio — acrescentou, acenando enquanto corria para o carro.
Sarada ficou imóvel, atônita com o gesto de Boruto. Seus sentimentos a pegaram de surpresa, e suas bochechas rapidamente ficaram quentes. Ela observou Boruto entrar no conversível, recebendo um sermão de Kawaki antes que este desse partida. O carro seguiu em direção ao seu destino, desaparecendo na distância.
Sarada sorriu, encantada, enquanto vestia a jaqueta que antes era de Boruto, agora sua. Abraçou a peça carinhosamente e voltou para seu prédio, sentindo-se aquecida não só pelo tecido, mas pelo gesto carinhoso de Boruto.
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Na residência Uzumaki, Kawaki estacionou o carro em frente ao portão e esperou que Boruto saísse.
— Mitsuki, tem certeza de que não quer ficar? — Boruto perguntou, olhando para Mitsuki.
— Tenho. Tenho muito a preparar para as aulas de amanhã, então vou ficar no colégio mesmo — respondeu Mitsuki.
— Se você diz... — Boruto assentiu e saiu do carro.
Os portões abriram e Himawari saiu correndo para encontrar Boruto. Ela pulou em seus braços com um sorriso radiante.
— Oi, irmãozão! — exclamou Himawari.
— Oi, Hima! — respondeu Boruto, dando-lhe um beijo carinhoso no topo da cabeça.
— Oi, Mitsuki! Oi, Kawaki! — disse Himawari, acenando alegremente para os dois.
— Oi, Himawari — respondeu Mitsuki com um sorriso.
Kawaki, ainda imerso em pensamentos, recordava a noite anterior e se perguntava o que teria acontecido com Inojin e Himawari depois que ele saiu da festa. Seus pensamentos estavam longe, e ele se questionava sobre os eventos subsequentes.
— Kawaki? — chamou Himawari, percebendo que ele estava distraído.
Kawaki voltou ao presente, observando-a com um olhar distante. Ela estava linda em um vestido amarelo florido, com seus longos cabelos azuis soltos.
— Oi, Himawari… — disse Kawaki, com um tom melancólico, sentindo um aperto no peito.
Himawari percebeu a expressão de Kawaki e ficou um pouco desconfortável com a sua reação.
— Bem, já vamos indo. Até mais tarde, Boruto — disse Kawaki.
— Tá, tchau, pessoal! — respondeu Boruto, acenando enquanto entrava na casa.
Boruto e Himawari entraram na casa, e o portão se fechou automaticamente atrás deles. Himawari, ainda pensativa, não pôde deixar de se perguntar por que Kawaki parecia tão frio e distante. Algo deve ter acontecido, ela pensava.
Boruto, notando a expressão preocupada da irmã, se voltou para ela.
— O que foi, Hima?
Himawari, assustada por ser interrompida em seus pensamentos, piscou e tentou se recompor.
— Ah, não é nada, Boruto.
Boruto franziu a testa, desconfiado, mas decidiu deixar a questão para mais tarde. Ele tinha preocupações mais imediatas, principalmente o sermão que sabia estar à sua espera.
Quando entrou na sala, a cena que encontrou fez seu estômago se revirar. Sua mãe, Hinata, estava com uma expressão séria e os braços cruzados.
— Precisamos conversar, Boruto — disse ela com um tom que não deixava espaço para contestação.
Boruto fez uma careta e começou a coçar a nuca nervosamente, sabendo que estava prestes a enfrentar um longo discurso.
— Não, não vamos conversar — Naruto surgiu — Boruto não é capaz de entender uma conversa, mas na base dos tapas ele vai entender!
Sem mais aviso, Naruto avançou em direção a Boruto, que gritou e imediatamente começou a correr pela casa, tentando escapar da perseguição iminente.
Hinata suspirou decepcionada pela atitude de seu filho e de seu marido neste momento, enquanto ao seu lado Himawari ria achando isso divertido.
Um domingo duradoura seria para a família Uzumaki.
☆ Continua ☆
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