Tanto Tenma quanto Dohko, tinham diversas histórias para contar e estavam certamente animados para isso. A triste noticia do Rei falecido, adiou seus planejamentos. Ambos respectivamente sentiram a perda, foi instantâneo. Ele havia sido uma pessoa importante para a vida de todos, e com eles, não seria diferente. Dohko não conseguiu conter a expressão triste, uma noticia inesperada. Uma noticia capaz de acabar com todo animo de seu dia. O que era para ser uma volta alegre, se tornou uma perda terrível. Dohko, resolveu prestar suas condolências assim que soube. Tomando iniciativa de ir visitar seu antigo amigo. Assim que chegou ao cemitério, observou a lápide enfeitada.
- Ilías. – Diz de modo audível, depositando uma rosa. – Seja lá onde esteja, vamos ficar bem. Vou cuidar deles. – Sentia um enorme respeito pelo amigo de longa data, e um carinho imensurável. O som dos galhos sendo afastados, o fez deslocar sua atenção para a figura que aos poucos se materializou. Tenma. Havia trago um crisântemo. Depositando perto da lápide. Aquele era o local de seu descanso eterno, um grande anjo de mármore. O anjo pairava sobre a lápide, suas asas abertas contra o céu.
- Sabia que te encontraria aqui, Senhor. – Diz observando o objeto. Como algo objeto tão comum, era capaz de despertar tristeza em todos? Tenma cruza seus braços abaixo do peito.
- Achei digno. Não esperava por essa notícia. Sempre fomos tão bem recebidos em nossas voltas... Ele sempre acabava vindo até nós, e bem... Agora, tudo parece distante. – Dohko ressalta sem retirar o olhar da lápide.
- Ele vai fazer muita falta. – Ressalta, balançando seus ombros.
- Já está fazendo.
Dohko completa. O silêncio se instala entre ambos, doloroso o suficiente para fazer Dohko deixar um suspiro fraco escapar. Seria um ano difícil, e esse, estava sendo o dia mais triste de sua vida. Tenma por outro lado, sentia certa dor, mas não em tamanha porcentagem. Ele apenas havia sido o garoto cujo o Rei acolheu de braços abertos um dia. Nunca tiveram tanto contato. Mas, mesmo assim, ficava triste por Regulus e Sísifo, que agora, teriam que aprender a se acomodar com tamanha diferença.
No castelo, Regulus permaneceu em seus devaneios. Até mesmo o homem mais forte do mundo, muitas vezes tem alguma fraqueza. O garoto tem apenas quinze anos, milhares de regras impostas a si e deveres. Uma hora, tudo acabaria desmoronando. E nessas horas, gostava de permanecer sozinho. Agora que Dohko e Tenma haviam regressado, algo do passado retornou em seu íntimo. Saudades de seu falecido pai. Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem sente. E no caso de Regulus, esse sentimento estava mais presente do que qualquer outra coisa. A dias não conseguia dormir direito, com pensamentos constantes sobre sua perda recente. A dor de ter que parecer forte perante a essas circunstâncias, era a mais arrasadora de todas.
Sentia falta das sensações e todos os outros motivos, que faziam seu pai, ser sua pessoa especial. Se sentia sufocado por suas lembranças, acorrentadas em sua alma. Gostaria de entender o porque de terem matado seu pai. Todo esse suspense e delongas, prolongava suas sensações. Jamais havia se sentido tão vulnerável. Tão fraco. Quando Sísifo surgiu, Regulus deslizou as mãos por seu rosto. Limpando qualquer rastro de lágrima fosse, mesmo assim, o tio percebeu.
- Livros tem um cheiro familiar. Cheiro de poeira de estante guardada a séculos. – Diz enquanto se senta ao lado do sobrinho, se encostando na estante. Ver Regulus tão devastado, era como uma navalha para si rasgando seu interior. – Tinha sete anos quando perdi meu pai. – Assim que diz, Regulus ergue seu olhar para seu tio, tentando entender onde chegaria.
- Você não precisa fazer isso. – Murmura. Sísifo desliza as mãos por seus joelhos e balança seus ombros, convicto.
- Mas quero. – Regulus abaixa sua cabeça, olhando para o carpete. – Para uma criança, perdas são bem mais sentidas. Como se duplicasse o valor. Ninguém ensina uma criança, a como agir e aceitar a ausência de um ente querido. Me lembro de que meu pai, uma noite estava me contando histórias sobre sua infância e no outro, já não estava mais lá. Sua avó tentava amenizar, mas nunca foi a mesma coisa.
- Tio, não precisa se remoer em suas lembranças. Estou bem. – Regulus ressalta, Sísifo deixa um sorriso fraco se formar em seus lábios.
- Perdi duas pessoas naquele dia, e uma delas foi o seu pai. Ele nunca mais foi o mesmo, alguma coisa mudou naquele dia. Ele se distanciou completamente, e com seus deveres, assumiu a coroa. E depois disso, nos afastamos ainda mais. – Enquanto contava seus relatos, se relembrava dos devidos momentos. – Depois de três anos, conheceu sua mãe. Ela era uma mulher adorável e bela. Atenciosa e extremamente gentil, uma Rainha maravilhosa. – Regulus ergue seu olhar, poucas vezes ouvia sobre sua falecida mãe.
- Como ela era? – Questiona, retratos não eram suficientes.
- Uma pessoa extraordinária. E você, herdou isso dela. A beleza de sua mãe, não era nada comparado a sua generosidade. – Sísifo continuava a sorrir. – E então, alguns anos depois você nasceu. Foi quando seu Pai, de alguma forma voltou a ser aquilo que era antes. Mesmo com a perda de sua mãe, ele seguiu em frente. Por você. Ele te amou, como jamais amou outra pessoa. Você, é a imagem e semelhança dele. Sei que sente falta dele, não culpo você afinal, também sinto. Ele se orgulharia de você, se te visse assim.
- Chorando? Feito um, maricas? – Questiona. Sísifo balança sua cabeça.
- Sim. Sentiria o mesmo orgulho que estou sentindo nesse exato momento, talvez em maior escala. – Regulus continua a olhar firme para seu tio – Porque chorar, não é nenhuma vergonha. Mostra que você, tem sentimento e apreço pelo que perdeu. E se isso, não é uma das mais belas qualidades, não sei realmente qual é.
- Obrigado. – Regulus deixa um sorriso aparecer.
- Não precisa agradecer, é apenas a verdade.
Sísifo então abraça seu sobrinho, tentando confortar. Regulus permanece com o sorriso nos lábios, ouvir palavras assim, o deixava mais forte e determinado do que nunca. Breve assumiria o manto de sua nação, mesmo que não se sentisse preparado para tal.
Horas mais tarde, Dohko permaneceu em seus aposentos não haviam motivos válidos para sair, talvez estivesse se recuperando. Havia sido tudo tão momentâneo, chegava a ser diferente. Sentado sobre sua enorme cama, permaneceu em seus devaneios. Realidade completamente abalada. Seus devaneios se esvaíram ao ouvir o soar da porta se abrindo, automaticamente seu ranger o trouxe de volta para o presente. A figura que aos poucos se materializou, estava com um sorriso envolto em seus lábios. Seus cabelos loiros desgrenhados, recobriam sua testa, porém deixando a mostra sua característica mais notável. Sua ausência de sobrancelha, sendo substituída por dois pontos circulares. Shion.
Ele fechou a porta e caminhou por toda a extensão do quarto, em completo silêncio. Por determinado tempo, optou por simplesmente observar a vista bela da janela. O jardim estava mais colorido do que nunca, triste saber que Ilías não veria uma de suas estações favoritas. Estava também começando a sentir falta do velho amigo.
- Fugindo de mim? – Shion questiona, deixando uma risada nasal vir à tona. Dohko balança seus ombros respectivamente, erguendo seu olhar até Shion, algo naquele homem parecia diferente, Dohko só não conseguia distinguir o quê. Seu maxilar se contraiu.
- É inevitável. – Diz deixando um sorriso surgir. Aos poucos, desata a faixa que cobria seu pulso. Shion se encosta na parede, olhando fixamente para o outro sobre a cama.
- Percebi. Uma hora ou outra, o destino encontra você. – Shion diz entre risadas fracas, Dohko apenas balança sua cabeça em concordância. Em seguida, Shion se desencosta da parede e se senta ao seu lado. Sem nem pensar duas vezes, puxa a mão de Dohko para si, começando então a desatar o nó.
- Encontramos alguns imprevistos durante a exploração. – Ressalta sobre os machucados em seu punho, Shion mantem sua visão sobre a mão do amigo. Deslizava seus dedos pela faixa avermelhada.
- Você nunca muda. – Shion então deixa um sorriso aparecer em seus lábios, Dohko respira fundo. Quando o outro aperta sua mão com mais firmeza, deixa um breve gemido escapar de seus lábios entreabertos. Os machucados eram recentes.
- O que posso fazer se não resisto a uma briga? – Dohko questiona. Ambos se entreolham por alguns segundos, ambos eram capazes de sentir a pontada de eletricidade cujo invadia seus corpos. Quando Shion tornava a tocar o braço de seu amigo fazendo suas peles se tocarem, mesmo sobre as faixas, aquele sentimento familiar percorria por suas veias. Impossível negar algo tão visível. Shion engole sua saliva a seco, terminando de retirar todas as faixas. Após isso, solta sua mão instantaneamente.
- Tentar ter autocontrole seria uma ótima ideia. – Shion resolve olhar para frente. Muito contato visual com Dohko, trazia à tona sentimentos que muitas vezes ficavam envoltos as sombras de seus próprios pensamentos. Sentimentos que ele, um dia jurou esquecer.
- Eis uma palavra que sempre tento encaixar no meu vocabulário, mas nunca consigo. – Dohko responde com um sorriso. Não esperava rever Shion tão cedo. Estava completamente feliz pelo reencontro repentino, essa felicidade, ocupou o lugar da tristeza cujo sentia horas mais cedo.
- Deveria aprender a colocar em prática. – Shion balança seus ombros.
- Falando em colocar em prática, soube que vai se casar. Sua escolha, me deixa extremamente feliz. – Dohko comentou. Shion franziu sua testa por alguns segundos, nada respondeu durante esse espaço de tempo. Um silencio constrangedor se fez entre ambos, logo recuperou sua consciência.
- Feliz? Extremamente. – Repetiu com calma as palavras do amigo. Esperava uma reação próxima a de Yato, mas pelo contrário, jamais esteve tão enganado quanto algo.
- Sim. – Dohko, estranhou a reação repentina do amigo. Logo tocou seu ombro. Shion conseguiu sentir a eletricidade percorrer por seu corpo, na maioria das vezes, era assim. Logo, engole sua saliva a seco e se levanta.
- Obrigado. – Retoma total posição cheia de formalidade. – É muito gentil. Mas agora, não sabia que se tornar noivo, vinha junto a tanto trabalho. – Gesticulou contendo seu nervosismo eminente, Dohko deixou risadas escaparem.
- Mande abraços para Yuzuriha.
Shion balança sua cabeça e se retira do quarto, enfim respira fundo e começa a andar pelo corredor extenso. A oportunidade de se casar com Yuzuriha, servia como o belo pretexto que sempre gostaria de ter. Talvez assim, seu amor pelo amigo talvez se dissipasse por completo, ele apenas insistia nessa alternativa. E com o tempo, nem mesmo as lembranças fossem suficientes. Enquanto isso, sobre o gramado do jardim. Estavam sentados respectivamente Yato, Regulus e Tenma. O último, insistia em contar cada detalhe de sua viagem exploratória. Yato, desconsiderou ouvir tudo aquilo no primeiro momento, optando por observar as rosas brancas que compunham determinada parte do jardim. Já Regulus, por mais consideração ao amigo de longa data, ouviu tudo atentamente. Yato nunca havia entendido o motivo do Lorde Van Kerckhove insistir em plantar suas rosas por todas extremidades, tentava compreender, mas parecia tão sem sentido.
Lorde Van Kerckhove, um homem estranhamente solitário. Dono de uma aparência angelical, embora não lidasse perfeitamente bem com elogios sobre sua pessoa. Diferente de outros homens cujo vivem se gabando por sua beleza, Lorde Van Kerckhove era completamente diferente. Seu orgulho lhe era completamente ferido quando elogiado por sua aparência física, nada o devastava mais do que isso. Escolheu seu destino solitário com o tempo. Viver num mundo completamente ligado a aparências, era até certo ponto, entristecedor. Um mundo onde pessoas, ligavam inteiramente para as características e dinheiro que uma pessoa tende a oferecer.
Um homem respeitado por todos, que serve de exemplo motivador para todos aqueles que desejam seguir seus objetivos. Dono de uma beleza extraordinária, mas também de um coração enorme. E por incrível que pareça, uma voracidade jamais imaginável.
- Porque acham que ele sempre está sozinho? – Yato questiona. Suas palavras atraem a atenção dos outros dois a seu lado. Ambos olham para Albáfica, cujo estava analisando suas rosas tonalidade vermelhas.
- Porque todos daqui são extremamente chatos? – Tenma responde com outro questionamento. Yato balança seus ombros e Regulus, continua olhando firmemente para Albáfica.
- Meu tio uma vez me disse, que Albáfica num campo de batalhas, é imbatível. – Regulus diz de modo audível. Tenma deixa altas risadas escaparem. Porém, logo os outros dois semicerram seus olhares e ele deixa de rir.
- Desculpe. Pensei que tivesse sido brincadeira. – Tenma balança seus ombros, talvez assim a culpa se esvaísse aos poucos.
- Foi tão pejorativo! Você riu porque ele é bonito! – Yato ressalta arqueando as sobrancelhas,
- Se você acha ele bonito, o problema é exclusivamente seu! Não coloque palavras na minha boca que eu não disse! – Tenma intervêm. Regulus por sua vez, se encolhe no meio de ambos se preparando para a discussão eminente.
- Aposto que ele vence você num tapa! Seu babacão! – Yato responde rolando seus olhos.
- Aposto que ele vence você num tapa! Seu babacão! – Tenma afina sua voz e gesticula com suas mãos, imitando o amigo. Adorava irritar Yato, suas expressões eram as melhores.
- Quantos anos vocês dois tem mesmo? São mais velhos que eu e ainda agem como duas crianças! – Regulus intervêm antes mesmo de começarem a se tapear, como todas as outras vezes.
- O Tenma cresceu só de altura, porque de mentalidade continua a mesma criança. – Yato arqueia suas sobrancelhas deixando risadas altas escaparem. Tenma franze sua testa e puxa um pouco da grama com sua mão, em seguida, estica e coloca tudo na boca aberta do Yato. Regulus não contem as risadas.
- O que você disse? Não ouvi direito. – Tenma questiona enquanto Yato praticamente cospe toda grama de sua boca e limpa sua língua na manga de sua camiseta comprida.
- SEU DESGRAÇADO EU TE MATO! – É então que Yato se atira para cima de Tenma, arrastando consigo Regulus. Para ele, todas essas brigas repentinas já eram costume. As desavenças de ambos, complementavam seus dias. Logo Regulus separa os dois, antes que aquilo pudesse se tornar algo pior. Eles então se recompõem como se nada tivesse acontecido.
- Para onde ele foi? – Tenma questiona, a respeito de Albáfica. Ele entreolha por todo o jardim, em seguida se levantando, tendo melhor visão de todo lugar. – Parabéns Yato, se não fosse pela sua compulsão em comer tudo que é verde! Não teríamos perdido ele de vista!
- E vai começar de novo. – Regulus respira fundo, observando a expressão nervosa de Yato. O estressado logo se levantou e deslizou as mãos por sua cintura. Regulus observa todo jardim enquanto se levanta, e quando avista a silhueta de Alfábica, aponta com seu dedo indicador. – Ali!
- Venham! – Tenma aos poucos começa a andar, lentamente. Yato e Regulus se entreolham, se questionando o que aquilo significava exatamente. – Seus idiotas! Vamos seguir ele!
- Mas isso não seria invasão se privacidade? – Regulus questiona. Tenma então rola seus olhos.
- Só se ele descobrir. – Eles concordam e acabam seguindo. Tenma era um péssimo líder. Alfábica adentra na floresta, acabando por ser envolvido a toda relva extensa. Os três, se entreolham por alguns segundos, mas no final, acabam adentrando em seguida. As pegadas do Lorde ainda estavam sobre a lama, mesmo o perdendo de vista, seguir seu rastro era fácil. Ou ao menos pensavam assim, por um instante, seus pés são completamente envolvidos por uma corda. E no outro, já estão todos os três de cabeça para baixo, pendurados por seus pés.
- Merda! – Yato é o primeiro a se pronunciar, com os braços para baixo e olhando fixamente para o chão. – Não sei porque ainda ouço o que você diz! – Ressalta bufando frustrado.
- Porque sou o líder? – Tenma questiona como se fosse a coisa mais óbvia.
- Que diabos de líder o que! O líder aqui sou eu! – Responde. Logo um gemido escapa de seus lábios entreabertos, Tenma havia chutado suas costas.
- Alguém me tira daqui... – Regulus sussurra. Tentando se distanciar o máximo das conversas sobre lideranças em potencial. Em outro momento, uma gota de água escorre por suas bochechas avermelhadas. – Ótimo! – Ele diz de modo audível, é então que começa a chover.
As horas se passam relativamente rápido. O sol se põe e a lua, aparece. Atraindo para si toda a atenção destinada as estrelas. O astro mais belo da noite. Regulus, Yato e Tenma continuaram naquele estado. Seus cabelos completamente desengrenados, hora ou outra, Yato reclamava sobre sua vista embaçada. Nunca haviam ficado de cabeça para baixo numa quantidade de tempo tão significativa. Seus braços e pernas doíam mais do que qualquer outra região de seus corpos. Tenma tentou diversas vezes se inclinar para cima e conseguir desprender a corda da árvore, isso apenas piorou as coisas, pois quando tentou, respectivamente a corda se movimentou e o corpo de Yato foi jogado contra a outra árvore. Depois disso vieram as reclamações constantes que Regulus, já não aguentava mais ouvir. A chuva continuava a cair, juntamente aos relâmpagos estrondosos.
- Eu – Yato começa a cantar, fechando os postigos. – Estou com fome, muita fome. F o m e, é o que estou sentindo. Um frango assado cairia bem, até mesmo uma pedra eu comia, porque tô com muita fome. – Continuou a cantarolar o mesmo verso sem sentido algum, sentindo apenas a água deslizar por seu rosto e corpo, encharcando cada vez mais sua vestimenta.
- Cala a boca, Yato. – Os outros dois dizem em uníssono. Regulus sentia o vazio em seu estômago, juntamente a agitação dentro dele. Com Tenma, não era diferente.
- Será que demoram muito para sentir nossa falta? – Tenma questiona respirando fundo, estava começando a sentir frio.
- A sua, com certeza. – Yato responde do modo mais audível possível, Tenma aproveita a oportunidade para lhe dar uma cotovelada.
- Vocês sabem que a probabilidade de um raio cair sobre nossas cabeças é bem grande, não sabem? – Regulus questiona intencionalmente.
- Se for para morrer, que seja com estilo. – Tenma completa.
- Se for para morrer, que levem o Tenma primeiro. – Yato concluiu com um sorriso, Regulus balança sua cabeça, umedecendo seus lábios.
- Yato, se você não estivesse de costas para mim, eu acabava com sua raça! – Tenma diz deixando um sorriso vitorioso aparecer, Yato dá de ombros. Fazendo a corda se mover. Aos poucos, a relva se moveu e outra figura se materializou aos poucos. Albáfica. Seu andar majestoso, mesmo sobre a lama, não se alterou. Regulus suspira aliviado, enfim preencheria toda sua fome.
- Lorde Van Kerckhove. – Ele diz enquanto ergueu seu olhar. Albáfica, retira uma faca de sua cintura. Ele se aproxima em silêncio da corda e corta seu topo de uma só vez. Os três mais jovens caem no chão, sujando completamente suas roupas. Porém, quando Regulus se levanta para agradecer sua ajuda, sua silhueta já havia sido envolvida pela relva, e novamente, desapareceu.
- Me amarrei nele. – Yato ressalta ao se levantar, tentando amenizar os resquícios de lama em sua roupa. – Foi uma saída triunfal. – Completa e estica sua mão para Tenma, o outro se levanta rapidamente.
- Vamos voltar logo.
Regulus diz, começando a caminhar na frente dos outros dois. Já haviam passado tempo demais naquela floresta. Entre risadas, todos conseguem sair. Todos com fome e sujos de lama. Quando adentram no castelo, alguns servos que transitavam pelo lugar, olharam para os três abismados. Se questionavam como conseguiam se sujar tanto e permanecer em risadas. O primeiro a se separar, foi Tenma. Preferiu ir tomar um banho ao invés de comer, entrar numa cozinha todo destrambelhado não era do seu feitio. Regulus e Yato, sem muitas delongas continuaram sua jornada. Porém, Yuzuriha cruzou o mesmo caminho.
- Porque vocês dois estão assim? – Ela questionou entreolhando ambos, Regulus balança seus ombros.
- Nova moda. Deveria aderir. – Deixa um sorriso aparecer, Yuzuriha franze sua testa. – Longa história. Vou indo, se esperar mais um pouco meu estômago vai explodir. – Ele balança seus ombros e saí andando. Deixando Yato com Yuzuriha, foi o certo a se fazer. Pensar assim, deixou seu dia relativamente melhor, estava começando a pensar feito ele.
- Não pode continuar me evitando. – Ela então entrelaça seus dedos, Yato balança seus ombros. Certamente não era sinal de uma rigorosa educação. Ele resolve se pronunciar, sua voz fica presa em sua garganta por um segundo, em seguida tosse.
- Não só posso, como vou. – Quando disse, Yuzuriha deu de ombros. Sua expressão se enrijeceu.
- Não, você não vai! Quando vai parar de agir como uma criança? E me apoiar? Porque sinceramente, se você não me apoiar – Um suspiro incessante escapa dos seus lábios. Ela ergue seu olhar, olhando fundo nos olhos dele. – Não vou conseguir – Yato balançou sua cabeça.
- Não posso apoiar você. Porque sei, que no fundo, não é isso que você quer. Te conheço muito bem, mas agora, nem mesmo te reconheço. – Yato pareceu decepcionado, seu olhar vazio e profundo definia tais sentimentos com ainda mais clareza. Yuzuriha abaixou sua cabeça, suas palavras provocaram certo efeito dentro de si.
- Como ousa pensar que sabe o que quero. – Ela levanta a cabeça de repente, Yato limpa sua garganta, o nó prevalecia. – Você não sabe nada sobre mim! – Os lábios de Yato, já apertados, franziram ainda mais.
- De verdade, não sei. Costumava saber, costumava me interessar. Mas agora, você mudou tanto que já nem sei mais quem é. – Ele respira fundo, Yuzuriha arfou no mesmo instante. – Quem é você de verdade? Você não tem opinião própria? – Ele ergue seu olhar, novamente ao encontro do dela.
- Yato... – Ela balbucia, ele balança sua cabeça em negação.
- Não posso te apoiar, não dessa vez. – Yuzuriha mantêm os olhos fixos aos dele, pela primeira vez, tudo estava a desmoronar. Aos poucos, a imagem de Yato desapareceu. Sua silhueta partiu, e Yuzuriha, se sentou sobre o chão. Respirando fundo. Talvez a verdade, fosse a melhor escolha. Mas Yato, sabia que Yuzuriha nunca diria. Ele a conhecia bem, muito melhor do que qualquer um. Regulus, estava à espera do amigo, no final do corredor. Logo ambos andaram até a dispensa, em silêncio. Ele havia percebido a falta de humor vinda do outro, assim que chegaram. Os servos serviram os dois, um macarrão recém preparado.
- E... Ela respondeu alguma coisa? – Regulus pôs fim no indeterminado silêncio. Yato apoiou o queixo sobre a palma de sua mão, enquanto com a outra, enrolava o macarrão. – Você perguntou alguma coisa? – Volta a questionar, o olhar de Yato permaneceu sobre o prato. Regulus respira fundo e se acomoda sobre sua cadeira. – Vocês ao menos conversaram? Ou o gato comeu sua língua?
- Não perguntei. – Yato responde em bom som. Regulus engole sua saliva a seco, antes de comer um pouco do macarrão. Enrolando mais unidades em seu garfo e mastigando logo em seguida, estava faminto. Uma refeição jamais havia caído tão bem quanto agora. Por outro lado, Yato apenas continuava a brincar com o macarrão, havia perdido o apetite por completo.
- E quando vamos começar nossa investigação? – Regulus questiona de boca cheia. Não estava animado para essa perspectiva, perseguir alguém em segredo não era a maneira mais viável de se conseguir respostas, havia comprovado isso horas mais cedo. Um sorriso de ladino surge nos lábios de Yato.
- Vai mesmo me ajudar? – Ele questiona. Para ele, Regulus não aceitaria sua proposta de maneira alguma. O outro, balança sua cabeça, deixando um sorriso surgir.
- É isso que amigos fazem. Eles apoiam um ao outro, mesmo quando o outro, quer ir para o fundo do poço. – Regulus diz com um sorriso. O estômago de Yato se contrai no mesmo instante, as palavras de Regulus causaram mais impacto do que o esperado. Apoiar um ao outro. Amigos. Havia ido contra todos esses princípios ao recusar ajudar Yuzuriha, não sabia exatamente o sentimento que crescia dentro de si, havia acabado de ser um completo imbecil. E apenas agora, se dava conta disso.
- É. – Ele retira forças de seu intimo e responde, quase balbuciando. Regulus desmancha seu sorriso apenas quando volta a comer, e Yato, continuou pensando nas consequências de seu ato tão egoísta.
Palácio Rovere.
- Meu Rei. – Minos diz ao adentrar no salão de Alone, cujo o mesmo havia o convocado horas mais cedo. Alone estava sentado sobre sua poltrona, cansado de ouvir súplicas de seus fiéis súditos. Assim que se aproxima do centro do carpete, ele se ajoelha. Pousando as mãos sobre sua coxa. Alone o acompanha com seu olhar. – Não gostaria que meu atraso, soasse como um desrespeito para com minha Alteza.
- Levante. – Obedecendo ao comando, Minos ergue seu corpo. Sua postura era considerada a mais formal entre todos os generais e suas guardas. Ele, mantêm seu firme olhar sobre seu Rei. - Sinta-se perdoado. Venha. – Alone inclina seu corpo para frente, se levantando de uma só vez. Logo, anda até a janela mais próxima, afastando a cortina. Minos, balança sua cabeça e o acompanha. – Me responda, o que vê. – Ele deixa o espaço, para que Minos e seu corpo o preenchesse.
- Bem. – Minos deixa seu olhar percorrer pela vista deplorável. Pobreza extensa. Caminhos vazios, a chuva muitas vezes causava transtornos. – Seu reino meu Senhor. – Diz. Para Minos, sua vida era extremamente feliz. Ganhava ás custas de outras pessoas, como sempre. A pobreza dos outros não importava, enquanto ele continuasse enaltecendo seu poder.
- Exatamente, meu reino. – Diz cruzando seus braços abaixo de seu peito, Minos se questionou onde aquela conversa chegaria, exatamente. – E meu maior desejo, é expandir meu território. Gosto do que vejo, nada é mais belo do que minhas posses. Mas, recentemente tive uma ideia. E preciso de você para que se torne possível.
- Me sinto grato por sua escolha e voto de confiança. – Minos manifesta sua opinião.
- Como bem sabe, Radamanthys exterminou todos daquela caravana. – Minos balança sua cabeça em concordância, a caravana onde Ilías foi morto. – Sendo assim, o reino de Gardênia não faz ideia de quem são seus reais inimigos. E agiremos sobre isso. – Um sorriso se fez nos lábios de Alone, contar vitória antes mesmo de colocar seus planos articulados em prática, era uma de suas maiores características. – Enviarei você e alguns outros homens para uma missão especial.
- Seja qual for, será uma honra. – Minos ressalta.
- Levarão um convite para aquele reino. Um convite para sua própria morte. – Alone deixou uma risada estridente escapar de seus lábios entreabertos. – Não demore mais do que o necessário, vocês partem hoje mesmo. Escolha homens de sua confiança, e apenas entregue meu convite e minhas condolências. Nada mais, nada menos. Depois disso, volte. Preciso de sua ajuda para outros planos. – Alone retira a carta de seu paletó e entrega para Minos.
- Como quiser, meu Senhor. – Minos fica de costas e começa a andar rumo a saída do salão. Neste momento, esboça um sorriso fraco no canto de seus lábios. Ser reconhecido por seu trabalho, era a melhor das sensações, não poderia desapontar seu Rei, estava fora de cogitação.
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