Na cidade de Rathiddy existe uma pedra famosa: a pedra de Cuchulainn.
Cuchulainn era um guerreiro que viveu na mesma época em que cristo andou pela terra, e suas aventuras até hoje são contadas. Diz a lenda, que em sua última batalha, já doente, ele soube da eminência da sua morte por meio de uma visão. Fraco, ele se amarrou a uma pedra com suas próprias entranhas e enfrentou de pé todos os guerreiros que vinham em sua direção.
Apenas quando um corvo se aproximou e pousou em seu ombro, os guerreiros puderam se aproximar ao ter a certeza da sua morte. Ele morreu de pé e lutando, como havia feito sua vida inteira.
Cuchulainn sempre foi meu herói favorito, e sua pedra foi o primeiro ponto em que fui visitar quando fui a Irlanda pela primeira vez aos 10 anos. Meu avô e eu ficamos parados por uns bons dez minutos, ignorando o vandalismo em algo tão especial.
Eu podia imaginar a cena, ouvir a turba. Eu podia imaginar como ele se sentiu nos últimos momentos, cercado e ainda assim continuar lutando, até seu último suspiro. Ele morreu de pé. Sozinho, entre tantos inimigos.
Para mim, Cuchulainn nunca foi apenas uma lenda.
Por algum motivo, quando falei isso ao meu avô, senti que ele ficou triste.
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CASTIEL PODIA OUVIR VAGAMENTE A TURBA EUFÓRICA POR SANGUE. Nas últimas horas havia completamente se isolado em sua mente, tentando não sentir nada do mundo do lado de fora. Sabia que no momento em que voltasse a consciência, ele iria sentir.
Ainda assim, cada horror dos últimos dias ainda estava ali na sua mente. A tortura pela qual passara fazia o seu destino parecer um alívio. Eles não estavam pedindo informações, apenas tentando arrancar dele uma confissão que não existia. E no fim, nada disso importava.
Castiel sabia, que não importava o que acontecesse, nada poderia o salvar. O seu corpo, mesmo se o deixassem em paz, só teria mais algumas horas. A infecção havia se instalado nos seus cortes em carne viva. Não existia praticamente pele nenhuma em suas costas, ou unhas em seus dedos.
A última coisa da qual tinha noção real antes de se isolar era da dor excruciante quando perdeu seu olho direito. Quase pensou que tinham arrancado seu outro, mas ao abrir os olhos ainda conseguia enxergar. Milagrosamente, não havia dor. As formas eram vagas e desconexas, causadas por uma febre alta, talvez por isso a falta de sensibilidade com sua situação.
Ouviu os gritos enquanto era arrastado. Coisas eram jogadas em sua direção. Podia ouvir os gritos eufóricos. As mãos que o ergueram eram quase gentis. Podia as sentir tremer levemente, o que o deixou confuso. Suas mãos foram soltas e então novamente amarradas, os braços para trás.
Sua consciência ficou mais alerta, percebendo seus arredores mais. O tronco de madeira, a plataforma em seus pés descalços. Abaixo pedras e mais madeira. Um cheiro forte, e vozes ao redor.
—Castiel. — A voz foi quase gentil ao seu ouvido. Alguém falava mais a frente, conseguia pegar palavras desconexas. “Bruxaria” “traição” “confissão” “sedução” “sodomia”. — Castiel.
Seu único olho restante focou de lado, ainda confuso. Olhos escuros o fitavam, em uma expressão estranhamente angustiada. Victor Smith.
Ficou mais alerta. Um sentimento forte se apoderou em seu peito. Ódio, puro e simples. Ele queria gritar, dizer a ele que não tinha o direito de o olhar assim, quando parte do que sofrera fora nas mãos dele. Nem que tivesse forças poderia.
Não sem uma língua.
—Ele não veio por você. — A voz dele era quase gentil ao dizer isso, e se sentiu confuso sobre o que ele falava.
O homem desviou os olhos, descendo do tablado com as costas rígidas. Voltou seus olhos à multidão, agora mais alerta do que nos últimos dias. Era cruel essa confirmação. Sua consciência do que estava por vir.
E foi quando os viu.
John estava na parte mais afastada. Sua expressão pálida e horrorizada, quase confusa em meio a tudo. Conseguia reconhecer a dor e o horror na expressão dele, mas não conseguia se sensibilizar com isso mais.
Stephen estava lá, bem perto da fogueira. Claro que ele estaria. Esperava que aquele porco encontrasse o fim dele um dia. Que experimentasse pelo menos metade da dor pelo que passara nos últimos dias.
E foi quando ele o viu no meio da multidão. Capuz na cabeça, rosto sujo. Quase não o reconheceu. Mesmo naquele momento, seu coração saltou na garganta. Ele não deveria estar lá. Não depois de tudo pelo o que passara para o proteger.
Perdeu o momento em que a fogueira foi acesa, o calor aos poucos chegando até ele. Seu olhar estava fixo em Masaru. Nunca havia visto os olhos dele daquela forma. Havia tanto horror, tanta raiva ali. Sabia que provavelmente havia algo semelhante em seu olhar. Quase perdeu quando ele tirou algo da capa. Facas chinesas. Masaru era especialista em armas desde criança, sabia que ele conseguiria as lançar e acertar o alvo em cheio.
Seria morte praticamente instantânea, sem sofrimento algum.
O calor aumentou abaixo dos seus pés, sentiu quando eles começaram a queimar e ele apenas o fitou com mais desespero.
“Me mate Masaru. Me mate rápido.”
Implorou com o olhar. Não havia como ser salvo mais, mas havia como ser poupado da dor que estava por vir. Abriu sua boca em um gemido estrangulado. Sua pele parecia dissolver em seus pés e soluçou em agonia.
“Me mate!”
Ele sabia que Masaru havia entendido seu pedido. E quase sorriu quando o viu se preparar para o ataque, sua mão se erguendo na posição correta, seu rosto focado. Esperou sentir o golpe de misericórdia.
Que nunca veio.
Pessoas gritavam atrás e viu que outra pessoa havia caído, sangue jorrando do peito. Victor Smith.
Voltou o olhar traído ao outro, que o fitava. Os guardas corriam em direção a ele e sabia que Masaru não lutaria. Aparentemente, o ódio dele também era maior do que o amor que achava que ele sentia por ele em algum momento.
“Ele não veio por você”. O maldito sabia. Ele sabia que ele estava ali na multidão, sabia o que ele pretendia fazer. E havia permitido. Praticamente se matado, apenas para Masaru ser pego.
Aquele fio de esperança em seu coração quebrou, se estilhaçando. Tudo havia sido em vão. Masaru iria morrer, Masaru havia lhe negado o último pedido, apesar de tudo.
Sentiu aquela chama de ódio aumentar como nunca, o consumindo. Todo o horror, o medo pelo o que passara. Toda a dor parecia o consumir.
Nesse momento o fogo o atingiu de verdade e gritou. Tinha uma vaga noção de mais gritos na multidão, algo estranho devia estará acontecendo ao redor. Viu as chamas aumentando ainda mais, se espalhando pelo perímetro.
Mesmo em agonia, sorriu, vendo que o fogo atingia a turba que viera comemorar sua agonia. O fogo se espalhava e punia ao redor. Gritou mais forte, sentindo ser consumido pelas chamas, mas também por algo muito mais poderoso. Mais poderoso do que o medo que passara anos sentindo. Mais poderoso do que a dor da tortura. Mais poderoso do que o amor que achara que havia encontrado, e que morreria por ele.
Castiel morreu consumido pelo ódio.
...................
Sai achou que estava acostumado a ser despertado pelos gritos de Naruto, ainda assim ao ouvir o som estridente e aterrorizado, caiu da cama com o coração na mão.
Olhou aterrorizado e confuso ao redor. Viu o colega de quarto praticamente convulsionando na cama, suas costas arqueando enquanto ele gritava sem parar.
—Naruto!
Gritou e correu em direção ao outro, escapando de um soco.
—Naruto! Naruto!
Tentou o segurar novamente, mas logo viu que não conseguiria. Recebeu um soco tão forte que sua cabeça ficou leve. Sentiu o sangue jorrar de seu nariz, apenas sabia que ele estava quebrado.
Naruto continuava a gritar, mais alto e mais horrorizado. Sentiu medo o consumir. Ele sempre acordava naquele momento, ele nunca havia ficado assim. A pele dele estava avermelhada, o cabelo loiro coberto de suor, o rosto em agonia e lágrimas enquanto ele se arranhava, se contorcia, quase caindo da cama.
Ele sabia que não conseguiria ajudar.
Correu para a porta, ainda descalço. Já era manhã, mas muito cedo. Apenas rezava para ter algum dos tutores já fazendo a patrulha, não tinha como correr até a enfermaria e deixar Naruto sozinho.
Como se ouvindo suas preces, ao virar no segundo corredor, bateu em alguém.
—Obrigado Deus. — Sabia que parecia bem maluco no momento, o rosto coberto de sangue, mas não se importou. Apenas agarrou o braço de Itachi Uchiha e o puxou. O homem resistiu um segundo até gritar. — É Naruto! Naruto!
Isso foi o que bastou e ele estava correndo a seu lado, seu braço ainda bem preso ao dele, embora parecesse que ele que o arrastava agora.
Sua porta ainda estava aberta, por isso apenas entraram com tudo. Naruto não estava na cama, mas podiam ouvir os gritos. O Uchiha o largou e correu, pegando o garoto que estava no chão. Sai olhou com horror que havia sangue na cabeça dele, provavelmente de uma pancada quando caíra e dos arranhões que infligia a si mesmo.
Ele lutou nos braços do Uchiha, mas mesmo com as pancadas o outro o segurava firme no chão, o imobilizando, enquanto falava em uma língua que Sai achava ser irlandês.
Os gritos pararam após uma eternidade, os movimentos cessaram.
E então sentiu seu peito se comprimir com os soluços do outro. Sentidos, horrorizados.
—Jesus Cristo.
Se encostou na parede e se arrastou, sentando no chão pesadamente. O Uchiha o fitou, a expressão dele devia ser igual a sua no momento. Nunca havia o visto com medo antes, mas não conseguia comentar nada sobre isso.
Não com Naruto agarrada no outro chorando daquela forma.
—Vou levá-lo a enfermaria. — O Uchiha falou. — Ele está...queimando.
Sai achou que assentiu algo, vendo o outro se erguer com o adolescente nos braços facilmente, agora que ele não estava lutando mais. Naruto parecia uma criancinha daquele jeito, mas sabia que nunca iria zoar com a cara dele por isso, não com esse momento.
Viu o outro sair pela porta, sem se mover do chão, os olhos ainda arregalados na cama do amigo. Alguns momentos depois alguém entrou. O garoto ruivo, outro tutor, e uma mulher que já havia visto antes.
—O Uchiha me enviou. Vamos, vou te levar para ver esse nariz. — A voz dela era suave. — Você está bem?
Assentiu, enquanto ela o ajudava a se erguer.
Todos eles sabiam que era mentira.
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—Tem algo de errado com o esquadrão de proteção hoje.
Kakashi removeu o olhar dos relatórios que escrevia na mesa e fitou Kurenai que parecia pensativa. Ao seu lado Asuma a olhou com a testa franzida em confusão.
Kakashi sabia bem de quem ela falava.
Fez um som interessado e a mulher suspirou de onde corrigia as provas.
—Dois deles estão faltando, eles têm uma nova adição, e todos pareciam bem pra baixo durante as aulas essa manhã.
—Eu recebi o aviso de despensa para o Shimura. — Kakashi comentou. — Sabaku foi chamado no meio da aula na direção também, algum problema familiar.
—Recebi o aviso de despensa do Uzumaki da enfermaria.
—Isso explica bastante. Aquele garoto deve ter um cartão vip para a enfermaria a esse ponto. Quem é a nova adição?
—Esquadrão? — Asuma perguntou, mas foi ignorado pelos dois.
—Rock Lee. — A mulher sorriu levemente. — O vi na mesa da cantina com eles essa manhã.
—O mini-Gai. — Kakashi voltou aos relatórios. — Faz sentido.
—Do que vocês estão falando agora? — O outro parecia frustrado, olhando para os colegas.
Foi prontamente ignorado.
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Ino não estava nada feliz. Só era meio-dia e já se sentia exausta de preocupação.
Tudo havia começado quando Sai e Naruto não apareceram pela manhã, e depois ouviu os comentários sobre os dois estarem na enfermaria, mas ninguém os deixava vê-los.
Pelo sumiço de Sasuke logo depois da segunda aula no dia, tinha certeza que o Uchiha havia dado um jeito de quebrar essa ordem, como sempre fazia.
O humor de todos estava uma bagunça. Hinata parecia preocupada e aérea o dia inteiro, e havia notado alguns machucados nela, aos quais ela mentiu descaradamente sobre. Quase havia ficado orgulhosa de como ela havia mentido bem.
Shikamaru e Chouji pareciam quase normais, exceto que Chouji estava comendo ainda mais que o normal pela ansiedade e Shikamaru parecia pensativo demais.
Rock Lee, coitado, parecia uma bola de nervos ao seu lado. Havia o chamado para sentar com eles, decidida a ajudar esse menino como missão de vida, mas aparentemente havia escolhido o pior dia. Gaara não parecia inclinado a conversas sem Naruto por perto, a expressão preocupada. E logo mais cedo havia sido chamado para a direção e depois sumido de vez.
Havia o visto com um garoto mais velho que sabia ser o irmão dele — era curiosa sobre os caras bonitos e complexos da escola, a culpem! —, e com um outro homem. Era raro terem visitas de familiares, então sabia que algo estava errado. E como não viu a irmã — sabia que ela estudava no último ano também — juntos, só podia ser com ela o problema.
E então, quando Sai finalmente havia aparecido, ele estava com bandagens no nariz, os olhos escuros com hematomas e uma expressão cansada no rosto como nunca havia visto.
—O que aconteceu?
Ela não sabia quem havia perguntado primeiro. Passou os dedos no rosto dele, examinando-o. O nariz estava quebrado, obviamente.
—Isso? — A expressão dele de burla nunca havia parecido tão fingida. — Tentei acordar o exterminador. Má ideia.
Todos olhavam confusos e chocados.
—Naruto quebrou seu nariz?
—Foi um acidente. — Ele deu de ombros. — Ele não...bem. Eu não sei bem o que aconteceu.
O olhar dele parecia um tanto traumatizado naquele momento. Mais do que o normal.
—Pesadelos de novo?
—Mais para um terror noturno. Ele...estava bem descontrolado. Me disseram que está com uma febre alta também. Foi com certeza...alguma coisa.
Apavorante. Ela conhecia Sai o bastante para saber o que ele não dizia. E algo para deixar Sai assim, devia ter sido realmente horrível.
—Problemático. — Shikamaru resmungou.
Todos ficaram em silêncio depois disso.
—Ele vai ficar bem? — Lee perguntou, e Sai pareceu só então notá-lo, a fitando exasperado. Ino deu de ombros com um pequeno sorriso.
Estavam expandindo ué.
E sempre estava pronta para ajudar alguém apaixonado.
—Novinho em folha logo. — Sai sorriu cínico, mas ninguém comentou. — E quando sai de lá vi o metido grudado no pé da cama sendo o agradável eu dele de sempre, então logo Naruto corre de lá de frustração quando acordar.
Os outros grunhiram ao redor com a injustiça. Como Sasuke conseguia passar por cima de tantas regras? Para sua surpresa Hinata— doce Hinata — foi quem resmungou.
—Não sei como o Uchiha consegue essas coisas. Privilégio é uma benção.
Dessa vez sorriu de verdade.
—E o ruivo psicótico? Pensei que ele estivesse aqui morrendo de preocupação.
Sai perguntou, segurando sua mão com mais força que o normal.
—Sabaku-san não está bem. Algum problema com a família.
Bem, Lee era bem mais observador do que aparentava, sem dúvidas.
Ele se encaixaria como uma luva entre eles.
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Itachi realmente não deveria ficar surpreso ao abrir a cortina e encontrar Sasuke prontamente sentado ao lado de Naruto, o olhar focado no rosto febril do outro garoto.
—Sasuke.
Sua voz estava tão parecida com o tom cansado e exasperado do seu pai que era assustador. Agora entendia porque ele sempre falava que metade dos seus cabelos brancos eram culpa do filho mais novo.
—Eu tenho permissão. — Ele rebateu sem o olhar.
—De quem?
— Katarina.
—A secretária do Obito?
—Ela gosta de mim. E Shizune me deixou entrar. — Ele franziu o nariz. — Ela não gosta de mim, mas gosta do Naruto.
Obviamente porque Naruto praticamente morava na enfermaria, mas era mais educado que Sasuke com as pessoas que trabalhavam lá.
—Quer saber...eu não vou perguntar mais. Você vai para a aula depois do almoço. Não, nem me olhe assim. Quer sair agora? Bom. Então aproveite enquanto pode.
Sasuke grunhiu alguma coisa, mas pelo menos sabia que não podia ganhar essa. Desviou o olhar quando ele tocou no rosto ainda vermelho de Naruto, que tinha uma expressão sofrida no momento. A febre pelo menos estava baixando.
—O que aconteceu?
—Ele não tem dormido bem, a febre é exaustão.
Sasuke pareceu ainda mais preocupado. Era melhor do que contar o que achava que tinha realmente acontecido. Pelos murmúrios febris sabia que Naruto havia visto a pior coisa possível. A morte de Castiel era com certeza uma das lembranças mais aterrorizantes que lembrava. A primeira vez em que havia visto aquilo, com sete anos, havia ficado hospitalizado também.
Castiel, mutilado, sendo queimado vivo era uma imagem que nunca sairia da sua cabeça e era motivo de pesadelos muitas noites. O fogo se alastrando da fogueira como uma onda de punição, queimando pessoas no caminho, que corriam pelas ruas em chamas. Ainda podia sentir o cheiro da carne queimada às vezes, ouvir os gritos da multidão.
Os gritos de Castiel.
Os gritos de Masaru pego pelo fogo também.
—Itachi?
Sasuke o olhava com um franzir preocupado e tentou sorrir,
—Ele vai ficar bem, provavelmente vai ser liberado hoje ainda.
O garoto assentiu, o olhar incerto.
Eles vão ficar bem.
Tinha que acreditar nisso.
.................
Ino não ficou tão surpresa quanto deveria quando ao atender uma batida na porta do seu quarto logo depois do jantar, Sai praticamente empurrou Naruto nos seus braços, murmurou um exasperado “Dê um jeito nele” e praticamente fugiu pelo corredor.
Ela realmente se apaixonava pelos mais idiotas.
Naruto parecia confuso com a situação toda, mas — bendito menino — apenas aceitou seu convite de bom grado. Aparentemente Sai não havia mais aguentado o modo como o olhava de forma culpada sempre que mirava no nariz dele enfaixado.
Sai nunca havia sido muito bom com os sentimentos e um Naruto tremendo os lábios de forma culpada com certeza não era uma coisa fácil de lidar.
—Te liberaram da enfermaria ou fugiu?
—Me liberaram. — Naruto parecia ofendido. Quase acreditou na farsa.
O sentou na cama. O conhecia o bastante para saber que qualquer que fosse o problema, ele não falaria. Havia tentado de tudo, e apesar de ser claro que aquela cabecinha bonita era uma caixa de pandora, ele parecia ter a língua bem travada.
Então ela que falaria. Isso sabia fazer bem. Começou pelos rumores de um romance entre o professor Asuma e Kurenai, passou pela rivalidade entre Gai e Kakashi que ninguém entendia como eram se quer amigos, e a dúvida de toda a população escolar do gênero do professor Orochimaru — nisso conseguiu a primeira risada da noite — e então para Rock Lee e Gaara. E nisso, Naruto pareceu bem chocado.
—Sem chance.
—Vocês garotos são bem tapados as vezes. — Reclamou, fazendo mais uma trança nos cabelos dele, dando algum estilo naquele ninho de ratos. Um ninho de ratos bem macio e cheiroso, mas um ninho de ratos.
—Pelo menos eu gosto dele. — Naruto ruminou, mastigando o chocolate que tinha lhe dado. Ele parecia menos tenso, menos pálido pelo menos. Embora o sorriso dele ainda fosse um pouco forçado. — E como Gaara estava hoje?
—Preocupado com você. Também aconteceu algo com a família dele. — os olhos azuis ficaram nublados de preocupação e acariciou o cabelo dele. — Ei, relaxa, amanhã ele te conta, não tenho dúvidas.
Quando a porta abriu toda a tensão voltou, o corpo dele enrijecendo onde estava sentado entre suas pernas na cama.
Sakura também enrijeceu na porta. Podia sentir a tensão dos dois no ar. Os olhos dele estreitaram com certo desgosto. Ela fechou a porta com um pouco de força.
—Uzumaki.
—Haruno.
—O que faz aqui? É terminantemente proibido...ei, esse é meu chocolate da TPM?
—Eu reponho. — Ino deu de ombros, ainda fazendo as tranças. — Relaxa Sakura, ele está comigo.
—Garotos não podem entrar nessa ala Ino!
—Nunca impediu a gente. — Piscou e a outra corou, mas não tinha o que responder a isso.
Viu que ela queria falar muita coisa. Naruto era seu rival no amor aos olhos dela. Porém algo na expressão de Naruto a fez franzir o cenho e fechar a boca. Conhecia bem Sakura, viu a forma analítica com que ela fitou Naruto, antes de ir para sua cama e abrir os cadernos, fazendo exercícios de matemática.
Naruto continuou tenso, mas aos poucos ele relaxou mais. O viu murmurar algo em irlandês e Sakura voltou a olhar.
—Eu falo sete línguas, incluindo duas mortas.
Naruto franziu o narizinho e fez algo que tinha certeza que era um bico.
—To nem aí.
— Não é educado xingar as pessoas em outras línguas.
— Não é educado agarrar quem...— Naruto pareceu morder a língua com o que ia falar, mas o recado tinha ficado bem claro.
—Vocês não namoram. — Sakura se sentou. — Você e Sasuke.
—Não. — Naruto falou rápido demais, os olhos levemente arregalados olhando as duas. — Não namoramos.
Havia uma certa urgência ali, ao falar isso, algo mais pesado. Como se ele quisesse deixar bem claro isso. Sakura trocou um olhar com ela. A expressão de Naruto era mais firme.
—Não namoramos.
—Entendemos, Naruto. — Ino o apaziguou.
Ele não voltou a relaxar mais.
Quando Sai veio o buscar algum tempo depois, os dois tirando onda sobre a divisão da guarda do Uzumaki, o clima ainda era pesado no quarto.
—Ele estava com medo. — Sakura comentou. — Nunca me pareceu que ele tivesse medo sobre a opinião de ninguém, mesmo algo assim.
— Ele não tem.
O medo parecia genuíno, no entanto. O modo assertivo com o qual ele falou aquilo...era preocupante.
—Ele realmente é bem problemático. — Sakura comentou, e quase riu em como ela pareceu Shikamaru agora. Sakura era bem divertida quando não era uma cretina. — Os olhos dele...parecem...
—Traumatizados. — Colocou a palavra que a outra não conseguia terminar. Então, por isso Sakura havia recuado. Sabia que ela não era tão sem coração assim.
—Bem, você realmente é boa em pegar os mais insanos como amigos, Ino-porca.
—Se identificando, testudinha?
—Argh.
A outra virou-se na cama, a ignorando. Prova de que havia ficado realmente abalada.
Não duvidava que daqui para o final do semestre Sakura estivesse na esquadra de proteção ao Naruto já. Ela sempre teve um fraco para proteger os necessitados. E Naruto sem dúvidas precisava de proteção como ninguém.
—Se quiser posso de entregar o cartão de membro.
—Do que está falando agora?
Apenas riu divertida.
.......................
Olhava para Gaara tristemente, seu amigo estava desesperado, apesar de não demonstrar, sabia que estava. Temari sua irmã havia desaparecido há dias, e nesse tempo, não tinham nenhuma informação da garota. A história era que ela havia recebido permissão para sair com o namorado para um conserto, mas não havia retornado quando deveria.
Naruto nem mesmo sabia que era possível ter aquele tipo de permissão, mas ao que parece sim.
Sabia que era mentira também. Havia desconfiado na primeira vez que começaram os rumores, tudo bem trabalhado demais. Temari de repente namorando com um dos vencedores? Ela era a garota que balearam na prova, a desclassificada. Sabia que ela já deveria estar morta, ou a caminho do túmulo, não havia escapatória.
E saber disso, saber dessa infeliz e desumana realidade o fazia sentir um monstro, por não poder contar o fato ao seu melhor amigo.
—Disse que seu pai já está investigando, não é? — Questionou, enquanto alisava as costas do mais novo.
Estavam sentados um dos bancos do jardim, externo, preto das quadras de futebol. O lugar isolado era perfeito para eles, que queriam privacidade. E em especial Gaara que queria paz.
— Meu pai é só um agente, ele não é tão importante ao ponto de poder fazer algo grande para achar ela. — Passou a mão pelo rosto. — Apesar dela nunca se importar tanto comigo, ou ter falado muito comigo, eu a amo. Temari não deixa de ser minha irmã, e ela estava realmente tentando se aproximar de mim nos últimos tempos.
— Eu sei. — Abraçou o outro. — Não quero te ver sofrer, posso parecer um idiota sem sentimentos dizendo isso, mas não acha que é melhor começar a cogitar que talvez...Cinco dias sem pistas dela, sem gravações das câmeras, sem depoimentos, nada...
— O que quer insinuar? Que Temari morreu? — Se afastou, o olhando com incredulidade e raiva. Naruto desviou o olhar para a grama. Uma brisa gelada passando por ambos, os cabelos loiros caindo sobre seus olhos.
— É uma suposição, mas, desculpe. — Continuou olhando para o chão, sua garganta apertando, seus olhos pinicando. Iria chorar droga. — Desculpe por não poder fazer nada... Por não fazer nada...
Gaara se sentiu culpado no mesmo momento, ao mesmo tempo em que achava aquela reação estranha. Seu coração falou mais alto e contendo sua vontade de também derramar lágrimas, abraçou o amigo que se encolheu em seus braços.
Você não teve culpa. E te digo mais, não pode contar a ele o que sabe se não ele morre e você também, então se recomponha. Tem uma prova para ganhar hoje. Chorar não vai resolver seus problemas.
Eu podia ter feito algo...aquele tiro era para mim.
O quê? Se deixar ser atingido? Amaid. Em que isso ajudaria seu amigo?
Ele teria a irmã dele pelo menos.
Não seja irracional!
A voz alta o fez se encolher mais no abraço de Gaara, assustado.
Você não vai morrer por ninguém. E se esquece do que acontece se perder? Sua família, seu amigo. A vida de todos na sua mão. Na sua consciência. Não de uma garota que você nem mesmo conheceu.
Pare...
Então pare de se lamentar. Você não tem tempo de quebrar.
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Sasuke estava se sentindo um pouco idiota.
Era tudo uma situação nada usual. Não estava acostumado a praticamente correr atrás de alguém, ou todo o receio de falar algo para Naruto que o fizesse se fechar para si como ele fazia às vezes.
Desde que tomaram aquele chocolate quente no refeitório, mal haviam se falado mais. Quando retornara à enfermaria depois da febre dele, Naruto já havia sido liberado. Era como se Naruto não quisesse que fossem vistos juntos, e isso estava o atingindo e pisando em seu orgulho.
Mesmo nas aulas, ele não largava de perto do Sabaku, que parecia estar passando por algum problema familiar qualquer. Itachi havia lhe dito para dar um tempo para Naruto, que ele estava com alguns problemas, mas também não disse quais. Isso estava deixando-o louco! Todos estavam escondendo algo dele. Como podia ser paciente?
Não os havia visto o dia todo, e o inútil do Sai havia dito que Naruto estava no quarto de Gaara, nem mesmo para o refeitório haviam ido. E isso o levava ao cúmulo de sua humilhação, que era estar no corredor do quarto de Naruto o esperando aparecer. Por sorte o monitor da noite havia sido Itachi, que apenas fingiu que não o viu fora da cama naquela hora.
Olhou o celular, pensando se Naruto iria dormir com aquele ruivo psicopata, quando o viu vindo pelo corredor, cabisbaixo. As mãos nos bolsos, usando roupas escuras e uma jaqueta caramelo puída, totalmente desarrumado.
Sasuke parou sua observação quando sentiu Naruto levantar a cabeça e os olhos de ambos se encontraram. Sua vista passou no rosto do outro, checando. Desencostou da parede, uma mão no bolso, a outra caída ao lado do corpo, e caminhou devagar até o ele, que parara no corredor o encarando.
Naruto se virou e caminhou até uma das grandes janelas de vidro que tomavam o corredor, parte de uma das reformas do colégio, e que dava a vista para o jardim lá fora. Sasuke o seguiu e se postou ao lado de outro, que fitava o lado de fora com as mãos no parapeito.
E lhe era tão estranho, Naruto calado, que sentiu seu peito apertar.
— Você devia estar no quarto. — A voz rouca e baixa atrapalhou seus pensamentos.
—Diga algo que eu não saiba, Dobe.
Provocou, e para sua decepção, não recebeu resposta dessa vez. Apenas um suspirar baixo e profundo. O fitou mais gravemente, preocupado.
A primeira coisa que notou, era que Naruto parecia muito cansado. Ele carregava olheiras, uma barba de alguns dias e seu cabelo parecia ainda mais bagunçado. A segunda coisa que notou, era que ele parecia ter chorado recentemente. O nariz estava um pouco mais avermelhado.
Naruto virou os olhos azuis em sua direção forma grave, e sua mente ficou em branco ao ver o rosto refletindo a luz branca de fora, os cabelos caindo ao redor do rosto. Por um momento pensou que algo mesmo brilhava ao redor do outro.
— Lindo... — Falou sem perceber, sentindo-se levemente tonto.
Naruto estreitou os olhos, os lábios ficando retos de irritação.
— Não me olhe assim, Sotalach!
Se surpreendeu com o tom de voz autoritário. Piscou, se recuperando e ficando confuso, mesmo que seu rosto voltasse a ficar neutro como sempre.
— Assim como?
Perguntou com uma ponta de curiosidade, enquanto Naruto voltava a virar para fora.
— Assim, como todos eles olham! — Ele cuspiu com raiva.
O Uchiha ergueu uma sobrancelha bem-feita em confusão.
O loirinho o fitou de canto dos olhos. Apenas quando Sasuke viu que ele não falaria, se pronunciou.
— É suposto que eu soubesse do que você está falando, dobe?
— Seria suposto. — O outro repetiu baixo. Ele pareceu lutar com as palavras um instante, franzindo a testa, e então trincou os dentes, o fitando, pronto para despejar tudo. — Eu odeio meu rosto. Odeio que me olhem assim, Sasuke.
— Muitos matariam para ter um rosto assim.
Queria entender Naruto, esse enigma, e aproveitaria o fato do garoto mais velho parecer estar tão aberto no momento, sem culpa nenhuma.
— Pois bem. — Ele bufou com desdém, os dedos passando pela bochecha com cicatrizes devagar — Eu morreria para não ter, isso só me trouxe dor…
Como se se desse conta do que falava, Naruto piscou e desviou os olhos, fechando os punhos e encerrando o assunto.
— Eu não me importo de ser bonito.
Para Naruto, ouvir aquilo, na voz sem sentimentos do outro, nenhuma mudança na expressão, foi engraçado o suficiente para fazê-lo rir sem querer. Uma risada que Sasuke apreciou o bastante para sorrir de canto.
E foi a vez de Naruto parecer meio bobo, sendo que era tão raro Sasuke sorrir.
E que ele ficava ainda mais bonito daquele jeito.
—Tenho certeza que não, Sotalach. — Sorriu, agora sincero, e o coração do jovem Uchiha disparou quando a mão menor tocou a sua no parapeito, quente, em um gesto natural que fez os dois sorrirem — Tenho certeza que não.
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Naquela noite a lua reinava no céu vitoriosa, sem nuvens para atrapalhar seu brilho resplandecente. Era já de madrugada quando foram levados pelos furgões, ficando nele por um bom tempo até que a locomoção parou e foi obrigado a descer por um dos vencedores.
O lugar era uma grande clareira, não muito diferente da que esteve na primeira e segunda prova. O chão coberto de feno, e árvores que rodeavam o lugar. Dessa vez a única iluminação eram os faróis dos carros que miravam neles, que pararam como sempre, em fileira de cotas para os faróis. Criando enormes sombras que iam até os pés de uma pessoa que Naruto não conseguiu identificar pelo capuz que lhe cobria o rosto. Pelo tamanho e pelas roupas, um casaco grande, bem maior que seu corpo e uma calça jeans apertada, era uma garota. O que era estranho era que não havia visto nenhum sinal de Obito.
O som dos grilos irritantes e foi cortado pela voz suave, que confirmou ser feminina.
— Boa noite, jogadores. — Deu um passo à frente, deixando-se ser mais iluminada, e então com espanto Naruto a reconheceu.
Rebecca, a recepcionista estranha. Franziu o cenho, não se surpreendendo tanto quanto deveria. Mas o que uma recepcionista comum está fazendo aqui participando de um jogo mortal? Realmente nesse fim de mundo não se pode confiar em ninguém.
— Dessa vez nosso querido diretor Uchiha não poderá participar conosco. Mas até o fim da prova ele se juntará conosco. — Querido só se for para ela. — Então fui escolhida para o substituir e passar a vocês as regras do jogo.
Por mais estranha que parecesse, Rebecca não parecia incomodada ou nervosa com a situação. Era uma frieza que nunca havia notado na mulher.
—Esta, a terceira prova do jogo anual, terá início ao toque da sirena. Basicamente terão de ir até o rio e nadar até o fundo, onde estarão alguns pesos, em total cinco para cada participante, pesando cinco quilos cada um. Terão de pegá-los e nadar até a margem e os colocar em seus lugares. Cada um terá sua cor respectiva pintada nos pesos. É uma prova fácil de resistência.
Sorria como se fosse realmente fácil. Um dos vencedores se aproximou entregando a ela um Ipad, logo se retirando.
— Terão um tempo de cinco minutos para chegar ao rio, e vinte para pegarem os pesos, a cada dez minutos o sinal soará. Quando o último sinal tocar, terão de nadar até a borda, e serão contabilizados os pontos pela quantidade de pesos que levarem e a ordem de chegada. Quem conseguir todos, terá imunidade na próxima prova, pensem nisso como um pequeno bônus.
Ela movia as mãos todo o tempo, tentando explicar tudo da melhor maneira possível, tentando transmitir uma certa positividade a eles. O que não estava dando certo. já que pareciam tensos, e Naruto sempre notava um olhar de soslaio em sua direção.
— As regras são simples: sem contato físico entre vocês, proibida agressão, ajudar a outro competidor e trapaças. Fácil de se seguir pessoal. Então irei dar a cor de cada um. Primeiro: Cobra, branco; Segundo: Lontra, verde; Terceiro: Tigre, foi desclassificado por motivos de saúde.
Foi desclassificada porque morreu, admita.
— Quarto: Javali, amarelo; Quinto: Falcão, vermelho; Sexto: Leão, azul; e sétimo: Raposa, laranja. Enfim... — Olhou â todos, depois de desviar o olhar do Ipad. — Boa sorte a todos e... — Naruto se retesou ao ser olhado fixamente pela mulher, que deu um sorriso de canto antes de olhar a todos. — Que vença o melhor!
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— Ifreann! — xingou baixo em irlandês ao ser jogado para um lado, quase batendo de cara em uma árvore. Quando Rebecca havia dito “sem contato físico” parecia que aquele cara não havia entendido.
Mal entraram correndo na floresta, após a sirene e já estava sendo empurrado para que o outro ganhasse a frente. Mordeu o lábio por baixo da máscara e apertou as mãos em punhos. Aquele cobra, sempre ele!
Não vou perder nem para ele, nem para ninguém!
Mais atrás vinham o falcão e o lontra, em passos menos pesados que os seus. Ambos não pareciam assim preocupados com a corrida, talvez guardando energia para o rio e os pesos que teriam de encontrar logo. O que certamente Naruto não fazia.
Acelerou os passos, naquele momento somente visualizando na penumbra o vulto rápido a sua frente. Não se importava com os galhos que lhe ricocheteavam, nem nas vezes que tropeçava. Tinha um alvo em mente e não pararia até conseguir o passar. Em matéria de competitividade, de Naruto ninguém ali ganhava.
Se aproximou o bastante para ver os adornos da roupa excessivamente colada, e viu o outro lhe olhar de soslaio. Com prepotência.
E foi sua vez de empurrá-lo, com força, quase se desequilibrando junto. O cobra tropeçou e para sua má sorte, bateu o braço contra uma árvore. Foi a deixa de Naruto que se virou para frente, continuando em sua liderança.
Correndo como se sua vida dependesse daquilo, sentia seus músculos trabalharem em sincronia, enquanto pisava ruidosamente no chão. Não se importava, somente queria chegar o mais rápido possível nesse tal rio e pegar os pesos. Dez quilos era coisa demais, mas treinara sua vida inteira para um propósito, estar pronto para tudo, e isso incluía ganhar um jogo bizarro como aquele.
Quando finalmente se viu fora da floresta, olhou brevemente para trás, somente para confirmar que mais dois competidores estavam em seu encalço, somente a alguns metros. Se virou para frente a tempo de ver que seu caminho acabara e... A terra também.
Mãos rentes, corpo reto de ponta, segure o ar!
Não houve tempo para parar, não houve tempo de pensar em nada além de ajustar seu corpo da maneira correta para não se arrebentar e segurar o ar, e se via em queda livre pelo precipício.
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Sasuke parou a poucos metros do grande precipício, ofegante e ainda mais chocado com o que havia visto. O raposa tinha acabado de cair ali.
Sentia o coração acelerado de uma maneira que achou que teria uma taquicardia a qualquer momento. Ao seu lado o cobra e o lontra grandalhão se aproximaram da borda, olhando para baixo, e os seguiu, fazendo o mesmo. Ouviu uma risadinha debochada do cobra.
Suas mãos tremiam e tentou engolir aquele sentimento desesperador que lhe subia a cabeça. Firmou seu pé direito na borda e sentiu algumas pedras despencarem abaixo de seu pé. Se encurvou, olhando para baixo, imaginando o que veria.
Para sua surpresa lá estava ele, o raposa, sua cabeça emergindo da água, antes de voltar a mergulhar no rio que corria devagar aos pés do desfiladeiro. E não havia outra maneira de chegar ali além de... Pulando
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Se pudesse enumerar a experiência de sua vida que mais lhe fez sentir a mais pura adrenalina, esta estaria entre elas. Sua voz parecia ter travado enquanto sentia cair, o som do vento cortante em seus ouvidos. E por um segundo, o tempo que levou para cair, pensou que aquele seria seu fim.
Uma estranha lembrança lhe veio à mente. Uma ponte, um tiro, um grito. Queda livre em águas escuras. E então a água em seus pulmões. O escuro ao redor, o sangue em sua garganta...
—Steve!
—Rymura...
Naruto!
Não houve tempo nem de abrir os olhos novamente e se sentiu se chocar com a água congelante que lhe cercou, enquanto afundava cada vez mais.
Suba!
Abriu os olhos por debaixo da água, via formas desconexas das bolhas de ar que pareciam lhe rodear por completo, fugindo para a superfície. Moveu-se devagar, a adrenalina o fazendo nadar instintivamente para cima, apesar do choque térmico terrível de seu corpo quente e a água extremamente gelada. Seu fôlego se extinguindo aos poucos.
Prenda a respiração, tome impulso, quase lá.
Quando enfim alcançou a superfície, entendeu o porquê da máscara que tinha aquela telinha no local da boca. Era para evitar que a água se acumulasse o os afogasse depois de sair do rio. Ofegante olhou para cima, sentindo um frio na barriga ao notar a altura do precipício e só de pensar que tinha caído aquilo tudo.
— Foc... —Ssussurrou, dando uma risada histérica.
Foco!
Olhou ao redor e notou que na margem, um longo coberto de veludo estava estendido. O que significava...
— É aqui, acho que cai no lugar certo. — Mas tinha algo estranho, o completo silêncio do lugar. Nenhuma luz além da lua, nenhum sinal de que havia alguém os supervisionando. — Estra...
Não pode terminar de falar ao ouvir o grito. Olhou para cima rapidamente. Arregalou os olhos e nadou o mais rápido que pode para longe dali, mas ainda assim quase sendo atingido pelo outro competidor que havia pulado.
Aproveitou a deixa e tomou fôlego e mergulhou. A água daquele rio deveria ser límpida, já que com a ajuda fraca da lua conseguia distinguir as cores. Eram pesos redondos, não maiores que uma bola de futebol e achatados, com um largo pegador, todos misturados e espalhados pelo fundo do rio totalmente pintado pela cor respectiva.
O rio não era muito fundo. Suas braçadas foram abertas e rápidas até o fundo do rio, já tendo em vista seu peso laranja vibrante, talvez a cor que era mais fácil de distinguir. Forçou suas pernadas na água, extremamente gelada.
Imaginava como os outros aguentariam aquela água tão fria.
Agarrou seu peso e o elevou, a perna na areia escurecida do fundo do rio, criando impulso ali, mesmo sendo quase impossível. Não era tão pesado quanto deveria ser fora da água, mas ainda assim lhe dava um trabalho. Não era bombado, nunca quis ter músculos enormes, o que naquele momento lhe fez falta. Porém, tinha um trunfo: seu fôlego.
Por já ter muitos anos de nado, treinando seu pavor da água para fora de si, tinha os pulmões mais evoluídos. Aguentava mais tempo sem respirar do que pessoas normais.
Eu só precisei quase me afogar para isso.
Tentou não pensar nisso, nessas lembranças. Não era hora.
Botou força nas pernas e finalmente se deslocou para a superfície, vendo outro competidor mergulhar e mais alguém cair dentro da água.
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Hinata sentia o corpo todo tremer. De medo, terror e frio. O salto a aterrorizara. O pior de tudo era o rio, o maldito rio parecia estar a lhe congelar viva. Sentia uma sensação estranha de entorpecimento, mas ainda assim conseguiu nadar até o fundo e pegar um dos pesos azuis.
Com muito custo conseguiu o levar até a superfície, quase se afogando no processo. Saiu da água, sentindo as pernas tremerem, e jogou o peso de qualquer jeito no cobertor de veludo.
Sentiu os braços doloridos aliviarem, o frio piorando, e por alguns segundos observou seus concorrentes. O raposa acabava de sair da água, com um peso em mãos e como ela o jogou em qualquer canto. O javali fazia o mesmo, mas voltou correndo para a água novamente quando o peso escapou de suas mãos.
O raposa havia a visto naquele dia, só não sabia se ele havia descoberto sua identidade. Não entendi o porquê de não ter atirado nela, e por isso tinha em sua mente uma grande dívida com o rapaz que havia praticamente a salvado. Ele a olhou por um segundo, e sentiu um arrepio completamente diferente dos outros que sentira.
Ele correu, se jogando de ponta na água, tão rápido que a deixou desnorteada. Abaixou o olhar para os pesos e... Tinham quatro laranjas.
Ele é incrível!
Ouviu outra sirene, essa mais perto demarcando os últimos dez minutos. Tinha de acelerar o ritmo, só tinha dois pesos até agora.
Lutando contra o frio cortante entrou novamente na água, seu corpo todo sendo atingido por um novo tremor. Pensou por um segundo que poderia pegar uma pneumonia ou até algo pior, mas simplesmente tomou fôlego e mergulhou, forçando seus braços e pernas pesados a se mover até o fundo.
Pôde ver em sua visão periférica mais alguns competidores que iam até o fundo, outros já submergiam, e viu o quanto estava atrasada.
Agarrou o peso e se forçou para cima. Foi aí que sentiu a cãibra, a maldita dor que se instalou em sua panturrilha. Era como se tivessem puxando o nervo de sua perna, o movendo do lugar.
Soltou o peso com um gemido, seus ouvidos estalaram e então, simplesmente parou de sentir aquela perna.
A água gelada a estava deixando dormente e por Deus! Estava no fundo de um rio, onde sequer sabia nadar direito com as duas pernas! A única coisa que passava por sua cabeça era a morte eminente, não tinha fôlego, iria morrer.
Fechou os olhos, tentando num último esforço de sair do lugar, seus braços não aguentariam a levar para cima, sua perna que restava começava a ter uma cãibra como sua direita. Sabia que o culpado daquilo era o frio, devia estar fazendo graus negativos ali.
Tentou resistir, nadar para cima, mas então que se deu conta.
Para que queria viver? Para que lutar contra a água e ir a superfície?
Não conseguiria, não tinha motivos para viver.
Poderia morrer sem me esforçar tanto. Ninguém notaria minha falta mesmo.
Soltou o ar que restava em seus pulmões, parando de lutar contra a água, se deixando levar pela correnteza.
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Estava na metade do caminho para cima quando a viu.
Era Hinata que estava... Se afogando? E todos os outros competidores pareciam a ignorar, somente continuando seus trajetos como se nada estivesse acontecendo.
Brin!
Ela estava morrendo, e se não fizesse nada ela morreria.
Nadou o mais rápido que pode, contra a corrente do rio, vendo-a convulsionar à procura de ar. Desesperado, passou o braço esquerdo por debaixo dos da garota que se debatia, sentindo seu próprio ar escasso. Nadou até a superfície com dificuldade, em um momento ela parou de se debater, ficando assustadoramente imóvel.
Ao conseguir atingir a superfície, levantou o rosto da garota, sentindo o corpo frio rente ao seu. Acertou um soco potente no estômago ainda coberto pela água. Tentando a fazer cuspir a água que havia ingerido, mas falhando. Ela estava desacordada e sabia que se demorasse muito não adiantaria. Nadou rapidamente para fora da água a carregando e a depositando sobre o capim fofo.
Trêmulo, levou a mão ao pescoço coberto e frio, o pressionando por alguns segundos. Segundos que lhe causaram medo, exalando forte tentou se lembrar dos exercícios de ressuscitação.
Cinco compressões, dois e curtos sopros, cotovelos parados e, por favor não esteja morta.
Ambas mãos ficaram entre os seios fartos da moça e começou as compressões desesperadamente. Sussurrando o número das vezes, quando alcançou o quinto, tremendo, levantou um pouco das máscaras dos dois, deixando somente a boca descoberta. A segurou pelo queixo com força, a obrigando a abrir a boca e colou os lábios, soprando ar para os pulmões. A largou rapidamente recomeçando a massagem cardíaca, novamente no fim do quinto fazendo a boca a boca.
Sentiu o puro desespero recomeçando a massagem. Ela estava realmente morta...?
Foi então que em um som estranho a viu envergar o corpo e cuspir uma grande quantidade de água.
Nem conseguia distinguir o alívio pleno que se instalou em si. A ajudou a se virar, alisando suas costas enquanto terminava de vomitar a água e começava a tossir. Queria falar com ela, dar apoio, mas sabia que ela não poderia saber de sua identidade.
Ficou ali até que ela se recuperasse.
Viu-a lhe olhar, quase podia distinguir os grandes olhos perolados por debaixo da máscara, que havia abaixado, a lhe fitar com curiosidade e gratidão. Ela não parava de tremer, parecia estar quase tendo uma nova convulsão. Naruto olhou ao redor. Ninguém havia aparecido para socorrê-la. Somente dois jogadores estavam parados à alguns metros ali, em fileira, os observando.
Foi aí que notou.
Oh—oh, isso é ruim.
Agarrou o braço da garota com força, a obrigando a se levantar. Já deviam estar para tocar maldito sinal. Ela tropeçou, gemendo de dor. Obviamente não conseguia andar. Passou o braço esquerdo por sua cintura e o direito dela por seus ombros, a erguendo e começou a carregá-la dali.
Ouviu o som de alguém saindo da água e logo os passos pelo gramado alto.
O sinal soou e Naruto correu mais rapidamente.
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— Alguém não sabe mesmo seguir regras.
O Uchiha fechou os punhos com força, vendo o garoto sumir do alcance da câmera localizada no lago, entrando na floresta carregando a garota. Aquele maldito garoto! Ele estava dificultando muito seu esforço para tentar mantê-lo vivo.
Hiashi não parecia nada feliz, apesar de que a filha dele acabara de ser salva. De todos, ele era o que mais pedia a cabeça do jovem Namikaze, Obito bem sabia disso. E Naruto não parava de dar motivos para isso.
Viu igualmente Tobirama fazer cara de desagrado, enquanto Danzou se mostrava impassível. O ruivo estava também estranhamente calado, os olhos cinzentos grudados na imagem na tela. Acreditava que única coisa que mantinha Naruto realmente vivo era a falta de manifestação dos três, perante a curiosidade diante do desempenho do adolescente, seu potencial, a possibilidade de o moldarem.
Se isso mudasse, sabia que nem mesmo ele poderia salvá-lo, eles dariam um jeito de eliminá-lo sem deixar rastros.
Se controlou, agradecendo pela pouca luz dentro do furgão de monitoramento, o que lhe deu tempo de se recompor. Naruto precisava dele, ele não podia falhar.
— Admito que ele é um tanto... Imprevisível. Porém acredito que essa era uma prova de resistência, e não vejo nenhuma falha no andamento do garoto. Ele foi o primeiro a entrar na água, pegou 4 pesos de 5 mais rapidamente que qualquer outro candidato. Mostrou habilidade em nado, respiração e auto-controle. E devemos considerar que caminhar a essa velocidade levando um peso morto... Sem ofensas Hyuuga.
O homem de olhos claros o olhou friamente, sua voz cortante.
— A incompetência de minha filha não é um segredo que eu não soubesse, Uchiha.
Obito olhou o homem de soslaio. A frieza com que ele agia, apesar da filha quase ter morrido... Isso não deveria surpreendê-lo mais. Sua linha de raciocínio foi cortada pela voz divertida do homem mais velho, que não havia se manifestado até o último momento.
— O cordeirinho é bem interessante. Ele realmente é filho do Namikaze. Se pudermos controlar sua impulsividade, eu pressinto que teremos o que procuramos. Eu gostaria de vê-lo mais. Vamos ver até onde ele pode chegar.
O Uchiha respirou aliviado. A palavra do homem pareceu controlar a situação. Se voltaram para o monitor quando o primeiro candidato entrou correndo para a clareira, o número dois, logo seguido pelo cinco e o um.
— É sua deixa. — O ruivo falou, os olhos indecifráveis na tela, se voltando ele no momento em que se erguia da cadeira e se dirigia a porta de saída do furgão.
Não sabia se havia sido proposital, era quase como se o homem quisesse que saísse o mais rápido dali antes que a situação saísse do controle novamente.
— E Uchiha... —Hiashi o parou. — Espero que converse com seu brinquedinho, não queremos mais surpresas.
Assentiu, desviando os olhos dos cinzentos do outro.
Naruto estava salvo, por enquanto.
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O sinal tocou no exato momento em que irromperam na clareira. No impulso da corrida, Hinata se desequilibrou os levando ao chão, de cara. Seu corpo tremia, dormente de frio. Sua mente nublada saiu de foco por um instante no momento que toda a adrenalina se foi dando lugar ao torpor. Quando deu por si novamente, estava sendo levantado, só queria dormir, mais que tudo queria dormir.
— Fique acordado.
A voz ordenou, e no mesmo instante abriu os olhos e se viu dentro do furgão, o calor voltando a seu corpo, e a luz vermelha piscando. Se moveu atordoado, e foi obrigado a se sentar na maca onde estivera semi-desmaiado. Sentiu-se apoiado em algo rígido, e logo algo quente foi a seus lábios.
— Beba.
Novo comando. Segurou as mãos que sabia serem de Itachi, guiando o liquido quente para seu corpo, confiando no outro. Não sabia o que era, mas no mesmo instante se sentiu aquecido, todo o torpor sumindo.
Deixou sua cabeça pender para trás no peito do outro, e olhou-o através da máscara, conseguindo enxergar apenas sua silhueta. Itachi pressentiu que ia falar algo e apertou sua mão com força, indicando que não estavam sozinhos. Naruto virou a cabeça para frente e viu outra silhueta, sentada na outra maca que ocupava o furgão. Estavam em movimento, provavelmente voltando para o colégio.
Sentiu alivio ao ver que era Hinata, sendo amparada por outro vencedor que lhe fazia beber o mesmo líquido quente. Ela devia ter apagado também.
Sua mente estava em branco. Não sabia nem mesmo se haviam chegado em último, provavelmente sim.
Suspirou, se recostando mais em Itachi em busca de calor. Na penumbra, esperava que os outros não percebessem a proximidade. Itachi não o afastou, então era provável que estivessem seguros.
Só não sabia até quando.
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Sasuke saltou do carro seguido pelo número dois diretamente na garagem do colégio. Os outros dois furgões já haviam chegado. Procurou com os olhos, encontrando Itachi perto do raposa e do leão. Os dois haviam saído desmaiados da campina, mas pareciam, ao que constava, já se encontravam recompostos.
Ele tinha noção que com tudo que aconteceu, o quadro de pontos mudara totalmente. Afinal, os dois eram os concorrentes mais fortes perto dele, pelo o que pudera observar das demais provas. Não conseguia entender ao certo o que acontecera, e sentia-se assustado. Eles viram a garota morrendo, mas no momento, todo seu foco era em ganhar. Era como um frenesi estranho.
Por sorte, ao menos um deles agiu, ou ela estaria morta. O dois e o um nem ao menos olharam para trás, como se o acontecimento não tivesse tido importância alguma. Era...estranho.
— Muito bem, vamos a pontuação de hoje.
Seus pensamentos foram cortados pela voz desagradável de Obito.
Ele estava diferente, não havia feito nenhuma piada. A tensão era quase palpável, seus olhos viajavam entre eles, parando muitas vezes nos candidatos seis e sete. Sasuke não sabia o que ele estava pensando, apenas que ele parecia muito irritado.
— Primeiro, algumas observações. Cada peso contabilizado seria equivalente a 20 pontos, com um bônus de mais vinte pontos ao primeiro candidato que retornasse ao ponto de encontro, 15 ao segundo, 10 ao terceiro e assim sucessivamente.
Ele pegou o ipad com os dados, ainda com o rosto neutro.
— O candidato número dois teve o melhor desempenho na prova, conseguindo 5 pesos de cinco, e mais 20 pontos por ter sido o primeiro ao alcançar a clareira, contabilizando 120 pontos. Em seguida temos o candidato número cinco, com quatro pesos e mais 15 pontos de bônus, com 95 pontos. O número 1 conseguiu 3 pesos, e mais 15 pontos por ter chegado ao mesmo tempo que o candidato anterior, contabilizando 75 pontos. O número quatro foi encontrado descordado no rio, está desclassificado. — Olhou de um a um até o número cinco. Dizendo desconfiado: — Acredito que mais alguém desobedeceu às ordens.
Ele parou e levou seu olhar aos dois últimos candidatos.
— E agora, as considerações especiais. O candidato seis removeu apenas dois pesos da água, e terminou a prova com a ajuda de outro candidato, não conseguindo nenhum bônus, contabilizando 40 pontos.
A garota assentiu, visivelmente intimidada. Pela linguagem corporal Sasuke podia perceber a tensão nela. Ele mesmo podia sentir a ameaça implícita, poucas vezes ouvira o tom de Obito daquele modo.
—E agora, número sete. Quatro pesos de cinco, primeiro a chegar no local da competição, mas ao que parece, um claro desnorteamento em seguir ordens simples. Um aviso, que a repetição desse ato irá gerar desclassificação imediata. Não se é permitido ajudar outro candidato, em nenhuma hipótese.
O olhar que ele lançou para o candidato era ainda mais irritado, o que por algum motivo o incomodou. Talvez por que o sete fora o único deles a ter alguma atitude humana diante da situação que poderia ter findado em uma tragédia, enquanto todos eles estavam cegos pela competição.
— Como punição a quebra das regras simples que foram previamente informados, a pontuação para o candidato sete, nessa prova em questão, será zerada.
Ele não esperava por isso, ninguém esperava por um pênalti tão rígido. Imaginou que ele perderia alguns pontos, mas aquilo... O jogara para o último lugar. Viu a garota fazer menção de dizer algo, sendo impedida pelo raposa que apertou seu braço ao seu lado, a detendo.
Sasuke estreitou os olhos por trás da máscara, curioso se eles poderiam se conhecer do lado de fora, já que ele parecia tão empenhado em ajuda-la. Notou igualmente a expressão homicida de Obito ao ato, o que fez a garota ficar quieta e abaixar a cabeça.
Mesmo quando eles entravam nos tuneis, com a terceira prova finalmente encerrada e eram guiados aos quartos, Sasuke não tirava os olhos do garoto com máscara de raposa. Ele poderia ter ganho aquela prova, ter chego em primeiro lugar. Não duvidava.
Aquilo deveria ser bom, de algum modo, agora que seu maior concorrente estava em último lugar.
Não entendia por que não se sentia satisfeito, de nenhum modo com isso. Aquele jogo, cada vez lhe parecia mais e mais uma má ideia.
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—ATCHIN!
— Saúde! Irá ficar resfriada Hinata.
A garota se inclinou para ver Naruto sentado mais a frente, e deu um sorriso envergonhado.
Naruto piscou para ela e se virou para frente, antes que o professor Asuma resolvesse os perguntar o que havia acabado de explicar. Sabia o que Hinata tinha, claro, depois daquele rio congelante até ele estava começando a espirrar demais. Era quase que um teste a seus glóbulos brancos.
— Equação de 2º Grau, todos vocês já estudaram no primeiro e segundo ano, e iremos revisar essa semana. Para os que não estavam aqui nas minhas últimas aulas... — olhou para Naruto, o loiro corando e abaixando a cabeça. — Será aplicada uma prova diagnóstica nas próximas semanas, nela serão avaliados tudo o que estudaram nos anos anteriores do colegial. Vamos fazer uma pequena revisão a cada aula, e sugiro que tomem nota de tudo para estudarem depois. O dia exato da prova não será divulgado, pois o coordenador de estudos do terceiro ano acha melhor ver como realmente estão. Então sugiro que se dediquem e estudem o mais intenso e rápido possível. Perguntas?
Naruto.
Com o cotovelo do braço direito apoiado na mesa, seu rosto escorou na palma da mão. Desviou o olhar para a floresta do lado de fora da janela, cansado, com sono, muito sono. O corpo e as articulações doloridas demais. Seu corpo implorando por um descanso, mais que merecido depois de passar a madrugada nadando em um rio gelado, correndo pela floresta, e pulando de um penhasco.
Ei. Estou falando com você!
Ainda assim estava curioso, quem poderia ter machucado o número quatro a ponto de o desmaiar e ser desclassificado? Lembrava-se de um competidor ter saído da água por último, mas não conseguiu o identificar. E esse deveria ser o que desclassificou o outro.
E tinha um palpite.
O único ali que parecia não querer jogar pelas regras. O cobra.
Não me ignore!
Suspirou abaixando o rosto, deitando sobre a mesa. O aquecedor da sala estava melhor, deixando nos confortáveis vinte e seis graus, a voz de Asuma entrando em seus ouvidos como uma cantiga de ninar. Queria dormir...
ESTOU FALANDO COM VOCÊ!
— CALA A BOCA, MAS QUE INFERNO!
Silêncio.
— Senhor Uzumaki?
Levantou o rosto sonolento da mesa ao ser chamado, sequer havia notado que havia gritado no meio da sala.
Asuma que tinha um palito na boca, o cuspiu, e se encaminhou para o rapaz, que o olhava tentando entende-lo. Mais atrás Hinata mordeu os lábios ao ver o que o amigo acabara de fazer, e Sai, sorria como sempre, se divertindo.
— O que disse? — Asuma parou ao lado da mesa do garoto, a voz em falsa calma.
— Hn? — Uma veia saltou na testa do homem.
Já estava cansado daquele rapaz encrenqueiro, que já faltava tanto à suas aulas, e agora o mandava calar a boca.
Era a gota d’água.
— Detenção.
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Quando finalmente saiu da sala vazia, Itachi o esperava ao lado da porta, os braços cruzados e um olhar indiferente, que se fixou no rapaz sonâmbulo.
— Boa noite.
— Hum. — Naruto estava abraçado a sua mochila, começou a caminhar na direção dos dormitórios, sendo seguido de perto pelo Uchiha.
Naruto havia ficado na detenção por pela “má conduta diante um superior”. Mas aquela detenção foi mais um favor. Havia dormido as duas horas sem parar.
Oh, e que dormida.
— Como foi?
— Calmo. Acho que vou hibernar se não dormir vinte e quatro horas seguidas. — Bocejou. — Estou cansado.
— Pode descansar à vontade. Amanhã é sábado e sua prova é só na quinta. — Passou a mão pelos longos fios negros, arrumando o nó de seu cabelo.
— Como sabe de tudo? Ah, esqueci que é um dos maus. — Disse, seu tom sarrista, mais azedo que nunca.
— Não sou mau.
— Eu sei. — Suspirou, olhando para o chão. E por um momento Itachi o olhou mais avaliativo. Os cabelos loiros bagunçados em um amarfanhado, as roupas amarrotadas, sem a gravata. Tinha a pele dois tons mais claro, e os olhos sombreados por olheiras escuras e tenebrosas. — O que foi?
Nem havia notado que Naruto havia se virado para si e o encarava com curiosidade, apesar das sobrancelhas arqueadas.
— Nada. — Se virou para frente, passando por um grupo de alunos. Começando a subir as escadas para o dormitório. Naquele horário os corredores estavam vazios, por causa do jantar que era servido. — Vou buscar algo para você comer.
Antes que pudesse negar, Itachi já havia o largado e começava a atravessar o pátio.
— Não precisa! — gritou. O outro rapaz se virou acendo negativamente, para continuar seu caminho. — Teimoso.
Continuou a subir as escadas devagar. Já imaginando a sensação de deitar-se em sua cama. Seus passos arrastados ecoaram pelo corredor vazio, o escuro da noite cortado pelas luzes das lâmpadas. Do lado de fora, nuvens tom chumbo ameaçavam começar uma tempestade. Já estava mais que acostumado com tal fato.
— Naruto.
Parou subitamente, reconhecendo o tom de voz que vinha atrás de si, ouviu os passos rápidos e leves e se virou. Tentando conter uma expressão cínica.
— Rebecca! — Sorriu-lhe da melhor maneira possível. — A que devo a honra?
Ela não parecia ter notado a ironia de suas palavras.
Que pena.
— Vim para lhe fazer um comunicado, lhe procurei no refeitório e não te achei então viria a seu quarto. — Ela sorria, mexendo nos cabelos castanhos.
— Ah, sim...
— Vou direto ao ponto, até porque tenho que revisar algumas coisas. — Acenava enquanto falava, seus olhos correndo da face de Naruto, pelo corredor, e voltavam a ele. — Não é que não goste de sua companhia, eu adoro falar com um rapaz tão bonito e tal, mas são ordens.
Naruto fez um trejeito com a boca cruzando os braços.
— Até gostaria de te convidar um dia para tomar um café no refeitório, e você poderia me contar como foi parar no corredor pelado. — Ela deu uma risadinha, enquanto Naruto continuava sério, esperando. — Itachi não estava com você? Pensei que ele estivesse. — Abriu a boca para a responder, mas ela continuou. Fazendo-o ficar irritado. —Então Naruto, meu bem, Obito está lhe chamando em sua sala.
Naruto sentiu um frio na barriga e mordeu o lábio, medo repentino o assolando. A mulher lhe olhou apertando as mãos frente ao torso. Ela parecia repentinamente bem mais tensa do que havia percebido.
Ela falou algo em despedida, mas Naruto nem mesmo a registrou sair, apenas se vendo no corredor sozinho.
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