Shikanoin andava pelo corredor do navio quando parou em frente a uma porta. É a cabine onde Kaedehara está hospedado desde que a Frota Crux atracou no cais de Ritou, para fins comerciais.
Após a guerra em Inazuma, soube que o amigo voltou a frequentar a nação sem problemas. Uma pena que Heizou perdeu pretextos formais para prendê-lo atrás das grades da comissão Tenryou, uma vez que o histórico criminal fora revogado pela própria Arconte.
O que o deixou chateado por um certo lado; dado que os encontros dos dois ficaram escassos com o fim do Decreto de Caça à Visão. Kazuha acabou viajando para outras terras distantes, além de não ter mais razões para ser investigado sob um caso oficial. O samurai deixou de ser um dos maiores criminosos procurados, que carregava duas visões em mãos.
No entanto, nem tudo foi perdido nessa maré de eventos súbitos, visto que as semanas seguintes trouxeram novidades e o inesperado veio em um baque contra o destino. Shikanoin se refere a uma leve mudança no comportamento do amigo, que apenas alguém inteligente poderia notar é claro.
Sempre que a Capitã Beidou velejava de volta para as ilhas isoladas do Extremo Oriente, cartas de Kazuha, endereçadas ao detetive, vinham a bordo do Alcor com mais frequência. Foi com tal contratempo que as engrenagens na cabeça de Heizou começaram a se mover em busca de respostas concretas.
O conteúdo das cartas eram, em maioria, sobre as viagens de Kaedehara em outras nações. Porém, no final, era escrito mensagens como: “Sinto falta de conversar com você pessoalmente, um dia irei retornar para vê-lo.” A conclusão que a mente brilhante chegou no final de tudo fez com que um sorriso de felicidade crescesse nos lábios.
As emoções de Kazuha ficaram instáveis. Há um desejo crescente no peito do inocente, que talvez nem ele mesmo esteja ciente, todavia, os pontos levam a crer que o andarilho está interessado em algo dele, ou melhor, no próprio Shikanoin. Do contrário, o que tanto o motiva a mandar cartas para Beidou entregar após retornar de longas viagens para Inazuma?
Desta vez, não vieram somente as cartas no navio da Capitã. É por isso que ele está ali, parado em frente aquela cabine, com a adrenalina passando pelas veias e com um sorriso idiota no rosto.
— Heizou… é você. A que devo sua visita hoje?
A porta é aberta em um estalar de dedos, sem ter batido antes. As sobrancelhas de Heizou levantam de surpresa para o cumprimento gentil do rapaz à frente, vestido em um quimono despojado, de cores cinzas e vermelhas, diferente do usual, mas ainda muito bonito. A clavícula à mostra é de tirar o sério.
Kaedehara tem um senso de audição apurado, isso não é novidade. Com certeza ouviu os gritos dos tripulantes animados e as risadas altas de Beidou, chamando pelo nome do detetive assim que botou os pés no convés do navio. Os cabelos brancos do rapaz estão úmidos e pingando nas pontas, pois havia saído do banheiro faz alguns minutos.
— Sabe muito bem porque estou aqui. — Heizou sorriu, sendo correspondido pelo outro quase que no mesmo instante.
O olhar retraído de Kaedehara paira sobre o chão, embalado em um misto de ansiedade e alegria. Ele oferece passagem e o ruivo adentra o cômodo do navio pela cortesia.
“Será que Heizou sente saudades?”, pensou por um momento. A última palavra realmente mexeu com o coração do albino. Faz tempo que não se vêem, está nervoso para conversar.
— Estou curioso para saber o que traz sua vinda à área de Ritou, certamente não tem haver com os negócios de Beidou. — Shikanoin acrescenta um ponto importante, fazendo uma breve análise do ambiente. Logo foi possível estudar os últimos passos de Kazuha.
Um espaço meio vazio, de modo figurativo, não há traços sutis da personalidade de Kaedehara para ser sincero. Tem um armário, de tamanho médio, para guardar as roupas, o criado-mudo no canto, com pequenos pertences em cima, a cama arrumada e uma escotilha que permite a entrada de luz solar.
A dedução é que o jovem teve bastante tempo para arrumá-lo, entretanto, aceitou os aposentos de Beidou do jeito que estava, sem questionar. Os pensamentos estiveram distantes durante todo o percurso em alto mar, até chegarem em Inazuma, para sequer se preocupar em enfeitar o recinto do jeito que achasse melhor.
O detetive estala os dedos no ar, cantarolando.
— Ah, na verdade… — Kaedehara fecha a porta ao argumentar, limpando a garganta numa tosse disfarçada por Shikanoin estar bisbilhotando as coisas pessoais dele sem um pingo de pudor. Ele sempre foi assim, fofoqueiro. Nunca muda. — Só estou acompanhando a Capitã, desta vez.
— Mesmo? Que gentileza da sua parte. — Há uma pontada de diversão naquela voz, conforme observa o quadro retangular na parede, de um grande navio naufragado. A assinatura do pintor está borrada, a tinta descascada e desfazendo-se aos poucos. Beidou escolheu esse ornamento por falta de itens para decoração. — Não tem outro motivo para vir tão longe? Sua capitã me contou que esteve em Sumeru na semana passada. Foi uma viagem cansativa, pelo visto.
Como se soubesse ler a mente alheia, retornou a atenção a Kazuha, estagnado feito uma árvore na entrada da cabine, sem jeito para se comportar diante do olhar julgador do amigo ou da situação avassaladora de estarem a sós, mesmo que ele tivesse se preparado muito bem antes da chegada do detetive. As mãos estão suando e unidas atrás das costas.
— Bem, eu também senti sua falta. Queria te ver novamente — confessou, e o sorriso ingênuo fez companhia. A cabeça está em branco, não tem ideia do que possa contar além do óbvio; do que tanto queria dizer.
O silêncio tortuoso que paira brevemente parece uma facada no estômago. O que Shikanoin deve estar achando sobre isso? Que é estranho? Um tanto vergonhoso? Bem, não houve tempo para pensar mais, porque Heizou começa a andar em direção a ele sem dizer nada. Kaedehara tem as pernas indo para trás na mesma velocidade, até que as costas colidirem contra uma parede. Um caroço é formado no fundo da garganta quando ele para a centímetros do seu rosto.
— Continue — pediu o detetive.
Em troca, Kazuha franze o cenho, depois abafa a vergonha com uma risada efêmera, alternando o olhar perdido entre as íris verdes e tranquilas de Heizou.
— O que mais espera ouvir? — indagou.
— Exatamente o que quer fazer agora.
As bochechas de Kazuha aquecem. De repente, Shikanoin está tratando a ocasião como se fosse um interrogatório.
— Eu não sei o que é, Heizou — balbuciou, o tom fraco, desviando o olhar para o canto da cômoda.
— Tem certeza? Vamos! É bem fácil. Olha que eu ainda estou te dando a chance de falar primeiro, não pode amarelar agora. — Shikanoin arqueou uma sobrancelha, ficando ainda mais perto.
Kazuha esquece como respirar, simplesmente, são tantas perguntas que o sufocam de uma vez só. É assim que os suspeitos de crime se sentem na frente de um perito da Comissão Tenryou?
— Sabe, se eu tiver adivinhar o que deseja fazer comigo nesse exato momento, provavelmente eu acertaria. — Heizou coloca a mão aberta na porta, do lado daquele rosto tímido e fica a um fio de quebrar a distância dos corpos.
Kazuha está ciente que as costas estão querendo escorregar na madeira e os joelhos cederem em seguida. A sombra do ruivo pairando em cima de si com muita insistência.
Apesar de ser um rounin sincero, tem um sério problema em reprimir os próprios sentimentos, e isso mexe demais com o emocional do detetive.
É uma fita quebrada, Kaedehara atravessou o mar inteiro para se contentar em trocar conversas rasas com Shikanoin e inventar desculpas para passarem o tempo juntos na mesmice de sempre.
— Vai se segurar hoje, é? Depois de todo esse tempo que passamos longe um do outro… você quer mesmo fazer isso conosco? — A sentença propriamente dita em um cochicho instigante no ouvido do samurai, fez os ombros encolherem de comoção.
Seria mentira se Heizou dissesse que não é bom assisti-lo ser subjugado, ou melhor, cercado pelos próprios desejos.
É instigante.
— Você gosta de mexer comigo — diz Kazuha, em um bufo acanhado, lutando para se manter firme.
— Talvez — ele pronunciou, falando sorrateiro e baixo ao parceiro. — Tá afim de ouvir a verdade? Ou… Experimentá-la por si mesmo?
Uma sensação gélida desce pela espinha quando Shikanoin encaminha a outra mão para puxar a cintura alheia para perto e pressionar os corpos em um pedido silencioso.
O coração de Kazuha bate rápido dentro do peito; não que Heizou esteja em um estado diferente. A emoção é grande por poder vê-lo finalmente de novo, por tocá-lo depois de tantos dias afastados. A vontade de tê-lo nos braços foi necessária.
— Você pode me afastar, se quiser — ele declara em um tom sério, a respiração engatinhando para ficar mais pesada.
Kaedehara está com os olhos enterrados no chão, então não faz a mínima ideia de qual expressão o amigo está fazendo assim que solta aquele aviso. Não soube bem quais palavras escolher. No lugar delas, as ações do corpo responderam por ele. As mãos sobem para segurar os ombros e amassam a roupa em um leve aperto, aceitando o abraço.
— Hmm, que obediente — Heizou riu, outra vez, sussurrando cada sílaba no ouvido do rapaz.
— P-Pare de falar assim.
— Mas você gosta.
— Heizou!
Shikanoin responde ao chamado com uma risada suave, quase que melancólica, disposto a iniciar beijos mornos no pescoço vulnerável, esvaindo a saudade residida no âmago.
É tão bom fazer a pessoa que ama se sentir bem. Os suspiros que preenchem a cabine e a maneira como Kazuha vira involuntariamente a cabeça de lado para oferecer um maior acesso aquela boca faminta, só realçam o quanto está satisfeito com o contato íntimo, com as mordidas, os toques, os corpos friccionando a cada segundo.
Uma lambida na extensão da clavícula e a perna de Heizou sendo prensada entre os joelhos dele, arrastando em um ponto sensível, foi o suficiente para a consciência de Kazuha quase sucumbir à luxúria. Ele registra o choque de prazer enviado à região da virilha e cede aos instintos na sequência de um gemido.
— Sensível, é? — Heizou canta em vitória, vendo que as mãos de Kaedehara sobem pela nuca dele, a fim de acariciar os cabelos em agradecimento, dando a entender que ele gostou sim. — Imagino como devem ser esses sons na cama.
O estopim chega em uma avalanche. Kazuha tem as bochechas vermelhas de uma hora para outra, com o rosto corado e escondido atrás da franja curta. A cabeça deita no ombro de Heizou, tendo a expressão envergonhada.
— N-Nós… — Kaedehara respira fundo antes de continuar a falar. Shikanoin não para um segundo com as carícias para ouvi-lo. — Podemos começar devagar…? Ah!
Um grito escapa no momento em que o detetive desce as mãos da cintura, até pararem na região baixa da coxa e apalpar as nádegas sem um sinal de precedência. O tecido fino do quimono faz as cordas vocais do ruivo cantarem por facilmente desfrutar daquela maciez entre os dedos finos. O albino embaixo de si engasga.
— Apenas um beijo então — declarou Shikanoin, animado com o andar da carruagem. — Não irei além, prometo.
Após segundos de receio, um acenar tímido foi o único consentimento dado como resposta. Heizou engole a vitória ao ser correspondido. Ele inclina a cabeça de lado e, enfim, pressiona os lábios em um beijo afetuoso. As mãos persistem em passear pelo samurai para agradá-lo, enquanto a língua varre o interior da boca em movimentos sutis.
Cada mínima reação dele aos toques é gravado na mente de Shikanoin, talhando aquele momento, tomando todo o cuidado para não avançar o sinal vermelho e ganhar um Kazuha bravo perante as ações imprudentes, um tanto quanto egoístas na verdade. Estavam indo bem, queria tanto ir além, fazê-lo gemer seu nome entre os lençóis limpos daquele navio e transformá-lo em uma completa bagunça.
Não obstante, tudo tem seu tempo, e ele respeita as decisões de Kaedehara, até porque, parece que ganhou uma aposta por ter feito Kazuha virar uma desordem total, choramingando nos braços dele, tendo os gemidos contidos durante o beijo, com as línguas enroscando uma na outra em um ritmo mais lento e dormente em consequência.
— Eu amo você. — Heizou sibila, entre breves selares, ofegante com a queimação que sente nas bochechas e o cansaço que começa a dominar os músculos sem sequer ter percebido.
— Heizou… — Kazuha parece uma pintura feita à mão, com a expressão serena e o olhar nublado de prazer.
Tão bonito.
É a melhor visão que poderia pedir.
Shikanoin deu um último selar de lábios antes de se afastar um bocado, ainda sem soltá-lo, para poder admirar o cenário que havia desenhado. Ah, sim, Kaedehara era uma obra-prima!
— Beidou me contou que iria partir para Liyue na tarde de amanhã. Você ficará em Inazuma por uns dias, por acaso? — Houve um pingo de desespero na pergunta de Heizou, mas não quer admitir que não quer vê-lo partir tão cedo.
— Vou ficar, não tem como negar o olhar pidão que você tem mesmo. — Kazuha está focado em recolher o fôlego.
Sem tardar, ele é prontamente retribuído por um abraço apertado de Shikanoin, envolvendo todo o albino como se fosse um urso carente. Não evitou de rir, óbvio, Kaedehara estava apaixonado pelo melhor amigo e acredita que os sentimentos haviam sido correspondidos da melhor forma.
Talvez aquele fosse um dia especial.
Apenas para dois bobos apaixonados.
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