Olímpia, Grécia — 22h42min
Sakura Haruno
Era noite, uma noite aterrorizante e fria. Fria como o olhar de Sasori queimando sobre mim. Me encolhi entre as cobertas, enfiando uma uva dentro da boca e engolindo-a sem nem ao menos mastigar adequadamente. Minha mente não estava lá, eu não me importava com o que acontecia à minha volta, apenas com o que aconteceria futuramente. Um breve futuro.
Antes
Colhi uma rosa do vasto campo, inalando seu doce odor. Senti um aperto nos ombros e meus olhos captaram uma sombra à mais no chão. Fui obrigada à me virar, vendo um ser de corpo alto e esguio próximo de mim. Seus olhos sorriam, um sorriso que eu gostava, pois era inteiramente verdadeiro. Um sorriso que apenas Sasori sabia fazer. Os olhos de um pecador que, ao mesmo tempo, conseguiam exibir uma inocência única.
Suas mãos ágeis tomaram a rosa que eu segurava, guardando-a no bolso da calça. Tossiu e ajeitou a capa negra antes de falar, como se fosse recitar um poema. Então, sem perceber, ergui os cantos dos lábios.
— Precisamos conversar... É sério — falou, deslizando a ponta dos dedos sobre meus braços desnudos. — Você já está no castelo há sete dias e... eu não posso mais adiar...
Ergui a sobrancelhas e senti seus braços me envolverem. E, longe de tudo o que eu pensei naquele momento, não era um ato de malicia e, sim, de ternura. Ele apoiou o queixo no topo de minha cabeça, fazendo-me entrelaçar os braços em sua cintura.
— Sasori...
Eu sentia sua respiração acelerada.
— Não irei mais esconder de você, Sakura... Não posso mais olhar para os seus olhos e continuar mentindo para mim mesmo. Eu... não posso!
Afastei-me de seu corpo em um pulo. Meu peito subia de descia descompassadamente, enquanto eu fazia de tudo para me manter firme e em pé. Sasori alisou uma mecha rosada de meu cabelo, ajeitando-a atrás da orelha.
O que...?
— É a sétima noite, Sakura — falou. — Eu... Me desculpe!
Ele abaixou a cabeça, deixando seus cabelos ruivos tomarem conta de seu rosto. Confusa, toquei sua face, erguendo-a mais uma vez.
— Me conte... O que está acontecendo? — murmurei baixo, confortando-o. — Confie em mim.
O ruivo se afastou de mim, assustado.
— Como pode ser tão... boa? — cerrou os punhos. — Como seu coração pode ser tão puro?
Então eu sorri diante de seus olhos arregalados.
— Isso é ser humano, Sasori.
Ele cambaleou para trás, indignado, balançando a cabeça negativamente. Me olhava assustado, como se , de certa forma, tivesse medo de mim. Tornei a dar um passo à frente, vendo sua reação. Ele não teve nenhuma reação, simplesmente continuou imóvel, paralisado.
— Isso é ser idiota! Não tem porquê ajudar alguém como eu! — bradou, firme. — É a sua sétima noite, Haruno, ainda há tempo para fugir.
— Eu não sei do que você está falando, imbecil! — vociferei. — O que é a sétima noite?
— Você vai...
— Sasori!, basta! — uma voz irada se sobrepôs, chamando nossa atenção. — Saia de perto dela!
O ruivo me encarava como se quisesse dizer algo, mas simplesmente se corrompia no silêncio angustiante. Mexi os lábios, silabando um "fale". Mas nada. Ele ignorou. Seus olhos desesperando não se desviavam do meu por momento nenhum.
— Até parece que você não quer isso, Akasuna! — Itachi, que segurava uma espada, gritou novamente. — Saia de perto dela!
Então ele lançou-me um último olhar desolado e foi embora. Simplesmente sumiu.
— Espero que ele não tenha dito nada, Haruno — comentou o moreno à alguns metros de distancia de mim. — Porque se a senhorita tentar algo, está morta.
Engoli à seco e assenti, voltando apressadamente para o castelo.
§
Eu fuçava nas antiguidades exibidas em um dos corredores daquele lugar, interessada. Um alto estrondo penetrou meus tímpanos, e eu tinha certeza de que ele viera daquele andar. Curiosa, ousei colar a orelha na última porta do corredor escuro e vazio.
— Eu acho que nós estamos indo longe demais, Itachi! Ela é só uma humana!
— Não me diga que está com medo do todo-poderoso te punir! Você já está no inferno, Sasori, e aqui permanecerá!
Um silencio devastador tomou conta do ambiente enquanto eu tentava assimilar.
— As coisas não são bem assim... Ela não merece isso!
— Olhe para mim — um soco foi desferido na parede —, ela terá a eternidade, isso não é ruim!
Engoli em seco; um embrulho se formou em meu estômago. Eles me transformariam em uma vampira?
— Nós temos a eternidade, Itachi! E olhe só, é uma beleza, não?, minha maior vontade é morrer! Morrer como um ser humano simples.
— Ótimo, continue seguindo seus pecados.
— Querer ser humano não é um pecado.
— Ah, não? Então, me diga... Por que você é um anjo caído?
Minha audição foi tomada por um novo silêncio.
— Você também é um anjo caído!
— Eu sou mesmo — concordou Itachi. — Eu pequei, escolhi o desejo, escolhi o prazer, escolhi me satisfazer. Assim como você.
O Akasuna riu.
— Mas eu quero mudar.
— Mentira! Eu sei que você prefere uma boa foda do que pregar a bondade de Deus.
Mais um silêncio. Meu coração estava quase pulando para fora de meu corpo. Perguntas e mais perguntas bombardeavam minha própria mente. O que eram anjos-caídos?
— É, você está certo, Uchiha. Mas eu não prefiro transformar uma humana inocente em um eterno brinquedo sexual.
— Ela não será apenas um brinquedo sexual, Sasori... Esqueceu-se de que ela é uma Haruno?
Meu sangue gelou naquele mesmo momento. Estavam realmente falando de mim... Então era isso que eles queriam desde o começo? Me transformar um um brinquedo imortal? Lágrimas caíram de meus olhos, enquanto eu fazia de tudo para não soluçar e colocar tudo à perder.
— Ótimo, como eu pensei, um típico Uchiha sendo um típico Uchiha — falou, irritado. — Obviamente, querendo poder.
Então Itachi começou a sussurrar algo, obrigando-me à colocar meu peso sobre a porta, em uma tentativa de ouvir melhor.
— Serão semi-anjos, Sasori. Sabe o que é isso? Pureza e impureza ao mesmo tempo! É uma ponte para o céu!
— E como pretende fazer isso?
— Casando-me com Sakura, é claro. Assim, conseguirei a admiração de Lúcifer e usurparei seu trono.
Aquilo fez meu corpo dar um pulo. Casar-me com o Itachi seria loucura! Lúcifer? E, com esses pensamentos, eu caí, abrindo a porta.
— Então a senhorita estava ouvindo a conversa toda? — Itachi questionou, irritado.
— Eu não vou me casar com você!
Sasori, que estava quieto até agora, se levantou e me segurou, saindo de lá.
§
Agora
— Logo eles virão buscá-la — revelou o ruivo à minha frente. — Desculpe.
Olhei para a saia do meu vestido longo, tristemente. Eu não queria aquilo, não queria nada daquilo. Uma lágrima solitária escorreu por minha face, então Sasori a limpou.
— Nós estamos na Grecia, Sasori?
— Por enquanto.
— Eu quero continuar na Grecia, Sasori.
— Como assim?
Funguei, apertando-me contra seu corpo musculoso. Ele me envolveu entre seus braços fortes e aconchegantes. Eu me sentia quente, acolhida. Mas não apenas uma quentura normal, era algo que só ele me fazia sentir.
— Eu sei que depois dessa noite, nós iremos para o real inferno.
Ele concordou com a cabeça, me apertando mais entre os braços.
— Por que...? Por que você estava lutando por mim?
Sasori ficou calado mais uma vez, então, em um ato rápido, ele desfez o abraço e me olhou nos olhos.
— Eu não sei... Simplesmente senti que deveria.
Deslizei minhas mãos por seus braços, sem parar de encará-lo; a luz da lareira nos iluminava. Lembrei-me da cena da cozinha, quando senti seu corpo junto ao meu pela primeira vez. Um sentimento devastador se apossou de meu corpo, fora inevitável não corar ao passo que eu me aproximava de seus lábios entreabertos. Então eu o beijei. Sasori ficou surpreso, mas logo correspondeu ao beijo, passando suas mãos por minhas costas.
Ele não me mordeu, apenas me beijou.
E aquilo era único.
— Você sabe que vai ter que parar de fazer isso, né? — falou irônico, ainda à milímetros de mim.
— Por que?
— Itachi não irá gostar de me ver beijando sua noiva.
— Eu não irei me casar - concluí, decidida.
Sasori riu baixinho, encostando sua testa à minha.
— Acho que estou cometendo um pecado, o único que não é permitido no inferno.
— Qual? — indaguei em um sussurro, enquanto ele tomava minhas mãos nas suas.
— Eu não sei bem como explicar, é novo.
— Diga... — Me separei um pouco dele.
Então, Sasori levou uma de minhas mãos ao seu coração, por cima de sua camisa. Seus olhos me encaravam e, pela primeira vez, adquiriam um brilho de vida. Seus batimentos explodiam, assim como os meus.
— Eu me sinto... completo.
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Uma vez no inferno, apenas o Diabo pode te salvar.
— Jogos Mortais 2
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