Capítulo
26
Dias agonizantes.
Durante muitos anos eu lamentei por coisa que doíam em mim. Lamentei por não poder mais dançar, lamentei por minha mãe não ser a melhor de todas, lamentei por meu irmão ter um amigo irritante, lamentei por não namorar o garoto que eu era apaixonada, lamentei por não ser bonita o suficiente, lamentei por não ser o suficiente. Mas nunca, em todos esses anos essas lamúrias doeram tanto como agora. Nada nunca me preocupou a esse ponto.
Três dias.
Os mais longos da minha vida.
Fomos atacados a três dias atrás, foi tudo confuso de mais, o carro voou a quilômetros de distância, e tudo oque eu sentia eram as mãos de Jungkook tentando me levantar do chão para me tirar de lá o mais rápido que conseguisse. Meus ferimentos foram leves, apenas um arranhão na perna e outro no braço, infelizmente o mesmo não pode ser dito de Jungkook. Nada pode ser dito sobre ele, porque nem sabemos onde ele está.
Com a euforia do momento, adentramos o bosque para conseguir cortar caminho e chegar até a colônia. Estávamos feridos, um tentando ajudar ao outro, e não conseguimos. Os passos a nossa volta enquanto corríamos se tornavam cada vez mais rápidos e próximos, só nós restou uma alternativa. Despista-los. A ideia tinha sido dele, e na hora pareceu boa, eu devia saber que não era boa. Cada um para um lado, ele era maior e varia mais barulho, oque me daria tempo de chegar até a colônia em segurança, a sua desculpa foi que ele era mais ágil, conseguiria correr e chegar segundos depois de mim.
Tem três dias que ele não chaga. Nunca.
Todos estão atrás dele, em cada canto, a cada segundo. Não me deixam ir junto, a desculpa é que eu ainda preciso me recuperar. Jin disse que o meu arranhão na perna está infeccionado, e o melhor agora seria o repouso. Eles pensam que a minha falta de apetite é por canta do acidente, e da culpa. Se soubessem a verdade sobre onde estávamos, oque fazíamos e oque eu sentia, saberiam o motivo do meu comportamento.
Os verdes costumam vir aqui me avisar sobre oque eles acharam no final de cada busca, era torturante esperar o dia inteiro para no final saber que não acharam um único sinal dele. Especialmente hoje, todos estavam agitados, as chances de encontrarmos ele com vida são minúsculas a cada dia que passa, e todos sabiam disso. Henry tenta esconder a sua preocupação cada vez que vem me ver, mas ele nunca foi bom em mentir, consigo ver nos olhos dele, que por mais que seu corpo não mostre, ele está exausto. De todos ele é o que lidera as buscas, quando nós demos conta de Jeon estava demorando muito para voltar, meu irmão foi o primeiro a sair em busca do moreno.
O dia estava nublado, provavelmente choveria o dia todo, e nada colaborava para que nos animássemos. Nunca fui alguém com muitas crenças, acho que nunca fui colocada à prova, mas nesses últimos três dias, eu rezei para que Jungkook entrasse por aquela maldita porta, e sorrisse da forma que eu odiava.
- Como você está? - Sehun veio até mim na sala, eu estava na janela, no exato lugar onde conversamos dias atrás.
- Bem, eu acho. - dei de ombros. Ele suspirou e se sentou ao meu lado.
- Vamos iniciar a última busca hoje. - ele abaixou os olhos, no mesmo instante em que os meus caíram sobre ele.
- Não pode estar falando sério. - ele negou. - Não podem deixar ele, seja lá onde esteja. - eu estava incrédula, e começando a me exaltar.
- Não somos só nós que estamos atrás dele. - ele olhou em volta antes de me olhar novamente. - Todos estão atrás dele, durante as buscas nós os vemos, ouvimos e sentimos. A liga, os rebeldes, e os que se aliaram a eles, todos estão atrás do Jungkook. Não sabemos nem de ele ainda está vivo. - Fazia muito tempo em que meu sangue não fervia da forma em que ferveu naquele momento.
Eu gostava de Sehun, durante esses dias em que ele esteve aqui se mostrou alguém em quem eu poderia confiar. Eles tinham um plano, era óbvio, não deixariam de procurar Jungkook nem mesmo de ele estivesse morto.
- Então algo Sehun. - o olhei seria e ele engoliu em seco. - Vivo ou morto, traremos Jungkook de volta. Não importa com quem estejamos correndo contra o tempo para achá-lo. - me levantei. - Eu vou nessa busca, e não importa oque aconteça ou falem, não vamos deixar de procurá-lo. - por um momento eu entendi oque minha descendência significava para eles.
Ordem absoluta.
Aos poucos os outros foram chegando e se reunindo na porta de vidro, que nos dava a visão do bosque. Já tinham olhado todos os cantos daquela mata, ele não estava lá, se estivesse já tinha voltado.
- Qual o plano? - Jin perguntou. Que irônico, ele era o melhor em bolar planos.
- Vamos olhar fora do bosque. Já sabemos que ele não está ali. - todos mantiveram seus olhos em mim, esperançosos, assim como eu mesma estava. - Olharemos na cidade, ele tem que estar em algum lugar. Somos em um grande número, se dividam em trios. - Todos montaram os grupos o mais rápido que conseguiram.
Logo cada um estava em um canto da cidade, olhando para todos os lados em busca da mesma coisa. Da mesma pessoa. Eu fiquei com Sehun e Yoongi, trabalhávamos bem juntos. Os meninos estavam atentos a qualquer coisa que pudesse nos levar até Jungkook, até que Yoongi para de andar.
- Porque está parado? - Sehun perguntou, também parando de andar.
- Estamos andando sem rumo à dias, quando devíamos fazer a coisa mais óbvia de todas. - Degun meneou a cabeça negativamente ao ouvir as palavras do loiro.
- Ela não está pronta, olha a perna dela. - ele apontou para minha perna.
- É a nossa única chance! Pelo menos vamos saber para onde ir. - Eles conversavam entre si, como se eu não existisse ali.
- Sobre oque estão falando? - eles continuaram se olhando, até Yoongi ceder e me olhar.
- Vocês dois tem uma ligação muito forte, são capazes de se comunicar de diversas formas, e de sentir um aos outro. - ele se aproxima de mim. - Eu já vi meus pais fazerem isso uma vez, deu certo e eles nem são ligados de uma forma tão poderosa igual você e Jungkook. Isso pode dar certo. - ele pareceu relutar.
- Mas? - arqueei uma sobrancelha.
- Mas você está machucada. - Sehun tomou a frente. - É um processo doloroso, que vai consumir todas as suas energias, mais do que podemos medir, principalmente porque não sabemos o estado vital de Jungkook. - ele umedeceu os lábios. - Sua perna está fazendo o seu corpo se concentra em se curar, se tentarmos essa ligação, esse rastreio, você pode entrar em como permanente. E não é garantia de cem por cento de que vamos entrar ele. - minha cabeça latejou.
Poderíamos rastrear Jungkook esse tempo todo, e ao invés disso ninguém fez nada, ninguém me falou nada. Mais uma vez eu era a garota indefesa, a que precisava ser salva e protegida. Chegava a ser cômico o fato de todos só me levarem a sério quando Jungkook estava ao meu lado, caso contrário eu não era relevante. Mais uma vez meu sangue ferveu, eu era a líder, e por mais que não gostasse desse título, ele estava sobre mim agora.
[...]
Duas horas depois, todos na sala, como uma nota musical que se repete antes do refrão, ninguém achou nada, igual ontem e antes de ontem. Todos sabiam que estava acontecendo algo, e todos sabiam oque eu iria falar, acho que essa ideia já tinha sido discutida, sem mim é claro.
- Vamos fazer o rastreamento. - Falei olhando a todos, Namjoon e Henry e olharam.
Como o esperado eles começaram a dizer os inúmeros motivos para aquilo não ser realizado. E o principal deles, eu estava machucada.
- Eu já sei de tudo isso. - disse não aguentando mais eles falando. - E vamos fazer mesmo assim, não me importa os riscos. - Henry era o único ali que tinha coragem para dizer oque veio a seguir.
- Você não vai fazer isso. - ele veio até mim. - Já é horrível não ter Jungkook aqui, eu não vou arriscar ter você em coma mais uma vez! - seus olhos se encheram de lágrimas, era óbvio oque ele queria dizer.
Era perigoso, e todos sabiam disso, mas não dava para simplesmente ignorar um fato. Podíamos achar Jungkook onde quer que ele esteja, e eu poderia sair ilesa dessa.
- Henry, pessoas que não tem a mesma ligação que os dois já fizeram isso. E não entraram em coma, ela é forte o suficiente para fazer isso. - Lucas, um dos garotos com quem eu tinham conversado bem pouco, se pronunciou.
- Concordo com ele, ela e Jungkook são as criaturas mais poderosas já vistas. Eu não teria tanto medo assim. - Marcus veio até nós. - Estou tratando o ferimento dela à dias, não é nada tão grave quanto parece. Confie no potencial dela. - ele colocou uma das mãos no ombro de Henry.
- Você querendo ou não eu vou fazer isso. - o olhei nos olhos, e ele negou com a cabeça.
- Se você entrar em coma, eu juro que mato você. - ele me abraçou. Seria um momento bonito de irmãos, se minha mente não vagasse para outra situação.
Henry era a pessoa mais importante para mim até aqui, e pela primeira vez eu me via disposta a arriscar isso por outra pessoa. Acho que eu realmente gostava de Jungkook, acho que posso dizer que talvez eu o ame. Não tenho certeza, assim como não temos de nada. Mas eu sei que preciso fazer isso, a culpa me consome a cada segundo, eu o deixei para trás. Ele me ajudou a sair do carro, me ajudou a correr, e na primeira oportunidade eu o deixei para trás com os lobos sem nem pensar duas vezes. Se ele estivesse morto, não doeria apenas porque gosto dele além do que deveria, mas porque sei que tenho culpa nisso.
Nunca deixar o outro para trás.
Quando entrei na colônia Rose me disse que eles seguiam esse ditado a sério. Nunca deixamos um de nós para trás, e eu fiz isso, Jungkook tinha que estar vivo, não só porque eu queria que o peso da culpa saísse de mim, mas também porque eu queria poder dizer que gosto dele.
Quero dizer que talvez eu ame ele.
Todos entenderam oque precisava ser feito, os verdes subiram até o meu quarto junto a mim, todos os outros permaneceram na sala. Me avisaram que doeria, muito, e tentaram me tranquilizar.
- Ok, enquanto vocês conversavam na sala eu fiz algo para tentar amenizar a sua dor. - Irene me entregou um fraco com um líquido azul.
- Oque é isso? - ela me olhou e sorriu fraco.
- Uma espécie de antídoto, vai amenizar a sua dor, é muito usado em testes nos aboleos. Talvez funcione, mas ainda pode doer. - ela segurou a minha mão. - Acredito em você. - eu sorri para ela novamente.
Logo ela se afastou e se juntou aos outros ao lado da porta, o único que estava ao meu lado era Jin, ele me ajudaria no processo. Bebi o líquido que desceu queimando minha garganta, uma explicação básica foi me dada, me conectar, era só isso. Só isso.
- É como se conectar ao túnel de comunicação de vocês. - Jin se abaixou até ficar na minha altura. - Precisa chamá-lo, e no sinal de qualquer resposta vinda dele, você se liga, é como se segurar na mão dele. - eu concordei.
- E depois? - ele piscou algumas vezes.
- Depois vai doer, muito. - ele sussurrou. - E aí você tem que ser forte, porque enquanto estiver doendo, você vai estar rastreando ele, tem que aguentar pelo menos dez segundos. E já vai ser o suficiente para acharmos ele. - ele segurou a minha mão.
Eu estava com medo, não de doer, ou de entrar em coma, mas sim de não achá-lo. Porque isso significava que ele estava morto. E então nós começamos, eu tinha que me concentrar, e foi isso que eu fiz, imaginei Jungkook no quarto dele, a mestos de distância, como toda noite. Tentei o chamar, uma, duas, três, quatro vezes, e nada dele responder, no fundo eu tinha esperanças de que ele responderia no primeiro chamado, e me dissesse que estava bem e no seu quarto. Mesmo sem muitas esperanças, no sexto chamado ele respondeu, fraco, quase imperceptível.
Como um suspiro no meio da música, e eu o agarrei, o mais forte que consegui.
O antídoto de Irene era forte e poderoso, mas nem ele foi capaz de me impedir de sentir a dor avassaladora que veio segundos depois, eu não precisava falar que tinha o encontrado, todos naquela casa saberiam. Não foi silencioso. Meu cérebro parecia levar um choque, meus músculos se contraiam o máximo que conseguiam e meus pulmões pareciam ser esfaqueados, eu queria desmaiar. Aguentei mais um pouco, até sentir as mãos de Jin nos meus ombros, já tinham se passado os dez segundos, e uma imagem clara se fez presente na minha mente por milésimos de segundos. Uma sala, escura e uma cadeira, quatro pessoa e uma delas tinha uma arma de choque, uma estava na cadeira, amarrada. E então essa visão mudou, me levando até a fonte da nossa casa, ele estava lá, apoiado na fonte, tentando andar até a entrada da casa. No mesmo instante eu me levantei.
- Ou, espera. Não pode sair assim, isso usou muito da sua energia. - Jisoo me impediu de sair da cama.
- Eu estou bem. - me levantei novamente, e todos me observaram, como observam um bebê dando os primeiros passos.
- Oque você viu? - Namjoon perguntou curioso.
- A fonte. - os olhei. - Ele está na fonte, tendo voltar. - Sehun e Irene correram para fora do quarto.
Provavelmente a essa altura todos lá em baixo já estavam ajudando Jungkook a entrar dentro da casa novamente. Como se um copo de água fosse derramado na pia, toda a minha energia saiu do meu corpo, e eu entrei em um estado e exaustão máxima, eu só queria dormir. Voltei para a cama sob o olhar curioso de Jisoo, Namjoon e Jin, eu sabia que Jeon estava vivo e em casa, então eu poderia dormir. Algo que eu não fazia bem a alguns dias.
[...]
Meus olhos tentam se acostumar com a penumbra da noite, lembro de ter caído no sono por volta do meio dia, e já estava no início da noite, pelo menos era oque eu pensava. Meu sistema ainda estava cansado, absorto na multidão de informações e sensações que meu corpo recebeu em tão pouco tempo. Até que lembro o motivo de estar cansada, Jeon Jungkook. Teoricamente ele está de volta, mas preciso ver com os próprios olhos e me certificar de que tudo deu certo. Sinto as batidas desgovernadas do meu coração, era engraçado reparar no que ele me fazia sentir.
Aos poucos eu levantei da cama, parecia que eu estava de ressaca, só espero ficar melhor mais rápido. A casa parecia silenciosa de mais, eles costumavam ficar assim quando já estava tarde de mais, ou quando sabiam que cada um precisava do seu tempo. E ao olhar para o relógio eu percebi que era a segunda opção, desci as escadas e andei pela casa, a única coisa que encontrei foi um bilhete.
“S/N e Jungkook.
Saímos para comprar o jantar. Voltamos logo.
Colônia.”
A letra era de Henry, espero que ele esteja descansado e menos preocupado, ele andava uma pilha de nervos nos últimos dias, era compreensivo. Me sentei na bancada e esperei o chá ficar pronto. Eu queria subir as escadas e entrar no quarto de Jungkook, olhá-lo e conversar com ele por horas, mas aí me bateu um medo. Eu o deixei para trás. As chances dele estar mal, ferido, e sabe-se lá pelo oque ele passou, eram enormes e eu tinha medo de piorar algo que já estava ruim.
As vezes precisamos passar pela escuridão para saber oque brilha em nossa vida. E eu percebi que quando aquela maldita estrela cadente passou no céu novamente à segundos atrás, eu desejei ter Jungkook para sempre em minha vida. Fechei meus olhos e apoiei a cabeça nas mãos. Eu estava perdida, em um caminho onde eu só queria continuar andando sem lidar com as consequências, mas não dava, não mais. Eu amava Jeon Jungkook. Céus, tudo isso era uma grande loucura sem fim.
- Seu chá já está pronto. - levantei a cabeça ao ouvir a voz dele.
O observei por alguns segundos. O rosto tinha alguns arranhões e ele andava devagar com uma das mãos na costela, meu coração bateu em um ritmo doloroso ao ver ele daquele jeito.
- Como você está? - O chá era a última coisa com oque eu me importava agora.
- Bem. - ele deu de ombros e sentou na minha frente.
- Você nunca está bem quando responde assim. - ele não me olhou, apenas manteve os olhos na bancada.
- Eu realmente estou bem. - seu rosto não demonstrava nada, nenhuma sensação. Era como conversar com a parede.
- Onde esteve durante esses dias? Fiquei preocupada. - ele se remexeu.
Jungkook mantinha seus olhos em qualquer lugar, menos em mim, aquilo me deixou estranha. E a sua reação a minha pergunta foi mais estranha do que eu esperava, ele passou a língua pelos lábios, e eu sabia que não ia gostar da resposta.
- Porque se preocupou comigo? - ele sorriu da forma que eu odiava, e amei ver aquilo.
- Porque gosto de você, e me importo com você. - as palavras saíram da minha boca sem a minha permissão. Mas no fundo eu não me arrependia.
Ele finalmente me olhou, seus olhos percorreram o meu rosto durante segundos, até finalmente se prenderem em meus olhos, e ficaram ali por mais alguns segundos, e então a pior parte de tudo veio.
- Eu estava na casa de uma amiga. - e não precisava de muito para saber que não era apenas uma amiga.
- E o papo de ser exclusivo? - ele desviou os olhos mais uma vez.
- O seu chá vai esfriar. - eu fechei os olhos, ele estava mudando de assunto.
Eu tinha que ser exclusiva dele, mas ele nunca seria exclusivo Meu. Ele era Jeon Jungkook, o garoto mais cobiçado de toda a cidade, eu cresci sabendo das histórias que as meninas contavam sobre ele, sobre como ele as fazia pensar que eram especiais e no final, eram só mais uma. Eu devia saber que essa merda não era um conto de fadas, eu não seria especial, e essa história não seria diferente.
- Eu não ligo para o chá Jeon. - meus olhos estavam cravados nele. - Não vai me responder? - ele bufou.
- Quer que eu diga oque? - ele riu sem humor. - Nunca seremos exclusivos S/N, aquilo foi falado da boca pra’ fora. Nós nunca daríamos certo e você sabe disso. - ele falava como se tudo oque aconteceu antes, não passasse de falas ensaiadas.
- Eu não falei da boca pra’ fora. - ele negou com a cabeça.
- Ma seu falei. E desculpe de decepcionar, não posso falar que gosto de você quando eu não sinto mesmo. - frio. O verdadeiro Jungkook estava de volta, aquele com quem cresci e convivi a vida toda.
- Você é inacreditável. - foi a minha vez de rir sem humor.
Ele se levantou, pegou o chá e colocou na minha frente, parou ao meu lado e se abaixou até ficar próximo ao meu ouvido.
- Não fomos criados para sermos compatíveis, gatinha. - aquele apelido me fez sentir borboletas. Ele endireitou a postura, mas permaneceu ao emu lado. - É melhor fingirmos que nada entre nós aconteceu, lidaremos com a descendência de forma madura e responsável. Sem confundir mais ainda as coisas. - sem olhar nos meus olhos ele saiu. Me deixando sozinha na cozinha.
Novamente o ar dos meus pulmões pareciam ter sido arrancados. Ele simplesmente saiu como se tivéssemos voltado no tempo, e fôssemos apenas os dois desconhecidos que conviviam na mesma casa. Acontece que eu não queria voltar no tempo, não queria ser apenas a irmã mais nova do melhor amigo dele. Eu queria mais do que isso. Eu queria ser o abraço que ele procura depois de um dia ruim, queria ser o motivo das borboletas no estômago dele, eu queria que ele pedisse para ficar comigo para sempre quando visse uma estrela cadente.
E pela primeira vez na vida eu me vi verdadeiramente quebrada por um amor não correspondido, e a lágrima que tanto quadrei dentro de mim, finalmente escorreu pelo meu rosto. E então mais uma vez o meu cérebro me lembrou de algo, que por um momento eu esqueci. Jungkook sempre foi e sempre será apaixonado por Rose, e eu nunca terei seleção na vida dele.
Meu maior erro foi deixá-lo crescer dentro de mim, sem ao menos eu existir dentro dele. E mais uma vez aquilo não foi o suficiente para mim, me levantei e andei até as escadas, não podia ser assim, não podia. Parei em frente ao seu quarto e enxuguei o rosto antes de bater na porta. Ele abriu depois de um tempo.
- Não piore as coisa. - foi oque ele disse ao me ver.
- Você não pode estar falando sério Jeon. - ele coçou a cabeça e me deu espaço para entrar.
Eu quase nunca vinha aqui, essa deve ser a segunda ou terceira vez que entro no quarto dele, e sempre tenho a mesma sensação. De que não pertenço a nada ali, que nada faz parte do mundo em que eu criei uma vida entre nós dois.
- Eu estou falando sério. - me virei para ele. - Não da mais para continuar com isso. - ele se aproximou.
- Porque? Deu certo até agora. - ele concordou.
- Dei certo fazer escondido. Acha mesmo que somos compatíveis amorosamente? S/n, não conseguimos passar uma semana inteira sem brigar, sem contar que não quero passar a minha vida toda namorando uma garota escondido. - novamente seus olhos não estavam olhando os meus.
- Olha para mim. - ele relutou. - Olha Jeon! - ele finalmente olhou. - Agora diz que não quer continuar com isso. - ele não disse nada.
- Eu já disse. - passei minhas mãos no cabelo.
- Não me mostre o paraíso e depois o destrua. - ele respirou fundo, e olhou não meus olhos, e eu temi.
- Então finja nunca ter visto o paraíso.
Foi a sua última fala, olho no olho, como sempre fazíamos.
Ouvimos as nossas vidas inteiras, que um dia encontraríamos o amor verdadeiro é que ele seria o amor de nossas vidas. Nossa salvação e que nunca mais viveríamos tristes, mas as coisa não são assim. Há também um outro tipo de amor, o tipo mais cruel, aquele que quase mata as suas vítimas. Ele se chama, amor não correspondido. E eu sou especialista nele, a maioria da histórias de amor, é sobre pessoas que se apaixonam umas pelas outras. Mas o restante de nós, que nos apaixonamos sozinhos, em uma via de mão única, não temos esse final feliz.
E eu comei a desistir do meu felizes para sempre.
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