Em uma época onde os conflitos eram resolvidos apenas nos campos de batalha e muitas vidas eram perdidas durante as árduas lutas entre os povos chineses e os mongóis pelo controle do norte da província, uma curiosa festividade ocorreria naquela noite, numa distante aldeia entre as plantações de arroz, conhecida comumente, como A Vila Perdida.
Alheios à guerra, os aldeões estavam animados, se preparavam para o Festival Qixi, que acontecia todo mês, nas noites de lua cheia, em alusão à conhecida lenda chinesa ao casal "Niu e Zhi, que apaixonados haviam sido separados pelo Imperador do Céu, e reunidos novamente com a ajuda das fadas casamenteiras"
Para as jovens mulheres solteiras da aldeia, era a grande chance de serem escolhidas e saírem de lá com um casamento vantajoso. Já para os homens era a oportunidade de encontrar uma boa moça para tomar conta seu lar e constituir família.
Luminárias nas cores vermelho, laranja e amarelo eram penduradas por toda a vila. Dísticos espalhados para afastar a má sorte e muitas flores completavam a decoração romântica da festa.
Diferentemente de suas duas melhores amigas, Sarada não estava nem um pouco animada para tal evento.
Emburrada, tudo o que a garota queria, naquela noite era seguir com seu plano, após uma tarde exaustiva de treinamento com seu mestre.
— Não me olhe assim, Aoda. Você sabe que se eu não fugir agora vovó me obrigará a ir no Festival e desta vez a mamãe não conseguirá me ajudar.
Ela explicou com carinho para sua cobra de estimação, enquanto passava metade do corpo para fora da janela da pequena choupana em que dividia com os pais e a matriarca dos Uchiha's, Mitoko.
— Adeus meu amorzinho, prometo que volto para te buscar quando eu me tornar uma guerreira importante.
— SARADA HARUNO UCHIHA !!! Entre agora nesta casa se quiser continuar respirando!! Shannarō.
O berro bravo de sua mãe a fez estremecer e voltar rapidamente para dentro do quarto.
— Sim, mama...
Ela murmurou sem graça, escondendo dentro do armário, a mochila que havia preparado para a fuga.
— Ótimo! Agora vista seu kimono e me aguarde que irei arrumar seu cabelo e maquiagem. Temos um combinado! Eu permiti que você treinasse com o Coronel Uzumaki desde que participasse dos Festivais Qixi.
Sakura ordenou sem ter que se levantar de sua cadeira perto da lareira. A dor nas costas por conta da gravidez havia piorado muito nos últimos dia.
— Pare, Aoda! Eu não sirvo para ser esposa! Sou uma Uchiha! Como meu avô, meu tio, e meu pai! Não nasci para ser donzela.
A morena resmungou enquanto vestia seu kimono de seda vermelho. Resignada, prendeu os longos cabelos em um grande coque tradicional no alto da cabeça e chamou por sua mãe, para que esta finalizasse com a maquiagem tradicional.
— Não me olhe assim, querida. Os Festivais não são tão ruins, quem sabe você tenha sorte esta noite e conheça alguém especial que irá te amar tão profundamente como eu encontrei seu pai, anos atrás.
Comentou a rosada, tentando confortar a filha. Era difícil para ela também essa imposição, mas não havia nada que pudesse fazer para amenizar o sofrimento da filha.
(...)
Sozinho, em silêncio ele reverenciava seus ancestrais, acendendo um incenso para cada um até ser interrompido.
— Papa? Atrapalho?
Perguntou Sarada, em um tom baixo, ao adentrar no Templo Uchiha.
— Você? Nunca, minha princesa.
Sasuke a respondeu carinhosamente, fazendo sinal para que a garota se aproximasse, ainda de costas para ela.
— Não sou uma princesa Papa! Não gosto de ser delicada! Quero lutar na guerra, como o senhor e o tio Itachi.
Ela resmungou teimosa, cruzando os braços na frente do corpo.
— Meu amendoinzinho fofo eu jamais deixaria você ir para guerra. Não aguentaria a dor de te perder. És o meu bem mais preciso junto de sua mãe e bebê que está por vir.
Sasuke se levantou e finalmente, colocou os olhos na filha, engolindo seco ao constatar a beleza da garota, que já estava pronta para sair. Não lhe agradava em nada a ideia de sua primogênita se casar com apenas dezoito anos.
— Você... você está muito bonita, minha filha. Mas talvez seja melhor colocar um casaco.
Sarada esboçou uma careta em estranheza com o comentário do pai.
— Casaco? Mas pai, está calor. Estamos no verão.
— Sarada! Sem casaco você não sai desta casa! E de preferência um bem comprido!
Disse o mais velho antes de se retirar do lugar, deixando a a garota sozinha no Templo, reflexiva.
"Ahh Tio, vovô...
Olhe bem pra mim,
A perfeita esposa jamais vou ser
Ou perfeita filha
Eu talvez tenha que me transformar
Vejo que
Sendo só eu mesma
Não vou poder
Ver a paz reinar no meu lar
Quem é que está aqui?
Junto a mim, em meu ser
É a minha imagem?
Eu não sei dizer
Como vou desvendar?
Quem sou eu?
Vou tentar
Quando a imagem de quem sou
Vai se revelar?
Quando a imagem de quem sou
Vai se revelar?"
Sarada cantarolou, rodopiando à sombra das estátuas mortuárias dos membros do clã Uchiha já falecidos, com Aoda em seu ombro.
— Estamos atrasados, eu sei, Aodinha. Venha, se esconda aqui, antes que alguém te encontre.
Assim que a morena terminou de falar, obediente como sempre, a cobrinha se enfiou por dentro dos panos do kimono da garota, repousando em seu ombro.
(...)
Longe dali, os soldados leais ao Imperador Donfaint eram submetidos a duros treinamentos, muitas vezes considerados desumanos, sob o comando do impiedoso Marechal Jigen.
Jovens, magros, sem qualquer experiência em combate, muitos não resistiam aos treinos do Marechal, perdendo a vida ou desertando e fugindo para bem longe do exército imperial.
Porém, um soldado, havia se destacado dentre os demais, desde muito cedo, tendo sido recrutado quando tinha apenas dez anos.
Crescido entre os militares, no meio da guerra, tornou-se um respeitado General e homem de confiança do Imperador devido as suas habilidades em combate e grandes conquistas contra o exército do temido Khan.
Filho de um importante coronel aposentado, com apenas vinte e três anos, Bolt já era considerado mestre em kung fu e um exímio lutador com espadas jian.
Conhecido por ter a índole calma e gentil como a de seu mestre Shi, o loiro costumava tratar todos os membros do exército imperial com igualdade, cuidando especialmente dos recrutas mais novos, como se fossem seus irmãos.
Era querido e respeitado por todos, mas também muito invejado por seu alto cargo e posição de prestígio junto ao Imperador.
Bolt, tinha raras lembranças de sua aldeia natal, porém em todas as noites de lua cheia, o General Uzumaki se recordava palavra por palavra da promessa que havia feito há muitos anos atrás, para uma menininha que ele apelidou de "sua bonequinha dos olhos escuros como o breu"
"Minha boneca,
branquinha como a neve,
dos olhos negros como a noite,
Minha esposa você será,
Quando eu da guerra retornar"
— Bolt! Bolt! General! Há um mensageiro em nome do Imperador, querendo lhe falar. Posso permitir a sua entrada, aqui na tenda?
Mitsuki, um jovem soldado o chamou, trazendo-lhe de volta à dura realidade.
— Sim...para Donfain enviar esse pobre homem até esse fim de mundo, boas notícias não devemos ter. Sirva-lhe de comer e beber, Mitsuki e traga-me a mensagem de nosso Imperador.
Pediu o loiro, voltando a encarar a lua, pensativo, pela janela improvisada.
(...)
Chocho estava nervosa quando a Uchiha finalmente chegou ao Festival. Todas as garotas já estavam prontas para a apresentação individual diante de uma plateia masculina eufórica que se embebedava de vinho de arroz.
— Humilhante, Aoda. Parecemos pedaços de carne exposto para sermos disputadas a tapa por um bando de marmanjo babão. Prepare-se, você sabe o que tem que fazer.
Murmurou a morena descontente, posicionando-se propositalmente em último lugar na longa fila de garotas que desfilavam sorridentes ao ouvirem seu nome ser anunciado pela casamenteira Madame. Margolyes.
Como de costume, Sarada se apresentava com cara tédio, os braços cruzados atrás das costas e revirando os olhos vez ou outra, demonstrando claramente seu descontentamento em estar ali e torcendo para passar despercebida.
— Você, senhorita! Senhorita!
Ela se encolheu ao ouvir uma voz masculina lhe chamar .
— E...Eu?
Sarada olhou para os dois lados, tentando fingir não ser com ela, porém o rapaz se levantou e caminhou em sua direção, estendendo-lhe uma flor de forma galanteadora.
— Senhorita, permita-me presenteá-la com essa humilde flor em troca de seu nome.
Disse o jovem de cabelos castanhos escuros e olhos verdes como os arrozais, fazendo ela sorrir pretensiosa.
— Oras, mas se estás me presenteando, então seria indelicado da parte do senhor, solicitar algo em troca, não é mesmo?
Ele pigarreou sem graça, diante da resposta recebida com sarcasmo e Sarada aproveitou para tentar se afastar mas teve seu braço segurado com firmeza.
— Sr. Sabaku, queira por gentileza perdoar a senhorita Uchiha, ela costuma ter um senso de humor peculiar.
Madame Margolyes se manifestou, arrastando com certa força a morena contrariada, de volta para perto de Shinki que sorriu satisfeito.
— Não há com o que se preocupar, senhora. É justamente esse jeitinho arisco dela que me atraiu. Gostaria de pedir a benção do Sr.Uchiha e firmar compromisso com esta senhorita e ...
Antes que o jovem pudesse terminar de falar, assustada com o rumo daquela conversa, Sarada saiu correndo, misturando-se em meio aos demais aldeões que passeavam pela rua principal da vila, divertindo-se entre as muitas barraquinhas de brincadeiras.
Sem prestar atenção por onde ia, querendo se afastar o máximo possível da casamenteira e do Sr. Sabaku, ela não percebeu quando esbarrou em alguém com o dobro de sua altura e só não caiu de costas no chão porque deu um perfeito mortal para trás.
— Rápido reflexo! Impressionante. Eu não via um mortal tão bem executado como este desde... desde quando Boruto se foi.
Os olhos azuis do mais velho piscaram repetidas vezes tentando afugentar algumas poucas lágrimas teimosas.
— Mestre! Perdoe-me, eu não queria lhe fazer recordar dele. Sei o quanto a falta de seu filho é dolorosa para o senhor.
Ela murmurou de cabeça baixa em respeito ao Coronel Uzumaki.
— Não se sinta mal, Sarada, pensar nele, aquece meu coração saudoso. De fato, só de olhar para você, criança, eu me lembro do meu garoto. Você talvez não se recorde mas...
Naruto suspirou, coçando a nuca nostálgico e a Uchiha o encarou curiosa.
— Não, não! Seria Impossível que se lembrasse...você era muito pequena, quando Boruto a segurou pela primeira vez, como se você fosse o mais valioso dos tesouros. Ainda me recordo do brilho intenso dos olhinhos azuis dele e do rubor que se formou em suas bochechas.
Ele murmurou e a mais nova sinalizou com cabeça o incentivando a continuar a falar, interessada na história.
— Venha, caminhe comigo, minha criança. Vou lhe contar uma breve história de quando você conheceu o meu Boruto.
O Coronel Uzumaki ofereceu o braço à Sarada que prontamente aceitou e começou a caminhar ao seu lado, ouvindo atenta cada palavra que ele dizia com carinho sobre a infância do próprio filho.
— ...Imagine você, criança, qual foi a reação do temido Uchiha Sasuke quando o meu Boruto, no auge de seus oito anos, disse com convicção, segurando firme em sua mão, que um dia se casaria com você, Sarada, uma menininha de apenas três. Seu pai nada falou, mas eu tenho certeza que se ele pudesse, daria umas boas palmadas no meu garoto pela audácia.
A Uchiha riu com o comentário de seu mestre, imaginando a cara de seu pai super protetor.
— Com todo o respeito, Mestre, mas que moleque atrevido esse seu filho! Nem me conhecia direito e já foi dizendo que íamos nos casar!? Atitude mesquinha igual à dos homens deste Festival.
Sarada resmungou revirando os olhos, imaginando o quanto aquele tal de Boruto deveria ser um idiota convencido.
— Ohh..não, criança! Mas ele a conhecia muito bem. Te chamava de "a minha linda bonequinha dos olhos escuros como o breu" e você o adorava também. Quando bebê só se acalmava segurando na mãozinha do meu filho. Cresceram juntos, e apesar da diferença de idade, eram inseparáveis, como a lua que precisa da existência do sol, Boruto e você eram muito apegados um ao outro.
Por algum motivo que ela desconhecia, o coração de Sarada descompensou, seu estômago embrulhou e a imagem de um par de olhos mais azuis que um céu limpo surgiu em sua mente a fazendo sorrir involuntariamente.
Porém ela rapidamente decidiu ignorar tudo aquilo, balançando a cabeça, negando-se a aceitar o rebuliço que tomara conta de seu corpo por conta de uma história do passado.
— ...vocês viviam correndo pelas plantações de nossa casa, fingiam ser guerreiros e ele chegou até a ensinar alguns golpes básicos de kung fu, antes de...de Boruto...
O Coronel engoliu seco, desviando o olhar para as montanhas no horizonte que cercavam a aldeia. Ainda era para ele, muito delicado falar sobre aquele dia.
— antes de seu filho partir junto do exército imperial?!
Sarada questionou e o mais velho lhe devolveu um olhar carregado de culpa.
— Boruto tinha dez anos quando foi recrutado a mando do Imperador, em meu lugar. Hinata nunca mais sorriu depois que nosso garoto partiu.
— Eu...eu realmente sinto muito, Mestre. Eu não me lembro do seu filho, mas de alguma forma, dentro do meu peito, tenho certeza que Boruto está bem e um dia retornará para a nossa aldeia.
Naruto sorriu sentindo seu coração se aquecer e passou a mão carinhosamente pelos longos cabelos negros da garota, já desprendidos do coque tradicional que ela usara anteriormente.
Tantos anos haviam se passado, que infelizmente ele não nutria mais esperanças de reencontrar seu filho nesta vida.
— Ahh minha criança! Gostaria que fosse...
— UCHIHA!! Venha já aqui! UCHIHA!
Os berros de Madame Margolyes procurando por Sarada o interromperam bruscamente.
— Mestre...por favor? Por favor?
Ela suplicou baixinho, escondendo-se atrás do Coronel Uzumaki ao perceber que a casamenteira se aproximava.
— Vá! Volte para casa, menina. Eu distraio a senhora Margolyes.
Ele sorriu cúmplice para a Uchiha que mais que depressa, levantou os panos de seu kimono com as mãos e correu em direção à mata.
— Ufa! Aoda,essa foi por pouco. Acho melhor pegarmos o caminho mais longo para casa.
Ela suspirou aliviada por escapado, colocando a cobra de estimação no ombro e começando andar pelo meio da floresta.
Toda suada, suja e cansada, por andar quase duas horas no meio do mato, Sarada finalmente conseguiu chegar em sua casa, estranhando encontrar a lareira ainda acessa.
Com receio de acordar os pais, retirou os tamancos de madeira, deixando-os na varanda, e andou na pontinha dos pés até a janela de seu quarto a fim de entrar por lá, quando escutou a voz dele ressoar feito um trovão.
— O que pensa que está fazendo mocinha? Nós temos portas em casa para serem usadas.
Sasuke falou calmo porém o tom irônico de sua voz indicava que ele não estava contente com o comportamento da filha.
— Papa...eu...eu...
Sarada se virou para encarar o mais velho e ia começar a se desculpar quando ele subitamente a abraçou forte com o único braço que possuía.
— Não diga nada, princesa! Sei porque fugiu do Festival e sinceramente estou feliz que tenha feito. Não suportaria a ideia de vê-la casada com alguém da dinastia Sabaku! Já recusei o compromisso proposto por este senhor.
O Uchiha comunicou firme.
— Papa? Sério? Mas...mas e a Madame Margolyes? A tradição?
Sarada o indagou ainda incrédula com a atitude tomada pelo pai.
— Não se preocupe com isso. Eu me viro com aquela velha rabugenta. Agora vá tomar um banho e descansar.
Antes de entrar em casa, sorrindo como nunca, Sarada beijou o pai no rosto, que fingiu não ligar, mantendo sua expressão neutra de sempre.
— Obrigado Papa! Obrigado!
Ela disse entrando em casa pela janela do quarto, fazendo o Uchiha revirar os olhos e resmungar sozinho.
— Porta! Porta...tsc...
(...)
Vinte e sete dias haviam se passado desde o último festival e Sarada seguia com sua rotina de treinos de kung fu diários, com seu mestre, pelas manhãs e ajudando seus pais nos afazeres domésticos durante o período da tarde.
Estranhamente naquela terça-feira, ela sentia uma inquietação dentro do peito desde a hora em que havia acordado. Uma angústia crescente que não a deixava se concentrar nem mesmo em seu treinamento.
— Criança! Está desatenta por demais hoje. Irá acabar se machucando, assim. Sua mente precisa estar no mesmo lugar que seu corpo Sarada!
O Coronel Uzumaki a repreendeu após quase acertar-lhe um golpe no rosto.
— Desculpe-me Mestre! Não irá se repetir.
Ela murmurou cabisbaixa. Odiava não atender às expectativas do coronel.
— Por hoje chega! Vá menina. Não posso treinar um corpo sem alma.
Naruto falou severo observando a garota recolher seu equipamento e montar em seu cavalo preto em silêncio, decepcionada consigo mesma.
— E Sarada?!
Ele a chamou mais uma vez!
— Sempre ouça a voz do seu coração. Vá depressa para sua casa.
Aconselhou o mais velho como se soubesse de algo, fazendo a garota arregalar os olhos e sair dali a galope.
Não demorou muito para que a Uchiha retornasse à vila, seu mestre residia a poucos minutos do portão principal.
Logo ao se aproximar, Sarada sentiu seu coração gelar ao observar diversos cavalos com a bandeira imperial. Era um mal sinal, algo devia ter acontecido para que o Imperador enviasse um representante até aquele pequeno vilarejo.
Ao passar pelas vielas de terra em direção a sua residência, Sarada sentiu que a situação era mais grave do que parecia. Em frente as pequenas casas de telhado de madeira, famílias inteiras choravam e se abraçavam, parecendo se despedir.
Nervosa, ela cutucou o cavalo com os calcanhares fazendo o animal aumentar a velocidade do galope, a fim de chegar mais rápido, o que ocorreu em poucos minutos.
O que a morena viu a seguir quase fez seu coração sair pela boca. Seu pai estava vestido com a armadura de batalha, espada nas costas e com o elmo em mãos, despedindo-se de sua mãe e avó, que choravam copiosamente.
Mais que depressa, a Uchiha saltou do cavalo e correu em direção do mais velho procurando entender o que estava acontecendo.
— Papa! Papa! Onde o senhor pensa que vai? Não pode mais lutar... não...
— Seria bom ensinar a sua filha a conter a língua na presença de uma pessoa da Ordem Imperial!
Vociferou o mensageiro do Imperador, não deixando que Sarada terminasse de falar.
— Sarada! Não se intrometa. Eu irei lutar em nome dos Uchiha's. Sou o único homem desta casa.
Sasuke falou entredentes deixando a filha indignada e arrancando um sorrisinho cínico do outro homem.
— Como? Como irá lutar com apenas um braço?! Isso não é justo! O Imperador não pode convoca-lo desta maneira!
Ela argumentou recebendo um olhar severo em repreensão do pai, calando-se imediatamente.
— Com o avanço do Hunos, o Imperador decretou que toda família deve ceder um homem ao exército imperial para ajudar a defender a nossa província. Você não possui irmão, tampouco tio...vivo...logo só nos restou o seu pai, com um braço só.
Explicou com desdém o representante do Imperador.
— Papa...eu posso..
Ela tentou falar, mas foi cortada no ato, fazendo com que algumas lágrimas escorressem por seus olhos.
— Sarada! Chega! Sou um Uchiha! O único homem desta família! E irei representa-la nesta guerra com muito orgulho.
Sasuke a respondeu com rispidez, porém sem coragem de encarar a filha com os olhos marejados.
— Ótimo! O senhor tem até às seis horas da tarde para apresentar-se ao encarregado do exército que os guiará até o campo de batalha. Boa Sorte, senhor.
Despediu-se o mensageiro, deixando as mulheres da família Uchiha em prantos.
— Sasuke... Sasuke-kun e o nosso bebê? Eu... eu...como farei sem você ao meu lado, querido?
Tentou argumentar Sakura com o rosto inchado já de tanto chorar.
— Cerejinha, Sarada e minha mãe estarão aqui para lhe ajudar. Você sabe que preciso ir. Esta missão é minha. Não há mais ninguém em nossa família que possa lutar.
Ele argumentou enquanto enxugava com delicadeza o rosto molhado da esposa, que tentava lhe retribuir com carinhos pelos cabelos.
Aquela troca de carícias entre os pais quebrou o coração de Sarada em mil pedaços, pois ela sabia que poderia ser a última vez.
Sem saber o que fazer, perdida em sua própria agonia, ela correu dali, indo se esconder no Templo Uchiha. Precisava de um tempo sozinha para pensar, organizar suas ideias e conseguir bolar um plano para salvar o pai.
Sarada acendeu alguns incensos, fez suas orações e ajoelhada diante das estátuas mortuárias de seus ancestrais ela murmurou baixinho.
— Tio Itachi, Tio Óbito, Vovô Fugaku e Bisavô Madara. O que me aconselham fazer, diante de tal situação? Não posso permitir que Papa vá para essa guerra e corra o risco de nunca mais voltar, o correto seria que eu fosse em seu lugar.
Ela abriu os olhos e suspirou derrotada, porém ao se levantar percebeu que os raios de sol que entravam por uma pequena claraboia no teto do Templo, refletiam em um objeto deixado perto da porta.
"Mas como? Porque ele a deixou aqui?"
A morena se aproximou e pegou com cuidado a grande espada jian de seu pai. Passada de geração em geração, a katana Uchiha era feita com lâmina de bronze, e cabo de couro.
Havia sido um presente do Imperador para o seu avô por vencer uma importante batalha.
Sarada tirou a espada da bainha, passando os dedos pela lâmina sobre os dizeres entalhados em ouro, lendo-os baixinho.
— "Lealdade, bravura, e verdade" ... Papa não levou sua espada... Urght! Claro que não levou...Como poderia? Sem seu braço esquerdo ele não conseguiria manusea-la. É uma missão sem volta...Céus! Eu preciso impedi-lo.
Ela prendeu os cabelos em um rabo de cabo e passou a lâmina da katana cortando-os na altura dos ombros, vendo com tristeza os fios caírem no chão do Templo, ao mesmo tempo que uma chama de coragem queimava em seu peito.
— Eu sei o que o pretende fazer criança e eu vim aqui para lhe impedir. Para esta guerra você não irá.
O Coronel Uzumaki bloqueou a passagem de Sarada, postando-se na saída do Templo, para testa-la.
— Mestre, perdoe-me mas no lugar do meu pai eu irei me alistar. E sairei da aldeia com ou sem a sua ajuda.
Naruto sorriu resignado diante da teimosia de sua pupila. Sabia que Sarada cumpriria com sua palavra e daria um jeito de seguir com aquela loucura.
— Se quer mesmo fazer isso, então vamos, criança. Há algumas coisas importantes que eu preciso lhe ensinar, antes da hora de você partir.
Ele finalizou fazendo sinal para que a Uchiha o seguisse.
— E o que preciso aprender de tão urgente em tão pouco tempo?
Sarada perguntou seguindo o Coronel Uzumaki com a katana de seu pai nas costas.
— Para começar, precisa aprender a viver como um garoto e agir como um garoto e por último precisa aprender a pelo menos fingir ser um soldado.
Continua...
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