Eram quase onze da noite quando o carro de David parou à frente do apartamento em Chelsea.
Ele saiu mais tarde de propósito, sabendo que ele teria uma hipótese mais alta de falar com Roger a essa hora. Durante o dia, o apartamento estava morto. Durante a noite, não.
O carro de Roger estava estacionado e a luz estava acesa dentro de casa. David pôde vê-la escapando por detrás das cortinas na janela. Ele bateu à porta uma ou duas vezes, sentindo-se algures entre muito irritado - quinhentas libras foram roubadas, afinal - e ansioso. As palmas das suas mãos tornando-se muito suadas, obrigando-o a limpá-las às calças. Depois de cinco minutos, ainda não havia resposta, então ele bateu novamente, mais alto desta vez, tentando ignorar a preocupação que começava a crescer. E ainda não havia resposta.
“Roger.” David bateu com um punho na madeira negra, abanando a maçaneta. “Roger! Sei que estás aí! Abre!”
Ok, agora ele estava a começar a preocupar-se a sério.
Garantidamente, se ele ouvisse a própria voz a berrar assim, também ele provavelmente não abriria a porta, mas parecia diferente. Parecia que ele não estava a receber uma resposta, não porque Roger não queria responder, mas sim porque ele não podia responder.
“Roger!” David tentou arrombar a porta com o corpo, mas esta não cedeu, apenas deixando o seu ombro direito dolorido. “Roger, por favor!”
Com mais força. Tenta arrombar de novo. Com mais força. Muita força desta vez. Dá tudo o que tens; ele pode estar morto. E foi aí que a porta finalmente de abriu, David atirando todo o seu peso contra a porta. Ele ouviu uma leve racha, e depois de tentar uma outra vez, uma racha maior, o som da madeira a quebrar. Muito bem, mais uma vez.
A maior racha de todas, a porta abrindo de repente e batendo contra a parede oposta. Então David correu para dentro, apenas para encontrar o quarto vazio. A luz da casa-de-banho estava acesa, e foi aí que ele foi de seguida, verificando a banheira, apenas por via das dúvidas. Haviam alguns pincéis e frascos de batom espalhados no lavatório, mas havia algo a mais. Os lençóis da cama estavam desarrumados e David imaginou que a cama teria sido recentemente usada. A superfície da cómoda estava coberta por algumas notas, uma colher, uma embalagem com bolas de algodão, mas então... A cozinha. Ele não tinha visto na cozinha.
Lá estava ele a correr novamente, manobrando à volta da cama e—
Lá estava Roger, deitado de costas com os olhos revirados. Os seus lábios pareciam quase negros e a sua pele estava com uma cor azulada. Ele nem parecia estar a respirar, inerte e quase... morto.
David gritou, ajoelhando-se e passando uma mão pelo rosto de Roger, gentilmente socando-o e não tão gentilmente esmurrando-o. Ele verificou o pulso de seguida, e graças a Deus havia algo lá, mas ele não gostava de como soava leve e fraco, com pausas longas entre cada batimento. Ele ainda estava vivo. Mal, mas vivo.
Primeiramente, David receava não haver telefone. Ele nunca telefonou ao apartamento, sempre para casa, mas ele vagamente lembrava-se de ter visto um na parede. Parecia que não tinha sido usado em anos, abandonado e esquecido, mas estava lá, e David lançou-se sobre os seus pés, agarrando o telefone e discando o mais rápido que pôde. Ele nem estava mesmo consciente de que começara a chorar até começar falar, prendendo-se nas palavras e tentando não olhar para Roger, deitado no chão, inválido e morto para o mundo.
E então chegou uma ambulância, com sirenes ligadas e luz a piscar, médicos correndo para a porta. Havia uma maca, o cheiro a antisséptico, David chorando e gritando e sendo puxado do caminho. E quase tão depressa quanto chegou, a ambulância foi-se embora, descendo a rua com as suas luzes e sirenes e lentamente desaparecendo pela noite a dentro, levando Roger com ela.
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