Um grande carro preto parou na frente da mansão momobami, homens e mulheres encapuzados e com chapéus que cobriam-lhes o rosto saíram de dentro dele e entraram pelos portões da casa.
— Quanto tempo, prima! — Rin abriu um sorriso capaz de enganar qualquer um, mas Terano já sabia que o garoto era um farsante profissional. — É uma droga ter que usar isso tudo. — disse, tirando o chapéu e o capuz.
— Já que todos estão presentes, podemos começar. — Terano sinalizou para que se sentassem. — Como vocês todos já sabem, ontem Kirari foi coroada a rainha. Nós perdemos a guerra e-
— Nós não viajamos quilômetros para ouvir você nos dizer o que já sabemos — Miyo retrucou. Miyo Inbami era uma garota alta de longos cabelos negros com apenas um fio atravessando-lhe o rosto, a atual representante da família Inbami.
— Temos que destrona-la, alguém tem alguma sugestão? — Miroslava se manifestou
— Nós poderíamos envenená-la — a inbami sugeriu
— Sugestões que não envolvam veneno, por favor. — disse Miroslava
Terano cruzou as pernas, as pontas dos dedos enfeitaram seu queixo, conhecendo bem a família que tinha, ela já sabia o que viria a seguir.
— Isso é tão ridículo. — disse Yumeko, interrompendo a discussão.
— Como? — Terano não estava confusa, ela havia entendido perfeitamente o que Yumeko quis dizer, mas ao seu ver, aquele encontro estava entediante demais, eles precisavam de um entretenimento e aquela era a oportunidade perfeita.
Yumeko se levantou, seus longos cabelos negros balançaram ao fazer.
— Isso tudo é ridículo, Terano. Viajamos quilômetros de distância para nada! Eu realmente não entendo o por quê de vocês odiarem tanto a Kirari, na verdade eu a entendo. Kirari não aguentou a pressão que essa família coloca sobre nossos ombros desde crianças e decidiu fazer as coisas a maneira dela, e apenas por isso vocês a odeiam e querem vê-la morta ou coisa do tipo. — Ela apontou para cada um dos presentes — Eu me sinto cercada por idiotas sanguinários, que não se importam nem um pouco com as vidas perdidas em um campo de batalha.
— E você acha que Kirari se importa? — Rin perguntou, mas sem se alterar, mantendo sua aparência imaculada. — Tudo isso pra ela é um maldito jogo.
— Ótimo, por que eu adoro jogos. — Yumeko pegou sua bolsa e se retirou, batendo a porta sem um pingo de delicadeza.
Kirari estava deitada, as areias da praia pinicavam-lhe as costas, o barulho do mar transmitia paz e tranquilidade e as estrelas brilhavam no céu, ela se sentia incrivelmente segura naquele lugar.
— Achei que não fosse acordar nunca. — seu coração bateu forte, ela se levantou apressada e correu a encontro da dona da voz.
Olhou em volta, viu Ririka Momobami parada na beira do mar, seus pés banhados pela água salgada, cabelos brancos balançando ao vento, a pele alva era iluminada pelo brilho estelar, havia um sorriso sincero estampado em seu rosto, talvez o mais sincero que Kirari já tinha visto em sua irmã.
— Ririka! — Kirari aproximou-se da irmã e a abraçou, Ririka não entendeu aquele gesto, tampouco entendeu quando kirari beijou-a na testa, então suspirou e se afastou lentamente. — eu...
Ririka calou-a com a ponta do dedo.
— Não diga nada, Rari. — Ririka voltou a sorrir, então ficaram ali, abraçadas por algum tempo.
As estrelas, areia e mar começaram a desaparecer na noite, depois as árvores e até mesmo o chão, era como se tudo ao redor de Kirari fosse consumido por uma escuridão imensa. Ela segurou a mão de sua irmã em uma tentativa falha de impedi-la de ser sugada pela escuridão, mas em menos de segundos ririka parecia escorrer por suas mãos como água.
— Ririka! — kirari gritou antes de pular no grande abismo escuro a sua frente.
— Você ficou sozinha, você sabe que ficou. — uma voz grave dizia.
E então a escuridão desapareceu, Kirari estava em uma sala, ela via duas crianças, duas crianças que ela reconheceria em qualquer circunstância.
Cabelos presos em tranças no topo da cabeça e olhares vazios. Uma das crianças usava uma máscara, já a outra não.
Os olhos de Kirari se encheram de lágrimas ao assistir a aquela tão dolorosa lembrança, que ela havia tido todo o cuidado de esconder por tantos anos. Ririka sendo desprezada por todos os seus familiares enquanto ela era obrigada a seguir um padrão de perfeição praticamente inalcançável. Cobranças demais, pressão de mais, tudo de mais.
Seus olhos se abriram, já não existia mais céu estrelado nem versões crianças de Kirari e sua irmã, Ririka também não estava mais lá. Só havia restado Kirari, apenas Kirari e o vazio de seu quarto. Ela se levantou da cama, tirou as roupas, sentou no chão puxando os joelhos até o peito e desfez as tranças, essas que beijaram a superfície de suas costas pálidas.
Ela caminhou até a frente de um espelho e se encarou, não se reconhecia mais, tudo que conseguia ver era Ririka. Sempre foi assim, Ririka é Kirari e Kirari é Ririka, sempre foram apenas uma.
As mãos de Kirari se fecharam em punhos, ela socou o espelho com toda a força que possuía, os cacos foram ao chão, a dor era quase inexistente e de certa forma até prazerosa. Sangue escorreu por suas mãos e braços, ela enxugou as lágrimas e manchas vermelhas se formaram em seu rosto. Em questão de segundos sua pele alva estava quase toda rubra, semelhante a armadura de um guerreiro pós batalha.
Ela gritou na esperança falha de se libertar, mas tudo o que conseguiu foi sentir o medo se misturando com seu sangue enquanto corria por suas veia. Pavor e vazio tomaram conta de todo o seu corpo. Ela gritou até sua voz falhar.
A porta se abriu em um chute violento e Sayaka entrou, assustada com o que via a frente. Ela chamava por Kirari mas a mesma não estava em si, ela só via e ouvia a escuridão. Seu corpo tremeu com frustração, com pavor - ela não tinha certeza, só queria que a dor escaldante em seu peito parasse.
Sayaka puxou-a para perto de si e então a envolveu em um longo abraço, o que pareceu trazer Kirari de volta à realidade. O calor do corpo da general junto ao seu, seu toque em sua pele manchada e as sensações que aquilo lhe proporcionava pareciam celestiais. Por um minuto tudo se acalmou, não havia mais dor alguma, não ouvia vozes e nem sentia a escuridão à engolindo - pelo contrário, aquele havia se tornado o melhor momento de toda a sua vida.
Um rubor subiu pelo rosto de Sayaka quando se deu conta da situação em que se encontrava, ela afastou Kirari de si lentamente.
— Majestade, o que aconteceu? — perguntou
Kirari puxou-a novamente para perto dela, e então deitou em seu peito.
— Majestade...o que você... — Sayaka estava surpresa e até mesmo assustada com a atitude da rainha, mas de certa forma estar assim com Kirari era terapêutico. —...oque você esta...
Ela nunca terminou sua pergunta, sua linha de pensamento se desvairou permanentemente quando Kirari levantou sua cabeça e a olhou fixamente. Seus olhos violeta se encontraram com o grande e turbulento mar azul que eram os olhos de Kirari Momobami, por um segundo Sayaka sentiu uma vontade intensa de beijá-la.
— Sayaka, não vá. — A rainha praticamente implorou. — Por favor.
A general abraçou-a como se aquilo fosse a única coisa que importasse no momento, e de certa forma realmente era.
— Não se preocupe com nada, majestade. — ela se acomodou ao seu lado na cama — Eu estarei aqui o tempo todo.
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