História Reviravoltas - Terceiro Candidato

Novamente, Alexy passara o dia calado, mas na hora da saída, me disse que iria ao shopping com Rosalya no dia seguinte, depois da aula e deu a desculpa de que eu não poderia ir porque estava com uns trabalhos atrasados. Depois, ele foi embora. Não consigo me acostumar a vê-lo assim.

Em casa, eu sentia que meu pai queria conversar comigo, mas ele fugia sempre que nos encontrávamos sozinhos. Eu também não tinha forças para iniciar uma conversa com ele. Nem consegui dormir direito pensando no que poderia acontecer no dia seguinte.

Como Leigh reagiria? O plano de Alexy daria certo? O que eu deveria fazer depois disso tudo?

Esta, sem dúvidas, foi a pior noite da minha vida. Não consegui dormir. Meus seios doíam e quando eu não estava pensando no que poderia acontecer no dia seguinte, estava vomitando no banheiro.

Devo ter cochilado por meia hora, pois tomei um susto quando o alarme tocou. Eu podia sentir as boas vindas do que provavelmente seria o pior dia da minha vida.

Tomei um banho rápido, vesti a calça mais folgada que tinha (além de ser mais confortável, algumas das minhas roupas já estavam ficando apertadas em mim) e uma camiseta, peguei minha bolsa e um pacote grande de cereais na cozinha. Queria sair antes que meus pais acordassem.

Comi quase todo o cereal no ônibus e terminei de comê-lo no colégio. Ainda estava cedo e haviam poucas pessoas no pátio. Fui para o banheiro vomitar uns cinco minutos depois de ter terminado de comer. Me pergunto se meus enjoos são normais, se acontecem porque estou aflita ou se essa criança simplesmente não gosta de nada.

De repente, me dei conta de que não poderia chamá-lo assim para sempre. Não tenho tido sossego nem para pensar no nome do meu filho. Será que Viktor é um bom nome? E se for menina?

- Maya? – ouvi alguém me chamar, assim que saí do banheiro. Era o Castiel.

- O que você está fazendo aqui tão cedo? – perguntei.

- Já me viu chegando atrasado alguma vez?

Parei para pensar um pouco.

- Na verdade, não.

Castiel seria a última pessoa que eu pensaria estar no colégio quase meia hora antes de começarem as aulas. Mas é verdade que eu nunca o vi chegando no colégio.

- Eu só queria saber se você está bem – disse – ultimamente, você nunca parece bem.

- Estou bem, na medida do possível – respondi – você sabe o porquê.

Ele fez que sim com a cabeça.

- Pode contar comigo para qualquer coisa.

Castiel me deu um beijo na testa antes de sair.

Pude perceber que Ambre nos observava de longe. Uma briga com a Ambre é tudo o que eu não preciso agora.

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As horas demoraram tanto para passar que eu achei que fosse ter um infarto antes de as aulas acabarem.

Fiquei ao lado de Kentin o dia inteiro, mas não conversamos muito. Ambre me olhava com raiva toda vez que passava por mim e Jade estava fingindo que eu não existia. Pensei que Alexy estivesse fazendo o mesmo, até que ele veio me dizer que estava tudo certo para ir ao shopping com a Rosa.

Saí do colégio correndo assim que soou a sirene. Queria acabar com isso logo e não queria correr o risco de ter que olhar para Rosalya; ela com certeza insistiria que eu fosse para o shopping com ela e o Alexy.

Peguei o ônibus e não demorou nem dez minutos para que eu já estivesse na porta da loja do Leigh. Ele não estava na entrada.

Minha mão tremia quando eu tentava abrir a porta e minhas pernas não queriam se mexer.

“Você não pode desistir agora”, eu repetia para mim mesma. “Você tem que fazer isso, você não tem escolha”. Estava prestes a criar coragem quando ele apareceu e me viu através da porta transparente. Estava muito surpreso.

Leigh veio na minha direção e abriu a porta.

- Maya? – ele ainda estava surpreso – Aconteceu alguma coisa.

Eu estava segurando as lágrimas. Assenti e ele me deixou entrar. Leigh me levou até seu escritório – um lugar que me trazia lembranças não tão boas -, tirou um amontoado de tecidos de uma cadeira e a indicou para que eu me sentasse, mas eu recusei.

- Estou feliz em te ver – disse ele. Sonso! – mas não entendo. Por que está aqui? Achei que nunca mais quisesse me ver.

- Se eu tivesse escolha, nunca mais olharia para essa sua cara sonsa. – cuspi as palavras.

- Entendo. – Leigh parecia decepcionado - Mas saiba que toda essa repulsa que você tem por mim não é recíproca, eu ainda sinto algo forte por você.

- Então por que voltou com a Rosa? Ela merece algo muito melhor do que você.

Ele estampava um sorriso cínico nos lábios. Ridículo!

- Você veio até minha loja para me julgar por meus defeitos ou tem algo mais útil para dizer?

Engoli em seco. Tentei me preparar para esse momento, mas foi impossível.

- É que... eu... bem... nós... nós...

- Eu sei o que NÓS fizemos, Maya. Você está me deixando preocupado.

Ele não parecia preocupado.

- Eu... eu estou grávida.

Leigh ficou petrificado. Ele me olhava com os olhos arregalados, mas isso era tudo. Acho que estava chocado demais para compreender.

- Você quer que eu repita? – perguntei.

- É... não... não, eu entendi – pela primeira vez, ele parecia confuso com as palavras – você tem certeza?

Assenti.

Leigh suspirou.

- Você tem certeza de que é meu? – indagou, se recompondo.

- Não – falei com a voz fraca – mas, infelizmente, é uma grande possibilidade.

- Isso não pode estar acontecendo. Não pode! – ele estava claramente nervoso.

- Não mesmo – concordei – mas é difícil para mim também. Eu vou tentar confirmar exatamente com quantas semanas estou, mas talvez seja preciso um exame de DNA.

- Faça tudo – ele estava falando um pouco mais alto do que deveria – pode fazer tudo o que for preciso. Eu vou arcar com todas as suas despesas.

- Eu... agradeço, mas você não acha que deveria se acalmar?

Dava para perceber que Leigh estava tentando controlar o nervosismo, mas não estava obtendo muito sucesso.

- ME ACALMAR? – gritou – Desculpe – ele diminuiu o tom de voz – mas se Rosalya descobrir, nós estaremos mortos, você entende? Ela vai acabar com a gente, ela não pode saber disso em hipótese alguma.

- O que eu não posso saber e por que mataria vocês se eu descobrisse? – falou uma voz atrás de nós.

Nos viramos para olhar para ela, mas eu já sabia que era a Rosalya. Atrás dela, encontrava-se um Alexy muito aflito.

- Rosa? – perguntou Leigh, surpreso e nervoso – O que você está fazendo aqui?

Alexy também estava nervoso, atrás de Rosalya, que parecia desconfiada.

- Eu queria vir falar com você antes de ir ao shopping, como SEMPRE faço. Mas não mude de assunto e me diga agora o que eu não posso descobrir, e você sabe que não adianta tentar me enrolar porque eu vou descobrir de um jeito ou de outro, e pode ser muito pior. – ela estava séria e desconfiada. Nunca a vi desse jeito.

- É que... bem... não é uma coisa fácil de se dizer... – balbuciava Leigh.

- Eu estou grávida, Rosa. – falei tão baixo que não sei se ela me escutou. Nunca me senti tão envergonhada.

- Dezesseis anos não é a melhor idade para ter filhos – disse ela – mas o que Leigh tem a ver com isso?

Ela percebeu o que estava acontecendo assim que acabou de falar. Sua expressão mudou completamente. Era nos olhava com uma mistura de raiva, tristeza, desprezo, e outros sentimentos que eu não saberia descrever. Seus olhos e seu rosto estavam ficando vermelho e sua voz parecia não querer sair. Infelizmente, ela finalmente saiu.

- Vocês... vocês... – ela olhou para Alexy, que desviou o olhar, então se voltou para mim e para Leigh novamente – VOCÊS SE MERECEM.

- Rosa, acalme-se, por favor. – Leigh tentou tocar o ombro dela, mas Rosa desviou.

- NUNCA MAIS ENCOSTE UM DEDO EM MIM, SEU NOJENTO. VOCÊS SÃO PODRES, TODOS VOCÊS!

- Rosa... – tentei me aproximar dela. Minhas lágrimas estavam prestes a embaçar minha visão – você tem toda a razão, mas não faça isso, por favor...

Senti um estalo tão forte no meu rosto que quase caí no chão. Alexy veio me segurar imediatamente.

Rosa me dera um tapa e a mão dela era mais pesada do que eu imaginava.

- Você não podia ter feito isso, ela está grávida. – dizia Leigh, contribuindo para piorar ainda mais a situação.

- Eu mereci... – tentei dizer.

- MERECEU MESMO E MERECIA MUITO MAIS. SE VOCÊ NÃO ESTIVESSE GRÁVIDA, LEVARIA UMA SURRA TÃO FORTE QUE TENTARIA VOLTAR PARA CASA SE ARRASTANDO, MAS MORRERIA NO CAMINHO. – ela estava ofegante – E VOCÊ LEIGH... EU DEVIA QUEBRAR ESSA LOJA TODA E LHE DEIXAR MORRER SOTERRADO DEBAIXO DELA. EU TENHO MUITA PENA DESSA CRIANÇA, ELA TEM OS PIORES PAIS DO MUNDO.

Ela se virou para sair, derrubando o que via pela frente.

- Rosa...

- Nunca mais me procure – ela disse para Leigh – se qualquer um de vocês sequer olhar para mim de novo, eu não responderei por mim, entenderam?

Ela foi embora e Leigh não tentou mais impedi-la.

- Me desculpe – Alexy abrira a boca pela primeira vez desde que chegou – ela insistiu para vir aqui antes de irmos ao shopping. Tentei impedi-la por todo o caminho, mas ela não me escutou.

- Nós sabemos como ela é. – disse Leigh.

- Alexy – toquei o inchaço na minha bochecha, estava ardendo – me tira daqui, por favor.

Ele me guiou para fora da loja. Minha visão estava embaçada pelas lágrimas, eu não teria conseguido fazê-lo sozinha.

Quando limpei o rosto, pude ver que a loja estava uma bagunça, muitas roupas e tecidos jogados no chão. Deixamos Leigh lá sozinho e saímos andando.