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História Rua dos Solares - Sobre todos os tipos de promessas - História escrita por NoahBlack - Spirit Fanfics e Histórias
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História Rua dos Solares - Sobre todos os tipos de promessas


Escrita por: NoahBlack

Capítulo 9 - Sobre todos os tipos de promessas


Fanfic / Fanfiction Rua dos Solares - Sobre todos os tipos de promessas

Após uma certa idade – e do flagra traumático que os dois souberam driblar até que muito bem, se não fosse o breve fato de Minseok ter perguntado para o melhor amigo sobre brincadeiras de cavalos e afins, – Baekhyun e Chanyeol decidiram de bom agrado sentar e conversar com o filho sobre privacidade.

Foi a partir desse dia que nunca mais foram flagrados um em cima do outro totalmente desprovidos de roupas e Minseok aprendeu que deveria sempre bater na porta antes de entrar, e que sua privacidade seria tratada da mesma forma (mesmo com Chanyeol questionando sobre que tipo de privacidade um menino, na época, de cinco anos poderia querer e, incrivelmente, com Baekhyun explicando que era assim que começavam os ensinamentos sobre o espaço do outro).

Então, naquela manhã, mesmo completamente nus por debaixo do lençol e com Chanyeol tentando a todo custo esconder a ereção matinal, a batidinha de leve na porta não pegou ninguém desprevenido.

Baekhyun pediu para o filho entrar e Minseok surgiu todo feliz, subindo pelo pé da cama até o meio dos pais.

— Olha – e abriu a boca, levando o indicador com muito cuidado até o incisivo superior esquerdo. – Tá mole! Meu dente tá mole!

— Que legal filho – foi tudo o que Chanyeol conseguiu produzir enquanto o filho era puxado para o colo de Baekhyun. – Mais um dente mole.

— Deixa eu ver isso daí – Baekhyun, involuntariamente, abriu a boca junto de Minseok e levou o dedo com cuidado para averiguar a veracidade do fato. A ansiedade do garoto para ter os dentes moles era tamanha que passaram por momentos que apelidaram de “dente mole psicológico”. – É, tá mole mesmo.

Euxeiquetá – respondeu ainda com a boca aberta e fazendo um barulhinho de sucção para a saliva não escorrer. – Eu quero mostrar pro Dae. – pediu, fechando os olhos ao ter a mão do pai deslizando pelo rosto e piscando meio aturdido pelos pontinhos escuros que surgiram na vista. – Acho que vai cair antes do dele.

Chanyeol vestiu o shorts do pijama abandonado ao lado da cama e então puxou o filho para o seu colo.

— Não antes de tomar banho, escovar os dentes e comer, meu amor – e beijou sua testa, sentindo a umidade de mais uma noite quente. Logo menos ligariam os ares-condicionados e quem sabe parariam de lavar um pijama por dia.

Meio ainda sonolento, Chanyeol conduziu o filho ao banheiro da suíte mesmo. Houve sim um tempo em que acreditara em que o período de férias – as dele e do filho, sempre muito bem programadas – era sobre acordar tarde e poder descansar. Mas Minseok não compartilhava da mesma filosofia.

Baekhyun levantou da cama, vestiu o robe de seda e parou no batente da porta para ver Minseok sentado em cima da pia, de pernas cruzadas enquanto abria bem a boca para escovar os dentes, imitando os jeitos do pai. Era uma cena caseira, quase rotineira se não fosse o fato do filho não ter a mesma disposição para acordar quando em período letivo; mas era a sua cena caseira.

Era o seu filho – que, mesmo conhecendo todo o processo biológico, custava a acreditar que seu corpo fora capaz de criar cada pedacinho daquele corpinho pequeno, mesmo com os números nas balanças e referências em curvas de crescimento.

A primeira vez em que fora chamado na escola porque Minseok tinha agredido a professora, gritando, arranhando e beliscando, ficou descrente que dizia respeito ao seu filho. Ele nunca, jamais, apresentara qualquer comportamento agressivo em toda a sua primeira infância além das birras normais e choros falsos para conseguir o que queria. Chegou lá puto – e justo naquele dia tivera de pedir dispensa de uma reunião com um cliente importante porque Chanyeol estava fora da cidade em reunião também, – e encontrou o menino todo encolhido na cadeira de frente para a diretora. Os olhos vermelhos, a cabeça enfiada no meio dos joelhos recolhidos e o corpinho em solavancos pelo choro recém cessado.

Baekhyun entrou com a cara de poucos amigos, querendo uma explicação detalhada sobre o ocorrido e já pronto para colocar a professora, o auxiliar pedagógico, a psicóloga e a diretora em seus devidos lugares, porque alguém com certeza deveria ter desencadeado tal comportamento.

Mas não tinha ninguém para ser culpado. Foi a recusa de querer participar de uma atividade de dobraduras para, de repente, o estouro. Baekhyun assinou a ficha, puxou os braços do filho e sentiu contra a mão o suor que se acumulara. Minseok escondeu o rosto sobre o ombro dele e pediu pelo papai.

Minseok vinha pedindo muito pelo papai.

— Você não vai escovar o dente também? – Minseok perguntou, já com a boca enxaguada e mostrando os dentes juntos para Chanyeol, como forma de provar o quão limpo estavam.

Uma cena doméstica. De um cotidiano. De uma certa repetição.

Chanyeol atendeu todos os outros episódios e cogitou a possibilidade de um psicólogo – mas, na época, Baekhyun já se sentia apertado dentro daquele mundo. Negou. Disse que lidariam com aquilo como sempre lidaram com todas as outras coisas.

— Seu pai precisa do banheiro para tomar banho e depois ir trabalhar, meu amor. Vem, vamos deixá-lo se arrumar em paz.

Chanyeol parecia feliz – porém, sabia que ele tinha aquele dom de aparentar felicidade mesmo quando não.

Observou o marido colocar o filho no chão e, ao passar por si, deixou um beijo estalado em sua boca e saíram pai e filho do quarto. Tirou seu robe na frente do espelho que quase ocupava metade da parede acima da pia e apreciou o formato do próprio corpo. Havia umas estrias muito finas e claras perto do umbigo, presente da gravidez, mas ainda era um homem bonito.

Atraente.

Envolvente, como diziam.

Chanyeol sussurrou essas mesmas palavras para ele na noite passada, com a voz rouca, entocando sem força dentro de si, deixando um ritmo gostoso e sem pressa enquanto sentia o calor domar seu baixo ventre e a próstata ser massageada toda vez. Chanyeol construíra seu orgasmo, como se alimentasse bem aos pouquinhos uma bomba-relógio, e quando gozou, gozou lânguido, estendido, manhoso. Chamou pelo marido, disse que o amava e foi agraciado pelo orgasmo dele dentro de si.

No entanto, mesmo com todas as transas que ainda aconteciam no período de férias graças ao grude de Minseok e Jongdae em outras casas, Baekhyun sabia que seria questão de tempo para Chanyeol exigir por respostas mais concretas.

Levou as mãos ao pescoço e cingiu cada dedo com muito cuidado. Respirou fundo e apertou-os ainda mais, até sentir um incômodo na garganta. Teria de sair para trabalhar, mexer no projeto de Do Kyungsoo que aceitara a maioria das propostas – até a de fazer uma piscina no quintal enorme, a pedido dos garotos.

Só de pensar no vizinho seu estômago se contraía. Ele representava seu impasse: sentia-se sufocado com tantas responsabilidades que assumira sem ver, mas notar como o marido agora sempre estava comentando alguma coisa sobre ele dentro de casa, como se aquele nome já fizesse parte dos ecos de seus cômodos, fazia seus olhos arderem.

E eles ardiam agora. Vermelhos. Cheios de água. E a força dos maxilares travando os dentes. Primeiro o filho, depois o melhor amigo e agora o seu marido. Sentia uma raiva perigosa em seu estômago e o gosto amargo do ciúme.

Sua imagem no espelho tremulou e se embaçou. Puxou o ar com força por entre as narinas e enxugou com o torso da mão aquela água toda sobre os orbes.

Sentia inveja.

 

(...)

 

Kyungsoo ainda olhava para as duas portas de sua geladeira enquanto sorvia um gole curto do café matinal.

— Gostou, tio Soo?

Jongdae estava sentado balançando as pernas soltas no ar enquanto forçava uma colherada dos cereais matinais para dentro da boca.

Para variar, na noite anterior, ele o Jongin jantaram juntos – e dessa vez tiveram a presença de Chanyeol e Minseok; algo com Baekhyun preso numa reunião sem fim – e Jongdae acabou dormindo no meio do sofá pequeno e bateu o pé de que queria dormir com o tio Soo. Jongin não gostou e estava pronto para deixar o filho chorando por todo o caminho até a casa ao lado quando Kyungsoo tocou em seu ombro.

— Tudo bem, Jongin.

— Não, Kyungsoo – tentou intervir o moreno. – Ele precisa aprender que não pode fazer tudo que quer.

— E se eu o convidar, ele pode ficar?!

— Acho que você também precisa aprender que não pode amenizar as birras dele – mas era o sorriso contornado pelos lábios carnudos que dizia que, apesar da bronca, o filho poderia ficar.

Jongin ainda trouxe o pijama, uma toalha de banho, uma troca de roupa e a escova de dente. Ajoelhou na frente do filho e deixou um beijo em sua testa.

— Você precisa me prometer que vai obedecer Kyungsoo. – Jongdae assentiu no mesmo instante, já recarregando a energia de seu corpo só pela perspectiva de poder enfim dormir na casa do tio Soo. – E que vai dormir assim em que ele mandar – outro aceno. – E que vai tomar banho e escovar os dentes direitinho. – Jongin levantou o dedinho e Dae tratou logo de apertá-lo.

Levantou-se do chão após deixar mais um beijo no filho, um abraço bem apertando, um boa noite e um eu te amo. Parecia que não veria Jongdae por um mês inteiro.

— Não hesite em me ligar ou bater em casa se precisar de alguma coisa – pediu, agora de frente para Kyungsoo. – Qualquer coisa que você precise, de verdade.

— Calma, Jongin, vocês vão se ver amanhã – e sorriu o seu sorriso de coração que deixou Jongin mais calmo.

— É que é a primeira vez que não é com o Chan e o Baek e eu_

— Nós nos daremos bem, certo, Dae?! – a pergunta foi feita alta para o menino que já estava sentado no sofá com o controle entre os dedos, porque Kyungsoo não ousou desviar o olhar, justo quando Kai sorria meio entregue diante de sua dificuldade em se afastar do filho.

Acompanhou-o até a porta, desejou boa noite e observou Jongin quase ir embora, mas voltou, parando diante de si entre os batentes da porta. Ele tentou respirar fundo de forma discreta e a cada pedacinho de pele que os castanhos de lá percorriam em seu rosto, os castanhos de cá acompanhavam, deixando os castanhos de lá tímidos pelo flagra e o sorriso de lá esticar um pouquinho enquanto o sorriso de cá se controlou para não se abrir ainda mais.

— Boa noite, Jongin.

— Boa noite… Soo.

Então o advogado fez todo o caminho de cimento entre a grama do jardim frontal e, antes de se virar em direção à própria casa, girou meio corpo, olhando sobre o ombro e encontrando o vizinho ainda parado ali. Acenou de novo e seguiu seu caminho, mordendo o lábio para conter o sorriso que parecia fora de seu controle.

Por toda aquela madruga sozinho dentro do quarto, Jongin constatou o bem óbvio: sentia-se sim atraído pelo vizinho. Kyungsoo era um homem muito bonito, de estruturas físicas que o agradavam, sempre conversando olho no olho, o que era meio intimidador de vez em quando, sempre muito atento ao seu redor.

Do Kyungsoo era, no mínimo, intrigante.

E não podia passar disso.

— Você desenha bem, Dae – Kyungsoo decidiu enfim responder a criança sentada atrás de si. – Mas quando foi que você fez isso?

— Ontem à noite.

— Achei que você tinha ido dormir, Jongdae – tentara uma voz repressora, mas viu de soslaio o dar de ombros dele.

No desenho agora grudado junto à geladeira com um imã havia dois adultos próximo, um com um coração na boca e outro com uma gravata, uma criança no meio deles e um outro casal ao fundo com outra criança.

Kyungosoo não precisava de nenhuma ajuda ali para reconhecer as figuras representadas. E tão menos passou despercebido o fato dele estar de mãos dadas com Jongin.

— Mas por que Baekhyun e Chanyeol estão no fundo?

— Porque eles moram mais longe.

Kyungsoo achou válido o argumento e voltou-se para a mesa, sentando de frente para o garoto que agora queria muito falar sobre o quanto tinha que andar para chegar na casa dos tios e quanto às vezes era cansativo. Achava graça do conceito de cansaço dele e dava corda para continuar a ouvi-lo desenvolver sua linha de raciocínio.

E a cada nova sentença, às vezes  relacionada ao assunto ou não, Kyungsoo só conseguia perceber o quão incrível Jongin era por conseguir dar meios para que o filho se expressasse de várias formas. Jongdae falava das aulas de dança com Yixing, sobre os heróis de que gostava mais e até do quanto tempo Mongu demorava para comer.

Expressava-se com as sobrancelhas, com os braços, com os olhos, a inclinação da cabeça, a colher hora ou em riste ou em sua direção quando se lembrava de alguma coisa que queria saber.

Kim Jongdae não era expressivo; ele precisava se expressar, precisava colocar todo o seu corpo para contar exatamente o que queria e o Do achou tudo isso sensacional. Falava o que queria e da forma que vinha. Dae era claro e sem rodeios em seus desejos, pensamentos e curiosidades.

Coisa que Kyungsoo já fora acusado, entre uma briga e outra, de não ser.

— Acho que o meu pai tá muito sozinho lá em casa. Você não vai chamar ele pra vir aqui? Ele não gosta de cereal de bolinhas, mas se você pedir com carinho ele come, tio Soo. Meu pai não recusa comida na casa dos outro e o tio Baek já disse que ele é muito esfameado, sabe?! Eu não sei o que é esfumadiado, mas ele disse que é e o tio Baek sabe um monte de coisa difícil também. Acho que ele sabe também de física que nem você.

Outra habilidade também era a encontrar nexos entre todos os assuntos do mundo – e Kyungsoo acreditava seriamente que não estava sendo hiperbólico.

— Acho que você poderia ir lá no quintal chamar ele aqui.

— Mas o tio Baek mora lá na outra casa.

— Eu tava falando do seu pai.

Ahn – mas o menino já afastava a cadeira, gritando que era aquilo era física, e saiu correndo pela porta balcão da cozinha já há muito usando todo o potencial de sua garganta para chamar pelo nome do pai.

Do colocou sobre a mesa mais um jogo americano e uma caneca para depois averiguar se o café ainda estava quente dentro da garrafa térmica. Aliás, julgava que Jongin tomasse café – seria muito difícil o contrário, porque a bebida era um hábito entre trabalhadores. Ou era café ou Jongin já seria um fumante.

Pediu para Jongdae fazer uma surpresa para o pai na porta, abrindo-a antes dele bater, e então se virou mais uma vez para a geladeira cheia dos desenhos dos dois garotos. Tocou de leve o desenho simplório feito na única cor azul da caneta esferográfica.

Quis pensar em Jongin e em Jongdae. Mas não conseguiu.

— Siwon – e suspirou, incrivelmente já cansado diante de qualquer perspectiva.

 

(...)

 

Yifan nem mesmo conseguiu fingir descontentamento quando a figura de Taozi o esperava do lado de fora.

Ele até cumprira a promessa sobre uma semana sem persegui-lo por aí, mas não era a mesma coisa quando sabia que Huang lhe dera sossego porque estava… bem, daquele jeito. Então, quando abriu a porta para mais um dia de fisioterapia e Taozi veio cheio de mãos balançando falando que aquela calça do maior era muito fora de moda, algo dentro de si – que nem prestara muita atenção, verdade – ficou mais calmo.

— Tem nada de melhor para fazer, Huang?

— Até tenho, mas eu tava fazendo aquele movimento que a sua fisioterapeuta ensinou e eu senti uma fisgadinha aqui embaixo do joelho e ela disse que não era pra sentir e_

— Quem já rompeu um ligamento no  joelho que não é pra sentir, Huang.

— Você não sabe se eu já rompi alguma coisa, ok?!

Yifan parou de andar e puxou a barra da calça até a altura do joelho e uma cicatriz clarinha apareceu quase no meio da canela.

— Você tem uma dessa?

— Não, mas_

— E é por isso que eu sei que você não rompeu ligamento nenhum.

— Olha aqui, Fanfan, – e lá estava o apelido que agora dera na telha de chamá-lo quando queria tentar provar alguma coisa – eu não falo nada da sua dor, então não fale das minhas fisgadas, ok?!

Tá, tá, tá. Se vamos mesmo fazer isso, melhor que seja calado.

— Tá bom – mas só pelo modo com o outro pronunciara aquela concordância de forma muito rápida e com o balançar de braços ao lado do corpo que Yifan soube que teria qualquer coisa, menos Huang Taozi quieto. – Então…

Yifan poderia muito bem ter bufado e xingado mentalmente, porém, não era como se tivesse conseguido se enganar ali.

— … um dos empresários me ligou esses dias aí e ele perguntou sobre você, que você tem o perfil que ele tá procurando pra nova campanha e tal, e ele pediu seu telefone e aí me dei conta que eu não tenho o seu número.

— Você não precisa do meu número, Huang.

— Mas vai que tem alguma emergência?!

— Mais um motivo pra você não ter o meu número – e de canto de olho pôde ver o bico se formar e um resmungo fazer os lábios finos se mexerem. – O que disse?

Aish! Eu cometi um errozinho e… – bufou de novo, aumentando o bico. – Já pensou que se eu tivesse seu número, eu não teria ligado pra polícia?!

— Isso não me convence em nada.

— Qual é, Fan! O que é que pode te acontecer se você me passar seu celular?

— Não sei se consigo listar tudo de cabeça agora. E, outra, eu não tenho celular.

Na mesma hora, Tao parou de andar e segurou o braço do outro para que parasse também, deixando o queixo cair aberto.

Como assim você não tem celular? Em que mundo você anda vivendo, Yifan?

— Naquele em que eu não preciso de um e você não precisa de número nenhum.

— Mas algum número você tem que ter. Telefone, fax…sei lá, ICQ.

— De qualquer jeito, – retomou, ignorando a vontade de rir porque não sabia a última vez em que ouvira alguém falar em ICQ – eu não tenho porque não preciso.

— Impossível. Todo mundo precisa de um telefone. Alguém precisa entrar em contato com você!

Ah, é?! Tipo quem?!

— Sua mãe, pra começo de conversa.

Qualquer outra pessoa talvez tivesse conseguido uma carranca como resposta junto de uma ida à merda bem expressiva, mas não conseguia levar Huang daquela maneira mais. Então só deixou a carranca na cara mesmo.

— O que foi?!

— Eu não tenho mãe, Huang.

— Como assim além de não ter telefone você não tem mãe?! É muita coisa que você não tem, sabia?!

— Eu sou órfão.

Tao tentou contar meio alheio à própria tentativa quantas vezes aquela palavra rebateu em sua mente enquanto sentia o coração bater mais acelerado. Travou no próprio eixo e segurou o cotovelo do outro de novo, fazendo-o quase cair para trás.

Yifan poderia ser qualquer coisa, menos ser sozinho a esse ponto.

— C-como assim?

Wu precisou prestar muita atenção na voz fraca que parecia ter escapado de surpresa dos lábios de Huang para conseguir ouvir.

— Como assim o quê?!

— Sem pai e nem mãe?

— É o que órfão quer dizer até onde eu me atualizei.

E não era que Tao julgava a forma como Yifan simplesmente contava aquilo, tão despretensiosamente que beirava o banal, porém, assumir que não tinha ninguém em outro lugar esperando por uma ligação sua mexia diretamente com as entranhas dele. Não conseguira imaginar sua vida sem sua mãe e ainda às vezes era difícil acreditar que ela não estava mais ali – e já fazia muito tempo que ela não estava mais presente; então, como Yifan conseguia?

Mas Tao não estava raciocinando que Yifan não poderia sentir falta daquilo que nunca teve.

Certo?

— Se você continuar parado aí, Huang, vai me atrasar.

Taozi apertou o passo com dificuldade. Pensava neles dois, no quanto parecia que suas vidas eram parecidas. Tao com essa sensação de solidão e Yifan com a solidão em si.

— A gente precisa comprar um celular pra você.

— De jeito nenhum.

Yifan podia sentir a tristeza de Huang, mas preferiu ignorar. Um, porque não sabia lidar com os sentimentos dos outros, e, dois, porque não queria lidar com aquele Taozi vulnerável de novo. Esse lado dele, intrometido, espontâneo, maluco, conhecia e sabia como proceder. O outro Huang Taozi… o outro era muito similar a si mesmo.

E tinha certeza de que não sabia lidar com isso.

 

(...)

 

— Virou secretário agora?

— Não enche, Bae.

Luhan empurrou o melhor amigo na brincadeira, mas não deixou de olhar sobre os ombros para o homem que entrava na sala do seu orientador.

— O cara tava perdido e eu ajudei. Só isso.

— Tudo bem, cara. Todo pós-graduando já foi buscar café uma vez. – Youngbae retirou o celular do bolso para checar as tantas mensagens que faziam o aparelho vibrar.

— Festinha na sua casa de novo? Sehun tá lá? – o outro fingiu puxar o aparelho para longe do campo de visão de Luhan, xingando baixinho. – Qual é?!

Qual é?! Acha mesmo que eu tô afim de ver você e o Jackson brigando pelo pescoço do Sehun-ah?! Eu não vou ser louco de te enfiar no mesmo ambiente que ele, cara. – Luhan soprou uma risada. – Não sei como ele ainda não cortou vocês dois; sério.

— Tá com ciúme, hyung?! – Luhan se debruçou sobre o ombro do amigo e piscou os cílios longos em ironia. – Pensei que seu lance fosse mulheres.

— Que ciúme o quê, Lu. Te ponha no seu lugar, homem. O que eu, seu melhor amigo e pessoa que te conhece de outras festividades, estou tentando te aconselhar é: para.

— Eu mal comecei, Bae… Sehun_

— Eu conheço esse discurso. Todo mundo conhece. Jackson é um idiota. Nada novo sob o Sol, Luhan, mas o que é novo sob esse mesmo Sol, e bem novo ainda por cima, é você na vida dele, cara. Quantas mensagens você envia por dia? Quantas vezes eu já li aí – e apontou para o celular na mão do chinês que estava sim checando se o Oh tinha respondido ou, quem sabe, feito algum convite – você falando mal do Jackson pra ele?! Pelo amor de Deus, Luhan, independente do quão filho da puta eu ache que o Jackson é, não vai ser tentando difamar o namorado do crush que você vai conseguir reverter esse jogo, cara.

— Eu só quero que ele entenda_

— Ô, porra. Tenho que te ensinar todo o be-a-bá?! Sérião mesmo?

— Olha, Bae, eu sou seu melhor amigo, você sabe disso, eu sei disso, seus pais sabem disso, a Sra Lee da secretaria do prédio da biologia sabe disso, então vou te dizer que eu sinceramente acho que você tá caçando pelo em ovo. Eu tô só de zoeira com o Sehun – e foi nessa hora que Youngbae desatou a rir; ironicamente, óbvio.

— Podia até ser antes de você ter ido parar na casa do cidadão, cara. Depois daquele dia – recebeu um tapa no meio das costas como forma de reprovação. – Só tô falando pra você não tentar me enganar e, principalmente, se enganar. E, cara – levou a destra no ombro do chinês, – Sehun é gente boa, bom menino e tudo o mais. Eu vi literalmente esse moleque crescer e há uns três anos ele era menor que a minha mãe. Então, o que eu tô tentando falar é que tudo bem querer conquistar o garoto, mas não vai ser esculachando o Jackson em três a cada cinco mensagens trocadas e tão menos perguntando até o que ele comeu de almoço. Só… sabe, deixa fluir.

Luhan não queria admitir para Youngbae o quão certo ele estava. Odiava inflamar aquele ego tatuado dele; mas a ideia de não permear um único segundo dos pensamentos no Oh, mesmo que fosse o reprimindo por ser insuportável, era incômodo. Incômoda também era a sensação de saber que o outro carregava dentro de casa as cartas atrasadas e todas elas com aprovações honrosas e podia sim ir até Seoul para dividir um micro apartamento com o namorado idiota.

Dentro dessa lógica que confessava sim ser irracional, estava com medo de ele, no auge nos seus 25 anos, ter se apaixonado por um adolescente de recém dezoito anos praticamente e não ter a malícia de um mundo para conquistá-lo.

Porque, droga, queria muito conquistar Oh Sehun e poder abraçar o corpo magro e poder mostrar pra ele que existiam mais coisas permeando um relacionamento.

— Eu não quero me afastar dele, Bae.

— Mas quem falou aqui em se afastar, Lu?! Só tô falando que o Lu Han é um cara muito mais interessante que não precisa ficar cutucando namorado idiota nenhum.

— Mas e se… – como terminar aquela frase? Como mostrar que tinha sim medo de Sehun não enxergar o que era transparente como água para todo mundo e parecia que ele era o único que não via isso nesses meses todos de um namorinho?

— E se nada, Luhan. Tanto cara aí nesse campus que só falta pendurar folheto com a sua cara e você com um crush novinho… vai entender essa sua cabeça.

— Sehun é diferente, Bae, ele tem_

— Na boa, Lu, quero escutar esse papo apaixonado de diferença não. O que eu quero mesmo é chegar até a sala dos computadores porque você me prometeu que ia liberar sua cota de impressão pra mim.

— As pessoas negociam cada coisa hoje em dia.

— Escambo universitário. A sua cota não usada desse mês é o xerox pago no mês que vem.

— Vou me lembrar disso, hyung.

Mas, para chegarem até a sala dos computadores, tiveram que retardar o descer das escadas principais porque uma das meninas que já ficara com Youngbae vinha em sentido contrário e, de costume, ela não podia ver a cara do coreano na frente ainda.

— Tanta sabedoria pros amigos e nada pra si mesmo – Luhan falou baixinho, estalando a língua enquanto meneava a cabeça infimamente de um lado para o outro.

— Cala a boca que ela pode te ouvir. – os dois tiveram que abrir uma das portas do corredor de forma apressada para se esconderem e ficaram ali até que não escutassem mais nenhum passo do outro lado. – E eu fiz certo. Cheguei nela, mandei a real, disse que não ia rolar mais e vida que segue. Se ela tem problemas com sinceridade, a culpa não é minha

Luhan nem queria entrar no mérito de que o amigo fizera isso no meio de uma festa de república em que combinara de ir com a cidadã em questão. Esse sim era um discurso que já traçaram milhares de vezes; Youngbae tinha um ótimo coração, mas um péssimo time.

 

(...)

 

Kyungsoo caminhou até sua sala segurando a sacolinha plástica com um nó desajeitado.

Era o que Jongdae chamou de “lembrança” e explicou, sem necessidade de estímulo nenhum, que era para o vizinho se lembrar dele e do pai e também lembrar de comer. Um bolinho com um formato que o menino jurou ser de coração. Jongin fingiu acreditar e Kyungsoo só via o coração depois da revelação.

Cumprimentou na recepção aos secretários, pegou suas correspondências físicas no escaninho e seguiu para sua sala atento ao seu nome logo abaixo de um artigo na Physical Review.

— Confesso que não achei que teria de esperá-lo por tanto tempo.

A voz daquele timbre que com o tempo ficou um pouco mais baixo, vibrando as cordas vocais numa outra frequência mas nem por isso menos atraente. Muito pelo contrário. Com o tempo Kyungsoo percebera como a voz grave lhe caía melhor.

Siwon estava sentado em sua cadeira atrás de sua mesa organizada dentro de sua sala ainda meio vazia. O terno que passou a ser marca registrada após assumir um alto cargo dentro da qualidade de uma empresa de cosméticos junto dos relógios caros, os cabelos bem ajeitados, a barba muito bem feita e alinhada. Características tão distintas do universitário, mas nem por isso menos atraente.

Aliás, Siwon sempre seria atraente. E envolvente. E um campo de força magnética inteiro de polo contrário o seu, o atraindo sem resistência nenhuma.

— Mas tudo bem. Vale a pena te esperar – ele se levantou e veio até Kyungsoo, segurando uma caixinha em mãos. – Eu ia enviar de novo para o seu porteiro esperando que ele te entregasse, mas… aí pensei, por que não entregar pessoalmente?! – e estendeu o embrulho.

— Siwon_

— É só um presente, Soo. – Siwon calculou muito bem como entregar o presente, sustentando a caixinha pela parte de baixo e de cima, não permitindo que Kyungsoo a aceitasse sem tocar em seus dedos. Como o previsto, sorriu ao sentir a pele ainda tão macia da mão dele.

— O que é isso?!

Dentro da caixa havia uma chave simbólica, toda enfeitada em desenhos simétricos e uma fita vermelha amarrada.

— Volta pra casa, Soo – Siwon deu um passo e tocou de leve o ombro do menor, sentido a musculatura desenvolvida se enrijecer um pouco e soltou uma risada diante da constatação. – Eu entendi o recado. Ver você fugir pra cá, sem deixar celular ou endereço, foi muito cruel, Soo, mas eu entendi.

— Você sabe que não foi uma fuga – mas era muito difícil se concentrar na imensa lista de razões racionais que o levaram a sair de Seoul de forma rápida quando Siwon estava tão próximo de si.

— Não?! Bem, não foi o que pareceu quando te procurei no seu apartamento e me disseram que não estava mais lá.

Todo o corpo de Kyungsoo ficou atento quando sentiu a mão lhe tocar o pescoço, com o dedão serpenteando devagar sob a linha do maxilar, e os olhos cravarem sobre a sua boca ao passo em que os lábios do outro foram umedecidos. Seu coração estava acelerado, mas Kyungsoo não conseguia identificar os motivos.

A consciência da proximidade de Siwon anestesiava a capacidade de conseguir assimilar seus sentimentos. Fosse fisicamente falando ou não, como quando foram enviados vários vinhos para sua casa deixando bem claro que sabia muito bem do paradeiro do ex marido. Era nervosismo, sensação de perigo ou tesão?! Porque agora, mesmo com suas mãos suando levemente sob a caixinha aveludada, estava ciente do quanto os olhos negros de Siwon deslizavam por si.

— Você fica muito lindo com o cabelo mais curto – os dedos agora se embrenhavam entre os fios curtinhos, deixando uma massagem leve, afundando as unhas curtas pelos espaços enquanto observava o estado de relaxamento que deixava em Kyungsoo. – E com essas roupas – a outra mão subiu pelo antebraço descoberto, tocando a musculatura firme da região. E tanto a atenção dele quanto os olhos de Kyungsoo abaixaram para os dedos deslizantes pelas poucas veias proeminentes para subirem até o bíceps escondido pela manga dobrada da camiseta.

Siwon se inclinou um pouco e sorriu ao ter os olhos grandinhos do ex marido travados em si.

— Volta pra casa, Soo. – sua voz sussurrada parecia pincelar os lábios de Kyungsoo. – Volta pra mim…

— Estamos divorciados, Si…

— Não estou clamando a entidade, Soo. Estou pedindo por você junto de mim.

Os lábios se rasparam, de leve, num toque íntimo e conhecido.

— Eu amo você, Soo – foi o que o cérebro de Kyungsoo assimilou antes de ter sua própria boca invadida pela língua do ex marido, num beijo nada afoito, como se estivessem fazendo um reconhecimento do espaço e das texturas, se encostando e sentindo os movimentos, molhando e sugando os lábios vez ou outra, apertando os dedos sobre o quadril de Siwon enquanto tinha as mãos dele presas na linha de seu maxilar, ajudando na movimentação de suas cabeças, mudando de posição quando necessário.

Siwon deu um passo para frente até ter o corpo de Kyungsoo preso na parede. Com um movimento preciso o suficiente, tirou o  próprio terno sem desgrudar as bocas e puxou as duas mangas de qualquer jeito sobre a extensão dos braços.

— Si_

Shiu – pediu entre o beijo, puxando o cinto de Kyungsoo com dedos ágeis. – Hoje não, Soo.

O barulho do zíper da calça jeans pareceu ter soado alto demais como se estalasse contra as paredes. Mas era só uma impressão que foi logo desanuviada pela sensação quente do aperto contra o seu membro. Kyungsoo desgrudou as bocas e apertou os olhos, jogando a cabeça sobre a parede enquanto seus ouvidos assimilavam bem o barulho molhado da masturbação que lhe era aplicada, com a mão grande envolvendo seu falo de cima a baixo.

Vez ou outra Siwon interrompia rapidamente o movimento para massagear os testículos, dizendo em seu ouvido o quão era gostoso sentir Kyungsoo daquele jeito. E quando começou a sentir o repuxar mais forte e o membro tensionado como se quisesse expandir ainda mais o diâmetro, Siwon abandonou sua boca e se ajoelhou, sorrindo ao ver dali debaixo o ex marido quase se contorcer com o toque úmido e quente da boca que começou a chupá-lo com muita intensidade.

Do Kyungsoo gozou completamente dentro da boca de Do Siwon.

Siwon se levantou lentamente, certificando-se que não havia qualquer resquício em seu rosto, e abraçou o corpo ainda trêmulo diante de si, puxando Kyungsoo para um carinho pós orgasmo.

Beijou devagar a curvatura exposta do pescoço, sentiu sobre os lábios as gotículas de suor que umedeciam a região e a força da respiração que ia se normalizando sobre as pontas dos dedos que faziam um carinho sem pretensão nas costas.

— Eu preciso_

Shiu – pediu bem pertinho no lóbulo, deslizando os lábios. – Eu também preciso, mas eu venho te buscar para jantar comigo. Te pego aqui às sete.

Beijaram-se mais uma vez de forma calma, agora que já tinha passado a euforia do reencontro. Siwon arrumou a camisa, a gravata e o terno sobre os ombros largos e deixou um beijo sobre os lábios do ex marido antes de sair.

Kyungsoo ficou por alguns segundo parado, ainda reencostado na parede no canto, olhando para a porta fechada e conseguindo sentir os sentidos voltarem a trabalhar de forma correta. Passou a mão pela boca, pelo rosto, pelos cabelos e quis gritar, mas não o fez. Sentou com calma em sua cadeira e deixou uma lufada de ar jorrar pela boca.

Deus, o que tinha feito?!

Sentiu a saliva espessa descer pela garganta. Lembrou-se do motivo de ter demorado tanto para pedir o divórcio, todas as noites que acabaram transando na ainda cama de casal após discutirem sobre a necessidade de assinar os papéis e na forma como Siwon complicara todo o processo.

Naquela época eles ainda se amavam. Kyungsoo o amava, pelo menos. Carregou o símbolo daquele amor por muitos anos em seu dedo e uma grande parte dentro de si se culpava pelo fim do casamento, pelas recaídas no pós divórcio e por todos os pensamentos conflitantes que ainda cercavam a imagem do ex marido.

No entanto, era inegável o tesão que ardia entre eles. A agilidade em como seu corpo respondia aos toques e aos beijos e a voz e… Suspirou. Tinha tanta coisa para resolver e fazer que simplesmente não podia se perder em pensamentos por Siwon e sua peculiar habilidade de lhe tirar do eixo.

Olhou a chave simbólica ainda dentro da caixinha de veludo. A proposta de Siwon poderia ser muito tentadora. Voltariam sem o peso dos rótulos. Seria… se Kyungsoo não tivesse aquela vozinha de fundo presa em sua mente, que não incrivelmente se assemelhava muito a voz de Kim Jongdae, lhe dizendo que estava feliz ali.

Uma vida simples, sem pressão e estresses além dos necessários. Um acordar preguiçoso numa cama de casal que nunca pertencera a mais ninguém senão a si mesmo, que a única lembrança emaranhada naqueles lençóis era de um garoto de 8 anos que o chutara a noite inteira.

A Sra Kwon que hora ou outra mostrava na tela do celular a foto do filho que agora parecia sustentar os cabelos morenos quando há menos de um mês estava de fios alaranjados. G-alguma-coisa era o nome artístico. Park Chanyeol com seu coração do tamanho do mundo que, muitas vezes, esquecia de olhar para si mesmo em prol das necessidades daqueles que amava.

E Kyungsoo jurava que nunca vira alguém tão devoto à família como aquele cara. Claro que tinha Kim Jongin, com seus sorrisos matinais, as roupas bem delineadas, a postura de advogado que tinha e como Jongdae driblava o pai com a maior facilidade do mundo. Eles eram uma família também, uma muito bonita, por sinal. Uma família que, às vezes, fazia Kyungsoo se perguntar também o que tinha para merecer tamanha curiosidade do pequeno Kim e ter ganho o direito de receber os breves flertes de Jongin.

E a amizade de todos eles.

Sentia-se um tremendo sortudo por ter encontrado aquela casa. E aquelas pessoas.

O problema, no entanto, começava com a não-surpresa da constatação: Siwon era seu calcanhar de Aquiles.

 

(...)

 

Havia muita bebida e comida, não que Sehun se importasse para a primeira parte. Mantinha uma longneck ao seu lado e o namorado entre suas pernas na borda da piscina. Kangdae estava muito feliz por ter consigo entrar numa boa universidade – o que só confirmava que o discurso sobre o gap year era reflexo do medo de não conseguir nada.

E era para Oh Sehun estar dividindo da mesma felicidade porque com a notícia que Luhan dera de antemão vieram as outras três naquelas semanas seguintes. Abriu cada carta junto dos pais e foi abraçado e ovacionado por eles. Sehun ganhara até mesmo uma mini festinha em casa com alguns amigos, o namorado e os vizinhos. Ganhou de presente de Kyungsoo-hyung um pendrive, alegando que aquele seria o seu melhor amigo dali para frente.

Sabia que era um mínimo presente, mas ficou tão feliz com o gesto que nem hesitou em abraçar o professor que, gentilmente, retribuiu o abraço com um breve tapa sobre as costas e disse que as portas ainda estavam abertas.

— Para qualquer coisa que precisar, Sehun-ah.

Jongin, por outro lado, lhe deu um pacote bem embrulhado às escondidas e disse para abrir longe dos pais – e mais tarde revelou conter um pacote cheio de camisinhas e um bilhete com a letra do advogado. “Não importa o que Kyungsoo diga, essas serão suas melhores amigas. Use-as, Sehun-ah!”.

Duas visões completamente diferentes sobre a faculdade; o que também revelava as prioridades de cada um na época.

Queria ter chamado Luhan naquela noite. Queria ter mandado aquela mensagem que digitou algumas boas vezes e que fora apagada logo em seguida. Colocar Jackson e Luhan no mesmo ambiente era pedir pela terceira guerra mundial e Sehun não queria carregar tal responsabilidade nas costas.

No entanto, o que era meio estranho – a  ponto de fazer o adolescente franzir o cenho toda vez em que o assunto era abordado ali na piscina – era o fato de Jackson gostar muito de enfatizar como Sehun tinha sido aceito em todas as universidades que queria. Era um orgulho muito exposto para quem não acreditava na instituição e se recusou a estender o assunto todas as vezes que Sehun tentara conversar sobre.

— Eu já volto.

Levantou da borda da piscina e tentou se enxugar antes de entrar na casa, mesmo com a mãe de Kangdae dizendo que não se importava com as poças de água dentro da casa. Foi até a cozinha para pegar água na geladeira, sentindo a força contra a porta ao tentar abri-la.

— Tá assim por quê, bebê?!

Sehun se virou para Jackson sem vontade nenhuma, deixando as costas sobre a porta da geladeira.

— Tô cansado, só isso.

Hm – deixou raspar contra os dentes, cruzando os braços na frente do peitoral nu. – Cansado do quê se você não faz nada?

Ah, é.

Jackson agora tinha um emprego dentro da oficina do tio e adotara uma postura mais adulta, por assim dizer, contando sobre as responsabilidades de cumprir horários, respeitar a hierarquia trabalhista e o quão diferente era um ambiente profissional do da escola.

Ele às vezes pedalava ao final de expediente até sua casa, tomava um banho demorado e transavam até os pais chegarem da caminhada. E depois ia embora. E a sua paciência no sexo estava diminuindo, reclamando que Sehun andava muito sensível.

— Já comi tantas vezes sua bunda, como é que tá desacostumado com o meu pau?!

As palavras de baixo calão tinham um efeito rápido em Sehun, que geralmente se ardia inteiro com as palavras sopradas com a voz cheia de tesão e pedia manhosinho para que Jackson o penetrasse de quatro. Mas, nas últimas vezes… bem.

Não era o que estava acontecendo.

E doía e ardia e ficava dolorido por um bom tempo.

— Só cansado, lindo – respondeu esboçando um sorriso. Inclinou-se um pouco e beijou os lábios do moreno de forma casta. – Pensar também cansa.

Entendi – Jackson envolveu a cintura do namorado, embalando-os num ritmo lentinho de para-lá-e-para-cá. – Ser um privilegiado e poder ter os pais te bancando em qualquer canto da Coreia é cansativo. Deve ser bem difícil pensar para qual dormitório você vai se mudar.

E ao ouvir tais palavras, Sehun empurrou Jackson com força.

— Qual o seu problema, Jackson?! – quase gritou, cuspindo as palavras meio incrédulo. – Até agora tava esfregando na cara de todo mundo as minhas aprovações e agora tá agindo feito idiota. Que merda que te deu, hein?!

— Merda nenhuma – devolveu o outro, se aproximando com um brilho diferente nos olhos. – Só o fato do meu namorado ter feito  excursãozinha de faculdade com o filho-da-puta de um chinês e ele nem ao menos teve coragem de me contar. Que foi, Sehun?! Achou mesmo que nesse cu de cidade você vai ficar dando passeiozinho com o Luhan e eu não vou ficar sabendo?

Algo dentro da garganta de Sehun tremulou. Uma raiva crescendo junto da descrença e, de repente, de um certo medo.

— Eu não – mas forçou a saliva garganta abaixo. – Por que você só não veio falar comigo?

— Porque eu achei que o meu namorado teria bolas o suficiente para me contar que descobriu antes de todo mundo que tinha passado na porra de uma universidade com uma ajudinha. Vocês estão ficando?

Quê?! – a risada escapou de seus lábios antes mesmo que pudesse prever. – Você tá me zoando, né?!

— Pareço tá de brincadeira, Sehun?! – Jackson empurrou o namorado contra a geladeira e, usando de certa força, prendeu-o ali, obrigando-os a se encararem. Sehun até conseguiu empurrá-lo de volta, mas Jackson se forçou ainda mais. – Se eu descobrir que você tá me traindo, eu te juro que eu não sei do que eu sou capaz. Você é – e respirou fundo perto do pescoço dele, mudando o tom de voz para um bem calmo, deslizando as pontas dos dedos pelo lindo pescoço exposto – meu bebê e só meu, Sehunnie.

— Você sabe que eu te amo, não sabe?!

— Mas ultimamente, com essa história da faculdade_

— É só uma fase, lindo – Sehun sentiu a boca do moreno em seu pescoço, massageando a região de forma lenta, esfregando a língua devagar em alternância com as pequenas sucções. – A gente vai – mas um gemido  ecoou entre os dois assim em que o quadril do namorado começou a friccionar-se sobre si.

— Você me ama mesmo?! – sussurrou dentro do ouvido de Sehun, deixando aquela sensação molhada após enfiar a língua num círculo.

— Muito – escapou.

— Faria qualquer coisa por mim?

— Sabe que sim.

— Vai parar de falar com o Luhan?!

 

(...)

 

Naquele fim de tarde e começo de noite, com o Sol se pondo em tons de turquesa, mesclando-se em cianos e verdes com pinceladas furtivas de lilás no meio, os moradores da rua dos Solares estavam sentindo emoções diferentes e nada confortáveis.

Baekhyun sentia o peito inflar a cada novo traço da história que o filho contava conforme desenhava, com várias folhas espalhadas pela mesa de jantar enquanto Chanyeol preparava o jantar, falando sobre Kyungsoo assim, Kyungsoo assado, a piscina, a promessa de irem juntos ao cinema. Sentia o gosto azedo se apossar de si conforme aquele nome se mesclava aos sorrisos do filho e misturava-se ao nome do marido.

Sehun observou Youngbae-hyung chegar e, junto dele, Luhan, cumprimentando os pais de Youngbae com uma intimidade declarada, sendo abraçado e beijado por ambos. Sentiu uma fagulha dentro das entranhas quando os dois se juntaram a todos eles, tirando as camisetas e mergulhando confiantes em cambalhotas e mortais na piscina.

Sehun esperou.

Um olhar.

Uma piscada.

Um sorriso.

Até uma desavença.

Mas Luhan não se aproximou.

Pela primeira vez, Junmyeon fora buscar Yixing. Não viu nenhum problema em desviar uns bons quilômetros do seu trabalho para ajudar o dançarino enquanto o seu carro estava na revisão. Fizera mentalmente as contas de quanto uma revisão de um carro de vinte  mil quilômetros rodados custaria no orçamento do chinês e se esforçou para que Yixing não tivesse que gastar com táxis e transporte público naquele período.

Encontrou-o na frente da escola com os braços cruzados de forma relaxada enquanto conversava com um rapaz mais alto que a si, mais bonito que a si, mais sorridente que a si e que flertava mais descaradamente que a si.

Yifan, do outro lado da cidade, naquele shoppping cheio de gente que parecia não ter mais nada para fazer em pleno verão, já perdera a contagem das horas ali dentro com a terceira loja de celular que Taozi o arrastara. Não conseguia encontrar o momento em que, após ser perturbado o dia inteiro sobre a maldita história do celular, deixou que o chinês maluco fizesse o que bem entendesse.

No entanto, foi no ato de puxar o cartão preto da carteira que um nome brilhou aos olhos do Wu: Whang Zitao.

Jongin e Taemin se beijaram escondidos pelos vidros escuros do Azera do advogado, trocando muita saliva, muito gemido um dentro da boca do outro enquanto as mãos corriam livremente pelos membros excitados dentro de suas calças. Claro que não fariam nada ali, não antes de jantar, mas o desejo sexual entre os dois era muito forte sempre que se encontravam.

E Kim Jongin precisava mostrar para um certo Park Chanyeol que suas atividades sexuais em nada foram interferidas por Do Kyungsoo, mesmo que se perdesse de vez em quando em fantasias quase castas de como seria beijar aquela boca carnuda.

Afastaram-se os dois já cientes de que estavam parados há muito tempo sem sair do carro. Ajeitou a camisa de botões e sentiu os dentes de Taemin puxarem seu inferior de forma muito, muito provocativa.

— Te prometi um jantar, Tae…

— Eu sei, mas só aceitei porque sei bem qual vai ser a sobremesa – e lambeu o queixo de Jongin, deixando uma mordidinha de leve. – De preferência naquele motel maravilhoso fora da cidade.

Entraram no restaurante e a reserva de Kai para duas pessoas os esperava. O que também os esperava era o casal três mesas para lá. A mão do nomeado Do Siwon brincava com os dedos bonitos de Do Kyungsoo enquanto o sorriso de coração aparecia de forma simples do outro lado da mesa.

E simples também foi o peso gradativo que surgia em seu estômago e parecia pressionar a caixa torácica, tornando muito difícil assimilar a respiração, o moreno à sua frente pedindo para se sentar e a sensação de ter sido muito ingênuo ao acreditar que aquele cara nunca mais apareceria.


Notas Finais


Tivemos grandes revelações nesse capítulo, hein?!

Acho incrível como os comentários de vocês parecem acessar diretamente minha mente, porque, mesmo eu sabendo como eu quero que alguns personagens evoluam, existem alguns pontos que não estavam muito claro para mim no começo, mas que conforme se escreve coisas acontecem e você percebe como tudo pode ser maior do que o previsto.
Digo isso por causa de Luhan e Sehun e Kris e Tao nesse capítulo em específico.

O que vocês acham que Sehun respondeu para Jackson?! E, o mais importante, que sinais vocês identificam no Jackson?!
Por que vocês acham que Yifan aceita Tao ao seu lado e agora vai ter uma conta de celular fixa ao final de todo mês?!

Chanbaek pincelou aqui, mas revelou um grande lado dos sentimentos de Baekhyun, que parece sempre estar nos extremos dos sentimentos. Se antes parecia não saber se queria continuar com o casamento e tal, agora parece não querer dividi a família com ninguém. Baekhyun está se enchendo de sentimentos muito ruins e associa tudo isso cm a imagem do Kyungsoo. Isso seria perigoso ou a inteligência emocional do Kyung será o suficiente para manejar o Byun?!

Queria deixar claro que toda cena descritiva e narrada é para mostrar como a vida deles se enlaçam e como o tempo tá passando e eles fazem parte um da vida do outro; mostrando o quão comum é ter Jongdae ao redor de Kyungsoo ou como ele e Jongin meio que criaram uma rotininha fofa entre eles. Amo isso. Essa coisa meio caseira de se enlaçar às pessoas.

E o ponto mais "aaaaaaaaaaaah" desse capítulo: Do Siwon apareceu, todo querendo envolver, todo pra cima do Soo, falando que ama e que quer ficar com ele... e vocês viram que o Siwon meio que anula todas as skills do Kyung, né?! Mas que mesmo assim, meio que como uma força resistente, os pensamentos dele às vezes são atingidos pelo ambiente seguro e sem cobrança que Jongin estabeleceu para os dois. E Soo bem sabe dos flertes fatais do Kai. HM >.<

Alguma teoria sobre o Tao?!
Será que Jongin vai conseguir manter os planos da noite com o Taemin depois de ter visto o Kyungsoo?!

Alguém descobriu quem é o filho da Sra Kwon?! hehehehe

Gente, eu agradeço muito todos os favoritos desse projeto que é muito desafiador para mim (eu nunca me atrevi a mexer numa coisa com muitos personagens e nem com várias coisas acontecendo ao mesmo tempo) e sou muitíssimo grata pelo tempo precioso que vocês tiram para ler isso daqui.

PS: Sou muito apaixonada pela capa dessa fic e agradeço a @Sabsyoda mentalmente sempre que me pego olhando no celular essa imagem.


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