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História Rua dos Solares - Heróis e Vilões - História escrita por NoahBlack - Spirit Fanfics e Histórias
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História Rua dos Solares - Heróis e Vilões


Escrita por: NoahBlack

Capítulo 3 - Heróis e Vilões


Fanfic / Fanfiction Rua dos Solares - Heróis e Vilões

— Você precisa fazer isso agora, bebê?!

A voz de Jackson mesclava a sua impaciência em ver o namorado no computador e o tédio de não ter a atenção do mesmo. Sehun poderia detectar essas duas coisas só pelo jeito desleixado em que ele jogava uma bolinha basebol para cima enquanto deitado na cama.

— É o último dia de inscrição e eu só tenho até o meio dia. Não vai demorar muito. Prometo.

Sehun preenchia os formulários rapidamente, uma vez em que a maioria dos dados já estava salva na memória do computador. Era culpa de Jackson que ele procrastinou o máximo que conseguiu para se candidatar às universidades que queria? Não. Claro que não. Mas ele lá tinha uma pequena parcela de culpa sim por sempre rondar os pensamentos de Sehun e, indiretamente, impedi-lo de conseguir se concentrar em qualquer outra coisa.

— Você se inscreveu? – perguntou sem tirar a atenção do teclado. Ouviu Jackson soltar uma risada irônica e o barulho de seu corpo para se sentar na beirada da cama.

— Você sabe que eu não acredito no sistema.

O discurso, verdade, Sehun bem conhecia. Jackson era um daqueles que não acreditava no sistema educacional do país da forma como era estabelecido e dizia que o estudo institucionalizado na verdade era uma forma de promoção de competitividade e controle de propagação de informação.

Então, não. Ele não iria se candidatar à nenhuma universidade.

— Você não deveria cair nessa também. Vai ser adestrado pelo governo sem nem ao menos perceber.

Sehun apenas deu de ombros. Em grande parte, mesmo que tivesse o sonho interno de ser um bom artista plástico, ele só queria mesmo agradar os pais com as candidaturas – afinal, como sua mãe sempre dizia, eles não pagaram a melhor escola da cidade para filho nenhum ter uma graduação. E ele não era contra o sistema – ou contra seus pais.

Sr e Sra Oh, na verdade, eram até que bem legais e sensatos. Nunca obrigaram Sehun a nada e sempre deram o voto de confiança necessário e Sehun jamais o quebrara. Sabia como seria difícil reconquistar a sua liberdade caso o fizesse.

Num todo, eram uma família feliz e em paz.

No entanto, para o adolescente, pouco importava para onde iria e o que iria fazer da vida desde que Jackson estivesse com ele. E nos planos de Sehun, já que o namorado não iria se candidatar a nada, a ideia de se mudarem e morarem juntinhos num apartamento apertado e terem empregos de meio período era perfeita e até mesmo já lhe deixava em estado de ansiedade para quando enfim acontecesse.

Sehun e Jackson sairiam juntos daquela cidadezinha para terem a vida incrível que os esperava.

— Por que escolheu o campus daqui?

Jackson decidiu se sentar no colo do namorado enquanto ele terminava aquele coisa chata.

— É mais fácil de passar e eu posso pedir transferência para Seoul depois.

— Nossa, Sehun, achei que suas notas fossem um pouquinho melhor. Você não é o todo nerdinho da sua sala?!

Sehun não era nerd.

Via-se mais como um sortudo. Descrevia a si mesmo dessa forma pela facilidade que tinha para assimilar as matérias da escola. Seus pais juravam ser o tipo de criação que escolheram dar ao único filho, que em nada tinha de diferente de outras criações por aí, mas eles achavam que sim e se orgulhavam disso.

Aliás, Sra Oh vivia de papo com alguns pais do condomínio para contar como fizera quando Sehun era um bebê. Sabe Deus quantas vezes Jongin ouviu que não era muito bom deixar Jongdae tão solto pela rua.

— Melhor não arriscar, né?! – e deixou um beijo na boca do outro.

Sehun queria mesmo era dizer que era inteligente ali, naquela pequena população estudantil, e que provavelmente era a média em relação a todos os outros alunos da Coreia. Era muito mais fácil se destacar diante de uma amostra pequena.

— E você já terminou isso daí? Porque eu juro que ouvi seus pais dizerem que iriam sair pra buscar o almoço. Aliás, você tava bem sexy todo suadinho depois do jogo, sabia?! – e deslizou o dedo pelo limite da gola da camiseta do loiro, esticando-se um pouco para chupar a marca da clavícula exposta. – Acho que já deu desse negócio aí de faculdade, né?!

Sehun apertou o último botão enviar e rodou no eixo da cadeira com Jackson no colo. Levantaram-se os dois, às pressas, já puxando as camisetas pelas cabeças para caírem na cama de solteiro.

— Só não me deixa outro chupão – pediu Sehun ao moreno que já forçava os lábios pelo pescoço branquinho entregue.

— Não tira a minha diversão, bebê. – Jackson subiu a língua pela curva até alcançar a orelha, enfiando o músculo quente e fazendo barulhos eróticos com a boca e respiração de propósito. – Eu te marco como meu sempre que eu quiser – e sugou o lóbulo, deixando uma mordida meio ardida e buscou pelo membro duro de Sehun por dentro do shorts. – Estamos entendidos?!

Jackson era o amor da vida de Sehun e este não conseguia, mesmo que quisesse, negar qualquer vontade do namorado. Mesmo que sua mãe brigasse com ele depois. Mesmo que sentisse vergonha quando um dos vizinhos descobria as marcas. Mesmo que, às vezes, Jackson não estivesse com paciência nenhuma para prolongar a preparação.

Afinal, o tempo deles era sempre curto, entre uma saída ou outra dos pais.

 

(...)

 

Jongdae estava muito feliz. Feliz mesmo, de andar saltitante pela casa, sorrindo, conversando e até deixando que os outros falassem. Jongin não tinha a menor ideia do que o filho tinha visto no novo vizinho, mas sabia que o tal Do Kyungsoo era em parte culpado dessa felicidade toda.

— Desculpe por ele não te deixar em paz.

Jongin estava atento ao fogão para terminar o almoço rápido que teve de improvisar para ele, o filho, o vizinho e Tao – pois, em hipótese nenhuma, deixaria Jongdae tomar sorvete sem almoçar antes.

Kyungsoo entrou pela porta da cozinha oferecendo ajuda após um breve tour pela casa com o guia Kim Jongdae contanto sobre cada canto que já batera o dedinho do pé.

— Não tem pelo o quê se desculpar. Jongdae é simples de se lidar.

— Você fala isso agora. Quero ver daqui um tempo. – mas Kyungsoo não acreditou nenhum pouco naquelas palavras, ainda mais por causa do tom bem humorado presente e até podia ver um sorriso se formar em seus lábios. – Ah, o Tao tá com ele?

— Estão lá no quarto. Tao se empolgou demais com os bonecos.

— Tao só tem tamanho. Você vai perceber.

— Ahn – Kyungsoo se aproximou do moreno, olhando para cima do fogão – tem certeza de que não precisa de ajuda? Eu posso olhar aqui para você fazer outras coisas.

— Não tenho nada para fazer. Só o almoço mesmo.

Kyungsoo olhou para o anelar do outro e não encontrou a mesma marca que havia na sua mão, indicando possivelmente que ou o Kim estava sem aliança há muito tempo ou sempre fora pai solteiro.

— Então, Kyungsoo – Jongin desligou as bocas do fogão e levou as panelas para a mesa ali na cozinha mesmo, – o que você tem que tanto encantou meu filho?

Do abaixou a cabeça e deixou um riso escapar, esticando um sorriso logo em seguida. O coração estava ali, bem exposto, bem na sua frente e Jongin não pôde deixar de reparar naquilo. Algo tão simples e cotidiano como um sorriso que tinha um formato único. Chamou por Jongdae e Taozi num único aviso e se sentou de frente para o vizinho.

— Bom – e Jongin ficou feliz por saber que teria uma resposta, – acho que a combinação de um pouco de atenção sincera com uma casa vazia o suficiente para ele me empurrar um designer de interiores foi o suficiente.

— Ele te empurrou o Baek?! Me desculpe por isso.

— Não, tudo bem… quer dizer, acho que pode ser uma boa ideia até. Posso conhecer meu outro vizinho e de quebra conseguir uma casa mais organizada do que cheia de coisas sem sentido.

— Então Jongdae fez uma boa ação no fim – e antes de serem agraciados pelas presenças faltantes, Jongin teve o deslumbre de um outro sorriso, mais largo, e uma concordância. Queria poder dizer que estava prestando atenção na quantidade de arroz que colocava para o filho junto do kimchi, mas, furtivo, olhou sob os cílios para o vizinho mais uma vez.

— Tio Soo, qual o seu trabalho? – Jongin fechou os olhos, mas Dae não permitiu que o outro respondesse. – Porque o Tao Panda perguntou o que você faz, aí eu disse que você faz um monte de coisa, porque a gente sempre faz um monte de coisa. Meu pai faz um monte de coisa, mas o Tao panda não faz taanta coisa assim, mas ele faz algumas_

— Eu acho que a gente entendeu, Dae – interrompeu Jongin, enfiando uma boa quantidade de arroz na boca do menor com a colher.

— Você percebeu que seu filho me chamou de vagabundo, né, Jongninie?

— Ele não entende sua profissão, Tao. Não leve para o pessoal.

— Enfim... – o chinês se virou para Kyungsoo, que estava sentado ao seu lado – Então, hyung, o que você faz da vida? Quais são seus hobbies, sua meta de vida…

Taozi parecia meio ansioso, gesticulando uma das mãos com os chopsticks presos nos dedos e a boca com comida. Algo ali, na forma como ele falava, os modos e, necessariamente, o uso das palavras, chamava a atenção de Kyungsoo.

— Tao!

— Que foi?! Ah, Jongninie, vai dizer que também não tá curioso?! – a voz do chinês saiu meio manhosa, mas ao mesmo tempo sua outra mão agora repousava na cintura.

— Eu tô – interrompeu Jongdae, levantando a mão com os chopsticks empunhados nos dedos e mastigava meio de boca aberta. Ninguém se surpreendeu. – Aposto que deve ser uma coisa bem difícil.

— Eu sou professor adjunto do curso de física da Universidade Nacional de Seoul¹ - e Jongdae teve absoluta certeza de que aquilo era muito difícil, porque só reconhecia a palavra “professor” ali no meio e nenhum dos seus professores era apresentado com tantas outras palavras.

Física?! – empatou Tao. – Uau, você deve ser inteligente pra caral – mas recebeu um punhado de arroz na cara provindo de Jongin – pra caramba.

— É que nem o Sr Choi da escola?! – porque a única física que Jongdae conhecia era a da “educação física”.

— Não, filho, não é como Sr Choi. É um outro tipo. – Jongin achou graça da assimilação do filho e não pôde deixar de acalmar a voz e sorrir todo derretido para o menor.

— Que tipo? – mas a pergunta foi direcionado para Kyungsoo, ignorando completamente o carinho da mão grande do pai. – Que tipo de física que é?! – Kyungsoo estava prestes a responder de um jeito simples quando teve a atenção do garoto perdida. – Olha! Olha! Uma borborleta!

— Borboleta, Dae – corrigiu Jongin, já sabendo que perdera também a chance de fazê-lo terminar o almoço. Jongdae afastou a cadeira ao apoiar as mãos na borda da mesa e fazer força para trás. Estava prestes a sair quando ouviu a voz grave do vizinho novo.

— O que você acabou de fazer é física, Dae – disse, simplista, enchendo a boca com uma folha de alface e um pedaço de carne.

O garoto estava prestes a correr atrás da borboleta, que voava livre pela cozinha e que também atraiu a atenção de Mongu, mesmo que este não tenha colocado nenhum esforço para perseguir o bicho além de levantar a cabeça e balançar o rabo, quando ergueu uma sobrancelha e inclinou a cabeça.

— É?!

— É.

— Como?! – e ele voltou para a cadeira, dando pulinhos com as mãos presas ao assento para conseguir se reaproximar da mesa. Kyungsoo achou divertido como já conseguia prever a curiosidade do garoto.

— Para afastar a cadeira, você teve que apoiar as mãos na mesa e fazer força para trás, certo? – Jongdae, meio assustado com a possibilidade de ter feito essa tal de física, balançou a cabeça. – Então. Você precisou de um ponto de apoio fixo, nesse caso a mesa, para conseguir fazer força com o seu corpo para poder mover a cadeira para trás sem cair. Se você tentasse sem a mesa, o que aconteceria com você?

— Ele ia cair – Tao estava tão imerso na forma plácida e atenciosa que tudo era explicado que se viu entretido com o assunto e respondeu sem perceber. No entanto, mesmo meio encantando com a voz dele, com aquela calma que contrastava um pouco com o tom grave, o chinês se sentiu estranho.

Não bem estranho, porque conhecia bem aquele buraco no peito. Se sentia… inferior.

— Exatamente. Então, Dae, quando você faz isso, você está usando das propriedades da Física para se mover em segurança. – e Kyungsoo não se sentiu ofendido quando o garoto juntou as sobrancelhas numa cara de quem não estava entendendo nada e decidiu sim sair atrás da borboleta, levando um chinês que não relutou.

— Ah, desculpe por isso – tentou Jongin, mais uma vez. – Mas foi uma ótima explicação.

— Você se desculpa muito pelas ações dele, Jongin.

— É um hábito.

— Não se preocupe quanto a ele em relação a mim. E bem sei eu o quão é difícil atrair atenção de criança para esses assuntos sem experimentos práticos.

— Por acaso com adolescente é mais fácil?!

— Quem me dera. – suspirou, deixando um corpo relaxar um pouco sobre a cadeira. – Só fico feliz por poder dar aula para os últimos anos e orientar meus alunos.

E por um bom tempo – e isso chocou o Do – Jongin perguntou sobre sua linha de pesquisa e ele tentou explicar o que eram fractais em aerogéis de sílica e se divertiu um pouco com a cara do moreno; respondeu sobre suas pós-graduações e entreteve o anfitrião com alguns relatos do doutorado em Nice, na França, junto da oportunidade de conhecer o CERN.

Não se importava de contar sobre sua área de pesquisa e da sua felicidade genuína quando orientava algum aluno, fosse de iniciação científica ou mestrado, realmente interessado e fazia tudo o que se propunha a realizar. Porém, cada pedaço da sua vida como estudante e os primeiros anos como professor universitário estavam necessariamente interligados com outra parte de sua vida.

Estava ligado a ele.

Kyungsoo não teria seguido carreira acadêmica se não gostasse de duas coisas: estudar e palestrar sobre assuntos que o apetecia. Mas fora no penúltimo ano do curso, ali com seus então 20 anos, que o namorado, sempre enforcado na graduação de química, pediu ajuda para entender alguma matéria e simplesmente disse, com aquele olhar de pura admiração, que ele, o seu Soo – o mesmo apelido que Jongdae achara justo para si –, era digno de uma sala de aula cheia para ouvir-lhe explicar sobre qualquer coisa.

Se hoje era sucedido naquilo que fazia, se conseguiu fazer toda a pós-graduação strictu sensu e de quebra ter a experiência de um doutorado fora do país, requisito tão importante no currículo, era graças a ele.

— Tá tudo bem, Kyungsoo?

Foi só com a voz de Jongin que percebera que ficara introspectivo por alguns segundos.

— É só... é só que parece que já faz tanto tempo tudo e ao mesmo tempo foi ontem.

— Sei bem com se sente – o moreno olhou para a janela da cozinha que dava para o quintal, onde agora Jongdae segurava um graveto e o empunhava contra o Taozi e Mongu circundava o garoto latindo em felicidade. – Às vezes parece que foi ontem que eu tinha um pacotinho todo mole dentro da minha casa, mas esse pacotinho tem 8 anos e uma energia infindável que me faz ter a sensação de que alguns dias são muito longos.

Jongin reconheceu na própria voz a dispersão de um tempo distante que o Do apresentara durante sua narrativa. Algo dentro de si, mesmo oito anos depois, ainda apertava e empurrava para baixo, mas não doía mais como antes.

Talvez só um pouco ainda.

— Ele é um bom garoto, Jongin.

— Ah, sim, sim. Ele é. Mas é que é meio difícil chegar em casa depois de um dia corrido e encontrar ele ligadão, querendo pular, correr, levar o Mongu pra passear, visitar cada morador, assistir filme… desculpe. Eu não deveria_

— Acredito que não seja fácil ser pai solteiro, então, sinta-se livre para dizer o que quiser. Eu não vou julgar nada aqui. Nem posso.

Demorou um pouco para agradecer pelo ambiente neutro que o outro se dispôs a dar.

— É só isso – disse por fim, tentando jogar a franja castanha para trás, mas os fios eram tão lisos que voltaram rapidamente para frente dos olhos. – Jongdae é incrível, mas eu não sou mais jovem para acompanhar sua extraordinariedade.

— Sabe – Kyungsoo apoiou os cotovelos sobre a mesa, – Dae me contou um segredo. Ele disse que você é super-herói. – Jongin soprou uma risada.

— Eu não acredito que ele tá ainda com essa história. A Sra Lee, a senhora que morava na sua casa – o outro apenas concordou com um aceno – vivia na minha orelha falando que eu ficava botando essas coisas na cabeça dele. O que eu posso fazer se ele vive no mundo da lua?!

— Você acha que ele é avoado assim?! Porque eu vejo bem o contrário. – Jongin ergueu uma sobrancelha, incentivando-o a continuar. – Dae é observador, de um jeitinho meio diferente. Acho que pra ele, você é um super-herói mesmo, mas aqui, no mundo real, no cotidiano.

Jongin se atreveu a sustentar aquela troca de olhar por alguns segundos, acreditando que o professor tinha mesmo um poder a mais preso nos seus orbes meio grandinhos junto do tom profundo de sua voz. Mas foi rápido, quebrou o contato e fez um movimento para se levantar.

— Obrigado.

Kyungsoo o ajudou a lavar a louça, guardar as sobras na geladeira e ficou ainda para um único picolé, sentando-se no degrau da varanda no quintal ao lado de Jongdae, e depois foi embora.

— Ele é bem legal, não é, pai?! – comentou Jongdae enquanto balançava o corpo magrelo numa música que só estava na sua cabeça e distribuía lambidas aleatórias sobre o segundo picolé que derretia mesmo assim. – Acho que ele vai ser mais feliz aqui.

— E quem disse que ele já não é feliz?! – Tao se mostrou meio indignado, aceitando sim também os picolés, obrigado.

— Claro que ele é feliz, Tao Panda. Ele sorri, tá sempre falando coisa legal, mas eu não entendi nada da física, mas ele é legal então ele é feliz. Só que, sabe, a casa dele é vazia. E ele tinha uma outra casa. Se ele saiu da casa, então ele não tava feliz lá, não é mesmo, pai?! Vou ajudar o tio Soo a ser feliz aqui.

Jongin levou a destra à nuca do filho e fez uma breve massagem. Talvez Kyungsoo tenha lido melhor o filho nesse pouco tempo juntos; talvez Jongdae fosse o tipo de criança que se deslumbrava com os super-heróis dos filmes e desenhos, mas era bem atendo àqueles ao seu redor.

— Isso, filhote, ajuda ele.

 

(...)

 

Não é que Minseok não gostasse do pai e não apreciasse a companhia dele consigo, mas é que… bem, com Baekhyun tão grudado nele naquela tarde, sempre perguntando se estava se sentindo bem, enfiando a mão na testa ou no rosto inteiro, ele sabia que não tinha qualquer chance de ir chamar o Dae para brincar.

Baekhyun ainda estava com as palavras de Chanyeol entaladas na garganta e quis ao máximo evitar a chance de encarar o marido. Por isso, decidiu ficar junto do filho por tempo integral. A tarde toda, sentado no chão com o notebook no colo e uma mão mexendo nos fios pretos do garoto.

Minseok só queria uma brecha para perguntar ao seu papai se podia ir até a casa de Jongdae; jamais faria tal pergunta ao pai, porque sabia que ele ficaria bravo, gritaria e o mandaria para o quarto.

Suspirou.

— Você tá bem?

— Tô, pai – respondeu emburrado, pressionando o botão do controle para ver o carrinho correr pela pista montada.

Ee, que tom é esse, hein, Minseok?! – mas não fora de fato uma repreensão, afinal, não podia perder o foco do projeto que deveria entregar naquela semana.

— Desculpa, pai.

Baekhyun o olhou de soslaio, desde a franja presa pelo elástico no alto da cabeça, igual ao modo como Chanyeol às vezes prendia o próprio cabelo, até os ombros encurvados e a falta de ânimo para ver o carrinho correr.

— Que foi, filho?! Por que está desanimado?! – e antes de puxar o filho para o colo, tratou de salvar as últimas atualizações e fechou o notebook, colocando-o ao seu lado.

— Não é nada.

— Será que é a febre?!

— Eu não tô mais dodói, pai! – reclamou, abaixando o rosto para brincar com o colarinho da camiseta de Baekhyun. – Eu quero ir brincar.

— Você já está brincando, querido.

— Não! Lá – e apontou para a janela – com o Dae!

— Você ainda não está bem, Minseok.

— Eu tô! – sua voz saiu alguns agudos acima, completamente irritado agora por o pai não perceber que ele já estava bem. – Pergunta pro papai… ele sabe que eu tô sem dodói.

Na mesma hora Baekhyun fechou a cara e respirou fundo para não descontar no filho suas frustrações para com o marido. Ponderou um pouco. Podia fazer Minseok subir e atrapalhar o momento de lazer de Chanyeol ou poderia simplesmente pegar na mão do filho e sair pela porta.

— Ok. Você ganhou. Vamos ver o Dae.

Colocou o notebook sobre a mesa central da sala e segurou firme na mãozinha redondinha, sentindo uma lufada de felicidade dentro do peito ao presenciar o sorriso banguela.

— Oi, tio Jun! – Minseok saiu correndo para o outro lado da calçada assim em que viu o Kim, que acabara de sair do carro.

— Hey! Parece que alguém melhorou – respondeu enquanto se abaixava para receber o abraço do garoto.

— Eu não tenho mais dodói. Minha barriga também não tá doendo. Ó – e levantou a camiseta para mostrar a barriguinha meio saltadinha. – Sem dodói.

— Que bom, Min. Tá indo ver o Dae? – recebeu um sorriso e um movimento firme de cabeça.

— E dá para desgrudar esses dois, por acaso?! – Baekhun veio em passos lentos até o jardim do vizinho, de braços cruzados e um meio sorriso preso aos lábios. – Voltou cedo hoje, Junmyeon.

— Incrivelmente – constatou, rezando para que o Byun não tivesse percebido o tremular das mãos.

— Tio Jun, quando que a gente vai brincar com a Zizi de novo?!

Junmyeon soltou uma risada, levantando-se do chão e deixando um carinho na bochecha do garoto.

Em alguns finais de semana, quando Yixing tinha que ficar muito tempo fora de casa, Junmyeon era o responsável por trocar a água, o alpiste e limpar a gaiola de Zizi – ou a sujeira que a passarinha fazia, porque a gaiola de nada lhe servia. Tudo isso depois que Taozi fora bicado e dramatizou que “o demônio com asas quase arrancou a ponta do meu dedo com aquele bico afiado”.

— Temos que perguntar para o Yixing, Min.

— Você pode perguntar?

— Posso. Posso sim.

Claro que podia. Mesmo com o nervosismo dentro de si, Junmyeon gastara uns bons minutos tentando se acalmar no escritório para aproveitar o máximo daquele jantar com o chinês charmoso.

Baekhyun sorriu para o vizinho e foi puxando a mão do filho para seguirem pela rua acima. Contou para ele que achava perigoso ficar alimentando o tal calopsita porque Taozi contara detalhadamente como o ataque aconteceu. Imagina se pega no olho? Minseok não deu a mínima, porque sabia que com o tio Jun por perto, Zizi ficaria bem mansinha e até deixaria passar o dedo na cabecinha dela.

Quando chegaram na frente da casa do amigo, Minseok tentou empurrar a porta, mas o pai o segurou pelo colarinho.

— Seja educado, Minseok! – o garoto bufou baixinho e se pôs nas pontas dos pés para tocar a campainha e quase no mesmo instante a porta fora aberta pelo melhor amigo. – Oi, Dae.

— Oi, tio Baek! – mas o Byun se tornara completamente invisível quando Jongdae viu Minseok e o puxou para dentro sem nem mesmo permitir que tirasse os tênis.

— Dae? Quem é? Por que a porta… ah, oi, Baek. – Jongin sorriu para o amigo. – Quer entrar?!

— Não, Jongin. Eu ia perguntar se tem algum problema o Min ficar aqui, mas meu filho já foi sequestrado.

— Ainda bem que você veio, porque eu não sabia se o Min já estava melhor e eu já tive que negociar muitas coisas hoje para ele não correr pra porta de vocês.

— Tudo bem. Posso buscá-lo mais tarde, pode ser?!

— Não quer entrar um pouco?! Podemos tomar uma cerveja ou… – mas sabia que o moreno não ficaria. Jongin conhecia Baekhyun da época da faculdade, desde o primeiro momento em que o menor colocara os olhos em Chanyeol no primeiro torneio de jogos universitários que participaram. – Quer conversar? Eu tenho muito tempo livre.

— Querer eu até quero, Jongin, mas não sei se posso falar dos meus problemas conjugais para o melhor amigo do meu cônjuge.

— Sou seu amigo também. Sempre fui… eu conheço Chan bem o suficiente e, sabe, te conheço também.

Baekhyun sempre teve uma postura de austeridade. Sempre. Desde a faculdade. E tinha uma habilidade social que fazia inveja aos mais extrovertidos. Só que Jongin viu aquela lágrima nascer, crescer e quase saturar o olho, um brilho lindo e muito vulnerável para alguém como Byun Baekhyun.

— Baek? Anda, entra um pouco. Meia hora não vai te matar – tratou de puxar o menor pelo braço, conduzindo-o para o meio da sala de estar ampla. – Quer beber alguma coisa? Água, chá… algum licor?!

— Sem álcool, Jongin. Já é patético o suficiente sóbrio.

— Então – sentou ao seu lado, puxando as pernas para cima do sofá, – o que está acontecendo entre vocês dois?

— Tem certeza de que você trabalha no jurídico e não no RH?! – Jongin riu com a acidez do outro, tão relutante em simplesmente dizer o que estava o sufocando. Baekhyun revirou os olhos e descruzou os braços, permitindo relaxar os ombros. – Chanie e eu estamos em crise.

— Isso todo mundo já sabe – o outro levantou uma sobrancelha e depois revirou os olhos de novo, chamando todo mundo de fofoqueiro. – Vocês não fazem mais nada juntos, Baek. Fica difícil não perceber.

No entanto, fora ignorado. Ou assim pensou quando teve a atenção do menor desviada para todos os outros cantos da sua casa.

— Como é que você consegue ser tão – abriu os braços e os recuou em seguida, como se mostrasse o espaço da sala para o próprio dono dela – tão perfeito em tudo o que você faz, Nini?!

— Eu não sou perfeito_

— Ah, por favor! Sem falsa modéstia aqui. Como é que você administra tudo isso, toda a sua vida sem deixar que nada se desestabilize? Por favor, Kim Jongin, me conte os seus segredos domésticos.

A defensiva de Baekhyun se dava através de comentário ácidos, cheios de ironias e que quase beirava o desprezo; Jongin conhecia as vertentes do amigo e somente por isso não se deixou ofender pelo comentário.

Baekhyun estava com medo.

— Baek… você, vocês sabem que um dos meus pilares já desmoronou. Eu não sou perfeito. Eu vivo cada dia tentando buscar uma lembrança dela e, por causa disso, eu não posso me dar ao luxo de deixar que outras coisas saiam erradas para o Dae.

— Desculpe – se esforçou para dizer. – Eu não quis dizer isso. É só que… às vezes para mim é difícil assimilar tudo o que precisamos equilibrar, como pais, como família.

— Chanyeol te ama. Você sabe disso, certo?! – Byun fechou os olhos e assentiu. Jongin esperou por alguma reação e tudo o que teve em retorno foi a batalha do outro para conseguir controlar o choro que nasceu forte demais para não ser expresso. – Baek, pelo amor de Deus – e puxou-o pelos ombros para envolvê-lo num abraço acolhedor. – O que está acontecendo com vocês?

— Eu amo ele, Nini… amo Chanyeol. Mas…

Mas Jongin nunca descobriu o fim daquela frase, no entanto, sabia o real significado de um “mas” depois de algo bom.

 

(...)

 

Yixing se olhou uma última vez no espelho do quarto. Passou a mão pelo queixo, certificando-se de que não estava áspero e não havia qualquer resquício de barba. Os fios negros com o sidecut em dia – já que passou no barbeiro antes de voltar para casa – e ajeitados num topete meio desleixado.

Pensou em colocar uma camisa fina, mas Junmyeon era acostumado a vê-lo em vestes mais simples ou até mesmo de pijama, então a camiseta branca lisa seria o suficiente, realçando os ombros um pouco largos e a musculatura dos braços, típicos de um cara magro, mas bem ajeitado. Pelo menos era assim que se via.

Girou o corpo sobre o calcanhar e apreciou a própria curva das nádegas dentro da calça jeans. Quase dois anos esperando por uma oportunidade como aquela, tendo Kim Junmyeon dentro da sua casa, com comida caseira boa – porque Yixing sabia muito bem como conquistar pelo estômago – e uma boa garrafa de vinho.

Sorriu para o próprio reflexo no espelho.

— O que você acha, Zizi?! É hoje que seu pai arranja um namorado decente?

A calopsita, entretida em puxar um fio da colcha felpuda da cama, apenas piou e abriu as asas, deixando algumas penas caírem.

— Concordo. É hoje que Junmyeon só volta para casa de manhã.

Desceu para a cozinha, cantarolando baixinho enquanto averiguava o forno e estendia uma toalha muito bonita sobre a mesa de jantar, ajustando milimetricamente o tecido. Colocou os pratos, guardanapos de pano, os talheres e copos. Desembrulhou do plástico o arranjo simples de flores que comprara e o colocou dentro de um suporte de vidro para enfeitar a mesa, mas não no meio, porque queria ter o prazer de ver Junmyeon a noite toda durante aquela refeição.

O coração de Yixing deu um pulo quando ouviu o barulho da campainha. Sua avó sempre disse que homem se conquista com comida e uma boa noite de sexo. Sim. Exatamente com essas palavras. Sim. Yixing já passou alguns apuros com a mulher.

Os olhos de Junmyeon caíram do rosto até os pés do chinês à sua frente e tratou logo de controlar o nervosismo e desejou boa noite.

— Achei que fosse desmarcar, Junmyeon.

— Não encontrei nenhum motivo para isso – comentou no mesmo tom divertido do outro. – Não me esforcei também.

— Que sorte a minha então – e Yixing fechou a porta atrás de si, olhando a garrafa que o coreano lhe entregara. – Que bom que trouxe vinho, assim temos duas garrafas de conversa.

— Não seria educado da minha parte aparecer de mãos vazias.

— Podia aparecer… mas eu não o deixaria sair sem nada.

Junmyeon sentiu o coração acelerar pela insinuação. Ele não era inocente; sabia o que aquele jantar representava, mas, por Deus!, aquele Yixing todo sensual e, por que não, sexual, tão diferente do cordial sorridente de covinha charmosa a cada noite de volta do trabalho.

Yixing puxou a rolha do vinho e estendeu uma taça.

— Quer brindar à alguma coisa?

— Você tem algo em mente?

— A você dentro da minha casa. – “e espero que depois na minha cama”.

— Mas eu já vim na sua casa outras vezes…

— Mas hoje é diferente, Jun – usou o apelido, se aproximando do corpo dele, todo muito bem acolhido num suéter de linha, azul claro, revelando pouco do começo dos ossos das clavículas, e ainda assim completamente envolvente.

Junmyeon tinha ideia do quão sensual ele era naquelas roupas engomadinhas? O quão a timidez que fazia a taça tremer bem pouquinho em sua mão era completamente envolvente para o coração solitário do Zhang?!

— Hoje – e assim em que se aproximou mais, uma sequência de pios e bater de asas desesperados perto dos pés dos dois se iniciou. Junmyeom deixou uma risada escapar quando o chinês fechou os olhos assim em que a calopsita conseguiu quebrar o clima que tinha enfim conseguido estabelecer entre os dois. – Que foi, Zizi?!

Ela bicou o pé do dono e começou a escalar sua perna, ficando as garras finas no tecido jeans e foi subindo até piar de novo.

— Não foi isso que a gente combinou mais cedo! – Yixing a empoleirou no dedo. – Tá aí. Ela quer sua atenção.

Zizi esticou-se toda para alcançar a mão estendida de Junmyeon e foi logo subindo pelo braço até o ombro, onde ficou fazendo barulhinhos baixinhos perto da orelha dele.

— É sério isso, Zizi?! Vai furar meu olho mesmo, na minha frente?!

— Yixing… – chamou o Kim assim em que o viu se afastar, fingindo-se magoado. Seguiu os passos dele para dentro da cozinha e foi agraciado por um cheiro maravilhoso. – Então você cozinha também?

— Só para pessoas importantes. – levou a travessa com a massa para o centro da mesa de jantar. – E de preferência para pessoas importantes que têm a minha atenção – e deixou um piscadela para o moreno.

Algumas coisas passavam pela cabeça do Kim enquanto tinha sua taça reposta e sua cadeira puxada para se sentar.

Pensava que, sim, Zhang Yixing era uma homem incrível. Conhecia sua história e a forte ligação que tinha com a avó além do luto que perdurou alguns bons meses depois do falecimento da mesma; conhecia o homem de negócios que não era, mas se esforçava para ser num curso à distância que fazia para conseguir administrar a escola; conhecia também aquela paixão pela dança que descobriu ter aflorado quando muito pequeno, ainda na China, e que nunca se viu fazendo outra coisa.

Claro que foi fácil se sentir atraído pelo moreno da casa da frente que sempre estava com roupas reveladoras de um corpo estruturado; afinal, Yixing era sim atraente. O olhar, a boca vermelhinha, que vira e mexe era agraciada pelo umedecer da ponta da língua, e, claro, a covinha no rosto.

No entanto, mais fácil que a atração física foram as conversas que o chinês tratou logo de estabelecer entre os dois. Sua personalidade amigável e despojada contrastava tão forte com a timidez que, no instante seguinte, Junmyeon se viu envolvido e quase ansioso por aqueles encontros curtos toda noite.

O que nenhum dos dois sabia ainda era que a rotina que estabeleceram assim se fez pelos dois um pelo outro. Junmyeon só saia de casa com Bolinho toda sexta às nove da noite porque Yixing estava para chegar e Yixing só chegava em casa às nove da noite nas sextas porque Junmyeon saia para o  jardim da frente com Bolinho.

Dançavam tão bem juntos que Yixing não percebia que só não se sentia tão só por causa da presença do outro; e Junmyeon se desconectava do trabalho e conseguia esconder a timidez por causa de Yixing.

— Como foi o resto do seu dia?

— Foi tranquilo – respondeu Junmyeon, sendo tirado de seus devaneios. – Acho que hoje é o primeiro sábado que não terei de trabalhar de casa.

— Uau – e estendeu a taça no ar – acho que definitivamente precisamos brindar a isso. Como se sente sabendo que não tem nada que o obriga a sair da minha casa no final desse jantar?

Nem mesmo Zizi seria capaz de fazer Junmyeon não saborear aquelas palavras ditas cheias de segundas intenções junto do gole de vinho que desceu pela garganta. Caramba!

Yixing sorriu, pegou o próprio prato e se mudou para a cadeira ao lado do coreano. Levou o braço para cima do encosto da cadeira e iniciou um carinho tímido no ombro do moreno. A voz saíra grave, como previra:

— Então, Jun, como se sente?

— A perspectiva é – seu coração estava sendo completamente influenciado por aquela proximidade tão insinuante. Nunca estivera com alguém como ele, com uma presença tão grande capaz de domar e ocupar todos os espaços e fazê-lo esquecer que suas mãos suavam em contado com o cristal da taça. – É bem promissora.

Um sorriso de lado; os olhos do chinês presos aos seus lábios.

— O homem de negócios nunca sai de você. Diga, Jun, minha proposta é viável?

— É – queria dar um soco em si mesmo por ter deixado sua voz escapar tão fraca só porque tinha os fios de cabelo na nuca tocados pelas pontas dos dedos dele. Era um tocar tão superficial que fez um arrepio cortar o meio da espinha. – É uma proposta de cunho bem elaborado e atado. Sem brechas para interpretações.

— Que bom – a voz rouca do outro atingiu seu ouvido junto com o ar quente de sua boca – que você está interpretando exatamente como a proposta está sendo feita.

E Junmyeon fechou os olhos pela expectativa da proximidade dos lábios sobre sua orelha, o fremir da ansiedade diante da espera em sentir o toque quente e molhado para depois ambos se entregarem naquele flerte duradouro e Junmyeon se sentia pronto para enfim provar da intensidade de um beijo, boca à boca, de Zhang Yixing…

Quando a campainha tocou. Insistentemente.

Não ouve toque de língua em seu pescoço e nem evolução a um beijo exasperado; a única coisa que o tocou foi a testa do chinês, que estava puto da vida pela interrupção.

— Você vai – levou a taça aos lábios – você deveria atender; pode ser importante.

Só que Yixing bem sabia que era importante coisíssima nenhum. Sem pensar, deixou um selo sobre o pescoço exposto a milímetros de sua boca e gostou de ver a breve tensão nos tendões pelo ato.

— Resolvo isso em dois minutos. Ou até menos.

Correu para cruzar a sala de estar e abrir a porta com a melhor cara assassina.

— O que você quer, Tao?!

Aish! É assim que tá recebendo os amigos agora?! – fez menção de entrar pela porta, mas Yixing trouxe a madeira para perto do corpo e diminuiu o espaço da abertura. – Que foi, Xing?!

— Por favor, Tao, me diga o que você quer rapidamente, ok?

— Ok! Senti o cheiro de comida. E é massa. E você prometeu pra minha mãe que ia cuidar de mim.

— Não prometi não!

— Prometeu sim, lá no primeiro ano quando aquele menino bateu em mim. Promessa de amigos não tem data de validade, Zhang.

Yixing respirou fundo e contou até cinco mentalmente, porque não estava com paciência para chegar no dez.

— Deixa eu entrar – pediu, manhoso, balançando as pantufas de panda sobre o caminho de cimento até a porta.

— Não. Hoje não vai rolar, Taozi.

Taozi? Tá fazendo o quê, hein?! Batendo punheta no meio da sala?! Se for, eu não me importo, como quietinho na cozinha_

— Tao!

Yixing franziu a testa e tentou da melhor forma possível fazer o amigo entender.

Ahnnnn – Tao levou as mãos à boca. – Você tá no meio de um encontro?! Com quem, Xing?! Aquele chefe maravilhoso com duas estrelas Michelin?!

— Tao, só volta pra sua casa.

É o chefe! – foi a última coisa que o chinês maluco gritou enquanto fazia o caminho de volta para sua própria casa.

Respirando aliviado, Yixing fechou a porta atrás de si e voltou a atenção para o moreno tímido em sua casa, dez vezes melhor que qualquer chefe com quantas estrelas fossem. Mas foi pela voz de gralha do Huang que Junmyeon se deu conta de uma coisa: Yixing não contara sobre si para o melhor amigo. E, ainda por cima, parecia ter outras pessoas em vista.

Sentiu-se um idiota completo por constatar tal fato e por se sentir enciumado. Claro que ele tinha outras pessoas; era só olhar para ele, todo charmoso e homem, desfilando por aí sozinho e descompromissado.

Seria só mais uma conquistada na lista do dançarino?

— Jun – ouviu ser chamado – onde a gente estava mesmo?! – e foi conduzido a ficar de pé pela mão rápida do anfitrião. Yixing tentou se aproximar, mas percebeu a retração. – O que foi?!

— Ah?! Não, nada, não foi nada. A comida estava ótima, Yixing.

— Claro que estava. Foi feita para você – sorriu, tentando trazer o menor para mais perto. – Tudo aqui foi feito para você, Jun… a comida, a decoração, a escolha do vinho – e se aproximou do ouvido dele – da roupa de cama – puxou devagar o lóbulo até sentir a carne escapar dos dentes. – E umas outras coisinhas mais.

Junmyeon queria sair dali, dizer que se lembrou de última hora de uma outra coisa, mas Yixing tinha uma força invisível muito grande sobre si e, quando deu por si, após sentir um breve beijo em seu pescoço, estavam ambos quase colados, movendo os corpos sob uma música silenciosa.

Para lá e para cá, com a mão do chinês em suas costas, pressionando levemente o tecido para que eles ficassem juntos.

— Mas isso se você quiser conhecer tudo o que foi feito para você. Você quer, Jun?

Queria.

Queria muito.

Queria conhecer todos os detalhes pensados para si.

Mas não naquela noite.

— Quem sabe numa outra oportunidade. Sua proposta é viável, Yixing, mas precisa ser avaliada. – sabe-se lá de onde veio a coragem para declinar um pedido daquele e, mesmo com as pernas tremendo e o começo de uma ereção entre as pernas, ele se afastou.

Os olhos castanhos do maior correram entre os seus, sem perder o brilho ou – para a surpresa de Junmyeon – o interesse. Yixing sorriu, levando a mão para o seu queixo, deslizando o dedo num carinho que beirava a admiração.

— Como você quiser, Jun.

Yixing estava prestes a se afastar de vez, para descolar os dois corpos, mas Junmyeon ergueu o rosto, sugestivo.

— Talvez se você… expusesse uma amostra do – e não foi preciso dizer mais nada para que sentisse seu rosto sustentado pelas duas mãos do dançarino e depois ser inundado pelo gosto encorpado do vinho provindo pela boca dele.

E se beijaram naquela ânsia há tanto tempo contida, com o desejo que Junmyeon queria e que Yixing emplacava contra sua boca, invadindo-a com a língua em toques tão diferentes e ao mesmo tempo tão esperados. Meio aos tropeços, Yixing conduziu os dois para o sofá na sala, trazendo o menor com cuidado para o seu colo.

— Yixing – tentou chamar no meio do beijo.

— A gente não vai fazer nada que você não queria, Jun.

E não fizeram.

Yixing, mesmo com aquela ereção pulsante no jeans, no meio dos beijos e toques cadenciados, deitou o outro no sofá para então se colocar ao seu lado e poderem se beijar por toda uma noite, por quanto tempo Kim Junmyeon permitisse.

Em algum ponto daquele recinto, uma calopsita tentou chamar a atenção dos dois. Porém, não havia mais espaço para aquela realidade; não quando se derretiam sobre a boca um do outro e Yixing tinha entre seus braços o moreno tímido mais charmoso que já vira.

 

(...)

 

Naquele sábado à noite, um Oh Sehun, todo sonhador, olhava mais uma vez pela sua janela para o pai solteiro que assistia à televisão junto do filho e se viu pensando naquela rotina doméstica que teria em breve com o namorado. Mesmo ouvindo a conversa dos pais sobre o quão ansiavam para que o filho entrasse logo na universidade e se afastasse de uma vez “daquele garoto”, Sehun sabia que nada e nem ninguém poderia separá-lo de Jackson.

Jongin, por outro lado, vendo pela décima vez o novo-nem-tão-novo-assim X-MAN, ouvia as teorias do filho e se perguntava como teria sido se esposa ainda estivesse ali, se Jongdae seria essa criança criativa e encantada pelas pessoas ao seu redor. Já na outra casa, Chanyeol terminara a noite com um banho junto do filho, ouvindo sobre tudo o que tinha feito com o melhor amigo, e depois deitou com ele na cama para uma rodada de histórias infantis.

Baekhyun ficou no escritório até tarde para terminar o projeto, porque assim não precisava pensar em mais nada além daquilo. Tao, por outro lado, foi bater na porta da Sra Kwon para verem um dorama juntos.

O que nenhum deles sabia era que na casa 71, com o lugar inteiro apagado, alguém assistia a uma gravação de um jogo de basquete e sentia a maldita dor que todos os médicos diziam ser fantasma no pé machucado.

Fazia um ano desde o acidente e parecia que ainda doía.

Se doía, como podia não existir?


Notas Finais


¹ quero deixar claro que eu não tenho a menor ideia se lá na Coreia as Universidades são espalhadas por campus, como acontece com a USP, UNESP E UNICAMP, do Estado de São Paulo. Finge que sim.

Bom,
Kyungsoo é professor de física. Eu entendo alguma coisa sobre fractais e aerogéis de sílica? Nops. Profissão livremente inspirada na do meu pai porque eu queria que o Soo-bolinho fosse um acadêmico.
Adorei esse capítulo, de verdade. Adorei escrever o jantar do Sulay e eu gosto muito do entrosamento dos dois.
Herois e Vilões porque cada um deles têm características incríveis, mas ao mesmo tempo tem aquilo que eles acreditam não ser tão bom assim.

Eu deveria estar dormido, mas tô escrevendo e atualizando fic. Eu vou manter esse padrão de dia sim dia não de atualização até o dia da minha viagem.

Eu nunca achei que essa fic teria tantos favoritos em pouco tempo (sim, para mim são muitos, porque eu sou flopada, mas tudo bem).

Obrigada pelo voto de confiança aqui.

Vergonha de comentar aqui? Tenta aqui então: https://curiouscat.me/NoahBlack

beijos de luz.
(volto depois para melhorar isso daqui)


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