POV Toni
Acordei e ainda sem abrir os olhos eu sorria bobamente lembrando da noite mágica que tive com a Cheryl. Como eu consegui passar tanto tempo sem isso? Como eu consegui me controlar quando ela voltou? Eu não sei, só sei que a Cheryl era como se fosse um vício para mim, e quanto mais eu tinha, mais eu queria. Depois de longos minutos apenas de olhos fechados e com um sorriso bobo nos lábios passei a mão do outro lado da cama e senti que ela não estava mais ali. Automaticamente abri os olhos e a vi parada na porta me olhando sorrindo.
- A quanto tempo você está aí? – perguntei.
- Tempo o suficiente para te ver sorrindo enquanto dorme, estava sonhando? – ela perguntou.
- Não, estava só me lembrando da nossa noite perfeita – eu disse e ela vinha em minha direção agora.
- Então vamos tomar café da manhã porque acho que te cansei demais ontem, olha a hora que já é e você ainda estava dormindo – ela falou e deu um beijo em minha testa.
- Meu deus Cheryl, porque você não me acordou? – eu perguntei enquanto dava um pulo da cama.
- Porque não tinha necessidade ué, não íamos para a universidade mesmo, resolvi deixar você descansar um pouco mais, afinal você cuidou de mim esses dias e teve a viagem que também foi rápida e deve ter sido muito cansativa, e a noite de ontem, bom, digamos que eu te cansei muito – ela falou agora com um olhar malicioso.
- Adoraria ser cansada assim sempre – eu respondi sua provocação e a puxei para um beijo, beijo esse que ela fez questão de ser rápido porque senão ela sabia que a gente não ia parar e precisávamos tomar café.
- Não me olha assim, se a gente continuar você sabe que não vamos parar – ela falou se levantando.
- Tudo bem então mandona, mas depois a gente vai voltar nisso – eu falei agora fazendo bico e ela fez uma careta.
- Vamos logo e desfaz esse bico – ela falou assim que parou o beijo e então fomos tomar café.
POV Cheryl
Tomamos café e entre brincadeiras e muitos sorrisos eu disse algo para Toni que acho que ela não gostou muito.
- Amor, eu preciso voltar para casa.
- Como assim Cheryl? Você está em casa – ela falou meio seca, deu para notar que ela havia ficado incomodada com isso.
- Não Toni, o meu apartamento, com a Veronica e com a Betty, é lá que eu moro – eu falei.
- Por que isso agora Cheryl? Eu achei que essa fosse nossa casa, que a gente decidiu antes de tudo acontecer, era aqui que íamos morar, juntas, agora que voltamos eu achei que você quisesse isso – ela falou agora mais calma mas ainda com um semblante chateado.
- Acredite Toni, tudo que eu quero é morar com você, mas como você acabou de dizer, foi uma coisa que decidimos antes de tudo acontecer, e depois deu tudo errado, então não quero que a gente se precipite dessa vez, entende? – eu falei tentando explicar.
- Então quer dizer que você acha que a gente pode nos separar de novo? É isso, você está com medo? – ela perguntou agora com um olhar de decepção.
- Não meu amor, olha, eu só quero que dessa vez a gente vá devagar e decida tudo com calma, eu estou aqui, não vou sair do seu lado nunca mais – eu falei segurando suas mãos.
- Mas então por que a gente precisa dificultar e não morar juntas? – ela perguntou e ainda parecia não entender minha decisão.
- Amor, me entende, é só uma coisa que eu quero seguir para tudo dar certo, e vamos aproveitar nosso namoro como se fosse o começo, fazer planos, pensar no futuro e realizar as coisas devagar, tudo vai dar certo – eu falei paciente.
- Tudo bem então bebe, se você quer assim eu te entendo, não gosto muito da ideia de não ter você morando aqui, mas eu te entendo – ela falou e me abraçou, me senti aliviada porque eu não queria que ela ficasse magoada com isso ou então brava, era só uma questão de que, agora, nós precisávamos agir como adultas, sem pressa, e com tudo na sua hora, a gente tinha acabado de voltar e morar juntas seria um passo muito importante não poderia acontecer tão rápido.
[...]
Os dias em que fiquei com a Toni foram maravilhosos, e eu pude ter o repouso que o médico falou, quer dizer, o repouso sem estresses, mas do resto a gente aprontou muito. Depois que eu estava melhor para voltar ao normal, universidade e trabalho, conversamos e eu voltei para casa da Veronica, ela ficou triste e eu confesso que fiquei também, mas ela entendeu. Voltamos a nossa rotina normal só que dessa vez íamos juntas para a universidade e depois ela seguia para a empresa da Martha e eu para a minha. Estava tudo certo e a reunião seria hoje, eles estavam tão confiantes na empresa e eu apenas na minha, tinha minha carta na manga e não via a hora de mostrar.
- Ei amor, está pensando em que? – Toni me perguntou enquanto estávamos almoçando.
- Em como hoje vai ser um dia épico – eu falei com um sorriso no rosto.
- Ah, já sei, você está se referindo a reunião de hoje né? – ela perguntou.
- Sim, você tem que ver a cara do meu tio esses dias, achando que já ganhou, com um sorrisinho toda hora que me vê, e eu claro, na minha quieta, deixando eles pensarem que já entreguei os pontos – eu falava com um sorriso diabólico no rosto.
- Nossa, agora deu até medo de você – ela falou rindo.
- Você não precisa ter medo de mim bebe – eu falei agora oferecendo um sorriso apaixonado para ela que me deu outro em resposta.
- Eu estou interrompendo? – disse a tal da Amy se aproximando da nossa mesa, eu queria muito dizer que sim, mas ela era amiga da Toni e eu não podia fazer isso, eu sei que a gente se acertou e ela me disse que a garota e ela nunca tiveram nada e eram apenas boas amigas, mas eu nunca consegui esquecer a foto delas se beijando e isso me fazia ter ciúmes sem motivos, era mais forte que eu, mas essa garota, ela é muito folgada, mesmo sendo hétero ela não precisa ficar tão perto da Toni assim, abraçar tanto, eu não gosto nada dessas coisas.
- Claro que não né amor? – Toni disse se virando a mim e me tirando dos meus pensamentos.
- Imagina – eu disse com um sorriso fraco.
Elas então começaram a falar sobre um trabalho da aula e eu voltei com meus pensamentos. Hoje seria um dia muito importante e eu tinha que estar preparada e forte para isso. Tive sorte por ter a Toni e ela conseguir desfazer a armadura que minha mãe usava. Desde que Penelope chegou nos vimos poucas vezes mas ela estava menos na defensiva, mesmo que tenhamos conversado apenas para resolver a questão da reunião e com meu advogado junto. Mesmo assim dava para ver que ela estava se esforçando para conseguir fazer tudo para me ajudar, isso já estava contando e eu já estava feliz.
- Cheryl? Amoooor? – percebi que Toni me chamava e pelo visto estava me chamando a muito tempo.
- Oi bebe – eu respondi.
- Então, eu estava conversando aqui com a Amy e nós temos esse trabalho e ele é muito importante, vou fazer com ela depois que sair da empresa, tem problema? – ela perguntou como se tivesse me pedindo autorização, será que deixei tão na cara assim que eu tinha ciúmes dela?
- Claro que não meu amor, a reunião vai ser depois do expediente, eu acho que vou sair um pouco tarde, mas assim que eu sair eu passo na sua casa – eu falei.
- Tudo bem então, eu vou te esperar, você tem a chave né? – ela perguntou.
- Sim – eu respondi.
E então terminamos o almoço, nos despedimos e eu segui para empresa e ela para a empresa da Martha. Eu estava super confiante antes mas a confiança começou a diminuir e a ansiedade começou a aparecer. Meu advogado estava com Penelope para que o restante do pessoal não a visse na empresa antes da hora, eu apenas trabalhei como num dia normal e depois do expediente segui para sala de reunião.
- Espero que você não leve para o lado pessoal prima, eu gosto muito de você e quero que você seja como um braço direito para mim – Eric disse se aproximando de mim, na hora tudo que eu senti foi vontade de gritar para ele parar de ser idiota um pouco que eu ia continuar ali sendo chefe dele, mas me segurei.
- Claro primo – foi tudo que respondi.
Em seguida o meu tio chegou e também me cumprimentou, o pessoal do conselho também chegou e todos se acomodaram. Demos início.
- Como todos sabem, eu cuidei dessa empresa durante anos desde a morte do meu irmão – meu tio começou a droga do discurso dele – fiz dela muito melhor e ela cresceu, no entanto minha sobrinha assumiu seu lugar por direito de herdeira, mas desde então nós não concordamos com algumas mudanças – ele falou e todos do conselho assentiram.
- Por isso, meu pai e eu entramos com um recurso e com a decisão de vocês queremos voltar a comandar a empresa, sem deixar, claro, minha prima de fora, mas ela apenas seria a acionista majoritária e membro do conselho, mas sem decidir as ordens finais – disse Eric confiante.
- Eu acredito que não precisamos mudar a cara da empresa, nossos parceiros antigos são muito fortes no mercado, diferente dos parceiros que a gente está atraindo agora – o presidente do conselho falou e alguns membros e meu tio riram discretamente, claro, eles estavam zombando porque nossos novos parceiros e investidores eram mulheres, mulheres fortes, independentes e bem sucedidas, com empresa sólidas no mercado, mas eles não se importavam com isso porque eram apenas mulheres e o ego machista deles não aceitava isso.
Eu apenas engoli calada cada discurso machista deles, esperei cada um do conselho se manifestar, claro, tínhamos mulheres lá também, que acreditavam nas minhas mudanças e concordavam comigo, mas eram minoria, coisa que eu pretendia mudar em breve. Depois da última pessoa se manifestar, meu primo começou a falar, essa era a deixa para meu advogado chegar com a minha mãe.
- Bom, então por unanimidade do conselho dessa empresa, baseado em que, a decisão maior se torna do conselho pois, suas ações juntas são maiores que da acionista majoritária, temos uma nova administração – ele disse se sentindo vitorioso.
- Acho que não senhor Eric – nesse instante meu advogado entra na sala.
- Cheryl, você vai querer mudar o que? Foi unanime, não tem recurso para mudar isso – meu tio disse.
- Bom, na verdade tem sim, nossa acionista majoritária sozinha não tem a quantidade de ações para bater a decisão do conselho, mas temos agora uma segunda acionista que está a favor de Cheryl Blossom – meu advogado falou e todos ficaram surpresos, meu tio não esperava por isso e agora eu quem estava sorrindo vitoriosa.
- Pode entrar mamãe – eu falei e Penelope entrou na sala, todos se entreolharam e ficaram em silencio.
- Como vocês podem ver, temos as duas maiores acionistas em comum acordo, portanto a decisão do conselho se faz nula, os papeis estão aqui, tudo ficará como está com Cheryl Blossom à frente da empresa – meu advogado finalizou.
- Como vocês podem ver, uma mulher consegue sim o que ela quer, na verdade duas mulheres – eu disse e abracei minha mãe que parecia surpresa com o ato, mas não se afastou – ou mais mulheres juntas, tanto faz, o importante é que minhas mudanças permanecem e quem não estiver satisfeito com isso pode se desligar da empresa.
Ninguém mais se manifestou, terminamos a reunião e eu agradeci meu advogado, todos saíram e eu fiquei só com a minha mãe.
- Obrigada por isso – eu falei meio sem graça, não tínhamos o costume de ter esse tipo de interação.
- Não precisa me agradecer, era mais do que minha obrigação, até porque seu tio sempre achava que ele tinha mais direitos do que nós porque erámos mulheres, eu nunca liguei muito para isso, mas depois das coisas que eu ouvi você dizer hoje eu pude perceber como é importante nós, mulheres, nos unirmos e nos impor mais – ela falou e eu estava ali completamente sem acreditar, aquela era mesmo Penelope Blossom na minha frente dizendo tudo isso?
- Fico feliz que você esteja mudando seus pensamentos, talvez com o tempo a gente possa, quem sabe, nos aproximar mais – eu falei ainda meio sem jeito.
- Eu ficaria muito feliz minha filha – senti uma coisa inexplicável nesse momento, ela nunca me chamou de filha antes – eu sei que nada pode mudar o passado e apagar as coisas horríveis que eu te fiz e que eu te disse, sei que nunca vou ser nem de longe a mãe que você merece, mas se eu puder, pelo menos um pouco, ser próxima de você isso já me compensaria. Estou orgulhosa da mulher que você se tornou, e diferente de mim, você é muito amada – ela falou e vi seus olhos marejados, só então percebi que o meu também estava.
- Obrigada mamãe, mesmo tarde, mesmo depois de muitos erros você se arrependeu e está tentando se redimir, não posso te dizer que vamos ser muito próximas, até porque no começo ainda é tudo muito difícil, mas posso dizer que estou muito feliz por tudo isso, e com você aqui – eu falei.
- Posso te abraçar antes de ir? – ela perguntou, não me lembro de um dia se quer que ela me abraçou alguma vez, mas hoje ela estava pedindo isso.
- Claro – eu disse e então nos abraçamos, eu sentia que ela precisava disso mais do que eu porque ela caiu no choro, só então entendi que ela também nunca havia recebido um abraço sincero, puro, ela também sofreu muito e esse momento estava sendo reconfortante para nós duas.
Saímos do abraço bem emocionadas, ela ainda me disse mais algumas coisas e depois disse que voltaria para Riverdale a noite. Eu falei que talvez eu fosse a visitar nas próximas férias e que se ela quisesse também poderia vir até mim, vir na empresa também, afinal, ela também era uma acionista, e assim nos despedimos e ela seguiu.
[...]
Depois de todas as emoções e vitórias me lembrei que fiquei de ir até o apartamento da Toni, eu estava morrendo de fome e passei no caminho para pegar algo para levar e nós duas comermos juntas. Eu sabia que não era muito cedo, a reunião acabou tarde e depois fiquei praticamente uma hora naquele momento com a minha mãe, mas como eu disse que iria até lá provavelmente ela me esperaria para jantar, certo? Errado.
- Oi Toni – foi apenas o que eu disse quando entrei no apartamento dela e a vi apenas de top e shorts brincando com a tal da Amy de jogar agua uma na outra, provavelmente estavam lavando louça.
- Oi amor, demorou hein – ela falou parando a brincadeira e como se estivesse tudo numa boa, não estava tudo numa boa de jeito nenhum para mim.
- Levou mais tempo do que o esperado – eu disse seca – mas estou faminta e trouxe alguma coisa para gente jantar – eu falei já sabendo que ela tinha comido só por elas estarem lavando louça, mas eu queria ouvir dela.
- Ai amor, desculpa, como você demorou muito e eu e a Amy terminamos o trabalho a um tempo e decidimos cozinhar, a gente já comeu e estávamos lavando a louça quando você chegou – ela falou e ainda levava a situação numa boa, que ódio Antoinette.
- Ok então, acho que vou para casa, tchau para vocês – eu falei me virando, eu estava com muita raiva e não queria demonstrar isso, e também não queria discutir com a Toni na frente daquela garota, que ódio dela.
- Ei amor, espera, volta aqui – ela disse indo atrás de mim que já estava na porta.
- Eu estou cansada Toni, eu vou indo – eu falei sem olhar nos olhos dela.
- Eu vou indo já Toni, está tarde e bom, não quero ficar segurando vela – Amy disse saindo, e ainda faz piada, como pode? Eu poderia voar no pescoço dessa garota.
Toni se despediu e ela foi embora.
- Agora entra, conversa comigo, me fala como foi – Toni disse me puxando para dentro.
Eu sabia que, com a raiva que eu estava, a gente ia acabar brigando, eu sei que o ciúme é exagerado mas o que eu vi também já era demais, se fosse o contrário eu sei que ela também não gostaria, mas eu não quero brigar e para isso acontecer melhor a gente conversar quando eu estiver de cabeça mais fria.
- Toni, eu realmente preciso ir, desculpa – eu disse e saí correndo, eu ia começar a chorar e sei que Toni não ia entender nada. Eu até ouvi ela me chamando, mas corri, corri o mais rápido que podia, eu não queria estragar nossa volta com ciúme idiota, mas eu fiquei sim magoada, só precisava de um tempo. Eu sabia que ela ia me ligar então cheguei e já desliguei meu celular, disse para a Veronica que eu não estava em casa para ninguém. Apenas tomei um banho rápido e deitei, nem comi. Eu sabia que ia demorar para conseguir dormir, mas eu precisava ficar quieta no escuro, de olhos fechados e pensando numa forma de não surtar ao falar com a Toni sobre a cena que eu vi hoje.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.