Confuso. Aquele que apresenta ou demonstra confusão. Que está sem orientação, perturbado. O qual está fora de ordem. Era assim que Jon Targaryen se sentia.
Quando acordou em pleno domingo, nu na cama de Daenerys, ele não soube o que fazer. Como olhar para a mulher à sua frente e reconhecer que havia dormido com ela? Como conversar com a tia e lembrar que os dois tinham feito sexo? Como admitir para si mesmo que tinha gostado daquela noite?
Era impossível.
Por isso, ele se foi sem falar absolutamente nada e arrumou suas coisas. Foi ao aeroporto ainda de manhã e adiantou o horário de seu voo. Ele precisava voltar para Westeros. Jon não tinha condições de encarar Dany naquele estado.
Eles eram membros da mesma família! Aquilo era errado, nojento, inadmissível. Se bem que... incesto era algo comum entre os Targaryen. Seus avós – os pais de Dany – eram irmãos e tinham sido casados durante muitos anos. O povo de Westeros não concordava, mas já estava acostumado a ver dois Targaryen formando um casal. O problema não era aquele – era o que aquilo significava para a relação deles como amigos e como família.
Daenerys era sua melhor amiga desde sempre. Além do mais, Jon tinha certeza de que seu pai ficaria bem puto com aquela história. Rhaegar não iria querer que seu filho caçula e sua irmãzinha namorassem. Nem mesmo Elia, que era uma mulher super moderna, apoiaria aquele relacionamento.
A relação já estava fadada ao fracasso antes mesmo de começar. Jon só precisava reprimir seus sentimentos impróprios e seguir a vida como se nada tivesse acontecido.
Quando pousou em Porto Real, horas mais tarde, o Targaryen finalmente olhou seu celular. Havia mais de vinte mensagens de Daenerys – ela estava furiosa. Jon tinha certeza de que, se Dany pudesse, pegaria o primeiro voo para Westeros só para esfolá-lo vivo. Ele não queria encará-la, pelo menos não ainda. Por isso, desligou o telefone e ignorou a tia até chegar em casa.
Tudo estava igual. Porém, algo havia mudado – Jon não era mais o mesmo.
— Ei, filho. — Seu pai o cumprimentou assim que entrou em casa. — Como foi em Pentos?
O rapaz engoliu em seco.
— F-foi ótimo!
Rhaegar lhe deu um beijo na testa.
— Que bom. E a Dany? Como ela tava?
— Bem.
Dito isso, Jon correu para o quarto e passou o resto da tarde evitando pensar no que acontecera na viagem.
De noite, sua mãe ligou e o convidou para jantar. Jon foi e reviu seus irmãos. Gendry e Edric contaram sobre a viagem de férias que fariam em poucos dias, ao passo que Lyanna perguntou sobre Pentos. O Targaryen fez o que pôde para fugir do assunto. Bella estava estranhamente quieta e mal tocou na comida – segundo a mãe, ela estava assim há semanas, desde que assinara um contrato como modelo. Jon até tentou aconselha-la, mas a irmã não quis ouvir. Robert o tratou com educação, como sempre, e Renly lhe ofereceu cerveja – como sempre também. Apenas Mya não estava presente. Jon estranhou, afinal a garota não era de perder jantares de família, mas logo se tranquilizou quando descobriu que ela ia dormir na casa do namorado, Mychel Redfort.
Só mais tarde, quando o rapaz já tinha deixado a casa da mãe, que seu celular voltou a tocar. Ele estava pronto para desliga-lo, acreditando se tratar de mais uma ligação de Daenerys, quando viu que quem ligava era um número desconhecido. Curioso, Jon atendeu e colocou o celular na orelha.
— Alô?
Uma voz feminina muito conhecida respondeu do outro lado da linha.
— Ah, minha criança de verão, quanta saudades. Sentiu minha falta?
O corpo de Jon congelou. Não recebia notícias de Ygritte desde o dia em que os dois transaram no banheiro de uma festa, e ela foi embora sem dizer nada. Desde então, ele tentara entrar em contato algumas vezes, mas sem sucesso. Pensando bem, Jon tinha aprendido algumas coisas com a ruiva naquele ano – tinha aprendido a fugir das pessoas que amava.
— Ygritte? — Ele quase gritou. — Meu Deus! Eu achei que nunca mais fosse te ver. Você tá bem? Onde você tá?
— Vem na frente da sua casa, Jon.
Sem desligar a ligação, ele obedeceu. E assim que abriu a porta, viu a Rayder parada do lado de fora, em todo o seu esplendor. Puta merda! Como era bom revê-la depois de tudo!
— Ei, Targaryen! Não vai me dar um abraço?
Sem pestanejar, Jon deixou o celular cair no chão e correu até a menina. Abraçou-a com força e tirou-a do chão, começando a girar. Como ele tinha sentido falta daquele cheiro! Daquela risada, daquele sorriso!
Quando a pôs no chão, Ygritte sorriu. E então tomou seus lábios em um beijo profundo e cheio de carinho. Jon se retesou no início, lembrando do beijo de Dany, mas logo relaxou e correspondeu, apertando-a em seus braços.
— E-eu nem sei o que dizer! — Ele ofegou. — Pensei que tivesse me abandonado.
A ruiva sorriu.
— Eu nunca te abandonaria, Jon. Posso ter ido embora para resolver alguns problemas, mas eu voltei. Eu sempre volto.
— Vai ficar de vez agora? — Ele perguntou, esperançoso. De fato, Ygritte sempre ia embora de uma hora pra outra e sempre voltava como se nada tivesse acontecido. O problema era que aquelas sumidas o afetavam muito. O mundo parecia diferente quando a ruiva não estava ao seu lado, e a agonia de não saber se ela estava bem ou quando voltaria era sufocante.
Ela suspirou com pesar e o beijou de novo.
— Não sei. Vou resolver isso ainda.
— Ygritte...
— Shii. — Ela o calou. — Eu não vim aqui para discutir. Vim aqui para aproveitar. Pode fazer isso por mim?
O Targaryen desviou os olhos para o chão.
— Essa... é nossa última noite?
Ygritte sorriu.
— Se for, é melhor que as lembranças sejam inesquecíveis.
Jon entendeu o recado. Sem pensar, pegou a carteira e o celular e deixou a casa na companhia da ruiva. Ela o levou para uma festa esquisita. Os dois dançaram, beberam e fizeram amor. Jon a amava – tudo o que queria era um relacionamento convencional. Apresentá-la para sua família, encontros, passeios... mas sabia que Ygritte não era assim. Ela não era de ninguém e jamais poderia ser sua.
Enquanto se beijavam, ela sussurrou em seu ouvido.
— Eu te amo.
O coração de Jon se encheu de alegria.
— Sério? Eu não sabia disso.
— Bem... — A Rayder sorriu. — Você não sabe de nada, Jon Targaryen.
De repente, Ygritte sumiu no meio da multidão. Jon ficou sozinho por quase uma hora. Teve muito tempo para repensar suas atitudes.
Ele não fazia a menor ideia do que estava acontecendo! Pior, não estava se reconhecendo. Ele não era assim – não fazia as coisas no calor do momento. Não transava com uma mulher numa noite e ficava com outra na seguinte. Tudo estava uma bagunça. De um lado, havia Dany, sua amada melhor amiga, que nunca deixaria de ser sua tia. E do outro havia Ygritte, a menina que o levava ao êxtase e à beira do precipício em questão de segundos.
Ela era como uma droga. Lhe dava prazer e depois sumia, deixando-o em estado de abstinência.
Jon já estava no meio de um redemoinho quando as coisas se complicaram pela última vez. Ygritte apareceu em seu campo de visão, sorrindo, cantando e com uma seringa vazia na mão. E então, caiu dura, os batimentos cardíacos cada vez mais lentos.
Sua ruiva teve uma overdose na sua frente.
E a mente de Jon entrou em um turbilhão.
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