Fiquei olhando para ele. Eu devia parecer muito perplexa porque Alexy não para de me cutucar.
- O que foi, criatura? – perguntou Alexy – eu sei que ele é lindo, mas não precisa exagerar.
- Ken. – sussurrei novamente.
- O que? – perguntou Alexy.
Kentin falou alguma coisa para Nathaniel, que foi se sentar em seguida. Ken veio em minha direção, meu coração batia tão forte que eu fiquei com medo de ele escapulir por minha boca.
- Maya – disse ele quando parou bem na minha frente – dei sorte em ficarmos na mesma classe.
Kentin não sorria, não parecia triste nem zangado. Ele não demonstrava qualquer emoção.
Olhei para Alexy. Ele não parava de olhar para o Ken.
- O... o que você está fazendo aqui? – perguntei baixinho.
Nesse momento, o professor Faraize entrou na sala. Não consegui decidir se isso era bom ou ruim.
Ken não me respondeu. Apenas sorriu rapidamente e foi se sentar no fundo, ao lado de Castiel.
Eu estava chocada, paralisada. Por que ele estava aqui?
- Você conhece o boy? – ouvi Alexy me perguntar – Maya? Maya?
- Oi. – respondi assim que me virei para ele.
- Você está bem?
- Sim, eu... – eu estava tentando me acalmar. Sentia como se Kentin estivesse me observando. Estava evitando olhar para ele – eu acho que sim.
- De onde você conhece o bonitão? Ele é mau caráter ou algo do tipo?
- Não, é ...
- Parece que esta classe não se cansa de receber novos alunos – ouvi o professor dizer – se importa de se apresentar?
Kentin se levantou, mas não saiu do lugar. Exatamente o que eu fiz no meu primeiro dia.
- Meu nome é Kentin – disse ele – cheguei na cidade ontem, foi por isso que mudei de escola.
Ele se sentou.
- Breves palavras – disse Faraize – sou o professor Faraize. Seja bem-vindo.
Não prestei atenção na aula. Fiquei de cabeça baixa o tempo todo e teria pegado no sono se a presença de Kentin não me atormentasse. Finalmente o sinal tocou e eu senti alguém me cutucar. Era Alexy.
- Todos já saíram da sala – ele disse assim que eu levantei a cabeça. Todos haviam saído, exceto nós dois. – por que você ficou tão estranha de repente?
Deixei escapar um suspiro.
- Ele é meu ex – falei finalmente – dois anos de namoro, seis que nos conhecemos.
Alexy ficou boquiaberto.
- Isso é sério? – perguntou.
Assenti.
- E ele sempre foi bonito assim?
- Na verdade não, mas isso não vem ao caso. – eu não sabia se soava irritada, triste ou sei lá como descrever o que estou sentindo agora – Fiquei tentando terminar com ele por quase três meses, mas eu não conseguia porque gostava muito dele e sabia que ele me amava também. Adiei até o dia anterior a mudança para contar e ele não reagiu bem. Ele era tão ciumento, mas também tão carinhoso e amoroso...
Senti algo quente nos meus olhos. Eu estava prestes a chorar.
Alexy me abraçou.
- Eu achava que já tinha superado e que estava tudo bem – agora eu realmente chorava – mas era porque ele estava longe. Agora ele está aqui.
Me soltei dos braços de Alexy e enxuguei as lágrimas com as costas da mão.
- Vou ter que encará-lo. – falei.
- Não precisa ser agora – Alexy falava sério – posso ficar aqui com você.
- Obrigada, mas eu quero ir. Acho que estou com saudades também.
- Se é assim que você quer...
Dei um beijo na bochecha de Alexy, peguei minha bolsa e saí da sala. Achei que ia ter que procurar por Kentin pelo colégio inteiro, mas ele estava encostado na parede, bem ao lado da porta.
- Você estava ouvindo? – perguntei.
- Eu fiz você chorar, não foi? – ele parecia culpado ou arrependido de alguma coisa – Me desculpe – Kentin colocou a mão no meu rosto, do mesmo jeito que fazia antes – não quero que sofra.
- O que? Por que você veio? – eu afastei a mão dele do meu rosto.
- Estou planejando isso desde de o dia em que te vi partir. – respondeu Kentin – Não foi fácil convencer os meus pais, mas o meu pai achou bom eu ter a experiência de morar sozinho até o final do ano letivo. Ele acha que pode me fazer amadurecer mais rápido, mas é claro que foi ainda mais difícil convencê-lo a me deixar vir para outra cidade. Ainda bem que tenho parentes por aqui.
- Você não me respondeu direito, Ken.
- Não me chame assim – disse ele, rapidamente – eu era o seu Ken, agora sou Kentin. Isto é, até reatarmos.
- Nós não vamos reatar – falei com o máximo de convicção que pude – pelo seu silêncio, achei que já tinha aceitado isso.
- O meu silêncio foi apenas por eu estar ocupado demais planejando uma surpresinha para você. Eu também não aguentava mais aqueles idiotas. De qualquer jeito, eu só preciso de você.
- Podemos voltar a ser amigos.
- Não – ele praticamente gritou, mas não vi ninguém olhando em nossa direção – ser apenas seu amigo já não basta para mim.
- Mas é só isso que vai conseguir.
Alexy saiu da sala nesse instante. Olhou para mim, depois para Kentin e depois para mim novamente.
- Está tudo bem por aqui? – perguntou.
- Ele é seu amigo? – perguntou Kentin – Parece que sim – ele respondeu antes que eu pudesse fazer isso – nos vemos por aí.
Ele saiu, deixando-me com Alexy.
- Eu atrapalhei vocês? – Alexy perguntou.
Balancei a cabeça.
- Vamos para os clubes, já estamos atrasados. – falei.
Vesti meu casaco. Alexy beijou minha bochecha antes de sairmos em direções opostas.
- Fica bem, tá?! – disse ele antes de ir para o cube de artes.
Fui para o jardim. Nem precisamos usar os aventais hoje, estava tudo coberto de neve. A única coisa que tínhamos para fazer era checar algumas flores da estufa.
- No próximo encontro nós iremos começar os preparativos para o festival da primavera – disse Jade – espero que estejam dispostas, garotas.
Jade usava sua roupa habitual de trabalho, mas também usava um casaco enorme. Comecei a me lembrar do que havia por baixo de toda aquela roupa.
- Desculpe-me o atraso – ouvi uma voz conhecida e me assustei como se pudessem ouvir meus pensamentos – eu sou novo aqui, você é o instrutor?
Jade assentiu para Kentin.
- Ah, Maya – ele falou assim que me viu – não sabia que estava no clube de jardinagem também.
Jade me olhou estranho. Depois levou Kentin para um canto, provavelmente para lhe dar instruções e voltou para nos liberar mais cedo, já que não tínhamos muito o que fazer.
Segui para o clube de artes, queria esperar Alexy na entrada, mas Kentin vinha atrás de mim, então entrei no ginásio. O pessoal do clube de basquete estava treinando, então fui para as arquibancadas e ele me seguiu.
- Ei – ouvi alguém gritar, depois percebi que era para mim – você não devia estar no seu clube? – perguntou um garoto negro e alto que usava um uniforme de basquete.
- Jade me liberou mais cedo – respondi enquanto observava Kentin vir em minha direção – por que? Você está incomodado?
O garoto me lançou um olhar debochado.
- Você deve ser nova aqui, não é, garotinha?
Garotinha?
- Sou sim – respondi – por que?
- E eu sou instrutor – disse o garoto – é melhor você melhorar seu tom de voz quando falar comigo novamente. Lembre-se, sou o Dajan.
- Esse cara está te incomodando? – perguntou Kentin assim que chegou ao meu lado. Olhei para ele e em seguida para Dajan. Balancei a cabeça.
- Não – falei – acho que o incomodado aqui é ele.
- Pode ficar aí – disse Dajan – mas se atrapalharei o meu treino serão suspensos.
Ele correu para o centro do ginásio antes que pudéssemos responder. Qual é o problema desse cara?
Kentin sentou-se o meu lado. Ficou assistindo ao treino, e então falou:
- Parece que o instrutor do clube de jardinagem é seu amigo também.
- Por que você acha isso? – perguntei, sem olhar para ele. Preferi assistir ao treino.
- Ele me fez umas perguntas.
- Que tipo de perguntas? – olhei séria para ele.
- De onde eu te conhecia e se éramos amigos.
- E o que você falou?
- Que não era da conta dele, mas nos conhecemos desde criança. Só isso.
Não falei mais nada. Ficamos assistindo ao treino até o sinal tocar, então levantei-me e ele fez o mesmo.
- Não tem nem um mês que você está aqui e parece que já se enturmou bastante. – disse Kentin – Eu entendo, não tem como não gostar de você.
E correu para fora do ginásio.
Fui andando devagar até o jardim, não queria esbarrar com Kentin.
Jade estava na estufa. Fui até ele.
- Por que esse interesse na minha vida? – perguntei.
Ele se virou e ficou me olhando. Não respondeu de imediato.
- O que o seu... amigo de infância falou para você?
- Não importa – falei calmamente – Jade, por que você está me tratando diferente agora? Estou sem entender nada desde... – fiz uma longa pausa, mas ele continuou apenas me olhando – desde aquela noite.
- Você não tem o que entender.
- Como assim? – estava me esforçando ao máximo para não alterar meu tom de voz, mas estava ficando difícil – primeiro você fica me pirraçando e depois rola tudo aquilo, então você diz que não vai acontecer de novo e de repente faz perguntas sobre a minha vida.
Não deu tempo de ver como aconteceu. Eu e Jade já estávamos nos beijando quando voltei à consciência.
- Eu... – disse ele assim que me soltou – eu não posso... é melhor você ir embora.
- Mas...
- Por favor! – ele pediu gentilmente, então eu corri para o pátio.
-Oi!
Soltei um gritinho. Alexy estava atrás de mim todo encapotado. Claro, estava frio, eu é que estava ficando louca.
- Você viu alguma assombração? – perguntou, tirando o capuz laranja – Ou eu estou tão horrível assim hoje?
- Não é nada disso – falei, ofegante – onde você estava?
- Procurando você – respondeu Alexy – mas parece que estava... hum... brincando de caça-fantasmas?
- Esquece. Vamos comer.
Fui praticamente empurrando Alexy até a lanchonete. Ainda estava ofegante quando chegamos lá.
- Maya, já chega! – Alexy reclamou enquanto tirava minhas mãos dele, depois me puxou até uma mesa e nós sentamos – Por que você está surtando?
- Jade me beijou de novo. – falei sem olhar para ele.
- E qual é o problema nisso?
- Você ainda pergunta? – falei um pouco alto demais, o que chamou a atenção de algumas pessoas, então baixei o tom de voz e fui para mais perto de Alexy – Agora que o Ken voltou...
- Ah, Maya, me poupe.
- O que?
- Você e esse tal de Ken terminaram, não foi? – ele falava sério. Eu assenti. – Então vocês não têm mais nada a ver com a vida do outro, desencana e parte para outra.
- Mas... – balbuciei.
- Você ainda gosta dele, não é? – Alexy me interrompeu – Deve gostar pelo menos um pouquinho, senão não estaria assim.
- Isso também, mas... o Jade me disse umas coisas estranhas... que não podia, ou algo assim.
- Não podia o que?
- Esse é o problema – encarei Alexy – eu não sei.
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