Kim Seokjin, o rosto mais bonito e influente do mundo da culinária estava completamente assustado. Dono de um dos canais de culinária maiores e mais bem pagos do Youtube, o rapaz de vinte e cinco anos acabava de sair da delegacia, tinha reconhecido os homens que tentaram sequestrá-lo na saída do cinema na noite anterior. Abraçado por seu diretor de áudio e vídeo, amigo de longa data, Min Yoongi, ele andava pela calçada em direção ao carro do Min.
— I-isso foi... assustador. – disse o chefe de cozinha. – Yoongi... eu podia ter morrido!
— Não diga isso, hyung, nunca mais diga isso. – o diretor parou na calçada e abraçou o mais alto mais uma vez, afagando suas costas. – Eu disse que você precisa de alguém que ande contigo o tempo todo!
— Eu não quero, Min. – ele disse de forma sofrida. – Eu vou me sentir péssimo com alguém me seguindo.
Eles entraram no carro, mas Yoongi não deu a partida, apenas trancou as portas e se virou para o amigo, suspirando pesado. Eram amigos do colegial, Jin era um ano mais velho do que ele, mas estudavam na mesma sala desde que o Min chegou transferido de Daegu. Jin sempre gostou de fazer vídeos e gravar suas reações comendo algo novo ou exótico – que Yoongi chamava de estranho – e, por ser extremamente lindo e carismático, o canal acabou crescendo muito e agora ele tinha sua própria equipe que fazia do seu canal uma superprodução em cada vídeo. Claro, ele tinha muito dinheiro, não pela plataforma, e sim pelas parcerias que fechava e pela forma que divulgava nas redes sociais, sendo um digital influencer muito respeitado.
— Jinie, a gente precisa conversar de novo sobre ter um híbrido.
— Eu também não vou comprar uma pessoa!
— Para com isso! – ralhou o Min, passando a mão pelos cabelos loiros. – Você precisa, ele vai te proteger e cuidar de você enquanto estiver sozinho.
— Vi mesmo a forma que Jimin defende você. – brincou o youtuber, roendo uma unha.
— Jimin é um ômega, ele não protege, ele é protegido e eu quero que ele seja assim, para que eu o proteja.
— Os namoradinhos mais fofos.
— Tire esse diminutivo, faz com que meu relacionamento não pareça real. – disse o rapaz, fechando a cara logo depois. Ele se virou e colocou o cinto, ligou o carro e esperou os outros automóveis passarem para seguir seu caminho.
Jin notou o exato momento que tinha feito merda, ao colocar diminutivo sobre o relacionamento dele. Yoongi sempre foi muito sozinho e tinha se apaixonado perdidamente pelo híbrido quando o viu no shopping, enquanto gravavam uma live de degustação. Foi a primeira vez que Jin mostrou sua equipe, já que Yoongi simplesmente o deixou sozinho com o suporte no celular e foi até a loja. Conversou com o garoto e aconteceu aquele click: foi amor à primeira vista e desde então, eles namoram. Ou são casados, visto que moram na mesma casa. O youtuber bufou arrependido, colocou as mãos no rosto e suspirou.
— Desculpa, Yoonie. Desculpa eu... estou assustado, sofri um trauma, porra, me ajuda!
— Estou ajudando, vamos no shopping comprar um híbrido que seja alfa e que cuide de você.
— E se eu não gostar de nenhum?
— Tem quinze lojas especializadas na cidade, eu tenho tempo e o tanque cheio, vamos visitar todas, se for preciso.
— Yoongi...
— Você quer morrer? Que se foda, Seokjin, eu não quero que morra. – bradou o amigo. – Você é o meu melhor amigo, trabalhamos juntos, eu te considero um irmão, e você quer continuar andando por aí sozinho depois de ser sequestrado? Nem fodendo! Se detesta sua vida, problema seu, eu vou cuidar dela, você querendo ou não.
Jin sabia que essa era a maior demonstração de amor que Yoongi poderia ter consigo e queria ter gravado aquelas palavras para poder ouvir nos dias que não estivesse tão bem; saber que havia alguém que se preocupava com a sua vida acima dele mesmo era reconfortante, tanto que Jin sorriu de forma amável para o rapaz que sempre teve dificuldade de dizer o que sentia, mas não o que pensava. Jimin realmente tinha feito um bom trabalho com ele, o deixando mais amoroso e gentil, mesmo que tenha dito tudo aquilo aos berros no carro.
— Pode dizer de novo pra eu gravar?
— Vai se foder. – ele disse logo depois e bufou, mas Jin viu que ele estava segurando um sorriso, o que o deixou mais calmo, ele não estava realmente irritado consigo.
Chegaram na primeira loja, no primeiro andar do shopping e vasculharam todas as alas à procura de algo que Jin gostasse e que não fosse fofo, afinal, ele precisava de um alfa que o protegesse. Não encontraram nada no local, então foram para a segunda loja no terceiro andar, porém, ela não trabalhava com alfas.
— Isso vai ser difícil. – reclamou Jin enquanto almoçava um x-bacon duplo.
— Temos tempo, tanque cheio e um almoço, eu posso andar o dia todo agora.
A parte boa de ser amigo de Yoongi é que ele topava qualquer coisa. Jimin estava ajudando a equipe de edição com o último vídeo gravado por eles, então estava seguro na casa de Jin, onde também ficava o estúdio, no porão reformado da pequena mansão que os pais do youtuber lhe deram de presente. Enquanto seu namorado estivesse seguro, ele podia ir para qualquer lugar do mundo com Jin.
— Ok, então, onde a gente vai agora? – perguntou o Seok.
— Vamos para o centro, deve ter mais lojas por lá. Joga no GPS e vamos torcer para ter sorte.
Mas a sorte não estava realmente ao lado deles; passaram por mais cinco lojas até chegar em uma que tinha alguns alfas para vender, eles eram poucos, visto que a raça era complicada de manter perto de outros híbridos, tanto da mesma quanto dos ômegas.
— Boa tarde. – sorriu Yoongi para o vendedor. – Vocês têm alfas?
— Sim, alguns poucos. Têm preferência de raça híbrida?
— Bom... – pensou Yoongi. – Eu realmente não sei.
— Temos três cachorros, um lobo e...
Jin ficou esperando o rapaz terminar de dizer, mas ele não parecia realmente querer dizer sobre a outra raça; era tão ruim assim? Jin sequer gostava de cachorros, preferia gatos e tinha dois em casa, não tinha certeza se isso iria dar certo.
— E...? – incentivou Jin.
— É um híbrido de cobra. – disse o rapaz de cabelos escuros. – Ele é um tanto instável.
— Instável?
— Muito quieto, sabe? E, do nada, algo quebra em sua jaula.
“Talvez porque ele esteja em uma jaula!”, pensou Jin, mas resolveu não questionar. Yoongi logo pediu para ver o tal híbrido de cobra, então foram levados para uma ala mais afastada e quieta, onde sequer se aproximaram muito e, lá no fundo, sentado em uma cama simples, estava o homem mais lindo que Jin já tinha visto na vida; o rapaz de cabelos claros estava lendo um livro grosso, ele parecia irreal nas roupas brancas, algumas partes de seu corpo pareciam cobertas por pequenas pintinhas que lembravam vagamente escamas finas. Claro que Jin estava encantado e seu amigo notou isso, mas para não quebrar o clima e fazer o mais velho se irritar, Yoongi não disse nada.
— E-eu... eu desisti, Yoonie. – disse Jin, tropeçando nas palavras, o que fez o híbrido notar que havia alguém ali perto e olhar para eles.
— Não pode desistir, Jinie! Você precisa de alguém que o proteja.
— E quem eu vou levar?
— Qual o nome dele? – perguntou Yoongi para o vendedor.
— Namjoon.
— Ele é perfeito! – disse o diretor.
— Ele me dá medo. – rebateu Jin, mas medo não era a palavra.
Ao olhar novamente para a direção em que o híbrido estava, os olhos amarelados encontraram com os seus, pareciam queimar as orbes de Jin tamanha a intensidade com que Namjoon o encarava; o youtuber sentiu o corpo esquentar, cruzou os braços em defensiva, mas por dentro ele sentia algo estranho.
— Pode ir até lá, tem uma abertura no vidro que você pode usar para tocá-lo, se ele deixar. – disse o vendedor. – Ele não é perigoso, só parece. É um dos mais inteligentes que passaram por aqui, talvez por isso ele teve dificuldade em se adaptar com os donos que tentaram.
— Ele já foi vendido? – perguntou Jin.
— Quatro vezes, mas em todas ele pediu que fosse devolvido. Na verdade, ele sequer se despediu de mim, sabia que não ia dar certo.
Jin engoliu em seco e deu passos lentos até a jaula onde o rapaz estava, quando ele se aproximou, o híbrido se levantou e foi até o vidro transparente, ficando de frente com Jin, sem tirar os olhos dos dele nenhum segundo. Como se estivessem em um espelho, o cheff levantou as mãos e as apoiou no vidro, o movimento foi acompanhado por Namjoon, exatamente igual, as mãos ficaram na mesma direção enquanto eles se encaravam.
— Está com medo? – Jin se sobressaltou ao ouvir a voz do híbrido, baixa e grossa, muito clara, apesar de ele acreditar que fazia muito tempo que o rapaz não conversava com alguém.
— Não é medo.
Não sabia o que era, mas não era medo, atração, talvez. O mais velho deles, Jin, desceu a mão pelo vidro até chegar na abertura e o outro fez o mesmo, as pontas dos dedos se tocaram, depois a palma e lentamente o youtuber prendeu os dígitos com os de Namjoon, sentindo a mão fria em contraste com a sua.
— E-eu preciso de ajuda. – o Seok se odiou por gaguejar, mas o outro apenas tombou a cabeça para o lado, ainda o encarando. – Eu... sofri uma tentativa de sequestro ontem, foi horrível.
— Sinto muito. – disse o outro com a voz calma, apertando levemente sua mão com a dele.
— Eu preciso de alguém que possa me proteger de coisas assim.
Namjoon entendeu num estalo porque eles estavam procurando um alfa, seria um tipo de protetor para o rapaz alto que tinha sofrido um trauma poucas horas atrás e um híbrido seria a forma mais confiável, já que ele se tornava fiel ao dono e dinheiro algum o compraria.
— Nenhum receio por seu protetor ter DNA de cobra?
— Se você comer ratos, eu vou sair correndo agora mesmo.
Namjoon sorriu e abaixou um pouco a cabeça, Jin pode ver que ele tinha covinhas no rosto e isso era adorável, uma quebra da seriedade do semblante híbrido; o movimento fez parte da lateral esquerda do pescoço de Nam ficar exposta, chamando a atenção do outro para as pintinhas que cobriam alguns pontos de seus braços e pescoço. O Seok queria, repentinamente saber onde mais ele tinha aquelas pintinhas bonita, mas era indiscreto perguntar.
— Eu não como ratos. – por fim ele disse. – Talvez eu seja quem você procura.
— Tem que ser... ninguém mais seria.
A frase soou baixa dos lábios do Kim e atraiu o olhar do híbrido para aquela região específica, o que chamou-lhe a atenção em todos os aspectos: cor, formato e até mesmo os movimentos e o cheiro de madeira doce que desprendia dos poros do moreno, mesmo que o perfume que usasse fosse completamente diferente disso. Se o Seok estava encantado com Namjoon, o mesmo estava encantado com o futuro dono, com a sua voz e seu rosto bonito como ele nunca vira. As mãos ainda estavam presas e eles só notaram isso quando o rapaz loiro, Yoongi, veio sorrindo.
— Então, a gente pode tirar o rapaz da caixa de vidro e levar pra casa?
— Se ele aceitar vir... – disse o Kim, olhando para o rapaz uma última vez antes de se afastar.
— Será um prazer.
O vendedor sorriu e abriu a jaula do rapaz que pegou novamente seu livro, Yoongi e Jin foram para o financeiro acertar os papéis da compra e Namjoon foi trocar sua roupa, juntar seus pertences e se despedir de Kyung, seu amigo; agora, seria realmente uma despedida, acreditava que aquela era a pessoa certa a comprá-lo, alguém inteligente e interessante o suficiente para entender todas as piadas ruins que fazia e os assuntos aleatórios que puxava. Ganhou uma coleira preta com o nome de seu dono, Kim Seokjin, em uma plaquinha prateada e, assim que tudo estava correto, foi para sua nova casa.
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