[Narrador Mode-On]
Depois de quase um mês saindo com o cantor, Alicia e ele estavam surpresos como ainda não haviam sido flagrados juntos pelos paparazzis. Se sentiam até orgulhosos com essa façanha, afinal conseguiram ser discretos a máximo, evitando exposições desnecessárias. Sem contar que a mídia sempre aumentava ou inventava algum boato para gerar ibope e quem pagava o pato eram os artistas.
Alicia estava gostando de ficar com ele. Era um cara gentil e educado, além de fazer muita questão dela e de sua companhia. Ele era praticamente o oposto de Bruno, - que gostava até demais de se expor, algo que a incomodava um pouco. - E era justamente isso que ela precisava naquele momento. Se sentir importante para alguém, mesmo que no fundo soubesse que poderia ser passageiro. Não houve tempo suficiente para criar um sentimento sólido por ele, mas sabia que pelo andar da carruagem isso não seria impossível de acontecer.
Havia um problema. O cantor iria entrar em turnê em poucos dias, já que lançou um álbum recentemente, viajaria o mundo para divulgá-lo e gravar um novo DVD. Logo, logo, Alicia voltaria aos estúdios com a Sweet Poison e o tempo ficaria curto. Tempo é o que eles precisavam para ficarem juntos. Tentando resolver isso, ele a convidou para acompanhá-lo na turnê, mas ela recusou. Não queria atrapalhar e sabia que toda a atenção dele deveria se voltar para os seus shows e viagens.
Após muita conversa, decidiram que o melhor seria terminarem. Não por estar ruim, mas sim pela falta de tempo e os desencontros que eles sabiam que seria inevitável acontecer no futuro. Dessa forma, seria impossível construir um relacionamento. Alicia sentiu uma pontada no peito, mas um alívio depois. Era a melhor opção naquele momento. Quem sabe no futuro os dois se reencontrariam e daria tudo certo...
***
Bill e Tom estavam sumidos e Alicia percebeu isso. Bill era o que mais aparecia, mandava mensagens, ligava às vezes e a chamava para sair. Mesmo assim, não era tanto como antes. Eles estavam há alguns dias sem se falar. Quanto Tom, ela o sentiu se afastar aos poucos desde umas semanas para cá. Sentia falta de seu humor ácido e implicante, que sempre a divertia. Estava com saudades.
Ela evitou perguntar o motivo disso, mesmo essa distância a deixando um tanto quanto incomodada. Na certa eles estariam ocupados produzindo e trabalhando em seu novo álbum. Bill já havia comentado que os preparativos já haviam começado para a escolha e gravação da primeira música paralela a ser lançada.
Foi então que pensou em fazer um jantar em sua casa para assim matar a saudade de todos, além, é claro, de colocar o papo em dia e saber como as coisas estavam. Havia tanta coisa que ela queria contar... Alicia sentia falta de compartilhar assuntos e trocar ideia com eles.
- Acho que darei um jantar aqui em casa e chamarei os meninos para virem. – comenta com Gaby, que estava deitada no sofá mexendo no tablet. – Estou com saudade deles...
- Na minha opinião, é uma ótima ideia! – ela concorda. – Eles estão meio sumidos mesmo... – faz uma pausa, para de olhar a tela do tablet e se vira para Alicia. – Qual será o cardápio?
- Pensei em fazer um macarrão com legumes, afinal eles são vegetarianos... Uma coisa assim. – ela ri. – Você sabe que eu não sou tão boa na cozinha.
- Que delícia! Será perfeito. Um vinho para acompanhar seria ótimo também.
- Você pode fazer a lista de coisas que precisamos compra? Vou ligar para o Bill.
- Posso, é pra já! – Gaby se levanta do sofá e vai até a cozinha.
Alicia vai até seu quarto e pega seu celular para fazer a ligação, desejando que eles topem.
- Oi? – Bill atende.
- Oi sumido! Tudo bem com você? – ela pergunta.
- Alicia! Estou ótimo, melhor agora! – ele responde, feliz por ela ter ligado.
Tom, que passava no corredor, ouve o irmão dizer o nome da guitarrista e entra no quarto para saber o que era o assunto.
- O que você e os meninos farão à noite? Queria convidá-los para jantar aqui hoje...
- Jantar aí hoje? – ele repete, olhando para Tom que faz sinal dizendo que não vai. – Acho ótimo! Eu vou com certeza.
- E os meninos? – ela questiona.
- Bom, - ele faz uma pausa para prestar atenção no irmão. – eles já tem compromisso. Andreas ganhou um convite vip pra Komodore, aquela boate ao sul da cidade, sabe? Aí ele, Tom e os G’s irão... Não animei ir com eles.
- Ahh, é uma pena... – diz ela, se sentindo um pouco decepcionada.
- Que horas posso chegar aí? Quero te ajudar a fazer o jantar, por favor!
- Sete e meia, mais ou menos, tudo bem para você esse horário?
- Perfeito! Até mais tarde então!
- Manda um beijo para os meninos e diz que estou com saudades!
- Mando sim! Beijos. – ele desliga o celular.
Tom não saiu do quarto durante a conversa. Ele queria saber tudo que eles haviam conversado.
- Você devia ir comigo lá hoje. – diz, sem olhar para o irmão. – Senti a decepção na voz dela quando eu disse que tinham outro compromisso.
- Se eu não tivesse combinado com os caras, talvez iria. – desdenha. – Vou tomar banho.
- Ela disse que está com saudades. – ele diz, mas o irmão passa na porta e sai, ignorando-o.
Bill não contestou. Sabe que ele é cabeça dura não mudaria de ideia. Era o jeito do irmão lidar com a situação, fingindo que não se importava. Não havia o que fazer. Só o tempo resolveria.
Tomou um banho, se arrumou e foi para a casa de Alicia. Havia alguns dias que não se falavam e ele ficou feliz com a iniciativa da amiga de convidá-lo para o jantar. Estava curioso para saber por que em plena sexta feira ela estaria em casa ao invés de ter saído com o cantor. Por um momento ele se pergunta se há alguma possibilidade dele estar na casa dela. Não sabe qual seria sua reação caso desse de cara com ele lá. Seria um tanto quanto estranho, diante dos fatos sobre Tom que Alicia desconhecia.
Chegou em frente ao prédio da amiga, estacionou o carro mas não desceu. Ficou durante alguns minutos pensando em tudo que havia acontecido em tão pouco tempo. Bill se sentia mal pelo irmão, como se tudo estivesse acontecendo com ele mesmo.
Mas era hora de encarar a realidade.
Toc toc.
- Bill! – Alicia abre um sorriso largo ao vê-lo e o abraça. – Entre, por favor! – dá espaço para ele passar e fecha a porta. – O cardápio de hoje será macarrão com legumes!
- Mal posso esperar para provar essa delícia! – avista Gaby, que vem abraçá-lo. – Ainda mais feita por duas brasileiras! – sente um alívio quando percebe que só as duas estão no apartamento, alem é claro de Valentim, o cachorro de Alicia. – Quero ajudar! O que posso fazer?
- Bom, corte os legumes para nós. – Gaby entrega a ele a tábua e a faca.
- É prá já!
- Eu vou servir o vinho! – Alicia pega as taças. – Terminei com o cantor ontem, Bill. - diz, indo direto ao ponto.
- Mas por que? – ele fica surpreso.
Alicia conta o que havia rolado entre eles para que se separassem. Bill não esperava ouvir aquilo. Mesmo vivendo no meio musical e sabendo bem como eram essas coisas, jamais passou pela sua cabeça que isso pudesse afetá-los da forma como aconteceu.
Ele ficou aliviado e feliz pela barreira que impedia Tom, ter sido quebrada pelas circunstâncias do momento. Pensou em tudo que o irmão passou desde então, e quis contar para Alicia e acabar de uma vez por todas com isso. Mas teve medo da reação dela. Ele já a conhecia bem e nunca havia notado nenhum sinal de que ela poderia estar interessada no irmão e isso o deixou apreensivo. Ela agia da mesma maneira quando estava perto, não deixava escapar nem um olhar despistado.
***
Após o jantar, ficaram conversando sobre os mais variados assuntos e bebendo vinho. Estava tudo muito divertido, as horas passavam sem serem notadas. Havia muito tempo desde que se divertiam assim.
Até que algo os interrompeu. Alguém estava batendo na porta.
- Será que os meninos mudaram de ideia e resolveram vir para cá? – a guitarrista pergunta. – Vamos ter que fazer mais macarrão!
Alicia se levanta e vai em direção à porta para abri-la.
- O que você está fazendo aqui? – ela pergunta, espantada.
Não era Tom, muito menos Andreas ou os G’s.
- Ai meu Deus, ferrou! – Gaby comenta.
- Quem é esse? – Bill questiona, sem entender nada que Alicia havia dito.
Bill não o reconheceu de primeira.
- Bill, esse é o Bruno.
Bruno era quem estava parado na porta naquele momento. A última pessoa que Alicia esperava ver. A última pessoa que ela queria ver.
- Como você descobriu meu endereço? – ela faz outra pergunta, antes que ele responda à primeira.
- Sua mãe me deu... – ele diz, olhando para o chão. – Precisamos conversar, eu... – ele faz uma pausa quando olha pra dentro da casa da ex namorada e vê Bill na mesa junto com Gaby, ambos também olhando para ele.
Alicia olha para trás para ver o que ele viu e logo percebe.
- Pelo visto você está bastante ocupada, não é mesmo? – pergunta, com um tom sarcástico e ao mesmo tempo com raiva. – Eu vim até aqui para conversar com você, mas não vou atrapalhar esse momento que interrompi. – ele enfia a mão no bolso. – Esse é o cartão do hotel que eu estou hospedado, se você não tiver nada melhor pra fazer me procure. Pelo menos algumas explicações você ainda me deve. – diz seco, olhando fixamente para dentro.
Alicia pega o cartão e não diz nada. Bruno sai em seguida, pisando duro. Não havia mais nada a dizer depois da cena que presenciou.
Lá de dentro, Gaby estava completamente inquieta e Bill desejando por um momento saber falar português e entender todas as palavras que eles trocaram bem ali, na sua frente. Parecia que Bruno disse algo que queria que ele ouvisse, afinal lançou um olhar fuzilante.
A guitarrista fecha a porta, um pouco incrédula com o que acabou de acontecer.
- Eu não acredito nisso! – diz ainda em português, olhando para o cartão em suas mãos.
- Alicia, vem, senta aqui. – Gaby vai até ela e a conduz até a mesa.
- Está tudo bem? – Bill se mostra preocupado.
- Não Bill, não está nada bem. Do nada Bruno surge na minha porta querendo conversar... – ela apóia a testa na mão e respira fundo, ainda incrédula.
- Conta pra ele, amiga. – incentiva Gaby.
- Contar o que? Tem algo que eu não sei? – ele olha para Gaby e franze a testa, voltando o olhar para Alicia.
- Bruno e eu terminamos não foi só pelo fato de que me recusei casar com ele. – ela faz uma pausa dramática. – Ele brigou comigo porque achava que eu estava traindo ele com você. – ela olha para o amigo, que está perplexo com o que acaba de ouvir e continua. – Na época saiu na imprensa uma foto de nós dois juntos na rua e os boatos de que estávamos tendo um caso, você lembra?
- Sim... Eu me lembro.
- Ele acreditou nisso e pensou que esse era o motivo de eu não querer casar. Me desculpe por na ter te contado a verdade, Bill. – ela tenta se explicar. - Eu não queria que você se sentisse culpado por isso, afinal não foi culpa sua. Uma hora ou outra eu e ele acabaríamos terminando mesmo...
Alicia contou tudo ao amigo, se sentindo culpada por a verdade ter vindo à tona dessa maneira. A pior possível. Pediu desculpas a ele, inúmeras. Por mais perplexo e confuso que Bill tenha ficado, ele compreendeu o lado da amiga e a consolou junto com Gaby. Disse que ela não tinha com o que se desculpar afinal quem acreditou numa mentira e acabou saindo prejudicado na historia não havia sido ela. Ofereceu seu ombro amigo e deu todo apoio que ela precisava naquele momento.
Mesmo assim, a guitarrista não se sentiu aliviada.
***
Quase quatro da manhã. Tom sai da boate com uma morena de vestido curto e decotado. Mais uma noite produtiva para ele. Ela estava um pouco alterada por causa da bebida. Ambos entram no seu carro com e ele segue rumo à algum lugar que ainda não decidiram qual.
Ao chegar no centro, Tom para o carro no sinal do cruzamento, que subitamente estava funcionando aquela hora da madrugada. Ele olha para a praça que fica no quarteirão seguinte, do lado esquerdo. Avista alguém sentado no banco da praça, sozinho. Quando o sinal abre e ele chega mais perto, reconhece a figura, que não o viu passar.
Ele vira o quarteirão e para quatro ruas paralelas à rua de trás da praça.
- É aqui que vamos ficar? - a morena pergunta.
Ele tira sua carteira e de dentro dela, um pouco de dinheiro.
- Toma. – entrega a ela. – Esse dinheiro é suficiente para você pegar um táxi e ir até onde quiser.
- Mas nós não íamos...
- Não posso. – ele a interrompe, destravando a porta do carro.
- Você não pode me deixar aqui sozinha essa hora! - ela argumenta.
- Desculpe, mas terei que deixá-la.
A moça desce bufando, sem entender nada e sem estar sóbria o suficiente para criar mais argumentos. Assim que ela bate a porta, ele arranca o carro. Tom segue de volta para o quarteirão da praça, parando na rua de trás daquela em que viu a pessoa conhecida. Ele desce do veículo. A pessoa ainda estava lá sentada, sozinha. Ele sorri.
- Alícia!
[Narrador Mode-Off]
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