Josh percebeu rapidamente a mudança na atmosfera, minutos antes dele ser raptado pelos barretes vermelhos eram 15:30 da tarde de um dia ensolarado em Nova Orleans, depois do rapto eram 15:37 de um dia nublado. O vento havia começado como uma brisa muito leve, mas agora estava forte o suficiente para balançar pesadas bandeiras e sinos, as nuvens antes inexistentes agora povoavam o céu com um tom pesado de cinza e desciam cada vez mais. Apesar de estar caminhando cercado de criaturas mortais ele sorriu, Thalia estava se preparando para aprontar alguma e ele estaria preparado para qualquer coisa. Então, sem que seus captores percebessem(barretes vermelhos não são nenhum exemplo de inteligência), ele mesmo começou a usar o glamour para induzir mortais e plantar uma mensagem em algumas mentes, algo que seria espalhado rapidamente com ajuda de celulares, as palavras que usou foram "AVISO DE TORNADO".
Os fiéis servos de Mab fizeram-no andar por horas, até o anoitecer antes que finalmente o guiassem na direção de sua adorável avó. Não que ele precisasse de ajuda para encontrá-la, podia sentir o glamour invernal em seus ossos se contorcendo selvagem pela aproximação da Rainha do Inverno.
Ao contrário dos becos sujos e vazios pelos quais estava andando com suas companheiras de viagem, agora caminhava por ruas muito movimentadas em que o barulho da música era quase ensurdecedor, o glamour estava em toda parte, naquele ambiente tão exagerado os feéricos não precisavam se esconder, não havia ninguém bem o suficiente para notar a quantidade absurda de pixie ou quantos nobres fae dançavam no meio da multidão, alimentando-se das emoções.
No centro de tudo aquilo estava ela, Mab exibia toda sua eterna juventude, toda sua maquiagem brilhava, os traços FAE tornavam-na perfeita em beleza e graça, os cabelos negros como um corvo faziam parecer que a pele branca cintilava e havia um coração pintado ao lado da sobrancelha direita.
Ela só sorriu quando os olhos escuros cravaram-se nele, um estonteante sorriso predatório.
— Você finalmente voltou, meu pequeno príncipe…
***
Justine e Ariadne não pareciam se importar muito com a mudança repentina do tempo. Sim, mais uma vez Thalia estava frustrada e furiosa, e é claro que seu temperamento ruim influenciaria a atmosfera, ainda assim as nuvens não pareciam escuras o suficiente para ela.
Podia sentir o crescimento excepcional de uma cumulonimbus, uma nuvem de tempestade, podia sentir cada gota d’água e cada granizo se formando a 2 mil quilômetros acima e aquilo era maravilhoso. Nunca havia se sentido tão forte como naquele momento ou tão segura de si.
Parou de “admirar” o próprio trabalho quando as gêmeas pararam de caminhar subitamente, na frente do que parecia ser uma grande construção abandonada, na verdade uma grande igreja abandonada. A fachada devia possuir pelo menos 30 metros de altura e uma cruz de madeira igualmente enorme era mantida presa na parede acima de um portão enferrujado, embora toda a pintura estivesse manchada ou mofada, a cruz permanecia intacta.
— O lugar é definitivamente este, eu não… entendo… temos certeza que o último resquício do Arco aponta para esta igreja, mas ela parece vazia… — Justine disse.
— Entendi — Thalia quase sorriu, irônica, para as gêmeas, mas se conteve — A primeira coisa a se fazer ao caçar qualquer coisa é ficar atenta a todo tipo de artimanha ou ilusão…
A caminhante do vento estendeu a mão e estalou os dedos, aquele som pareceu reverberar infinitamente pelo ambiente, como ondas na água causadas por uma pequena gota, aquela realidade se dissolveu bem diante dos olhos delas e foi soprada para longe por um vento forte como se fosse névoa.
Todo o quarteirão iluminado deu lugar a outra coisa, algo como um galpão enorme, o cheiro asqueroso que ela sempre sentia que se deparava com um monstro encheu seu nariz com violência, tudo estava bem até que Thalia espirrou.
Algo enorme abriu os olhos na escuridão, olhos vermelhos das veias dilatadas pelo sangue, a cabeça se moveu próxima ao chão arrastando algumas coisa pelo caminho, grande demais. O que quer que fosse, aquilo decidiu se levantar, causando um estrondo de coisas sendo arrastadas ou caindo, deveria ter uns cinco metros de altura, um pescoço longo e a cabeça grande e pesada olhando para baixo.
— O que diabos isso faz aqui?! — Ariadne quase gritou, os olhos dela estavam arregalados.
Thalia correu para se esconder atrás de qualquer coisa, arrastando às duas caçadoras perplexas consigo.
— Ok, tudo bem, o que é isso afinal?
— Nós não deveríamos estar aqui Justine, não somos guerreiras… eu disse que algo ruim aconteceria…
— Seus pressentimentos não passam de pressentimentos Ari-
— Alguma de vocês duas pode me responder que merda é essa atrás de nós?!
— O Catoblepas…
— O que?
— Não sei como ele chegou aqui — as lágrimas quase inundaram o rosto de Ariadne — O lugar do Catoblepas é a Etiópia…
— Pare de chorar sua idiota, você é uma Caçadora de Ártemis, você é uma semideusa, os monstros estão sempre atrás de vocês, cresça! Justine, como matar essa coisa?
— E-eeu não sei, não há muito sobre ele em livros, o único problema são os olhos, encará-lo é fatal para qualquer um, ele também tem escamas em partes do corpo para se defender de ataque-
Um arrepio percorreu todo o corpo de Thalia quando se sentiu observada, uma enorme sombra pairou sobre e atrás delas, Justine rolou para longe e cobriu os próprios olhos da melhor maneira que pode e a própria Thalia deslizou para longe com uma corrente de ar, Ariadne foi a única a ficar parada.
Qual o problema dessa garota? Thalia se perguntou antes de perceber, os olhos de Ariadne estavam vermelhos, cheios de veias dilatadas de sangue que não demoraram a explodir, o grito agonizante da garota veio logo a seguir enquanto ela gaguejava de dor. Justine tampou a boca com a mão para impedir um grito de escapulir da garganta e uma multidão de lágrimas começou a escorrer pelo rosto jovem, o coração de Thalia afundou ali. Teria sido aquele o destino dos membros da Elite? Deixados em um galpão sob os cuidados de um monstro que não podiam encarar sem morrer?
— Eeeeu vejo vocêssss, pe-que-ni-nassss — a voz sussurrante e assustadora do Catoblepas soou — Eeeeu ssssinto a ssssua caaaarne, sssseu ssssangue e sssseussss ossossss, pe-que-ni-nasssss….
Um buraco no teto do galpão deixava a chuva, que havia finalmente começado, passar sem limitação para dentro do ambiente. O pescoço do monstro se moveu rápido, arrastando a cabeça pesada para muito mais perto da chorosa Justine e Thalia correu, sim, para que a criatura fosse atrás dela.
O pescoço do Catoblepas se moveu ainda mais rápido, fazendo com que a cabeça batesse em algumas coisas antes que pudesse atingir a portadora de tormentas, o tombo lançou Thalia alguns metros à frente, pelo menos não havia sido atingida pelo chifre, ela pensou.
— Onde estão os semideuses que vieram para cá, cabeçudo? E o acampamento de monstros?
— Pe-que-ni-nassssss enganadasssss, nãaao há na-da aquiiiiii… só há morrrte… — dessa vez a cabeça chegou perto o suficiente para que o brilho vermelho dos olhos a assustasse.
Thalia correu, impulsionada pelo vento e saltou para a parede mais próxima, continuo a correr pela superfície vertical como se não fosse nada, tudo para afastar o monstro de Justine. Do alto ela pode ver tudo, havia corpos ali, muitos, pelo menos 15 corpos humanos espalhados pelo galpão, todos com olhos vazados como os Ariadne. Uma fúria se igual fez o sangue ferver em suas veias e ela aplicou vai força ao vento que lhe dava impulso.
— Justine, fuja daqui! — o vento carregou a mensagem gritada e arrastou a caçadora para um lugar seguro fora do galpão como se não pudesse esperar mais por aquele momento. Do lado de fora, o barulho de chuva foi substituído pelo som de pedras caindo nos telhados, o vento uivava com força e trovões ribombavam no céu como se a própria atmosfera estivesse furiosa.
A lança se materializou nas mãos de Thalia, que numa velocidade absurda começou a atacar o Catoblepas, nenhum de seus golpes causou mais que arranhoes e embora ela não estivesse ferida, estava ficando cansada, quanto havia se passado desde sua última batalha? A arena do acampamento na era suficiente para ela e aqueles golpezinhos ridículos de lança não eram o suficiente para derrotar o monstro em sua frente.
Seguindo os conselhos do Vento pela primeira vez em sua vida ela voou, estendeu os braços e se deixou carregar por uma corrente forte que a levou até a violenta cumulonimbus, nenhuma das pedras de granizo sequer raspou no corpo dela, estava em casa, no centro da tempestade. Sem esquecer seu inimigo, Thalia deixou-se preencher por toda aquela energia e desceu à toda, carregando consigo a nuvens, sim, a tempestade desceu do céu com ela.
— EU SOU O VENTO, A CHUVA, O RAIO E O TROVÃO! — todo seu ser se tornou eletricidade afiada e ela atingiu o pescoço do Catoblepas com toda a força da tempestade separando a enorme cabeça do corpo.
Antes que pudesse descer para o chão, foi envolvida e preenchida pela névoa dourada da imortalidade, finalmente terminando a transição, agora Thalia era uma deusa...
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