A ruiva travava uma batalha consigo mesma deitada em sua cama. Seus olhos estavam fechados e ela queria que continuassem assim, mas sua mente clamava pelo despertar. Depois de uma má noite de sono, acordar cedo era a última coisa que ela queria. Ela até tentaria ignorar seus pensamentos, mas o som incessante do despertador tinha se aliado à sua mente naquela luta. É, dessa vez ela perdeu a batalha.
— Ninguém merece! — praguejou enquanto olhava ao redor de seu quarto à procura do seu “inimigo” barulhento, agora tinha acordado de vez e com raiva. Pôs-se de pé e se dirigiu a sua bancada de estudos à procura do despertador. — Maldito! — disse ao achar o objeto, descarregando toda sua raiva enquanto o silenciava. Era injusto com o pobre dispositivo, já que na noite anterior ela mesma o ajustou para despertar naquele horário, mas irritada do jeito que estava, era seu inimigo e ponto final.
Nami é uma garota linda, o tipo que arranca suspiros por onde passa. Possui longos cabelos ruivos e pele clara, além de um belo par de olhos castanhos. Sua estatura é média e possui corpo de dar inveja a muitas mulheres — mesmo com apenas dezoito anos. Sem dúvidas é para lá de cobiçada, mas sua personalidade forte não dá brecha para nenhum garoto. Ao seu ver não tinha nenhum que valesse a pena, eram só perda de tempo — e de dinheiro.
— Quem em santa consciência iria acordar cedo num sábado, ainda mais sem ter dormido bem? — perguntou a si mesma sentindo o mal-estar da insônia da noite anterior, enquanto abria a cortina e a porta de vidro que dava para varanda. Pôs-se para fora em seguida e escorou-se na sacada, observando o gramado do quintal de sua casa, enquanto deixava a brisa do vento a acalmar. Aparentemente, estava mais tranquila.
Mas aquele não era só mais um sábado. Nami é aluna do terceiro ano da New World Academy, renomada instituição de ensino de sua ilha natal, e finalmente o tão esperado dia da formatura chegou. Foram árduos anos de correria e dedicação — para os esforçados — que os estudantes da instituição tiveram que enfrentar. Então finalmente chegou o momento de cada um receber seu galardão: O diploma do ensino médio, que representa o fim de uma etapa. Para a garota era motivo de grande alegria, sempre foi uma aluna dedicada, por isso conseguiu passar por cima dos desafios. Ficava um pouco triste ao lembrar que não iria ver seus colegas constantemente ao terminar a escola, mas ainda teria suas férias de verão antes da faculdade para aproveitar ao máximo ao lado deles.
Mas todos esses pensamentos foram interrompidos por um grito repentino:
— EI, NAMI! — uma voz masculina a chamava.
A garota não esperava por isso, tanto que pulou assustada e quase caiu da varanda. Foi por um triz que ela não se acidentou feio, podia sentir o seu coração saindo pela goela. Ao se recuperar do susto, olhou ao redor a procura do indivíduo importuno que tentou a ‘’assassinar’’. Até que, no quintal da casa ao lado, achou um garoto moreno sorrindo divertido para ela. Era Ace, seu vizinho de longa data. Ele e seus irmãos eram vizinhos de Nami desde que se entendiam por gente, tanto que os quatro aprontaram bastante quando eram mais novos.
— Bom dia, laranjinha! — disse o rapaz agora num tom mais baixo, mas ainda assim animado.
— BOM DIA O CARAMBA! QUER ME MATAR DE SUSTO Ô DESGRAÇADO?! — Nami gritou furiosa com o rapaz que só fazia rir do seu temperamento. — E ainda tem a audácia de rir? Pois fique sabendo que isso vai te custar caro.
— Ei, calminha aí. Você já quer tirar dinheiro de mim sem o dia nem ter começado direito? Por que não deixa de ganância e age como a donzela que você é?
Sentiu uma veia saltando em sua testa ao ouvir as gracinhas de seu vizinho, se ele não estivesse tão longe já estaria o esgoelando. Mas ela era mesmo gananciosa, ô se era. Não podia ver uma chance de ganhar dinheiro que já corria atrás, ainda por cima não emprestava um tostão a quem pedisse. Mas essa má fama não a incomodava tanto, desde que o dinheiro ficasse com ela, estava tudo certo.
— VAI SE FERRAR! — gritou furiosa.
A partir daí foram sequencias de xingamentos que nem valem a pena serem citados. Zoro, que por acaso passava por ali, se meteu na confusão sem nem dar um “oi”:
— Ei ei, mas que gritaria é essa? — os dois jovens logo pausam sua sessão de conflito matinal a fim de saber quem era.
— Zoro, o que faz no quintal da minha casa? Ou melhor, de onde você brotou? — perguntou a ruiva surpresa com o rapaz de cabelo esverdeado que surgiu do absoluto nada.
— Ué, eu estava fazendo meu aeróbico. E que história é essa? Você é quem está na minha casa. — disse na maior normalidade do mundo dando um gole na garrafa d’água que segurava, parecia bem convicto do que falava.
Ace e Nami se entreolharam nada surpresos. Conheciam bem a peça, o garoto era mais desorientado do que cego em tiroteio.
Zoro era mais um morador da vizinhança e sua casa se situava em frente a da ruiva. Além de vizinhos, também são colegas de classe. Sempre fora conhecido por duas coisas: Se exercitar feito um burro e dormir quando não estava fazendo a primeira, sem contar que nas horas vagas ele se perde por aí.
— Zoro, você mora no outro lado da rua. — disseram apontado em direção a casa do amigo.
— Hum... — o rapaz olhou na direção em que seus vizinhos apontavam e refletiu por um instante. — Eu já sabia. — disse despreocupado, dando um bocejo em seguida. Seus amigos bufaram e resolveram ignora-lo por hora, este permaneceu ali com sua cara de sono.
— Enfim. Me diga, qual o motivo de eu estar sendo agraciado com tamanha beleza tão cedo? — Ace continuou sua implicância com a garota.
— Eu hein... só estou tomando um ar. E você, o que faz acordado a essa hora?
— Não está na cara? — respondeu ele, se referindo ao fato de estar com uma roupa de treino um tanto molhada. Nami não tinha reparado que o rapaz estava suado. — Eu faço um treino matinal todos os dias. — concluiu.
O moreno então tirou a camisa que usava, exibindo-se com seu físico. Ace era um rapaz esguio e tinha um corpo bem definido. Na verdade, todos da sua família — seu avô e seus dois irmãos — eram assim, mas dentre os três irmãos ele se destacava um pouco nesse quesito físico. Nami tinha que admitir que era um rapaz bem atraente.
— Ué, o gostosão vai tentar me seduzir agora? — brincou Nami, fingindo interesse no rapaz.
— Eu até tentaria. — Ace entrou na brincadeira. — Mas sei que você só tem olhos para o Luffy... — disse com uma cara maliciosa.
— Que conversa é essa? — ela realmente não esperava por essa. Gostar do Luffy, o caçula da casa vizinha? Quem imaginaria isso?
— Ora não seja boba, Nami-chan. Você e meu irmãozinho são próximos desde sempre e me estranha o fato de vocês não se envolverem com ninguém, mas dá pra ver que vocês sempre agiram diferente um com o outro.
Nami não pôde evitar de arquear as sobrancelhas. Ela estava mesmo ouvindo aquilo?
— Ei Zoro, ouviu essa? Diga alguma coisa!
— Concordo com ele. — bem, ele disse, mas não o que ela queria ouvir.
Ela falhou na tentativa de conseguir um aliado naquela ‘’guerra’’, tanto que lançou um olhar mortal para o seu amigo. Zoro tratou de dar um longo gole em sua bebida, a fim de fugir da tortura psicológica da ruiva.
— Era só o que me faltava, como se proximidade fosse o único critério pra se relacionar com alguém! Pois fiquem sabendo que eu não me envolvo com ninguém por não ter paciência com garotos idiotas que nem vocês! — curta e grossa. Ela poderia ser a laranja mais doce do mundo, mas também a mais azeda se assim desejasse. Ace e Zoro nada disseram, tinham medo do que a fúria do dragão Nami era capaz. — E bem, o Luffy... não tem nada que ele ame mais que carne e surf, então é difícil ter espaço pra alguma garota na vida dele. — concluiu confiante, fazendo o moreno rir com o comentário feito sobre seu irmão mais novo.
— Isso é o que você pensa. Aliás, ele che-... — Ace foi interrompido ao ser atingido por uma chinela.
Nami que estava irritada com aquela conversa — e com as gracinhas do moreno também — agradeceu mentalmente ao ser que arremessou o objeto. Mas quem era afinal?
— ACE, NÃO SEJA MAL-EDUCADO E VÊ SE COLOCA ESSA CAMISA! — da porta que ligava o quintal a sala da casa vizinha, surgiu outro garoto gritando. — É assim que se porta na frente de uma garota? A propósito, bom dia Nami, Zoro!
Se tratava de Sabo, mais um dos irmãos daquela casa. Ele era loiro e tinha a mesma altura de Ace. Os dois irmãos eram igualmente bonitos, mas o diferencial do loiro era sua educação, o que o fazia parecer um verdadeiro príncipe, diferente de seus irmãos sem juízo.
— Sabo seu infeliz, pra quê tudo isso? Você fala como se a Nami fosse uma estranha. — disse o moreno emburrado com o outro.
— Não importa. Ah, eu já terminei de preparar o café. Hoje é sua vez de pôr a mesa, então é melhor ir antes que o vovô desça, se não o velho acaba com você.
— Ih, é verdade! Tô indo nessa, nos vemos depois pessoal!
Ace nem esperou seus amigos se despedirem e já estava entrado em casa ás pressas. Garp, o tal avô dos garotos podia ser assustador quando queria.
— Então. — Sabo chamou a atenção dos vizinhos. — Finalmente chegou o grande dia, não é? — se referia a formatura.
— Pois é, nem acredito que já é daqui a pouco. Vocês também vão? — perguntou animada.
— Vamos sim! Afinal, o vovô é bem amigo do diretor Sengoku.
— Do que vocês estão falando? — perguntou Zoro que até então estava alheio aquela conversa, aparentemente ele estava confuso.
— Hoje é o dia da formatura, nós combinamos de irmos juntos, tá lembrado? Não vá me dizer que você esqueceu!
O garoto dos cabelos verdes se engasgou por um instante, sua reação assustada foi o suficiente para responder à pergunta da amiga.
— Se eu me esqueci?! Eu nem sei onde tá a minha bata! Droga, tô indo me arrumar, e me avisa quando for a hora de ir. — disse antes de bater em retirada.
— Vê se não se perde! — gritou enquanto o rapaz corria. — Esse aí é perdido até na vida...
—Ah, eu já ia me esquecendo. — Sabo chamou sua atenção. — A Koala mandou perguntar se vocês não querem carona, mas eu já ia oferecer.
— Ah, eu adoraria! Mas de qualquer forma a Robin já vai passar por aqui. Mas diga a ela que nos encontramos por lá! — a outra respondeu educadamente — Bem, estou indo me arrumar. Até logo, gatinho! — despediu-se dando uma piscadela para o rapaz.
Nami percebeu que seu amigo ficou sem graça com sua despedida e não pôde deixar de rir com o jeito fofo do rapaz. Virou-se em retirada e voltou para o seu quarto. Pegou seu celular para fazer uma checagem rápida e viu uma mensagem de Zoro:
“Antes do Ace levar a chinelada do irmão ele ia falar alguma coisa e acho que era importante. Só eu tive essa impressão? ”
“Ele ia falar algo mesmo, mas não tenho ideia do que era. Bem, se ele não se lembrou depois não deve ser muito importante. ”— respondeu
Depois de responder a mensagem do amigo, jogou seu celular sobre a cama. Se dirigiu ao espelho de seu quarto em seguida.
— Eu e o Luffy hein... quem pensaria numa besteira dessas? — perguntou-se enquanto se observava, lembrando da conversa de antes. — É verdade que somos bem próximos, mas não tem essa de “agir diferente’’, somos só bons amigos. De todo jeito, já fazem dois anos desde que ele foi pra Grand Line, desde então só nos falamos algumas vezes por chamada de vídeo e sempre que eu perguntava a respeito de seu retorno ele dizia que não sabia quando seria.
Monkey D. Luffy: Este era o nome do neto mais novo da casa vizinha. Luffy era um moreno tão bonito quanto seus irmãos — e o mais desmiolado entre os três. Sempre fora um garoto elétrico, tanto que já causou muita confusão quando mais novo. Assim como a ruiva era cobiçada, o rapaz sempre teve um fã clube de garotas o rodeando, afinal ele era um dos astros locais. Desde cedo se interessara pelo surf e chegou a ganhar vários campeonatos. Seu avô percebeu seu talento e o deu a oportunidade de seguir seu sonho: Ser surfista profissional. Então dois anos atrás, saiu de East Blue Island rumo a Grand Line, onde ele poderia se aprimorar e competir em campeonatos mais importantes.
— Me pergunto se aquele idiota está bem, às vezes ele me dá nos nervos, mas sinto falta dele. — deu um sorriso de canto. — Queria que ele fosse na formatura hoje...
Ela não percebeu, mas seu semblante tornou-se mais triste de repente. Na época que seu amigo anunciou sua partida, ela e os demais colegas ficaram chocados ao saber que eles não terminariam o ensino médio juntos. Luffy deixou saudades não só nela, mas também em seus amigos e em muitos da ilha. O garoto que andava para lá e para cá com seu chapéu de palha era muito gentil e tinha um carisma único, qualquer um se sentia cativado pelos traços de sua personalidade.
— Luffy, espero que possamos nos ver em breve... — disse quase em um sussurro. Logo percebeu sua mudança de semblante. Só naquele começo de dia ela se assustou; quase “morreu”; se estressou; sentiu saudade; muitos sentimentos para um período de trinta minutos. — Droga, eu tô parecendo uma garota idiota de comédia romântica. Enfim, vamos nos arrumar porque hoje o dia vai ser longo. — disse ao seu próprio reflexo e dirigiu-se ao banheiro em seguida.
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