"Merda.
É claro que daria merda, que outra coisa poderia dar? Eu mesmo fui burro o bastante de achar que Neal e Gold se manteriam afastados, fui extremamente bobo. Eles são como fantasmas, estão em todos os lugares, todos os dias, vêm tudo e provavelmente ouvem também. Isso é insano.
A sensação de estar ficando louco não deve ser normal, eu provavelmente devo estar ficando desequilibrado. Eu os vejo em lugares que não estão, os ouço e os sinto, mas quando não se encontram em lugar nenhum, minha mente quer saber onde ficam, quer segui-los e enfrenta-los. Tudo isso já devia ter acabado.
Minha mente possui listas, inúmeras delas, entre elas está a pior: coisas que deveriam estar acontecendo. Como número um, temos "eu deveria ser feliz". Número dois: "eu deveria ter seguido em frente". Três: "deveria ter mudado de cidade". Quatro: "deveria ter encontrado uma esposa". Cinco: "deveria ter filhos". Seis: "deveria... deveria ter aceitado". É a lista o "se". Aquela que te faz afundar em suas próprias decisões.
Eu fiz tudo errado.
Mas não é porque errei no passado, que cometerei o mesmo erro no presente. Eu sou obrigado a fazer algo correto com as pessoas que amo, e amar, amar é deixar ir. Respeito, é aceitar. Amizade, é zelo. Romance, é cuidado. Tudo está classificado no mesmo patamar, o do amor. E se existe esse sentimento, eu saberei e irei fazer de tudo para me certificar de que a pessoa amada, tenha um final feliz, mas por enquanto, sem mim."
15 de abril de 2015 – 01:03
Killian's POV
Já devem fazer dez minutos que Emma e eu bebemos em frente um ao outro, com os olhos cerrados, sem dizer uma palavra. Nenhuma. Ela parece concentrada, eu apenas a acompanho em sua mudez.
O vento gélido passa pela cobertura do prédio e começo a me preocupar se ela não está com frio. Até mesmo me pergunto se isso é algum tipo de teste de resistência corporal, ou mental, já que o sossego está me matando internamente.
- Tudo bem, o joguinho estava bem legal, mas agora, pode me explicar o que está fazendo? Estamos a dez minutos aqui e você só abriu a boca para beber Emma. Aliás, me dê isso – tomo o copo de sua mão e coloco no chão.
- Estava só esperando você falar alguma coisa – ela fala por fim. – Pensei que estivesse bravo.
- Bravo? Por qual motiv... ah, você está pensando no que aconteceu na 1OAK. Anjo, vamos esquecer isso, por favor, não há nada nesse passado que seja de nosso interesse nesse presente.
- Mas esse é o motivo Killian, nós temos sim algo pendente. Eu não estou chateada com você, mas quero que me conte porque ficou bravo daquela maneira quando viu Neal e, por que quis me afastar dele?
São tantas coisas amor, eu queria poder te contar. Queria poder deitar você em uma cama, tocar seu rosto de boneca e te contar, explicar tudo o que aconteceu. Queria poder jogar limpo, mas são tantas coisas. Eu deveria, mas tenho tanto medo de te perder... Desejo de todo meu coração poder beijar seus lábios e a cada toque te revelar um segredo, ao qual depois de tudo, nós simplesmente dormiríamos juntos, sem preocupações, sem ressentimentos. Mas sabemos que não será assim.
- Swan...
- É só responder Killian, sabe que pode confiar em mim, não é? – Emma segura em minha mão e a leva a sua boca, depositando um beijo entre meus dedos. Por que ela tem que piorar tanto a minha situação?
É só mentir, mas mentir para Emma é tão difícil, é como me dar um tiro no meu próprio pé. Não deveria estar fazendo isso.
- Tudo bem, eu... estava com ciúmes.
Ciúmes? Essa foi péssima.
E então voltamos para o início, Emma se cala novamente e não parece que vai voltar a falar enquanto eu não tiver alguma reação. Entro no jogo e me junto em seu silêncio. Escutamos os barulhos da cidade grande, os carros, buzinas, pessoas sorrindo, outras gritando. Sentimos o cheiro de fumaça, de perfumes, de amores perdidos e amores conquistados. Aqui é Nova York, de tudo se vê.
- Que quer saber? – observo a fumaça branca sair de minha boca.
Emma olha para mim e respira fundo. Ela está brava, eu sei disso, então sei que estamos encaminhando para nossa segunda discussão desde que nos conhecemos.
- Não deveria me deixar pensar por tanto tempo. Estive pensando que você talvez fuja de Neal. Quando o viu pela primeira vez, você saiu com seu pai minutos depois, e hoje não suportou nem mesmo três minutos ao seu lado. Já se conheciam? Eu só quero que seja sincero comigo Killian, porque eu sou com você.
- Sim, já o conhecia. Nós éramos... conhecidos na escola, eu era um valentão e batia em Neal. Quis tirar você de perto pois fiquei com medo de que ele talvez...
- Me contasse isso e eu me afastasse de você.
- Isso.
Abro um sorriso na esperança de que Emma faça o mesmo, mas ela continua sem expressão, analisando os fatos e juntando as peças.
- E você está mentindo – ela pega seu copo do chão e anda em direção as escadas.
- Que? Espera, como tem tanta certeza disso? Swan, não me diga que você está mesmo brigando comigo por uma razão tão boba, eu já te expliquei o motivo.
- Não estamos brigando Killian, eu só estou cansada e aqui está frio. Só quero o conforto da minha cama. Queria que confiasse em mim o bastante para compartilhar o que se passa na sua cabeça, mas se você não está pronto, eu não tenho que ficar brava com isso.
- Então por que você está?
- Só estou pensativa. Vá descansar, nos vemos depois, sim? Está tarde. E Killian, não pense que eu deixarei alguém me controlar dessa vez.
Olho no fundo de seus olhos, ela realmente fala a verdade, Emma acha mesmo que quero a controlar. Quando se vira para ir embora, quase tropeça no próprio pé e leva sua mão a cabeça. Ah Swan... tão fraca para bebidas. A seguro e ela se apoia em mim quando me agacho para tirar seu salto. Bebo a bebida de seu copo e devolvo em sua mão junto com seus sapatos, descendo as escadas sem a dizer nada.
Controlar? Emma Swan pensa que quero a controlar como seu antigo noivo fazia? Ela pensa que quero a impedir de falar com quem não quero, enquanto eu quero protege-la de falar com quem não deve. Isso é loucura.
[...]
Digito o número de Neal com a maior paciência do mundo, afinal, as dúvidas ainda pairam em minha cabeça, devo ligar ou não? Me redimir nunca fez parte da minha personalidade, jamais acordei com o pensamento "ah que pena, está tudo dando errado, preciso me desculpar". Mas quando começamos a crescer, percebemos que sempre fugir de fazer isso é infantilidade. Nunca admitir seus erros não faz bem para ninguém.
Não estou dizendo que seja fácil fazer um pedido de desculpas, ou mesmo pedir algo a alguém, principalmente quando esse alguém, não merece nem a minha voz em seu modo mais brando. Entretanto, necessito e terei de fazer, não posso desistir de minha dignidade dessa maneira.
Quando aperto o botão, ainda penso em voltar para trás e desligar o telefone, mas não faço isso, apenas espero.
- Killian, já sei o que vai falar e escute... - Neal atende com a voz entediada.
- Neal, eu não liguei para brigar com você, por mais que seja isso que eu queira.
- Que? Não vai me pedir conselhos amorosos, não é?
Controlo a grande vontade de respondê-lo com ignorância e grosseria. Não o suporto. Nem ele e mais ainda Gold.
- Não Neal, eu liguei para você para deixar claro o que talvez Gold não tenha deixado. Não devo mais nada, entende isso? Tudo está pago e, supostamente vocês deveriam se afastar. Estou falando com você, porque me entende, não é? Por favor Neal, não se aproxime de Emma novamente, se precisar falar comigo, entre em contato comigo, as pessoas ao meu redor não estão envolvidas.
Fez-se um grande silêncio. Não sabia que minhas palavras o afetaria dessa maneira.
- Entendi.
- Ótimo. Agora, o que ia me dizer?
- Que aquele encontro realmente não foi planejado. Eu não esperava mesmo te encontrar por lá, na verdade, essa era a última coisa que eu queria. Estava a trabalho.
Tenho dificuldades em resolver se Neal está falando a verdade ou mentindo, ele costuma ser bom na persuasão, mas hoje não estou no melhor clima para decifrar suas pegadinhas.
- Killian, sabe que se quiser, podemos eliminar o produto x para você. Depois de tudo o que...
- Neal, por favor, só fique longe da Emma. Só quero que você, que todos vocês, saiam da minha vida para sempre. Não há outra coisa que eu queira além disso.
- Tudo bem irmão, foi só um comentário.
- Obrigada.
Emma's POV
Feliz. Acima de tudo, eu estou feliz por ter discutido com Killian Jones, pelo simples fato de ter descoberto que sua presença me faz falta. Quando éramos amigos, eu me sentia da mesma maneira, porém ignorava, mas agora que estamos envolvidos romanticamente, é simplesmente inevitável não perceber esse incômodo no meu peito. Aquela pequena sensação de que você está sozinho, que te faz criar inúmeras ideias em sua cabeça, como: "será que ele sente o mesmo?". É gostosa a sensação, realmente interessante perceber um coração pulsante que grita para que esse alguém volte, te envolva em seus braços e diga: "Eu estou aqui, não se preocupe com nada, porque eu te amo".
Nunca pensei que poderia me sentir contente por ter minha primeira "briga" com Jones, porque o gosto de estar apaixonado é um desesperador gostoso. As pessoas crescem ouvindo que amar é ruim, perigoso, que estar apaixonado é apenas um fogo de palha e, eu passei sim minha vida inteira acreditando, eu ainda tenho essa fé, mas será que é mesmo tão ruim? Por que não pode ser uma coisa boa? Afinal, quem está apaixonado consegue ver o mundo com outros olhos, talvez no final, todas essas críticas, sejam apenas inveja.
E uma dessas visões que a paixão te proporciona, é ver o bem na pessoa escolhida. Em outras situações, eu não faço ideia se o fato de Killian ter tirado meu salto e bebido minha bebida para que eu não a bebesse mais, seria um gesto de carinho e cuidado, mas nessa situação, eu vi com isso. Em uma coisa tão simples e patética, eu pude mesmo pensar que ele importava, mesmo eu tento dito para que "não tentasse me controlar".
Afinal, onde eu estava com a cabeça?
Tentar me controlar? Sério isso? Por um momento quando estávamos na festa, eu podia jurar ele estava me impedindo de falar com quem eu queria, mas foi um momento criado pelo meu subconsciente, imaginando que por esse simples fato, Killian iria controlar o resto da minha vida, enquanto ele só não se sentia confortável em me ver conversando com Neal. Perdida em meus pensamentos, que sempre me levaram para lugares estranhos, eu fiquei imaginando se Jones sabe coisas que eu não sei, e se Cassidy não foi quem aparenta ser? Quando isso veio em minha mente, eu pensei que queria descobrir seja lá o que fosse que ambos estivessem escondendo, mas analisando bem, eu não quero saber isso agora. Seja lá o que for, é passado. Não podemos julgar ninguém por seu passado.
Como tantas idas e vindas que minhas meditações fizeram, eu consegui dormir três horas depois que Killian havia ido embora, nem mesmo me dei o trabalho de trocar de roupa e, fiquei feliz em saber que Regina já estava dormindo. Acordada eu podia sentir o toque de Killian sobre minha pele, sua respiração quente em meu pescoço e seus lábios com gosto de vinho, e dormindo, senti medo que esses pensamentos fossem me atormentar enquanto dormia. Droga, eu o quero, quero mesmo.
Graças aos céus, quando dormi minha alma foi levada por completo, com certeza um efeito das bebidas, e sem via de dúvidas, o fato de acordar as quatro da tarde, também foi um efeito delas e, Deus, eu não poderia estar mais contente por minha cabeça não estar doendo e por não estar sentindo meu estômago revirar como uma roda gigante. Talvez eu não tenha bebido tanto assim, ou talvez eu esteja me acostumando com a sensação.
Levanto a cabeça, assim que o faço sinto um pulsar chato na minha nuca e uma tontura irritante. É, estou errada quando penso que um dia me acostumarei com isso. Preparo meu banho e fico de molho na banheira por quase vinte minutos, saio e me arrumo, desço para comer e depois encontro Regina de pijamas enquanto lê um livro em seu quarto.
- Pensei que juntaria o dia com a noite e acordaria apenas amanhã as três da tarde - sou logo atacada por seus comentários.
- Posso saber que música é essa e que livro está lendo? - me jogo na cama ao seu lado.
- Sea mist e estou lendo James C. Hunter. Como se tornar um líder servidor, os princípios de liderança de o monge e o executivo.
- Uau - pego o livro de sua mão e folheio com cuidado. - Acho que precisarei de um desses.
- O que quer dizer com isso?
- Que eu vou para Miami e preciso aprender a liderar, para ser tão boa igual você - Regina abre um sorriso contagiante. - Vou para Miami e estou decidida disso, por mais que pensei que não fosse fazê-lo.
- Emma isso é incrível! Mas... o que te fez pensar tão rápido?
- Eu não gosto de ter coisas pendentes em minha cabeça, e eu percebi essa é a melhor escolha a fazer. Não posso viver a vida inteira na sombra do meu pai dentro da empresa, sendo que tive a oportunidade de crescer. Eu nunca me perdoaria.
- E eu estou mais que orgulhosa de você por isso. Já contou para alguém? Contou para Killian?
- Não - olho para o nada por alguns segundos. - Mas também não acho que vá fazer diferença, ele quer que eu me mude, mas nunca discutimos nada além disso, o que me leva a pensar que talvez Jones não queira algo realmente sério, não acho que posso levar meus sentimentos adiante, caso contrário, quebrarei minha cara.
Regina apoia sua mão na minha e a acaricia. Não sei bem o que o gesto significa, mas espero que não seja pena.
- Ah Emma... sabe que em Miami tem muitos gatos, não é? Eu duvido que consiga ficar sem beijar pelo menos um homem de lá, e para fazer isso, precisa estar livre.
- Será que os homens de Miami são como aqueles caras de filmes praianos? Cabelos loiros, pele queimada pelo sol, todos surfistas... - rimos juntas e começo a imaginar que talvez não seja tão ruim. - Eu estou apenas brincando, por mais que fale isso, vou precisar de um tempinho a mais para substituir alguém como o Killian, ele é legal.
- Legal? Uou, esse é o pior elogio que se possa fazer a alguém Emma, jamais fale isso a ele.
- Falando em legal, a senhorita não me contou como foram as coisas com Robin - a provoco.
Instantaneamente assisto Regina se rosar, tipo de coisa que não é comum em alguém como ela. Sorrio de sua reação. Talvez agora possa ter um motivo para pegar em seu pé.
- Anda vossa alteza, desembucha.
- Se está pensando que algo aconteceu ontem, está redondamente enganada.
- Como assim não? Não era essa a intensão? Se você me disser que em vez de se pegarem, foram românticos um com o outro e depois voltaram para casa pensando em "como ele/ela, é doce", você está ferrada Regina Mills.
- Emma pare com isso, nós conversamos e eu descobri que conversar com ele seria melhor do que calar sua boca com minha língua. Ele tem assuntos legais e um sotaque muito gostoso de se ouvir.
- Céus Regina, você está ferrada! Desde quando você pensa assim dos homens? Deixa eu te lembrar uma pequena coisinha que talvez esteja esquecendo, você mora em Storybrooke e ele mora... aqui?
- Bem, caso não tenha percebido, estamos na mesma situação boneca. Por que então não termina essa coisa que você e Killian nem começaram, só porque você vai se mudar?
Ela certa, mas também está errada e eu preciso dizer isso a ela.
- Primeiro, Killian e eu começamos sim algo, desde quando nos conhecemos temos uma amizade, que acima de qualquer romance, é muito importante para mim. Segundo, eu não irei mudar agora, ainda tenho alguns meses para estar ao seu lado, enquanto você vai embora esse mês, então, não estamos na mesma situação.
- É, você está certa. Mas não sei porque está falando isso, como já disso, não aconteceu nada e como fez o favor de me lembrar, não irá.
Por um momento sinto pena de estragar os "sonhos" de Regina, por mais que eu não acredite que ela de mesmo importância para isso.
- Sabe o que está acontecendo agora? Consigo ouvir com clareza a voz de Tinker em meu ouvido dizendo para você largar de ser boba e aproveitar o momento.
- E eu consigo ouvir "beija logo ele" - ela desenha suas aspas no ar. - Agora, falando de coisas sérias e que não envolvam homens romanticamente dizendo, como pretende contar a David sobre sua mudança?
Não havia pensado nisso. Eu certamente quero fazer algo que o surpreenda, quero deixá-lo surpreso, porque essa oportunidade que ele está me dando, é única, e eu quero mostrar a ele que estou mais que agradecida por isso. Quero mostrar que todo seu esforço para me ensinar o que sei, valeu a pena, e também quero me desculpar por nossa briga.
- Regina, o que você acha de levar meu pai para Miami comigo? - falo esperançosa.
- Se você ouvir bem o que está falando, irá perceber que não faz sentido, é claro que David vai com você para Miami quando for a hora, Emma.
- Escute. Se eu vou mesmo me mudar, eu preciso de um apartamento para morar, confere? E esse problema é um tipo de coisa que se resolve meses antes, afinal, temos que encontrar um, discutir, fazer a compra, assinar...
- Já entendi, continua.
- Enfim, não é uma coisa rápida. Não acho mais que justo meu pai ir comigo conhecer a cidade, conhecer onde fica a empresa, como está a construção e todas essas coisas. Então, John e eu podemos comprar duas passagens ao domingo e contar para ele com a confirmação em mãos.
Bato palma do meu próprio plano, me sentido satisfeita por tê-lo feito. David com certeza vai adorar.
- É... e depois dizem que o dinheiro não compra felicidade.
Dou um leve soco no braço de Regina e continuamos conversando sobre as coisas do dia-a-dia. Faço questão de enviar uma mensagem para John, informando que irei a sua casa durante a noite ao domingo, torço para que ele não tenha compromissos.
19 de abril de 2015 - 22:45
A casa de John sempre foi um dos meus lugares favoritos em Nova York, apesar de quase nunca o visitar com a frequência que deveria, eu sinto como se fosse minha terceira casa. Já perdi a conta de quantas vezes me perguntei o porquê de John não ter uma namorada e não ser casado. Ele é o conjunto completo que uma mulher gostaria de ter, é um daqueles homens que passam e arrancam suspiros e olhares de desejo. Ele é romântico, sabe como tratar uma mulher, é bonito – não que isso seja o principal -, e claro, tem dinheiro - não que isso seja o principal também -.
Sempre ouço suas histórias sobre suas "ficantes" e de como muitas se apaixonam, enquanto outras dizem que ele não tem coração. São as histórias que mais me fazem rir. Mas nunca o vi realmente apaixonado por ninguém, queria pode ajudá-lo nisso, mas não acho que seja bom para egos masculinos.
Abro a porta que ele disse já estar aberta e logo sou atacada pelo incrível cheiro de café e biscoitos de chocolate, sua casa sempre parece ter esse aroma doce, é incrível. Ava, que vem comigo a maioria das vezes, pula do meu colo e corre direito para o jardim traseiro, aqui ela é livre. Tento me achar no escuro do ambiente e sigo para cozinha, sentindo o cheiro ficar cada vez mais forte.
- Cheguei! – alerto ao não ver ninguém no cômodo.
- Não diga.
- Se queria me assustar, não conseguiu – viro-me com tranquilidade e o vejo encostado no batente da porta, já de pijamas.
- Eu não queria fazer isso, mas sabia que seguiria o cheiro da comida. Venha, já estava olhando algumas passagens, mas de madrugada as companhias fazem promoções.
- Não temos até a madrugada John – me aproximo e o abraço, sentindo o quanto seu pijama aquece.
- E por que não? Você pode dormir aqui. Vai me dizer que não pode deixar uma noite de pra...
- Por favor não complete essa frase – interrompo John antes que ele fale coisas que irão me constranger. – Você sabe o motivo Johs, Regina está em minha casa.
- Não me chame de nomes fofos quando se nega a fazer algo tão simples. Duvido que sua amiga se importaria.
Esqueço John resmungando para trás e vou até sua varanda, meu lugar favorito. Tiro meus sapatos e me deito na rede, observando enquanto ele chega com seu notebook e se encaixa ao meu lado.
- Para que o computador? – indago na inocência e recebo um olhar mortífero. – Que? Não sei para que trouxe se me disse que olharíamos pela madrugada.
- E então você disse que não queria ficar – ele me lembra.
Reviro os olhos e penteio seus cabelos com meus dedos. Como os homens podem ser complicados e burrinhos... O gesto bastou para ele entender e deixar seu computador de lado. Agora sim está certo, agora sim parece com o que sempre fazemos. Já tive alguns namorados que sentiam ciúmes, muitos ciúmes de John, os que fizeram isso, não duraram muito tempo, afinal, já deve ter virado regra, eu não posso ter alguém se também não o tiver.
Buscamos os biscoitos e café quando ficam prontos, depois voltamos para o lugar. Estávamos conversando enquanto comíamos e jogávamos pedaços de biscoitos para Ava, jogando conversa fora.
- Está com sono? – pergunto depois de um bom tempo calada.
John não responde então me desenrosco de seu abraço, olhando para ele e confirmando minhas suspeitas, ele está dormindo. Homens. Olho em meu celular e checo as horas, são uma da manhã e o sono ainda não bateu em minha porta.
- Hey – cutuco John e ele nem sequer se mexe. – Vamos, acorde, está de madrugada, as passagens, se lembra?
- Hm... eu não estava dormindo, estava apenas fingindo.
- Claro que eu acredito. Vamos John, precisamos dessas passagens para amanhã. Quer dizer, para hoje.
- Okay acordei, vamos lá.
Entramos dentro da casa e carregamos o computador junto, sentando na mesa da cozinha para procurar melhor. John sempre foi ótimo em encontrar hotéis, passagens aéreas, tudo relacionado a viagens. Ele sabe todas as manhas, exatamente por isso que eu não faço nada e apenas deixo ele agir.
Eu pensei mesmo que demoraríamos no mínimo três horas para fazer tudo isso, mas ele conseguiu uma promoção que incluí a passagens de ida e volta e um hotel em frente à praia, com um nome nem um pouco criativo: The Miami Beach EDITION, isso em apenas trinta minutos, mais dez para pagar e estava tudo resolvido.
Depois segui para o quarto de hóspedes, onde tomei um banho e simplesmente capotei. Acordei junto com John, que disse que iria a casa dos meus pais comigo pois depois sairia com meu pai.
Paramos para tomar café na ida e logo estávamos estacionados em frente à casa do senhor e senhora Nolan.
- Loirinha, aquele não é o carro...
- Você não esqueceu de imprimir o comprovante, não é? - paro antes de abrir a porta.
- Não, está aqui Emma, relaxa, está tudo certo.
- Tudo bem então, vamos.
O puxo para dentro de caso e logo ouço meus pais conversando. John tira Ava da coleira e anda em minha frente, seguindo as vozes, faço o mesmo.
- Mãe, por favor, me diga que meu pai ainda... - paro de falar quando entramos na sala e dou de frente com uma costa conhecida.
Killian.
Depois da nossa discussão passaram quatro dias. Quatro dias sem nem mandar uma mensagem em meu telefone, quatro dias ao qual eu senti sua falta mas quis dar a ele o espaço necessário, quatro dias e agora ele está sentado no sofá, de costas para mim. Sua perna esquerda está em cima da direita e seu braço apoiado no braço do sofá, mostrando o quanto está relaxado sentado na casa dos meus pais. Meus pais.
- Emma, estão olhando para você - John sussurra em meu ouvido e dá um pequeno empurrão em meu ombro.
- O-oi - levanto a mão em um aceno desnecessário. - O que você... faz aqui?
- Emma! Isso é jeito de falar com visita?
- Quis dizer, bom que está aqui Killian.
Abraço meu pai, que não parece lá um dos homens mais felizes dessa sala, diferente de Jones, que parece se deliciar com meu desconforto. Faço o mesmo com minha mãe e deixo a "visita" por último.
- Que está fazendo? - sussurro em seu ouvido.
- Conversando.
- Como estava dizendo Killian, devia trazer seu pai aqui algum dia, ele parece ser tão agradável quanto você, além de que... me desculpe perguntar isso mas, já se perguntou se ele não sente muita falta de sua mãe?
Olho para John em busca de sua ajuda, mas ele, assim como eu, parece perdido. O que Killian está fazendo aqui afinal de contas? Olho para meu pai e penso que se isso não fosse trágico, seria cômico. Todo esse cenário com meu assessor que já conhecia meu pai antes de mim, conversando coisas íntimas com minha mãe enquanto toma um suco de laranja, Ava agora deitada ao lado de seu pé, e claro, o sorriso de conquista em seu rosto.
- Ah claro que sim, a senhora não tem noção de como ele ficou devastado quando o acidente aconteceu.
- Sim, mas... - meu pai interrompeu antes que alguém falasse algo. - Sei por que está aqui. Você não iria vir até nossa casa só para trocar alguma ideia, se não tivesse algum interesse. Estava esperando ela chegar e ela chegou então, você gosta de minha filha, não é?
Arregalo meus olhos e engasgo com minha própria saliva. Killian parece também ter se assustado com a mudança repentina de assunto, acredito que não tenham falado nada disso antes de John e eu chegarmos.
- Claro que gosto muito de sua filha senhor Nolan, mas esse não...
- Pai, sabe que vim até aqui te fazer uma surpresa, inclusive acho que vai amar. Não é mesmo John? John me ajudou com tudo, metade do crédito vai a ele - tento desesperadamente mudar de assunto.
Não sei se a intensão de Jones era essa, entrar nesse assunto, mas mesmo se fosse, eu fugiria antes que as coisas ficassem mais embaraçosas.
- Mas sabe, já que perguntou...
Me viro para Killian com o típico olhar "que diabos você está fazendo?", que se intensifica quando ele levanta e caminha em direção ao meu pai, o que me deixa totalmente sem reação, mesmo se eu quisesse sair correndo dali, não conseguiria.
- Eu realmente gosto muito de Emma Swan, na verdade, eu gosto mais do que seria saudável gostar de alguém, as vezes me pergunto se é possível que ela sinta o mesmo, e se sim, que aceite esse presente - Jones pega um caixinha que estava no bolso de sua calça e entrega ao meu pai. Ao meu pai. - Mas que ela aceite apenas se o senhor der a ela, porque eu a respeito bastante para não fazer as coisas corretamente.
Silêncio completo.
- E não se preocupe, não é um anel de noivado, é apenas um compromisso.
Enfim Killian desvia os olhos de David e olha para mim. Se os olhos são a porta da alma, o que ele deve estar vendo em minha alma agora? Nem mesmo eu sei.
Eu sei que ele gosta de mim. Eu sei que sim. É fácil de ver e perceber, assim como sei o quanto Jones quer estar próximo a mim e mostrar que pode fazer melhor do que já fez, pode ser melhor do que é. Todo o constrangimento some quando me perco completamente nos olhos azuis, nós conversamos sem abrir nossas bocas. Nesse momento eu sei que nunca mais vou conhecer alguém tão louco como Killian Jones. O maluco claramente não tem medo de errar, nem de cair, pois sabe que me tem na palma de sua mão, está confiante do que está fazendo. Ele também não é besta, sabe que somos adultos e que essa cena é completamente desnecessária, mas o impacto, preparado dessa maneira, é bem maior. Imagina quantos pontos ele não ganhou com meus pais com essa simples, porém corajosa atitude?
Meu pai analisa a caixinha por alguns segundos, olha para minha mãe, que parece força-lo a me entregar o que é meu, apenas com o olhar.
- Acho que isso é seu - David hesita em me entregar, assim como eu demoro a pega-la.
Abro e encaro o anel em minha frente. Killian e eu não somos um clichê. Me sinto mal quando fiquei por quatro dias pensando que ele nem mesmo se lembrava de mim, enquanto ele preparava tudo isso e eu, tentava tirá-lo de meus pensamentos.
- Eu... - engulo em seco. Quando as palavras me faltam, me concentro no anel novamente.
Meu pai me tira dos meus pensamentos quando tira a bijuteria de sua moradia e pega minha mão. Sinto que me ele pede uma confirmação, apenas concordo a cabeça e o assisto colocar o anel em meu dedo.
- Ah eu estou com uma fome, por que não vamos comer algo? - minha mãe sai da sala e carrega os homens com ela, eu apenas a agradeço internamente pelo enorme favor.
- Você ainda está aqui? - Killian pergunta quando beija minha mão. - Emma, me desculpa por deixar você desconfiada, eu fui um idi...
Calo sua boca quando a beijo e torço para que isso seja o suficiente para expressar o que sinto, já que não sou tão boa com palavras como Jones sempre foi. Eu ainda quero saber sobre ele e Neal, mas a falta que senti de estar ao seu lado, é bem maior que qualquer curiosidade.
- Você é louco Jones - afirmo quando encosto minha testa na sua.
- Eu diria que isso é uma maneira de admitir que você tem medo do nosso "isso não é um adeus", porque sabe que eu nunca vou desistir de você.
Sorrio.
- Nunca é muito tempo.
- Exatamente por esse motivo que eu escolhi essa palavra.
Entrelaço nossos dedos e noto que ele ainda não usa seu anel. Ah... onde você está entrando Emma Swan?
- Onde está sua aliança?
Ele tira de seu bolso e coloca em seu dedo, o expondo no ar em seguida.
- Agora nós temos um compromisso e, eu prometo a você Emma Swan, um dia você saberá tudo sobre minha vida, cada detalhe. Vai poder abrir todas as portas fechadas, vasculhar em minha mente e coração, porque eles já estão destrancados para você, só esperam o momento certo para te deixarem entrar porque agora, tem medo de que você entre e tenha pressa para sair.
Killian seca algumas lágrimas que escorreram em meu rosto e deixa um beijo em cada lugar onde tinha uma.
Eu percebo agora, eu não quero deixá-lo. Não quero deixar Jones por nenhum outro homem de nenhum lugar. Eu o quero ao meu lado para sempre, porque assim como quatro meses não foram o suficiente, um ano não será, dois anos não serão. Nós precisamos da vida inteira.
- Mas eu não vou. Não vou sair às pressas, porque aconteça o que acontecer, nunca será um adeus.
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