O salão principal não se encontrava tão caótico quanto talvez fosse o esperado, uma vez que ainda era cedo demais para que os estudantes já estivessem falantes e animados.
Na mesa da Grifinória, um Sirius Black que detestava acordar cedo estava esparramado com o rosto sobre os próprios braços na tentativa de conseguir alguns minutinhos extras de sono, longos cabelos pretos cobrindo-lhe parte da face e grudando um pouco nos lábios entreabertos. James Potter, em contrapartida, amava acordar primeiro do que todos os seus amigos — e talvez do que todo o castelo — e já tentava puxar assunto com os outros estudantes enquanto comia a quantidade que julgava ser o suficiente para aguentar o turno da manhã. Remus Lupin, por sua vez, apenas murmurava em resposta ao que o amigo dizia ao mesmo tempo em que preenchia um prato de comida para Sirius comer quando viesse a acordar. E Peter, bem, ele estava apenas comendo e não escutando uma palavra sequer, ainda sonolento em demasia para formular uma sentença coerente para falar.
Em outras palavras, tratava-se de uma manhã típica em Hogwarts. Aquela era normalmente a refeição mais silenciosa que o salão principal acomodava durante o dia, tendo em vista que a grande maioria dos alunos ainda não estava em seus melhores humores.
Havia, no entanto, uma única coisa que poderia reverter completamente aquela situação e transformar o salão principal no mais puro caos. E, para o receio de alguns e deleite de outros, a chuva de papéis repentina por todo o salão era tudo o que precisava acontecer para causar alarde.
James, que era o único dos marotos com energia o suficiente para tal, agarrou um dos pedaços de pergaminho sem dificuldade — se pelo excesso que caía ou instintos de jogador de quadribol, era difícil dizer — e leu mentalmente enquanto o restante dos alunos já reagiam fervorosamente à novidade. Ao terminar, James imediatamente esfregou o papel na cara de Sirius Black, que ainda esfregava os olhos em irritação por ter sido acordado pelo barulho repentino que tomara conta de todo o cômodo.
— Merlin e Morgana ambos, que diabos há de errado com você, Prongs?! — grunhiu o Black, nem um pouco feliz.
— Você precisa ler isso, Pads! — James continuou sacudindo o pergaminho.
Ainda sem o bom humor que possuía normalmente, Sirius agarrou o pedaço de papel e pôs-se a ler, esperando que fosse algo muito bom para que tamanha comoção fosse gerada tão cedo pela manhã.
“Olá, bruxos e bruxas do nosso amado castelo de Hogwarts!
Uma das minhas diversas fontes me contou que o famoso torneio tribruxo será retomado e realizado esse ano! E, melhor ainda, aqui em Hogwarts!
Como todos devem saber, já fazem quase duzentos anos desde que a competição entre as três maiores escolas de magia e bruxaria da europa foi realizado pela última vez. O que aconteceu para que os diretores mudassem de opinião? Será que eles não se importam mais com as mortes dos alunos competidores?
E o que dizer sobre a vinda dos estudantes de Durmstrang e Beauxbatons para Hogwarts? Estão ansiosos para tirarem uma casquinha dos maravilhosos alemães e derreterem ao som do divino sotaque francês?
Espero que todos estejam tão animados quanto eu.
Oh, e quem sou eu? Esse é um segredo que nunca contarei.
Beijinhos, da sua gossip girl favorita.”
Primeiro, Sirius se permitiu pensar no quão ridícula Rita Skeeter era se ela realmente acreditava que ninguém sabia de quem a autoproclamada fofoqueira se tratava, afinal, provavelmente todos os estudantes do 5º ano em diante já sabiam da identidade dela; mas, então, ele optou por ignorar tal fato por enquanto.
Quando sua mente finalmente processou a informação, parecia que todos os seus amigos já tinham lido também, uma vez que os três olhavam-no na espera por sua reação. E fazia sentido que estivessem, pois ele provavelmente deveria estar surtando sobre como finalmente teria seu irmão mais novo em Hogwarts e poderia mostrar-lhe todo o castelo, já que Reggie sempre falava sobre como queria vê-lo pessoalmente quando ainda era uma criança. Ele parou de falar sobre isso à medida em que crescia.
Olhando para cima, Sirius viu suas primas já olhando para ele da mesa da Sonserina. Elas usavam expressões neutras e, para ser honesto, ele provavelmente estava fazendo o mesmo, dificultando para quem quer que estivesse tentando ler seu rosto a fim de encontrar um sinal do que ele estava pensando.
— Algo errado, cara? Achei que você ficaria feliz em saber disso. — Era a voz de James novamente.
— Nem sabemos se é verdade. — Ele estava tentando não permitir que a esperança florescesse em seu peito.
— Espero que sim, francês é atraente! — Agora, essa definitivamente não era a voz de um dos marotos, o que fez Sirius virar a cabeça para o outro lado de Remus, onde Marlene estava sentada.
— E você certamente mal pode esperar para beirar a insanidade dando altos amassos em algumas garotas francesas atraentes, certo, Marls? — Ele sorriu para ela.
— Ei, uma garota tem que aproveitar as oportunidades. — Ela sorriu para ele também, dando uma garfada em sua comida.
— Eu tenho que concordar com Marlene nisso, o francês é uma língua tão atraente, tipo, que diabos? — Mary disse enquanto brincava com um dos pedaços do pergaminho que continua a fofoca.
— Tanto faz! Contanto que nenhum de vocês, e por nenhum de vocês, quero dizer, absolutamente nenhum de vocês, tente dar em cima do meu irmão mais novo, eu realmente não poderia me importar menos com todas as garotas e garotos gostosos falando francês que vocês vão beijar. — Sirius encolheu os ombros e era tão estranho para ele ignorar ‘pessoas gostosas’ que todo o seu grupo de amigos pensou em como ele era um tolo por Remus Lupin e nem tinha percebido isso ainda.
— Irmãozinho? Você tem um irmão francês? — Lily parecia confusa.
— Bem, minha família é descendente de franceses, então todos nós falamos francês, mas não. Reggie estuda em Beauxbatons, mas não nasceu na França — explicou e seu tom diminuiu um pouco enquanto falava sobre isso.
— Olha, cara, não tenho ideia de quem são as fontes da Rita, mas ela quase sempre tem razão. Vamos ter um pouco de fé nela, yeah? Dê a ela algum crédito pelo menos uma vez. — Peter abriu a boca para falar pela primeira vez naquela manhã quando percebeu que Sirius estava desanimando.
— Yeah, Pete. — Sirius sorriu tanto quanto pôde, mas era um sorriso forçado.
E ele estava nervoso, então não tocou na comida naquela manhã, embora Remus tivesse se dado ao trabalho de fazer seu prato.
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