A cidade de Auckland amanheceu com o céu nublado, como se até o tempo compreendesse o fim de uma era na vida de SN. Ela sentia o peso do término, da despedida e da solidão iminente. O silêncio da suíte do hotel ecoava em seus pensamentos, relembrando os últimos três anos que passou ao lado de Daniel. A dor da traição ainda ardia em seu peito, mas ali, sozinha, ela não podia evitar as memórias que invadiam sua mente, intercalando momentos de amor e desilusão.
Enquanto se preparava para sua última noite na Nova Zelândia, SN não pôde evitar o passeio pelas lembranças. Aquele país que, um dia, simbolizara o começo de uma nova vida agora lhe parecia distante e indiferente, mas as marcas de sua história com Daniel estavam em cada esquina. Lembrou-se do primeiro encontro que tiveram após chegarem ao país, no restaurante à beira-mar onde ele havia confessado seus sonhos e ambições para o futuro. Os sorrisos cúmplices, as conversas sobre negócios e os planos para a expansão da empresa eram agora fantasmas do que havia sido uma parceria.
Ela abriu a pequena caixa de joias que trazia consigo desde que se mudara para a Nova Zelândia. Dentro, estavam os presentes que Daniel lhe dera ao longo dos anos. O delicado colar de ouro que ele comprou no primeiro aniversário juntos. A pulseira com pequenos pingentes representando cada país que haviam visitado. SN pegou cada peça, segurando-as por um momento antes de devolvê-las à caixa. A dor que sentia não era apenas por perder Daniel, mas também pela perda do que acreditava ser uma história de amor verdadeira.
Sentada à janela do quarto, SN observava a cidade que uma vez foi seu lar temporário. Lembranças de viagens pelo interior da Nova Zelândia, das caminhadas pelos parques e das noites em frente à lareira com Daniel passavam como um filme em sua cabeça. Havia amor, sim. Havia momentos de paz. Mas havia também o inevitável desgaste, a traição que não podia ser ignorada.
Naquela noite, ela não conseguiu dormir. A solidão a abraçava de maneira sufocante. O travesseiro que uma vez compartilhara com Daniel agora parecia pesado demais, como se simbolizasse o fardo que ela carregava. O coração estava partido, mas sua mente estava firme em uma certeza: não havia mais volta.
Pela manhã, SN levantou-se devagar, sentindo o corpo cansado e a alma esgotada. Vestiu-se com uma perfeição quase fria, escolhendo o melhor conjunto de roupas que possuía. Queria que sua despedida fosse marcada pela força, não pela dor. Seu reflexo no espelho lhe mostrava uma mulher forte, mas seus olhos contavam outra história, uma de tristeza profunda e desesperança. Ainda assim, ela sabia que sua jornada agora era seguir em frente.
Quando estava pronta para sair, pegou sua aliança. O anel que outrora simbolizava um futuro ao lado de Daniel agora parecia sem valor. Ela o segurou por um longo momento, olhando para a delicadeza do objeto e tudo o que ele representava. Com um último suspiro, SN abriu a mão e deixou a aliança cair, vendo-a rolar lentamente até parar no chão do quarto. Foi um gesto definitivo. A última peça de sua vida com Daniel estava para trás.
SN fechou a porta do quarto sem olhar para trás, caminhando decidida em direção ao elevador, com as malas nas mãos e o coração repleto de emoções conflitantes. Seu destino agora era o aeroporto, o Brasil, o Rio de Janeiro.
---
A viagem de volta foi longa e exaustiva. SN tinha optado por não usar os recursos que conquistara ao lado de Daniel, como o jato particular da empresa. Ela queria fazer aquele trajeto como uma mulher comum, voltando às suas origens. O voo, com uma escala interminável, parecia um símbolo de sua própria transição, do término de uma vida e o início de outra.
Quando finalmente aterrissou no Rio de Janeiro, SN suspirou profundamente ao sentir o calor da cidade. A música típica do aeroporto e o movimento agitado das pessoas a envolviam em uma sensação nostálgica. Ela pegou o celular e, sem pensar duas vezes, enviou uma mensagem para Pedro.
“Cheguei. Estou de volta”, escreveu, sabendo que ele ficaria aliviado.
Pedro, seu amigo de infância, fora seu confidente durante todos esses anos. Apesar de sua insistência para que ele se juntasse a ela na Nova Zelândia, Pedro recusara. Ele amava o Rio de Janeiro de uma maneira que SN, até então, não entendia por completo. E agora, ao retornar, SN compreendia. Pedro sempre soubera que sua felicidade estava ali, nas raízes que jamais abandonou.
Era um consolo saber que ele estaria à sua espera, sem julgamentos, sem perguntas dolorosas. Pedro sempre fora aquele amigo que entendia seu silêncio, suas dores, e sua necessidade de espaço. Ao mesmo tempo, ele nunca hesitara em expor sua opinião, e SN sabia que ele fora contra sua ida para a Nova Zelândia desde o início.
Ao caminhar para fora do aeroporto, SN sentiu o vento quente do Rio acariciar sua pele. O céu estava azul, e a paisagem da cidade maravilhosa se revelava como uma pintura diante de seus olhos. O Cristo Redentor, as montanhas, o mar... tudo parecia mais vivo, mais real do que qualquer memória que ela guardava.
— A música “O Rio de Janeiro continua lindo” nunca fez tanto sentido quanto agora — murmurou para si mesma, sorrindo de leve.
SN chamou um táxi e entrou, dirigindo-se à Barra da Tijuca, onde já havia providenciado o aluguel de um apartamento. O motorista, como todos os cariocas, era falante e sorridente, mas SN estava imersa em seus pensamentos. Enquanto o carro se movia pelas ruas da cidade, ela não podia deixar de sentir que estava exatamente onde deveria estar. O Rio a chamava de volta, com seu caos, sua beleza e sua promessa de recomeço.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.