(1ª vez em que Thomas volta do exército)
“— Ok, então onde você está?
— Já disse, o avião ainda nem pousou ainda, amor.
Newt rangeu de nervoso, colocou o celular entre a orelha e o ombro para poder abrir o pacote de M&M’s em sua mão.
— Isso é uma tortura. Parece que o tempo nunca passa.
Thomas riu do outro lado da linha.
— Eu sei, eu também sinto a sua falta e... Pronto, estamos pousando.
Newt quase tropeçou numa mulher que passava ao seu lado, de tão feliz que ficara com a notícia. Andou ainda mais rápido para a área de desembarque. Ele podia jurar que conseguia ouvir seu coração bater tão forte que parecia querer pular para fora de seu peito.
— Estou aqui na porta te esperando. B12, certo?
— Isso. — Thomas confirmou e Newt ouviu um barulho estranho, parecia que o moreno estava saindo para fora do avião. — Hey, babe, preciso desligar agora, tudo bem? Preciso pegar minhas coisas e assinar uns papéis que faltam. Nos vemos em uns cinco minutos, ok?
Newt não pôde conter o sorriso que nasceu em seus lábios. Estava tão ansioso para ver o namorado — depois de seis meses separados!
— Ok, estarei te esperando. Amo você.
— Te amo. — Thomas soprou no telefone antes de desligar.
Newt sentou-se em uma das cadeiras que ficavam ali perto da porta de desembarque. Notou que mais de uma dúzia de homens e mulheres estavam espalhados por ali, também a espera de seus amados que voltavam da guerra. Havia também, famílias, crianças... Isso só deixava o loiro ainda mais ansioso. Levantou-se. Andou em círculos. Sentou-se de novo. Acabou com o saquinho de M&M’s, levantou-se, andou, andou, sentou-se novamente.
Deus... Aqueles com certeza eram os cinco minutos mais longos de toda sua vida.
Ele estava de costas para a porta onde Thomas e os demais passariam. Estava divagando sobre os momentos com o namorado e a saudade que sentia do mesmo, encarando perdidamente o chão aos seus pés. Pela visão periférica, notou quando uma mulher levantou do nada da cadeira. Ela chorava, com um sorriso no rosto, e corria em direção a algo atrás de Newt. Virou-se.
A porta de desembarque havia sido aberta. Diversos homens e mulheres uniformizados com malas nas costas passavam por ela. Alguns eram abraçados no meio do caminho, seja por suas esposas, maridos ou família em geral.
Newt paralisou no lugar. Seu sangue pareceu se tornar puro gelo, esfriando cada célula de seu corpo e o incapacitando de se mover. Seus olhos analisavam cada rosto que passava pela porta, procurando os castanhos cor-de-mel que tanto amava.
Parecia que o universo estava combinando de fazer de tudo para que aquilo demorasse o máximo de tempo que desse. Thomas não estava em lugar nenhum.
Newt estava quase derretendo de desespero quando finalmente reconheceu os cabelos negros do namorado. Ele estava de costas para o loiro e agachado no chão. Ajudava uma garotinha que havia caído no chão. Uma mulher se aproximou, agradeceu Thomas e então se afastou com a criança. O moreno então se levantou e se virou na direção de Newt.
O mundo pareceu ficar mais lento. Tudo que não consistia de Thomas e Newt saiu de foco, não era importante no momento. Os olhares se encontraram como se uma força superior os puxasse na mesma direção. Newt sentiu como se um soco de saudade o atingisse no estômago. Todos aqueles meses separados pareceram se passar em câmera lenta por ele, relembrando-o de como eles foram horríveis. Thomas só conseguia sorrir, sentindo lágrimas mancharem sua visão. Sentia como se reencontra-se sua casa, seu ponto de paz, depois de ter passado meses no limbo.
Então o tempo voltou a se passar normalmente. Newt correu de encontro ao amado. Thomas derrubou a mala no chão, abriu os braços para receber o loiro — que o agarrou pelo pescoço um segundo mais tarde. Thomas circulou a cintura do mais magro com os braços, deu alguns passos para trás para segurar mais firme o namorado quando se desequilibrou por um momento.
— Tommy... — suspirou contra o pescoço do moreno, beijando a pele sensível daquela região.
— Hey, babe — Thomas deu um beijinho na orelha do loiro antes de distanciar seu rosto até que seus olhos estivessem vendo perfeitamente as íris castanhas de Newt.
Uau... Há quanto tempo em que sonhava em rever aqueles amáveis olhos? Thomas não sabia dizer, nem queria na verdade. Estava muito mais interessado em beijar cada centímetro do rosto de Newt.
Beijou as pálpebras, a testa, o nariz, as bochechas e o maxilar. Cada pedacinho daquela pele macia em que ele era incrivelmente apaixonado em tocar. Ouviu a perfeita melodia que era a risada de Newt e aquilo foi o bastante para Thomas esquecer que estavam em público e o beijar ali mesmo.
Newt segurou o rosto de Thomas delicadamente com uma das mãos e sorriu entre o beijo, tamanha era sua felicidade. Não ligava nem um pouco pelo fato de que havia crianças e adultos provavelmente os encarando naquele momento. Não estavam fazendo nada de errado. Afinal, havia algo de errado em expressar seu amor da forma mais bonita e pura que conhecia e existia?”
Thomas balançou a cabeça repetidas vezes para que a lembrança se esvaísse de sua cabeça. Abriu os olhos e sentiu mais lágrimas caírem por suas bochechas. Ele estava correndo pelos corredores do mórbido hospital, se distanciando o máximo que podia daquele pesadelo. Ouvia uma enfermeira o chamar, mas não deu a mínima. Continuou a correr e só parou quando chegou ao estacionamento, ao ar livre, daquele prédio.
Sentiu uma tontura e teve que se apoiar contra uma árvore que estava ali. Não deu outra. No segundo seguinte ele estava vomitando tudo o que estava em seu estômago. Estava enjoado do baque de emoções que pareciam ter lhe dado uma excelente surra. Nada podia tirar aquele enjoo crônico que parecia ter se instalado entre seus órgãos. Newt estava morto. O amor de sua vida estava morto.
Outra onda de tontura o arrebatou e ele caiu para trás, suas costas batendo no concreto de que era feita a calçada. Olhou para o céu nublado de Seattle e fechou os olhos.
Péssima ideia. A imagem do corpo do namorado pulando sem vida sobre a maca o assombrou e ele teve que abrir os olhos para espantar aquela memória desgostosa de si.
Respirou fundo umas sete vezes, o ar parecia ser feito de areia e seus pulmões não conseguiam processar a substância. Houve momentos daqueles minutos terrivelmente dolorosos em que Thomas achou que estava verdadeiramente morrendo, tamanha deveria ser o vazio e a negritude que preenchia cada vez mais intensamente seu coração e todo o resto que o constituía.
E ele desejou, de todo o seu coração, que fosse verdade. Que ele realmente estivesse morrendo. Assim, pelo menos, a dor passaria. Sabia que nem mesmo por milagre, nem mesmo que quisesse, conseguiria lidar e conviver com aquela camada de dor excruciante que parecia lhe cobrir de agora em diante. E ele não queria, não queria nem um pouco.
Thomas tentou puxar o ar mais uma vez e tossiu diversas vezes em seguida, sentindo sua garganta queimar. Cobriu os olhos com as mãos fechadas em punhos, chorando copiosamente como uma verdadeira criança.
— Eu não quero isso. Por favor, por favor só traz ele de volta. — pediu para Deus, engasgando e soluçando com o choro.
Sentou-se no chão na tentativa de parar de tossir e voltar a respirar. Pareceu fazer efeito, então Thomas apenas agarrou suas pernas e repousou sua cabeça em seus joelhos, voltando a chorar ainda mais. Ele só queria Newt de volta.
(Quando eles se conhecem)
“Thomas subiu o zíper do seu casaco até a gola e então passou pela porta de saída do hospital, sentindo o vento da tempestade que caía ali o atingir de forma desagradável. Como sempre, a chuva decidia cair toda vez em que o moreno precisava se movimentar para algum lugar. Estava tão acostumado com sua má sorte que já veio preparado e sorriu vitorioso para a abundância de água que caía quando abriu o guarda-chuva preto sobre sua cabeça — ainda em pé sob o toldo da porta do prédio.
Estava cansado, tremendamente cansado. Pudera, esteve preso em uma cirurgia complicada por mais de oito horas e somente agora poderia ir para a casa. Thomas podia sentir literalmente suas pernas implorarem para um descanso merecido de algumas horas, mas ele sabia que ainda havia uma caminhada de quase um quilômetro até o metrô mais próximo então apenas suspirou e começou a andar para fora do hospital. Entretanto, antes que pudesse sair debaixo do toldo metálico — que fazia um tremendo barulho a cada gota que tocava em sua superfície — algo prendeu-lhe a atenção.
O rapaz loiro, que ele tanto trocou olhares na última cirurgia em que ambos estavam auxiliando, agora estava ali parado. Seu corpo magro e esguio estava apoiado sobre a barra de ferro que sustentava o toldo. O moreno sentiu um arrepio gelado tomar seu estômago quando seus olhos fitaram novamente aquelas íris brilhantes. Thomas sabia que aquele era o cara mais bonito em que já tivera a oportunidade de pôr os olhos e isso o deixou nervoso — o que era estranho, pois Thomas nunca ficava nervoso nesse tipo de situação.
Ok, Thomas. É só um cara bonito, nada demais. Seu colega de trabalho. Nada mais educado do que cumprimentar o rapaz que passou oito horas com você dentro de uma sala de cirurgia, certo? É, certo.
Thomas sorriu levemente para o loiro ao se aproximar e notou, felizmente, quando o mesmo corou levemente. Não sabia se pelo frio ou por sua presença, mas não se importou. Achou a cor das bochechas ainda mais atrativas daquela forma, tanto que pensou em como seria a sensação de poder beijá-las. Desviou os pensamentos, achando-os um pouco desrespeitosos para o momento — ele ainda nem falara com o rapaz!
— Esperando a chuva passar? — perguntou quando finalmente ficou perto o suficiente do rapaz.
Newt se desencostou do pilar e pôs casualmente as mãos nos bolsos da calça.
— Sim, — deu de ombros enquanto fitava timidamente os próprios pés. — a chuva tá muito forte pra sair correndo até o metrô.
Thomas sorriu abertamente. Aquilo não poderia ser melhor.
— Ei, eu estou indo pra lá também, — pontuou animadamente, fazendo com que o loiro o fitasse curioso nos olhos — o que acha de irmos juntos? — Thomas balançou o guarda-chuva que estava em sua mão para que Newt o notasse.
O mais magro sorriu, lisonjeado com o convite do quase desconhecido. Estava claro para ele a atração que sentiu pelo moreno quando o viu entrar na sala de cirurgia horas antes e era ainda mais claro que não desperdiçaria chance de passar ainda mais algum tempo próximo a ele. Queria conhecer o dono das íris cor-de-mel quase tanto quanto queria ir dormir em casa na sua cama. Não pensou duas vezes em dar um passo para perto de Thomas.
— Eu iria adorar. — sorriu acanhadamente para o moreno, que não pôde deixar de notar mais uma vez o rubor adorável nas bochechas e nariz do mais baixo.
Thomas sorriu e estendeu o braço para que Newt o agarrasse e assim pudessem ambos ficarem sob o guarda-chuva longe da mesma. Newt o fez com entusiasmo e então os dois desataram a andar sob a tempestade.
Ao atravessarem a rua, Thomas notou algo e riu com aquilo.
— O que foi? — Newt indagou, erguendo a cabeça para olhar no rosto do moreno.
— Não havia me apresentado. Sou Thomas, aliás.
— Muito prazer, Tommy. E eu me chamo Newt. — sorriu.
O moreno, por algum motivo ainda desconhecido, adorou a forma com que Newt o chamara. E então continuaram o trajeto até o metrô. Prazerosamente, conversaram o caminho inteiro. Qualquer que fosse o assunto que algum deles trazia, era estendido sem pressa e sem ser forçado. Era apenas natural a forma com que interagiam e ambos não poderiam estar mais cativados com aquela comunicação espontânea.
Ao chegarem ao subsolo da estação, não tiveram muito tempo para estenderem a conversa sobre os discos que haviam vistos em uma loja há alguns metros. O metrô de Newt acabava de chegar. Então o loiro se virou na direção de Thomas e sorriu para o moreno — e dessa vez era um sorriso completo e não mais tímido. Thomas sorriu também.
— Obrigado pelo guarda-chuva, Tommy. — agradeceu em tom suave para depois apoiar sua mão no ombro de Thomas. — Até amanhã. — beijou-lhe no rosto, em uma de suas bochechas.
Antes que Thomas pudesse processar o que havia acontecido, Newt já passava pela porta do metrô, deixando o rapaz plantado ali em pé.
— Até. — murmurou e sorriu, tocando levemente a região em que os lábios frios do loiro haviam lhe tocado.”
Thomas havia parado de chorar. Agora apenas fitava o vazio, murmurando palavras sem sentido e sentindo sua cabeça pulsar de dor. Ele não estava pensando em nada, somente encarava o nada e deixava com que as memórias que tinha de Newt preenchessem os cantos de seu cérebro, como uma espécie de tortura.
A dor não havia passado. Pelo contrário, apenas se intensificou. O que ele iria fazer agora? O que deveria fazer? Thomas não tinha a menor ideia. Tudo o que ele desejava era acordar daquele pesadelo lancinante.
Então uma onda de realidade o arrebatou. Passou a pensar com mais clareza e divagar mais detalhadamente sobre os últimos fatos.
Newt havia sido baleado. Por quem? O filho da puta havia sido preso, ou estava no hospital, fugira? Quais eram as outras vítimas? Quem havia por último ouvido a voz do namorado? O namorado... Newt tinha família, então em qual momento seria apropriado para Thomas ligar para a Sra. River e avisar que seu filho havia sido morto apenas porque o namorado dele era um imbecil? Porque, claro, nada disso teria acontecido se Thomas e Newt não tivessem brigado.
Eram tantas perguntas e tantas coisas que Thomas tinha para analisar e resolver que tudo apenas o deixou mais enjoado. Sentiu a ânsia o tomar mais uma vez e virou sua cabeça para o lado em direção ao chão. Não havia mais nada para colocar para fora e tudo o que Thomas sentiu fora o gosto amargo da bile em sua garganta. Tossiu aquilo para fora e voltou a esconder o rosto entre as pernas.
Se Newt estivesse ali, provavelmente diria que o namorado estava sendo um mimado. Depois, o beijaria e só então o mandaria ir resolver seus problemas como um homem. Mas Newt não estava mais ali, e aquele pensamento só fez Thomas se sentir ainda pior.
Passou-se horas e ele não saiu do lugar. Ficou preso naquele torpor. Cada coisa que lembrava sobre os dois juntos o machucava de uma maneira diferente.
Quando seus olhos arderam, ameaçando que uma nova onda de choro viria, Thomas ouvira passos se aproximando de onde ele estava. De canto de olho viu quando a mesma enfermeira que o acompanhara mais cedo agora se agachava ao seu lado.
— Finalmente o achei! O senhor está bem?
Thomas não respondeu. Estava além de responder uma pergunta tão cretina como aquela. Como se ele pudesse, de alguma forma milagrosa, estar ao menos próximo da palavra “bem”. Por fim, o dono das íris castanhas apenas fitou o cabelo ruivo preso em um coque da mulher, completamente absorto do que ela parecia lhe dizer.
Voltou a pensar sobre Newt, sentindo que precisava reviver aqueles momentos como uma forma de punição pela burrice que ele havia cometido. A enfermeira apenas ficou do seu lado o observando e falando. Thomas não deu a mínima ao que ela dizia.
(1º briga do casal)
“ — Você é um grande idiota, Thomas! — o loiro o acusou antes de bater a porta do quarto na sua cara.
Coberto pela raiva da discussão, Thomas socou a porta de madeira. Os ossos latejaram e ele se arrependeu. Ser médico e ter mãos machucadas não era uma boa combinação.
Newt não emitiu nenhum som do outro lado da porta. Thomas preferiu deixá-lo sozinho. Não queria estrangular o próprio namorado.
Mas, por Deus, o moreno estava mesmo exagerando? Estava tão errado assim por sentir ciúme de alguém que gosta? Imaginava que não. Thomas estava com a razão daquela vez e Newt era quem deveria pedir desculpas.
Decidido, se afastou da porta do quarto e se locomoveu até a cozinha. Tomou um copo d’água e devorou um pacote de salgadinhos enquanto tentava se acalmar. Sentou-se sobre a bancada e repensou nos acontecimentos recentes.
Os dois no restaurante, o “antigo amigo” de Newt aparecendo, os dois relembrando os tempos de faculdade, aquele infeliz abraço e o maldito sorriso na boca deles. Depois, a briga que Thomas e Newt tiveram to táxi de volta para casa. Thomas ressentido e Newt achando aquilo tudo uma palhaçada.
E agora Thomas estava ali, sozinho. E Newt lá, também sozinho. De repente, para Thomas, aqueles dois fatos não pareciam certos de forma alguma.
Poxa, estavam planejando aquele jantar a dias. Ambos sempre muito ocupados no trabalho e quando finalmente conseguem um tempo para ser um casal comum, tudo acaba daquela forma. Cada um puto em um canto.
Thomas sabia que não havia acontecido nada demais. Ele tinha um gênio muito forte enquanto Newt já era mais calmo e ingênuo — o que não contribuía em nada para Thomas se controlar sobre aquela situação toda.
Ok, talvez ele tivesse exagerado um pouco. Talvez aquela cena toda fosse realmente ridícula, como Newt berrara mais cedo na porta de casa.
Nunca haviam brigado sério antes e Thomas não gostou nem um pouco daquela nova experiência. Estavam juntos há quatro meses e Thomas havia adorado cada momento. De longe era seu relacionamento mais intenso e longo que já tivera. Era muito cedo para dizer e pensar sobre o assunto, mas Newt era o primeiro cara com quem Thomas já se pegara pensando que teriam algum futuro juntos.
Pensando em tudo isso, o moreno engoliu todo o seu orgulho e teimosia, jogou o saco de salgadinhos no lixo e andou decididamente até a porta do seu quarto.
No momento em que ergueu o braço para tocar a maçaneta, a porta se abriu com tudo — o que acabou assustando ambos os rapazes de cada lado do batente.
Thomas travou no lugar pelo sobressalto enquanto Newt parecia fazer a mesma coisa em sua frente, olhando-o com os pequenos olhos arregalados.
Ok era agora. Precisava se desculpar. Abriu a boca ao passo que Newt copiava seus movimentos.
— Desculpa. — disseram em uníssono.
Olharam-se nos olhos, sérios por um momento. Em seguida sorriram ao mesmo tempo. Newt então se aproximou e colocou seus braços ao redor do pescoço de Thomas, que não demorou nem um pouco em circundá-lo com os próprios braços.
— Você foi um idiota. — Newt começou a falar, acariciando a nuca de Thomas e o olhando afetuosamente — E eu também não disse coisas muito bonitas, o que faz de mim outro idiota. Então o que acha de desculparmos um ao outro?
Thomas sorriu e assentiu, adorando o que ouvia. Aproximou-se do rosto do namorado e puxou seu lábio inferior com os dentes antes de deixar um selinho no mesmo lugar.
— Eu acho que essa é a melhor ideia que ouvi o dia todo.
— Ótimo — riu o mais baixo antes de juntar seus lábios, dando início ao quanto eles aproveitariam o resto daquela noite juntos.
Enquanto tropeçavam em seus próprios pés até voltarem para o quarto, ainda no meio do beijo, Thomas não conseguia deixar de pensar o quanto era agradecido aos céus por seu caminho ter se cruzado com o caminho da pessoa maravilhosa que era Newt. O loiro era, de todas as formas que Thomas poderia imaginar, a pessoa mais extraordinária que conhecia. E que começava a amar”.
— Deus... — murmurou nauseado e dolente pelo o que lembrava. Era incrível o quanto memórias antes tão gostosas de lembrar agora desciam pela sua garganta como ferro quente.
Viu ao seu lado que a enfermeira continuava a monologar e estava quase a mandando ir para a casa do caralho, se mandar e deixá-lo se afogar em seu choro quando algo em seu cérebro pareceu discernir o que ela dizia.
— ... E então a cirurgia para a remoção da bala no joelho já foi concluída. Agora estão focados n-
— Espera, o que? Pode repetir? — levantou a cabeça na direção da ruiva ao passo que sentia uma chama de esperança se acender dentro de si.
A mulher então parou com o que dizia, um pouco afetada por ser interrompida e perceber que tudo o que dissera até agora fora ignorado pelo homem. Respirou fundo, com paciência e simpatia, e recomeçou o que falava.
— O Dr. Harvey me enviou aqui para te informar dos acontecimentos que procederam logo após a sua... Saída. Tentamos carregar com 300 o desfibrilador, mas nada aconteceu. Até que injetamos mais 2mg de adrenalina, junto de mais uma carga de 300 do desfibrilador, e o organismo voltou a reagir. Levaram ele rapidamente para a sala de cirurgia para começar a remover as balas e reparar os danos.
Se houvesse uma imagem explicativa sobre como estava a cabeça de Thomas naquele momento, a mais realística seria a de um míssil explodindo e tudo ao redor começasse a pegar fogo instantaneamente.
Demorou vários segundos para que o moreno saísse de seu torpor e paralisação temporária e processasse tudo em um tempo recorde.
— Ele está vivo? Newt... Ele está vivo?! — perguntou desesperado, precisando urgentemente de uma confirmação. Qualquer confirmação de que Newt estivesse vivo já faria de Thomas alguém inteiro novamente. Só uma confirmação... E Thomas talvez pudesse respirar qualquer coisa que não fosse angústia.
A ruiva sorriu.
— Sim, ele está. Ao q-
Thomas então se levantou em um rompante, interrompendo a enfermeira novamente. O moreno não esperou nem um segundo para começar a correr em direção ao hospital novamente, a ruiva em seu encalço.
— Ao que sei, — continuou ela, falando mais alto para que pudesse ser ouvida. Dessa vez, Thomas ouviu. — ele já passou pela cirurgia. Está na UTI. Querem ver como será as próximas vinte e quatro horas.
Thomas assentiu, processando as novas informações que a enfermeira soltava conforme passava correndo pela recepção. Então percebeu que não sabia onde Newt se encontrava. Parou de correr, a eruiva teve que se segurar para não esbarrar no mais alto.
— Onde ele está? — questionou no mesmo tom desesperado de antes.
— Terceiro andar. — respondeu, correndo então em sua frente para mostrar o caminho.
O moreno, enquanto corria, não conseguia pensar em muita coisa. Há dois minutos, ele chorava e lamentava a morte recente do namorado. Agora corria até o rapaz — que estava vivo! Vivo!
Tudo o que ele queria era chegar pertinho do cara que tanto amava e confirmar para o seu coração de que os últimos momentos nunca existiram. Que ele nunca mais teria que passar a pensar em um mundo sem Newton River.
(A última viagem que Thomas fez antes do acidente de Newt)
“Thomas agradeceu ao motorista e fechou a porta do táxi. Colocou a mala estampada com as cores do exército sobre os ombros e seguiu seu caminho para dentro do aeroporto.
Enquanto andava, já vestido com seu uniforme, mal se importava com as coisas ao seu redor. Estava em um péssimo humor ultimamente. Fazia mais três dias que Newt não lhe atendia as ligações ou passava em sua casa. Thomas estava começando a achar que Newt iria querer mais se despedir dele — afinal em poucos minutos ele embarcaria para a Síria, onde ficaria por três meses.
Depois de despachar sua mala, se dirigiu até o seu portão de embarque onde faria o check-in. Tentou ligar mais uma vez para o namorado, mas novamente deu caixa-postal. Suspirou, tornando-se cem vezes mais desanimado do que antes.
Thomas não entendia. Tiveram ótimos dois meses juntos antes de o moreno decidir se alistar pela terceira vez. E Newt até mesmo não se importou com sua decisão precipitada, afinal ficara apenas dois meses na cidade.
Lembrava-se perfeitamente do dia em que contara ao louro que viajaria dali três semanas para o outro continente. Newt havia lhe olhado intensamente por incontáveis segundos antes de assentir, digerindo a notícia, sorrir e lhe abraçar.
Depois disso, Thomas achou que estava tudo bem. Até que o dia de sua partida foi se aproximando ao mesmo tempo em que Newt se distanciava, chegando ao ponto de nem se comunicar mais com Thomas.
O moreno, por mais que tentasse, não conseguia encontrar algum motivo que justificasse o namorado.
E a cada minuto que passava e o aproximava do momento de pegar o voo, ele ficava cada vez mais apreensivo da hipótese de não poder se despedir do loiro se concretizar.
Encostou seu corpo contra uma pilastra que se posicionava próxima ao portão de embarque e tentou ligar outra vez, observando algumas pessoas uniformizadas passar pelo portão.
Caixa-postal.
Porra, que caralhos Newt estava fazendo de tão importante para que não pudesse ter tempo nem de despedir do próprio namorado?
Expirou pesado mais uma vez. Estava considerando se começava a chorar ou a ficar puto da vida com aquele idiota.
— Meu Deus... Você fica tão gostoso nesse uniforme. — a voz tão familiar sussurrou no pé do seu ouvido, o arrepiando por inteiro e fazendo seu coração bater descompassado.
Virou-se e sorriu aliviado ao reconhecer o rosto de Newt. De repente, se sentiu mil vezes mais leve.
— Você veio! — exclamou alegre e abraçou o mais baixo com tudo o que tinha.
— É claro que eu vim. — o loiro respondeu com a voz abafada contra o seu peito. — porque eu não viria?
Thomas não respondeu de primeira. Estava muito ocupado beijando cada centímetro daquele rosto que tanto amava tocar. Newt ria da afobação do mais novo.
— Não sei, — retorquiu depois de um tempo, sarcástico. — talvez porque você sumiu por três dias!
Newt suspirou e encostou a cabeça sobre a pilastra de concreto frio. Thomas fez o mesmo ao seu lado. Seus narizes se roçavam graças à curta distância.
— Me desculpe por isso. — segurou a mão de Thomas. — acho que surtei um pouquinho. A data de você ir embora de novo foi se aproximando e eu fui me desesperando junto. — pausou por um momento, reorganizando suas ideias. — é que toda vez que você vai, Tommy, — acariciou o rosto do moreno com a mão livre. — eu morro de medo de não te ver de novo.
Thomas sentiu-se se despedaçar inteiro ao ver a carinha triste que seu namorado tinha.
Entrelaçou seus dedos com os dele e sorriu quebrado antes de beijar os lábios do loiro.
— Mas eu sempre volto, não é? — disse, tentando acalmar tanto os pensamentos ansiosos de Newt quanto os seus próprios. — você sempre foi meu maior motivo para voltar, babe. — beijou-o novamente.
Newt pareceu querer dizer alguma coisa, mas desistiu no último segundo. Queria dizer a Thomas que ficasse ali, seguro com ele em Seattle, mas sabia que não tinha o direito para pedir tal coisa. A decisão teria que vir de Thomas e Newt enxergava que não era aquilo que o moreno queria. Então, invés disso, o olhou sério e disse a única coisa que poderia dizer naquele momento sem magoar Thomas.
— Eu te amo, Tommy.
Thomas sorriu, olhando-o do mesmo jeito apaixonado. E então um pensamento louco passou pela cabeça de Newt. Era cedo e precipitado, mas as palavras pularam de sua boca antes que se desse conta.
— Posso te dar mais um motivo para voltar então? — questionou.
Thomas assentiu, mesmo sem entender muito.
— Casa comigo.
Thomas sentiu seu estômago gelar de emoção. Ele tinha ouvido direito?
— O quê?
Sua voz saiu baixa comparada com a dos alto-falantes ao redor, anunciando que o voo de Thomas estava para decolar.
Sabendo que não tinham muito tempo, Newt colou suas testas. Quase ao mesmo tempo, fecharam os olhos.
— Quando você voltar, — soprou quente contra a pele de Thomas. — casa comigo?
O moreno não pensou muito em seguida. Balançou freneticamente a cabeça em um ‘sim’ mudo, sorrindo.
— Sim, babe, sim. — tomou os lábios do loiro em mais um beijo, dessa vez mais afoito devido a falta de tempo.
Riram juntos, mergulhados naquela recente felicidade e nova promessa de um futuro. Por um momento se esqueceram de que logo estariam separados mais uma vez. A voz no alto-falante se repetiu, relembrando-os do que viria.
Olharam-se em cumplicidade. Era a hora de se despedir. Abraçaram-se então o mais apertado que suas vontades os permitiam.
— Me mande notícias. Toda semana. — pediu Newt com voz baixa perto do seu ouvido.
— Vou mandar. Toda semana.
A moça que cuidava do check-in na porta do embarque chamou por Thomas. O avião iria decolar.
Thomas beijou os cabelos de Newt, ainda no abraço.
— Eu amo você. Vamos nos ver logo, noivo.
Desfizeram-se do abraço. Em meio a lágrimas, Newt riu com o pronome usado.
— Até logo. — Thomas o ouviu dizer antes que o portão se fechasse atrás de si.
Era idiota, mas junto com Thomas, Newt viu metade do seu coração partindo junto com o rapaz. Mal sabia o loiro que Thomas sentiu a mesma coisa enquanto voava para longe de Newt.”
A lembrança se foi para algum canto da cabeça de Thomas quando o mesmo parou de frente para a porta de um quarto da UTI, onde Newt estava isolado. Podia ouvir as máquinas trabalhando do lado de dentro e ele paralisou no lugar, a poucos centímetros da porta. Já estava vestido apropriadamente para entrar. O avental, touca e máscara que tantas vezes ele já usou agora pareciam sufocantes.
— Ele está acordado?
— Não. — respondeu a enfermeira atrás de si. — é possível que ele talvez acorde em uns dois, três dias.
Thomas odiou a forma com que a mulher usava palavras incertas e imprecisas com que ele. Possível... Talvez... Apenas sustentando aquele grande “se” naquela situação. “Se” Newt acordar, “se” ele sobreviver, “se” ele ficar bem.
— Ok. — respirou fundo. — vou entrar.
Tocou na porta e a arrastou para o lado, entrando. O ar estava frio, bem como Thomas se sentia por dentro.
Ele sabia que em algum lugar do seu cérebro ele podia identificar as diversas máquinas fazendo barulhos diferentes, mas tudo o que importava para Thomas era ouvir aquela respiração calma. Aquele bater de coração ritmado.
Ele também poderia, se quisesse, ver a tela mostrando a condição do rapaz, o modo como a cortina se movia minimamente, o peso que as recém-compradas alianças faziam em seu bolso ou qualquer outra coisa que, em situações comuns, ele notaria. Porém o que lhe importava ali era o modo despreocupado com que o peito de Newt subia conforme seus pulmões se enchiam de ar e depois esvaziava. Era o modo com que as pálpebras se moviam em espasmos naturais.
Thomas era capaz de notar as cores sóbrias que tinha em cada canto do quarto, mas ele só ligava para o tom róseo que tinham as bochechas do namorado. A cor dourada do seu cabelo, o avermelhado dos seus lábios.
Era só isso o que importava para Thomas. Todas aquelas evidências que comprovavam o que Thomas mais chorou nas últimas horas para ver mais uma vez.
Que, no final, Newt estava vivo.
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