CATHERINE POV
Ouvi um carro freiando e um estrondo vindo do andar de baixo. Era a Kailin tocando a buzina, levantei da cama forçando cada músculo do meu corpo para que se movesse, sentindo-me como se alguém estivesse colocado um peso sobre minhas costas. Com muito esforço, fiquei de pé e quando estava no quarto passo, congelei no lugar e cambaleei, ficando com a visão totalmente embaçada. O sono ainda tomava conta do meu corpo e ainda havia muito a processar da noite passada. Porque sentia como se Cameron ainda me escondesse algo? Porque meu pai estava tão estranho? E o que havia de tão especial no Nate que me trazia tanta segurança?
Kailin estacionou o seu honda preto no jardim da minha casa, saiu dos carros ás pressas e estava com o cabelo preso em uma transa como de usual. Ri sozinha quando ela tirou o espelhinho da bolsa para se arrumar, apertava os lábios um contro o outro para fixar o batom e o franzir de seus olhos mostrava o quanto ela estava analisando a própria imagem. Tipíco dela. Estiquei meu corpo atravês do freixe na janela, segurando a cortina com minhas mãos e forçando meus olhos para que ampliassem o campo de visão, consegui enxergar que Shompy estava sentado no banco de passageiro, acenei em sua direção e ele sorriu como que em um comprimento.
— E lá se vai a ideia de ficar o dia inteiro na cama — susurrei para mim mesmo, soltando todo o ar que prendia em meus pulmãos.
— Acorda dorminhoca! Daqui a pouco começa a tempestade! — Kailin disse, se apoiando no capô do carro e dando pulinhos para conseguir me ver lá de baixo. Fiz um sinal que logo ia e ela começou a buzinar de novo — Anda logo!
Revirei os olhos.
— Já estou descendo! — gritei.
Vesti um casaco e desci, andando até a porta dos fundos. Olhei para cima e o insistente raio de sol que tentava aparecer, foi sulgado pelas nuvens pretas que tomavam conta do céu. Escutei uma trovoada e logo em seguida o clima subiu. Uma brisa de ar fria passou por mim e apertei minha fina camada de tecido contra o corpo. Estava frio e minha respiração provocava um vapor parecido com fumaça. As árvores balançavam fortemente de um lado para o outro, espalhando folhas em todos os cantos, como estivessem pintando o mundo de verde.
— É. Acho que vou passar — disse.
Me virei e vinha alguém atrás de mim. Vi a imagem delicada de uma mulher, surgindo em meio às sombras.
— Que? — Kailin protestou indignada. Seu cachecol voava em meio a tempestade e sua trança se desfazia — Você mal voltou para a escola e já vai faltar a única festa que vão fazer? — Ela bufou — Pare de ser tão... chata.
— Eu? Chata? — senti minha garganta secar de tanto frio — Olhe este tempo, eles deveriam ter cancelado.
— Tenho que concordar com a Kailin nisso — Shompy disse saindo do carro e fechando a porta com o pé. Espreguiçou-se e se econstou na porta traseira. Me olhando de cima á baixo — Você costumava ser muito mais divertida — seu sorriso reluziu mesmo diante do tempo horrível — Ah, vamos — ele venho em minha direção e me abraçou de lado. Revirei os olhos — Vai ser divertido e nós só vamos ficar na casa de inverno de um dos alunos — Shompy sorria de canto, tentando me convencer.
— Na volta podemos passar no McDonalds. Eu sei que você ama — sugeriu Kailin, como que para me animar.
— Tanto faz — eu disse, virando de costas para ela antes que ela pudesse ver o desanimo em meus olhos, e logo saí andando para dentro de casa.
— Então você vem? — Ela acompanhou meus passos até a cozinha.
— Sim — eu disse distraidamente, enchendo minha tigela de cereal e despejando o resto de leite que havia na caixinha.
— Bem, o que você vai vestir? — ela perguntou, formando uma linha de sorriso em seus lábios.
— Verdade — sentei na mesa e comecei a comer meu cereal. Coma boca cheia continuei a falar — Falando nisso eu não tenho nada para vestir.
— Então somos dois — Shompy sentou-se ao meu lado e estendeu seu braço por trás das minhas costas — Não tenho nada para vestir.
— Você é homem, ponha qualquer coisa e deixe de ser um bebê chorão — eu disse.
Shompy apontou para seu próprio peito.
— Eu sou um bebê chorão? Você se lembra de todas as vezes que me ligou chorando por causa do Cameron?
— Cala boca — eu disse e joguei uma toalha dele. Ele fez um movimento rápido para o lado e desviou, mantendo um sorriso no rosto.
— Eu vi você falando com o Nate ontem na escola — ele foi direto ao falar.
— Nate? — Kailin apareceu no assunto, super interessada — Ele é da NorthWest, faz faculdade de direito. O que você estava fazendo com ele?
— Nate faz faculdade de direito? — perguntei incrédula.
— Porque a surpresa? — Kailin disse virada de costas para mim, procurando algo que comer na geladeira.
— Ele só não faz o tipo de alguém que faz direito — falei ríspida, dando de ombros.
— Por causa das tatuagens?
— E de todo o resto — Terminei a frase.
— Sim — ela riu — Mas ele deu uma pausa depois que um dos amigos problemáticos dele se meteu com gente errada e morreu.
Eu inspirei profundamente pelo nariz.
Droga. O que você está fazendo Catherine... além de ser idiota? Gente errada, isso que Cameron era.
Kailin ficou inexpressiva e soltou o ar que prendia nos pulmões.
— Me desculpe, eu não quis dizer isso do...
— Deixa pra lá — forcei um sorriso.
Gente errada. Kailin estava certa sobre o Cameron, eu pensei, levantando-me e virando-se de costas, e antes que pudesse parar a mim mesmo, inspirei profundamente mais uma vez.
Alguns segundos depois, o alarme do meu celular soou.
— Catherine?— Shompy chamou — O seu alarme.
Ele esperou um minuto, e depois suspirou, esticando-se por cima de mim, esforçando-se até que finalmente alcançou o celular, desligando ele.
Inspirei fundo.
— Algum problema? — ele perguntou.
— Além do fato de que era agora que eu deveria estar acordando? — tentei fazer graça para aliviar a tensão do momento — Fora isso está tudo bem.
— Então o que faremos? — Kailin perguntou saindo do lugar e vindo até mim em um pulo.
— Vocês vão pra casa e eu sairei para comprar um vestido.
Shompy riu.
— Está nos expulsando?
— Estou convidando gentilmente vocês a sair — dei uma gargalhada alta e andei em torno da mesa, me encostei na cadeira e eles me olhavam sérios.
Bufei.
— Eu amo vocês — os abracei — É só que meu pai anda estranho. Não quero vocês nesse clima.
— Então eu venho te buscar ou algo assim? — Kailin perguntou.
— Sim, pode ser.
A boca de Kailin estava espalhada em um sorriso maroto, quase balançando em antecipação.
— Vai ser demais, você vai amar! — ela gritou animada.
Eu fuzilei Kailin com os olhos, e depois olhei para Shompy.
— Você vai mesmo né? — perguntei para ele.
Shompy veio sorrindo em minha direção e então susurrou em meu ouvido:
— Você acha mesmo que ia te deixar sozinha com essa louca?
Eles me abraçaram e então saíram pela porta, acenaram antes de sair e eu respondi com um sorriso fraco. Subi as escadas e bati na porta do quarto do meu pai. Ele não respondeu e então me senti sozinha mais uma vez. Deixei as emoções do lado de fora, e substituí-las por raiva – o que era muito mais fácil de controlar - e comecei a pensar que ele estava fazendo isso por simplesmente não dá mais a mínima para mim.
+++
Olhei no canto da loja uma coleção nova de vestidos, tirei foto e os mostrei para Kailin por mensagam - ela me obrigou, fazia questão de ficar me vigiando para certificar-se que eu não iria pular fora na última hora - Esperava que ela desse risada do meu gosto, mas os aprovou e escolheu o vermelho. Falei para a vendedora que o levaria, ela era aquele tipo de garota que usa a barra da calça jeans dobrada, all Star preto, camiseta preta toda estampada com bandas de rock. Não é o tipo que se interessa pelo tipo de vestido que eu estava levando. Ela pegou ele na mão e o analisou, era um que Ia metade das minhas coxas, totalmente colado. Ela forçou um sorriso simpático no rosto - que mais soava como um: detestei, você tem um péssimo gosto - e então o embrulhou para mim.
Quando estava caminhando pela calçada, senti um honda preto me seguindo, mas não era o de Kailin. Apressei o passo e olhei para trás, ele continuava lá, me seguindo a pouca velocidade, quando pensei em sair correndo, o vidro abaixou-se levemente e Nate colocou seu boné preto, puxando-o tanto para baixo que eu quase não podia ver seus olhos.
— Nate? — perguntei surpresa, tentando analisar a imagem que estava lá dentro.
— Em carne e osso — ele sorriu, mostrando suas covinhas. Quando abaixou completamente o vidro, pude ver que ele estava sem camisa, deixando de fora seus músculos contraídos e sua pele tatuada.
— Você anda me seguindo? — perguntei rindo.
Nate sorriu. Pela primeira vez notei que o sorriso dele era torto, que sua boca era inclinada para um lado.
— Posso te contar uma história? — ele disse.
— Pode — fiz uma expressão de dúvida no rosto.
— Então tá — ele apoiou o braço na janela — Tinha uma garota, ela estava saindo de uma loja e tinha um cara, ele... — Nate deu uma pausa e deu uma risada alta. Fiz uma gesto para que ele continuasse a história e ele pressionou os lábios, olhando para o lado para esconder o sorriso.
— Você está inventando isso agora, não está? — eu ri quase tão alto quanto ele.
— Sim, isso é menos vergonhoso do que admitir que eu estava te seguindo.
Meu rosto perdeu a expressão e eu olhei para baixo, colocando uma mecha do meu cabelo para atrás da orelha.
— Não se preocupe, eu não ia te sequestrar ou coisa do tipo.
— Não! — gritei e logo depois sorri — Não. Não é isso — respirei fundo — Era só que... é só você vir me dar um oi se quiser falar comigo.
— Prefiro te olhar de longe.
— Tudo bem — balancei a cabeça e fiquei balançado nos calcanhares, olhando para os lados — Você é oficialmente estranho.
— Que alívio! — Nate suspirou e sorriu — Pensei que você achava que eu era um estuprador ou coisa do tipo. Estranho me soa melhor — brincou ele, dando risada.
Nate saiu do carro e sentou-se ao meu lado no meio-fio da calçada. Ficamos sentados, uma de frente para o outro durante dez minutos, num silêncio fúnebre. Por fim, falei:
— Vai ter uma festa da escola, você deveria vir comigo.
Ele me analisou por uns segundos, com uma expressão séria.
— E o Cameron?
— Eu e você — apontei para nós dois — Nós somos amigos. Não somos?
Ele balançou a cabeça e olhou para baixo.
— Claro — deu um sorriso confortante e me abraçou de lado.
Senti uns passos se aproximando de mim e uma sombra se projetando em meu rosto. Olhei trás e havia um par de botas em minha frente, subi meu olhar para cima e meu coração quase parou quando vi quem estava lá. Era o Cameron.
— Catherine? — ele falou surpreso.
CAMERON POV
Nate acenou com a cabeça. Odiava esse cara, ele era daqueles que gostavam de usar status de cavalheiro branco para conseguir garotas. Ele gostava de se referir a mim como um cafajeste, mas a verdade era que Nate só jogava um jogo mais sofisticado. Ele não era honesto sobre suas conquistas. Fingia se importar e, em seguida, as largava assim como eu fazia.
— Vamos Catherine — eu disse a puxando pelo braço.
— Eu vou ficar — falou ríspida, sentando-se novamente ao lado dele.
— Ah, corta esse — eu disse.
—Eu não vou a lugar nenhum com você — rebateu Catherine, puxando a mão dela de volta.
Ela estava envergonhada, mas sua raiva rapidamente encobria isso, ela não demorou muito tempo para aprender a esconder seu emocional.
— Vamos agora — falei entredentes, tentando manter minha voz casual.
Ela levantou-se e passou por mim com raiva, entrando no restaurante e ignorando o meu gesto de abrir a porta para ela. Era uma pena, ela foi a primeira garota para quem realmente quis abrir a porta.
— Ele te fala coisas bonitas e você acredita nele? — quando meu nervosismo veio a ferver, focar em nossa conversa com Nate olhando tudo do lado de fora tornou-se difícil.
— Nem todos os caras são um ogro como você que só são legais quando querem algo das mulheres — ela cruzou os braços e me olhou séria — Não é como se eu fosse dormir com ele, porcaria! Ele é apenas um amigo.
Ela levantou uma sobrancelha, e imediatamente a minha frustração e raiva dispararam.
— Não é só isso o que ele quer, Catherine. Vou te levar daqui e quando você descobrir que ele é tão filho da puta quanto eu... — ela não desviava o olhar de mim — Aí você me agradece depois.
Ela olha ao seu redor, como se tivesse deixado alguma coisa cair, até que encontra o que estava procurando: a minha mão.
— Acredita em mim, ele é apenas meu amigo. Eu estou com você.
A primeira reação dela foi sorrir. E eu quis sorrir também, eu quis dizer para ela que confiava nela, eu quis controlar a mim mesmo, mas simplesmente não consegui.
— Vamos embora, agora. — peguei a bolsa dela e logo depois puxei sua mão.
Mas então, seus olhos se entristeceram, ela franziu o cenho, pegou a bolsa das minhas mãos, e eu puxei de volta.
— Cameron, não ache que prender alguém em seu mundo desse jeito é amor — ela gritou, tentando engolir as lágrimas — Ninguém pensa que nós vamos dar futuro, e agora eu entendo, porque estou começando a acreditar que não também.
Meu coração desacelerou, quase como se estivesse parado e cada músculo do meu corpo se contraiu. Quanto mais eu a ouvia, mais doía. Eu não poderia imaginar se o amor era assim para todos, mas estava machucando pra caralho.
— Vão se fuder. Vocês dois — eu disse.
— Não me ligue quando perceber que você é vazio — quando as lágrimas queimaram seus olhos, ela pegou a primeira coisa que suas mãos tocaram, e atirou em minha direção — Vai embora!
Saí dali correndo e dei uma última tragada no cigarro, o último da embalagem. Eu estava tão envolvido em preocupação, que não tinha percebido o quanto eu estava fumando.
CATHERINE POV
— Alguma garota humilhada e largada por aí precisando de carona? — Nate perguntou — Vamos, eu vou levar você para casa.
Entrei no carro e comecei a bater em minha própria coxa, ele sorriu ao perceber meu nervosismo. Aumentei o volume do som e apoiei minha cabeça no encosto do carro. Nate dirigou por alguns quilômetros e depois de duas paradas, ele, finalmente, colocou a alavanca de câmbio no lugar e desligou o motor, sorrindo.
— Você está muito alegre hoje, Nate. O que é? — perguntei.
— Não há nada errado em ficar alegre sem motivo — ele disse e virou-se em minha direção. Tentei forçar um sorriso mas ao inves disso bufei, deixando ele notar o quanto eu estava triste — Isto é por causa do Cameron?
— Não, é outra coisa — ele continuava obsevando minha mão enquanto eu batia na minha própria coxa — Só ando confusa com umas coisas.
— Você vai ter que me contar. Soa como uma boa história — Nate sorriu.
— Vou te poupar essa — disse.
— Se algum dia quiser me contar, eu vou querer saber — ele deu um sorriso confortante e então dirigiu até minha casa. Quando eu estava prestes a sair, Nate encheu o pulmão para falar algo e eu parei, olhando para ele — Eu perdi uma entrevista de emprego hoje. Eu não fui — desabafou.
— O que? Por quê? — perguntei, com um pouco de raiva por ele ter feito isso.
— Quis me certificar de que você chegaria bem em casa.
Torci o nariz.
— Você não precisa tomar conta de mim.
Eu segui o comprimento de seu braço tatuado com o meu dedo. Ele era tão quente.
— Eu sei. Ainda me sinto mal pela aquela noite — ele segurou minha mão quando cheguei no ombro e deu um beijo nos meus dedos — Até mais Catherine.
Nate deu ré no carro, e eu o vi através da janela.
— Você vai me ligar amanhã, certo? — eu perguntei, tocando o pára-brisa.
— Sim — ele disse, olhando para a frente.
Quando as luzes de freio não eram mais visíveis, eu voltei para casa e Kailin já me esperava no portão da frente para irmos para a festa.
+++
Encostei a cabeça na poltrona do carro enquanto observava a paisagem se mover rapidamente, diversas árvores que num instante se transformavam em meros borrões. As janelas ficavam embaçada e Kailin tinha dificuldade para enchergar. A chuva que caía deixava a estrada lisa e estavamos em uma descida. Ela pisou fundo nos freios para descer devagar e olhou pelo retrovisor que a rodovia estava vazia. Ela passava a manga da camisa no pará-brisas para desembaçar a visão, estava muito frio lá fora e haviamos ligado o ar quente. Toda vez que ela fazia isso, saía um pouco da estrada e eu levava um susto. Peguei levemente no sono e quando os abri, havia uma imensidão de luzes na nossa frente, e o que eu mais temia havia acontecido.
MÚSICA ON
O carro foi totalmente destruído, o impacto de um caminhão a toda velocidade arremessou para longe o banco do passageiro aonde eu estava, voando pelo para-brisa e caindo no chão, se quebrando em tantos pedaços que parecia que tudo havia sido feito de açucar. As rodas e as portas foram lançadas para longe, parte do tanque de gasolina foi incendiado, fazendo um caminho de chamas por onde passava. Era uma questão de minutos antes que tudo explodisse.
Eu estava caída no chão, imóvel, no meio-fio da estrada. Quando olhei para baixo, minha roupa estava ensanguentada, meus lábios já estavam azuis e o branco dos meus olhos completamente vermelho. Minha mão estava caída em meio aos cacos de vidro, tentei movimentá-las mas não consegui. Não sentia mais o frio, nem mesmo o calor vindo das chamas de fogo perto de mim. Cada membro do meu corpo estava no chão mas é como se eu não estivesse mais em meu próprio corpo. Sentia um corte profundo em minha cabeça, e uma gota de sangue saindo dele, tentava forçar meu braço para tocar o ferimento mas eu não era capaz disso. Uma das minhas pernas estava quebrada, a pele e os músculos estavam expostos de maneira que conseguia ver meus ossos. Eu comecei a chorar, de uma maneira tão alta e intensa que minha respiração entrou entrando em colapso, meu peito subia, descia e a cada movimento era como se meus ossos estivessem se quebrando mais. Não sentia mais absolutamente nada, nem mesmo o corte em minha cabeça e nem mesmo meus ossos quebrados, foi como se em um segundo, em um estralo de dedos, a dor se passase e eu sentisse apenas medo, um silêncio amendrontador ao meu redor que me fazia escutar meus próprios pensamentos.
Você está com medo Catherine. Você nunca esteve com mais medo.
Era como se tudo estivesse se passado em câmera lenta, o impacto do caminhão no meu carro, o modo como o motorista foi atirado para longe, o jeito como os cacos de vidro se quebraram. Eu consegui ver cada detalhe disso acontecendo, Kailin batendo sua cabeça contra o volante e eu sendo jogada para longe dali. Sentindo meu coração acelerando e desacelerando conforme minha respiração ficava lenta. Eu estava morrendo.
Movi meus olhos para o lado, Kailin e Shompy estavam estirados no chão, desmaiados. Senti um alívio ao perceber que não estavam sangrando tanto quanto eu. Tentei gritar por ajuda, mas meus pulmões doíam demais para que eu pudesse fazer isso.
Estava chovendo e eu não conseguia sentir as gotas caindo em minha pele.
O que havia de errado comigo?
Catherine por favor seja forte.
Comecei a tossir sangue e cada vez me sentia mais fraca. Cada vez minha visão ficava mais embaçada. E sabe quando nos filmes, você está prestes a morrer e toda sua vida se passa diante de seus olhos como que em um flash?
Quer saber a última coisa que pensei antes que tudo ficasse preto?
Foi o Cameron.
.FLASHBACK
— Quer dançar comigo? — perguntei.
Ele negou com a cabeça e então eu levantei e estendi a mão para ele fazer o mesmo, ele continuou deitado no chão, até que peguei sua mão e comecei a puxa-lo. Vencido, ele apoiou sua mão em minha cintura e eu abaixei meu olhar, tentando o máximo não olhar para ele. Cameron segurou meu queixo e eu levantei meus olhos para os dele. Ele ficou me encarando por alguns segundos e então eu desviei o rosto e corei. Ele sorriu e eu coloquei meu queixo no seu ombro enquanto nos movimentarmos lentamente. Ficar tão perto dele era uma sensação ótima, sentia sua respiração lenta no canto da minha orelha e ele passava uma de suas mãos acariciando meus cabelos, enquanto a outra segurava firma minha cintura. Encostei minha cabeça na dele e nós ficamos assim, dançando de um lado para o outro. Ele mantinha seu olhar fixo para frente, apenas escutando a música, ele se virou e deu um beijo no canto de minha testa. Sorri em resposta e o abracei. Ele fechou os olhos e me abraçou de volta, colocando sus mãos sobre minha cabeça, me acariciando, enquanto eu segurava a nuca dele e deitava sobre seu ombro.
— Eu não quero ser aquele que vai estragar tudo, porque eu já fiz besteira antes, eu não vou ser aquele que vai puxar a cadeira para você Catherine, então, você pode escolher se fica. — Cameron disse.
Eu sorri.
— Eu sempre te escolho.
— Isso vai te fazer algum mal?
— Vários.
— Então por que você está sempre em minha volta?
— Porque você me chama, Cameron.
— Era só me dizer não.
— Eu não sei te dizer não.
— Dizem que quando um anjo se apaixona por um dêmonio, ele perde suas asas.
— Eu nunca quis voar mesmo.
Eu deitei minha cabeça em meu ombro e nós começamos a dançar novamente. Podia sentir seu sorriso, olhei para ele e sorri também. Eu virei de costas para ele e Cameron me abraçou por trás, entrelaçando nossos dedos e ficamos assim.
— Meu paraíso está bem aqui — Susurrei em seu ouvido.
FLASHBACK OFF
Tive medo de aquela conversa no restaurante ter sido nossa última. Tive medo de não ter a chance de dizer para ele que apesar de tudo ainda acreditava em nós. Tive medo de nunca mais sentir seu abraço e seus olhos me trazendo conforto. Tive medo de esse ser meu último suspiro, tive medo de nunca mais pode segurar as mãos dele. Tive medo dessas pequenas coisas. Tive medo de tudo.
Pouco tempo depois, o barulho das sirenes começa a se aproximar e eu apaguei.
MÚSICA OFF.
NARRADOR POV
Quando a ambulância chegou, os médicos se apressaram e os levaram para dentro.
— Temos um coração em colapsado aqui! Ela bateu a cabeça muito forte e o corte é profundo — o médico no jaleco branco falou ao examinar a Catherine — Coloquem um tubo e levem-na! — ordenou passando-a para uma equipe de enfermeiras e médicos.
— Onde estão os outros? — perguntou o cirurgião.
— Estão bem, mas essa aqui, teremos que lutar pela vida dela.
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