História Ronronar - IX. Seu Nome

Enquanto a frequência das chuvas diminuía com o passar da semana, as conversas espontâneas entre os dois também desapareciam. Hoseok não conseguia mais acordá-lo, nem continuar um diálogo após o “bom dia” e “estou saindo”. Estava sensível, em parte arrependido por seu plano mal pensado. A outra parte dele era uma bagunça completa, felicidade, raiva e tristeza misturadas por Yujin ter aparecido em sua vida e balançado tudo; por Yoongi ter aparecido em sua vida e balançado tudo.

Ao encontrar com sua vizinha no elevador, não olhava para seus lábios avermelhados. Ainda sentia suas mãos formigarem ao tê-la tão próxima, tão espontânea perto de si e ao mesmo tempo misteriosa. Os dias passaram, e quando o final de semana finalmente chegou, ambos Yoongi e Hoseok estavam um pouco nervosos.

O pequeno não sabia de seu encontro, então achava que ele ficaria em casa. Hoseok lhe observava atentamente enquanto se arrumava, inclinado na parede contra a janela. Apesar da tensão entre os dois, agiam como se tudo estivesse normal – e era isso que o incomodava. Dessa vez, estranhamente, Yoongi não estava usando alguma camisa ou jaqueta sua.

– Se cuide quando estiver lá fora. – Ao levantar o olhar, viu que Suga estava saindo do quarto. O seguiu. – Randa pode ser um pouco inconsequente, e eu não quero que você...

– O Namjoon chegou. – Min o interrompeu, completamente sem emoções em sua voz enquanto olhava pela janela da sala.

Em alguns momentos, ouviram a campainha do apartamento ecoar pelo cômodo. Yoongi foi até a porta e deparou-se com um Namjoon que não havia visto antes, com roupas passadas e cabelos tingidos de cinza. Ao entrar, ele passou as mãos pelo cabelo do menor, sentindo suas orelhas descobertas e piscando um de seus olhos finos com um sorriso malicioso. Cumprimentou seu amigo que estava parado no meio da sala, ainda de pijama que acenou de volta timidamente.

– Então, já está escuro então vou levá-lo logo. Ok? – Namjoon disse, ainda do lado de fora do apartamento, ajudando Suga a colocar seu gorro.

Recebeu um aceno vindo de Hoseok, que ainda encarava o menor com curiosidade. Havia um sorriso desapontado em seus lábios que mostrava suas covinhas, que desapareceu ao vê-los saindo e Yoongi fechando a porta atrás de si, dando uma última olhada para trás com seus olhos negros, como uma faca diretamente no coração cinza de Jung.

Recebeu uma mensagem de Yujin em seu celular, uma hora depois. O apartamento estava completamente escuro, com exceção da sala, coberta por uma luz amarelada. Já estava arrumado, mesmo sem saber direito o que vestir para um “encontro surpresa”.

Yujin: Apareça, já está na hora! Estou te esperando na frente do prédio.

Não a respondeu. Buscou por suas chaves, celular e carteira que colocou em seus bolsos e correu até o quarto para dar uma última olhada no espelho. Seu coturno cobria a barra da calça, o casaco escondia quase toda a blusa que usava e os cabelos um pouco desbotados estavam levemente bagunçados. Ele desceu, pegando o elevador, sentindo que todo seu ânimo foi sugado por Yoongi no momento que ele lhe encarou e saiu.

Encontrou Yujin encostada numa parede, com um cigarro entre os lábios – dessa vez, vermelhos como sangue – e um vestido preto. Seus cabelos estavam soltos, brilhando contra o rosto bronzeado. Usava sapatos que lhe deixavam próxima à altura de Hoseok. Ao vê-lo, sorriu abertamente e jogou o cigarro fora, caminhando ao seu encontro.

– Você veio! – Ela abriu os braços para envolverem-se num abraço desajeitado. Seu cheiro era doce, misturado com a fumaça do cigarro. – Está pronto para nosso encontro?

– Para onde vamos? – Jung perguntou, ambos já caminhando pela rua.

– Espero que goste de festas.

Caminharam até o metrô, com Yujin fazendo a maior parte da conversação. Explicava-o sobre algumas coisas da festa que passaram desentendidas pelos ouvidos do rapaz, que apenas voltou a prestar atenção na moça e esquecer Yoongi quando entraram num táxi. Sentaram-se nos bancos traseiros, separados pelo assento do meio, com a moça guiando o taxista pela cidade. Enquanto olhava pela janela, ouviu o clique de uma câmera. Ao voltar o olhar para Yujin, ela analisava a foto tirada de Hoseok em seu celular, sorrindo levemente.

– Ei, não faça isso. Não sou fotogênico. – Riu.

– Claro que é! Você é lindo, Hoseok.

Tentou não dar muita importância àquelas palavras, sentindo seu estômago esfriar, não contendo o sorriso tímido que se formou em seu rosto. Depois de alguns minutos, saíram do táxi, ambos um pouco assustados pela quantidade de pessoas que estavam acumuladas na porta da boate.

Yujin segurou a mão do rapaz, guiando-o entre a multidão e acenando para o segurança. O ambiente era escuro, com tantas luzes e uma música alta que fazia pressão em seus ouvidos. Era a primeira vez de Hoseok em uma boate, que instantaneamente soltou-se ao atingirem a pista de dança. Apesar das pessoas dançando ao seu redor, a imagem de sua vizinha o levando até o bar era a única coisa que podia ver.

Ao encostarem-se no balcão de madeira escura, Jung observava a multidão que dançava entre risadas, goles de bebida e beijos. Quando sua companhia naquela noite lhe chamou a atenção, tinha duas garrafas na mão, estendendo-o uma cerveja.

– Por que você se mudou para aquele prédio? – Perguntou, dando um gole em sua bebida. – Não é o lugar que eu imaginaria para você morar.

 – Eu viajei para os Estados Unidos e fiquei sem dinheiro para conseguir pagar o aluguel do meu antigo apartamento. – Ela riu, aproximando seu corpo ao de Hoseok. – Fico feliz de você ter sido a primeira pessoa que conheci ao voltar.

Não conseguiu encarar os olhos que o fitavam tão calmamente. Estava inquieto, sem saber realmente o que fazer, e era claro para Yujin o seu desconforto. Ela se afastou, dando alguns goles em sua cerveja e espaço para Jung. Quando a música que tocava mudou, ela o chamou para a pista de dança. Seus movimentos eram limpos, de alguma maneira, e faziam Hoseok o observar quase em câmera lenta. Meio desajeitado, ele tentava disfarçar sua falta de habilidade em dança com goles de cerveja.

No meio das luzes que piscavam sobre eles, a boate intercalava entre momentos de escuridão e clareza total. A mulher em sua frente se aproximava dele, tão próxima até ele conseguir sentir seu cheiro novamente. Havia um sorriso em ambos os rostos, ele quase não conseguir sentir que seu coração Hoseok batia rapidamente. Seus rostos se aproximaram instintivamente, o rapaz precisando inclinar-se um pouco para alcançá-la mesmo.

Selaram os lábios lentamente, num beijo tímido por parte de Jung. As mãos de Yujin buscaram por sua nuca, enquanto as dele foram até sua cintura. A boca de sua companheira parecia explorar a sua, suas línguas numa sintonia desajeitada causavam arrepios no corpo de Hoseok. Ela o puxou para o banheiro, onde trancaram a porta e Yujin o empurrou na parede, beijando seu pescoço lentamente, arrancando alguns suspiros.

Antes que ele pudesse perceber, suas mãos estavam em seu cinto, desafivelando-o e abrindo o botão de sua calça. Seus olhos se abriram e ela o encarou, lhe dando um sorriso quente.

– Yujin, o que... está fazendo?

– Shhh. – Ela desceu o zíper de sua calça, tocando em seu membro por cima do tecido, desencadeando um arrepio em seu corpo.

Ele puxou seus fios alaranjados para trás, soltando um longo suspiro. Quase conseguia sentir o sangue bombeando por sua virilha, enrijecendo-o. Ela abaixou seu corpo, ajoelhando-se no chão branco e lentamente removendo o tecido que cobria sua pele. Com os olhos fechados, ele levantou a cabeça, descansando a mesma na parede, entregando-se às sensações. Ao sentir os lábios de Yujin em sua pele, tão suaves e macios, um grunhido saiu por sua garganta.

Sua vizinha lhe olhava, com o batom um pouco manchado na pele e sobrancelhas arqueadas. Hoseok não conseguiu conter sua imaginação, que vagava longe, colocando outra pessoa em seu lugar naquele momento. Pôs uma de suas mãos atrás da cabeça da garota abaixada, guiando seus movimentos ainda de olhos fechados. As palavras saíram de seus lábios impensadamente, entre uma respiração falha.

– Ah, Yoongi... – Abriu os olhos ao perceber, um momento depois, encontrando uma Yujin já de pé o encarando.

– Yoongi? – Seu tom de voz era mais alto. – Do que você ‘tá falando, Hoseok?

Ele abotoava a própria calça, com o rosto quase em chamas de vergonha. Estava vermelho, desajeitado, e não conseguia olhar sua vizinha nos olhos.

– Desculpa, Yujin, eu não consigo fazer isso.

Destrancou a porta do banheiro e saiu, deixando-a dentro do cômodo e recebendo o ar quente da pista de dança em seu rosto. Teve de empurrar seu caminho para fora, os dedos formigando e a boca seca. Ao chegar na rua, respirou fundo, passando as mãos pelo cabelo e procurando por seu celular, a tela indicando o horário: 23h48.

Deixou que seu corpo caminhasse pelas ruas um pouco vazias, parando numa loja de conveniências, comprando uma cerveja. Ao olhar para os prédios, perguntava-se o que Suga e Namjoon estavam fazendo. Com certeza, estavam numa situação melhor que a dele. Sentou-se na calçada, deixando sua mente absorver o que havia acontecido. Ele... realmente havia chamado por Yoongi num momento daqueles, mesmo com toda a tensão entre os dois?