História Satan's bed - O pacto - Olhos de Orfeu

- Ela não falou com você o dia todo Susan? Nem tem ideia de onde ela pode ter ido? - Vedder está preocupado pois Kyra está fora de casa desde as 2h da tarde e não atende o celular.

- Não, Eddie. A última vez que falei com Kyra foi há dois dias. Mas, o que pode ter havido? Vocês estão bem?

- Sim, sim, mas algo me diz que tem a ver com a suspeita que ela insiste em ter de que o tal Amon possa ser o nosso filho. Estou preocupado porque Olivia está com febre e pergunta pela mãe.

- Entendo. O ideal era que vocês conseguissem logo fazer esse exame de DNA e tirar todas as dúvidas. 

- Exame de DNA??? Susan, o moleque é dois anos mais velho do que Eros, isso não tem cabimento e...

- Eddie, com licença. - Gina interrompe a ligação de Vedder para lhe dar um comunicado. - Kyra acabou de chegar e não me parece bem!

- Susan, é a Kyra que chegou! Depois nos falamos!  Obrigado!

- Graças a Deus, depois ligo para falar com ela!

Assim que Kyra adentrou a casa, Gina lhe comunicou sobre a febre de Olivia e agora a mulher está no quarto com a filha:

- Meu amor, você já tomou o remédio e logo vai ficar boa, está bem? Eu vou ficar aqui com você até a febre passar! - a mulher se deita ao lado da filha que a abraça e Edward surge em seu quarto reparando que o semblante de Kyra está extremamente abatido. O homem ajoelha-se ao lado da cama e faz um carinho em seu rosto melancólico.

- Minha vida, onde esteve? Eu estava preocupado com você! Por que não atendeu o celular?

- Me desculpe, amor! Eu fiquei por aí e acabei deixando o celular dentro do carro, eu precisava pensar. Não queria preocupar você, mas acabou não adiantando, me perdoe!

- Por que está tão triste?

- Promete não brigar comigo?

- Kyra...?

- Eddie, eu precisava fazer isso e...

- Você foi tentar falar com Amon? Conseguiu?

- Sim, mas não adiantou nada. Ele foi embora, amor!

- Embora para onde?

- Embarcou num trem para Vancouver e eu nem pude falar com ele direito. Ele foi embora sem eu saber se... - chora e abraça Olivia que já dorme em seus braços.

- Calma! Calma! Não se aflija! Deixa eu ficar com Olivia. Tome um banho e coma alguma coisa! Assim que for se deitar, eu irei com você e nós conversamos está bem?

- Obrigada por ser um marido tão maravilhoso! - a moça está ajeitando Olivia na cama quando a menina passa a falar dormindo.

- O monstro marinho! O monstro marinho! - a menina repetia ainda em estado febril.

- Ela está delirando Eddie! - Kyra se preocupa. - Me dá o termômetro, deixa eu ver o quanto está essa febre dela! - ao medir a febre de Olivia, é possível constatar que ela está com 38 graus. - Não está tão alta assim para ela delirar.

- Deve estar apenas sonhando, meu amor! 

- O monstro marinho! Eros! O monstro marinho! - a menina repetia.

- Ela disse o nome de Eros? Por que ela está dizendo o nome do irmão e associando a um monstro marinho?

- Monstro marinho seria como esse que você tem tatuado no pescoço, amor?

- Nossa, é verdade Ed! Eu nem pensei nisso! Mas, por que ela está falando essas coisas?

- Kyra, ela está sonhando apenas. Amanhã perguntamos a ela! Deixa que eu fico com ela aqui!

Kyra sai do quarto intrigada com as palavras de Olivia. Seu faro investigativo diz que uma coisa pode estar relacionada a outra, pois não se lembra de alguma vez a filha ter sonhado ou falado  no irmão já que não o conheceu.

A febre da menina não demora a passar e Edward dirige-se ao seu quarto e vê que a mulher está de frente para o computador:

- Meu amor, não era exatamente ficar na internet com você que eu estava planejando para hoje a noite. - o homem beija o pescoço da esposa convidando-a para o prazer e depois a levanta da cadeira.

- Eddie, eu...

- Shhh... calma! Eu sei tudo que está pensando e sentindo! Eu só quero que me deixe cuidar de você da maneira que eu sei melhor! Vem, deixa eu cuidar de você! - Vedder a leva para o banheiro e tirando a roupa da mulher a beija deixando-a excitada e faz amor com ela.

 

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Vancouver, Canadá, 07 de outubro de 2011

- Err...boa tarde! Tracy Norman? - Amon adentra a Galeria no centro de Vancouver no dia seguinte de sua viagem por volta das 8h da manhã. Dormira na praça principal em frente ao local esperando amanhecer.

- Sim! - uma senhora de 1,65m de altura e cabelos brancos, aparentando ter mais de 60 anos, exibia olhos grandes e azuis e estava vestida toda de branco com vários colares ao pescoço e mediu aquele rapaz franzino que adentrava sua galeria de artes. - O que procura aqui?

- Err...bom, eu vim de Seattle para lhe mostrar alguns croquis.

- Veio de Seattle para mostrar croquis para mim? - a mulher o fitava de cima abaixo e via que ele estava bem vestido com uma calça social e camisa branca. Os cabelos amarrados lhe davam pouca idade e a mulher ficou curiosa pelo que iria ver.

- É, bem, eu... não sou necessariamente um artista, mas eu vim aqui para lhe mostrar meus desenhos e ver o que a senhora acha deles.

- Quantos anos tem rapaz?

- Dezoito!

A mulher abre os croquis e analisa os desenhos do rapaz com admiração parecendo incrédula diante do que seus olhos vêem.

- Onde aprendeu essas técnicas meu rapaz? Onde fez curso de artes?

- Eu não fiz nenhum curso de artes. Esses desenhos são todos amadores!

- Você é apreciador da obra ocultista?

- Err...digamos que me influencia bastante.

- Sabe que aqui as obras ocultistas são as mais procuradas, não é?

- Sim! - o rapaz nada sabia, apenas foi deixando a conversa levá-lo. 

- Aguarde aqui um minuto que eu já venho! - a mulher recolhe apenas um dos desenhos do rapaz e leva para dentro. Após alguns minutos, ela retorna trazendo consigo outra mulher que aparentava ser um pouco mais nova e também tinha vestes brancas. O rapaz que olhava alguns quadros se volta para recebê-las.

- Olá, meu rapaz! Meu nome é Pandora e eu sou esposa de Tracy. Você disse que veio de Seattle?

- Sim! Morava lá.

- Você por acaso trabalhou na Galeria Vitalogy algum tempo?

- Não, eu nunca trabalhei em nenhuma galeria antes. - diante da resposta do rapaz, as duas senhoras se afastam e conversam entre elas.

- Pandora, ele é muito novo. Não acredito que tenha muita experiência no ramo. São obras amadoras.

- Sim, Tracy, mas muito me lembram os traços de Kyra Tyler quando desenhava obras ocultistas. Será que esse menino não roubou esses croquis???

- Só tem um jeito de saber! Hey garoto! 

- Pois não senhora!

- Se lhe dermos um quadro e uma aquarela seria capaz de fazer um desenho qualquer que lhe pedirmos?

- Creio que sim!!!

Tracy o leva para dentro da galeria onde funciona seu ateliê e lhe oferece um quadro em branco e uma aquarela. 

- Muito bem! Eu vou lhe falar sobre um personagem muito importante das obras ocultistas e eu gostaria que você desenhasse o que lhe viesse a mente. Pode ser?

- Sim, claro!

 

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Seattle, 8 de outubro de 2011

- Kyra, você não entende que isso é loucura, meu amor? Como vamos a Vancouver começar a procurar esse rapaz do nada? Não sabemos onde ele está e nem se usa o mesmo nome.

- Eu só sei que temos que fazer alguma coisa. Eu sinto isso, Eddie. Aquele menino pode ser o nosso filho perdido.

- Como também pode não ser Kyra!!! 

- Eu quero ter essa certeza!!! É só isso que eu quero, por favor!

- Está me dizendo que não vai me acompanhar na América do Sul como tínhamos combinado de mostrar o Brasil a Olivia?

- Ed não faz isso comigo! Não torne mais difícil. Podemos ir qualquer outra hora ao Brasil, mas eu preciso encontrar Amon. Preciso tirar essa cisma a limpo e algo muito forte dentro de mim me diz que tenho que encontrá-lo. 

- Kyra... - Edward passa a mão no rosto já em impaciência. Durante muitos anos tem sido bondoso e paciente com a esposa sobre o desparecimento do filho, mas de uns tempos para cá ele não tem sabido lidar com a obsessão da mulher em querer se certificar se o tal sósia se trata de Eros.

- Por favor, Eddie. Olha, eu te prometo que se depois nós descobrirmos que foi um engano e que Amon não é o nosso filho, eu vou me dedicar mais a você e Olivia e vou procurar não ser mais tão obcecada em encontrar Eros.

- Kyra não prometa o que não vai cumprir. Meu amor, durante esses dez anos estou procurando ter toda a paciência do mundo com você...

- Eu sei Eddie...

- MAS.... confesso que às vezes, eu sinto um fardo enorme nisso tudo e está difícil de lidar. 

- O que quer dizer, Ed?

- Kyra... por mais que você tenha me feito me sentir o mais confortável possível com toda essa situação... cada vez que eu vejo você obcecada em encontrar nosso filho, eu.. me sinto culpado por ter deixado o menino no sexto andar aquele dia...

- Eddie, não...Eu nunca te culpei!

- Eu sei.... mas eu me culpo... e quando vejo você tendo atitudes irracionais como essa de querer procurar o garoto numa cidade distante sem ter nenhuma pista... e ainda mais sabendo que esse menino tem dois anos a mais que o nosso filho o que significa que existe uma grande chance de não dar em nada! Não percebe que isso me atormenta ainda mais Kyra???

A mulher ficou olhando para o marido sem resposta. Sua obsessão em procurar o filho machucava o marido que se sentia culpado pela sua dor. Ambos ficaram se olhando por alguns segundos e Kyra resolveu nada dizer e sair da presença do marido. Edward ficou inconformado com a reação da mulher e pegando as chaves do carro saiu de casa.

Horas depois, o amigo Chris o encontrou no pub do Freeman bebendo sozinho em um canto escuro do lugar:

- Por que eu sabia que ia te encontrar aqui?

- Talvez porque Kyra tenha te ligado pedindo para vir atrás de mim e o único pub da cidade que posso ficar a vontade para beber é esse aqui! - Edward disse desanimado, não estava embriagado, mas era certo que era isso que ele procurava.

- Eddie, o fato de vocês terem um filho desaparecido é motivo para se unirem e não brigarem.

- Nós não brigamos, Chris.

- Não, porque Kyra evitou a discussão e porque você preferiu vir para cá ao invés de insistir na conversa. Mas, não podem deixar esses assuntos inacabados desse jeito deixando sua mulher preocupada sem saber o que você pode fazer.

- Eu não sei mais o que fazer para convencê-la. Ela lhe disse que quer ir para o Canadá procurar Amon?

- Disse! E onde está a novidade?

- Você acha isso certo? Daqui há alguns dias deveríamos estar embarcando para o Brasil com nossa filha. Olivia está sendo cada vez mais deixada de lado por causa da obsessão da minha mulher em procurar por algo que ela não sabe sequer se vai encontrar.

- Ou pode encontrar.

- O que? Está compartilhando das loucuras da minha mulher, Chris?

- Loucuras da sua mulher??? Eddie, veja o que está dizendo! Não é loucura Kyra querer saber se o filho de vocês está vivo ou morto! Há dez anos vocês o perderam de uma forma trágica e nunca tiveram um corpo para enterrar e esse fato queima no coração da sua esposa dando-lhe a esperança de que ele possa estar vivo.

- Como também pode não estar!

- Sim, e eu acredito que isso também passe pela cabeça da sua mulher. Mas, enquanto ela não souber de um corpo que foi encontrado com o DNA de Eros, ela permanecerá com a esperança de encontrá-lo vivo. Será mesmo Eddie que não lhe passa pela cabeça nenhum pouquinho que o tal rapaz que tanto se parece com você possa realmente ser o filho de vocês???

- Chris, o garoto tem dezoito anos. Eros teria dezesseis se estivesse vivo.

- Agora entendo a tristeza da sua mulher. Você já enterrou Eros e toda e qualquer esperança de encontrá-lo por mais que alguma evidência te mostre o contrário. Você... prefere chorar o luto de um corpo que nunca apareceu do que alimentar qualquer esperança de que possa rever seu filho um dia. Acontece que a Kyra fez uma escolha diferente, meu amigo. Ela fez uma escolha totalmente contrária a sua. Eu sinceramente, não sei como vocês poderão resolver isso! 

Vedder fica pensativo diante das palavras do amigo que lhe toca nos ombros dando força para mais esse momento difícil.

Voltando para casa, Edward encontra a mulher dormindo no sofá da sala de estar. Sabe que ela ficou ali lhe esperando e antes de acordá-la ele contempla o seu sono. Em um pequeno filme que passa na sua cabeça admira ainda mais a mulher que desde a infância passou por duras provas na vida. Chora. Sorri. Sente-se sortudo. Sente-se um covarde. Sente-se fraco. Ao respirar mais forte ao lado da esposa, ela acorda.

- Eddie... onde, onde você estava? - Kyra se senta enquanto o marido está agachado do lado do sofá.

- Eu ...estava comprando nossas passagens para Vancouver. - ele a olha por baixo.

- Você o quê? - a mulher levantou-se em um rápido impulso.

- Amor, eu vou com você para Vancouver. Não vou poder ficar muitos dias porque tenho a turnê na América do Sul e.. - sua fala é interrompida pelo abraço apertado seguido de um beijo que a esposa lhe dá.

- Eu não acredito que está fazendo isso!

- Estamos juntos. Eu só quero te ver feliz. Não sei se estou fazendo o certo porque não quero te ver frustrada, mas... enfim. Vamos ver no que isso vai dar.

 

Vancouver, Canadá, 27 de outubro de 2011

Edward e Kyra estão almoçando no hotel e com eles está um das assistentes pessoais do casal para ajudá-los na busca por Amon:  Latifah O'Brian.

- Anotou tudo, Latifah? 

- Sim, Kyra! Já peguei todos os dados do garoto e pelo que me consta caso alguém necessite de uma foto basta mostrar uma de Eddie nos anos 90 que é a mesma coisa. 

- Mais ou menos isso. - Kyra sorri.

- Bom, mas temos que contar com todas as possibilidades, principalmente do garoto ter mudado a aparência como por exemplo, ter cortado o cabelo ou até mesmo mudado de identidade. - Latifah os alerta.

- Sabemos disso! - Vedder consente.

- Vamos ligar para todos os hotéis e pousadas de Vancouver e região, hospitais e escolas. Veremos o que vamos conseguir. - Latifah levanta-se e esbarra em um rapazinho que distribuia panfletos pelo restaurante do hotel.

- Desculpe senhora. Eu só queria entregar isso! 

- O que tem aí? - Kyra indaga ao ver que o menino que aparenta onze anos faz uma propaganda. Edward recolhe o panfleto e lê para a esposa.

- É uma propaganda convidando para uma exposição de obras ocultistas na Galeria de Arte de Vancouver depois de amanhã as 4h da tarde. Diz se tratar de obras de um artista regional.

- Ocultistas??? - Kyra diz com desânimo. - Se fosse outro tema eu até iria querer ver, mas só de imaginar o que pode ter nesses quadros já me dá um arrepio na espinha.

- Amor, eu entrei em contato com alguns produtores e músicos de Vancouver e falei sobre Amon. Caso eles tenham algo importante passei também o seu telefone de contato.

- Eddie... eu fico tão feliz que você esteja empenhado nisso comigo. Estou tão feliz de não ter me deixado sozinha!

- Eu já te deixei várias vezes sozinha na sua procura por Eros, não foi? Nunca mais isso vai acontecer, está bem? Só se lembre que dia 2 eu tenho que ir para o Brasil. 

- Sim sim! Não se preocupe! Só de você ter se preocupado em vir comigo, eu já fico muito satisfeita. Bom, vamos começar nosso giro pela cidade?

Durante todo o dia sem perda de tempo, Vedder e Kyra saem pela cidade de Vancouver com seus seguranças e Latifah a procura de pistas sobre Amon. Os assistentes não tem notícias animadoras. Em nenhum lugar há registro de alguém com o mesmo nome do rapaz e cada vez mais Kyra se convence de que ele pode realmente ter mudado de identidade.

- Não entendo! Será que esse menino está recluso na casa de alguém sem sair? Ninguém tem notícias de algum rapaz que ande maquiado ou mascarado, ou que faça truques de mágica na rua ou pubs que tenham contratado ele para tocar. Já fomos a lojas de instrumentos e tudo ligado a música e nada.

- Kyra... - Latifah comenta. - Como estamos sem nenhuma referência, tudo é possível. O rapaz pode ter mudado de identidade, mas também pode não estar mais em Vancouver. Não temos fotos dele nem outra coisa que possa nos ajudar. É um tiro no escuro, você sabe!

- Sim, sim... mas foi só o primeiro dia, não é? Amanhã continuamos.

 

28 de outubro de 2011

No dia seguinte, as buscas continuam e nenhum sinal do rapaz. Até mesmo a polícia de Vancouver recebeu a visita do casal para ajudar na investigação, mas eles nada tinham que pudesse auxiliá-los. O Canadá é o segundo maior país do mundo e continuar as buscas parece uma ideia insana. Kyra se dá por convencida de que se existia alguma possibilidade de Amon ser seu filho, ela talvez nunca saberá.

- Meu amor, você tem certeza?

- Sim, Eddie. Não há mais o que fazer! Mesmo assim foi bom termos vindo, agora eu sei que não temos como encontrá-lo. Enquanto eu ficasse em Seattle com dúvidas, elas me atormentariam. Vamos voltar para casa, arrumar nossas coisas, pegar nossa filha e vamos para o Brasil! Mais uma vez, obrigada por me amar e ser esse marido maravilhoso. Eu te amo Eddie!

- Eu te amo Kyra! - o homem beija a mulher e em seguida, lhe faz um convite. - Olha, mas não vamos embora hoje. Tem uma cafeteria aqui de Vancouver que me lembra muito uma de San Diego que costumávamos ir no começo do nosso namoro e eu queria levar você lá.

- Não acredito que encontrou em Vancouver uma cafeteria parecida com a de San Diego.

- Estou lhe dizendo, vamos!! - Edward desce o elevador do hotel com sua amada e pede ao manobrista que traga o carro alugado. Quando o homem volta com o carro, o rapaz lhe pede informações de como chegar a tal cafeteria.

- O senhor economiza tempo pegando a via Norte pela Quarta Avenida. Por lá o caminho é mais curto e tem menos trânsito. A outra opção é a Segunda Avenida, mas o senhor daria uma volta bem maior.

- Obrigado! Vamos, meu amor! - ambos adentram o carro e seguem partida.

Chegando na Quarta Avenida, veem que estranhamente o trânsito se encontra parado:

- Ué, foi nessa avenida que o rapaz disse que não pegaríamos trânsito? - Kyra observa.

- Também não estou entendendo. - Edward avista um guarda de trânsito que vem anunciando instruções ao motorista e lhe questiona sobre o tráfego. - O que houve afinal, senhor?

- Um caminhão tanque simplesmente parado atravessado no cruzamento. Não quer pegar de jeito nenhum e está segurando o trânsito. Aconselho o senhor a tentar pegar a via direita e seguir pela segunda avenida.- o oficial de tráfego sugeriu e Vedder seguiu seu caminho pela Segunda Avenida.

Durante o novo caminho, Edward percebe que a mulher está muito quieta e ao desviar rapidamente o olhar para ela, vê seu semblante melancólico como quem está com um pensamento distante. Tira a mão do câmbio e ao pegar a mão da esposa percebe que está mais quente do que o normal. 

- Amor, está tudo bem? - Vedder leva sua mão à testa de Kyra e percebe que ela se encontra febril. - Kyra, você está passando mal, meu amor? Você está com febre!

- Eu estou bem, não se preocupe! - a mulher continuava com o olhar vago e mal respondia o marido.

- Eu vou parar em uma farmácia para comprar um antitérmico para você. - chegando a Homby Street, Vedder estaciona o carro em frente a drogaria deixando Kyra no carro um tanto sonolenta.

Kyra pegou no sono e quando Vedder voltou do carro trazia o medicamento e uma garrafa de água, mas ao perceber que ela dormia profundamente, achou melhor não acordá-la e pegar o caminho de volta para casa. Apenas alguns segundos depois de dar partida no carro, a mulher passou a falar como se delirasse ou estivesse tendo um pesadelo. 

- Eddie, diminua a velocidade.... Eddie.... cuidado o lago! Eddieeee...

- Kyra? Amor? - o rapaz achou melhor parar o carro e conferir se a mulher passava bem. - Kyra, meu amor! Acorda! - Vedder passou a chacoalhá-la tentando fazer com que acordasse e quando finalmente conseguiu, a mulher estava com semblante assustado e respiração ofegante.

- Eddie???

- Amor, você está bem? O que foi?

- Eu acho que estava tendo um pesadelo, mas não lembro do que aconteceu!

- Você repetia meu nome e me pedia para diminuir a velocidade, depois falou de um lago! 

A mulher não disse mais nada, parecia estar em confusão mental.

- Amor, vamos para casa! Você vai tomar a medicação e descansar. Você não me parece bem! Sua febre parece estar alta.

Vedder faz o caminho de volta para o L'Hermitage Hotel e precisa de ajuda para encaminhar a esposa ainda sonolenta para o quarto. Após dar a medicação, Vedder coloca a mulher em uma banheira e passa a lhe dar banho com intuito de baixar a febre e depois solicita a Latifah que chame um médico. 

Enquanto Kyra descansa dormindo profundamente, Edward abre seu computador e fazendo algumas pesquisas na internet encontra uma propagando da Galeria de Artes de Vancouver anunciando a exposição de obras ocultistas do artista Orfeu Kalliope. O que chama a atenção é o fato do artista em questão usar uma espécie de burca e aparecer com o rosto escondido onde apenas os olhos ficam expostos. Ao ver aqueles olhos, o homem ficou intrigado por achar aquele olhar tão familiar.

- Orfeu Kalliope??? Nunca ouvi falar tal nome. - dizia a si mesmo.

Continuou olhando o anúncio e procurava ter mais informações sobre o tal artista e dentre algumas fotos das amostras, chamou-lhe a atenção um quadro com o desenho de um monstro marinho semelhante a tatuagem que sua mulher tem no pescoço. Ficou ainda mais intrigado e volta e meia se pegava olhando novamente a foto do pintor misterioso e lembrou-se dos delírios de febre de Olivia citando o monstro marinho e balbuciando o nome de Eros. Aproveitando que Kyra ainda estava adormecida, avisou Latifah que iria sair por alguns minutos,mas não disse para onde e que ela ficasse de olho em sua mulher, entrando em contato caso algo acontecesse.

 

Uma hora depois...

- Latifah??? - Kyra acorda já sem febre e saindo do quarto se depara com a assistente no sofá vendo algo no computador. 

- Está melhor, Kyra? A febre passou?

- Sim, estou bem melhor. Não sei o que me deu! Onde está meu marido?

- Eddie deu uma saída faz uma hora e disse que já voltava.

- Mas, para onde ele foi? 

- Ele não disse, só falou que voltava logo. - a mulher permanecia com os olhos vidrados no computador.

- O que está vendo de tão interessante?

- Kyra, eu não entendo nada de arte, mas esse artista que está expondo hoje, esse tal Orfeu Kalliope, já ouviu falar nele?

- Orfeu Kalliope??? Nunca ouvi falar! Por quê? Que tipo de obra ele faz?

- Bom, eu não conheço nada de arte, mas veja você mesma. Tenho impressão que parece com alguns dos seus quadros.

- Sério? Deixa eu ver. - Kyra impressiona-se com a técnica do artista e com a semelhança dos traços, bem como se dá conta que um dos quadros é praticamente uma réplica do seu.- Mas, como se atreve?

- O que foi Kyra?

- Esse quadro é meu e esse serzinho que nunca ouvi falar está se promovendo as minhas custas??? Vai ter que me dar explicações! Que horas são? Sabe se essa exposição ainda está acontecendo?

- São 6h e sim, vai até as 8h da noite pelo que vi!

- Latifah, vou me trocar rápido e você vai comigo! Vou envergonhar esse artista de meia tigela!

- Mas, Kyra, e Eddie? 

- Avise a ele, por favor! Ficarei pronta em dez minutos e não vou sossegar enquanto não resolver esse assunto ainda hoje. Só o que me faltava, artista sem criatividade querer se promover as custas do meu nome e.... - a mulher foi tomar banho e permaneceu reclamando revoltada com o plágio de suas obras.

Até a hora em que saíram do hotel, Latifah não conseguiu avisar Eddie por ele não atender o telefone celular. 

- Continue tentando, por favor! Não quero que meu marido se preocupe!

- Meio difícil, não acha? Há poucas horas atrás você estava febril e delirando e Eddie voltar e não te encontrar, vai ficar louco!

- Eu estava delirando???

- Sim! O tempo em que estive lhe esperando acordar lhe ouvir dizer algumas palavras desconexas como lago, escuro, velocidade.... não sei, você misturava tudo!

- Que estranho! Eu não me lembro de nada! Mas, enfim! Já chegamos! É agora que esse farsante vai se ver comigo!

Adentrando a Galeria de Artes de Vancouver, Kyra adentra a exposição feito um furacão ficando cada vez mais indignada ao passar pelas obras e ver tantos quadros semelhantes aos seus. Latifah tenta seguir a mulher visto que ela anda apressada e ao mesmo tempo continua insistindo em ligar para Eddie que não respondeu ainda. Ao reparar que não há movimento do artista ou de algum responsável pela exposição, Kyra se dirige a um dos seguranças:

- Boa noite, me chamo Kyra Tyler e gostaria de falar com o responsável sobre essa exposição. Eu também sou artista.

- Um momento, senhora, que vou localizar as responsáveis. - o segurança sai da presença de Kyra e em poucos minutos retorna com Pandora em sua companhia.

- Kyra Tyler! Mas a que devo a honra da sua visita em nossa humilde exposição? - Pandora parecia muito satisfeita em ver Kyra e lhe surgiu muito agradável, mas a mulher estava ainda com seu semblante indignado.

- Quem é esse artista Orfeu Kalliope e qual a responsabilidade de vocês em promover um pintor que faz cópias descaradas dos meus antigos quadros?

- Senhora, não entendo! Seus antigos quadros?

Kyra mostra em sua galeria de fotos online, os quadros ocultistas que foram expostos na França na época em que os mesmos foram roubados por Jason Cartner. Pandora fica impressionada com a semelhança dos quadros e pede que Kyra a acompanhe a uma sala reservada onde Tracy se encontra na companhia de Orfeu. 

Ao ver a artista adentrando a sala com sua esposa, Tracy fica surpresa:

- Kyra Tyler??? A que devo a honra da sua visita? Apreciando nossa exposição? Se soubéssemos que estava em Vancouver teríamos lhe enviado um convite especial e...

- Tracy... Kyra Tyler não está aqui para uma visita. Onde está Orfeu?

-  Aqui não está! Achei que estava com você! 

- O que está havendo aqui? Vocês estão escondendo esse farsante? Saibam que eu já acionei a polícia de Vancouver! - Kyra se altera.

- De maneira alguma, senhora Tyler. Estamos querendo esclarecer isso tanto quanto a senhora, acredite. - Pandora argumenta. - Tracy, todos os quadros de Orfeu se tratam de cópias de quadros antigos de Kyra Tyler. Nenhum é original como ele nos garantiu.

- O que??? Nós mesmas o vimos desenhar e sugerimos o tema. Como isso é possível?? Ah, mas algo me dizia que eu deveria desconfiar do talento daquele garotinho... 

- Garotinho??? Orfeu Kalliope é um garotinho? O que estão dizendo? - Kyra se espanta com a informação

- Ele só tem dezoito anos, senhora Tyler, por isso nos pareceu um grande fenômeno. Como Tracy lhe disse, nós mesmas o vimos desenhar e o garoto tem talento. Sugerimos o tempo para exposição e ele apresentou tudo pronto em tempo recorde, foi impressionante.

- Isso não são traços de um iniciante e sim de um profissional de anos de carreira! - Kyra fica nervosa. - Me desculpem, mas fica difícil acreditar nessa história.

- Como ele pode ter copiado tão bem os seus quadros em tão pouco tempo??? - Pandora está confusa e constrangida.

- Está na cara que ele não reproduziu coisa nenhuma, não é? Ele deve ter algum comparsa que trouxe essas cópias para ele e deixou vocês pensarem que ele era um fenômeno. Olha, mais uma vez vão me desculpar, mas vocês não me parecem novas nesse ramo para se deixar enganar por um garotinho dessa maneira e... - o celular de Kyra toca e ela pede licença a Tracy e Pandora que estão estarrecidas com tudo sem saber o que lhe responder.

Tracy chama o chefe de segurança para que ele traga Orfeu imediatamente e lhe informa a urgência da situação. Enquanto isso, Latifah que havia ficado para trás tentando ligar para Vedder, é conduzida a sala para encontrar Kyra e lhe avisar que ainda não conseguiu contato com o cantor.

- Kyra, Eddie não atende de jeito nenhum e.... O que foi? Com quem estava falando no telefone? - Latifah interrompe sua fala ao perceber a cara de espanto da mulher.

- Era Gina...

- Sim, e o que ela queria? - sem responder, Kyra vai novamente até Tracy e Pandora lhes comunicar o conteúdo da conversa no telefonema que acabara de atender:

- Agora está tudo explicado e vocês vão ter que responder criminalmente! 

- Não estamos entendendo, senhora! - Pandora responde intrigada no mesmo momento em que a polícia adentra a sala atendendo o chamado de Kyra e o chefe de segurança traz a informação de que Orfeu não se encontra nas dependências da Galeria.

- Mas, é claro que não vão encontrá-lo. Esse farsante já deve estar bem longe daqui e agora entendo o porquê dessa exposição. Oficial, eu vim aqui para fazer uma denúncia, mas vou acabar fazendo outra: os quadros que estão sendo expostos nessa galeria não se tratam de cópias. São os meus quadros originais que foram roubados da minha Galeria em Seattle!!! Minha funcionária acabou de me telefonar dizendo que esses quadros foram furtados da sala de arquivos da Galeria Vitalogy e de acordo com as câmeras de segurança, isso aconteceu há uma semana de maneira muito sutil sem que ninguém percebesse. Eu já lhe pedi que comunicasse a polícia de Seattle que sei onde os quadros estão e eles devem entrar em contato para iniciar as investigações.

- Senhoras, eu vou pedir que me acompanhem a delegacia! - o oficial intima Tracy e Pandora.

- Vai nos prender??? - Tracy se espanta. - Somos tão vítimas quanto a senhora Tyler. Caímos em um golpe!!! 

- Somos senhoras de respeito e de reconhecimento artístico em Vancouver há anos! Não podem fazer isso conosco.

- Senhoras.... - o oficial continua. - ... ainda não estou lhes prendendo, apenas intimando-as  para prestar depoimentos, afinal de contas temos uma denúncia grave aqui. Fiquem a vontade para entrar em contato com seus advogados, mas terão que me acompanhar. Enquanto isso, queremos verificar as câmeras de circuito fechado para ver o que houve com o suspeito, Orfeu Kalliope. É esse mesmo o nome dele ou é um nome artístico?

- Não sabemos, oficial. - Pandora se lamenta.- E eu lamento ter ficado tão impressionada com o talento do garoto a ponto de não dar atenção a detalhes tão importantes.

- Pode olhar pelo meu computador, oficial. - Tracy o orienta. - Daqui o senhor pode ver o movimento das câmeras nas últimas duas horas.

 

- Latifah, você não conseguiu falar com meu marido??

- Ainda não, Kyra. Ele não atende o telefone e também não voltou para o hotel. Já deixei recado por lá para entrar em contato assim que chegar e até agora nada!

- Meu Deus, mais uma preocupação. Onde Eddie pode ter ido a essas horas??? Pior que provavelmente, vou passar a noite em uma delegacia. Não me faltava mais nada.

 

Checando as imagens das câmeras é possível ver que Orfeu saiu da Galeria há uma hora atrás depois de uma atitude estranha com um dos visitantes da exposição. Orfeu vestia um terno branco e uma gravata azul marinho. Usava um niqab na cabeça deixando apenas os olhos a mostra e estava posando para fotos entre os principais quadros da exposição quando foi abordado por um homem que após lhe encarar por alguns segundos foi em sua direção e lhe arrancou o niqab deixando seu rosto a mostra.

- Mas, esse é meu marido...e Amon! Meu Deus, são Eddie e Amon. O artista era Amon??? Mas, o que...- Kyra reconhece-os pelas imagens das câmeras de segurança.

- Senhora do que está falando? - o oficial tenta entender o espanto de Kyra.

A mulher reconheceu que o homem que abordou Orfeu e tirou seu niqab era Eddie Vedder e reconheceu o rosto de Amon depois que ficou a mostra. Em um impulso frenético, o rapaz saiu correndo ao ser descoberto e o cantor foi atrás dele.

- Mas, para onde foram? As câmeras não mostram??? - Kyra indaga.

Buscando imagens do circuito externo, as câmeras relatam que Amon adentrou em uma caminhonete e saiu do estacionamento sendo seguido por Vedder.

- Meu Deus! - a mulher leva as mãos a cabeça e o que lhe parecia simples de resolver vira um grande emaranhado de nós cegos. 

Respondendo as perguntas do oficial, Kyra fica preocupada com o marido e tenta entender como Amon conseguiu roubar seus quadros da galeria e o que aquilo tudo poderia significar.

- Latifah... pelo amor de Deus, o que está havendo aqui?

- Kyra, estou tão chocada quanto você! Viemos a Vancouver procurar esse garoto e olha a forma como o encontramos. Eu não sei o que dizer, sinceramente!

Todos são levados a delegacia para prestar depoimentos e após dizer tudo que sabe, Kyra ainda desconsolada é informada por Latifah que o General Hospital entrou em contato dizendo que Eddie Vedder havia dado entrada após sofrer um grave acidente.