Eu queria chorar, mas não ia fazer isso na frente de Jade. Isso só pode ser um pesadelo.
- Não estou surpreso com a chuva – disse ele – em três dias será inverno. Em três meses, o festival da primavera. É muito difícil trabalhar no inverno, mas o festival é logo na primeira semana da primavera, então tudo tem que estar pronto até lá.
- Não é hora para pensar nisso – gritei – eu estou com fome e com frio e sem poder ir para casa, será que você pode pensar numa solução, por favor?
- Não fique tão desesperada – ele falava tão calmamente que me deixava irritada – eu moro dentro da área da escola, naquele quartinho ali de junto do ginásio. Você pode ficar lá até a chuva passar.
- Fazer o que, não é? Eu não tenho opção.
Saímos da estufa e Jade correu até o quarto. Corri atrás dele. Por sorte, não ficava muito longe da estufa, mas essa corrida só serviu para eu me molhar ainda mais.
Ouvimos outro trovão.
O quarto de Jade era pequeno. Havia apenas uma cama e uma mesa com duas cadeiras, além de um guarda-roupa. Atrás da parede, pude perceber uma geladeira, uma bancada e um fogão. Havia também uma porta ao lado da cozinha, onde deveria ser o banheiro.
- Parece que essa chuva vai durar até de madrugada. – disse ele – Vou ver se tem algo no armário para comermos.
Eu já estava tremendo de frio, mesmo com o quarto estando todo fechado, mas fiquei com vergonha de pedir um casaco a Jade.
- Mas que droga! – resmungou ele – eu esqueci de fazer umas compras, então basicamente, só temos café, cookies, leite e água. – eu não disse nada, estava com muito frio. Jade ficou olhando para mim por um tempo, e finalmente percebeu – esqueci completamente que você não tem roupas extras. Aquela porta ali – ele apontou para uma porta que ficava ao lado da cozinha – é a do banheiro, você pode tomar um banho quente, eu te empresto uma roupa, mas acho que vai ficar folgada.
- Tudo bem – falei – obrigada!
Ele foi até o guarda-roupa e pegou uma toalha.
- Pode se enxugar com isto – Jade entregou-a a mim – vou deixar uma cadeira na porta com as roupas para você pegar.
Agradeci mais uma vez e entrei no banheiro. Jade era bastante organizado e o banheiro era até perfumado. Tomei banho rapidamente e me enxuguei com a toalha, depois me enrolei na mesma. Quando abrí a porta, as roupas estavam lá, então as trouxe para dentro.
Era um casaco infantil verde com um ursinho atrás e uma calça de moletom cinza. Tive que usar as mesmas roupas íntimas porque eu não tinha mais nada para usar por baixo das roupas de Jade. Eu me sentia ridícula naquelas roupas, mas era o que eu tinha no momento. Sequei o máximo que eu pude do meu cabelo e voltei para o quarto.
Jade havia colocado duas xícaras e um prato cheio de cookies (que me lembravam o Ken) em cima da mesa. Ele estava sentado em frente a mesma, sem camisa e parecia pensativo.
- Jade... – balbuciei – é... aqui está sua toalha.
Ele levantou e pegou a toalha da minha mão.
- Você tem sorte de eu ter guardado minhas roupas de frio de quando eu tinha uns doze ou treze anos. Nem sei porque isso estava aqui, mas...
- Jade! – eu o interrompi – Por que está sendo gentil comigo?
- Por que a pergunta? – ele me olhava confuso.
- Achei que me odiasse.
- Ah, não – ele falava enquanto revirava o guarda-roupa – eu não a odeio, mas você é muito desastrada e eu preciso pirraçar alguém de vez em quando.
- Mas você sempre me pareceu tão sério...
- Eu cansei de ser sério. Pode ir comer, aproveite que o café está quente, tem leite na geladeira. Eu vou tomar um banho.
Jade bateu a porta do banheiro. Eu queria esperá-lo, mas estava morrendo de fome, então tomei meu café e comi a metade dos cookies que estavam no prato. Não era o suficiente, mas pelo menos a minha barriga parou de reclamar.
- Pode comer tudo – ouvi Jade falar atrás de mim. Me virei para olhar para ele, usava moletom e bermuda – eu vou pegar mais para mim lá dentro.
Seria educado recusar, mas a minha fome não deixava. Comi o resto dos cookies enquanto olhava com ansiedade para o lado de fora da janela. Ainda chovia forte.
Jade trouxe mais cookies e me ofereceu alguns, mas eu recusei. Estava incomodada com o silêncio, então resolvi fazer uma besteira: puxar um assunto.
- Por que você vive aqui? – perguntei sem olhar para ele.
- Por que a pergunta?
- Eu não gosto de silêncio.
Silêncio. Foi exatamente o que ele fez, se calou. Eu sabia que não devia ter perguntado nada.
- É uma longa história – ele respondeu quase cinco minutos depois. Jade era irritante – sempre fui apaixonado por plantas. Minha mãe conhecia a diretora e ela me arranjou um emprego. Isso é tudo.
- Conhecia? Onde está a sua mãe?
Jade parou de comer e suspirou.
- Estou cansado, vou dormir.
Ele se levantou e foi até o guarda-roupa. Quem dorme ás oito da noite?
- Sua sorte é que tenho um saco de dormir – disse ele enquanto revirava o guarda-roupa – sempre ajudo a diretora quando a escola organiza o acampamento anual. Droga!
- O que foi?
- Está rasgado. Já deu o que tinha que dar, eu o tenho há tantos anos... Tudo bem, você dorme na minha cama e eu durmo no chão.
- Obrigada, mas não precisa. Vou esperar a chuva passar, devolvo suas roupas na semana que vem.
- A chuva só vai parar de madrugada e vai demorar para a água baixar. Não pode ficar acordada a noite toda.
- Não tem problema. Vou ficar sentada aqui, preciso pensar em umas coisas, talvez fazer a lição de casa...
Ele deu de ombros.
- Você é quem sabe. Qualquer coisa é só me acordar.
Assenti. Jade se deitou e eu fiquei ali sentada por horas, pensando e revirando meu celular que estava sem sinal, tentando fazer a lição de casa, mas não conseguia me concentrar. A chuva não passava e eu estava quase ficando com sono. Olhei para o relógio da parede e já era quase meia noite. Fui até a cama de Jade para acordá-lo, mas só consegui observá-lo enquanto dormia. Eu não podia acordá-lo.
A chuva continuava e a trovoada também, estava muito frio e eu precisava dormir. Deitei-me ao lado de Jade, tomando cuidado para não acordá-lo. A coberta não era o suficiente para nós dois, então tive que me aproximar mais. Jade se mexeu e eu fiquei com medo de que ele gritasse comigo, então decidi fechar olhos e fingir que estava dormindo.
Eu não o via, mas sentia a respiração dele. Jade se aproximava de mim e eu não entendia o que estava acontecendo. Senti sua mão em minha cintura e sua respiração perto do meu ouvido.
- Eu sei que você não está dormindo. – ele sussurrou e depois fez algo inesperado.
Jade me beijou. Ele acariciava minha cintura com uma mão e meus cabelos com a outra. Decidi continuar com os olhos fechados e apenas sentir o momento.
É claro que já tive algo parecido com o Kentin, mas nós nunca “avançamos”. Eu nunca consegui (ás vezes porque os pais dele atrapalhavam quando batiam na porta do quarto dele para perguntar se estava tudo bem ou oferecer-nos um lanche) e ele respeitava isso.
Mas agora era diferente. Eu e Jade estávamos sozinhos.
Quando me dei conta, Jade já estava por cima de mim. Ele beijava meu pescoço e deslizava suas mãos por dentro do meu casaco, até que chegou nos meus seios e começou a acaricia-los.
Ele tirou o meu casaco e depois fez o mesmo com o dele. Eu estava realmente ficando excitada.
A chuva ainda caía lá fora, mas eu já não sentia frio. Em vez disso, um calor e um prazer intenso percorriam todo o meu corpo...
Quando acordei na manhã seguinte, os braços de Jade me envolviam. Eu usava apenas minha calcinha e o casaco que Jade vestia na noite anterior, que ficara enorme em mim. Ele estava apenas de cueca. Vi meu sutiã e o resto das roupas espalhados pelo chão.
Olhei para o relógio. Eram sete horas da manhã. Levantei correndo.
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