Aquele sábado tinha tudo para ser só mais um sábado.
Se não fosse pelas olheiras marcantes de Oh Sehun logo no café da manhã. Ele empurrava as frutas pelo prato enquanto o pai falava sobre alguma coisa que não estava interessado.
Passara um bom começo da noite respondendo Luhan de forma mal educada enquanto, ao longo das horas, os caracteres iam se misturando e às vezes formando palavras sem sentido nenhum. Bastou uma pergunta para Sehun ter a certeza: Luhan estava numa festa e, sim, bêbado – e pediu seu número diretamente para Jackson assim em que saíra da casa ontem.
Talvez isso explicasse a ausência do namorado naquela manhã.
Queria poder dizer que o chinês era um insuportável – porque, sim, descobrira várias coisas sobre Luhan naquela madrugada – no entanto, em algum momento, o assunto faculdade voltou. Não era questão de ser errado ou não querer um relacionamento e um curso superior, mas “namoros terminam e às vezes você vai ter a chance de fazer uma faculdade só”.
Que mal havia em querer ter os dois? E que mal havia em ajeitar uma parte da vida para poder ter a outra? Foi o que Oh perguntou. Luhan não respondeu.
— Você está mais quieto que o normal, Hunnie – pontuou o pai.
— Deve estar preocupado com a faculdade, né, meu filho?! – a mãe deslizou os dedos cumpridos pelos fios loiros e fez uma careta ao sentir a textura ressecada. – Se quer continuar descolorindo, precisamos fazer hidratação pelo menos uma vez na semana, filho.
Quando a mãe usava o “nós” para atividades designadas apenas ao filho, Sehun sabia que não tinha escapatória e possivelmente seria arrastado para o salão naquela tarde ainda.
— Eu só – suspirou. – O que vocês acham do meu plano? Sabe… de ir pra Seoul e tal.
O pai ergueu os olhos para a mãe e depois ajeitou a postura, pousando o guardanapo sobre a mesa.
— Podem ser sinceros.
— Sehun – a voz grossa do pai junto do nome inteiro arrepiaram os pelos dos braços. – Você sabe que estamos aqui para te apoiar em qualquer decisão que você tome.
— Querido – a mãe esticou a mão e envolveu a sua, apertando-a fracamente – nós te amamos.
— Mas?
O pai pigarreou e passou a mão pelo queixo.
— Mas – ele puxou – gostaríamos muito que você tomasse essa decisão baseada somente em você.
— Estão falando do Jackson?!
— Não – adiantou-se o pai, visto que a mãe estava prestes a confirmar a indagação. – Estamos falando do nosso filho que tem um futuro brilhante. Você quer ir para Seoul? Vá para Seoul. Quer ficar aqui, fique aqui.
— O que estamos tentando dizer, filho, é que… sabe, seria melhor você só considerar você.
— Você – o pai tentou começar, mas parou no instante seguinte. – Você está em dúvida… sobre o curso ou…?
— Não – conseguiu responder, ainda brincando com o garfo na mão. – Quer dizer, talvez esteja. Acho que tô com dúvida, mas não sei direito sobre o quê.
— Bom – o pai lhe sorriu e puxou a garrafa térmica para reencher a xícara – você terá muitas dúvidas ainda, Hunnie, ainda mais porque tenho certeza que você vai ser admitido em várias universidades.
Um sorriso. Um breve tapa sobre a bochecha e um pedaço de bolo de chocolate empurrado para o seu lado.
— Vai jogar hoje?
— Tenho que ir, né, pai – o tom humorado em sua voz camuflara muito bem o nó na garganta e permitiu-se rir junto do pai. Afinal, se Sehun não jogasse com eles, muitos dos adultos semi sedentários não aguentariam o primeiro quarto de tempo.
Sehun terminou de comer e subiu para o quarto, esticando-se para a janela ao ouvir a voz estridente de Jongdae gritando que precisava acordar o tio Soo para o jogo. No instante seguinte mirou a outra casa, deixando um sorriso brotar pela breve ideia de poder pedir alguma ajuda ao professor.
Talvez ele estivesse de saco cheio das conversas de adolescentes sobre a universidade, mas era a única pessoa ali que vivenciava diariamente esse meio e, bem, ele não parecia ser uma pessoa difícil de se conversar. Já presenciara uma vez ou outra ele prender os olhos nas canecas que geralmente segurava de manhã enquanto sua mãe o bombardeava de assuntos chatos.
Então Sehun podia concluir uma única coisa. Se Do Kyungsoo tinha paciência para sua mãe e era educado o suficiente para não cortá-la, ele teria paciência consigo. Falar sobre futuro e curso acadêmico era muito mais legal que ouvir sobre a ordem de entrega das correspondências, certo?!
Pegou o celular para ver se Jackson tinha respondido ao seu bom dia.
[Amor às 08:34]
Deu bom dia pro filho da puta do chinês também?
Largou o corpo sobre a cama e suspirou. Não estava com muita paciência para ataques de ciúmes logo de manhã.
[Oohshn]
Quem?
Era melhor se fazer de desentendido.
[Amor às 8:35]
Não sou idiota, Sehun.
[Oohshn às 8:35]
lindo…
quem é ele perto de você
meu namorado e ainda gostoso pra caralho?
De verdade, né?!
vem aqui me ver.
Vou estar preparadinho pra te receber.
[Amor às 8:38]
*coração*
depois do jogo tô aí.
Sehun levantou da cama e abriu a primeira gaveta do criado mudo, checando o tubo de lubrificante e imaginando se deveria fazer aquilo antes dos pais irem ao supermercado ou depois. No entanto, mesmo insinuando o sexo – que com certeza fariam independente de ciúmes – era a primeira vez em muito tempo que só queria Jackson consigo em seu quarto para ver um filme e quem sabe conversar com ele sobre o futuro.
O futuro deles.
Jackson falava sobre mudar de cidade, trabalhar com alguma coisa e viver a vidinha. Mas não para aquela tarde. Haveria muita punheta, muito pau sendo chupado, alguns orgasmos conquistados, mas nada de conversas mais profundas.
(...)
Junmyeon viu quando, muito cedo, Yixing saiu da casa, equilibrando as mesmas bolsas cheias de coisas, a chave do carro, de casa e o celular contra o ombro. Não demorou muito para receber uma mensagem de bom dia e um pedido suplicante para que ele pudesse dar uma checada em Zizi. Parecia que a calopsita estava atazanada e bicando a colcha inteira e só ele poderia acalmá-la.
Sorriu.
Gostava muito dessa ideia de que Yixing o incluísse em sua vida sem pedir, como se os dois já fossem um casal e já estivessem nesse relacionamento há muito tempo. Talvez pudesse passar lá mais tarde, depois de tomar seu café da manhã em paz e um belo banho de banheiro de forma sossegada. Merecia aquele sábado de manhã mais que tudo.
A empresa de TI estava indo muito bem, finalmente, depois de tantos anos e poderia enfim dizer ao pai que estava conquistando seu sucesso. Às vezes ainda pesava a decisão de ter saído de casa – tanto do lar quanto da empresa familiar – para se aventurar numa cidade menor e com um público mais restrito, em teoria.
Cada noite mal dormida e cada refeição mal escolhida estavam enfim sendo recompensadas. Ousava até mesmo sonhar com uma viagem a dois, levando o chinês para a praia ou outro lugar que tivessem vontade. Seria a primeira vez em anos que estava envolvido com alguém e gostava de como Yixing era bem direto em suas intenções.
Todas elas.
Subiu até a suíte e sentou na borda da banheira, abrindo o registro e observando a água se esparramar pela superfície. Abriu o armário para escolher o sabonete e deixou a bolinha de sabão se desfazer em contato com a água.
Assim em que descansou a cabeça na borda, já quase todo imerso, seus pensamentos voaram sem surpresa para Zhang Yixing. Incrivelmente isso acontecia toda vez em que se encontrava em momentos relaxantes, ainda se agraciando pela resposta direta de seu corpo só pela memória da voz dele batendo contra seu ouvido, o modo como os pares de olhos negros pareciam querer despi-lo mesmo que fixassem somente em sua boca.
No cinema, se beijaram a sessão inteira, ambos sentados no canto mais afastados e discreto da sala de mais de 200 lugares. Se beijaram, se apertaram, Yixing subiu a mão pela sua coxa, apertando cada pedaço escondido no jeans.
— Se for gemer, geme na minha boca – pediu no meio dos beijos e Junmyeon não tinha entendido o pedido até sentir a língua do outro afundar em sua boca e a mão subir e lhe apertar o membro. Yixing iniciou uma massagem sobre o tecido, cadenciando os movimentos até que Junmyeon estivesse totalmente duro e não sabendo o que fazia direito com as próprias mãos.
Afundou-as sobre os cabelos negros e gemeu ali, dentro da boca dele, sentindo o vibrar das cordas vocais sobre a garganta e a respiração descompassar a cada movimento.
Afundou, também, sua mão até o baixo de sua barriga imersa na água, sentindo o repuxar na região até rigidez de seu membro já ereto. Iniciou os movimentos devagar, fechando os olhos para se concentrar em todas as memórias sensoriais que Yixing lhe proporcionava.
Gozou contra a água e observou a mancha esbranquiçada se formar na superfície. Teve de sair e terminar o banho no chuveiro mesmo.
Assim em que abriu a porta da casa do outro, deu de cara com um chinês esbravejando contra uma calopsita que piava alto.
— Sai, demônio!
— Taozi?!
— Junmyeon?! Oi! Que bom que você está aqui!
Taozi correu até o Kim e se colocou atrás dele.
— Você veio alimentar a Zizi?
— Eu_
— Acho bom mesmo, porque ela até arrancou um pedaço do meu dedo.
— E o que você_
— Eu?! Ah, sabe como é… a geladeira do Xing vive cheia.
— E ele sabe que você_
— Sai, demo cheio de pena! – Zizi viera atrás de Tao e começou a bicar uma das pontas dos dedos dos pés do chinês. – Olha quem veio aqui – e empurrou Junmyeon para frente.
Engraçado é que na mesma hora a calopsita cessou seus pios e recolheu as asas abertas, que reforçava sua posição de intimidação, e veio piando carinhosa para o Kim. Junmyeon se abaixou e esticou o dedo para a passarinha.
— E a mágica está feita. Segura as pontas aí, Junmyeon. Eu vou lá na cozinha.
E Tao sumiu pela porta do cômodo. Junmyeon deslizou um dedo pela cabecinha e deixou que a passarinha repousasse em seu ombro enquanto cruzava toda a sala conjugada para chegar até o local onde a grande gaiola que vivia aberta ficava. Checou o nível de água, o potinho de ração e o fundo da gaiola. Tudo nos conformes.
— Então – Tao surgiu, mas ainda mantinha uma distância segura da calopsita, – como estão as coisas entre vocês dois?
— Oi?
— Você e o Xing. Vocês estão ficando, não estão?
— Ahn… ele te disse alguma coisa?!
— Dizer?! Ahn – Tao coçou a cabeça meio sem jeito – Xing não é muito de falar sobre essas coisas, mesmo pra mim.
— Mesmo pra você?!
— É. – respondeu simplista. – Mas eu vi vocês dois juntos na quinta e se o Xing te beija na frente da rua inteira só quer dizer uma coisa. Que ele gosta de você.
Junmyeon corou na mesma hora em que sentiu o coração acelerar.
— Faz muito tempo que ele não sai com ninguém e de repente surge com você, então…
— Mas como você saberia se ele não conta essas coisas?! – mas Tao deu de ombros.
— Por mim tá tudo bem. Seria bem legal que o Xing encontrasse um cara legal e que ele namorasse de novo e fizesse essas coisas de casal. Ele é bem legal.
Várias coisas chamaram a atenção de Junmyeon naquele discurso, mas, por hora, escolheu dar preferência em tentar entender qual era o tipo de relação entre os dois chineses.
— Vocês se conheceram aqui?
— A gente é amigo, Junmyeon – Tao relaxou o corpo e sorriu para o coreano. – Xing é meu melhor amigo – e travou o que realmente queria responder. Talvez Zhang Yixing fosse seu único amigo. – Meu hyung, como vocês dizem por aqui.
O Kim só teve tempo de acenar quando, de repente, Taozi avisou que iria embora, levando consigo dois potes cheios de comida e deixou um ser humano e uma passarinha falante para trás.
— Seu dono parece ser uma pessoa muito bondosa, Zizi. Porque para aguentar o Huang… – Zizi piou.
Ainda com a calopsita empoleirada no ombro, Junymeon se permitiu esticar os olhos pelo cômodo, percebendo que mesmo com a rotina puxada, Yixing deixava a casa toda organizada e até mesmo as cartas abertas sobre a mesa – a mesma mesa do primeiro jantar dos dois – estavam bem acomodadas e alinhadas com o canto reto. Passou os dedos com cuidado sobre o nome dele impresso em uma carta de uma imobiliária e sorriu.
Yixing. Zhang Yixing.
Um nome muito gostoso de se pronunciar para um homem muito bonito de se ver.
No entanto, seus pensamentos apaixonados não duraram muito quando, sem querer, começou a ler a proposta na carta. Uma proposta de venda da casa e explicando como seria a negociação e as porcentagens para cada parte.
Puxou a carta da mesa e começou a ler os detalhes até reparar nas demais correspondências. Uma conta de energia atrasada, uma fatura de cartão de crédito muito alta e até mesmo a carta de alerta quanto a um possível corte de água.
— Zizi – chamou sem saber o que exatamente esperava em resposta. A calopsita fez um voo curto até a mesa e começou a bicar a toalha bordada no meio.
Seu coração acelerou diante da real perspectiva de Yixing ter de vender a casa por causa dos problemas financeiros. Era um pensamento egoísta? Era. Mas foi a primeira coisa que conseguiu pensar. Ver aquelas contas e dívidas o atingiu de um modo que ficou sem jeito ao se lembrar da situação presenciada no cinema quando o outro teve o cartão recusado.
Ele estava apertado e ainda o levara ao cinema para depois ser arrastado para um restaurante caro que Junmyeon adorava.
(...)
Jongdae e Minseok foram surpreendidos quando, antes de baterem à porta do vizinho, Kyungsoo a abrira, divertindo-se com a cara de desapontamento dos dois.
— Bom dia, meninos.
— Você vai ver meu pai jogar, tio Soo? – e antes de poder responder, os dois meninos entraram numa pequena discussão sobre qual pai o Do deveria ir assistir.
— Eu vou ver todos os jogadores, ok?! – pousou cada uma das mãos sobre os ombros dos meninos e então subiu os olhos para o moreno que aparecera meio tímido ali no começo da calçada. – Bom dia, Jongin.
— Eu juro que eles saíram sem eu perceber – e aos poucos Jongin adiantou os passos para estar logo atrás dos meninos. – E bom dia.
Na noite anterior, quando Kyungsoo se viu encurralado em não conseguir dizer não ao pedido sincero de jantar com Jongin, os dois homens sentaram um de frente para o outro e conversaram sobre amenidades. Jongin ainda tinha meia garrafa daquele vinho e ofereceu educadamente.
— Achei que você não queria mais beber vinho.
— Ah – Jongin olhou para baixo e sorriu fraco – mas amanhã é sábado. Posso ficar na cama até tarde.
— Tem certeza que Dae vai deixar?
— Ele nem lembra de mim quando o Minnie tá aqui. Estou de folga. – riram os dois e Kyungsoo aceitou a taça, o vinho e a companhia.
— Você é casado, Kyungsoo? – Do levantou os olhos grandes para o moreno em clara demonstração de surpresa pela pergunta repentina.
— Não – respondeu de forma amena.
— Mas você… hm, foi? – Jongin ainda observou-o sorver um gole da taça e prestar atenção nas poucas lágrimas que o vinho deixava no vidro.
— Isso faz parte do projeto conhecer o seu vizinho melhor? – Kyungsoo comentou de forma divertida, querendo mostrar a Jongin que mesmo que o assunto não fosse de seu agrado não estava bravo.
— Desculpe – pediu Jongin, jogando a franja chocolate para trás. – É que, bem, ontem, um cara apareceu aqui e disse que era seu marido.
E só pelo modo como Kyungsoo interrompeu o seu gole de vinho para abaixar a taça devagar, meio surpreso, meio espantado, Jongin soube que era verdade.
— Siwon apareceu aqui? E falou com você?
— Ele queria seu endereço.
— Você passou pra ele?!
— Não. Não sabia se ele era seu marido mesmo. – algo dentro de Jongin remexia com a real perspectiva da veracidade daquele fato. Só achava que aquele ser não combinava em nada com o vizinho... que conhecia há pouquíssimo tempo, que não sabia nenhum detalhe de sua vida pessoal e definitivamente não podia afirmar sobre sua personalidade, apesar de algo dentro de si saber que Do era do bem.
Jongdae tinha esse dom.
— Não somos casados… não somos mais casados. E obrigado por não passar meu endereço.
Os olhos do advogado cravaram sobre os seus e Kyungsoo se sentiu encurralado, como se estivesse sendo analisado – mas algo na forma como ele deixou a taça sobre a mesa e apoiou o queixo sobre a mão mostrava para Do que estava mais sendo admirado do que coagido.
— Pensei mesmo que não era uma boa ideia. Faz tempo… sabe, que vocês dois…
— Faz tempo. Mas sabe como é? Algumas recaídas. Alguns choros. Alguém sempre saindo mais e mais machucado.
— E você era quem machucava ou quem saía machucado?
— Os dois. Num casamento, ou no divórcio, a culpa nunca é de um lado só.
Jongin bateu palmas sem produzir nenhum som – não correria o risco de acordar os dois seres que dormiam em sua cama no andar de cima.
— Que sábias palavras, Do Kyungsoo – e ambos riram juntos, deixando um Kyungsoo um pouco envergonhado e alerta ao ver Jongin puxar o lábio inferior entre os dentes para evitar que o vinho escorresse pelo queixo.
— É a verdade, não é? Você foi casado e namorou muito tempo antes disso. Sabe dessas coisas.
— É, eu sei… mas não sei como é estar casado com um homem.
— Acho que na essência deve ser a mesma coisa. Duas pessoas que se amam, que moram na mesma casa e dividem a intimidade.
— Que se amam? – Jongin se reencostou sobre a cadeira e trouxe a taça entre os dedos, já sentindo o álcool surtir algum efeito. – Vocês se amam? Ainda se amam?
Kyungsoo precisou tomar mais gole para ganhar tempo. Não sabia o que responder. Acreditava no infinito de um sentimento, mas acreditava em mesma instância em sua eternidade?
— Desculpe, Kyungsoo. Isso não diz respeito a mim.
— Não é isso… – se apressou em responder. – Você tem todo o direito de perguntar, eu acho. Eu só não – suspirou, cansado, porque esse assunto de fato lhe trazia até mesmo uma dor física em sua cabeça. – Você ama Jungsoo, não ama? – Jongin assentiu.
— Com todo o meu ser. – respondeu sem encarar o vizinho. Precisou respirar fundo para ganhar a coragem para levantar os olhos para ele. – Isso quer dizer que você o ama?
— Talvez… eu não sei… É que o Amor é um sentimento tão bonito que eu não sei se Ele simplesmente acaba ou se fica por aí independente se eu posso senti-lo ou não. – Kyungsoo voltou a atenção para o moreno à sua frente e riu debochado ao perceber como sua voz estava mais séria e grossa. – Confuso?! – tentou amenizar.
— Depois de suas taças de vinhos?!
— Não sei se o álcool torna as coisas mais fáceis de serem compreendidas ou mascara os erros da argumentação.
— Acho que os dois. Mas acho que te entendo, apesar de não saber por quê.
Jongin estava pronto para terminar a garrafa de vinho, perguntar mais uma ou outra coisa mais íntima quando ouviu a voz de Dae na escada dizendo que Minseok estava chorando. Os dois adultos rapidamente levantaram-se e subiram as escadas para encontrar Minseok encolhido sobre a cama de casal, com os joelhos recolhidos perto do corpo, enquanto chorava baixinho.
— Ele disse que teve um sonho ruim, pai.
Jongdae pediu colo, mas Jongin disse que tinha que cuidar da outra criança, aproximando-se da cama com cautela até tocar os cabelos negros e bagunçados com muito cuidado e carinho. Dae, por outro lado, se emprenhou para o lado de Kyungsoo, elevando a mão para segurar firme na barra na camiseta do vizinho enquanto prestava atenção no pai.
Minseok levantou os olhos e os prendeu sobre a figura de Kyungsoo, escondendo de novo o rosto por sentir vergonha de estar chorando na frente do tio Soo.
— O que foi, Minnie? – Jongin sentou sobre a cama e puxou o garoto para o seu colo. – Foi um pesadelo? – perguntou assim em que Minseok aceitou o gesto e foi para o colo do tio Nini, com o dedão dentro da boca.
— Meu pai…
— Baek está bem.
— Eu sonhei que ele tinha ido embora. Ele vai embora, tio Nini?
— Claro que não – respondeu com um tom de voz que Kyungsoo nunca ouvira antes. Um tom que beirava muito carinho e atenção, digno de um pai atento e que sabia cuidar. – Baekhyun não vai embora.
— E se ele for, tio Nini? E se ele cansar de mim?!
Jongin riu baixinho, ainda abraçando o menor e pedindo com um aceno para Jongdae subir na cama.
— Cansar de você, Minnie?! Impossível! Seu pai é louco por você.
— Ele não brinca mais comigo… – foi mais uma confissão do que uma constatação. – Ele sempre tá ocupado e brigando com o papai…
— Hey – pediu, afastando o rosto do garoto de seu peito, obrigando-o a lhe encarar. – Baekhyun te ama, Minnie. Da mesma forma que Chanyeol te ama e eu amo o Dae. Certo, filhote?
Jongdae, já deitada do seu lado da cama do pai, sorriu e fez um joinha para Minseok.
— E eu você – confessou. – E você, tio Soo? Quem você ama?!
Jongin virou o pescoço para o vizinho ainda parado no batente da porta e estava prestes a pedir desculpas por aquilo, mas Kyungsoo veio até a ponta da cama e sentou, tocando o pé esticado de Jongdae.
— Um bocado de gente. Agora, se vocês dormirem de novo, prometo que amanhã podemos ir junto ver o jogo, o que acham?
E foi essa promessa muito bem guardada dentro da cabecinha dos meninos que levaram os dois a acordarem relativamente cedo e super entusiasmado com a ideia de poderem descer junto do Tio Soo até a quadra.
— Acho que devo uma refeição para você – falou Kyungsoo para Jongin. – Comi todo o seu jantar ontem.
— E bebeu meu vinho.
— Que eu te dei.
— Que você me deu.
— Querem tomar café da manhã aqui?
Obviamente que Kyungsoo sabia que Jongin não teria tempo para considerar a proposta diante de dois seres serelepes e muito bem despertos que já entravam em sua casa a caminho da muito bem conhecida cozinha.
— Você não precisa fazer isso. Sabe que ontem à noite_
— É só uma retribuição de gentileza, Jongin. É mais fácil aceitar. Anda, entra.
O moreno encurtou a distância e ficou parado no batente da porta, encarando de cima com os poucos centímetros de diferença entre eles; os olhos grandes, o nariz meio arredondado na ponta e os cabelos negros curtinhos.
— Sabe, Soo, por mais que você tenha dito que tenha machucado, eu não consigo te ver como alguém capaz de machucar.
Kyungsoo afastou até sentir o batente da porta contra as costas e queria mais tempo para processar aquela frase dita aparentemente de forma gratuita.
— Às vezes acontece. Mas acontece da gente ser gentil e ter um banquete a espera dos filhos dos meus vizinhos.
Jongiu sorriu, passando os dedos pelos cabelos e estendeu uma mão para dentro da casa, convidando Kyungsoo a ir primeiro.
— Comida nunca está em posição de ser recusada. – disse logo atrás do anfitrião.
— Cuidado com as suas palavras, Kim Jongin. Eu tenho boa memória.
Do Kyungsoo possuía ombros largos para sua estrutura física e Jongin percebeu como a musculatura se contraia brevemente sob a camiseta polo. Essa pequena movimentação junto da postura ereta e os cabelos curtinhos trouxeram uma única constatação para Jongin: o vizinho era muito masculino – e sexy.
— Que bom – deixou escapar, sem perceber como sua voz soara muito imprópria para uma manhã de sábado.
Mas o que Kim Jongin não sabia era que o fato de recebê-los em casa era uma fuga simplória para não pensar em Siwon – como havia falhado miseravelmente naquela madrugada. E até sonhara com o cidadão, coisa que não acontecia há um bom tempo.
(...)
Decidido, Taozi cruzou a curta distância de sua casa até o número 71. Todos já estavam na quadra e ele tinha um único propósito ali: convencer Yifan a dar meio passo para além de sua propriedade que fosse para outro objetivo senão as sessões de fisioterapia.
Yifan, por outro lado, ao perceber a movimentação do encontro quase marcado de todo santo sábado, fechou os olhos e respirou bem fundo, contanto até dez de forma exata para não se ver acertando o regador na cara do outro chinês.
— Vamos ver o jogo.
— Não, obrigado – respondeu automaticamente sem nem ao menos levantar os olhos para o outro.
Taozi abriu a boca, contestado, e estufou o peito, pronto para ter uma bate-boca ali mesmo sobre como Yifan não tinha muita escolha porque… bem, porque ele queria que ele fosse, oras. Qual a dificuldade de entender que ficar sozinho nunca era uma opção para Huang Taozi?
Então tomou a única decisão sensata ali: agarrou o pulso de Yifan e começou a praticamente arrastá-lo para além do jardim.
— Você tá maluco, Huang?!
— Achei que a gente já tinha falado sobre isso.
— Você não pode vir até a minha casa, achar que eu morri e me obrigar a fazer as coisas que você quer!
Mas até terminar todo esse discurso, Yifan fora sim arrastado para além dos limites de sua propriedade privada por um Huang Taozi que estava mais interessado em mostrar as belezas de uns corpos masculinos expostos e suados – na verdade, eram apenas dois – do que de fato parar para prestar atenção no vizinho.
O problema principal se deu quando o corpo magrelo do Wu travou no eixo conforme se aproximavam da quadra.
— Anda, vem – tentou puxá-lo, mas o corpo parecia mármore fincado no chão. – A gente chegou até aqui – e mostrou o chão com as mãos – e só faltam mais o quê? Dez metros?!
O problema, no entanto, não era os metros faltantes ou o fato de estar completamente fora da zona de conforto que trabalhou meses para estabelecer. Estava no barulho típico do material dos tênis de basquete contra a superfície da quadra, dando aquele estalo agudo que para os menos desacostumados chegava a doer contra o ouvido, e também no som do couro da bola contra a quadra, na movimentação dos jogadores, nos saltos para as cestas. Até mesmo na quebra de punho para o arremesso.
Yifan sentiu uma pontada aguda no pé e outra na boca do estômago e não soube constatar qual doera mais.
Prestava muita atenção em como o adolescente Sehun, quase tão alto quanto os outros e tão magrelo quanto a si mesmo, conseguia se esquivar tranquilamente da lentidão dos mais velhos e possuía certa delicadeza precisa ao avançar para dentro do garrafão nos passos da bandeja. Seu braço cumprido e exposto podia facilmente tocar a rede do aro caso ele trabalhasse mais seus saltos.
— Huang_
— Olha, tem um lugar ali do lado da Sra Kwon e ela é um amor, além de sempre trazer uns lanchinhos – e já tentava puxar a mão de Wu com os dedos bem cuidados, mas não conseguiu fazê-lo se movimentar nem mesmo um único centímetro. – Anda, Yifan.
— Eu preciso ir embora.
— Mas a gente chegou até aqui. – Tao se virou para o vizinho e ficou surpreso por não encontrar a carranca típica. Na verdade, a expressão no rosto de Wu Yifan beirava algo ruim, como se sentisse uma dor física. – Você tá bem?
— Por favor, Taozi. Me deixe ir embora.
Tao soltou a mão dele e sentiu um bolo crescer na boca ao ouvir seu nome ser dito quase como uma súplica. Era como se Yifan estivesse amedrontado e ele não podia fazer nada, além de deixá-lo ir. Com as sobrancelhas juntas pela sensação de não poder fazer nada diante daquilo, Tao assentiu e observou o vizinho voltar todos os passos com a perna repuxando, mais intensamente do que se acostumara a presenciar.
Olhou para a quadra, para os seus queridos vizinhos se divertindo, perdendo a bola facilmente e constatando que talvez aquele era o primeiro sábado em muito tempo em que Chanyeol e Jongin não estavam no time dos “sem camisa”. Uma pena, porque ver o Sr Oh sem camisa não era bem o que ele tinha como planos para aquele sábado.
Jongdae e Minseok abriram mão de ver o jogo e corriam pelos brinquedos do parquinho ali perto. Os dois gritaram seu nome e acenou de volta veemente. Era incrível como o simples fato de ter duas crianças que sempre sorriam para si e que lhe deram um apelido o fazia se sentir acolhido. Até fora baba dos dois num dia de verão, mas como Tao só soube comprar doces e sorvetes e almoçaram um belo milk-shake cada, seus dias de babá foram encurtados para apenas um.
Passou por Baekhyun, que, pela primeira vez em meses, estava vestido com um shorts largo até a altura do joelho e uma camiseta que com certeza era do marido, e então Kyungsoo, que até mesmo se levantou para cumprimentá-lo. Tao não era acostumado a pessoas o tratarem de igual para igual.
— Como pode ver, Chanyeol está muito bem vestido hoje.
— Uma pena que Jongninie também esteja. Mas…
— Por que não se senta conosco? – ofereceu Kyungsoo, apontando um lugar sobre o projeto de arquibancada.
— Ahn – coçou a cabeça meio sem jeito. – É que eu a Sra Kwon…
— Você só pensa e comida, Tao?! – ralhou Baekhyun. – Anda, vai… aliás, tem alguma festa hoje?
— Hoje? Ahn, não. – mentiu, porque estava levando muito a sério a promessa que fizera a si mesmo sobre não dar pano para manga e atrapalhar o casamento dos outros. Bakehyun, por outro lado, estreitou os olhos para o chinês e cruzou os braços.
Tao fugiu dali antes mesmo de ser questionado de novo. Não tinha qualquer habilidade para mentiras ou esconder coisas. Sua infância estava aí para comprovar o fato. Ao sentar-se ao lado de Sra Kwon e perceber que talvez o jogo não seria interessante sem ver os gominhos do abdome de Kim Jongin, os papéis sobre a mesa de Yixing tomaram conta de seus pensamentos.
Se fosse verdade, se a única saída para o problema do amigo fosse de fato vender a casa, o que ele faria? A ideia de não ter Yixing fisicamente perto de si era quase claustrofóbica.
(...)
— Então, Do Kyungsoo, – começou Baekhyun ao se sentar ao lado do vizinho – como você está?
Foi o suficiente para Byun lhe fazer as mesmas perguntas que todos tinham feito até ali. Onde morava antes, profissão, a magnificência do trabalho de um acadêmico e o que ele tinha que tanto encantava Minseok. Mas de todas as questões levantadas respondidas de forma humorada e sincera, fora aquela que elucidou muito bem para Kyungsoo que Baekhyun possuía algum diferencial.
— Viúvo ou divorciado?
— Perdão?
Baekhyun apoiava os cotovelos sobre o degrau de cima da mini arquibancada e mantinha os olhos no jogo.
— Sua marca.
O modo como ele pronunciara aquelas palavras soara como se tivesse sido marcado como um prisioneiro ou gado. Olhou a mínima curvatura no dedo anelar que precisaria de olhos bem atentos para constatar a silhueta mais fina.
— Meu trabalho é prestar atenção nos detalhes mais pequenos. Não fique espantado.
— Espantado?! Não, Sr Byun… fiquei impressionado. – e pelo pequeno risco que repuxou o canto de seus lábios, Kyungsoo soube que o vizinho estava satisfeito.
— Baekhyun. Se você chama meu marido de Chanyeol, acho que você pode me chamar de Baekhyun. – e a informação gratuita também foi muito bem assimilada.
Baekhyun não estava ali para fazer amizades, mas para ditar suas regras e a primeira era bem clara: estava ciente do quão próximos o vizinho e o marido estavam. Kyungsoo assentiu infimamente.
— Então… foi traição?!
— Ah, eu não_
— Não precisa. Se fosse a outra opção acho que reconheceria logo, afinal, como você deve saber, meu marido e eu vivemos a viuvez de Jongin.
Kyungsoo decidiu ser melhor desviar os olhos do perfil de Byun para olhar a movimentação na quadra. Queria dizer que casamentos terminam por muitos outros motivos que não somente traição, mas se perdeu no meio do ar tomado quando o outro riu, quase em deboche.
— Não precisa se esforçar muito aqui, ok?!
— Não é isso – tentou se explicar, se sentindo um pouco nervoso. – É que, bom… você sabe, casamento é mais que assinar papéis e morar junto.
O sorriso no rosto de Baekhyun se desmanchou aos poucos e Kyungsoo podia sentir os olhos negros analisando cada detalhe sobre seu rosto, o deixando um pouco mais desconfortável, quase ardendo tamanha a análise feita, e precisou se esforçar para continuar observando os jogadores.
— Quanto tempo vocês ficaram juntos?
— Muito tempo.
Ele engoliu em seco, pego de surpresa com as palmas do pequeno público diante de alguma coisa que alguém fez e apressou-se em acompanhá-los. Algo naquele conjunto de gesto fez Baekhyun relaxar os ombros como se tivesse encontrado o que queria, voltando as costas para a superfície de cimento e puxando uma perna para perto do corpo.
— Traição é um negócio difícil. Você deve ter se machucado muito.
— Só se você acreditar que a culpa é unilateral.
— Como?!
— Unilateral. A culpa nunca é de um só.
— Tá justificando seu ex?! – a voz de Baekhyun era quase ardilosa, como se algo o divertisse naquela história toda e algo dentro do professor dizia que antes de ser sadismo era atenção pela identificação.
Só nesse momento Kyungsoo se permitiu encarar Byun deliberadamente, deixando que o moreno virasse o rosto em sua direção e trocassem olhares, até notar um brilho aquoso nos orbes alheios.
— Ele não. Nós.
Baekhyun piscou as pálpebras de cílios longos e se levantou ao ver de soslaio o arremesso de meio de quadra que Chanyeol lançara, garantindo mais três pontos para o time. Ele pulou o degrau alto da arquibancada e se esticou sobre a grade da quadra para beijar o marido.
Do outro lado, Jongin puxava os cabelos para trás, aproveitando a deixa para recuperar o fôlego. Olhou rapidamente em direção ao parquinho para averiguar Jongdae e, meio de surpresa, quis olhar para a arquibancada. Lançou uma piscadela para o professor e se esforçou para conter um sorriso.
Mas o pobre Jongin não sabia era que na cabeça de Kyungsoo, além de passar a figura do ex-marido, agora estava também cheia de todos os sentimentos que Byun deixou escapar com uma troca de olhar. Respirou fundo sentindo um incômodo no peito. Tinha medo de contar sua história e acabar influenciando o outro casal, ou Baekhyun.
Entendia que a sua história com Siwon em muito se assemelhava a de outros casais assim como todas nunca eram iguais.
— Minseok! – Baekhyun gritou em direção ao parquinho. O filho estava segurando as correntes do balanço enquanto ele e Jongdae estavam de pé sobre o acento, impulsionando o corpo para balançarem.
Jongin na mesma hora virou o rosto em direção ao meninos e chamou por Jongdae, pedindo para ele descer.
— Mas pai – ralhou o garoto com a voz aguda, – é física!
Claro que Kyungsoo riu e decidiu ir até os meninos para não caírem de cara contra a areia e ainda levar a culpa.
— Não é, tio Soo?!
— É sim, Minseok. Mas se vocês ficarem sentados e em segurança também vai ser.
— Você podia brincar com a gente – pediu Jongdae, acatando a decisão de se sentar. – O tio Baek não gosta porque ele fala que entra um monte de areia no tênis, mas eu tiro o tênis e aí não entra areia e você pode tirar o tênis também, porque é mais fácil do que tirar a areia que entra no tênis.
E Jongdae nem fazia ideia de como.
(...)
Naquela noite, Tao olhava para o espelho em seu closet e gostava muito do que via. A maquiagem em torno dos olhos, as argolas pequenas suspensas nas das orelhas, a calça social que muito lhe caía bem.
— Baekhyun vai junto?
— Tá louco? Eu nunca mais vou convidar ele. – ralhou o chinês para um Yixing jogado em sua cama. – E Junmyeon?
— O que tem ele?
— Bom, você tá de folga e vocês dois, sabe… tem se pegado e tal. Não era pra estarem transando no meio da sua sala agora?
Yixing nem mesmo se sentiu constrangido diante das palavras de Tao. Virou o corpo de lado e apoiou o rosto sobre a mão.
— Jun é diferente, Tao.
— A gente já teve essa conversa antes, sabe… eles sempre são diferentes.
— Mas ele é.
— E por que você não me contou nada?! – a vozinha de mágoa desarmou Yixing, que bateu sobre a colcha com a mão livre convidando o amigo para se aproximar. – Você sabe que eu_
— Eu sei, Tao. Mas eu quero muito que dê certo com o Jun e não quero assustar ele. Eu… sabe, tô apaixonado mesmo. Quero fazer as coisas do jeito certo.
— Tudo bem… eu gosto dele também. Ele parece ser um cara gente boa e pode até te ajudar com o negócio da escola.
Yixing girou o corpo parando com a barriga para cima e riu do amigo.
— Eu jamais pediria algo desse tipo pra ele.
— Mas ele tem uma empresa dele e com certeza poderia_
— Sem mais, Zitao – e na mesma hora Tao fechou a cara. – Desculpe – pediu, esticando o braço para tocar o do amigo. – Foi sem querer.
— Olha – o modelo levantou da cama, levando as mãos aos quadris estreitos – você deveria largar a mão de ser orgulhoso pra cacete e aproveitar que tá quase comendo o gênio da administração e pedir umas dicas. E agora me dá licença que eu preciso sair.
— Mas ainda tá cedo – argumentou Yixing, querendo fingir que não prestara a atenção nas primeiras palavras do outro.
— É, mas sabe Deus quanto tempo Yifan vai demorar pra ficar pronto.
— Yifan? Wu Yifan?! O nosso vizinho que ninguém sabe nada sobre a vida dele e que você achou que ele tinha se matado?
— Esse mesmo.
— Huang Taozi, o que diabos você tá aprontando agora?!
Mas Tao já tinha deixado o amigo sozinho, pronto para bater na porta do 71 e arrastar Yifan para aquela festa a todo custo. Um ambiente novo e com gente bonita fazia bem para qualquer pele e ânimo; tinha certeza de que era a melhor pedida para aquela noite de sábado para os dois.
Yifan, por outro lado, sentiu um calafrio só de ouvir a campainha. Fechou os olhos e respirou bem fundo antes de abrir aquela maldita madeira que ultimamente só trazia coisa ruim – que se resumia na figura de um único chinês maluco.
— O que você tá fazendo aqui?
— Vamos pra uma festa.
— Não vamos não – disse apenas, dando às costas e nem se importando em fechar a porta porque sabia que Taozi entraria de qualquer jeito.
— Anda, Fan, vai ser divertido e eu vou poder pedir desculpa por hoje cedo_
— Já disse que o melhor jeito de pedir desculpa é me deixando em paz.
— Aish! – Tao cruzou os braços, não se atrevendo a sair de peto da porta porque bem sabia que poderia ser necessária uma fuga rápida. – Olha – retomou, após pensar um pouco, – se você for comigo hoje, prometo que não vou te seguir até a fisioterapia.
Houve sim aquele meio minuto em que Yifan conseguiu constatar algumas coisas com aquela simples proposta. A primeira – e que particularmente aterrorizava cada poro de sua pele – era que não se livraria do chinês espalhafatoso tão cedo. A segunda era que o vizinho tinha sim intenções de continuar indo às fisioterapias. A terceira era que Huang desconhecia o significado de espaço pessoal, mas até aí não era de fato uma surpresa. Era só sua mente gritando aquilo de novo, e de novo, e de novo.
Porém, a quarta constatação era: a proposta lhe era muito tentadora.
— Eu preciso de uma garantia.
Taozi não sabia o que poderia oferecer como garantia, mas sorriu bem largo ao perceber que teria a companhia do magrelo naquela noite. Seria legal para ele esquecer um pouco da dor no pé e, quem sabe, poderia até contar o que tinha acontecido…
— Te deixo bater em mim se eu esquecer – e na mesma hora os dois apertaram as mãos.
Tao só rezava mesmo para que Yifan não considerasse realmente a chance de poder acertá-lo com uma bela direita.
(...)
Naquela noite de sábado, a Rua dos Solares estava um pouco diferente, mas era preciso olhar bem de perto para perceber.
Sehun passara a tarde inteira com o namorado e bem longe do celular, temendo a reação de Jackson caso encontrasse as mensagens de Luhan dizendo como ele era muito lindo e que adoraria ser seu veterano no próximo semestre.
Quando deu um beijo de despedida sob a luz da entrada de sua casa e viu o namorado pedalar para a saída, respirou fundo e aliviado por poder ler com calma sobre o campus da cidade e pedir, mais uma vez, para que Luhan não enviasse mais mensagens. No entanto, o chinês o convidara para sair.
[Luhan às 19:25]
Acho que a gente devia sair
Tomar uma cerveja
Não sei se você já pode beber
Mas a gente pode conversar.
Eu não vou dar em cima de você.
Prometo.
*dedinhos cruzados*
[Oohshn às 20:40]
Não posso sair de casa.
[Luhan às 20:41]
Papai e mamãe não deixam?
[Oohshn às 20:41]
Eu não quero mesmo.
[Luhan às 20:42]
Você é muito difícil.
Se você não quer sair, podemos resolver isso.
Eu posso ir na sua casa.
Sehun não botara fé naquilo e disse que tudo bem, que o chinês poderia ir até sua casa, e deixou o celular de lado para tomar mais um banho e descer para ver um pouco de televisão. No começo de um filme de drama qualquer, o interfone tocou e a voz do outro rapidamente se identificou como Luhan.
E ele estava mesmo ali, com um carro 1.0 semi novo, dois sacos de salgadinhos e uma garrafa de refrigerante, alegando que não arriscaria trazer álcool para dentro da casa de um adolescente. Sehun jamais admitiria, mas talvez – e era um grande e hipotético talvez – gostara da atitude do castanho e permitiu que ele entrasse.
Mais no começo da rua, Kim Jongin recebia Chanyeol e Baekhyun enquanto perguntava para este sobre qual vinho era melhor com o prato da noite. Byun achou suspeito que o amigo tivesse tantas garrafas compradas sendo que evitava ao máximo ter álcool em casa por causa do filho. Kyungsoo chegou um pouco depois, trazendo consigo uma garrafa – ainda da mesma leva que Siwon tinha lhe dado – e tal detalhe não fugiu aos olhos de Baekhyun.
Já Junmyeon e Yixing trocavam mais que beijos no sofá do chinês. Com a mão enfiada dentro da calça do Kim, Yixing cingia os dedos sobre o membro duro enquanto pedia para Junmyeon gemer para si. E no meio de um gemido, um pré-gozo deslizando pela rigidez e facilitando o movimento, num orgasmo beirando o seu limite que Junmyeon pediu para que Yixing não vendesse a casa.
Junmyeon gozou.
Yixing se afastou, incrédulo.
Mais adentro da madrugada, Wu Yifan recebia muito elogios por sua beleza e um desconforto enorme pelo modo como era tratado diferente do vizinho; as bajulações, as insinuações para cima de si enquanto os comentários cuidadosamente calculados, com o intuito de mostrar que Taozi só estava ali por ser bonito e que beleza tinha fim, sempre camuflados com um elogio distorcido.
Yifan mantinha a atenção em Huang e o seguiu até uma das cabines do banheiro quando os olhos maquiados ficaram vermelhos e o choro não pôde ser controlado.
Minseok e Jongdae brincavam no quarto, alheios às conversas dos adultos no andar debaixo. E no meio de uma luta contra monstros parecidos com lagartos e a perda de um capa de super-herói porque o nó estava frouxo, Minseok perguntou como Jongdae fazia para que o tio Nini gostasse dele.
Jongdae disse que era coisa de sentir e ele sentia que o tio Baek gostava muito, mas não sabia o que fazer com o tanto que gostava. Decidiram, então, fazer juntos desenhos para o tio Baek.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.