História Rivais - III. O Desafio.

Acordei com uma conversa alta e escandalosa na cozinha, o sol estava brilhando em meu rosto, e fechei os olhos mais forte antes de abrir eles lentamente, dando de cara com um Cadu me encarando com covinhas aparentes e uma bandeja de café da manhã, o que me fez o olhar desnorteado por ter acabado de acordar, não sabia nem mesmo onde eu estava por alguns minutos, mas me recuperei e me sentei no colchão. 

— Bom dia, Bruno. - Ele disse estendendo a bandeja de comidas e suco natural para mim, esta que eu aceitei e coloquei em cima de minhas pernas. 

— Aí Baek, obrigada por arranjar um namorado tão cuidadoso! Ele fez o melhor café da manhã do mundo! - Karina se espreguiçou na namorada enquanto falava isso e sorria feliz com um pão de queijo na mão. 

— É mesmo! Ele não errou nem mesmo no café! - Olhei para o sofá onde Kyungsoo se encontrava, assistindo Mais Você na televisão. 

— Obrigado, Cadu - Falei baixinho, começando a comer alguns pães de queijo e uvas verdes. 

— E então, qual a programação para hoje?! - Sorriu João animado, esperando alguém soltar um "pagode" ou "baile" mas ninguém disse nada, o que fez ele murchar. — Ninguém? 

— Eu vou fazer as unhas e o cabelo hoje, e a Clara vai comigo de companhia. 

— Poxa, eu só queria aproveitar meu final de semana - Choramingou caminhando até o namorado, se jogando em cima dele, sendo abraçado meio sem jeito por ser bem maior do que o pobre Davi. 

Terminei de comer, e caminhei até o banheiro, onde tomei um banho um pouco demorado por estar ainda meio sonolento, consequentemente me fazendo ficar bem manhoso. Fiz minhas higienes matinais, e quando desliguei o chuveiro, busquei pela minha toalha ou minha mochila, no entanto, não foram encontradas, o que teve que me fazer a humilhação de berrar o nome de Clara feito uma criança chamando pela mãe 'pra limpar o 'rabo. 

— O que é, inferno? 

— Eu esqueci minha toalha, pega pra mim por favor? Está dentro da minha mochila! - Continuava berrando para ela escutar bem. 

Estava ainda debaixo da água quando escutei a porta do banheiro ser aberta e logo depois fechada, o que me fez abrir minimamente o box, no entanto, não esperava que fosse encontrar o homem Cadu parado na frente da m porta, me encarando com minha toalha azul claro nas mãos.

— Passa pra cá! - Puxei minha toalha de sua mão, e desliguei o chuveiro, escutando algumas coisas ser mexidas na pia, mas não me atrevi a espiar, somente puder ver quando estava enrolado na toalha e saí do box — O que… - Iria lhe questionar, mas ele estava apenas escovando os dentes e mexendo um algumas pétalas de uma pequena flor que tinha em cima da pia, fofo. 

— Me desculpe… - Ele lavou a boca e eu continuei paralisado o olhando, vendo ele se virar de costas para mim. — Eu não queria te trazer desconforto.

Eu não falei nada, apenas sorri pequeno.

— Pode fazer um favor para mim, Cadu? 

— Sim? 

— Pega minha mochila? - Ele assentiu e saiu rapidamente. 

Ele era um grande bobão quando queria, se tornando até mesmo um pouco fofo! Neguei com a cabeça para me desvencilhar dos pensamentos inoportunos, vendo ele abrir a porta e estender a mochila para mim. 

— Obrigado! - Sorri gentil e peguei a mochila da mão dele, sem nem mesmo eu mandar ou pedir, ele fechou a porta, e eu ri baixinho. Coloquei um short fino e um pouco curto da Nike, junto com uma blusa do Corinthians falseta mesmo, que comprei no camelô, mas era apenas para ficar em casa então não ligava muito. 

Saí do banheiro e dei de cara com, novamente, um Cadu, mas dessa vez ele estava de costas, vestindo apenas uma bermuda preta, enquanto mexia nas próprias coisas. Não conseguia tirar meus olhos dos ombros largos, e as costas grandes e musculosas, era uma puta tentação na minha frente! Os braços bem malhados estavam bem visíveis, isso me lembrou que eu odiava fazer academia, mas por esse homem, eu faria academia todos os dias! 

— O que foi? - Ele perguntou, e eu estremeci por ele ter percebido o quão encarando seu corpo eu estava. 

— D-desculpa! Não é nada, só estava pensando o que faria hoje - Neguei com a cabeça me aproximando da cama, deixando a minha mochila ali em cima, evitando o contato visual mais uma vez com aquele corpo e aquele rosto.

— Vai pular fora do meu convite? - Ele perguntou e puxou uma camisa do Palmeiras de dentro da bolsa, o que me fez olhar enojado, minutos atrás eu tinha esquecido que ele era palmeirense. 

— Eu faço cinco gols em você fácil fácil, gatinho! - Disse metido, cruzando os braços enquanto olhava para ele de forma esnobe. 

— Tudo bem, vamos apostar, tudo fica melhor com aposta, não? - Concordei, eu vivia de apostas com meus amigos e a maioria das vezes eu quem ganhava, por que não me divertir com um Palmeirense metido? — Se eu ganhar, você irá fazer qualquer coisa que eu quiser. 

Ergui uma das sobrancelhas sutilmente, pensando se era realmente uma boa fazer isso, afinal, e se ele realmente ganhasse de mim? Eu teria que fazer qualquer coisa que ele quisesse, ele não poderia pegar tão pesado assim, poderia? Já pensou se caso ele me mande beijar a camisa do palmeiras? Seria uma tremenda humilhação para mim! Arrgh, definitivamente, odeio todo o tipo de palmeirense, já deveria ter batido e humilhado Cadu, mas ele tem um rostinho tão…

— E então? Vai arregar? 

Esnobe. 

— Nunca. Se eu ganhar, você cumprirá um dos seus piores pesadelos. - Eu disse sem nem mesmo saber qual era o pior pesadelo dele, mas eu já tinha em mente alguém que talvez saiba dessa informação. 

— Está certo. - Ele estendeu a mão para mim e eu apertei, sentindo seu aperto firme, fiz questão de firmar o meu também. — Monte sua equipe, e quando estiver pronto, antes das sete, me ligue, eu vou te passar o endereço. - Ele piscou, soltou minha mão e saiu com sua mochila. 

Na mão que ele tinha apertado, estava um papel com o número dele, e bem pequeno, com uma letra até que bonita demais para um estrangeiro, estava escrito: Boa sorte, gambázinho. 

 Eu precisava vencer esse jogo mequetrefe de qualquer forma, então saí como um foguete do quarto de Clara, e desci as escadas, vendo todos me olharem com uma cara suspeita.

— E aí, perdeu a virgindade? 

— Vai se foder vocês! - Mostrei o dedo para eles, e com os olhos procurei por Cadu, mas ele, aparentemente já tinha saído, talvez fosse buscar sua equipe e eu teria que fazer o mesmo. 

— Ele é desses que mete e vai embora?! 

— Cala a boca João, preciso de você hoje. - Disse olhando com cara de cachorro pidão. 

— Vamos para qual boate? 

— Que mané boate! Eu tenho uma pelada séria contra o Cadu, preciso vencer, preciso de você como meia - Juntei as mãos o olhando. 

— Tudo bem! Eu sei que sou necessário para o time vencer. 

Eu não sabia qual era o tamanho do campo de Cadu, então decidi fazer uma formação 1-2-2. Tive que ligar para alguns amigos da faculdade que já tínhamos jogado algumas vezes juntos, como Miguel, Samuca, Rafa e Luiz, estes que sempre foram acostumados a jogar no meu time quando íamos para praia jogar futebol. Mandei mensagem para todos e fiquei radiante por todos estarem livres em pleno sábado para poder jogar uma pelada de quarenta e cinco minutos, só por pura diversão e disposição, tinha coisa mais jovem do que isso? 

Corri para casa assim que terminei de almoçar na casa de minhas amigas, tomando um banho não muito demorado por saber que acabaria me sujando e suando enquanto jogava. Busquei no guarda roupa por alguma roupa ou uniforme de futebol que ainda coubesse no meu corpo, e bom, apenas achei um short leve e curto branco, este que tinha o símbolo meio acabado do Corinthians, e na parte de cima, decidi colocar uma blusa da época que o Ronaldo jogava no meu time, sendo esta branca, ainda com aquelas propagandas enormes e feias em vermelho, mas um grande clássico. Me olhei no espelho por um tempinho e sorri ao me lembrar que faltava a parte mais incrível da roupa. Subi em um pequeno banco e me ergui para alcançar uma caixa de sapato em cima do guarda-roupa, abrindo a caixa para apreciar minha chuteira que faziam um bom tempo quem não colocava nos pés, óbvio que como, a maioria dos meninos na infância, eu sonhava em ser jogador de futebol e ter essas chuteiras originais e autografadas era a realização de um sonho. 

 Vesti os meiões até um pouco abaixo dos joelhos, e calcei as chuteiras prateadas, finalmente estava pronto, pronto para ganhar de um palmeirense convencido! Iria mostrar para Cadu que não são apenas os jogadores do Corinthians que tem talento, mas também a torcida! 

Escutei a campainha tocar e me enchi de perfume e desodorante, catando meu celular e uma bola nas mãos, descendo rapidamente pelas escadas e abrindo a porta, vendo Rafa no carro estilo antigo vermelho, ele amava carros assim, que João Vitor também estava no banco de trás, revirando os olhos por alguma coisa que Luiz dizia para ele, enquanto Miguel e Samuca riam de toda a situação. Como todos estavam atrás, eu entrei do lado passageiro. 

— Oi gente! - Sorri animado, e beijei a bochecha de meu amigo Rafa, que fazia muito tempo que eu não o via. Cumprimentei também meus outros amigos, e abri o celular quando o senti vibrar, vendo uma mensagem de um número não adicionado. Merda, esqueci de avisar ele. 

55 11***-****

Oi. 17:13

Está vindo?. 17:13 

Vou lhe passar o endereço. 17:13

Obrigado.  17:14

Já estamos indo!.   17:14

Passei o endereço para Rafael assim que Cadu me mandou por mensagem, e meu amigo motorista comentou ser bem perto de onde estávamos, no mínimo quinze minutos, o que me deixou mais calmo, pelo menos não iríamos pegar trânsito nem nada do tipo e não chegaríamos atrasados. Miguel e Luiz colocaram Cazuza para tocar, enquanto João e Samuel reclamavam por querer algo menos sofrido e romântico, preferiam músicas mais agitadas, no caso, funk ou trap, mas infelizmente eles eram quem estavam no comando daquela vez, não poderiam fazer nada. 

— Eu preciso dizer que te amo…

— Já chegamos? - Exclamava João Vitor, e eu ri, pois já estávamos na frente da, aparente, grande casa de Cadu. 

— Sim, chegamos! - Disse e desliguei o rádio, recebendo alguns xingamentos e outros "finalmente". — Bora, se comportem, hein! 

Tocaram a campainha da casa, e não demorou muito para que Gabriel Wang aparecesse para abri para nós, ele era o garoto mais famoso da escola onde estudamos, me pergunto onde foi que Cadu fez amizade com ele, já que o mesmo tem poucos amigos que considera fortemente, seus amigos são normalmente companheiros de festa, mas Cadu tinha acabado de chegar no país, não fazia o menor sentido eles serem amigos, mas ignorei esse fato. Cumprimentei o famoso Biel, meio tímido por saber que já tivemos algumas interações no tempo de escola, mas passei reto após lhe cumprimentar e entrei na casa, vendo Cadu e mais alguns homens por ali que não me atrevi a cumprimentar antes de dar ao menos um "oi" para o dono da casa. 

— Oi… - Disse meio tímido, não sabia o porque, mas interagir com ele na frente de vários estranhos, mas conhecidos dele, era um pouco constrangedor, todos estavam nos olhando, mesmo que estivessem apertando as mãos de meus amigos, os olhos fixaram em nós. — Sua casa é linda. 

— Ah, obrigado! Pode ficar a vontade, quer algo para beber? - Ele perguntou, me olhando com um sorriso fofo. 

— Não precisa, obrigado! - Sorri, mas o sorriso foi pra casa do caralho quando vi a blusa feiosa que ele usava, aquele tom esverdeado me fazia ter dores de cabeça de raiva, será efeito colateral de ser rival do Palmeiras? — Que coisa horrível é essa que está usando? 

— Sujo falando do mal lavado, Baek - Eu quase sorri quando ele me chamou pelo apelido, mas me segurei e me mantive sério. 

— Ei, não fale assim do garoto, ele não está tão mal assim! - Um homem com óculos escuros e cabelos bem pretos e curtos disse, e pareceu me avaliar de baixo para cima enquanto colocava suco em um copo. 

— Saí fora jb! - Proferiu Cadu, empurrando o amigo, que riu e levou suco para o meu amigo que sorria todo assanhado para esse atleticano sem vergonha. — Ele me paga! 

— Está tudo bem, sei que fico irresistível quando visto o manto! - Dei uma voltinha e sorri afrontoso, adorava provocar o outro com este lance de time. Mas óbvio que pude perceber seus olhos percorrendo meu corpo, o que me fez estremecer um pouco, ele iria comentar algo quando João se intrometeu na conversa junto com Samuel. 

— E aí, está pronto para perder? Nós já jogamos muito pelo interclasse, então acho melhor você ficar esperto viu, Caduzinho. - Eu ri com o apelido afrontoso e vi o citado dar de ombros. 

— Não sou muito de falar, é melhor vocês verem - Ergueu as sobrancelhas convencido, e largou de mão de terminar a caipirinha que estava preparando, acabando por se posicionar no centro da sala para ditar algumas coisas — O Jota pê vai ser o juíz da partida, espero que todos tenham decência para respeitar ele como comandante, vamos fazer quarenta e cinco minutos de jogo - Como eu pensava — E teremos breve minutos para conversarmos entre si e bebemos uma água, após vinte e dois minutos de jogo. Não teremos limites de gol e a posição onde irão jogar é escolha de vocês - Sorriu por fim e nos levou até a cobertura da casa, onde havia realmente um campinho muito bom para jogar, era basicamente do mesmo tamanho de uma quadra de handebol. 

Uni minha equipe e decidimos nossas posições, sendo: eu como atacante, João e Samuel são meia, e Luiz e Rafa na zaga, e acabamos por roubar um dos amigos de Cadu para ser nosso goleiro, ele era irmão de um dos amigos, então confiamos que não iria roubar para o lado deles. O jogo começou com a bola na nossa posse, o que me deu tempo para perceber que Cadu jogava na zaga, será que ele não se garantia em ser atacante junto comigo? Dispensei tais pensamentos quando vi um dos meias se aproximarem com a bola, o que me fez correr para a área adversária, marcando outro meia deles, este que colocou o pé na minha frente quando fui correr para pegar a bola, marcando falta. Jackson me ajudou a levantar e me pediu desculpas, eu apenas acenei com a cabeça e vi João tocar para mim, correndo para marcar Cadu, tive que driblar um dos meias e João estando muito marcado, tive que arriscar a chutar para o gol, este que entrou por um erro do goleiro. Pulei abraçando João enquanto gritava "gol", não pude me segurar em piscar para Cadu antes de voltar às nossas posições. 

O placar perdurou o mesmo até o descanso, este que aproveitamos para falar sobre mais estratégias, e planos para manter a mesma energia, deixando o outro time cansado enquanto conseguimos alcançar a área adversária, no entanto, assim que o tal "Jota pê" apitou para voltarmos o jogo, o time rival parecia muito mais destinado a alcançar um empate, eles não saiam da nossa área e eu mais xingava os meus amigos do que planejava jogadas, o que acabou nos custando um gol, este muito bem feito pelo zagueiro, Cadu, que veio comemorar na minha frente, já que me virei de costas para não olhar tal alegria, revirei os olhos e me segurei para não xingar ele até que se arrependesse de ter feito isso. Meu sangue estava fervendo e isso foi motivo de eu ter cometido uma falta dentro da área, acarretando em pênalti, este que foi batido por Cadu, e posso te falar, nem mesmo o maior goleiro do mundo, sendo este o Cássio é claro, pegava esse pênalti, não sabia que ele era tão bom assim na bola. Ele pulou com seus amigos pela virada, e eu recebi um abraço de Rafa ao escutar o outro garoto apitar, sinalizando o fim de jogo. 

— Eai Corinthiano, como se sente tendo perdido para rivais? - Jackson dizia convencido, me seguindo até o canto do campo, onde tinha alguns bancos. 

— Vai se foder… - Olhei para ele que sorria como se estivesse feliz em ver minha resposta à sua provocação — Você não tem nem estádio - Revirei os olhos e vi ele se sentar ao meu lado, passando os braços em volta do meu pescoço. 

— Calma irmão, só estou brincando contigo - Sorriu dando batidinhas em meu ombro — Mas fala tu, como sabe que sou flamenguista? 

Quando paralisei com essa pergunta, como poderia dizer para ele que ele nunca deixou de ser assunto no meu grupinho, e além de tudo, ainda tinha apelido de "american boy" quando iríamos falar sobre ele. 

— Gosta de Kanye West? - Perguntei pra ele, e ele me olhou confuso — Por que eu sou mais Taylor Swift - Ele riu junto comigo, nunca pensei que entenderia algo assim. 

— Acho que prefiro Harry Styles. - Ele respondeu e eu concordei ainda rindo. 

— Do que estão rindo? Já superou a partida Baek? - Cadu perguntou, chegando mais perto de nós, ele carregava sua blusa de time nos ombros, tendo o tronco totalmente desnudo, ele só podia fazer essas coisas de propósito, não era possível. 

— Não estou afim de falar sobre isso, Cadu - Revirei os olhos ao lembrar. 

— Não vai dar para trás quanto ao nosso acordo, não é? 

— Não sou de dar para trás - Disse convencido e vi Jackson se retirar como se estivesse atrapalhando, dando espaço para Cadu sentar do meu lado. 

— Sobre o que estavam falando? Devia ser algo legal por ter feito você rir em meio a tudo isso, não? - Eu apenas dei de ombros, encarando minhas próprias mãos no meio das minhas coxas. 

— Então…você ganhou, vou ter que fazer o que você quiser, fale logo antes que eu dê para trás. 

— Não disse que não é de dar para trás? - Eu ignorei sua pergunta por obviamente estar zoando com a minha cara. — Enfim, já tenho uma ideia do que eu quero que você faça. - Esperei ele falar, mas ele simplesmente não prosseguiu, o que me fez olhar em seus olhos, e então ele falou. — Quero que você me dê um beijo.