O balcão de mármore branco ganhava luminosidade cada vez que o pano girava em certo ponto de seu comprimento. O som que fazia era incômodo então não demorou para Kai'Sa tirar os olhos da tv e olhar irritada para Akali que limpava o balcão roboticamente. Quantas vezes ela já limpou esse balcão hoje? Levantou do sofá devagar e alcançou a mão de japonesa, fazendo-a parar o que estava fazendo. Os olhos escuros subiram para encontrar os roxos num misto de breve irritação e interrogação. Baixou o olhar para a vítima de sua constante limpeza e, bom, pelo menos estava limpo.
— Você tá estranha. - delicada como um coice, a Oolong diz - o que tá acontecendo naquela escola?
— Não é bem a escola em si. - olhou para o chão - estou num impasse tão difícil, Kai.
— O que pode ser pior que ter sair cedo pra cuidar de mim?
— Isso não é ruim.
— Claro que não, você aproveita pra me apalpar. - atravessou a cozinha em direção a geladeira.
— Eu não apalpo você! Você que se mexe muito quando tô tentando tirar sua camisa. - se defendeu e recebeu um olhar entediado da melhor amiga - você tem tantos músculos… - admitiu baixinho.
— Eu disse - pegou uma cartela de iogurte e sentou num dos bancos do balcão - anda, diz o que o que se passa nessa sua cabecinha linda. - apontou o banco ao seu lado.
Akali sentou ao lado da nadadora e roubou um dos iogurtes antes de dizer:
— Três pessoas se declararam pra mim e eu não sei qual delas escolher. Na verdade, acho que estraguei tudo.
Kai'Sa, que antes comia tranquilamente, cuspiu todo o conteúdo e tossiu algumas vezes. Akali temeu que isso desencadeasse outra explosão. Felizmente, não aconteceu. Ela só foi pega de surpresa mesmo.
— Três?! Você é o que? Um Don Juan japonês?!
— Não é bem assim…
~alguns dias atrás~
Akali suspirou tediosamente. Seus dias sem Kai'Sa na escola estavam começando a se tornar cada vez mais monótonos. Sinceramente, era divertido quando sua melhor amiga implicava com ela. E especialmente neste dia, Cassiopeia não pôde vir por questões familiares. Ricos e suas questões. A japonesa girava o lápis entre os dedos e mascava um chiclete para se distrair. Porém não foi necessário mais esforço de sua parte para encontrar algo em que se concentrar. Irelia estava conversando brevemente com Lissandra e ela pareceu permitir algo. A Lito agradeceu e chamou a atenção para um assunto. O tema em questão era sobre o evento anual de sua escola. A Jhomen geralmente trabalhava nos bastidores já que não era exatamente uma atriz ou cantora para as apresentações.
— … e eu gostaria de debater com vocês sobre o que iremos fazer este ano. E a professora responsável por nossa turma esse ano é a professora Evelynn Roux. Então sejam legais e a ajudem no que puderem. - diz didática.
Uma discussão geral começou na turma. Alguns gostariam de manter a ideia da peça, já outros insistiam em algo mais frenético como uma apresentação de dança e remixes autorais. A professora Sona definitivamente adoraria o som disso. A professora Lissandra saiu da sala dizendo que iria beber um café e deixou o controle da sala nas mãos de Irelia. A garota Lito apenas assentiu, metódica, e sentou na banca da professora. Em poucos segundos, a mente da japonesa já não estava mais ali e sim no que diria aos seus pais quando ela os ligasse. Sim, ela esqueceu da ligação mensal e recebeu dezenas de mensagens do irmão mais velho. Shen podia ser bem dramático às vezes.
Por falar em mensagens, subitamente ela se lembrou da última mensagem que recebeu de Cassiopeia. Ela diz que tem algo importante a contar e pediu para que Akali não ficasse nervosa ou ansiosa, mas caramba, se você não quer que alguém fique nervosa ou ansiosa, você não diz com antecedência, apenas diga na hora. A japonesa entendia que Cass ainda era desajeitada socialmente, mas, por que mandar aquela mensagem durante a manhã?
As aulas passaram lentamente e Akali não poderia estar mais infeliz. Hoje não era dia dela sair cedo para cuidar de Kai'Sa – que estava ficando mil vezes mais irritante que o normal – então teria que ficar e cumprir o horário normal. Sarah passava alguma atividade sobre apartheid e explicava lentamente. Miss Fortune era a professora de pavio curto que ninguém gosta de interromper ou debater. Sempre séria e profissional, porém, algumas vezes escapava um risinho aqui e outro ali.
O sinal da última aula toca e Akali quase geme de satisfação. Guarda suas coisas rapidamente na bolsa e a joga sobre o ombro, correndo em direção a porta. No caminho, alguém a agarrou pelo colarinho e ela não pôde sair com antecedência. Com xingamentos na ponta da língua, se virou para dispará-los, mas parou ao ver que era Irelia.
— Preciso conversar com você. - diz simplista e solta o colarinho, agora, amarrotado.
Akali expirou surpresa. O que será que ela fez de errado dessa vez?
Irelia passou por ela e a trouxe junto com ela pela mão. Elas atravessaram alguns corredores antes de chegarem à última sala. A Lito abriu a porta e entrou, sendo seguida pela Jhomen. Akali nunca tinha estado nessa sala antes. Talvez fosse uma turma reserva? Caminhou devagar, examinando o que podia e percebeu ao ler o texto no quadro, que esta é a sala de um dos últimos anos. Uau, eles têm uma ótima vista!, colocou as mãos na janela para contemplar o ocaso charmoso. Por um momento, ela se esqueceu que não estava sozinha na sala.
— É uma vista bonita. - comentou o pivô de estarem ali.
Akali assentiu, sem tirar os olhos do céu rosa-alaranjado.
— Sim, muito.
Ficaram alguns segundos em silêncio, apreciando a brisa fresca que entrava pelas entradas das janelas. Era uma tarde bonita e harmoniosa. Um cenário perfeito para uma revelação romântica. Sentindo sua bochecha queimar, Akali mudou o olhar para Irelia e descobriu a fonte da queimação. Os olhos azuis profundos a encaravam com tanta admiração – da qual a japonesa não sabia de onde tinha saído – que sua reação imediata foi corar levemente.
— Preciso te contar algo. - diz num tom baixo que quase se iguala a um sussurro.
A Jhomen girou o corpo para ficar de frente a presidente do conselho. Ela não tinha ideia do que esperar. Poderia ser algo positivo? Ou seria um sermão privado? Um pedido de ajuda, talvez… Repentinamente arrancada de seus pensamentos, Akali sentiu suas mãos serem envolvidas por um toque quente que agradou de imediato. Os polegares longos fizeram movimentos vagarosos contra sua pele. Ao mesmo tempo que a japonesa aproveitava o pequeno afago, seu cérebro buscava mil alternativas diferentes para encontrar uma resposta para as ações de Irelia.
— Eu nem sei por onde começar e– - parou o afago e afastou as mãos - desculpe, eu invadi seu espaço pessoal.
— Não tem problema - diz, sentindo falta do calor das mãos da mais alta - foi bom.
Dessa vez, a Lito ruborizou de maneira quase imperceptível. Do ângulo em que estavam, a luz do pôr-do-sol banhava o rosto de Irelia, dando uma coloração alaranjada que ficou esplêndida na simetria injusta de seu rosto. A presidente do grêmio parecia estar lutando com as palavras e por um momento, parou e respirou fundo.
— Akali, você lembra de quando nos conhecemos?
— Ah, sim. Claro. Você 'tava concorrendo a presidente e eu disse que votaria em você.
— Sim. Mas eu já conhecia você antes disso.
— Antes?
Irelia assentiu.
— Desde o seu primeiro dia de aula. Eu não era muito notável e sentava nas bancas do meio. - coçou o início da mandíbula, nervosa - não ache que eu sou uma stalker, é só que… você chamou minha atenção.
Akali surpreendeu-se com isso.
— Chamei? Por quê?
— Primeiro porque você é oriental como eu.
Ah, é verdade. A família Lito é de origem indonésia. Pelo menos a parte paterna, sua mãe era americana, da América do Norte, especificamente.
— E é bom encontrar pessoas como você. Não que haja uma garantia de nos darmos bem, mas… ainda é reconfortante. - concluiu - e também porque você é tão bonita que não sei explicar.
Ambas coraram furiosamente quando absorveram as palavras e olharam para qualquer lugar menos uma a outra.
— Irelia, o que está tentando dizer é-
— Estou apaixonada por você desde o início do ensino médio. - se curvou diante da mais nova - por favor, aceite meus sentimentos.
— Irelia… - sussurrou atônita e engoliu em seco. Desviou o olhar para a janela, constrangida - eu não sei se posso aceitar seus sentimentos.
— Por quê? - perguntou hesitante, levantando de seu arco.
— N-Não me leve a mal. Você é muito bonita, inteligente e uma ótima presidente, mas não estou preparada pra isso. Um relacionamento. Me desculpe. - diz baixinho, sentindo-se culpada.
Recuperando a postura de sempre, Irelia suspirou sentindo um pequeno peso se formar em seu peito.
— Eu compreendo. - riu tristemente - há coisas maiores e mais importantes que um relacionamento.
— Sim, é claro. - concorda tristemente.
— Antes de irmos… eu poderia…?
Deu passos longos para cortar a distância entre elas e tocou o rosto de Akali, sentindo a pele macia pela primeira vez. A japonesa estremeceu levemente pelo contato repentino e assistiu as orbes azuis brilhando numa pequena luz de esperança e tristeza. Piscou lentamente, sentindo seus olhos queimarem ao entender o que aquilo significava. Ergueu ambas as mãos e segurou o rosto anguloso entre suas palmas frias e uniu seus lábios com suavidade. Lágrimas descendo por seu rosto, correndo pela linha de sua mandíbula, se encontrando em seu queixo para uma tortuosa despedida antes de cair livremente e encontrar seu fim.
Irelia aproveitou cada segundo e explorou cada sensação que seu cérebro processava. Seja ela boa ou ruim. Como a sensação incrível de suas bocas juntas, movendo-se lentamente para recordar cada momento, o choque inicial do encontro das línguas seguido pelo sentimento de calor e acolhimento, o toque de suas mãos que envolviam a cintura alheia e, em contraste, o som assustador de seu coração que se partia em vários pedaços ao perceber que esse seria provavelmente seu primeiro e único beijo, a saudade precoce da pele que chegou a tocar somente uma vez e a sensação arrasadora da rejeição. Independente do caráter de cada sentimento, ela se permitiu sentir, quer doesse ou quer não.
O fim do ósculo foi pesaroso. Akali não ousou abrir os olhos, optando por manter o rosto voltado para o chão. Não era ela quem estava sendo rejeitada então por que ainda doía tanto? Ela não tinha esse direito… A japonesa estava tão enterrada em seu sentimento de culpa que não deu importância ao fato de que seu primeiro beijo foi e sempre será o mais triste de todos que poderiam vir no futuro. Um contato geralmente realizado com a intenção de conhecer, mas dessa vez foi para se despedir prematuramente.
— Me desculpa - sussurrou com a voz entrecortada - eu não queria…
— Pelo o que está se desculpando? - a abraçou sutil e delicadamente a fim de ampará-la - você não tem culpa de nada.
Mesmo que estivesse desolada e sem esperanças para o amor por um longo período, Irelia estaria lá por Akali. Seria seu guarda-chuva num dia de tempestade, um ponto de estabilidade em seu terremoto e bote salva-vidas em meio a seu oceano de inseguranças. Porque nada a machuca mais do que ver Akali machucada e nada mais importa. Nem mesmo a crescente sensação de medo e afogamento vindo de seu interior.
Tão envolvidas e compelidas em suas próprias mentes, nenhuma das duas notou os olhos âmbar as observando através da janela da sala, brilhando em conhecimento e também inveja do que não era seu.
Em um estado catatônico, Akali foi facilmente guiada para fora da sala. Irelia carregava suas coisas enquanto a levava para a saída. A escola já estava fechando para alunos, então, elas iriam receber uma punição caso não saíssem a tempo. No corredor, encontraram Cassiopeia Du Couteau que estava lá por alguma razão desconhecida, mas se preocupou imediatamente ao ver os olhos normalmente luminosos de Akali, vidrados. A Lito não contou tudo, mas especificou que a japonesa passou por uma série de emoções fortes pouco tempo atrás e notou a Du Couteau contraindo o nariz para algo. Todavia, não inquiriu. Suas energias por hoje já estavam gastas.
Quando elas conseguiram sair da escola, o sol já estava indo embora. Irelia se despediu delas educadamente e seguiu para o estacionamento da parte de trás. Cass levou Akali para um parque próximo e as duas sentaram no primeiro banco que encontraram. A mais alta das duas colocou suas coisas ao seu lado e ofereceu um abraço lateral que foi aceito com lentidão. Cassiopeia estava particularmente atordoada por tantos sentimentos negativos e a energia pesada que envolviam tanto Akali quanto Irelia. Deuses, essa exposição iria deixá-la exausta mais tarde. Porém, está tudo bem. Uma amiga precisa de ajuda e é isso o que importa.
Elas permaneceram em silêncio. A japonesa não queria falar sobre o que acabou de vivenciar, ainda estava muito cedo. Sua mente mergulhava em mares tempestuosos e aparentemente sem escapatória, porém, sua atenção foi ganha quando uma singela e bela rosa vermelha repousou diante de seus olhos. Levantando o olhar, ela encontrou o sorriso tímido habitual de Cass e um leve rubor.
— Moças bonitas não deveriam estar tristes. - diz num sussurro - mas se assim se sente, podes chorar, mas não se esqueça que estou aqui para consolar-te.
— Um poema? - perguntou fracamente.
— Palavras expressas por meu coração, quer seja poema ou não. - ofereceu a rosa.
Akali contornou o caule livre de espinhos da rosa com os dedos e observou as pétalas com atenção que nunca teria novamente. Um conjunto de tecido fornecido pelo solo, formando um emaranhado de admirável cor carmim. O símbolo do amor. Vermelho, amor e dor.
Respirou falhamente e limpou seu rosto de lágrimas secas e tirou a franja bicolor do rosto.
— Preciso descansar. - Akali comenta, deixando-se deitar no ombro confortável de Cassiopeia.
— Descanse. - sussurrou tentadora.
Com o incentivo suave, não demorou mais para que os olhos cansados se fechassem sem relutância. O excesso de carga emocional faz sua parte em forçar o cérebro a anestesiar o corpo em um sono profundo.
(...)
Lentamente voltando de seu coma, Akali notou que estava em um local diferente, móvel. Abriu os olhos devagar, tentando reconhecer o lugar e procurando o calor que irradiava de Cassiopeia, porém, não encontrou nada além de sua mochila e a rosa pendurada nela. Um cinto de segurança envolvia seu torso e só então ela notou que estava dentro de um carro. Piscou algumas vezes para reconhecer o condutor.
— Finalmente acordou? Ainda bem. Pensei que estivesse doente ou algo do tipo. - Evelynn comentou casualmente, acelerando o carro.
— Onde está Cassiopeia? - perguntou com a voz rouca e agarrou a rosa entre os dedos.
Evelynn observou a ação pelo canto dos olhos, seu âmago queimando em uma sensação incômoda. Entretanto, forçou-se a responder.
— Eu encontrei vocês duas no parque. Você dormia tranquilamente, Cassiopeia também relaxava, mas assim que me reconheceu no carro, pediu para que eu a levasse para casa. Eu não a sequestrei. - brincou e virou o volante para uma curva.
Akali permaneceu em silêncio, apreciando a beleza de sua rosa com total concentração. A docente suspirou pela falta de reação da mais nova e limitou-se a olhá-la de intervalos em intervalos quando o sinal fechava.
— Então, quem lhe deu essa bela rosa? - perguntou despretensiosa.
— Cass. - acariciou as pétalas com as pontas dos dedos, cheirando a flor de vez em quando.
— É uma ótima escolha. Rosas são muito bonitas.
— De fato.
Passaram-se poucos segundos de silêncio antes que Evelynn tornasse a fazer perguntas.
— Ela se declarou também?
Akali finalmente tirou os olhos da planta e olhou para o perfil de sua professora. Essa que a olhou lateralmente, querendo respostas.
— Também?
— Sim, não queria ser intrometida, mas vi você e Irelia na sala do quarto ano. - diz cautelosa, tentando não deixar a menor chateada - como sou novata, eles deixam a parte de trancar as portas comigo. É um saco, de verdade.
— Entendo. - respondeu melancólica e a mais velha levantou uma sobrancelha para seu comportamento atípico.
— Você está bem, Akali?
— Por que pergunta? - baixou o olhar.
— Você parece exausta.
— Talvez eu esteja.
— Entendo, não deve ser fácil ter que escolher entre duas pessoas que você gosta. - diz desviando o olhar para a estrada.
Akali voltou a encarar sua professora. Inesperadamente, ela era uma boa ouvinte. Mas não deveria estar surpresa, já que Kai'Sa tem sessões com ela.
— Você quis dizer três, não?
A pergunta fez o interior de Evelynn girar, seu coração estremecer, temendo ser exposto. Seus membros tremulavam e ela resolveu estacionar antes que causasse um acidente. Assim que o carro parou, a docente demorou alguns minutos antes de conseguir encontrar os olhos de sua aluna. Akali a encarava com uma expressão ilegível semelhante a um lobo esperando por sua presa ficar bem como ele quer.
— Três? - repetiu lentamente.
— Sim. Eu notei seus olhares sobre mim, não sou ingênua como aparento ser. Kai'Sa nunca agiria daquela forma se não fosse por algo sério e eu sempre soube, apenas não quis acreditar. Era mais fácil ignorar. - murmura cuidadosamente, expondo sua visão desde a explosão de sua melhor amiga - quando me convidou para um café, eu sabia suas intenções antes que você as notasse.
— O que quer dizer com isso? Eu realmente não tinha nenhuma segunda intenção com você, eu até convidei Cassiopeia.
— Eu não sou idiota, Evelynn. - proferiu o nome ágil e desdenhoso - nunca fui. Isso que você nutre por mim é errado, não podemos. - diz com a voz trêmula.
A mais velha estremeceu pela veracidade de suas palavras. Ela estava certa, é errado. E então… é isso? O que ela poderia fazer? Apertou as mãos em torno do volante, transferindo sua frustração para o couro sob seus dedos. De tantas pessoas para se apaixonar, por que justo uma aluna?!
— Eu gosto de todas, mas por que você está sempre vencendo? Por que sempre o mais difícil vence? - perguntou num sussurro trêmulo, sufocado por lágrimas.
— O que…
— Irelia merece que a ame, Cass merece que a ame, então por que tem que ser você, invés delas, Evelynn?! - grunhiu angustiada.
Dessa vez, o mundo de ambas parou. A massa cinzenta que desempenha o papel de intérprete do corpo de Evelynn, parou de funcionar por alguns instantes, engolindo e entendendo a declaração da garota menor. Ela… gosta de… mim? seu cérebro compreende lentamente. Seus olhos âmbar pousando de maneira assombrada em Akali entendendo aos poucos a angústia dela. Sua ética conflitando com seu sentimento, a razão encurralando a emoção, a sensação de insuficiência unindo-se a de insegurança para afogá-la aos poucos em suas próprias crenças.
Evelynn ofegou quando a compreensão tomou conta de si e se inclinou para confortá-la. Desafivelou o cinto da garota e a trouxe lentamente para seu colo. Ela não foi questionada por isso, apenas teve seu pescoço abraçado por braços magros. Suas mãos abraçaram as costas da menor e iniciou um leve afago na linha da coluna dela para tentar tranquilizá-la. A garota choramingava contra seu ouvido, frágil e exposta.
— Akali, está tudo bem. - arranhou sua nuca com ternura - não precisa chorar, querida.
— Eu preciso… - apertou os olhos, expulsando as últimas lágrimas.
— As dores não são suas, não há porque chorar por elas. - sussurrou e depositou um beijo em sua bochecha.
Akali se afastou o suficiente para verificar Evelynn. A mais nova limpava o rosto com os antebraços, exatamente como uma criança faria. A docente se divertiu com essa comparação, foi fofo. De maneira suave, descansou as mãos nos quadris da garota, acariciando lentamente com seus polegares sobre o tecido do uniforme.
— Shhh… está tudo bem, meu amor. - subiu uma mão para afagar seu rosto - melhor?
Após alguns minutos fungando, Akali respirou fundo, dando-se conta de onde estava.
— Perdão, eu surtei na sua frente e-
— Se acalme, Akali. - a segurou pelos ombros - está tudo bem, não há problema em extravasar um pouco. - suspirou - eu vou te levar pra casa e você descansa tudo bem? Podemos conversar sobre isso outra hora.
— Tem certeza? - perguntou incerta.
— Sim. Agora, acalme-se, okay?
A mais nova assentiu lentamente, voltando para sua cadeira. Evelynn sentiu falta de seu calor, mas não deixou sua decepção explícita. Observou Akali colocar o cinto de segurança e só então deu partida no carro. Esse foi um dos dias mais caóticos e recompensadores de sua vida. Internamente, ela sorria como se tivesse ganhado sozinha na loteria, brincava e soltava fogos de artifício. Sentindo-se como uma adolescente novamente. Mesmo que indiretamente, Akali confirmou uma coisa: ela gosta de Evelynn também. Um sentimento culpado e antiético, mas é real. E nada importa mais para Evelynn Roux.
~presente~
Kai'Sa piscou, tentando assimilar tudo o que Akali disse. É só ela ficar fora do radar e todas as garotas do mundo dão em cima de sua melhor amiga?! Virou o pote de iogurte e bebeu tudo como quem bebe álcool.
— Eu sabia que essa Evelynn tinha segundas intenções. - disse de cara e Akali suspirou, cansada.
— Vocês não são amigas agora?
— "Amiga" é uma palavra muito forte, nos entendemos nos termos de médico-paciente e xingar pessoas escrotas no TLC.- negou com a cabeça - ela vai receber outra visita minha. - ameaçou de brincadeira.
— Kai'Sa!
— O que?! - riu do desespero de sua amiga e levou um tapão no braço.
A sul-africana gargalhou por mais alguns instantes antes de cessar a risada aos poucos.
— Não sei porque você está confusa, Kali.
— Três pessoas se declaram pra você, o que você faz?
— Fico com as três? - diz como se fosse óbvio e a japonesa revira os olhos - você gosta da Evelynn, não é?
Akali corou levemente.
— Talvez.
— Eu não acredito que vou dizer isso, mas se você gosta dela, fique com ela.
— Mas Irelia e Cass…
— A única que ficou sem resposta foi a Cassiopeia, Irelia é muito educada e já entendeu o que você disse, não tente enganar a si mesma e seu tipo.
— Meu tipo…?
Kai'Sa sorriu diabolicamente antes de dizer:
— Milfs. Professoras, de preferência.
— Calúnia!
Kai'Sa riu e começou a citar as diferentes crushes que Akali teve. Em sua grande maioria, professoras muito mais velhas. Na verdade, Evelynn era jovem comparada às antigas paixões da japonesa. A garota corava e se indignava com todos os nomes que, aquela que se diz sua melhor amiga, trouxe de volta a sua mente. Sinceramente, que tipo melhor amiga é essa que expõe todos os seus podres nas piores horas?
— Será que é o suficiente? Oh, também teve aquela que-
— Kai'Sa, já chega! - choramingou derrotada.
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