Tomioka suspirou profundamente enquanto o seu olhar caía para o chão coberto de grama verde da parte de trás da casa que estava longe dos olhares curiosos. Ele provavelmente estava em uma área bem escondida, visto que ele não havia ouvido nenhum barulho de câmera ou algum flash de alguém enquanto estava lá, mas em compensação, ele podia ouvir os murmúrios que eram camuflados pelo som do cantar dos passarinhos e pela fonte de água que estava escorrendo. Aquele lugar era algo semelhante a uma praça pacata em um bosque da cidade, apenas tirando o fato de que, primeiro: aquilo era uma prioridade particular ridiculamente grande e bem vigiada; segundo: não haviam outras pessoas que não fosse ele, alguns empregados que raramente via e, se alguma vez já os viu, provavelmente havia sido as sombras deles e algum velho mordomo da grande casa que estava regando um arbusto um pouco mais longe de onde Tomioka estava. O dia estava incrivelmente bonito. O verão estava chegando e era possível ver os pássaros começarem a voar e ovos de outros pássaros começarem a se chocarem, seria uma vista digna de se presenciar caso não fosse a multidão de pessoas que estava do lado de fora, na parte da frente da grande casa. O som dos murmúrios agora estavam altos o suficiente para não serem mais camuflados pelos pássaros e pela fonte, pelos deuses, ele estava conseguindo ouvir aquelas pessoas até mesmo da parte mais escondida, quantas pessoas tinham lá fora agora? E por que parece que esse número dobrou ou triplicou?
Tudo bem, ele pode admitir que estava surpreso com aquilo, ele viu muitos programas e sites de fofocas em toda sua vida, vendo diariamente várias celebridades serem assediadas dia e noite por fotógrafos intrometidos, mas nunca pensou que isso pudesse também acontecer com um empresário. Veja bem, ele já viu sobre muitas celebridades em sua vida, como aquela banda teen que está no auge no momento, Slayers. Ele já ouviu muitas coisas sobre eles e uma dessas coisas foi que paparazzis já tentaram roubar a máscara de javali do baterista da banda, o mais impressionante nem havia sido isto, mas sim o fato de que o baterista perseguiu por duas horas sem descanso o homem que havia conseguido roubar a sua máscara e só havia deixado o paparazzi em paz quando o baterista havia sido imobilizado no chão pela polícia; outra coisa foi que invadiram a casa do baixista que estava de folga no dia e, sem querer, acabaram descobrindo que ele estava namorando com um homem um pouco mais velho que ele ( aquilo havia ficado nos thread topics do twitter por dias. O pobre baixista teve que fazer uma declaração online confirmando o boato, mas claro, sem antes de processar o fotógrafo por invasão de privacidade.); outra coisa também foi que viram o vocalista – que também era o guitarrista da banda – em uma loja de presentes, provavelmente para comprar alguma coisa para algum parceiro. Na época, ele ainda continua, não era fã deles e muito menos gostaria de saber da trajetória deles para o mundo da música (ele lembrava vagamente de ter visto na casa de Shinobu, quando ambos estavam sem nada para fazer, uma entrevista deles respondendo o que gostariam de ser caso não tivessem ingressado no mundo musical, pelos deuses, o vocalista queria ser padeiro; o baixista, por algum motivo, queria ser dono do próprio café no centro da cidade – sim, ele havia admitido em rede nacional que talvez fosse para encontrar um romance; o baterista, por outro lado, apenas havia respondido: "não sei". "Ahn? Como assim "não sabe"?" O entrevistador perguntou enquanto uma leve gota de suor escorria por seu rosto. "Só não sei caralho, me deixa em paz!" O moreno de pontas azuladas falou rudemente, ameaçando levantar para ir em direção ao entrevistador, mas foi impedido pelo ruivo que murmurou alguma coisa para ele.) ou os assuntos relacionados a eles, mas ficou indignado também junto com os diversos fãs do trio quando viu as mensagens de ódio que tinham nas fotos do ruivo, não apenas nas dele como também nas dos outros integrantes.
Tomioka cortou um pedaço de uma laranja que estava em cima do prato de prata em uma mesinha de carvalho ao seu lado. Ele não havia saído da sala nem mesmo a um minuto atrás, mas o som alto da TV, causado por algum programa que o Shinazugawa, talvez, estivesse assistindo e os murmúrios do aglomerado de sem o que fazer do lado de fora estava contribuindo para o nascimento de uma dor na cabeça.
Às vezes, apenas às vezes, Tomioka ficava perguntando aos céus que tipo de crime ou coisa terrível ele fez em sua vida passada para ter que viver uma situação como esta. Talvez pedir incansavelmente que a sua vida tivesse pelo menos um pouco mais de emoção e deixasse de ser um pouco normal tivesse sido um grave erro, um terrível e grande erro.
Com um suspiro saindo de seus lábios vermelhos pelo contato com a fruta cítrica, ele entrou novamente para dentro da casa. Entrando pelos fundos, passando pela cozinha e parando na sala, ele viu que o Shinazugawa ainda estava sentado no sofá assistindo algum programa de TV. Hora ou outra ele parava em algum canal de notícias ou de fofocas, sempre a sua casa estava à vista nesses canais que transmitiam tudo ao vivo.
— Uau, eles realmente não vão te deixar em paz tão cedo… — o moreno murmurou de repente, fazendo Sanemi dar um mini-pulo do local que estava sentado. Ele não estava esperando por essa, na verdade, ele nem estava esperando que o moreno voltasse para a sala.
— Caralho! Por que você não avisa quando tá vindo, hein?! — o albino reclamou revirando os seus olhos. Giyuu bufou diante do comportamento rude do outro, mordendo o interior de sua bochecha, ele sentou-se ao lado do esbranquiçado.
— Eu pensei que você pudesse ter me ouvido chegando ou algo assim, sei lá. — o rapaz falou calmamente enquanto encostava sua cabeça na lombar do sofá, olhando diretamente para o teto amadeirado com luzes brancas.
— Por que eu deveria reconhecer seus passos, imbecil? — ele perguntou arqueando uma de suas sobrancelhas brancas e deu um leve sorriso sarcástico, sorriso que logo morreu ao voltar seu olhar para a televisão. — mas que filhos da puta…
Ainda um pouco indignado com as palavras dos apresentadores de TV que estavam disparando ao seu respeito, como se fosse a coisa mais natural de todo mundo, ele olhou para a janela fechada com as cortinas apenas para ver as sombras dos flashes sendo disparados. Quando ele voltou o seu olhar para a TV novamente, seus olhos se arregalaram.
Pela vista aérea de cima feita por um drone, a multidão estava crescendo ainda mais aos poucos, uma ou duas pessoas a mais sempre apareciam, prontas também para conseguirem qualquer coisa que pudessem vender para fotógrafos intrometidos mais tarde.
Sem sombra de dúvidas, aquilo o irritava pra um caralho.
"— Isso mesmo, Hina-chan, avistaram o carro de um dos integrantes da banda Slayer perto da residência Shinazugawa, onde o empresário está no momento com o seu atual e secreto marido." — a mulher sorriu ao terminar de falar, seu sorriso branco que era destacado pelos lábios vermelhos deixavam-na com um ar encantador, era como se apenas o sorriso pudesse deixar qualquer homem suspirando e de joelhos.
"— Eu gostaria muito de entender o por que de tanto mistério em relação ao marido do Shinazugawa-san, isso tudo é tão… — a mulher fez uma pausa dramática e gesticulou com as mãos movimentos de como se estivesse pensando em algo. — tão curioso."
— Ela fez um suspense todo pra falar só isso? — Giyuu tombou a cabeça para o lado, seus fios de cabelo fazendo um pouco de cócegas no ombro de Sanemi.
— Se afasta aí, seu esquisito. — o esbranquiçado falou, sua voz estava baixa, mas não menos irritada.
Tomioka apenas revirou seus olhos diante das palavras rudes e extremamente chatas do seu então "marido" – droga, ainda doía em sua garganta essa palavra –, ele soltou um breve bocejo, aquilo estava ficando chato e extremamente estressante.
Não faria mal propor passar outra forma se entretendo, sem ser pelas notícias chatas de canais de fofocas, não?
Com isso em mente, ele se aproximou um pouco mais perto de Sanemi, seu olhar caía para o controle em suas mãos e depois para a TV, ele olhou para a tela transmitindo as notícias e depois para as coisas que estavam próximas a ela; uma caixa de som, um reprodutor de CD's e …
— Mortal Kombat? — Giyuu simplesmente falou olhando diretamente para a capa do jogo, essa que estava jogada um pouco longe do aparelho DVD, mas muito bem amostra para quem pudesse ver.
— Anh? — o albino olhou para a direção que Giyuu estava olhando, não evitando um bufar irritado. — deve ter sido Genya, tsk, aquele moleque realmente não aprende a guardar as próprias coisas! — o Shinazugawa murmurou, sua voz baixa estava rouca e levemente irritada.
Por Deus, aquele cara não tinha outra emoção além da raiva?!
(Giyuu no futuro saberá que sim, que ele tem outra emoção fora essa que ele usa com tanta frequência, mas, assim como a chuva em meio ao sol vem de surpresa, ele não irá ver o momento em que ela irá aparecer.)
— Bom, podemos jogar? — ele falou já se inclinando levemente para pegar o controle em cima da mesinha de centro.
A barra da blusa de Tomioka arqueou levemente por causa do movimento do rapaz, mostrando minimamente a pele branca e ainda um pouco marcada por dedos grandes. Sanemi sentiu seu rosto esquentar por isso rapidamente.
Aquilo tudo era muito… curioso. A incapacidade de lembrar de qualquer coisa que havia acontecido a dias atrás era terrível. Ser deixado à própria sorte para poder descobrir tudo sozinho era pior ainda. Em momentos assim o Shinazugawa gostaria de querer fazer aquela baboseira toda de viagem astral que Mitsuri, uma estagiária irritante, sempre fica falando em seu ouvido como se quisesse escutar toda aquela merda.
(Em outras palavras, Sanemi talvez apenas talvez, estivesse querendo repetir o que obviamente havia acontecido a dias atrás. Mas Sanemi prefere morrer a reconhecer esse talvez, afinal, talvez é apenas não um talvez e não uma certeza… certo?)
Mordendo o seu lábio inferior, ele balançou sua cabeça para o lado e para o outro, ignorando as lembranças embaçadas que estavam começando a aparecer, logo depois percebendo a burrada ao ignorar.
Foi vago, muito vago.
Mas, de acordo com a imagem mental que apareceu em seu cérebro naquele momento, ele desejou que o seu rosto não estivesse tão vermelho quanto estava sentindo que ele estava ficando agora. Puta merda, aquela imagem havia sido…
Fodidamente quente?!
— Ei, tudo bem? — ele sentiu um cutucar leve em seu ombro e deu um mini pulo no sofá que estava sentado.
Ele olhou em direção a quem estava lhe chamando, algo que apenas o fez dar de cara com a imensidão azul escura que parecia estar preocupado com a sua reação inesperada e assustada.
— O … O que? — o Shinazugawa perguntou desorientado, ele havia viajado muito em seus pensamentos, isso era óbvio, pois parecia que havia bebido uma garrafa inteira de Whisky.
— Eu… bem… — Giyuu limpou a sua garganta enquanto usava seu dedo indicador para coçar a sua própria bochecha, envergonhado por ter assustado o outro homem. — eu acabei de conectar o jogo, você quer jogar? — ele perguntou novamente, Tomioka mentalmente pedia que sim, que o Shinazugawa aceitasse jogar com ele.
Porra, jogar sozinho era algo muito triste e, veja só, ele não estava mais na sua adolescência para continuar jogando sozinho!
(A verdade era que a um tempo atrás Tomioka havia prometido não apenas a ele, mas ao seu melhor amigo – Sabito –, que tentaria ser mais sociável em relação a outras pessoas, mesmo que estivesse morrendo de vergonha. O que era o caso atual.)
— Ah, sim. — o albino se recuperou e pegou o controle que estava na mão do moreno. — tudo bem, vamos jogar.
Internamente Giyuu comemorou essa ação do esbranquiçado, talvez eles pudessem finalmente se darem bem visto que, até a alguns dias atrás, ambos faltavam pular no pescoço um do outro.
O moreno pegou o controle do jogador dois que estava em cima da mesinha de centro e se sentou ao lado do homem mais alto novamente, seus ombros um minuto ou dois sempre estavam se encostando na hora de escolher um dos personagens para jogar, mas ambos os rapaz não perceberam – mas se perceberam, decidiram ignorar, tudo o que menos precisam é de um clima ainda mais estranho do que estava agora lá do lado de fora.
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