Algumas vezes, nós encaramos nosso reflexo no espelho e pensamos: preciso emagrecer alguns quilos e fazer uma cirurgia plástica nesse nariz. Algumas outras vezes, nós encaramos nosso reflexo no espelho e, ao nos depararmos com nossa alma através dos olhos, pensamos: você deveria ser mais feliz, deveria mudar determinado comportamento, deveria parar de viver de ilusões e seguir em frente.
Geralmente eu me encaixava na segunda opção. Ah, sim. Apesar de estar sempre sorrindo para as pessoas que eu amo, sou constantemente lembrada do meu maior fracasso. Lembrada por mim mesma, preciso ressaltar. Desculpe se isso parece mórbido demais, autodepreciativo demais. Eu acabei de passar por um processo doloroso, que sugou muito do que eu tinha de bom.
Se eu pudesse escolher uma música para contar a minha história nos últimos seis anos, com completa certeza seria Depois de Marisa Monte. Você já deve imaginar o teor dessa narrativa, não é mesmo? Eu não sei como começar, não sei dizer quando tudo passou de caloroso para gelado, não sei te dizer quando eu desisti de fato da minha felicidade com outro alguém, mas eu quero te contar uma história de amor dessas que, mesmo as duas pessoas se amando mais do que tudo no mundo, não vingam.
Meu nome é Regina Mills, tenho trinta e sete anos, dois filhos lindos, uma carreira profissional admirável, uma casa dos sonhos, uma conta com alguns zeros que me deixam ter tranquilidade financeira e, apesar de estar quase na casa dos quarenta, o meu corpo permanece incrivelmente lindo. Agora, a minha alma? Bem, essa já não posso dizer que está em completo auge como todo o resto. Sou uma ‘recém-divorciada’ que, até anteontem, não conseguia superar o fim do relacionamento.
Te aconselho a fazer um café, ou um chocolate quente, mas por favor, não me diga que você colocou canela porque era o que ela mais amava na bebida. Eu vou te contar como foram os últimos 14 anos da minha vida de forma rápida e concisa, okay? E vou fazer isso de uma forma diferente.
“Depois de sonhar tantos anos, de fazer tantos planos de um futuro para nós...”
Eu a conheci na universidade. Ela cursava Arquitetura, eu cursava Moda. Ela adorava festas, eu amava ficar em casa estudando, assistindo algum filme, lendo algum livro... Ela era cheia de amigos descolados, eu era só a nerd da turma que, geralmente, andava sozinha pelos corredores. E foi em um deles que ela se esbarrou em mim, me dando um banho de chocolate quente.
Apesar de parecer extremamente mimada, Emma Swan foi um amor de pessoa comigo. Fez questão de me emprestar uma blusa que tinha em seu carro e, durante toda a semana, vinha até mim durante o intervalo para saber como eu estava. Foi assim que nós nos aproximamos. De repente ela já fazia parte dos meus programas do final de semana: assistir algum filme completamente clichê depois de algum documentário extremamente bizarro.
Um mês depois, ela me beijou. Eu me lembro como se fosse hoje. Ela acarinhou meu ombro com as pontas dos dedos, um sorriso cheio de nervosismo nos lábios, os olhos verdes brilhando, os cabelos loiros presos num coque despojado. Eu encolhi meus ombros diante daquele olhar carregado de afeto, de desejo. E quando sua boca se encontrou com a minha, eu senti o mundo parar. O jeito que sua língua brincava com a minha era único e maravilhoso. Suas mãos escorregando levemente pelas minhas costas, me deixando completamente mole... Ah! Eu não preciso dizer que aquele foi o melhor beijo da minha vida, preciso?
Três meses depois do nosso primeiro beijo, ela me pediu em namoro. Foi como nos filmes clichês que eu gostava de assistir abraçada a ela. Um anel dentro da minha sobremesa favorita: torta de maçã. Assim que eu coloquei o pedaço, em que o anel se encontrava, na boca, ela me olhou com expectativa. Eu senti algo diferente, duro. Ao ver o anel em minhas mãos sorri feito uma idiota. Ah, sim. Ela apenas sussurrou, com aquele maldito sorriso torto: Quer ser minha namorada? Eu não tinha como dizer não, tinha?
Um ano depois, eu a pedi em casamento. Estávamos na casa dos meus pais. Eu preparei um jantar na cabana de inverno, decorei tudo do jeito que eu sempre imaginei e, quando ela apareceu dentro do vestido que eu deixei para ela na casa principal... Eu soube naquele momento que nunca amaria outro alguém como eu a amava. O meu pedido foi tão simples quanto o dela. Empurrei uma caixinha vermelha em sua direção e sussurrei: “Eu adoraria ter você como minha esposa, Swan. O que acha da ideia?” Não me julgue por isso. Era um combinado nosso: nada de complicações, apenas a nossa simplicidade de sempre.
Ela me respondeu me puxando pela mão, atacando meus lábios com um beijo cheio de sentimentos e me levando para a cama repleta de pétalas de rosas. Foi o sim mais delicioso que eu já recebi na vida. Foi a partir daí que nossos planos começaram a ser traçados de forma real, séria, sem divagações impossíveis. Nos casaríamos, mudaríamos para New York, esperaríamos uns quatro ou cinco anos para gerarmos nosso primeiro filho e mais uns três ou quatro para o segundo. Nos primeiros cinco anos de casamento, nós iríamos investir em nossas carreiras o máximo possível, mas também iríamos conhecer o mundo viajando ao menos nas férias de verão. Também compraríamos uma casa legal assim que a nossa situação financeira se estabilizasse e não iríamos vender a que tínhamos antes. Alugaríamos o imóvel para nos render alguns trocados todos os meses.
Quando nosso primeiro filho viesse ao mundo, nós iríamos reduzir a correria nos nossos trabalhos e nos doaríamos totalmente para ele. Quando sua primeira infância tivesse passado, uma de nós iria voltar a rotina por completo enquanto a outra avaliaria as possibilidades de mais um bebê. Ah, sim, a outra seria eu, claro! Ela sabia do meu imenso sonho de ser mãe.
Nós nos casamos seis meses depois, numa cerimônia íntima, pequena, sem luxo, à beira mar. Ela estava estonteante dentro de um vestido branco rendado, uma coroa de flores nos cabelos loiros, os olhos verdes como esmeraldas brilhando iguais as estrelas. Eu me lembro de cada detalhe daquele dia, mas eu não sei se estou pronta o suficiente para dizer aqui. Me machucaria ainda mais, talvez.
“Depois de tantos desenganos nós nos abandonamos como tantos casais”
Como eu já te disse, eu não sei quando foi que nós de fato deixamos de ser um casal. Mas existem algumas situações que, na minha cabeça, são como sinais de que tudo iria chegar onde chegou.
Era o aniversário de cinco anos do nosso primogênito, Henry. Emma tinha viajado há uma semana e voltaria naquela tarde para que levássemos o nosso pequeno espoleta ao shopping. Assistiríamos ao filme que ele tanto queria, deixaríamos ele comer o que quisesse e escolher qualquer presente que estivesse dentro do nosso orçamento.
Eu estava grávida novamente. Vinte e seis semanas, mas para não complicar sua vida, seis meses. Ao contrário da gravidez de Henry, aquela estava sugando tudo o que eu tinha e o que não tinha. Os enjoos nunca cessavam, eu estava absurdamente cansada e, segundo minha obstetra, se na próxima consulta eu não tivesse apresentado nenhuma melhora, iria ficar alguns dias em observação. Emma ainda não sabia daquilo. Eu não quis lhe dizer por ligação. Ela estava muito preocupada com o rumo das negociações que vinha fazendo, bem... Eu conseguiria cuidar bem daquilo, certo?
Às seis e meia da tarde, um Henry completamente cabisbaixo sentou-se ao meu lado no sofá, me abraçando lateralmente. Emma não tinha chegado e eu sabia que não haveriam mais voos para NY de onde ela estava. Ela não voltou para casa. Ela não ligou para o nosso menino. Aquilo me doeu de um jeito que nada no mundo conseguiria superar. Os olhinhos tristes do nosso pequeno fingindo assistir ao desenho que passava na TV, suas mãozinhas geladas entre as minhas, a voz completamente baixa e triste. Eu iria matar Emma Swan.
Decidi levar meu menino ao shopping como havia prometido. Ele se divertiu muito e, no fim, quando eu pedi para irmos para casa, ele me abraçou apertado e sussurrou:
–Você é melhor mamãe do mundo todinho, mamãe. Eu amo você!
Eu chorei. Meu peito se encheu daquele calor gostoso que a gente sente quando recebemos amor, sabe?
Assim que coloquei Henry na cama e o fiz dormir, peguei o telefone e liguei para Emma. Ela atendeu e simplesmente respondeu:
–Estou ocupada demais numa reunião de negócios para ouvir suas lamentações, Regina.
E desligou. Sim. Ela simplesmente desligou. Eu nem sequer falei uma palavra. Aquilo doeu, não como os olhinhos triste do meu filhote, mas doeu.
“Depois de varar madrugadas esperando por nada, de arrastar-me no chão em vão... Tu viraste-me as costas, não me deu as respostas que preciso escutar!”
Ela voltou na semana seguinte. Simplesmente entrou pela porta depois de uma semana sem uma ligação, sem uma mensagem de texto, um e-mail. Ela apenas adentrou, caminhou até mim, selou nossos lábios tão rápido que eu nem senti seu toque direito, beijou a testa do nosso filho e foi tomar banho.
Os meus olhos se encheram de lágrimas. Lágrimas essas que eu não queria deixar rolar. Não ali. Não na frente do meu pequeno príncipe. E Emma não merecia nenhuma delas. Mas as malditas rolaram. Sim! Elas apenas rolaram pela minha face, silenciosas, quentes e cheias de dor.
–Você tá triste com a mama, mamãezinha? – Henry perguntou, os olhos verdes idênticos aos de Swan transbordando preocupação.
Enxuguei as lágrimas rapidamente, um sorriso falso nos lábios.
–Não, meu amor. Tá tudo bem. Vamos nos arrumar para a escola?
E quando estávamos somente nós duas em casa, eu esperei que ela falasse algo, mas ela não disse. Emma permaneceu em silêncio. Eu, amando-a do jeito que a amava, fui até o escritório, uma caneca de chocolate quente nas mãos.
–Eu trouxe para você – falei baixinho enquanto sentia seu olhar julgador sobre mim.
Sua feição mudou. Ela sorriu minimamente. Aquilo fez o meu coração se acelerar. Mas ela logo se afundou em seu trabalho, ignorando completamente a minha presença. Por isso, eu apenas disse:
–Depois de amanhã eu tenho consulta. Você quer ir comigo?
Sem levantar os olhos para mim ela disse:
–Não tenho tempo, Regina. Na próxima eu irei.
Assenti, não para ela, para mim mesmo. As lágrimas brotaram novamente. Eu fechei a porta e fui para a sala. Eu senti aquele turbilhão de sentimentos me invadir e fazer morada. Meu sangue ferveu, a adrenalina no meu corpo implorando para eu ter um acesso de raiva... Tudo o que eu fiz foi chorar compulsivamente.
Alguns minutos depois, meu corpo pesou e eu me deitei no sofá. Eu estava extremamente tonta, cansada, respiração entrecortada e, de repente, eu me lembrei. Não tinha sentido meu bebezinho ainda naquele dia. O desespero me assolou. Eu não teria forças para ir até o hospital sozinha. Eu não teria forças sequer para sair dali, daquele sofá. Eu não teria forças para gritar por Emma.
Com o resto de forças que eu nem sabia que tinha peguei meu celular. Eu não enxergava nada. Apenas apertei algum dos números de chamada rápida e sussurrei para a pessoa:
–Me ajuda... Socorro.
Depois disso eu só me lembro de estar num quarto de hospital e ouvir a minha irmã dizendo para Emma no lado de fora:
–Se você voltasse a ser você, Emma, ela teria dito. Você deixou a minha irmã sozinha a maior parte dessa gravidez. Você nem mesmo parece feliz com essa gravidez e ela sente isso. Ela sente o seu desinteresse, ela sente o seu distanciamento. Regina não poderia estar em outro lugar que não nessa cama de hospital. Você está matando a minha irmã e o bebê que ela tem gerado. Você está sendo uma filha da puta egoísta, Emma Swan.
–Meça suas palavras. Meu filho está dormindo aqui – Emma bradou.
–Que filho? Ah! Aquele que você se esqueceu do aniversário na semana passada, não é mesmo? Aquele que a Regina teve de consolar e levar para o programa que você tinha se comprometido de estar. Aquele que você chegou e não desejou parabéns, porque ele me contou antes de dormir. Ele me disse que ela chorou por sua causa. Ele me disse que contou para professora que a outra mãe parece não gostar deles.
O silêncio foi mórbido. Meus olhos se encheram de lágrimas novamente. Abafei um soluço com as mãos. A porta entreaberta permitiria que eles ouvissem meu choro.
–Não venha pagar de mãe preocupada quando tudo o que você vem sendo é uma mulher filha da puta com quem mais te ama, Swan. E fique ciente que se algo acontecer com a minha irmã ou com meus sobrinhos, você é uma mulher morta!
Se você acha que depois dessas palavras ela mudou, você está completamente enganado. Assim que ganhei alta, Zelena ficou comigo, me ajudando com o que eu precisasse. Emma, por sua vez, apenas fez sua mala e seguiu rumo a viagem que tinha. Eu me lembro claramente de, assim que a minha obstetra disse que a minha gravidez era de risco, eu perguntar baixinho, apenas para ela:
–Você pode adiar sua viagem? Eu realmente preciso de você comigo na próxima semana...
Ela não me respondeu. Ela sequer segurou minha mão. Ela sequer me olhou. Aquilo doeu tanto que vê-la sair pela porta para a tal viagem não me fez sofrer mais.
“Nós dois já tivemos momentos, mas passou nosso tempo, não podemos negar! Foi bom! Nós fizemos história para ficar na memória e nos acompanhar!”
Eu não posso ser injusta com Emma e contar apenas aquilo que me machucou. Não seria justo. Nós tivemos momentos tão bons! Tão únicos! O meu favorito: o dia em que eu contei que estava grávida de Henry. Ela tinha acabado de chegar do trabalho, me beijado na boca com intensidade e ido tomar banho. Eu, completamente excitada pelo beijo, caminhei rumo ao box do banheiro sem nenhuma peça de roupa.
–Eu posso me juntar a você? – perguntei ao abrir a porta de vidro que nos separava.
Seu corpo nu, banhado pela água quente... Aquilo me fez sentir todos os prazeres possíveis. Seu sorriso safado diante da minha pergunta... Ah, Emma...
–Eu me sentirei ofendida se você não o fizer – respondeu, galante como sempre.
Adentrei e deixei que a água caísse pelo meu colo. Os olhos verdes olharam para cada milímetro da minha pele daquela região, me devorando sem ao menos me tocar. Eu me sentia absurdamente gostosa sob aquele olhar.
–Tem algo aqui que te interesse, Swan? – indaguei rouca, sensual.
Ela mordeu o próprio lábio inferior, colocou as mãos no meu quadril e me empurrou contra a parede. Arfei de prazer com seu toque, com o contraste do azulejo gelado e a minha pele fervente.
–Absolutamente tudo nesse corpo me interessa... Mas tem uma parte que me interessa ainda mais – sussurrou ao pé do meu ouvido, a boca mordendo meu lóbulo e meu pescoço durante o processo.
–É mesmo? – sussurrei roucamente, cheia de tesão. – Qual?
A mão de Emma desceu pela lateral do meu corpo, as unhas arranharam minha coxa e, rapidamente, aqueles dedos esguios e longos brincaram com o meu clitóris.
–Essa aqui... – respondeu tão rouca quanto eu.
Fechei os olhos enquanto um gemido saía por meus lábios. O prazer que eu senti quando ela penetrou dois dedos em mim, fundo, forte, rápido... E quando ela esfregou a palma da mão no meu clitóris enquanto estocava deliciosamente dentro de mim. Sua mão livre arranhando a minha pele caprichosamente, sua boca devorando meu colo com vontade. Seus gemidos roucos que saiam sem pudor quando sentia a minha boceta apertar seus dedos involuntariamente, ou quando eu gemia o seu nome da forma manhosa que ela gostava.
–Eu vou gozar, Emma – falei enquanto sentia o nó em meu ventre se apertar ainda mais.
–Goza para mim, Regina – pediu ao pé do meu ouvido enquanto estocava ainda mais rápido.
E eu gritei seu nome ao me derramar em seus dedos. Meu corpo, tremendo com os espasmos musculares, foi segurado pelo dela, que fez questão de continuar acariciando meu clitóris apenas para que eu pudesse sentir ainda mais prazer. Levei minha mão para a sua boceta encharcada e fiz o mesmo. Queria que ela gozasse comigo.
–Porra... Esses seus dedos... – ela soltou enquanto revirava os olhos de prazer.
Rapidamente ela rebolava em minha mão, me deixando completamente abobalhada pela cena.
–Forte, amor... – pediu.
E eu atendi. Nós gozamos juntas, as bocas se devorando no processo. Emma me abraçou fortemente, o nariz enterrado no meu pescoço sentindo o meu cheiro. Os dedos faziam um carinho casto em minha cintura. Alguns minutos depois, ela se moveu, sua perna roçou em minha intimidade completamente sensível e eu gemi.
–Eu adoro quando a sua boceta fica sensível assim... Saber que eu sou a responsável por isso é excitante demais – falou sem pudor.
Eu sorri. Fechei o registro do chuveiro, entrelacei minhas pernas em seu quadril e pedi:
–Me leva pra cama...
Ela sorriu, me beijou e caminhou para a cama. Assim que a senti entre as minhas pernas, segurei seu rosto com ambas as mãos, meus olhos cheios de lágrimas.
–O que foi, amor? – quis saber enquanto beijava a palma da minha esquerda. – Tem algo errado?
Neguei com a cabeça, meu polegar desenhando o formato de sua boca tão linda.
–Eu quero fazer amor com você agora... Por que eu quero comemorar algo – sussurrei, uma lágrima rolando.
Ela me olhou nos olhos daquele jeito só dela, lendo a minha alma. Eu sorri.
–Nós vamos ser mamães, Emma – falei, como se confidenciasse um segredo a ela. O nosso segredo.
Seus olhos se encheram de lágrimas, a boca se abriu num ‘O’ e, sem seguida, no sorriso mais lindo e iluminado que eu já tinha visto na vida.
–Deu... Deu certo? – se referia a inseminação.
Eu assenti, as lágrimas rolando por minha face. Ela me beijou ardentemente, mas cheia de amor.
–Você sabe que eu te amo mais que tudo, mas nesse momento, eu te amo ainda mais, se é que isso é possível – confessou em meio a sorrisos largos e lágrimas de felicidade.
Ela me encheu de beijinhos estalados e os desceu para a minha barriga, dizendo ao nosso pequeno bebê o quanto já o amava e como seríamos muito felizes e mais outras milhares de coisas, até que eu lhe cobrei a minha comemoração.
Emma nunca me amou tão intensamente como naquela noite.
“Depois de aceitarmos os fatos...”
Você quer saber quando uma de nós chegou ao limite, não é mesmo? Foi numa quinta-feira nublada. Eu tinha pedido para que ela tentasse fazer parte daquela família novamente. Eu tinha pedido para que ela se esforçasse por nós. Mas, aparentemente, nós não éramos o suficiente.
Eu estava lindíssima dentro de um vestido negro que marcava cada parte do meu corpo, saltos de 15 cm nos pés, uma maquiagem que realçava meus lábios, os cabelos, agora longos, soltos em ondas perfeitas... O perfume favorito dela... Tudo isso porque ela me convidou para jantar fora. Ela tinha feito reservas no meu restaurante favorito, tinha me dado o vestido de presente e tinha prometido chegar em casa às 18:30 para se arrumar, afinal nossa reserva era para às 19:45.
Eram 22:36. Eu já tinha ligado para Zel trazer Mary Louise, nossa caçulinha de quase dois anos, para casa, já tinha bebido metade da garrafa de vinho que estava gelando para nossa volta do restaurante, já tinha comido a massa que tinha feito no almoço e, se ela não aparecesse nos próximos vinte e quatro minutos eu não iria mais tentar. Eu iria desistir do nosso casamento. Eu iria pedir o divórcio, afinal nós já estávamos separadas mesmo.
Enchi a taça de vinho novamente, me levantei e caminhei até o quarto da nossa menina. Henry tinha pedido para dormir na tia, junto do priminho que tinha quase a mesma idade que ele. Deixei meus saltos no batente da porta e entrei no quarto que eu tinha planejado com tanto carinho e amor para a minha bonequinha. Eu tinha feito tudo absolutamente sozinha. Meu coração se apertou. Balancei a cabeça negativamente, bebi um generoso gole do vinho e me aproximei do bercinho do meu girassolzinho.
Ela dormia tranquilamente. Tinha o sono pesado como o de Emma. Retirei os fios de sua franja negra de seus olhos enquanto uma lágrima escorria. Será se Henry e Mary Louise seriam capazes de me perdoa por desistir? Eles seriam capazes de perdoar o meu fracasso? Eles seriam capazes de olhar para mim daqui quinze, vinte anos e não sentir mágoa da mãe que não suportou mais a falta... Sim! A falta de afeto, a falta de carinho, a falta de toque, a falta de amor, a falta de sexo. Emma era sinônimo de falta na minha vida e eu não queria mais viver daquela forma. Eu não queria ter de me submeter àquilo, àquela vida que me dilacerava. Eu queria ser feliz. Eu deveria ser feliz.
Me curvei em direção a mãozinha minúscula que eu segurava com meus dedos e a beijei, pedindo silenciosamente para que ela me perdoasse. Para que ela não jogasse a minha fraqueza na minha cara anos depois.
Saí de seu quarto e me dirigi ao meu. Tomei um longo banho, retirei toda a maquiagem, lavei os cabelos de novo apenas para sentir aquele frescor que apenas um banho completo seria capaz de me dar. Vesti meu pijama, fechando os botões da parte de cima sem pressa nenhuma. Tirei o excesso de umidade dos cabelos com uma toalha e voltei a cozinha após hidratar toda a minha pele.
Às 23:43, ela chegou. Parecia exausta. Eu conhecia aquela cara. Era a cara de quando um cliente exigia que ela refizesse algo que já tinha sido refeito várias vezes apenas por capricho e que entregasse num jantar de última hora no mesmo dia. E aquilo fez meu coração doer ainda mais. Eu não era prioridade mais.
–Boa noite, amor – ela disse enquanto descia dos saltos de uma forma completamente desajeitada.
A careta de dor que fez assim que os pés finalmente pousaram em algo plano quase me fez esquecer de tudo... Quase... Eu me virei lentamente para ela, os olhos marejados. Eu nada disse, apenas a olhei.
–O que houve? – perguntou ao se servir do vinho que eu tinha decidido ingerir até a última gota.
Ela não se lembrava. Emma não se lembrava de ter marcado aquele jantar comigo. Ela não se lembrava de mim em momento algum de seu dia. Suspirei, uma lágrima escorrendo. Peguei o bilhete que ela tinha deixado sobre a caixa com o vestido, lendo-a antes de colocar sobre o mármore a sua frente.
“Na quinta-feira, eu quero você dentro desse vestido quando eu chegar, às 18:30, porque nós temos reserva no seu restaurante favorito às 19:45! Mal vejo a hora de poder ter você única e completamente para mim.
Amo você!
Sua Swan.”
Ela me olhou como quem pede desculpas. Eu puxei o ar com força, enxuguei a lágrima que caiu. Eu tinha uma bola na garganta que quase me impediu de proferir as seguintes palavras:
–Eu não aguento mais isso, Emma... Eu quero o divórcio.
Ela me olhou incrédula. Ela achou mesmo que eu conseguiria suportar tudo aquilo para sempre? Ela achou que eu me contentaria com aquela vidinha medíocre, cheia de migalhas? Não! Eu não acredito que ela acreditou nisso!
–Eu sei que as coisas não estão fáceis para nós, Regina, mas não é para tanto! – falou.
Estreitei os olhos.
–Não é para tanto? – o sarcasmo na minha voz gritante. – Não é para tanto para você que não se importa comigo, Emma. Você tem ideia que nós não transamos há quase cinco meses? Tem ideia que você não me beija, com exceção dos selinhos de oi e tchau há quatro meses? Você tem ideia que você não me toca mais, seja num carinho ou só por querer mesmo, há onze meses? Você tem ideia que você me deixou desde antes de eu anunciar que eu estava esperando Mary Louise? E você vem me dizer que não é para tanto?
Ela suspirou pesadamente, ouvindo todas as minhas verdades.
–A minha vida profissional não está fácil, Regina – tentou justificar.
–E a minha está? – devolvi. – Eu acabei de perder um contrato com a Chanel, Emma. Mas você sequer sabe disso, não é mesmo? Você não sabe nada de mim há anos. Você não sabe nada dos seus filhos. Você sabia que Henry pediu para fazer ballet e natação? Não! Você sabia que a Mary Louise está falando você está bem perfeitamente? Não! Você não sabe! Você não tem o direito de colocar sua vida profissional no meio disso. Não ouse.
Meu peito subia e descia. A dor misturada a raiva... Era sempre tudo tão intenso com aquela mulher!
–Regina, eu não quero me divorciar de você agora.
–Agora. – bufei assim que repeti sua fala. – Não preocupe, Emma, eu não preciso do seu maldito dinheiro.
–Agora você vai jogar na minha cara que ganha mais do que eu? – ela explodiu.
–O quê? – indaguei.
–Exatamente! Eu trabalho muito mais que você e mesmo assim quem tem uma conta com mais zeros? Quem é que sempre tem que assumir as contas mais pesadas da casa? Quem fica mimando as crianças com presentes e faz todas as suas vontades? Você! É claro que eles vão preferir você a mim.
E eu não me aguentei. Num segundo eu bufava, no outro minha mão estava em sua face. O tapa foi forte, tão forte que ela se desequilibrou na baqueta.
–Se os meus filhos preferem a mim, não é porque eu lhes compro, como você tenta fazer em toda data comemorativa que se esquece! Se eles preferem a mim, é porque eu sou presente, porque eu dou aquilo que eles precisam, carinho, atenção, cuidado, companhia, amor!
Ela me olhou de soslaio, uma mão repousada exatamente no lugar que eu tinha esbofeteado. Eu me virei. Ficar perto dela me faria perder todos limites que eu sequer tinha no momento.
–Se você quer tanto falar sobre divisão de bens... – falei antes de ir para o quarto de Mary Louise – você pode fazer suas malas e sair da minha casa.
Caminhei em direção ao quarto da minha pequena e me deitei na caminha que era destinada a ela, chorando copiosamente. Todo o meu corpo doía. Eu mal conseguia respirar. E tudo só piorou quando eu a ouvi passando pelo corredor, o som das rodinhas de sua mala enchendo meus ouvidos. Ela estava indo embora...
“... vou trocar seus retratos pelos de um outro alguém!”
Essa parte da música eu preciso confessar que sequer tentei executar. Estamos divorciadas há quase quatro anos e eu ao menos tentei me relacionar com outras pessoas. A única coisa que fiz foi substituir as nossas fotos de casal por novas fotos com as crianças. Obviamente, deixei fotos de nós quatro nos quadros para que meus filhos não se esquecessem do que nós tínhamos vivido de bom.
Entretanto, nos primeiros quase três anos, eu nunca ficava no mesmo lugar que ela. Eu não conseguia. Nas festas de aniversário das crianças, eu agradecia por ela estar sempre viajando, mesmo sabendo que aquilo machucava meus filhos, principalmente Henry.
Dois anos e meio depois, eu estava num jantar de negócios quando ela apareceu agarrada a uma garota. Eu imagino que ela não me viu, mas eu vi cada beijo, cada toque, o sorriso safado... E eu tive de segurar as lágrimas e o enjoo durante todo jantar.
Ruby, a nossa amiga em comum, me confessou que Emma tinha tentado um encontro, mas que apesar do sexo ter sido bom, a minha ex-esposa alegou não chegar aos pés do que tínhamos, e que as conversas não eram inteligentes e prazerosas como as que tinha comigo. Por segundos eu fiquei feliz. Sim! Muito feliz! Mas depois aquela sensação de que ela tinha perdido tudo aquilo por negligência dela própria... Me sufocou.
–Você ainda a ama, não é? – Ruby indagou enquanto eu bebericava um pouco no meu café.
–Mais do que eu gostaria, Ruby – admiti.
A primeira vez que nós nos encontramos no mesmo lugar foi na festa de onze anos de Henry. Por incrível que pareça, ela tinha adiado uma viagem de negócios apenas para estar ali, na festa do filho. Eu me assustei quando a vi entrando num belíssimo vestido rosê soltinho. Mas nada foi mais lindo que os olhos do meu Henry brilhando quando cruzaram com o rosto da mãe. Ele correu em direção ao abraço dela com um sorriso tão genuíno que eu não pude deixar de sorrir junto.
É claro que a foto em que eles estavam dentro daquele abraço foi para um porta-retrato e que Henry deu uma chance para que ela se aproximasse dele novamente. Dessa vez, ela não desperdiçou a chance e nos últimos meses tem sido uma mãe melhor. Isso também fez com que eu aceitasse que ela voltasse a ser próxima. Uma vez ao mês, inclusive, ela almoçava na minha casa para que Mary Louise soubesse que nós éramos mães deles antes de qualquer coisa. E ela ficava extremamente feliz.
“Meu bem, vamos ter liberdade para amar à vontade, sem trair mais ninguém!”
–Cada dia que se passa eu fico mais abismada com o quão linda você é, Regina – Ruby, minha agora cunhada, disse.
Bom, nesse momento eu estou na cerimônia de casamento dela com minha irmã. Um vestido longo, azul royal, frente única com uma fenda enorme e um atraente decote envolvia meu corpo. Meus cabelos estavam presos num penteado clássico e perfeito, deixando alguns fios encaracolados soltos, minha nuca exposta e minha franja toda para o lado esquerdo, num cacho impecável. Eu optei por um batom vermelho, olhos levemente esfumados, jóias delicadas, o perfume marcante de sempre.
–Obrigada, cunhadinha – falei ao abraçá-la. – E, novamente, parabéns. Cuida bem da minha desmiolada favorita.
–Pode deixar. Eu vou cuidar muito bem dessa ruiva – disse sorridente.
–Você está tentando conquistar alguém aqui? – foi minha irmã quem disse assim que eu larguei sua, agora, esposa.
–Você sabe que não – falei puxando-a para um abraço.
–E reconquistar alguém? – jogou.
Revirei os olhos.
–Cala a boca, Zelena. Faça a minha melhor amiga feliz, okay? Ou então serei obrigada a deserdar você – tratei de mudar de assunto.
Zelena se afastou e insistiu:
–Você sabe que eu sempre fui muito bruta com ela, mas não posso ignorar o fato de ela estar tentando melhorar por vocês. E sobre a Ruby, eu sempre soube que você preferia ela a mim.
Eu gargalhei e deixei um leve beijo em sua testa.
–Fique tranquila. E sobre Emma, ela está mudando pelos filhos. Inclusive, eles estão se divertindo demais para virem até aqui dizer oi.
Zel sorriu e sussurrou:
–Saiba que se, por um acaso, você quiser tentar de novo, terá meu apoio e meu colo. Agora tira essa raba gostosa da fila que eu tenho mais votos para receber.
Gargalhei novamente e saí. Estava na mesma mesa das noivas e de seus pais. No caso de Ruby da avó. Devido ao trabalho de Ruby na área da música, muitos músicos estavam cantando seus maiores sucessos no palco disposto ali. Nós apreciávamos as canções e performances. Papai me contava sobre os novos bezerros que tinha nascido há pouquíssimos dias, o que o deixava extremamente animado, mesmo que eu não entendesse muita coisa. Foi quando eu ri e encostei o braço em seu ombro, que ela chegou com uma taça de champanhe em mãos.
–Licença. Henry, o senhor me cede a mão da sua filha mais bonita para uma dança? – pediu, um sorriso encantador nos lábios que eu tanto sentia falta.
–Se ela quiser, claro! – falou enquanto seu polegar fazia um carinho em minha mão.
Emma voltou seu olhar para mim, os olhos pidões brilhando, implorando por uma dança.
–Uma dança apenas, Regina. Não vou arrancar pedaço... A não ser que você queira, claro... – a última parte ela disse baixinho, aquele sorriso lascivo que eu gostava nos lábios.
Revirei os olhos, bufando em seguida. Me levantei lentamente, ela ofereceu a mão para mim. Encarei seu gesto por alguns segundos, dividida entre aceitar e simplesmente ir para a pista de dança. Okay, segunda opção, Regina. Caminhei rebolando um pouco mais pelo caminho até a pista. No mesmo momento vi Marisa Monte subindo ao palco. Emma sabia da minha admiração por aquela mulher. Meu pai, latino, me ensinou espanhol e, ao perceber que eu tinha uma facilidade tremenda para aprender novos idiomas, me deixou escolher outros dois para que eu tivesse aulas particulares. Escolhi francês por causa da minha futura profissão e português, porque era a língua mais linda do mundo aos meus ouvidos.
A cantora desejou boa noite e avisou que a primeira música não seria em inglês por um motivo especial. Eu cheguei ao centro da pista que se encontrava razoavelmente cheia, Emma ao meu lado.
–Eu pedi essa música para ela porque sei que é a sua favorita... – disse enquanto passava a mão pela minha cintura. – Em troca eu gostaria que você a traduzisse para mim, como fazia com as músicas em francês.
Suspirei. As lembranças de nós duas dançando no meio da nossa sala, os braços dela rodeando o meu corpo de forma amorosa, seu queixo em meu ombro enquanto eu traduzia a música roucamente, de forma proposital, ao pé do seu ouvido. Eu não estava pronta para aquilo. Para reviver um dos nossos hábitos favoritos quando éramos felizes no nosso casamento. Seria mais do que o meu limite permitiria.
Olhei para ela, meus olhos tremendo de hesitação. Minhas mãos ficaram geladas, meu coração acelerado... Ela podia me pedir tanta coisa, por que justamente aquilo? Por quê? Olhei ao redor e vi os olhos azuis caribenhos de Zelena. Ela sorriu lindamente para mim e assentiu, me encorajando, como se soubesse exatamente o que Emma tinha me pedido. E tudo fez sentido. Ela sabia sim.
Respirei fundo e passei meus braços ao redor do pescoço de Swan. O calor do seu corpo me fez arrepiar da cabeça aos pés.
{Play: Depois – Marisa Monte}
Uma bateria melodiosa anunciou o início da música, e a voz suave e calma de Marisa inundou minha alma. Emma encostou o queixo em meu ombro e eu puxei o ar fortemente, criando coragem para começar a tradução. Seus braços apertaram ainda mais meu corpo enquanto ela começava a me conduzir na dança.
Involuntariamente, a minha voz saiu rouca como sempre acontecia quando nós fazíamos aquilo. Eu traduzi cada verso com todo o sentimento que eu tinha no peito. E não eram poucos... Eram muitos, quase me sufocavam.
“Quero que você seja feliz! Hei de ser feliz também!”
Meus olhos se inundaram de lágrimas. Ela não tinha conseguido ser feliz, eu muito menos! Quem eu queria enganar passando aquela pose de mulher divorciada que não se importava com o que a ex fazia, que não sentia falta, que estava completamente bem e plena? Eu sentia falta de Emma em cada mísero momento da minha vida. Eu sentia falta até da falta dela às vezes. Aquilo era surreal. Como eu podia amar alguém daquela forma?
Eu fui feliz com ela. Feliz de verdade. E sei que contribuí para sua felicidade também! Eu senti isso em cada sorriso que ela me deu nesse período.
“Quero que você seja melhor! Hei de ser melhor também!”
Ela tinha melhorado. Eu tinha acompanhado sua evolução nos últimos meses. Ela era uma mãe melhor, mais presente. Inclusive, ela estava sendo mais presente até na minha vida. Lembro claramente da noite em que eu tive uma febre altíssima e Henry, preocupado, ligou para ela. Em vinte minutos uma Emma cuidadosa fazia um chá para mim na minha cozinha. Ela passou a noite me velando, medindo a minha temperatura, cuidando de mim como fazia nos anos felizes.
A ausência dela tinha me feito melhorar também. Eu era mais independente agora. Mais livre. Mais autossuficiente. Mais eu.
“Quero que você viva sem mim! Eu vou conseguir também!”
Apesar de termos tentado por quase quatro longos anos, não parecia ser possível vivermos uma sem a outra. Não por causa dos nossos filhos. Não! Por nós! Abraçada a ela, ali, eu notei como nossos corpos se encaixavam de um jeito único, completamente nosso. O meu corpo não conseguiria se encaixar em outro daquela forma. Nenhum outro corpo seria capaz de despertar aquele turbilhão de reações no meu. Nenhuma outra mulher seria capaz de me fazer sentir o que sinto por Emma. Eu não amaria outro alguém como a amo.
“Quero que você seja feliz! Hei de ser feliz também... Depois...”
Assim que sussurrei a última palavra ela beijou meu ombro, subindo os lábios para o meu pescoço. Suas mãos quentes em minhas costas nuas traçavam caminhos que pareciam brasa pela minha pele. Fechei meus olhos fortemente, querendo sair daqueles braços, mas sem nenhuma força para tal.
{Play: Ilusão – Marisa Monte}
Uma nova música se iniciou e ela sussurrou:
–Essa eu pedi porque durante esses quatro anos não houve uma noite sequer que eu não tenha a escutado enquanto pensava em você, enquanto eu percebia o que tinha deixado ir, o que tinha perdido. Eu nunca fui boa com relacionamentos, Regina. Não foi à toa que você foi a minha segunda namorada. Eu nunca tive um modelo de relacionamento saudável, você sabe – fez uma pausa, as unhas curtas arranhando de leve a pele das minhas costas. Me arrepiei toda. – E eu tentei seguir depois que você se foi. Eu tentei, Regina! Eu juro que eu tentei. Mas eu não consegui.
Ela se afastou o suficiente para que nossos olhos se cruzassem.
–A sua música é cantada por alguém que conseguiu deixar o amor ir, que deseja felicidade para o amor, que sabe que é melhor a separação... Eu não sou essa pessoa, Regina. Eu não sou! – Seus olhos se encheram de lágrimas. – Eu não sou a pessoa que pode existir sem você. Esses quatro anos foram... Meu deus! Eu só estou viva porque eu queria viver esse momento. E eu preciso que você entenda que eu nunca te traí. Eu não seria capaz! Eu traí a mim quando te deixei partir! Eu não deixei de te amar. Eu não me afastei por ter repulsa de você, eu não te deixei sozinha por falta de amor...
Ela suspirou, uma lágrima rolando de cada olho. Uma lágrima também rolou por minha face.
–Eu nem posso dizer o motivo de eu o ter feito. Droga! – Outras lágrimas desceram. – Eu só queria que você soubesse que nesses quatro anos eu percebi todas as coisas erradas que fiz. Inclusive eu tenho todas elas anotadas num caderno. E... Eu sei que me dar uma chance é sinônimo de uma possível decepção, mas eu deixei você ir fácil demais há quatro anos, quando me pediu aquele divórcio. Eu achei que deixando você ir, nós seríamos felizes. Eu seria feliz ao te ver feliz. Mas a gente sabe bem, aqui dentro – colocou minha mão em seu peito – nós não estamos completamente felizes. Não como nós já fomos. E eu sei que podemos ter aquela felicidade de volta.
Ela puxou o ar de forma desesperada enquanto eu apenas absorvia tudo aquilo. Emma me queria de volta?
–Eu estou tentando mudar por mim, mas minha maior força é você, são nossos filhos. Eu finalmente tive coragem de entrar numa terapia, está sendo incrível e... – sua mão pousou no meu rosto – eu sinto que estou pronta para fazer tudo do jeito certo agora, Rê. Isso não quer dizer que eu nunca vou errar, mas quer dizer que eu vou tentar até o fim acertar, que eu vou dar o meu melhor para que a gente possa ter aquela nossa alegria de volta. – Ela encostou a testa na minha, não segurava mais as lágrimas. – Eu quero o nosso casamento de volta, Regina. Eu quero acordar de madrugada com os seus pés gelados nos meus. Quero sentir o cheiro daquele café que só você é capaz de fazer todas as manhãs. Quero sentir seu corpo no meu durante uma sessão de cinema no sofá da sala. Quero levar seu café sem açúcar no escritório quando você estiver trabalhando numa coleção nova. Quero inventar alguma brincadeira boba com as crianças só para que você ganhe uns minutos a mais na conferência de e-mails. Quero ouvir você ronronar para mim toda vez que eu te der seu abraço casa. Quero ouvir você gritar meu nome quando eu deixar o leite fora da geladeira, ou a pia transbordando de louças sujas. Quero te encher de presentes, vestidos e joias que te deixem ainda mais perfeita para um jantar a dois. Quero ensaboar suas costas lentamente, massageando em seguida para você relaxar. Quero ouvir você me dizer obscenidades na cama, quero ouvir você gemer de forma manhosa o meu nome... Eu quero ver o universo que são seus olhos todos os dias quando eu acordar... Eu quero você de volta, meu amor. Eu... Eu...
Puxei Emma para um beijo cheio de sentimentos enquanto palmas ecoavam para Marisa Monte pela linda canção.
{Play: O Que Você Quer Saber de Verdade}
A minha alma parecia completamente leve de novo. Um pedaço de mim que faltava tinha se encaixado novamente. Emma Swan estava nos meus braços novamente. Ela se lembrava das pequenas coisas. Ela se lembrava! Ela tinha plena consciência do que eu sentia falta, do que eu amava nela, das nossas particularidades, das pequenas ações que deixavam minha vida colorida. Ela tinha entendido quais eram as minhas necessidades.
Meu coração bateu desenfreado, como sempre acontecia quando eu a beijava. Suas mãos alisavam cada parte exposta do meu corpo num carinho delicado. Ela queria me sentir. Como eu tinha sentido falta daquele toque, daquele beijo! Segurei os cabelos de sua nuca, minha língua brincando com a dela. Emma sorriu durante o beijo. Ambas estávamos completamente felizes. Por anos eu esperei que ela me quisesse de volta, mesmo que no fundo eu tivesse receio de ser machucada novamente... Mas meus desejos tinham se tornado realidade. Ela sentia a minha falta, ela estava ali, querendo tentar novamente.
O ar nos faltou. Ela deixou um selinho demorado em meu lábio inferior enquanto eu tentava conter meu sorriso enorme. Segurei em seu queixo e, olhando no fundo de seus olhos, avisei:
–Quero deixar muito claro que isso não significa que você vai voltar para casa imediatamente... Você vai ter que ralar muito para me ter de volta na sua vida como esposa... Inclusive me pedir em casamento de novo – meu tom tinha uma braveza inexistente.
Ela gargalhou e me puxou para outra série de beijinhos estalados.
–Se você quiser o mundo, eu sou capaz de te dar, meu amor. E não se preocupe. Eu vou te cortejar do jeito que eu sei que você gosta.
Nos olhamos nos olhos, o mundo parecia ter parado apenas para nós duas. Emma sorriu e, enquanto uma lágrima solitária de felicidade descia por sua face, sussurrou para mim:
–Regina Mills... Eu te amo. Eu te amo demais! Eu te amo mais que tudo no mundo!
O sorriso que se abriu em meus lábios iluminou os olhos de Emma.
–Emma Swan... Eu te amo. Eu te amo demais!
Fim.
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