História Ronronar - III. Transformação

Estavam finalmente sozinhos: Jung Hoseok e seu gato. A bola de pelos o encarava, com suas patinhas brancas cruzadas à frente do corpo deitado. O rapaz bebia um café recém-preparado, feito após ambos acordarem. Seus cabelos estavam bagunçados e seus olhos inchados denunciavam uma noite complicada: estava muito preocupado com a transformação de Suga.

Seu felino começou a segui-lo por toda a casa, acompanhando seus movimentos até nos lugares mais inconvenientes. Sempre que podia, descansava no corpo de seu dono ou passava seu corpo por suas pernas longas enquanto o maior estava parado. 

Naquela manhã fria, passaram muito tempo deitados juntos. Alguma música tocava no celular de Jung, enquanto ambos permaneciam sob o edredom e ele falava com seu gato, novamente esperando algum tipo de resposta.

Enquanto brincavam com o chaveiro emborrachado, Hope conseguia ouvir o sino de sua coleira. Um constante lembrete de que aquele gatinho iria tornar-se um homem em algum momento. Seus olhos negros o enchiam de preocupação.

Procurou pela única pessoa que podia confiar.

– Randa? – A voz do outro lado o saudou, sonolenta. – Eu estava pensando em uma coisa que pode ser importante.

– Fala, Hobi. Por que me acordou às seis da manhã num domingo?

– Quando o Suga virar... você sabe... – Olhou para o gato ao seu lado no sofá, que retribuía o olhar. – Ele vai estar nu?

Um completo silêncio instalou-se na ligação. Depois de um momento, ouviu o suspiro de seu amigo.

– Por que você está pensando nisso?!

– Não é nada do que você está imaginando. Meu Deus, Namjoon... – Hoseok riu. – Eu acho que vou preparar umas roupas para ele e outras coisas como escova de dentes e meias.

Combinaram de se encontrarem horas depois, para procurar por roupas apropriadas para o futuro Min Yoongi. Enquanto Jung arrumava-se, Suga parecia um pouco triste, como se não quisesse que seu dono fosse embora. O seguia e pulava nos móveis, querendo ficar próximo a sua altura.

– Eu vou voltar, bobo. Não se preocupe.

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– Yo, Hobi.

Namjoon aproximava-se de seu amigo, seu longo casaco preto esvoaçando contra o vento de inverno. Hoseok trajava uma jaqueta de veludo que protegia seu corpo do frio, com seus cabelos pretos sendo bagunçados enquanto entravam no shopping.

– Eu sei que você me chamou porque sou o cara mais estiloso que você conhece... – Randa pôs as mãos em seus ombros, rindo. – E precisa de ajuda para vestir outra pessoa. Digo, gato. Que se tornará uma pessoa.

– É o segundo. Eu venho primeiro, claro.

Os dois rodaram pelo shopping, procurando roupas que se encaixariam no estilo de Suga. Discordavam em quase tudo que escolhiam, desde sapatos até cuecas. Não sabiam qual tamanho de roupa ele iria usar, nem qual seria sua cor favorita para uma camisa.

– Você sabe que estamos sendo um pouco idiotas, não é? – Namjoon procurava por calças enquanto perguntava. – Estamos tentando arranjar roupas que combinem com um gato.

– Ele vai ser um humano em breve... ele é como um bebê. – Hoseok parecia extremamente focado. – Quando ele “nascer”, ou seja, virar humano, precisamos estar preparados.

Saíram de algumas lojas com blusas de diferentes cores, com duas calças e algumas cuecas. Seu dono insistiu em comprar dois pares de meias. Jung poderia emprestá-lo jaquetas e acessórios, caso quisesse; assim como sapatos, que eram muito caros para seu dono comprar. Após comprarem uma escova de dentes e algumas pastilhas de menta, almoçaram juntos.

Randa – vegetariano desde que Hoseok o conheceu – tinha um prato extremamente colorido enquanto o almoço de seu amigo era um hambúrguer e batatas fritas. Às vezes, sentia-se envergonhado por seus péssimos hábitos alimentares quando estava com ele. Não podia passar estes costumes para Suga...

– Temos que ir, o Suga está sozinho.

– Já? Ainda nem escureceu. – Namjoon o acompanhava enquanto levantava rapidamente. – Ok, vamos então, apressadinho.

Enquanto sentavam-se nos assentos do metrô, os amigos compartilhavam fones de ouvido. Tinham os mesmos gostos em quase tudo, incluindo música, uma paixão mútua e quase prioridade em suas vidas. Jung o encarou por um tempo, enquanto sua mente vagava.

– Randa... e se ele se transformar enquanto estamos fora?

– Claro que isso não vai acontecer, Hobi. – O amigo não prestava muita atenção, focado na tela de seu celular ao escolher uma faixa. – Não se preocupe.

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– Me ligue se algo acontecer e você precisar de minha ajuda.

Despediram-se ali. Seu amigo o havia deixado em frente ao edifício, ajudando-o a carregar as sacolas até a entrada. Hoseok havia subido o elevador um pouco ansioso, com o medo já conhecido de algo ter acontecido a seu gato. O Sol estava se pondo quando ele chegou, com o tempo ficando cada vez mais frio.

Abriu a porta de seu apartamento com dificuldade, seus braços doendo pelo peso carregado. Viu dois pés humanos descalços no chão. Levantando o olhar, encontrou um rapaz de pele extremamente alva; olhos negros; as pontas de pequenas orelhas peludas apareciam nos fios igualmente escuros, bagunçados. Tinha uma de suas camisas largas no corpo e isso somente, com sua coleira em mãos. Seu olhar era um pouco perdido e confuso.

Não tinha como confundir: aquele era realmente o seu Suga. O seu rosto brilhava contra a luz fraca do Sol que entrava pela janela. Hoseok sentiu seu rosto esquentar, adquirindo um tom rosado... aquele felino – agora, um rapaz – era realmente bonito.

O sangue de Jung Hoseok parecia correr por suas veias em uma velocidade maior do que podia aguentar. Essa transformação era realmente rápida assim? Suas mãos já não conseguiam aguentar o peso, largando as sacolas ao chão. Os fones pendurados no pescoço ainda emitiam o ruído da música alta que tocava, não deixando o silêncio tomar conta dos dois.

Com os lábios entreabertos, sua mente procurava algo certo para dizer naquele momento. Pensava em sair correndo, fechar a porta atrás de si e ligar para seu hyung – ele saberia o que fazer, como sempre. Porém, não havia como fugir daquilo que estava tão próximo... e tão longe ao mesmo tempo. Suga permanecia calado, do outro lado da sala, com o olhar cortando gentilmente a alma de Hoseok. O rapaz, quase como um anjo, conseguiu fazer com que as palavras saíssem de seus lábios rosados.

– Olá, Hope. – Sua voz rouca atravessou a distância entre os dois, fazendo seu companheiro sair de uma espécie de transe. – É um prazer... finalmente poder me comunicar com você.