P.O.V Tris
Depois de um interminável tempo que se recusava a passar, o médico entra na sala de espera e nos encara por alguns segundos. Não sei se espero por alguma boa notícia ou se já me conformei com a situação; não sei mais o que sentir, nem ao menos o que pensar. Tudo se tornou um pesadelo de novo. Há anos eu havia ido em bora da cidade e forjado a minha morte para que as pessoas que eu amo não se machucassem, mas parece que eu carrego uma maldição, e todos ao meu redor estão infectados e dispostos a se ferirem de qualquer maneira.
Sinto vontade de chorar, mas as minhas lágrimas simplesmente evaporam, e tudo o que eu consigo sentir é a dor. Nas últimas horas, meus sentimentos foram uma mistura de felicidade e tristeza, êxtase e lamento, mas nada se compara a perda. Talvez, mesmo depois de tudo o que foi dito entre Caleb e eu, eu não suporte conviver sem a sua presença. Não sei se o perdoei e se posso zelar pela sua memória, se posso apagar sua traição depois de tudo que eu havia feito para salvá-lo, não sei se posso isolar as más recordações e lembrar dele como meu irmão mais velho que me enchia de amor e proteção.
Parece que, depois de passar por inúmeros ataques e correr riscos, nos sentimos imortais, como se você fosse a sua própria luz e apenas precisasse vê-la para descobrir o verdadeiro sentido da sua vida. Mas não é só isso. Se você é incapaz de enxergar algum ponto pacífico e calmo em alguém, sua luz também irá desaparecer, lentamente, a cada dia, a sua fonte de quietude irá se corroer e você nem se dará conta de estar perdendo-a.
Não me sinto mais como um ser humano, me sinto radioativa. E tenho medo de que as pessoas ao meu redor se desintegrem ao meu toque.
- Temos notícias – o médico diz, interrompendo meus pensamentos repugnantes.
- Ele está bem? – Susan se adianta, se levantando. Percebo que os nós de seus dedos estão tão pálidos quanto seu rosto, como se tivessem abduzido qualquer vida daquela bela mulher. Me pergunto se pareço tão descorada quanto ela.
- Acabamos a cirurgia e implantamos alguns aparelhos que podem ajudar na cicatrização – ele diz, e não consigo saber se estou aliviada em saber que ela não morreu na cirurgia ou se estou receosa com o que o médico irá dizer. – Caleb perdeu muito sangue e foi uma cirurgia delicada. Ele está desacordado e respirando com ajuda de aparelhos.
- Mas ele vai se recuperar? – pergunto, minha voz saindo estranha até para os meus próprios ouvidos.
- Estamos tentando fazer com que seu organismo não rejeite os medicamentos e aparelhos, mas tudo pode acontecer na próximas horas – o médico responde calmamente.
- Podemos vê-lo? – pergunto, tentando desfazer o nó em minha garganta.
- Uma de cada vez – ele responde.
Susan e eu nos entreolhamos, um olhar disputado como se aquela escolha definisse a vida de cada uma. Cedendo, balanço a cabeça e indico para que ela vá com o médico. Não achei que eu tinha o direito de roubar essa oportunidade de Susan, já que Caleb só está entre a vida e a morte por minha causa.
- Ei, ele vai ficar bem – Christina diz, me confortando.
- Se eu ao menos tivesse ouvido o que você disse – começo, lembrando da sugestão de Christina para que não fossemos até a casa de Caleb.
- A culpa não é sua – ela diz, repousando sua mão em meu ombro. – Não foi você quem atirou contra ele.
- Mas foi por minha causa. Eu não atirei mas eu fui o gatilho para desencadear tudo isso.
Minha garganta se fecha e tento respirar profundamente enquanto o ar de meu pulmões parece não ser mais suficiente para alimentá-lo.
- Ele não devia ter entrado na minha frente – continuo. – Não faria a menor diferença.
- Pare com isso, Tris – Christina me repreende. – Se você acha que ninguém sentiria a sua ausência, acho melhor você parar de falar.
- O que acontecerá com as pessoas ao meu redor? – pergunto, depois de algum tempo. – Todas serão atacadas até que não reste mais ninguém para me atingir?
- Bem, Nita está morta, o que significa que levará um tempo para que descubram toda a situação. O que também nos dará tempo para pensar a respeito.
- Beatrice – eu digo, alarmada. – Ligue para Tobias. Diga para eles ficarem em algum lugar seguro, nem que precisem sair da cidade.
A expressão de Christina se torna indiferente, como se o pensamento de que Beatrice também poderia ser um alvo fosse absurdo. Mas, quando ameaço tomar o celular de sua mão, ela se retira da sala para conversar com Tobias. Talvez seja a chance de eu me redimir para mim mesma salvando a vida das pessoas que amo.
Christina demora, mais do que eu gostaria e, logo quando decido sair para procurá-la, ela abre a porta silenciosamente guardando o celular no bolso.
- Desculpe – ela começa. – Tive que explicar toda a história para ele e...
- Deixe eu adivinhar – digo, interrompendo-a. – Ele achou a história maluca, descabida e totalmente sem sentido e não vai ceder. Acertei?
- Na verdade, não – ela diz, para meu total espanto. – A notícia já chegou aos noticiários e ele acredita completamente na sua teoria. Ele deixará Beatrice em outro apartamento com alguém de confiança. Ele vai usar a passagem dos fundos para não ser visto.
- Isso nos dá menos tempo – eu digo, rangendo os dentes em nervosismo. – Se isso está nos noticiários, os mandantes com certeza já acharam o corpo de Nita, então eles já sabem que estamos aqui.
- Tobias está vindo pra cá – ela diz, calmamente.
- O que? – exclamo, indignada. Estou sendo ameaçada e ele está a caminho? Posso sofrer um ataque a qualquer momento e quanto menos pessoas estiverem ao meu redor, menor serão as consequências.
- Já tentou dizer não para ele? – ela diz, inconformada.
Antes que eu pudesse retrucar, Susan surge da porta indicando para que eu acompanhe o médico que espera na porta. Meu coração acelera, batendo tão forte que meu peito dói. Ouço minha respiração ficando cada vez mais pesada, cada vez mais alta. Estou quase ofegando quando o médico para em uma das portas brancas e gira a maçaneta, exibindo um leito totalmente isolado e privado. Meus estômago afundou quando o vi, deitado e inconsciente, parecendo tão inofensivo que quase me lembrei de quando éramos crianças. Parte de seu rosto está coberto pela máscara de ar, mas ainda posso ver o contorno de seus olhos, a cor de sua face e a inocência de um anjo estampada ali.
Me aproximo do leito quando ouço o clique da porta. Me viro rapidamente, assustada, mas percebo que não há ninguém no quarto, somente Caleb e eu. Evito olhar para seu peito e ver as terríveis cicatrizes que estampam sua pele branca, e foco apenas em seu rosto. Não me lembro a última vez que o vi tão calmo e pacífico, parecendo pertencer a outro mundo, onde não existe dor. Pequeno pinos brotavam de seu peito sendo alimentados por fios ligados a uma máquina silenciosa; na tela acima, mostrava seus batimentos cardíacos.
Acariciei o pouco espaço livre de seu rosto com a ponta dos dedos, como se eu estivesse memorizando seus traços para que eu nunca me esquecesse de como ele é. Agarro sua mão e a pressiono contra meu rosto enquanto as lágrimas escorrem sem parar. Agora eu sei, eu posso, eu quero.
- Eu te perdoo, Caleb – sussurro. – Eu te perdoo, meu irmão.
Entrelaço meus dedos com os dele e beijo a superfície de sua mão. Sua pele macia contra meus lábios secos cheios de dor. Não se se foi alguma invenção, ou alguma forma de meu cérebro me dar um pouco de conforto, mas sinto uma leve pressão em minha mão, um calor sobrenatural percorrendo a palma da minha mão. Encaro seu rosto por alguns segundos mas não vejo nenhum sinal de que ele poderia estar acordado, e, antes que eu pense em alguma outra possibilidade, um enfermeiro desconhecido bate levemente na porta, me avisando que meu tempo acabou.
Repouso sua mão sobre seu corpo e caminho em direção a porta. Cambaleio um pouco para o lado mas logo recomponho meu equilíbrio, e esfrego meus olhos para que minha visão não fique mais turva do que já está. Antes que a porta se feche por completo, olho para trás por um instante, desejando poder vê-lo novamente e gravar aquela imagem em minha memória. Ao menos se esse for o fim, sentir o calor de seu corpo já me trouxe alguma paz.
Com sua imagem em minha cabeça, começo a caminhar no sentido oposto do que vim, sendo guiada pelo enfermeiro. Seu rosto e cabeça estão cobertos por máscaras, o que me fez perguntar por que eu não precisei usar algum desse adereços. Minha cabeça não funciona direito; tento esclarecer alguns fatos. Encaro o homem forte por alguns instantes e percebo o motivo de toda aquela estranheza. Começo a ficar desesperada, preocupada com Christina e com a possiblidade de que o sangue grudado na barra do jaleco do enfermeiro seja dela.
Meus instintos me dizem que aquilo não é um bom sinal, e logo penso em correr para o sentido oposto, mas vejo um alto relevo se sobrepondo do jaleco.
- Sinto muito pelo seu irmão – ele diz enquanto caminhamos.
- Acho que não sente – digo, e, de imediato, jogo o peso do meu corpo contra ele, o que faz com que o enfermeiro se choque contra a parede. Pego a arma enfiada no cós de sua calça e a aponto para sua cabeça, deixando-o sem reação.
- Não se mexa – eu digo, entredentes. – Quem mandou você aqui? – Puxo para baixo a máscara, revelando um sorriso ácido.
- Continua audaciosa não é mesmo, Tris? – ele diz, debochando.
- Quem te mandou aqui? – digo rangendo os dentes o mais forte que consigo.
- Vejo que já refez as amizades e até refez seu relacionamento – ele diz, sorrindo. Meu corpo se inunda de raiva em pensar que ele fez algo com Christina e Tobias. Pressiono cada vez mais forte a arma contra sua cabeça, fazendo com que a região fique vermelha.
- Eu não vou perguntar de novo – eu digo, pressionando com cada vez mais força.
- Vai ter que me matar – ele diz, se aproveitando do meu abatimento.
- Não seja por isso – eu digo, disparando a arma contra a sua cabeça.
Seu corpo cai, despencando para o chão em um barulho estrondoso. Limpo os respingos de sangue do meu rosto, e logo coloco minha mente para trabalhar. Arrasto o corpo inerte do homem para uma sala vazia, e começo a despi-lo. Paro um pouco para recuperar o fôlego e tomar forças para levantar parte de um homem de oitenta quilos. Retiro o jaleco, a máscara e a touca e as visto, deixando apenas meus olhos a vista. Coloco a arma no bolso de fora do jaleco para que fique de fácil acesso em uma emergência.
Saio da sala olhando para os dois lados do corredor para me certificar de que estou sozinha. Caminho rapidamente pelos corredores até que começo a ouvir um barulho abafado. Diminuo o ritmo dos meus pés até que estou na sala de espera. Meu ar escapa por alguns segundos até que consigo respirar novamente, digerindo a nova pintura vermelha nas paredes.
P.O.V. Tobias
Tentando disfarçar a minha apreensão, desvio do assunto no qual Beatrice insiste em estender. Ela se nega a dormir, como se estivesse barganhando minha resposta por um pouco de paz. Posso sentir o entusiasmo em sua voz e na forma que se comporta, mesmo não olhando em seus olhos.
- Como você a conheceu? – ela pergunta depois de uma pausa de alguns segundos gloriosos.
- Tris não disse que era um conto de príncipes e princesas? – pergunto, tentando não expor para ela o que foi Chicago antes de tudo acontecer. De alguma forma, eu não quero que ela saiba de tudo pelo que passei, não quero que ela saiba como as coisas eram difíceis, não quero vê-la sofrer.
Beatrice balança a cabeça suavemente, afirmando, então tento deixar o mais verdadeiro possível, sem precisar incluir detalhes.
- Ela caiu em uma rede, de uma grande altura, então eu a ajudei a se firmar – eu digo, me lembrando daquele pequeno vulto cinza, assustada, porém encorajada. Antes, apenas me lembrar desse episódio me causava uma dor incalculável, como se estivessem arrancando meu coração com um faca. Mas agora, parece que todas as minhas dores se esvaíram, me deixando leve e relativamente feliz.
- Qual altura? – ela pergunta, curiosa.
- A altura de um prédio – eu digo, sorrindo.
Me livrando de meus devaneios, a acomodo na cama e ligo a pequena televisão acomodada em um móvel de seu quarto na tentativa de que ela se distraia um pouco. Antes que eu mude o canal, vejo de relance uma matéria urgente.
- O corpo de uma mulher foi encontrado em uma casa afastada da cidade. De acordo com as autoridades, a mulher tinha por volta de vinte e cinco anos e não morava em Chicago. Sua identidade não foi revelada, e será mantida em sigilo até que os familiares reconheçam o corpo de fato...
Por um instante, paro de prestar atenção no que a repórter diz e me concentro na área exibida na televisão. Algo chama minha atenção, e tenho estranha sensação de que eu já tinha presenciado aquele local antes. Não fora recente, talvez tão distante e insignificante que minhas lembranças ficaram manchadas, como se não tivesse importância. Caleb. Quando esse nome vem em minha mente, meu coração acelera. Tento me convencer de que nada está relacionado, mas algo dentro de mim insiste em me alarmar. Sinto o sangue se esvair de meu rosto e minhas faces ficarem gélidas. Não pode estar acontecendo de novo. E onde está Caleb? Quem é essa mulher? De alguma forma, fico feliz por terem encontrado apenas um corpo.
- Papai? – Beatrice pergunta, claramente preocupada com minha expressão. – O que aconteceu?
Antes que eu consiga encontrar palavras para acalmá-la, sinto meu celular vibrar em meu bolso, e, quando vejo a identificação, sinto uma onda de alívio e medo. Troco rapidamente de canal e digo a Beatrice que apenas fiquei assustado com a falta de segurança na cidade. Dou-lhe um beijo na testa e me retiro do quarto, atendendo o telefone de modo que Beatrice não ouça a conversa.
Christina começa a se enrolar em meio as suas palavras. Sem freios ela diz infinitamente que posso estar correndo perigo.
- Christina, onde você está? – pergunto, tentando interromper a torrente de palavras.
- No hospital – ela diz, tentando acalmar a respiração.
- Hospital? – disparo, pensando no pior. – Onde está Tris?
- Aqui, no hospital – ela responde. Essas palavras são suficientes para me deixar mudo, com um nó na garganta e no peito. – Não! Não desse jeito. Ela está na sala de espera. Caleb foi baleado.
- O que vocês foram fazer na casa de Caleb? – pergunto, me sentindo aliviado por Tris estar bem, ou parcialmente bem.
- Isso não importa – ela diz, impaciente. – O que importa é que foi Nita quem efetuou os disparos. Os tiros, na verdade, eram pra atingir a Tris, só que Caleb a protegeu com seu corpo e agora está em estado grave, quase sem chance de sobrevivência.
- Por que ela faria isso? – pergunto, sem entender a razão de Nita tentar matar Tris.
- Tobias, acho que teremos tempo para conversar, mas você e Beatrice podem estar correndo perigo – ela diz, abaixando seu tom de voz. – Preciso que saiam do apartamento e vão para um lugar seguro.
- Encontro vocês em vinte minutos – eu digo, e, sem dar chance para que ela retruque, desligo o telefone.
***
Deixo Beatrice com Jade, o que não seria um problema já que esse era seu trabalho temporário. Ao menos eu tenho certeza de que ninguém irá procurar Beatrice no apartamento de Jade. Explico para Beatrice que vou precisar sair durante algumas horas e preciso de que alguém cuide dela para evitar que a febre volte. Depois de alguma relutância em me deixar partir depois da minha estranheza, ela me permite sair apenas com a promessa de que iríamos ao fast-food mais próximo quando eu voltasse. Afirmando, a abraço intensamente e caminho o mais rápido que posso.
Entro no carro e olho ao meu redor para me certificar de que não fui seguido. Esfrego meus olhos e respiro fundo. Minha mente ainda trabalha na junção das pontas soltas, as quais eu tento unir mesmo com poucas informações. Ligo o motor e dirijo o mais rápido que posso, ignorando alguns sinais vermelhos.
Enquanto as perguntas rodeiam a minha mente, chego ao estacionamento do hospital e deixo o carro em uma vaga qualquer antes de correr para a porta da frente. Corro para a sala de espera, e quando estou próximo, tento tornar minha expressão mais firme para o que está por vir.
Abro a porta com cuidado e vejo Christina sentada com suas mãos sobre a barriga. Sinto sua tensão apenas ao vela, a apreensão estampada em seu rosto. Seus olhos estão vermelhos e sua olheiras mais acentuadas, a última vez em que a vi dessa forma foi quando olhávamos para um ambiente metálico com enormes gavetas fixadas nas paredes.
Fecho a porta atrás de mim e finalmente ela me encara, se levanta e me abraça.
- Ela foi vê-lo – ela resmunga. – Acho que ambas sabemos que não haverá chances.
- Soube que ele tem um filho – eu digo.
- Ele está na casa de um amigo, sei lá – ela diz, parecendo se confundir com seus pensamentos. – Susan foi para casa para se trocar já que suas roupas estavam praticamente encharcadas.
- Preciso saber – começo, abaixando meu tom de voz pelo súbito interesse do homem que se senta do lado de Christina. – quanto tempo estão aqui?
Christina me olha com estranheza mas eu sustento minha expressão de interesse.
- Eu não sei – ela diz, respirando fundo.
De repente, Christina enrijece e arregala seus olhos abruptamente. Olho para a fenda entre seu braço e sua cintura e vejo um objeto prateado, metálico. Contenho o impulso de me mover, sabendo que, por mais rápido que eu fosse, isso poderia custar a vida de Christina.
- Eu não contava com você, Tobias – ele diz, semicerrando os olhos. – Tomara que você não dê trabalho.
O encaro por alguns segundos e depois desvio meu olhar para a sala. Ao menos não se encontrava quase ninguém no recinto, apenas uma enfermeira, a secretária e um casal amedrontado. Talvez em uma brecha eu consiga domá-lo, penso.
- Onde ela está? – o homem sussurra no ouvido de Christina, fazendo-a encolher. Seus enormes olhos negros continuavam a me encarar, atento a qualquer movimento brusco. – Onde está a querida Tris Prior?
Agora eu entendo o motivo de toda aquela precaução. Eles estão procurando por Tris, para machuca-la. Mas por que isso envolve Beatrice?
- Onde ela está? – o homem continua a pressionar Christina. Ela apenas encara o chão, seu rosto duro como uma pedra, talvez pensando qual seria o próximo passo.
- Por que precisa dela? – pergunto, assumindo a fala de Christina.
- Você ainda a ama? – o homem pergunta ironicamente. – Eu achei que ficaria de luto pelo resto da vida. Você sempre foi fraco.
Meu sangue ferve, mas sou obrigado a ficar imóvel, apenas desejando alguma distração.
- Seu pai não mente em relação a você – ele diz, quase cuspindo suas palavras. – Você falhou, Tobias Eaton, como todas as vezes em que você tentou estabilizar sua vida infeliz.
Antes que eu possa digerir suas palavras e a terrível lembrança de meu pai, algo intercepta meu pensamentos e sei que é a hora. A porta se abre com um solavanco e atrai o olhar do homem por um segundo. É perfeito. Empurro Christina com força no chão e soco a mão do homem até que a arma deslize pelo chão. Jogo o peso do meu corpo em cima do homem até que estou sobre ele, o socando.
De alguma forma, sou jogado contra a parede. Vejo um segundo homem se aproximando enquanto o primeiro se erguia enxugando o sangue que escorria de seu nariz defeituoso. Fico em posição de ataque, como na Audácia, e me preparo para reviver os velhos tempos.
O segundo homem joga seu braço em direção ao meu rosto, mas desvio seu punho com meu antebraço e o soco no estômago. Chuto seu joelho, fazendo-o ceder, bato sua cabeça contra a mesa de vidro onde se encontram cafés, e, aproveitando a brecha, grito para Christina recuperar a arma, mas parte do grito é sufocado pelo peso do primeiro homem, saltando sobre mim. Ele tenta me atingir, mas seguro seu punho, torcendo-o para cima até que ouço o estalar de ossos se partindo. Dou uma cotovelada em seu rosto e ele cai para o lado, me dando a oportunidade de chutar sua cabeça para desacordá-lo.
Quando ergo meu corpo para enfrentar o próximo, ouço o estrondoso barulho do disparo de uma arma. Me desespero. Olho para frente e vejo o segundo homem à minha frente, imóvel, seus olhos esbugalhados me dizem muita coisa. Ele se move para frente, caindo gradativamente, até que seus joelhos não suportam e ele desaba no chão fazendo espirrar sangue ao seu redor.
Atrás do homem, Christina ainda aponta a arma para o mesmo destino que apontou anteriormente, e, me encarando, ela abaixa a arma lentamente. Me aproximo dela e tomo a arma de sua mão. Não sei o quanto Christina ficou abalada com a situação, mas não confio totalmente em seu auto controle.
- Tris – ela sussurra, olhando fixamente em algum lugar atrás de mim.
Olho ao redor à procura de alguém que possa indicar o motivo de seu olhar firme, mas apenas me deparo com um vazio e o barulho de sirenes.
Quando me preparo para correr, vejo uma sombra por debaixo da porta. Aceno para Christina para que ela fique atrás de mim, em guarda. A maçaneta gira lentamente, enquanto eu empunho a arma. Quando a porta se abre, encaro aqueles grandes e vermelhos olhos. Mesmo estando vestida de enfermeira, eu poderia reconhece-la até pelo seu cheiro ou o aroma de seus cabelos.
Ela olha ao redor, assustada ao ver a destruição da sala. Christina corre para abraça-la, e, enquanto meu coração entra em um ritmo aceitável, me viro para acabar com um resmungo que me aborrece.
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