História Rockabye - Party

Capítulo 8 - Party

Nevava naquela noite em Traverse City, mas o clima frio não era suficiente para combater o clima alegre e festivo que transbordava do Bar do Carvalho Errante. Era aniversário do estabelecimento e também do dono, e uma festa simples preenchia o espaço enquanto o próprio Oaken havia se dado um dia de folga para poder curtir o dia especial com todos que gostava. A música ao vivo era por conta de uma banda local, mas que era muito boa, e as comidas saborosas e as bebidas de sempre muito bom gosto eram por conta da mulher de Oaken, que servia as mesas lotadas de amigos próximos e assiduos frequentadores do bar com um sorriso no rosto, acompanhada da sobrinha Merida e os outros dois funcionários do local.

Elsa estava lá como uma das atrações daquela noite, e trabalhava no ritmo da música animada, desta vez vestida em um traje de balé escuro com renda violeta e alguns detalhes em preto, não era muito elegante, porém era muito bem trabalhado e bonito. A maquiagem nos olhos era bem delineada e combinava com o tom violeta da renda de sua saia. As madeixas platinadas do seu cabelo estavam arrumadas em um coque baixo com uma coroa de trança que rodeava o seu crânio, e uma pequena biju dourada de coroa enfeitava o topo de sua cabeça, acima da franja que caía delicadamente em seu rosto.

Seus amigos estavam todos reunidos em uma mesa próxima ao palco, conversando animadamente entre si, e até com Jack, que foi acolhido pelo grupo de muito bom grado. Skyler também estava lá, se divertindo juntos dos trigêmeos irmãos de Merida, de 13 anos, enquanto aprontavam com os outros dois funcionários do bar e levavam a mais nova junto consigo, que não entendia nada mas estava achando tudo muito engraçado.

Elinor tinha que ficar de olho nos quatro, especialmente nos três meninos, porque sabia que eles estavam aprontando com os funcionários, mas tinha certeza de que eles planejavam roubar o bolo ou algo do tipo, como faziam em todos os aniversários em que participavam. Era nessas horas de distração da mulher que Merida conseguia escapar para então se sentar com os seus amigos.

- Rápido, me passa um copo antes que ela me veja - Pediu enquanto se sentava ao lado de Rapunzel e se encolhia a fim de esconder o rosto. Flynn riu e lhe passou um copo de cerveja já cheio e ela tomou um gole - Aí, ô … Frost! Se continuar olhando assim pra Elsa vai começar a escorrer baba da sua boca - Brincou, chamando a atenção do platinado, que se assustou e limpou o canto da boca realmente acreditando que havia babado, fazendo os três rirem.

- Não enche, Merida - Resmungou, mas depois riu pelo nariz e tomou um gole do uísque servido em seu copo.

Como de costume, Jack ficava encarando Elsa dançar praticamente o tempo todo, já que vê-la dançando era uma das coisas que mais o fascinavam, e isso a deixava sem graça sempre que lhe olhava de relance, e acabava fazendo-a rir. Era óbvio que isso era notado pelos amigos da mulher, que nunca perdiam a chance de caçoá-lo por isso, principalmente a ruiva de cabelos cacheados, mas todos sabiam e tinham certeza que os sentimentos de Jack por Elsa eram sinceros, e eles o respeitavam por isso.

Por agora o platinado resolveu parar um pouco com todo o seu fanatismo pelo trabalho da mulher platinada, e se virou para os amigos na mesa e entrou em uma conversa descontraída sobre basquete com Flynn, que estava sentado ao seu lado.

De repente todos se sobressaltaram com o susto que levaram ao verem três meninos correrem e se esconderem embaixo da mesa em que estavam. Skyler vinha logo atrás deles, com o rosto vermelho e molhado de suor, mas que carregava um enorme sorriso divertido nos lábios. Ela fez menção de se enfiar debaixo da mesa junto com os trigêmeos, mas foi impedida por Rapunzel.

- Sky, olha o seu estado! - A loira riu enquanto trazia a menina para perto de si e limpava o suor no seu rosto com um lenço de papel - Senta aqui, bebe uma água e me conta o que vocês andam fazendo - Pediu e fez a menina se sentar na cadeira ao lado de Jack, que sorriu divertido e bagunçou o cabelo da mais nova levemente.

- A gente “tava” na cozinha e os meninos esconderam o bolo do “vô Oken” - Skyler respondeu depois de tomar fôlego e beber o copo de água que Rapunzel havia lhe dado.

- Shhhhh - Eles ouviram os meninos fazerem debaixo da mesa.

- Aí, não acredito que você fizeram isso de novo. Não estão muito grandinhos não? - Merida perguntou em tom debochado enquanto levantava a toalha colorida e encarava os três ruivos sapecas debaixo da mesa - Onde vocês esconderam o bolo? - Perguntou em um sussurro interessado.

- HARRIS, HUBERT E HAMISH, QUANDO EU COLOCAR A MÃO EM VOCÊS ... - A voz raivosa de Elinor pôde ser ouvida logo ali próximo, o que fez Merida largar a toalha por causa do susto, escondendo os irmãos novamente - Merida! O que está fazendo aí sentada?! Os seus irmãos esconderam o bolo de novo e você e o seu pai nem ligam! - Se aproximou, fazendo todos na mesa sorrirem nervosamente, tanto por estarem com medo, quanto por saberem onde os garotos estavam - Vá atrás deles agora! - Ordenou e viu a filha mais velha se levantar e sair do seu campo de visão.

Festas deixavam Elinor DunBroch totalmente sem paciência. Enquanto ela se matava para deixar tudo ao gosto de seu cunhado, seu marido apenas estava sentado em uma mesa bebendo com os amigos, sua filha era preguiçosa e sempre fugia do trabalho, e as três pestes que ela chama de filhos sempre ficavam aprontando. Isso tudo acabava com a morena, mas no fundo ela sabe que não conseguiria viver sem todos esses ruivos. 

A mulher se sentou na mesa ao lado da de Rapunzel, onde estava sua melhor amiga, Gothel, bebendo sozinha.

- Esses meninos ainda vão me matar um dia - Suspirou, colocando uma das mãos sobre o cenho. A de cabelos cacheados ao seu lado riu divertida.

- Por isso que eu nunca quis ir além de Rapunzel - Comentou.

- Você só não foi além da Rapunzel porque o seu marido te trocou por outra mais nova - Elinor debochou, mas não na intenção de ofender. 

Gothel apenas riu divertida de novo, já estando um pouco alterada por causa do álcool.

- Tome aqui, dona Elinor. Não se preocupe que Merida já foi atrás dos meninos - Elsa apareceu lhe estendendo um copo de água com açúcar.

- Obrigada, Elsa. Você é um anjo - A mais velha lhe sorriu, pegando o copo e bebendo - Só pense duas vezes antes decidir ter mais um filho, você pode ser surpreendida e acabar ganhando três pestes - Aconselhou, fazendo a platinada rir - Aliás, aquele seu novo amigo é um gatinho. Estão namorando ou algo do tipo? - Perguntou interessada.

- Ah, não! Somos apenas bons amigos - Elsa respondeu sem graça.

- Eles são só amigos mas é porque você não viu o drama que esse menino fez lá na pensão pra ver essa aí - Gothel comentou com a língua meio enrolada.

- Eu posso imaginar - Elinor riu - Amiga, acho que já chega pra você. Por que não troca comigo? - Advertiu, trocando a sua água com a açúcar pelo copo de cerveja da outra mulher.

Gothel resmungou alguma coisa que Elsa preferiu não ficar para ouvir, afastando-se das duas mais velhas e se dirigindo até os amigos na mesa ao lado. Ela sorriu para eles e se sentou ao lado da filha, levantando a toalha da mesa discretamente e passando um pequeno bilhete para os trigêmeos escondidos ali embaixo.

- O que está fazendo? - Rapunzel questionou curiosa.

- Apenas salvando a pele da Merida - Elsa respondeu simplesmente e logo sentiu um cutucão na perna e pegou o bilhete de volta.

Ela riu ao ler o pequeno papel e digitou uma mensagem para a amiga dizendo onde estava escondido o bolo. Não demorou muito para a ruiva aparecer de volta no salão, segurando uma bandeja cheia de doces e salgadinhos, e se aproximar da mãe dizendo-lhe que havia encontrado o bolo. Elinor pareceu aliviada e agradeceu a filha e a dispensou do trabalho por aquela noite, o que fez uma Merida animada e satisfeita se sentar de volta na mesa com a bandeja no colo, mas logo deslizando-a para baixo pelas pernas.

Três meninos ruivos saíram debaixo da mesa com a bandeja e se arrastaram até o canto do palco como se fosse criminosos, o que tirou risadas divertidas dos adultos que os observavam.

- Sky - Hamish, o mais novo, chamou em um sussurrou, fazendo a menina mais nova encará-los e depois encarar a mãe ao seu lado.

Elsa apenas a olhava com uma sobrancelha arqueada, mas um sorriso divertido nos lábios.

- Só dessa vez, entendeu, mocinha? - Permitiu, e pôde ver o brilho nos olhos azuis da pequena e um sorriso maior que o mundo brotar em seu rosto, e logo Skyler já estava se empanturrando de doces e salgados junto dos três mais velhos.

- Psiu, Sky - Jack chamou e fez gestos que deu a entender que também queria um pouco dos doces.

A menina encarou os trigêmeos como se pedisse permissão para eles, e esses apenas sorriram e a incentivaram a ir lá levar alguns doces para o homem. Skyler sorriu e se aproximou cautelosamente por trás da cadeira de sua mãe até chegar perto de Jack e lhe entregar o pratinho com doces separados pelos meninos. O platinado piscou um olho para ela e fez um gesto de silêncio, que foi repetido pela menina e então ela se afastou, voltando para o lado dos ruivos.

Quando Jack mordeu um dos doces do pratinho, o gosto estranho de chocolate misturado com frango e maionese tomou o seu paladar, fazendo-o cuspir tudo de volta com uma careta de desgosto e olhar o doce recheado com chocolate e creme de frango com maionese. Ele se virou incrédulo para as crianças, que gargalhavam divertidas por terem conseguido o enganar misturando os recheios.

- Se algum dia eu pensar na possibilidade de ter filhos, vou me lembrar desses moleques e pensar três vezes antes de decidir se realmente vou querer ter filhos - Jack comentou para Elsa um tanto emburrado, enquanto encarava feio os mais novos, que agora tentavam imitar a careta que ele havia feito ao provar o doce, e se divertiam com  isso.

- Dona Elinor acabou de me dar o mesmo conselho - Elsa riu, sem realmente perceber o que estava acontecendo - É bom que tenhamos certeza antes de formar uma família - Comentou inocentemente.

- Isso é uma proposta de casamento, senhorita Snow? - Jack não perdeu a chance, logo colocando um sorriso de canto nos lábios no lugar da expressão emburrada.

- O que? Claro que não! Jack! - A platinada advertiu um tanto atrapalhada, fazendo o homem rir divertido - Não teve graça - Riu também.

- Quem sabe um dia a gente chega lá - Ele riu convencido, fazendo-a apenas balançar a cabeça negativamente e rir envergonhada.

Não demorou muito e a mulher de Oaken chamou todos para poderem cantar parabéns e cortar o bolo que tinha o formato do estabelecimento. O homem ruivo fez um discurso emocionante sobre o quanto era grato por todas as coisas boas que aconteceram em todos aqueles seus anos de vida e não deixou de homenagear a sua esposa, filhos e sobrinhos, além também de seus fiéis funcionários, o que incluía Elsa, e essa não conseguiu se controlar em não ficar emocionada com suas palavras doces e carinhosas.

A platinada voltou a dançar depois que todos estavam servidos, deixando que o ritmo da música que a banda tocava tomasse conta do seu corpo e lhe desse liberdade para executar os seus passos perfeitamente. A melhor parte era que do alto do pequeno palco ela podia ficar de olho na filha, que corria de um lado para o outro seguindo os três ruivos idênticos.

Harris, Hubert e Hamish gostavam de falar que eram primos de Skyler, mesmo não tendo nenhum grau de parentesco com ela, e apesar de serem 7 anos mais velhos que a menina de 6 anos, eles sempre estavam dispostos a incluir a pequena nas suas brincadeiras. Elsa se lembra deles quando chegou, tinham apenas 7 anos e eram muito curiosos quanto a barriga enorme da platinada. Eles diziam que ia sair um alienígena dali de dentro e que ele ia dominar o mundo, mas como todos, os três ficaram encantados ao verem Skyler pela primeira vez, que era gordinha e branquinha, e delicada como um floco de neve. Aliás, a ideia do nome Skyler partiu dos três meninos, que diziam que o azul dos olhos dela lhes lembravam o céu, e era tão bonito quanto. E então os trigêmeos prometeram proteger e brincar com a menina sempre que pudessem, o que emociona Elsa até hoje.

Apesar de não ter uma família completa como gostaria, a platinada acreditava que não precisava de mais nada naquele momento da sua vida. A presença de Jack é com certeza um dos motivos para isso. Ele lhe trazia uma sensação de que agora ela estava completa, mas é claro que Elsa nunca admitiria isso. Por sete anos ela havia sido independente, não era agora que ela iria começar a depender da presença de uma pessoa que ela sabe que pode ir embora a qualquer momento. Pelo menos era o que a platinada pensava.

Enquanto realizava os seus passos delicadamente, com a cabeça imersa nesses pensamentos, Elsa entristeceu um pouco, e de repente se lembrou de que ela só estaria completa quando se encontrasse com a sua irmã de novo.

A fim de se livrar de coisas tristes naquela ocasião tão alegre, a mulher executou um movimento rápido enquanto se segurava no pole dance, e voltou a encarar a pessoas animadas naquela festa. O casal que entrou todo coberto de neve pela porta do estabelecimento não passou despercebido pelos seus olhos atentos. Mas quando eles tiraram os casacos de frio e penduraram nos ganchos da parede, Elsa viu dois rostos que achava nunca mais ver novamente, e isso a fez se desequilibrar e tropeçar, mas sem cair.

Os olhos azuis da mulher ruiva a encaravam com emoção. Eram os mesmos olhos de Elsa, mas que pareciam cansados, sem o brilho que a platinada se lembrava tão carinhosamente. Porém os anos lhe pareceram fazer bem, ela estava mais bonita e mais madura do que Elsa se lembrava.

A platinada abriu a boca para falar mas tudo que conseguiu foi balbuciar em um sussurro inaudível.

- Anna -