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História Scars on fire - Reflexos e Revelações - História escrita por puguismo - Spirit Fanfics e Histórias
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História Scars on fire - Reflexos e Revelações


Escrita por: puguismo

Capítulo 4 - Reflexos e Revelações


Fanfic / Fanfiction Scars on fire - Reflexos e Revelações

Serj Tankian P.O.V


Estava quase na hora dos meninos chegarem aqui em casa para aproveitarmos a noite, e tudo estava pronto: as esfirras no forno e eu de banho tomado. No entanto, a casa estava silenciosa sem o Rumi, que ainda dormia em seu quarto. Esse silêncio incomum me deixou inquieto e preocupado.


Subi até o quarto dele e abri a porta devagar, vendo-o ainda dormindo profundamente, algo raro para ele. Cheguei perto e me sentei na cama, começando a acariciá-lo suavemente, tentando despertá-lo sem assustá-lo.


"Rumi, hey, acorda," falei baixinho, tentando despertá-lo. Logo vi seus olhinhos se abrindo devagar, ainda sonolentos.


"Pa-papai?" disse ele baixinho, coçando os olhos. Notei que ele estava mais pálido que o normal, provavelmente com fome.


"Meu amor, estou aqui. Você está bem?" perguntei, fazendo carinho em seus cabelos.


"Tô estranho, papai, muito sono e a barriga dói," ele respondeu, me deixando em alerta. Rumi nunca reclamava de dor; sempre foi saudável.


"Você colocou algo na boca, meu amor?" perguntei, tentando entender o que poderia estar acontecendo.


"Só comi as balinhas do titio Daron que ele deixa pra eu comer, papai," ele disse. As balinhas do Daron nunca causaram problema antes, então descartei essa hipótese. Talvez fosse alguma mistura de comida.


"Entendi. Você quer dormir mais um pouco, meu amor? Os amigos do papai vão vir aqui, se quiser ficar acordado," sugeri, observando-o se ajeitar na cama.


"Dormir, papai. Tô dodói," disse ele, encolhendo-se. Beijei sua testa com carinho.


"Qualquer coisa, desce pra sala, okay?" falei, dando meu mindinho para ele.


"Okay, papai," ele respondeu, e fizemos nosso juramento de mindinhos.


Saí do quarto devagar e fui ao banheiro ajeitar minhas roupas. Penteei meu cabelo para trás e ouvi um barulho na porta. Desci as escadas e olhei pelo olho mágico, vendo os meninos, todos juntos.


"Oi!" disse, abrindo a porta e abraçando todos.


Todos me cumprimentaram e Daron se pendurou em mim, como de costume. John trouxe cervejas, e percebi que provavelmente ficaria um pouco alterado, já que sou fraco para bebidas.


"Já percebi que a casa tá quieta, mermão. O que tá pegando?" perguntou Shavo, com seu jeito direto.


"Rumi tá doente. Hoje ele ficou dormindo o dia inteiro," expliquei, me sentando. John também se sentou.


"Deve ser virose. As minhas ficaram assim também por dois dias. Foi tenso segurar os vômitos, mas já já passa," disse John, pegando uma cerveja e abrindo.


"Opa, aceito," disse Daron, se sentando. Ouvi o barulho do forno e fui buscar as esfirras.


"Mentira que você fez essas delícias de esfirras?" disse Shavo, vendo-me chegar com a bandeja, sorrindo de orelha a orelha. Ele amava esfirras.


"Só pra vocês," falei, sorrindo e colocando a bandeja na mesa.


Me sentei ao lado de Daron, que me encarou profundamente.


"Que merda aconteceu?" perguntei baixinho, enquanto Shavo e John conversavam.


"Meu pai, ele voltou," disse Daron, deixando-me gelado.


"O Vartan?" perguntei, assustado.


Ele assentiu e voltamos a conversar com os meninos como se nada tivesse acontecido.


Flashback on


Cheguei perto de Daron e sorri depois de pintarmos a parede do prédio abandonado.


"Ficou perfeito, Daron," falei, assinando meu nome abaixo do dele.


"Ficou foda. Vamos, meu pai não pode nos ver aqui, se não já sabe," disse ele, pegando a mochila e indo embora.


"Espera," tirei uma foto com minha Cybershot antes de sair com Daron.


Estávamos na rua da casa dele, não muito longe de onde pintamos. Daron acelerou o passo e logo chegamos. Entrei junto com ele.


"Silêncio, ele chegou," disse Daron, vendo o pai pintando na sala.


Fiz um sinal positivo com a mão e entramos de cabeça baixa.


"Daron," chamou Vartan, e Daron xingou em silêncio.


"Sim, pai," respondeu ele, de olhos fechados.


"O que Serj está fazendo aqui?" por alguma razão, Vartan me odiava. Já o ouvi dizendo que eu era um terrorista, que meu sangue era podre, mas eu não ligava. Ele era só uma pessoa ruim.


"Ele veio pegar algumas coisas dele," disse Daron, dando uma desculpa.


"Não quero terroristas na minha casa. Amanhã você entrega na sua faculdade ridícula de música," disse Vartan, se aproximando de mim. Fiquei pálido.


Ele me deu um tapa no rosto, e Daron gritou.


"PAI, VOCÊ TÁ MALUCO?" Daron colocou a mão no meu rosto. Estava ardendo muito.


"Não quero ver vocês dois juntos. Meu filho de sangue puro andando com um árabe, um terrorista como você. Seu pai e sua família são uma praga para este país," gritou Vartan, olhando diretamente para mim.


Daron ficou quieto e me puxou para fora de casa.


Flashback off


"SERJ!" ouvi Daron me chamando e voltei à consciência.


"Opa, o que vocês estavam falando?" perguntei, pegando uma cerveja e bebendo.


"O Rumi está chorando no quarto. Não estava ouvindo?" disse Shavo, me oferecendo um trago no baseado.


Eu traguei, tomei um gole longo de cerveja e corri para ver meu príncipe. Meu coração se apertou; ele estava muito estranho.


Subi as escadas e abri a porta do quarto dele.


"Amor, calma, papai tá aqui," Rumi estava chorando, e me sentei na cama para abraçá-lo. Ele estava muito quente e suando frio.


Era um choro de dor, ele não conseguia parar. Decidi que era hora de levá-lo ao hospital.


Peguei um casaco dele e o carreguei cuidadosamente até a sala, tentando acalmá-lo. Desci as escadas e os meninos me olharam com preocupação.


"Vou levá-lo ao hospital. Alguém avise a Angela, por favor," pedi. John disse que avisaria, e saímos para a garagem.


Coloquei Rumi no banco da frente, tentando deixá-lo o mais confortável possível. Ele começou a ter ânsia de vômito, então peguei uma sacola para ele segurar.


"Calma, meu amor. Estamos indo para o médico. Você vai melhorar rapidinho," disse, tenso, ligando o carro e dirigindo até o hospital.


...


Chegamos ao hospital rapidamente devido ao meu desespero, e logo me sentei com o Rumi encolhido em mim, gemendo baixinho de dor. Peguei a senha e esperei, odiando cada segundo naquele lugar que sempre me trouxe traumas, medo e pavor.


Enquanto esperávamos, observava as outras crianças passando mal, uma visão que cortava meu coração como facas afiadas. Se pudesse, eu pegaria toda a dor daquelas crianças inocentes e sofreria por elas.


Logo, o nome do meu filho foi chamado, e fui rapidamente até a sala do médico.


"Boa noite, senhor Tankian, me chamo Robert Bourdon," disse o médico de cabelos longos, um pouco mais alto que eu.


"Boa noite, doutor. Meu filho está passando mal desde a manhã. Não sei o que pode estar acontecendo, porque ele não comeu nada de diferente. Ele está sonolento desde cedo e, agora à noite, estava gritando de dor," falei, desesperado e preocupado com meu filho.


"Calma, senhor Tankian," disse ele, anotando as informações no computador. Comecei a lacrimejar, sentindo que não tinha protegido meu filho o suficiente.


"Serj," falei.


"Oi?"


"Me chama de Serj," disse, nervoso, sacudindo o Rumi para ninar ele.


"Me chama de Rob, Serj," respondeu ele, pegando o aparelho para medir a pressão do Rumi. Ele olhou para mim e sorriu, me acalmando um pouco.


"Acho que ele está sonolento de novo," falei, dando um soluço e colocando Rumi sentado na maca.


"Vou medir a pressão dele, depois escutar o coração e, por último, ver a garganta e os olhos," disse Rob, colocando o aparelho de pressão no braço do Rumi. Segurei a mãozinha dele.


"Papai, tô com medo," disse ele, olhando para mim, e uma lágrima caiu.


"Calma, amor. O médico é bonzinho e vai cuidar de você," quando falei isso, Rob pegou um fantoche e começou a brincar com o Rumi, fazendo-o rir. Também sorri. Rob parecia ser uma boa pessoa.


Ele mediu a pressão do Rumi rapidamente, pois ele ficou quietinho, e Rob sabia lidar com ele junto comigo.


"Serj, a pressão dele está muito baixa," disse ele, anotando no prontuário.


Engoli a seco, e Rob pegou o palitinho para ver a boca do Rumi.


"Sintomas de infecção. Ele está com os lábios brancos e a pressão baixíssima. Vamos colocá-lo na maca, pois ele vai desmaiar," disse ele, escutando o coração do Rumi. "Está acelerado."


"Ai, meu Deus... Ele nunca teve isso," falei baixinho, e Rob percebeu minha preocupação.


"Fica tranquilo. Vou ficar responsável por ele. Você pode acompanhar a gente," disse ele, guardando as coisas. Peguei Rumi no colo.


Rob abriu a porta de emergência e o segui até o leito, onde coloquei Rumi na cama.


"Vou fazer exame de sangue nele, Serj. Acho que ele comeu algo. Isso está parecendo infecção ou alta dosagem de alguma coisa," disse Rob, pegando a bandeja com a seringa e o torniquete.


Rumi tinha pavor de agulhas, assim como eu. Esperava que ele não se assustasse.


"Ele tem medo de agulhas, e eu também," falei, indo para o outro lado da cama para fazer carinho nele. Rob olhou para mim.


"Calma, vai ser só uma picadinha. Vou distraí-lo," Rob pegou uma pistolinha de sabão e entregou ao Rumi. Ele se distraiu vendo as bolhas, e Rob conseguiu tirar o sangue rapidamente.


Quase desmaiei vendo a agulha entrar nele, mas logo voltei ao normal.


"Prontinho. Vou lá analisar e já volto com os resultados. Qualquer coisa," ele pegou um cartão, "meu número."


Ele piscou para mim e saiu, deixando-me com um sentimento estranho, mas bom. Não soube explicar.


Ignorei isso e voltei minha atenção para meu filho.


"Calma, Rumi. Papai tá aqui."


Ele se encolheu, e eu o abracei. Apaguei as luzes, ficando apenas com a iluminação do corredor. Meu celular começou a tocar. Eram os meninos, mas mandei uma mensagem rápida no grupo dizendo que depois explicaria.


Angela me mandou mensagem, mas ignorei. Ela estava em Milão, apresentando a nova coleção da Victoria’s Secret, então não poderia vir.


Desliguei meu celular e abracei Rumi, que se acalmou. Comecei a cantar baixinho a música que escrevi só para ele, em tom sereno e calmo, vendo seus olhinhos se fecharem lentamente.


...


Rob voltou e eu liguei as luzes. Ele se aproximou com os olhos arregalados.


"Serj, nada bom," disse ele, segurando um papel na mão. "Ele está com intoxicação, alta dosagem de calmante. Vamos ter que fazer uma lavagem para tirar tudo isso dele antes que absorva mais e ele... entre em coma." Rob me olhou nervoso.


Eu fiquei pálido, tentando imaginar onde Rumi teria comido algo assim, mas nada me veio à mente.


"Posso ficar com ele durante a lavagem?" perguntei, vendo Rumi dormindo.


"Olha, os médicos não costumam permitir que os pais acompanhem os filhos durante esse procedimento. Eu normalmente não permitiria, mas... vou abrir uma exceção para você," disse ele, indo até Rumi e preparando a mesa.


"Vai ser feita aqui?" perguntei, confuso. Rob fechou a porta e as cortinas para começar o procedimento.


"Sim, coloque uma touca, um avental, lave as mãos e vem aqui que coloco as luvas em você," disse ele, entregando a touca e o avental. Fui até o banheiro.


Me olhei no espelho, tenso, tentando imaginar onde Rumi teria achado calmantes. Eu não tomava calmantes, Daron não tomava calmantes, ninguém tomava calmantes. Onde ele achou isso?


Prendi meu cabelo, coloquei a touca, o avental e lavei as mãos.


Fui até Rob, e ele colocou as luvas em mim. Senti suas mãos quentes, causando arrepios estranhamente bons.


Ele colocou as luvas nele também, e logo vi a enfermeira chegar. Sentei-me ao lado de Rumi.


Rob se preparou com a máscara e começou o procedimento. Rumi estava tão anestesiado pela dor que nem se incomodou, ficando quietinho durante todo o processo.


O procedimento foi angustiante. Rob inseriu um tubo cuidadosamente, explicando cada passo para me tranquilizar. Vi o líquido começar a sair, e a enfermeira o coletava em recipientes. Meu coração estava apertado, mas ver Rob tão profissional e cuidadoso me dava um pouco de paz.


"Serj, você está fazendo um ótimo trabalho ficando aqui com ele," disse Rob, olhando para mim por cima da máscara. Seus olhos transmitiam uma calma que eu precisava desesperadamente.


Eu apenas acenei, sem conseguir falar. Meus olhos não se desviavam de Rumi.


Depois do que pareceu uma eternidade, Rob finalmente removeu o tubo e se afastou para dar espaço à enfermeira, que limpava Rumi com gentileza.


"Pronto, agora ele precisa descansar e monitorar sua recuperação," disse Rob, retirando as luvas e se aproximando de mim. "Fizemos tudo que podíamos por agora."


"Obrigado, Rob," disse, sentindo uma mistura de alívio e exaustão.


"Vou deixar você aqui com ele. Qualquer coisa, estou logo ali fora." Ele colocou uma mão no meu ombro, um gesto de apoio que me conforta mais do que ele imagina.


Fiquei ao lado de Rumi, segurando sua mãozinha, cantando baixinho para ele enquanto suas pálpebras pesadas finalmente se fechavam. O amor e a preocupação por meu filho me envolviam completamente. Eu sabia que o pior havia passado, mas ainda sentia uma tensão em meu peito.


Mais tarde, Rob voltou com resultados adicionais e algumas recomendações. Sentamos juntos, discutindo os próximos passos para garantir a recuperação completa de Rumi. A presença de Rob era um alívio constante, sua calma e profissionalismo me dando força para enfrentar o que viesse a seguir.


Rumi dormia tranquilo ao meu lado, e eu finalmente conseguia respirar um pouco mais aliviado, sabendo que ele estava em boas mãos e que eu não estava sozinho nessa batalha.


...


Estava sentado na cadeira ao lado do Rumi. Nós dois dormimos no hospital. Bem, ele dormiu, e eu tirei uma sonequinha. Liguei meu celular. Rumi ainda sob o efeito dos remédios para dor, e a preocupação não me deixava em paz. Ele dormia serenamente, o que me permitia relaxar um pouco.


Havia mensagens de Daron e Angela. Daron perguntava o que havia acontecido, e eu expliquei que Rumi havia ingerido uma dose forte de remédio, mas não sabia como ele conseguiu isso. Angela enviou muitas mensagens, me ameaçando e dizendo que eu era um pai péssimo. A culpa me esmagava; como não percebi ele colocando remédio na boca?


Respondi que ele já estava bem. Angela insistiu que Rumi ficaria um bom tempo sem me ver, e a angústia apertou meu coração. Deixei o celular de lado e apoiei a cabeça na maca, tentando descansar.


A porta se abriu, e vi Rob entrando.


"Ei," disse, cansado, olhando para ele.


"Noite longa, hein," disse ele baixinho, sentando-se ao meu lado. "Tirei uns minutinhos de folga, trouxe uma coisinha para você."


Ele pegou uma sacolinha de pão, e vi que era pão integral com recheios naturais. Como ele sabia?


"Obrigado, como você sabe que não como coisas não naturais?" perguntei, tímido, pegando o pão. Ele sorriu.


"Minha irmã é obcecada pela sua banda. Ouvi dizer que você era vegano um dia desses, então percebi que estava muito tempo aqui e trouxe algo para você comer," disse ele, cruzando as pernas e prendendo o cabelo, deixando-o igual ao meu.


Fiquei corado e sorri.


"Obrigado mesmo," falei, começando a comer. Ele me olhou, e eu o encarei.


Meu coração amoleceu quando olhei para ele. Esqueci de tudo naquele momento: do Daron, das minhas dúvidas sobre mim mesmo, de tudo. Mas logo voltei ao normal e continuei a comer.


"Você tem família? Tipo, além dele?" perguntou Rob, apoiando as pernas no banquinho à frente.


"Não, moro sozinho, e ele mora com a mãe. Sou separado, mas ele passa bastante tempo comigo. Somos uma baita duplinha," disse, sorrindo e olhando para o Rumi. "E você?"


"Eu... também não tenho. Nasci na Armênia, minha casa foi invadida e mataram toda minha família. Consegui fugir e ir para um abrigo, onde fiquei até os 18 anos. Depois fiz pediatria e medicina," disse ele, respirando fundo e me olhando. "Seu trabalho pela Armênia é tão bonito."


Fiquei feliz ao ouvir isso. Poucos dos meus seguidores apreciavam toda a manifestação que faço. Todos os meses, doo um pouco para as instituições de lá; digamos que sou um semi-ativista.


"Meu avô, uma das minhas maiores inspirações, é refugiado de lá, e meus pais são do Líbano, como eu."


Rob sorriu.


"Que legal," comentou, levantando-se.


Entreguei meu lixo para ele, e ele foi até a lixeira jogar fora. Vejo que Daron estava ligando e peguei o celular.


"Oi, Daron," falei bocejando.


"Oi, Serj, ainda está no hospital?"


"Sim, acho que vou ter que ficar aqui hoje. O Rumi teve que fazer uma lavagem, mas está tudo bem agora," disse calmamente, acariciando os cabelos do Rumi.


"Vou aí, ok?" disse ele, provavelmente sorrindo. Ele estava preocupado.


"Ok, vou adorar," falei, também sorrindo, sentindo uma sensação de conforto quando ele disse isso.


Desliguei a ligação, e Rob voltou a se sentar.


"Vou ter que trocar de roupa, você se incomoda?" disse ele, olhando para mim profundamente.


"Não, tá tranquilo," respondi, sorrindo simpático, ainda cheio de sono.


Ele se levantou da cadeira, virou-se para a parede e tirou a jaqueta e a blusa de baixo, ficando sem blusa. E, senhor...


Eu nunca admirei tanto um corpo masculino. Ele era forte e bem musculoso, e aquele peitoral... confesso que quase babei ao olhar aquela imagem.


Senti uma excitação marcando na calça e rapidamente desviei o olhar, tentando esconder. Ele trocou de roupa, ficando apenas com uma blusa branca e uma jaqueta por cima.


"Esses plantões fazem a gente suar muito," disse ele, guardando as roupas na mala.


"Imagino," falei, corado.


Se antes eu estava confuso, agora estava ainda mais. Por que me senti atraído por aquele corpo? Por que cheguei a ficar excitado? Senhor, eu precisava falar isso com o Daron.


"Qualquer coisa, já sabe, me liga. Vou atender alguns pacientes e depois volto para ver o Rumi," disse ele, sorrindo.


"Tudo bem," falei, olhando para ele e logo voltando a olhar para o Rumi.


Ele saiu da sala, me dando um sorriso, e eu retribuí.


Médicos como o Rob são raros de encontrar, tão prestativos e dedicados, como um verdadeiro profissional deve ser.


...


Tinham se passado uma ou duas horas, e vejo um movimento familiar no corredor. Logo a porta se abre.


"Serj, você tá aqui?" diz Daron, colocando a cabeça na porta. Dou uma risada vendo isso, achei tão fofo.


"Ei, Daron, tô aqui," digo, sorrindo. Ele fecha a porta e vem até mim. O quarto estava escuro porque Rumi ainda estava dormindo.


"Está tudo bem agora? Fiquei muito preocupado," diz ele, calmo, se sentando do meu lado e me entregando um café bem quentinho, um cappuccino muito bom. Ele sabia que eu amava.


"Obrigado, está sim. Ele se sentiu mais aliviado depois da lavagem," falo, dando um gole no café e sentindo minha cara esquentar. "E o médico é muito bom também."


"Que bom. Foi algo que ele comeu? Achei estranho acontecer tudo isso. A única vez que vi ele no hospital foi quando ele nasceu," diz Daron, apoiando os pés na cadeira.


"Não sei, isso que eu acho estranho. O médico fez um exame de sangue e deu como se ele tivesse tido uma superdosagem de calmante, só que... eu não sei onde ele pode ter arranjado," falo, olhando para Daron.


"Nossa, que estranho," diz ele, me entendendo.


Ficamos um pouco em silêncio. Senti uma paz no meu coração quando ele estava aqui nesse momento. Mesmo tudo tendo se acalmado, Daron trazia uma paz incrível para mim. Ele era uma das minhas lacunas.


"Vou ter que ver meu pai hoje," diz ele, tenso. "Eu tô com medo, Serj," ele olha para mim com os olhos preocupados.


"Calma, Daron, vai dar tudo certo. É normal ter medo," digo, tentando acalmá-lo.


"Sim, Greg disse que é besteira isso, que eu estava sendo dramático," diz ele, abaixando a cabeça.


Sinto uma pontada de raiva e logo levanto o olhar do Daron com a ponta dos meus dedos e ele me olha.


"Você sabe que é mentira, não é? Eu conheço você. Você é o garoto mais forte que eu conheço e sabe que seu pai é um demônio na terra," digo, vendo ele sorrir, e dou um sorriso também.


"Você tem razão," diz ele, dando uma animadinha.


"Se quiser que eu vá com você, é só falar, okay?"


"Okay, combinado," diz ele, me olhando mais animado e feliz.


Respiro fundo e fecho os olhos, resolvendo falar.


"Daron, quando você ficou apaixonado pela primeira vez, você ficou como?" digo, vendo ele se virar para mim e se deitar na cadeira.


"Ah, foi bom, uma sensação única de paz e quando eu chegava perto ficava todo tímido, sem jeito," diz ele, me olhando. "Se apaixonou por quem? Não iria perguntar isso à toa."


Me sinto encurralado quando ele pergunta isso e abaixo a cabeça.


"Eu... não sei o que estou sentindo. O médico que atendeu a gente foi super gentil e eu senti algo, não sei o que, mas fiquei tipo com curiosidade? Eu não sei como descrever," digo, sentindo minha cabeça embaralhada.


Daron me olha com um misto de surpresa e compreensão.


...


Daron Malakian P.O.V


Quando Serj diz isso, sinto meu coração se contrair e arder por dentro. Eu tinha caído em uma fossa, mentalmente falando.


"Oh, aqui tem algum banheiro?" falo, me levantando e sentindo as lágrimas virem nos meus olhos.


"Ali do lado," diz ele, vendo minha reação e logo fazendo uma cara de preocupado. "Está tudo bem?" ele coloca a mão na minha, me vendo ficar mais gelado que o normal.


"Tô, só vou usar o banheiro."


Me levanto e vou com pressa para lá, tranco a porta e começo a chorar.


"Não, não, não, não..." falo baixinho, negando que Serj estava sentindo algo por alguém e que provavelmente ele estava apaixonado.


Começo a chorar silenciosamente, soluçando, e sinto meu delineado borrar enquanto choro.


"Que... merda," falo baixinho, soluçando.


Eu me arrependo de não ter confessado tudo que sinto para ele. Que inferno, agora está tudo tão difícil do que já foi.


Fico em silêncio e sinto uma voz mais grossa entrar no quarto, provavelmente era o médico.


Coloco o ouvido na porta e fico em silêncio.


"Está estável, foi um ótimo procedimento," provavelmente ele estava vendo o Rumi.


"Você é um ótimo médico, acho que se não fosse você, Rumi teria piorado muito. Não sei como agradecer," diz Serj, totalmente grato. Só pelo tom de voz dele eu sentia isso.


"Pode me recompensar com um café, amo tomar café em uma cafeteira próxima," diz o médico.


"Ah, Rob, está se oferecendo para sair comigo?" diz Serj, provavelmente sorrindo.


Rob... Rob... O BOURDON?


Saio imediatamente do banheiro e os dois olham para mim.


"Daron?" diz Rob, me olhando.


Eu já tinha dormido com ele, e sei que Serj tá correndo perigo. Aquele cara é totalmente um psicopata e violento.


"Oi," falo seco, olhando para ele. Ele tinha me quebrado todo quando recusei ter um relacionamento com ele.


"Vocês já se conhecem?" Serj pergunta para o Rob.


"Já sim, somos conhecidos," digo, olhando para Serj. "Rumi vai sair quando?" digo, mudando o assunto.


Vejo o Rob me encarando e depois olhando para Serj.


"Diz o Rob, que ele vai poder sair assim que acordar. Foi só um susto mesmo," diz Serj, fazendo carinho na cabeça do Rumi.


Me sento e vejo que o Rob se aproxima do Serj.


"Você é um ótimo pai, creio que você vai dar todo apoio para o Rumi," diz ele, apoiando a mão dele no ombro do Serj.


"Obrigado, Rob," diz Serj, sorrindo, e logo o Rob sai.


Vejo ele saindo da sala e olho para Serj.


"Lembra aquela vez, que eu quebrei meu braço e fiz pontos na minha cabeça, que você me levou pro hospital?" falo, olhando para baixo. "Foi ele que fez aquilo tudo comigo."


"O quê? Vou falar com ele agora, quem ele acha que é para fazer isso com você?" diz ele, indignado, e impeço ele de levantar.


"Não faz isso, já passou. Não quero tudo de volta," digo, fazendo Serj se sentar.


"Eu... não sabia disso. Por que não me contou quando aconteceu? Eu iria atrás dele," diz ele, alterado, olhando para mim.


"Porque eu sabia que você cairia na porrada com ele, que iria falar um monte e ele iria te machucar, Serj. Eu já te falei isso, não quero que você resolva os meus problemas tipo isso," falo, olhando para ele.


Ele dá um sorriso quando falo isso.


"Mas... me avisa na próxima, okay?" diz ele, se acalmando, me olhando.


"Okay, Serj," digo, desanimado.


"Vigia o Rumi? Quero descansar um pouco," diz ele, sorrindo cansado, levantando e indo para o sofá.


"Nem precisa pedir," falo, feliz em fazer um favor para ele.


...


Serj estava dormindo serenamente no sofá, e vejo o Rumi acordando devagarinho.


"Bom dia, guerreiro" falo com um sorriso no rosto, vendo ele abrir os olhinhos. Ele era idêntico ao Serj, a única diferença era que ele puxou o cabelo liso da Angela. De resto, eram iguais.


"Bom dia, titio Daron" diz ele, sorrindo e ainda sonolento.


"Acho que você já está melhor, está sorrindo" falo, fazendo carinho na barriguinha dele.


"Estou sim!" diz ele, animado. "Aquele médico malvado foi embora, tio Daron?" pergunta Rumi, segurando o edredom.


"Malvado?" repito, curioso.


"Sim, titio, ele me espetou todo" diz ele, inocentemente. Dou um sorriso.


"Mas foi preciso, Rumi, para você ficar bem" digo, sorrindo e olhando para ele.


O Rumi era tão único; eu já o considerava como um filho ou um irmãozinho mais novo. Eu cuido dele desde que era um bebê. Aquelas olhinhas de jabuticaba enormes... Lembro do Serj sempre brincando, dizendo que pareciam com os meus.


Respiro fundo e faço cócegas nele. Logo vejo o Rob chegando novamente.


Me levanto e o puxo para conversar no corredor.


"Eu já entendi o que você quer fazer com o Serj. Se você triscar um dedo nele, deixar um roxo, você morre. Eu corto seus cabelos e faço você comer" digo, olhando na alma dele, com um pouco de raiva na minha voz.


"Oh, Daron, está vendo o que perdeu e agora quer de volta? Está com ciúmes?" diz ele, debochado. "Se manca, tampinha, já passou a nossa época. O que eu deixo ou não de fazer não te importa" diz ele, entrando no quarto. Eu o olho com chama nos olhos.


Entro no quarto e me sento ao lado do Rumi, segurando a mãozinha dele.


"Médico, você sabe tocar 'quitarra'?" pergunta Rumi, olhando o Rob tirar o soro. Ele falava guitarra errado, achava tão fofo.


"Sei não, pequenino. Guitarra é muito difícil de aprender. Considero quem toca como a pessoa mais inteligente do mundo" diz ele, fazendo o curativo.


Rumi me olha e dá um sorriso, e eu dou um sorriso de volta. Então, quer dizer que sou inteligente.


Rob sai do quarto e vejo que consigo deitar um pouco a cadeira para ajeitar minhas costas.


Me ajeito e fico com o Rumi até ele dormir novamente.


...


Era de manhã e acordo com o sol na cara. Vejo que estava no sofá; até onde sei sobre mim, ainda não sei voar.


Olho para os lados e vejo Serj sentado ao lado do Rumi, brincando com ele.


Quem me colocou no sofá?


"Bom... bom dia" digo com a voz arranhada.


"Bom dia, Daron!" diz Serj, animado.


Me levanto e vou até eles, com a cara emburrada e inchada de sono.


"Acordei no sofá. Quem me colocou lá?"


"Eu. Você estava tão cansado, dormiu em cima do Rumi protegendo ele. Achei muito bonita sua atitude" diz ele. Quando ele fala isso, coro. Só de imaginar o Serj me carregando nos braços, me dá um arrepio bom e fico envergonhado.


"Ob-obrigado" digo claramente tímido, e ele olha para mim e dá um sorriso.


Vejo que o Rumi estava desenhando junto com o Serj. Ah, as manias do Serj de sempre carregar um bloquinho de notas...


Vejo que o Rumi tinha desenhado eu e o Serj cantando, e dou um sorriso.


"Que incrível, Rumi" falo, chegando perto dele e fazendo carinho na cabeça dele. Logo Serj dá um sorriso.


"Obrigado, tio Daron. Toma, é pra você" diz ele com voz doce, me entregando o desenho. Guardo com todo carinho no bolso.


"Parece que temos um fã número um aqui" diz Serj, fazendo cócegas nele, e o Rumi dá risadas gostosas.


"Eu te amo, papai" diz Rumi, se ajeitando na cama.


"Te amo mais, meu filho tão amado" diz Serj, o abraçando. Fico todo feliz com essa cena e sinto Serj me puxar para o abraço também.


Abraço os dois, passando todo o meu amor e sentimentos para eles.


Desfazemos o abraço, e logo Rumi começa a querer sair da maca.


"Papai, posso sair? Eu não tô querendo ficar deitado, quero brincar" diz ele, balançando as perninhas agitado.


"Tem que esperar o médico, Rumi. Calma, já já vamos brincar juntos, ok?" falo, sorrindo. Me sento ao lado dele e ele concorda com a cabeça, animado.


"Ele está demorando muito. Vou chamar ele na sala" diz Serj, se levantando. Solto um barulho de incômodo.


Se fosse por mim, teria saído sem esse palerma do Rob saber. Rumi está bem, está totalmente bem.


...


Estávamos na casa do Serj, na cozinha, enquanto ele arrumava o cabelo do Rumi depois do pequeno ter tomado um banho.


"Prontinho, meu amor. Olha para mim" diz ele, sorrindo, colocando o pente na mesa depois de fazer um coque nele. "Está perfeito."


Rumi sorri, e Serj também, e os dois se abraçam.


Rumi sai da cadeira e vai para a sala, e Serj se senta. Eu estava vendo ele de longe; ele estava brincando com os brinquedos na sala.


Vejo Serj fitando a mesa, pensativo.


"Então... Sobre meu pai... Você poderia ir comigo? Estou com medo" falo, vendo ele me olhar.


"Po-posso... Claro. Espero que não aconteça nada, Daron. Se ele for para cima de você, eu vou te defender a todo custo" diz ele.


Dou um sorriso.


"Obrigado por estar sempre do meu lado, Serj... Posso fazer o almoço hoje? Você deve estar exausto" digo, olhando para ele com ternura e um olhar apaixonado.


"Ah, Daron, obrigado. Iria adorar" diz ele, sorrindo.


Me levanto e vou até ele, pegando uma borrachinha de cabelo que ele sempre tinha no pulso.


Prendo o cabelo dele, fazendo um coque igual ao do Rumi, e olho para ele.


"Estão iguais agora" dou um sorriso, e ele também.


"Só você para me fazer sorrir assim" diz ele, me olhando.


Vou até a despensa e pego algumas coisas que iria usar para fazer um prato árabe que ele me ensinou, somente de vegetais. Acho que se chama falafel, falavél, não sei. Só sei que ele ama os bolinhos com patê.


Estava de costas para ele e sinto ele respirar fundo, tenso. Ele estava querendo falar alguma coisa.


"Pode falar, Serj" digo, já imaginando o assunto.


"Eu... não entendo, Daron. Por que eu iria me descobrir gay agora? E, merda, ficar apaixonado pelo médico do meu filho... Tenho que parar de mentir para mim mesmo. Eu estou apaixonado por aquele cara, mas, eu não sou gay, não é?" Sinto ele me olhar.


Fico uns segundos em silêncio e fecho os olhos.


Ele se abrindo desse jeito para mim, falando com todas as palavras que estava apaixonado, meu peito se contraiu em uma dor absurda, me fazendo respirar fundo. Que maldito pesadelo... Por que eu não tentei? Por que eu não falei nada com ele?


"Daron?" Ele me chama, e eu abro os olhos.


"Ah, pode ser, né? Você pode tentar algo, sei lá, se vestir como a Serjie, uma noite na balada, creio que não vai te matar, certo?" digo, nervoso, gaguejando.


"Eh... Ser a Serjie está fora de plano, mas... posso tentar marcar um encontro, não é? Tipo, se eu for gay, vou ter certeza, não vou?" diz ele, pensando.


"Sim, você terá certeza" digo, seco.


"Eu... falei algo de errado? Sinto que você está meio alterado" diz ele, cuidadoso.


"Não, estou normal" digo, forçando um sorriso e colocando os bolinhos para fritar. "Está tudo numa boa."


Me viro e fico olhando para o Serj.


"Vai ir no cara que justamente disse, com todas as palavras, que me bateu, me machucou e quebrou meus ossos?" digo, olhando fixamente para ele, uma mistura de raiva, decepção e perda me atingindo no rosto, me fazendo ficar levemente alterado.


"Daron, faz dois anos, eu acho. Creio que as pessoas podem mudar. E, aliás, eu te avisei sobre o Greg, e você ainda está com ele" diz ele, sorrindo. Não consigo engolir o que ele disse.


"Só saiba que, se Rob te machucar, eu vou falar 'eu te avisei'" digo, me virando e tirando alguns bolinhos, colocando outros.


"Se Greg for o merda que eu te falei, você vai escutar a mesma coisa e vai me dar 100 dólares" diz ele, sorrindo, debochado.


"Feito" falo, colocando os bolinhos na mesa. Era uma receita rápida.


Me sento e vejo o Serj feliz, e logo ele chama o Rumi.


"Ah, me esqueci do patê" falo, me levantando, indo na geladeira e pegando um potinho do que tinha sobrado na noite anterior.


"Esses bolinhos estão maravilhosos, porra, Daron" diz Serj, de boca cheia, me elogiando.


Fico envergonhado e coro as bochechas.


"Para te agradar e te deixar feliz, Serj" digo, me sentando e sorrindo.


Rumi se senta e começa a comer também.


Era incrível que, depois de uma conversa tensa, sempre conseguíamos quebrar o gelo e finalizar em paz.


...


Serj Tankian P.O.V


Daron estava no meu quarto depois de almoçarmos, se arrumando para ver o pai dele. Eu estava no canto, colocando meu sobretudo, enquanto ele se olhava no espelho.


Toco no bolso do meu sobretudo e vejo que o diário do Daron ainda estava lá. Coloco na minha gaveta enquanto ele estava distraído; hoje à noite iria ler.


Vou até ele para me ver no espelho, arrumo minha roupa e dou um sorriso. Pego meu perfume e passo, e logo o Rumi entra, já arrumado. Ensinei ele a se arrumar sozinho recentemente, mas amo ajudar a colocar as roupas quando ele não sabe.


"Está lindo, meu filho. Parece o papai" falo sorrindo, pegando meu filho e fazendo cócegas.


"Eu que escolhi" diz ele orgulhoso.


"Um bom gosto que você tem, pequeno" diz Daron, vindo até ele e fazendo carinho no cabelo dele.


"Obrigado, titio Daron" ele fala, dando um sorriso.


Eu e Daron ainda estávamos de coques. Mais tarde, quando eu for tomar banho, lavo meu cabelo e o do Rumi também.


"Vamos?" pergunto, olhando para o Daron.


Ele fecha os olhos e respira fundo.


Chego perto dele com Rumi nos braços, brincando com meu cabelo, e puxo Daron para um abraço com uma mão. Ele apoia a cabeça no meu ombro.


"Eu vou estar lá... por você" falo baixo e calmo, sentindo uma grande vontade de proteger o Daron de tudo.


Meus sentimentos por ele estavam ainda todos confusos. Creio que devo esperar mais para descobrir o que realmente sinto, tendo experiências com outras pessoas para ver o que é de verdade.


Me afasto e ele me olha.


"Obrigado..." ele sorri timidamente.


"Vamos?" digo sorrindo, e Rumi sorri também.


"Vamos" diz ele, indo na frente.


Descemos as escadas e logo fomos para a garagem. Entramos no meu carro. Coloco o Rumi no banquinho dele e Daron entra no passageiro.


Entro no carro, suspiro fundo com medo do que viria, e ligo o carro.


Saio de casa dirigindo calmamente. Eu e o Daron ficamos em silêncio enquanto Rumi brinca com os brinquedos dele no banco de trás.


Eu e o Daron tínhamos combinado que eu ficaria no carro enquanto ele veria o pai, para não colocar o Rumi em risco e evitar que eu escutasse besteiras.


"Estamos quase chegando... Acho que só vou cumprimentar ele e ir embora, Serj. Eu não quero falar como estou de vida para ele. E se ele descobrir que eu sou drag? Ai, senhor, eu vou morrer" diz Daron, preocupado, e dou um sorriso, olhando para ele.


"Daron, calma, vai dar tudo certo. Qualquer coisa, é só você sair correndo de lá e vir para o carro, okay? Vou estar aqui para te proteger" digo, tentando passar conforto.


"Okay, Serj... valeu" diz ele, se acalmando.


Como eu já disse, Daron é uma criaturinha que você tem que proteger ao máximo. Nunca me perdoaria se acontecesse algo ruim com ele e eu não ajudasse.


Dirijo mais um pouco, passando por mais uma quadra, e chegamos à casa onde o pai dele mandou a localização.


"Casa diferente. Ele vai se mudar para LA?" digo, estacionando na frente da casa.


"Eu acho que sim. Ele voltou de viagem recentemente. Queria que minha mãe estivesse junto..." diz ele, referindo-se à mãe dele.


"A tia Zepur? Saudades dela. Ela fazia bolinhos para a gente quando apanhávamos na escola" digo, lembrando da nossa adolescência.


"Sim. Enfim, vou lá. Espero que seja rápido" diz ele, saindo do carro.


"Boa sorte" falo, sorrindo, e ele dá um sorriso fraco.


Vejo ele entrando na casa e fico com o Rumi no carro.


Começo a pensar nos meus sentimentos, no Daron, no Rob... ah céus, quanta coisa para pensar.


Creio que o fato de eu ter começado a pensar em experimentar para ter certeza é um grande avanço.


Vejo que o cartão do Rob estava apoiado no porta-moedas do carro e resolvo pegar.


Fico encarando brevemente e resolvo agir por impulso.


Será que valeria a pena ser a Serjie de novo?


Um leve medo me sobe e fico apreensivo.


Deixo o cartão de lado, respiro fundo e olho no espelho, vendo o Rumi brincando. Isso acaba me distraindo um pouco.


"Trouxe outro dinossauro, meu amor?" falo, me virando e olhando para ele.


"Sim, papai. Toma" ele me dá um dinossauro vermelho, e começamos a brincar.


...


Daron Malakian P.O.V


Respiro fundo e bato na porta, logo escutando meu pai falando para entrar. Entro e vejo ele no sofá, que me olha e dá um sorriso.


"Daron, como você cresceu!" Ele vem até mim e me abraça. Estranho isso; ele nunca foi de me abraçar.


"Oi, pai." Abraço-o devagar, mas com um pé atrás.


"Eu estava com tantas saudades de você, filho. Falei para sua mãe. Como você está? Te chamei para te ver e para te mostrar minha nova casa em LA," diz ele, animado.


"Estou bem, pai. Aliás, cadê a mamãe?" Pergunto, sentando-me na mesa de jantar na sala, e ele se senta na minha frente.


"Sua mãe está viajando, ainda fazendo esculturas... Você sabe, o de sempre," diz ele, olhando para mim.


Resolvo ir direto ao ponto.


"Você me odiava. Não tem motivos para, depois de anos, me tratar bem do nada. O que você quer? Só porque fiquei famoso quer se aproximar de novo? Não tenho grana para você," digo, olhando-o profundamente, e ele sorri.


"Daron, você não mudou nada. Eu passei um tempo longe e percebi o quão idiota fui como pai, tantas vezes que te fiz mal e..."


"Você me trancava no porão."


"Isso era devido às minhas crises de raiva, filho. Eu quero que você me perdoe e..."


Levanto-me.


"Te perdoar? Você me deixou passar frio no inverno! Eu fiquei o verão todo com a mamãe no hospital porque fiquei doente, POR SUA CAUSA! E VOCÊ QUER QUE EU TE PERDOE?" Falo histérico, lacrimejando ao lembrar das memórias tão doloridas.


"Filho, eu só quero que você me dê uma chance e me perdoe, por tudo. Eu te imploro, Daron. Você é meu único filho. Eu não quero te perder... Me dá uma chance, Daron," fecho os olhos e, mesmo sendo casca dura com os sentimentos dele, me amoleço ao ouvir isso.


Começo a lacrimejar e olho para ele.


"E-eu preciso de um tempinho," digo, abraçando meu corpo.


"Eu entendo, Daron... tudo bem. Mesmo assim, estou muito feliz por te ver," diz ele.


Viro-me e saio da casa correndo até o carro. Entro e me encolho no banco, começando a chorar.


Serj Tankian P.O.V


Vejo Daron entrando de repente e coloco o dinossauro do Rumi de lado, tentando acalmá-lo.


"Hey, hey, Daron, calma, calma," ele estava chorando e tremendo muito.


Vejo que ele estava gelado. Tiro meu cinto e abraço-o para acalmá-lo. Não era de fazer isso, mas ele estava precisando, e também me acolheu quando eu estava mal.


"Calma... respira. Eu estou aqui, okay?" Digo, abraçando-o.


Ele me olha com lágrimas nos olhos, e meu coração se parte.


Pego no porta-luvas uma caixinha de lenços e limpo os olhos dele, saindo um pouco do delineado.


"Calma... viu, passou," falo, segurando o queixo dele e passando o lenço devagar e com carinho.


Ele me olha, soluçando, e eu o abraço novamente.


"Quer conversar em casa?" Pergunto, vendo ele colocar os pés no banco, se encolhendo. Merda, teria que limpar depois.


Ele balança a cabeça afirmando, e me ajeito no meu banco.


Ligo o carro e manobro para sair, escutando o Rumi.


"Papai, o titio Daron vai ficar bem, não vai?" Vejo no espelho ele olhando para o Daron.


"Vai sim, Rumi. Ele está cansado," digo, olhando para ele e voltando a dirigir.


Ele olha para o dinossauro que coloquei do lado dele, pega e entrega para o Daron.


Volto minha visão para a rua, mas escuto o Rumi falando com o Daron.


"Tio, toma para você. Ele vai te fazer companhia. Ele é o Dino feliz." Meu coração se aquece e dou uma olhada para o Daron, que me olha de volta.


Daron abraça o dinossauro, e fico feliz em vê-lo se recuperando aos poucos.


...


Chegamos em casa e desligo o carro, logo escutando o Rumi sair correndo. Tiro meu cinto e olho para o Daron, percebendo que ele estava tendo um surto nervoso.


"Daron... hey," tento tocar nele, mas ele se esquiva.


"Vai embora, me deixa sozinho," diz ele com voz seca e firme.


"Daron, olha para mim," digo, tentando pegar o rosto dele.


"ME LARGA! VAI EMBORA! ME DEIXA SOZINHO!" Ele grita, agarrando minha mão com força e me olhando como se fosse me devorar vivo.


Engulo seco, saio do carro e deixo ele lá. Fazia anos que ele não tinha um surto nervoso; não me lembro mais como acalmá-lo nessas situações. Contudo, lembro que ele começava a escutar vozes e, se perdesse o controle, acabava se machucando. Decido me afastar, mas fico atento.


Entro em casa e sinto que o dia está um pouco frio. Resolvo fazer um caldo verde para mim, Daron e Rumi.


Rumi estava na sala brincando, e fui para a cozinha começar a fazer o caldo.


Daron Malakian P.O.V


Começo a chorar e gritar, me debatendo no carro.


"QUE INFERNO, QUAL O MEU PROBLEMA? POR QUE EU SOU ASSIM, MERDA!!" Grito, engasgando de choro e desespero.


"Olha só, está chorando de novo por causa do seu papai, porém sei que isso vai além do seu pai, Daron," escuto uma das vozes começarem a se manifestar.


"AH NÃO, NÃO, NÃO, PORRA, NÃO! VAI EMBORA!" Sinto-me sufocado e encurralado.


"Encare seu problema de frente, Daron. Está perdendo o Serj, e você sabe disso. O tanto que você estava guardando em você mesmo, o seu pai foi só mais um gatilho para você explodir. Inútil, bem que seu pai falava. Você é uma mariquinha que sempre que tem medo vai falar com sua mamãe."


Começo a chorar, batendo a cabeça na porta do carro freneticamente, e sinto ela arder. Coloco a mão na testa e vejo que ela começou a sangrar.


"Inútil, seu merda."


Começo a chorar sem fôlego.


"Para... por favor..." falo chorando, e logo vejo o Serj correndo de casa e indo até o carro.


Ele abre a minha porta e vê a porta com sangue e minha cabeça machucada.


"Oh, Daron... de novo?" diz ele, me olhando preocupado, e eu olho para ele.


Em um movimento, ele me ajuda a sair do carro, segurando-me de um lado do meu corpo para me dar mais estabilidade. Tento andar.


...


Eu estava deitado na cama do Serj. Depois do surto, ele me acalmou e falou para eu tomar um banho. Tomei e fiquei quietinho na cama dele. Coloco a mão na cabeça, sentindo os curativos que ele tinha feito. Fecho os olhos e respiro fundo.


"Ah, senhor, uma hora eu morro por causa disso," falo de olhos fechados, para mim mesmo, com a mão no rosto.


Eu tinha que perdoar meu pai, mas me causava náuseas lembrar dele, lembrar das coisas que ele já disse e fez, e da lembrança de que ele maltratou tanto minha mãe. Isso me dá raiva; meu ego não me deixa perdoá-lo.


O Serj sempre é um anjo na minha vida. Cada dia que passa, lidar com o sentimento que eu amo ele é mais difícil, principalmente agora que vejo que ele está todo bobo apaixonado pelo doutor lá, aquele merda.


Escuto o Serj subir as escadas e espero ele entrar no meu quarto.


"Voltei!" diz ele sorrindo, com um prato de caldo verde. Só de olhar, minha barriga ronca.


"Que delícia!!" digo animado, pegando o prato.


Começo a comer o caldo, e Serj se senta do meu lado.


"O que aconteceu?" pergunta ele, calmo, me olhando.


"Meu pai... pediu perdão e uma nova chance para provar que ele mudou," digo de boca cheia.


"Oh... sinto que você lembrou das coisas e não perdoou por causa disso," ele fala, me olhando.


"Sim, exatamente isso," falo olhando para ele. Esse armênio sabia ler mentes, só pode.


Ele dá um sorriso acolhedor e me abraça.


"Daron, sempre sendo cabeça dura," diz ele sorrindo, apertando o abraço, depois se afastando.


Vejo o horário no celular e lembro que o Greg iria me ver hoje à noite. Termino de comer rapidamente e me levanto.


"Tenho que ir embora," digo, para piorar eu não tinha avisado que iria passar o dia fora.


"É por causa do Greg, né?" diz ele, e vejo sua expressão mudar um pouco.


"Sim, se ele souber que estou aqui, ele me enforca," falo, rindo nervoso.


"Okay, quer que eu te leve?" diz ele sorrindo e se levantando.


"Bora."


Arrumo-me, colocando minha blusa e ficando com a bermuda do Serj. Coloco meu casaco e saio correndo, com Serj vindo atrás.


Descemos as escadas correndo, e Serj pega o Rumi no colo. Vamos até a garagem.


Entro no carro, e Serj coloca o Rumi na cadeirinha de trás, entrando do meu lado.


...


Serj Tankian P.O.V


Estávamos na frente da casa do Daron e eu estaciono.


"Acho que o Greg não chegou," diz Daron, olhando para os lados.


"Não entendi tanto desespero para voltar," digo, sincero, olhando para ele. "Achei estranho."


"Queria ver ele logo, e também esqueci de avisar que estaria fora hoje," diz ele, desfazendo o cinto. "Tchau, Rumi, tchau, Serj." Ele sai do carro, e eu fico olhando-o ir.


Eu sabia que ele estava com medo de algo, mas não sabia o que era, e isso me preocupava muito. Tenho medo de ele estar em perigo, mas sei que ele disse para não me meter, então não quero me envolver nisso.


Sinto um arrepio e olho para os meus braços, que se arrepiam. Alguma merda estava acontecendo. Decido sair do carro.


"Rumi, fica aqui dentro, papai já volta," falo, encarando a porta da casa dele.


Ele concorda e fica no carro, e eu saio com meu casaco, coloco-o e vou até a porta em passos rápidos. Coloco o ouvido e tento escutar algo:


"Oi, Daron," escuto a voz do Greg, mas... ele não estava com o carro do lado de fora. Como ele chegou?


"Greg? Oi, achei que você viria mais tarde. Não vi seu carro na rua e..." diz Daron, nervoso.


"Você estava com aquele cara, o Serj, não estava?" diz Greg, se apoiando em algo. "E nem me avisa. Me fez ficar esperando o dia todo aqui na sua casa."


"Eu não sabia que você viria cedo, okay? Eu errei, mas você também errou," diz ele.


"Ah, desculpa. Achei que você estaria em casa, em vez de estar com o Serj. Perdão," diz Greg, debochado.


"O filho dele passou mal, okay? Eu não tinha nada para fazer em casa, fui ajudar meu melhor amigo," escuto um barulho de vidro; ele deveria estar bebendo água.


Escuto uma leve risada do Greg.


"Que pena, espero que o filho dele melhore rápido," diz ele, com uma voz levemente debochada.


Me afasto da porta e volto para o carro. Entro e bato a cabeça no volante.


"Papá, você está bem?" diz meu amor no banco de trás.


"Sim, bebê, só estou cansado. Vamos para casa e tomar um banho. Está na hora de dormir," digo, ligando o carro e manobrando para sair.


...


Já estava em casa, ou melhor, de banho tomado na minha cama. Rumi já tinha dormido e eu estava na cama tentando relaxar. Uma dor martelante estava batendo na minha cabeça. Será que devo tentar algo novo? Como o Daron reagiria a isso? Estou com medo de decepcioná-lo e fraquejar nossa amizade.


Passo a mão no rosto esfregando forte e logo pego um copo d'água e um cigarro. Acendo e começo a tragar, sentindo meu corpo relaxar.


"Porra," falo, suspirando, e logo fecho os olhos.


Sinto o vento gelado no meu rosto e fico relaxado e calmo. Acalmo-me e consigo dormir.


...


Acordo sentindo algo ou alguém pulando em cima de mim.


"PAPAI, PAPAI, PAPAI, VAMOS ACORDAR!" Rumi me acorda com sua energia infinita e dou um sorriso de olhos fechados.


Me estico e sinto meus ossos estalarem. Logo abro os olhos.


"Bom dia, meu amor," digo, olhando para Rumi e logo pegando-o para fazer deitar comigo e ataco-o de beijinhos.


"Bom dia, papai!" diz ele, rindo, e dou um sorriso, olhando para ele.


Hoje íamos fazer compras no supermercado. Estava faltando algumas coisas para a gente aqui em casa.


"Vamos fazer compras hoje. Escolha uma roupa bem legal para usar," digo, olhando para ele e dando um sorriso.


"Eu quero o pijama de dinossauro, papai," diz ele, sorrindo, e tenho uma brilhante ideia.


Eu e ele temos pijamas combinando de dinossauro, então usaríamos juntos.


"Dinossauro, eu também irei usar," dou um sorriso. "Rarw," digo, fazendo cócegas na barriga dele, fazendo-o rir ainda mais. "Vai se trocar, meu amor, papai está te esperando."


"Okay, papai," ele sai da minha cama correndo, e dou um sorriso.


Respiro fundo, me levanto, sentando na cama, me levanto rapidamente e vou me arrumar.


...


Entro no carro e vejo que o Rumi já está no banco dele. O pijama de dinossauro que escolhemos é confortável e lindo, e ver a felicidade dele me usando o mesmo pijama é uma fonte constante de alegria. Cada sorriso dele é como uma dose de dopamina para mim, me motivando ainda mais.


Pego uma borrachinha de cabelo, prendo-o em um coque e ajusto o espelho. Olho para o Rumi e dou um sorriso.


"Lá vamos nós, pequenino," digo, ligando o carro e saindo da garagem.


Dirijo até o supermercado mais próximo. Ele tem uma grande variedade de alimentos, e vou aproveitar para comprar algumas besteiras também, porque ninguém é de ferro.


Estaciono o carro e desligo o motor.


"Chegamos, Rumi, vamos," digo, saindo do carro e indo até a porta.


Abro a porta, pego o Rumi no colo e o coloco no chão. Começamos a caminhar para o supermercado.


"Papai, você é um dinossauro enorme," diz Rumi, me olhando, e dou um sorriso.


"E você é o dinossauro mais pequeno e fofo que eu já vi," digo, bagunçando o cabelo dele.


Entramos no supermercado e eu pego um carrinho de compras, colocando o Rumi sentado nele. Vamos em direção à seção de vegetais, e eu começo a fazer caretas para o Rumi enquanto escolho frutas.


Vejo algumas mangas frescas na outra bancada e vou lá para pegá-las. Adoro salada de manga. Pego uma redinha com cinco mangas e escuto uma voz familiar.


"Olha só quem está aqui, oi Serj!" diz Rob, e eu dou um sorriso, colocando as mangas no carrinho e olhando para ele.


Sinto minhas bochechas corarem. Rob está com uma camisa branca justa e calças, com o cabelo preso em um coque. Ele é bem forte, um pouco mais do que eu.


"Oi, Rob! Como você está?" falo, sorrindo, animado em vê-lo ali.


"Estou bem. E esse pequeno? Como está indo?" diz Rob, fazendo carinho no cabelo do Rumi, que o olha.


"Estou bem, tio," diz Rumi, me olhando, e Rob me olha de volta.


"Que bom. Com um pai incrível desse, é impossível você ficar doente," diz Rob, elogiando-me.


"Ah, obrigado, você é um ótimo suporte também," digo, e vejo Rob corar um pouco.


Penso um pouco. Talvez a ideia de ser a Serjie novamente não seja tão ruim se for só uma vez, só para ver como é.


"Você vai na balada drag que tem os desfiles? Não sei se você conhece," pergunto, arriscando.


"Acho que conheço. Por que? Não me diz que você vai lá desfilar?" diz ele, sorrindo para mim.


"Talvez," digo, sorrindo de volta. "Vamos hoje? Talvez eu me apresente. Depois, podemos comer ou beber algo," falo, enquanto andamos com o carrinho.


"Claro, eu adoraria," diz ele, pegando algumas frutas para o carrinho e eu pego algumas verduras.


Coloco meus itens no carrinho e Rob se despede. Vejo o Rumi olhando Rob com uma expressão de raiva quando ele vai embora.


"O que houve, Rumi?" pergunto, olhando para ele, e ele me olha de volta.


"Eu não gosto dele, papai. Ele me espetou todo," diz Rumi, emburrado, e dou um sorriso achando fofo.


"Calma, ele furou só porque tinha que cuidar de você, meu amor. Não foi por maldade," digo, acariciando a mãozinha dele. "Agora vamos para a seção de doces e biscoitos. Pode escolher os biscoitos que você gosta, papai também vai comprar," digo, sorrindo, e vejo ele se animar.


Ele começa a escolher, enquanto eu pego alguns biscoitos de chocolate com cereais e outras guloseimas. Adoro comer besteiras às vezes.


"Pronto, papai. Podemos comprar suco também?" diz Rumi, sorrindo para mim.


"Claro, meu amor. Vou pegar o galão. Eu amo esse suco também," falo, animado.


Vou até a área dos frios e pego o galão de suco.


"Acho que terminamos," digo, olhando a lista no meu celular.


Dou o celular para o Rumi brincar enquanto vamos para a fila e ele fica distraído. Fico na fila esperando minha vez e fecho os olhos, respirando fundo e pensando em algumas coisas, principalmente sobre a noite de hoje. Será que estou fazendo a coisa certa? Será que o Rob realmente vale a pena colocar tanta coisa em risco? Bem, pelo menos, se eu encontrar o Daron, ele ficaria maluco e feliz por ver a Serjie novamente. Pelo menos uma coisa boa viria disso. E quanto ao Rumi? Preciso esconder isso dele e da mídia também. Eu tinha dito a todos que a Serjie tinha morrido e nunca mais voltaria.


Sinto que chegou minha vez no caixa, abro os olhos e coloco o Rumi no chão com delicadeza, ainda com ele mexendo no meu celular.


"Bom dia," falo gentilmente para a caixa, e ela sorri ao me ver de dinossauro e retribui.


Começo a colocar as coisas no caixa e sinto o Rumi se afastar um pouco, mas ele ainda está na minha visão, então está tudo bem.


"Opa," deixo cair uma sacola de verduras e me agacho para pegar.


Quando volto, meu coração aperta. Aonde está o Rumi?


Meus olhos ficam atentos e imediatamente digo à caixa para continuar passando as compras enquanto procuro o Rumi.


"Rumi, RUMI!!" falo alto, procurando-o. Ele não é de se afastar de mim e também não segue estranhos. Por que ele faria isso?


Vejo a ponta do pijama dele perto da saída do supermercado e corro até lá, encontrando-o com... um homem?


"Rumi!! Nunca mais faça isso, é sério," digo, respirando pesado, e o pego no colo, vendo que o homem era o Greg.


"Ah, oi Serj, tudo bem?" diz Greg, calmamente.


"O que você estava fazendo com meu filho? O que você queria?" falo, indignado, olhando para ele.


"Calma, eu peguei ele porque tentei achar você por perto e não consegui. Então pensei em levar para a casa do Daron para ele ligar para você e saber se estava tudo bem," diz Greg, me olhando, enquanto Rumi se esconde no meu pescoço.


"Não me viu? Faça um exame de vista então, porque não ver um homem de quase 1,80 vestido de dinossauro é realmente incrível," falo, me virando cansado.


Ignoro Greg e volto para o caixa com pressa.


"Desculpa, papai. Ele me chamou e eu fui porque conhecia ele," diz Rumi, inocente, me ajudando a pegar algumas sacolas.


"Tudo bem, meu amor, mas nunca faça isso, okay? Avisa o papai antes, senão eu fico muito preocupado e posso passar mal. Você pode se machucar," digo, indo com as sacolas em uma mão e Rumi no colo, me ajudando a segurar algumas.


"Okay," diz ele, sorrindo para mim.


Voltamos para a garagem e para o carro. Coloco as compras no carro, coloco o Rumi no banquinho e logo vou para o banco da frente. Coloco uma música no rádio, e Rumi fica animado. Ele ama música, assim como eu.


Dou um sorriso, mas logo sinto uma vontade absurda de fumar. Não posso agora, com Rumi ali. Sei que essa vontade vem do estresse que passei. Respiro fundo, foco na respiração e acelero o carro para chegarmos logo em casa


...


Estou no meu quarto, terminando de fumar enquanto o Rumi brinca no dele. Penso em fazer um churrasco vegano para nós hoje. O sol apareceu, e o calor está agradável; poderíamos aproveitar um pouco na piscina.


Pego as roupas de banho do armário e, ao olhar para a parte do closet que pertencia à Serjie, dou um suspiro profundo.


Vou até o closet, fecho os olhos e sinto uma intensa vontade de me montar novamente, mas um medo profundo também se alastrava dentro de mim.


Abro os olhos e escolho um vestido brilhante e um salto agulha que também é cintilante. Uma característica da Serjie é que eu nunca removo a barba, então ela fica bem marcada quando me visto como ela.


Coloco a roupa na cama e me troco para as roupas de banho: uma sunga e um shorts. Solto meus cabelos, deixando-os cair sobre os ombros.


Dou um suspiro fundo e vou até o quarto do Rumi para ver se ele está pronto.


"Vamos, amor?" pergunto, vendo-o de sunga e animado, com os cabelos soltos.


"Sim, papai!" ele responde, pegando uma boia de girafa e colocando-a. Sai correndo na frente, e eu vou atrás.

Eu e ele descemos as escadas sorrindo, mas antes de ir até a piscina com ele, paro na cozinha para preparar os legumes e algumas outras coisas para assar no churrasco. Penso em espetinhos de legumes, uma berinjela para assar e um molho de homus que estava quase estragando na geladeira.


Pego a bandeja com os itens e levo até a área da piscina e do churrasco, apoiando-a na mesa perto da churrasqueira. Escuto Rumi entrando na água e dou um sorriso ao vê-lo mergulhar animado. Decido colocar uma música para criar um ambiente mais relaxante.


Pego meu celular e a caixinha de som que costumava ficar ali, ligo-a, conecto ao meu celular e coloco uma música. Em seguida, ligo a churrasqueira para aquecer o carvão e vou até a borda da piscina. Sento na beirada, coloco os pés na água e observo Rumi tomando coragem para nadar na parte mais funda.


"Vai, meu amor, você consegue" digo baixinho, encorajando-o.


Ele pega impulso na parte rasa da piscina, nada até o meio e volta, sorrindo orgulhoso. Ele vem até mim, saindo da piscina.


"Viu, papai! Eu estou aprendendo a nadar no fundo" diz ele, sorrindo, e me abraça.


"Parabéns, meu amor! Você vai ser um nadador incrível" respondo, abraçando-o de volta. Ele volta a nadar e eu me levanto para verificar a brasa na churrasqueira.


Hoje seria uma tarde incrível: paz, comida, meu lindo filho. O que mais eu precisava para me distrair?


Daron Malakian P.O.V.


"Greg, para, tá doendo" falo sentindo Greg empurrar mais.


"Calma, Daron, aguenta mais um pouco. É normal doer no início mesmo."


"Porra, cara" reclamo de dor, sentindo minhas pernas tremerem. "Tá doendo muito, acho que não vou aguentar."


"Só mais um segundo" ele segura minhas pernas e eu levanto os braços.


Fecho os olhos, respiro fundo, e ele sai de cima de mim.


"Viu, se alongar para dançar não é tão ruim assim" diz ele, se levantando e colocando os fones de ouvido.


"Minhas pernas doeram dessa vez" falo, me levantando meio bambo. "Ainda bem que ninguém estava por perto. Vamos dançar, a sala tá vazia, então não tem problema."


Eu e Greg estávamos na academia, e ele me levou a uma aula de pole dance. Eu estava acostumado com algumas danças sensuais, mas nunca consegui aprender pole dance direito.


Ah... me lembra tanto a Serjie. Ela dançava loucamente nessa barra, até ficava de cabeça para baixo. Realmente, ela, ou ele, era a estrela da noite sempre. Sinto falta disso.


Greg coloca a música na caixinha de som e começamos a treinar alguns movimentos. Foi um momento bem descontraído que tivemos. Eu particularmente amei; me fez esquecer algumas coisas ruins que estavam acontecendo.


...


Estávamos no carro de aplicativo. Greg deixou o carro na oficina. Ele estava escutando música enquanto voltávamos. Eu estava exausto, ainda mais hoje que teria show à noite. Estava com as pernas moídas, mas foi bem legal.


Pego meu celular e, enquanto desbloqueio, dou um longo gole de água. Logo vejo que tinha uma mensagem do Serj:


"Gayane vai estar em casa? Irei sair hoje à noite para um evento e o Rumi não vai poder ir."


Penso no que poderia ser.


"Que evento é esse?" mando uma mensagem perguntando.


"Evento de amigos, amigos antigos armênios."


"Você e essas coisas de ativista. Okay, falo para a Gayane ir aí depois" mando mensagem e ele só visualiza.


Vejo que tínhamos chegado em casa. Saio do carro com Greg e entramos em casa.


"Vou tomar banho" falo abrindo a porta, e ele concorda. Aproveito que a Gayane estava na sala e aviso ela logo.


...


Estava terminando de me arrumar no camarim para me apresentar, retocando algumas pedrarias e colocando mais brilhos.


"Hora do show" falo me olhando, respirando fundo e colocando um arquinho de coelhinho para combinar com minha lingerie que estava usando, uma calcinha fio dental com um pompom e meias que iam até as coxas, e claro, meus piercings no mamilo que sempre usava.


Vou andando até o palco. Hoje sinto uma nova agitação no local, não sabia o porquê, mas resolvi seguir meu roteiro sem me distrair.


Lets go baby


 Serj Tankian P.O.V.


Eu já estava no palco, me apresentando com minhas danças no pole dance. Eu sempre usava vestido, ao contrário das meninas que usavam lingerie e das outras drags que também usavam lingerie. Quando minhas amigas me viram, ficaram sem acreditar que eu estava de volta, o que me deixou completamente feliz por ver gente que gostava da minha arte.


Vejo que o Rob já tinha chegado também, e ele estava me olhando sorrindo. Eu também estava olhando para ele, sorrindo.


Logo, saio do palco, pois era a vez do Daron, e eu iria fazer de tudo para ele não me ver. Nem quero imaginar a confusão que seria se ele me visse. Iria fazer um barraco e todos iriam ouvir, e meu plano de ser discreto iria por água abaixo.


Desço do palco e vou até o Rob, animado. Logo, o recebo com um abraço.


"Rob!! Você veio!!" falo animado e me sento ao lado dele, abraçando-o novamente.


"Serj, uau, você está magnífico. Não sabia que dançava pole dance" diz ele, me olhando de cima a baixo.


"Sei várias coisas, Rob. Um drink?" falo sorrindo, oferecendo para irmos beber.


"Claro" diz ele, me acompanhando até o bar.

Caminhamos até o bar, e peço dois drinks, entregando um ao Rob. Ele aceita com um sorriso, e brindamos.


"A você, Serjie, por estar de volta," diz ele, erguendo o copo.


"E a nós," respondo, tocando meu copo no dele antes de dar um gole.


O ambiente estava animado, com música alta e luzes coloridas piscando. Sinto uma onda de euforia e liberdade.


"Tem um lugar mais tranquilo aqui?" Rob pergunta, inclinando-se para perto de mim, sua voz quase perdida no barulho ao redor.


Penso por um momento e então sorrio.


"Tem um quarto nos fundos que a gente pode usar. Vamos?"


Ele assente, e nos dirigimos para os fundos do local. Passamos por várias pessoas que nos cumprimentam e elogiam minha performance. Chegamos à porta do quarto e entro, puxando Rob comigo. Deixo a porta entreaberta, sentindo a adrenalina correr pelas minhas veias.


"Aqui está bom," digo, olhando ao redor do pequeno quarto decorado com sofás e luzes suaves.


Rob me puxa para um abraço apertado, e sinto a segurança em seus braços.


"Você realmente estava incrível lá em cima," ele sussurra em meu ouvido.


"Obrigado, Rob," respondo, acariciando seu rosto. "Você também não está nada mal."


Nos encaramos, e sinto o calor de seu corpo contra o meu. O momento é interrompido por vozes do lado de fora do quarto. A porta entreaberta permite que ouçamos risadas e conversas, mas estamos longe de nos importar. Para mim, o mundo se resume a este quarto e ao que estamos compartilhando agora. Merda, virei um adolescente.


"Serj, eu..." Rob começa, mas o interrompo com um selinho atrevido, que surpreendeu até eu mesmo.


"Não precisa dizer nada," sussurro contra seus lábios.


Nos perdemos naquele momento, deixando as preocupações e medos de lado. Sinto-me mais vivo do que nunca, e nada mais importa.


Daron Malakian P.O.V

Após minha apresentação, eu estava aliviado e ansioso para me encontrar com Greg, como prometido. Minha mente estava em alta, mas um misto de curiosidade e preocupação me empurrava para procurá-lo. Decidi dar uma volta pelos bastidores antes de encontrá-lo. Quando passei pelo corredor, notei que o barulho da festa estava mais baixo.


Ao abrir uma porta para um quarto que geralmente era reservado para relaxamento dos artistas, a visão me fez parar abruptamente.


Serjie estava ali, em uma cena íntima com Rob. Os dois estavam distraídos e não perceberam minha entrada. O choque me paralisou por um momento, e eu me forcei a dar um passo para dentro, tentando entender o que estava acontecendo.


"Serj?" minha voz saiu entrecortada, misturando confusão e raiva.


Serj e Rob se separaram instantaneamente. Serj virou-se para mim, com um olhar de culpa e surpresa, enquanto Rob parecia completamente desconcertado.


"Daron, eu..." Serj começou a falar, mas a dor na minha voz interrompeu-o.


"Você está aqui com Rob?" perguntei, tentando controlar o tremor na minha voz. "E me diz o que está acontecendo com a Serjie, que você sempre disse que não voltaria."


Serj olhou para Rob e depois para mim, tentando encontrar as palavras certas. Sua expressão de culpa só aumentava minha frustração.


"Daron, eu não..." ele começou novamente, mas a dor e o sentimento de traição eram demais para mim.


"Eu realmente não esperava isso de você." A raiva e a tristeza eram palpáveis em cada palavra. "Justo aqui, onde todos poderiam ver."


Tentei me acalmar, dando um passo para trás. A visão estava me dominando, e a confusão misturava-se com uma dor profunda.


"Daron, por favor," Serj tentou me alcançar, mas eu já estava saindo do quarto, com o coração pesado e a mente girando.


Fechei a porta atrás de mim e saí rapidamente, tentando escapar da cena dolorosa. A festa continuava, mas eu me sentia vazio e perdido, meu mundo completamente virado de cabeça para baixo.


"Filho da puta" Falo e vou embora

...



Notas Finais


IG: @pugprk


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