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História Seeing Red - Salvaguarda - História escrita por Peixotize - Spirit Fanfics e Histórias
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História Seeing Red - Salvaguarda


Escrita por: Peixotize e FernandaRedfield

Notas do Autor


Chegamos aqui com mais um capítulo dessa história!
Atenção nas tags e fiquem atentos aos gatilhos.

Responsáveis pelos POVS:
- FernandaRedfield escreve Blake Belladona, Winter Schnee, Robyn Hill e Ruby Rose.
- Peixotize escreve Yang Xiao Long, Weiss Schnee e Pyrrha Nikos

Capítulo 30 - Salvaguarda


 

"I am a wolf, a wild cur

Cut from the pack, with blood on my fur

Every howl marks a debt

Cause a beaten dog

Never forgets"

(Nunca, David Hidalgo & Los Refugios Tiernos) 

 

Parecia que tudo voltaria a ser o que era, mas Ruby sabia que o agora estava bem diferente do antes. Quer dizer, não era a primeira vez que a sua vida virava de cabeça para baixo nos últimos tempos, porém, agora parecia que as coisas estavam em uma estase estranha… Ruby não sabia onde estava e não sabia para onde ir.

Com a sua irmã, tudo caminhava bem. Tai não mais a olhava decepcionado quando ela comentava, sem querer e por culpa da sua tagarelice, sobre o que Yang falava com ela por mensagens e por ligação. O pai também parecia mais aberto à conversa e a lei do silêncio estava praticamente extinta dentro da casa deles… Isso eram boas notícias, não?

Então, por que Ruby se sentia flutuar em meio a decisões que sabia que tinha que tomar?

Talvez, a resposta fosse Penny. Na verdade, a caçula Rose só conhecia pensar em sua melhor amiga porque, querendo ou não, era ela o centro de todos os demais questionamentos que fazia depois. As duas, com certeza, mudaram e aparentemente, não tiveram tempo o suficiente para assimilar o que aconteceu.

Nas eleições, Ruby estava presa na sua necessidade de retomar o contato com Yang, depois do beijo com Penny, aí veio a votação e o ocorrido no comitê de campanha, com amiga na porta de casa para dar as notícias preocupantes sobre o estado de sua irmã mais velha… E agora, elas voltaram ao que foram sem sequer falar sobre o que poderiam ser. 

E isso aumenta a ansiedade de Ruby aos céus e, ironicamente, a faz flutuar entre as nuvens enquanto sonha com o que o futuro pode reservar a elas. Porém, sabia que precisava assumir o que sentia para que tivessem uma chance e elas nunca pareciam ter tempo com a Academia Beacon exigindo cada vez mais delas e com as questões envolvendo Yang… Então, elas fingiam.

Ruby fingia que não observava a melhor amiga quando ela estava desatenta, também ignorava o acelerar do coração quando Penny sorria diante de um dos seus comentários idiotas e também fingia não sentir saudade do contato físico que elas tinham antes e que se perdeu naquela série de desencontros após o arrombamento do cofre do seu pai. 

E ela sabia, ao observar o pai fingir não se importar com Yang ao longo dos anos e com o restabelecimento da relação com a irmã mais velha de que o fingimento, uma hora, se torna insustentável. Ruby sentia que estava próxima disso quando se tratava de Penny e a ideia não assustava tanto porque ao mesmo tempo que temia o que poderia provocar, também ansiava pela possibilidade de ter a sua amiga e o que sentiu quando a beijou de novo.

— Você sabe que deveríamos estudar, não? — A voz de Penny a chamou para a realidade e Ruby agitou a cabeça, as mechas vermelhas se misturaram aos fios negros e ela os jogou para trás quando caíram sobre os seus olhos. A ruiva tinha um sorriso de canto, o caderno no colo e uma caneta em mãos. Estavam no quarto de Penny, ambas sentadas no tapete com um dever de álgebra que, antes, elas resolveriam em questão de minutos. Aparentemente, o que descobriram também diminuiu a capacidade intelectual de ambas. — Eu sei que podemos nos garantir com as provas, mas… Estar preparada sempre é bom.

— Desculpa, eu… Eu tô distraída, não consigo focar. — Ruby respondeu nervosa, abraçando os joelhos dobrados e repousando o rosto sobre. Penny franziu a testa para o gesto, sabendo que estava ansiosa e Ruby quase se bateu por achar aquela expressão fofa, ainda mais quando sentiu as bochechas esquentarem. Desviou os olhos, mas ouviu Penny dizer cuidadosa:

— Tem alguma razão para isso? Algo aconteceu…?

Ruby queria contar a ela tudo que aconteceu e que estava acontecendo naquele instante, com o coração acelerado em seu peito e as borboletas em seu estômago. Também queria contar como ela dormiu abraçada ao seu travesseiro nas noites que seguiram às notícias de Yang no hospital fingindo que estava, novamente, no abraço de Penny naquela manhã em que elas se reencontraram… Queria contar tantas coisas, mas tinha medo do que viria quando falasse. Os olhos prateados se perderam brevemente nos verdes, antes de Ruby respirar fundo e cutucar o tapete com o indicador, ela esperava ser capaz de mentir para Penny agora ou tudo que acabou de se acertar voltaria a complicar:

— Nada… É só isso tudo com a Yang, com meu pai, com o MC e essa gente nova na cidade…

De todas as reações que esperava de Penny, Ruby não esperava escutar uma risadinha baixa e por isso, ela levantou a cabeça abruptamente, procurando encontrar alguma explicação. Mas a amiga estava com a atenção no caderno, escrevendo algo enquanto um sorriso ocupava os lábios rosados. O canto dos olhos dela estavam puxados, como se o riso chegasse até ali também. Ruby não deixou passar as bochechas avermelhadas e perdia-se nisso quando escutou Penny dizer divertida:

— Eu sei que isso não é verdade. Você não é boa em mentir… Ainda mais para mim, Ruby.

E no meio de tanto fingimento, aquela era uma verdade absoluta. Realmente, Ruby era incapaz de mentir para Penny e… Tudo que esperava era que isso também envolvesse as suas atitudes porque estas eram impossíveis de dissimular.

Penny ergueu os olhos do caderno e rapidamente encontrou Ruby no meio do caminho. As duas ficaram em silêncio, enquanto os seus olhares diziam a verdade diante de tudo que fingiram nos últimos dias. Foi inevitável não se aproximar e ao se inclinar em direção a Ruby, Penny deixou o caderno de lado e se apoiou no tapete, a mão do outro lado dos joelhos ainda dobrados da caçula Rose.

Ruby engoliu em seco e sentiu os seus membros relaxarem quando Penny passou a respirar o mesmo ar que ela. Elas encostaram as testas e Penny respirou fundo antes de capturar a mão de Ruby esquecida no tapete. E nenhuma delas fez menção de se mexer, por mais que a necessidade existisse.

Na amizade delas, tudo sempre foi rápido e na velocidade da luz. Elas se entenderam assim que se viram no pátio da Academia Beacon, Ruby não demorou a defender Penny dos comentários ofensivos, assim como Penny não deixou a assumir a responsabilidade de guardar o temperamento de Ruby que, por vezes, podia ser tão intenso quanto a sua capacidade de proteger e amar… Então, fazia sentido que elas se demorassem no agora, que elas esperassem por algo que não sabiam o que era para seguirem em frente.

Ruby se aconchegou a Penny, esticando as pernas e sentindo a mão da amiga repousar em seu joelho. Elas estavam próximas demais e mesmo que a curiosidade do que podiam ser fosse sedutora, existia algo tranquilizador em ficar naquela forma, no meio termo em que podiam ser qualquer coisa. A mão de Penny que segurava a mão de Ruby no tapete se soltou e, rapidamente, alcançou a lateral do seu rosto, colocando uma mecha vermelha para trás da orelha. Ruby abriu os olhos e encontrou o verde brilhante observando-a como se ela fosse algo precioso e único.

Ruby abriu a boca e as palavras se perderam, Penny as tomou com um sorriso e se aproximou novamente. Porém, antes que elas pudessem continuar, a porta do quarto se abriu abruptamente e Ruby se viu dando uma cambalhota para o lado, quase se escondendo entre a cama e a parede enquanto Penny continuava parada no mesmo lugar, pálida.

Na porta, Pietro Polendina parecia alheio ao que interrompeu enquanto tirava a boina e passava a mão sobre os poucos cabelos que ainda tinha. Ele era um homem de estatura média, um pouco fora de forma, mas com olhos chocolate e uma expressão sempre gentil no rosto. Quando ele era visto ao lado de Penny, ficava evidente que os dois não possuíam uma relação biológica, visto os cabelos anteriormente escuros dele, os ruivos de Penny e a pele branca dela com a escura dele. Porém, Ruby conseguia ver naquele homem a mesma energia protetora que Tai carregava ao andar com ela por Vale. 

Pietro e Penny eram a prova de que sangue não importava muita coisa se existia amor e Ruby adorava pensar que a outra prova daquilo que tinha era o amor de sua mamãe por Yang. 

Pietro ergueu os olhos para as meninas assim que escutou o estardalhaço provocado por Ruby e riu roucamente quando a viu no chão, tentando se levantar. A risada dele era cheia de sentimento e Penny riu junto do pai, ainda que continuasse pálida e olhasse rapidamente para a amiga. Pietro voltou a colocar a boina e ajeitou os suspensórios, em seguida, mancou para dentro do quarto. Quando ainda era um agente de campo do FBI, ele sofreu um ferimento que quase o deixou paraplégico e mesmo com toda a fisioterapia, acabou coxeando de uma perna e logo após isso, adotou Penny. Agora, ele era responsável pelas perícias em Vale e o pai orgulhoso da melhor amiga de Ruby. Ele tossiu assim que terminou de rir e disse jovial:

— Eu, com certeza, não a esperava aqui, Ruby Rose! Mas fico feliz que tenha aparecido… Já fazia algum tempo, quase perguntei a Penny se vocês tinham brigado ou algo do tipo.

— Nós tivemos um desentendimento, mas, hum… Acho que estamos bem agora. — Ruby respondeu nervosa, conseguindo ficar em pé com os dedos apertando a barra da camisa da Academia Beacon. Pelo canto dos olhos, viu Penny se levantar do chão e caminhar até ela, ao chegar, a ruiva apanhou as suas mãos inquietas e abriu um sorriso ao dizer para o pai:

— Nós vamos ficar bem, papai… E eu não o esperava em casa hoje, achei que o escritório tinha colocado o senhor em um plantão. 

Pietro cerrou os olhos ao ver as mãos entrelaçadas, mas logo agitou a cabeça e riu baixinho. Ruby sentiu o polegar de Penny acariciando o dorso de sua mão e respirou fundo. Penny a checou rapidamente antes de voltar a atenção para Pietro que se sentou na cadeira gamer junto ao computador da filha para dizer evasivo:

— Bem, essas ordens vêm e vão, filha… Pediram para eu ficar em casa até ser chamado, já que terminei as análises e…!

— Papai, por favor, não precisa fingir que isso não é sobre o Ravenscrow MC e, consequentemente, sobre Ruby. Eu contei a ela sobre o que aconteceu no comitê assim que o senhor soube. — A ansiedade era latente na voz de Penny e dessa vez, Ruby quem tomou a frente e envolveu as mãos entrelaçadas das duas. A ruiva não desviou os olhos do pai e a caçula Rose o escutou tossir, antes de sentir o olhar dele em si, seguida da voz severa:

— Vamos ter uma conversa sobre sigilo mais tarde, Penny… Mas, bem, já que a Srta. Rose já sabe do que se trata, isso facilita as coisas.

— Desculpe por isso, senhor. — Ruby sentiu que era o certo a dizer, porém, bastou um olhar incrédulo de Penny em sua direção que ela, inevitavelmente, suspirou. Pietro riu baixinho diante da interação delas e, assumindo a expressão séria de novo, continuou:

— Não precisa se desculpar e eu não serei hipócrita, afinal… Eu tive a minha cota de envolvimento com o Ravenscrow MC quando o seu pai era o presidente. Isso não é novo, só é inesperado.

Aquela era uma informação nova, porque até onde Ruby sabia, o único membro do FBI que lidou diretamente com o MC foi Winter, irmã de Weiss Schnee e uma das pessoas mais próximas a Penny. Sempre que a caçula Rose descobria algo sobre o clube, ficava impressionada com a extensão da rede de influência das pessoas envolvidas e era ainda mais surpreendente que uma pessoa tão honesta como Pietro tivesse, no passado, lidado com o grupo.

E mais precisamente, com o seu pai. Nenhum dos dois mencionou aquilo nas diversas vezes em que se encontraram por causa da proximidade das filhas. Talvez, Pietro passasse pela mesma coisa que Tai e não quisesse se lembrar da conexão com o Ravenscrow MC e isso apenas acentua a curiosidade de Ruby… Claro que sabia da violência que caminhava junto com o clube, mas também conhecia Yang e sabia do coração enorme da irmã. Assim como conhecia Nora, Pyrrha, Blake…

O que aconteceu para que algumas pessoas que voaram nas asas de corvos de olhos vermelhos no passado tivessem abandonado, para sempre, aquele voo?

— Bem… Não sei se Tai vai querer saber disso agora, mas a sua irmã provavelmente vai se interessar pelo que tem acontecido no escritório desde que Winter foi suspensa. — A voz de Pietro trouxe Ruby de volta para a conversa e ela se sentiu puxada para sentar. Ela e Penny ocupavam o fim da cama e Ruby se sentiu tremer ao sentir o braço da amiga envolver a sua cintura. Pietro tirou os óculos e os limpou, ansioso. — Houve um pedido para análise de todos os casos envolvendo o Ravenscrow MC e isso os colocou em segredo de justiça. E mais preocupante do que isso, é o fato de que, provavelmente, existe uma investigação em andamento para uma requisição dessas ser aceita. E levando em conta a nova Promotoria, eu não descartaria a possibilidade do Departamento de Justiça estar envolvido, como um todo, nisso… 

Ruby escutou as palavras atentamente, mas a cada informação que Pietro acrescentava, mais ela se perdia. Porém, o pouco que conseguiu captar apenas a deixava amedrontada porque, por mais que não entendesse metade, era evidente pela preocupação e ansiedade do senhor que aquilo era maior do que tudo que o Ravenscrow MC enfrentou até agora. Ainda assim, Ruby precisava ter certeza e, por isso, perguntou:

— O que o senhor quer dizer com isso?

— O cerco está se fechando, Ruby… E como eu sei que a sua irmã e os Schnees não vão abrir mão do que têm planejado para o MC, eu diria para você alertá-los sobre isso… Algo grande vem por aí e eu não sei o que esperar. — A voz de Pietro era densa e soava como um agouro. Ruby acenou afirmativamente para ele enquanto pescava o celular no bolso da calça da Academia Beacon. Penny depositou uma mão sobre a perna dela que balançava, tentando tranquilizá-la. — Aliás, minha filha, se Winter estiver na cidade, você pode perguntar se ela pode passar essa semana contigo? Acho que não ficarei em casa e…

— Papai, eu tenho 17 anos…  — Penny argumentou teimosa e mesmo com os olhos prateados na tela do celular, digitando a mensagem para Yang, Ruby acabou sorrindo e sentiu o coração acelerar. Isso e a mão, cujo os dedos dedilhavam a sua perna, eram impossíveis de se ignorar. Penny pigarreou, Ruby digitou que precisava encontrar Yang. — Eu acho que Winter não vai querer passar o tempo dela na cidade comigo, ela tem outros compromissos agora… E assim, eu sempre posso passar a semana com Tai e Ruby. 

Agora, Ruby se perguntou de onde veio a coragem e a determinação que escutou na voz de Penny. Ela ergueu os olhos do celular, sentindo as vértebras do pescoço estalarem com o movimento abrupto e levou a mão à nuca, massageando o local. Penny tinha um sorriso ao olhar para o pai e as bochechas dela também estavam coradas. Ruby ofegou e tossiu quando Pietro olhou da filha para ela, subitamente sentindo que era pega sem sequer saber por que. 

Penny apertou a perna dela levemente e Pietro, massageando as pálpebras, disse severo:

— Tudo bem, mas eu quero falar com Tai antes porque eu sei que ele também tem as coisas dele para fazer.

— Com todo o respeito, eu não sei se vão tentar atacar a casa de um ex-motoqueiro fora da lei, senhor. — Ruby não soube o que deu nela para completar as justificativas de Penny com tanta animosidade, mas desconfiava que tinha a ver com tudo que a amiga era e sentiu falta, inclusive, do beliscão em suas costelas naquele momento. — Mas, claro que o senhor pode falar com ele. Vou ligar agora. 

Ruby se levantou e sentiu os olhos de Penny em si, ao se virar para ela e Pietro, a amiga tinha um sorriso enorme no rosto e foi impossível não fazer o mesmo. Ela mal reconheceu o pai ao ouvi-lo e grunhiu uma apresentação breve antes de passar o aparelho para Pietro. O senhor saiu para o corredor e ela ficou parada no meio do quarto de Penny, com as mãos nos bolsos das calças do uniforme. Penny se levantou e a abraçou apertado antes de sussurrar em seu ouvido, animada:

— Uma semana de noite de pijama, já imaginou?

E pela forma como Ruby ria boba e apertava Penny junto de si, sentindo as pontas dos seus dedos formigarem e o seu coração acelerar, ela não queria imaginar. Porque era real e agora, só precisava se tornar presente.

          

      


 

Os braços ao redor da sua cintura, em um aperto forte, se firmando para permanecer em cima da sua Harley - como se existisse a possibilidade delas caírem -, era o que trazia um sorriso automático nos lábios de Yang enquanto guiava a moto por entre as ruas vazias naquela manhã de sábado de Vale. 

Yang sabia que Blake confiava piamente nela quando estavam juntas em cima da sua Dyna. Afinal, a VP sempre foi uma excelente motorista. Sua Harley era, facilmente, uma extensão do seu corpo. Juntas, eram um organismo. Yang sentia cada peça da moto como se fosse ela mesma. Era seguro admitir que tinha total controle daquela moto. 

No entanto, Yang também sabia que Blake não confiava nas pessoas fora daquela bolha. Elas estavam em Vale, meses após terem sido reféns de uma organização que ambas têm um passado conturbado. Inclusive, um dos motivos para estarem indo na direção que estavam naquele momento: o Hospital Central de Vale. 

Não dava para confiar que não viria algo de surpresa enquanto elas estavam cortando as ruas da cidade. 

Normalmente, em situações como essa, Yang pediria para que Nora ou Pyrrha lhe acompanhassem de escolta, apenas para garantir a segurança das duas - principalmente de Blake. No entanto, por incrível coincidência - nenhuma, honestamente -, ambas estavam incomunicáveis naquela manhã. Tudo devido ao fato de que a festa de Pyrrha foi na noite passada. Portanto, se ela quisesse procurar as duas amigas, elas não estariam nas próprias casas e, definitivamente, não atenderiam o telefone naquele sábado de manhã. 

Yang era a única idiota que teve que sair do conforto dos braços de Blake naquela manhã quente de Vale. 

Ao se aproximar do hospital, Yang conseguia sentir os conflitos na mente de Blake pela forma como os braços aliviaram o aperto para, logo em seguida, apertar novamente. Um novo sorriso surgiu em seus lábios. Sua namorada estava ansiosa com a possibilidade de reencontrar a mãe pelos corredores do hospital. Não importava quantas vezes Yang tenha avisado que ela quase não viu Kali nos dias que esteve lá, Blake tinha aquele olhar duvidoso que faz a VP pensar que, talvez, ela tenha estado dopada demais para garantir isso. 

O motor da Harley parou de roncar e Yang tirou o capacete, puxando o cabelo rapidamente em um rabo de cavalo. Ainda não teve a chance de cortar e o calor estava insuportável para deixar ele solto. Blake já tinha saído da moto e estava abrindo a própria bolsa, puxando o celular para checar, mais uma vez, se tinha alguma ligação de Weiss. 

- Nós duas sabemos que ela está ocupada demais para isso. - Yang zombou, rindo quando viu a namorada revirar os olhos de forma carinhosa. Ela estava preocupada com o trabalho, mas Yang também sabia como tirar a cabeça dela disso. Se encostou na moto e, com um braço, circulou a cintura de Blake, puxando-a de encontro a si, deixando-a entre suas pernas. Escutou uma risada quando salpicou beijos pela bochecha dela antes de sussurrar no ouvido dela: - E você é só minha hoje, Belladonna. 

A sentiu estremecer em meio a risada e lhe bater de leve no braço. No entanto, não fez o mínimo esforço para se soltar do seu abraço, aconchegando as costas contra o seu peito e deitando a cabeça contra a sua. Yang apenas apertou um pouco mais os braços envolta dela e beijou sua cabeça algumas vezes, se permitindo entorpecer um pouco com o cheiro do shampoo de uva que era a assinatura de Blake. 

- Claro que sou, por isso estou aqui com você no estacionamento do hospital para ver se essas suas costelas estão melhores. Alguém tem que tomar conta de você, Xiao Long. - Tinha riso na voz dela, uma leveza quase incomum depois do tanto que passaram. Yang sentiu uma ansiedade boa na boca do estômago, uma que a fazia querer cometer uma loucura, como ficar de joelhos para essa mulher. Sem ser no sentido sexual, mas em um sentido que significava bastante coisa. Algo que, talvez, elas não estivessem prontas ainda. 

Porém, o pensamento se fez presente dentro de si e Yang entendeu que não daria para ignorá-lo por muito tempo. 

Entraram de mãos dadas no hospital e isso atraiu olhares rapidamente. Isso e o fato de que Yang não usava o colete do Ravenscrow. A cidade inteira sabia do porquê, Cinder fez questão disso quando anunciou no maior jornal e colocou panfletos nos pontos mais importantes da cidade. 

O combo dos olhares com a falta de colete a fazia se sentir nua, mas a mão de Blake na sua lhe trazia tranquilidade. E também foi a única coisa que a fez continuar andando quando as pessoas começaram a sentir confiança para fazer comentários sobre ela. 

- Talvez essa promotora nova tenha sido uma boa ideia. - Escutou um senhor comentar em uma das cadeiras da recepção. Tinha tudo, menos coisas boas, na voz dele. - Consigo me sentir seguro até quando essas gralhas estão presentes. 

- Eles nem andam em bando mais. Tenho que concordar com você, Fábio. - Uma senhora complementou o tal de Fábio, a voz rouca indicando o uso constante de cigarros. A crise de tosse que se seguiu só reforça essa afirmação. 

Mesmo sem o colete, Yang sentiu as asas do corvo de olhos vermelhos se fechando sobre ela, fazendo-a parar e começar a se virar para encarar aquelas pessoas. No entanto, antes que as asas se fechassem sobre si, Blake lhe puxou para fora, apertando sua mão e levando-a na direção do corredor. 

- Não vale a pena, Yang. - O aperto na sua mão lhe trouxe de volta e Yang sabia que Blake estava certa. O que ela faria? Iria bater em um idoso? Realmente não valia a pena. Esse tipo de gente não entendia o papel dos MC’s na cidade. Os clubes tinham problemas, mas ainda eram os que mantinham a cidade segura. 

Então, com um aperto de volta, seguiu com ela pelo corredor, sabendo que esperariam a sua hora em uma recepção mais silenciosa. 

Elas não esperaram muito na recepção. Afinal, era muito cedo em um sábado. Em minutos, Yang estava sendo chamada por uma enfermeira e indo com Blake na direção de um dos pequenos consultórios. Ao deitar na maca só com o sutiã, a Belladonna lhe deu um beijo na testa e disse que iria buscar algum café para elas. 

Yang assistiu ela lançar um olhar levemente enciumado para as enfermeiras lhe examinando, antes de sair. O olhar lhe trouxe um sorriso. Durante esse tempo, Blake era a única a passar remédios pelo seu torso ferido e, por causa disso, esse momento virou algo entre elas. Um tipo interessante de carinho. A própria VP se sentia levemente desconfortável de sentir mãos aleatórias tocando áreas que passaram pelas mãos da Belladonna na manhã anterior. 

Não sabia exatamente quanto tempo tinha passado ali, deitada olhando para aquele quarto branco e azul, encarando a luz clara por tempo o suficiente para sentir os olhos ardendo. Em segundos, chegou a cochilar, imaginando que demoraria um pouco para finalizar o que quer que tinha que finalizar. 

A porta abrindo lhe tirou do sono leve e arregalou os olhos na direção de quem entrava, imaginando que seria Blake. No entanto, seus olhos se arregalaram mais ainda ao perceber que outra Belladonna entrava na sala. 

O cabelo de Kali ainda estava curto como da última vez que a viu. Quando ela se virou para Yang, um sorriso suave nos lábios, a VP identificou um carinho nos olhos dourados, tão parecidos com os da filha. No entanto, esse carinho desapareceu quando os olhos se fixaram na mancha roxa do seu torso. 

Com um suspiro pesado, Yang assistiu Kali olhar para as duas enfermeiras, um olhar duro e firme:

- Podem sair, deixem ela comigo. - No seu tom não tinha brecha para mais, ela só abriu a porta atrás de si e deu espaço para as duas mulheres passarem. 

Yang, com um sorriso pequeno, viu as duas se encararem, olharem para a VP rapidamente, antes de obedecer a ordem inflexível de Kali. Ela tinha um ar de autoridade em tudo, mesmo usando um uniforme parecido com o das outras que estavam naquela sala. 

Quando elas saíram, Yang se sentiu como uma criança sob o olhar firme de Kali. Os olhos dourados, mesmo tão parecidos com os de Blake, tinham aquele peso materno que ela sente falta todos os dias. Assistiu Kali se aproximar, pegar luvas dentro de uma caixa e, de uma forma bastante hábil, colocá-las nas mãos. Com o pé, ela empurrou um banco para perto da maca e sentou. 

- Bom dia, Sra. Belladonna. - Yang falou, sua voz saiu pequena e tímida. Primeiro, era a mãe da sua namorada ali. A mulher que lhe viu crescer. Segundo, era a mãe da sua namorada ali e Yang estava só de sutiã, deitada diante dela. Seu rosto inteiro estava queimando de vergonha e, por instinto, quis se cobrir com os braços, mas uma cutucada, em um ponto doloroso da costela, a fez jogar a timidez pela janela inexistente da sala e grunhir de dor. 

- Por favor, garota, você nunca me chamou assim, agora não vai ser a primeira vez. - Tinha algo brincalhão no tom dela e Yang pensou se deveria rir, mas algo gelado tocou em um ponto específico e a fez fechar os olhos rapidamente, esperando que doesse, porém, sentiu um alívio ao perceber que não foi o caso. - Apesar do tempo sem falar com ela, conheço bem minha filha. Duvido que ela fique feliz sabendo que duas mulheres desconhecidas estão passando as mãos pela namorada dela. 

Isso fez uma risada borbulhar no estômago de Yang, mas a mesma só engoliu, sem saber se deveria rir diante da mulher que tinha total controle do que ela estava sentindo naquele momento. 

- Está tudo bem, Yang, eu não vim para te torturar. Apesar de achar tentador. - Kali acrescentou, sorrindo ao ver que Yang engoliu em seco e desviou o olhar para o teto, de volta para a luz que queimava seus olhos. - Eu vim porque também queria conversar com você. Da última vez que tentei, você não conseguia me ver através da quantidade de droga que te deram pra ficar quieta. E, por Deus, garota! Você precisa aprender a ficar quieta! 

Yang virou para olhar para ela, tentando não se mexer e não gatilhar nenhuma cutucada de Kali. Os olhos dourados dela eram tão suaves e, mais uma vez, o toque maternal estava ali. 

- Aconteceu alguma coisa? - Perguntou, se inclinando levemente para fora da cama, com medo de que Kali estivesse passando por alguma coisa e precisando da sua ajuda. 

Com Blake fora, Yang fez questão de tomar conta da mãe dela durante os oito anos, garantindo que Kali estivesse segura. Não precisou fazer nada durante esse tempo, mas não impedia de passar por ela quase toda semana, acenando e esperando que estivesse tudo bem. Felizmente, Kali sempre lhe respondia, mesmo com algo pesado atrás dos olhos. Como se, ao ver Yang, ela esperasse encontrar alguém do lado dela, ou na garupa da moto. 

Yang entendia mais do que ninguém. Naqueles anos, ela também esperava olhar para trás e ver os olhos dourados que ela sabia que nunca deixaria de amar. 

- Não, garota, pode abaixar a guarda. Vocês corvos sempre pensam no perigo primeiro, esquecem que existe a vida mundana de pessoas que só querem conversar com outras pessoas. - Yang sabia que tinha mais corvos na cabeça de Kali naquele momento. Esse pensamento trouxe um bolo para sua gargante. Assim como Blake, Kali sabia como era dividir uma vida com um corvo. - É só que, com as eleições, Jacques, o final de ano… é difícil não pensar nas coisas que gostaria de dizer para algumas pessoas. 

- É, o medo faz isso com a gente. - Yang murmurou sem perceber. Sentiu algo frio no estômago, achou que poderia ser ansiedade por ter falado algo que não sabia se deveria, mas era só Kali passando o gel por toda a área. Qualquer dor que sentia antes, foi diminuindo. 

- Sim, o medo tende a causar reações interessantes na gente. Uma delas é que… - Kali se interrompeu antes de continuar. Yang esperou calmamente, sentindo os dedos enluvados da Belladonna passando pelas costelas, checando se ela não quebrou nada quando descumpriu quase todas as regras do Dr. Klein. - Desde que você e minha filha começaram a namorar, eu tive medo. Mesmo com Ghira insistindo que estava tudo bem, afinal, vocês claramente se amavam. Estava óbvio desde o momento em que colocamos os olhos em vocês e vimos como estavam perdidas nessa névoa tentadora que é o amor. Mas o meu medo não era de que vocês machucassem o coração uma da outra, eu sabia que o dela estava seguro com você. 

Os olhos de Kali foram para os seus e, antes que Yang pudesse sorrir para ela, sentiu uma pontada de dor pelo seu corpo e bateu a cabeça de volta na maca, grunhindo enquanto escutava a risada da Belladonna. Mas, antes que pudesse reclamar disso, a expressão de Kali ficou mais sombria. 

- Mas muitas coisas aconteceram naquela época. A saída do seu pai, a mudança da presidência do clube, Ghira tentando, a todo custo, trazer os ideais de volta. Mas, Yang… A sua mãe biológica sempre foi o meu maior medo. - Ela levanta os olhos dourados para os de Yang, que desviou rapidamente, sentindo seu estômago torcer com ansiedade. As cartas de Summer insistiam na sua mente, era difícil não concordar com Kali naquele momento. Raven causava medo em muita gente e, Yang não queria falar em voz alta, mas talvez tivessem razão de ter. Sentiu vontade de sair de lá, e quase o fez, se não fosse pelas próximas palavras de Kali: - O dia que você ganhou o colete de prospect foi quando eu temi pela minha filha. Ter um parceiro nessa vida não é fácil, requer muita confiança e uma quantidade exacerbada de comunicação. Ela já tinha o pai vivendo sob as asas do corvo de olhos vermelhos, então… 

- Blake e eu não guardamos segredos… - Travou imediatamente, sabendo que isso não era bem verdade. Então, rapidamente acrescentou: - Não mais, hoje temos uma comunicação muito boa e… 

Foi cortada por uma onda de dor que a fez jogar a cabeça contra a maca e apertar a mandíbula com um grunhido. Kali sabia exatamente onde cutucar para doer e, entre esses momentos, ela abafava a dor com toques suaves e pomadas frias. Yang imaginava que toda a consulta já deveria ter terminado há vários minutos. Inclusive, estava começando a se preocupar com a demora de Blake. 

- Não precisa me explicar isso, Xiao Long. Eu sei o que vocês passaram, sei que tenho minha carga de culpa nisso e que não é pequena. Porém, fico admirada ao ver o quão longe vocês chegaram hoje em dia. Soube até que moram juntas. - Kali falava de uma forma saudosa, os olhos brilhavam com um lamento que Yang sabia exatamente o porquê. 

A conversa sobre a saída de Blake, oito anos atrás, foi tida há uns meses, antes de toda a eleição. Yang não podia esconder que culpou a Belladonna por muito tempo durante os anos, mas quando Blake lhe explicou tudo que aconteceu para causar a sua saída, tudo ficou mais claro na mente da VP. 

No entanto, Blake ainda assumia a culpa por ter ido sem um aviso, mas Yang a entendia perfeitamente, mesmo sabendo que ela mesma nunca o faria. Yang era gananciosa quando se tratava de Blake, queria guardar todos seus momentos em memória, do primeiro ao último, não importava como ele seria. 

- Não precisa me explicar nada sobre o relacionamento de vocês, Yang. - Kali continuou falando, seu tom permanecia o mesmo. - Eu só precisava falar essas coisas para você porque… Você salvou as nossas vidas naquele dia, Yang. Você e aquela sua amiga maluquinha. 

Os olhos dela estavam nos seus e a tamanha dor neles trouxe lágrimas para os lavandas. Yang engoliu com força, tentando impedi-las, mas foi impossível, elas já escorriam pelas bochechas. 

Durante toda essa conversa, começou a se perguntar onde que Kali queria chegar. Imaginava que só falariam sobre o relacionamento delas, mas agora a matriarca tocava em um dos assuntos mais dolorosos da vida de ambas.

A perda. 

- Eu só… 

- Você salvou nossas vidas e continua salvando todos os dias. Eu sei bem que Blake nunca estaria aqui se você não tivesse sempre com ela. Sei também que isso funciona de várias maneiras. Ela seria uma estranha se não tivesse você na vida dela. A minha Blake não estaria aqui se não fosse por você. - Os olhos dourados não estavam nos dela quando continuou falando, Yang observou a forma como eles fitavam o seu braço, a tatuagem do dragão dourado no braço que foi mutilado por vidros há oito anos atrás. Os dedos enluvados de Kali passavam pelas cicatrizes, as antigas e as novas. Lágrimas brilhavam nos olhos da matriarca e isso trouxe um soluço para a garganta de Yang. - Eu sei que mudei depois da partida do meu Ghira. Blake sofreu as piores consequências e eu me arrependo disso amargamente. Me arrependo de tudo que separou vocês duas e que afastou a minha Blake de mim. 

- Kali, nem todo mundo sabe como vai lidar com o luto, ele… Faz a gente agir de forma idiota. Às vezes a gente tem muita raiva, faz e fala tudo que não deve quando, na verdade, só deveria chorar. - Yang conseguiu colocar para fora, tentando controlar a vontade de soluçar em meio às lágrimas. O sorriso triste de Kali a fez querer falar mais, mas a matriarca a interrompeu, os dedos ainda passando pela tatuagem. 

- Você perdeu tanto, não foi? - A voz de Kali era tudo que Yang não sabia que precisava para fechar os olhos e soluçar. Ela nunca foi de chorar na frente de outras pessoas, quase nunca o fazia na frente de Blake. Foram raras as vezes que o fez. Porém, com Kali tão materna e carinhosa, Yang só quis se encolher e chorar com a cabeça no colo daquela mulher. Sentiu uma mão no seu cabelo e, mesmo com seus instintos quanto a isso, Yang só se deixou chorar enquanto Kali acariciava os fios loiros. - Sua mãe… Yang, eu sei que não sou a Summer e estou bem longe disso, mas… saiba que, se precisar, você pode me procurar… 

Mesmo sabendo que não podia fazer, Yang virou de lado na maca apertada, apertando a testa no estofado desconfortável. Ignorando todas as dores, ela só queria esconder, a todo custo, o quanto estava se controlando para não chorar mais do que já o fazia. No entanto, a mão de Kali continuou ali, já sem as luvas, mexendo nos fios loiros. 

Não sabia exatamente quanto tempo ficaram naquela situação, mas Yang já tinha parado de chorar e agora estava com as mãos no rosto, respirando lentamente. Odiava chorar, odiava o peso por trás dos olhos, odiava saber que tinha alguém lhe observando ser tão vulnerável. 

- Agora se recomponha, garota. Sua namorada chega aqui daqui a pouco. Se você estiver chorando, ela não vai ficar feliz. Nós duas sabemos como ela gosta de se preocupar com as coisas. - O tom de Kali, apesar de brincalhão, era levemente choroso. Isso fez Yang se inclinar para sentar e o fez sem sentir dores. Kali lhe estendeu a mão com sua camisa branca, olhando ao redor, procurando alguma coisa. - Seu colete não está por aqui… 

- É, culpe a nova promotora por isso. - A voz de Yang estava grave e rouca, mas ela ainda riu com o grunhido irritado de Kali, que limpava as coisas que tinha usado na VP, guardando logo em seguida. 

- Eu sempre achei que esses coletes eram extremamente sexy. - O comentário fez com que Yang se engasgasse com a saliva, virando a cabeça para tossir enquanto a risada de Kali ressoava pela sala pequena. 

Por causa disso, a batida na porta não foi escutada, então, quando ela se abriu, assustou as duas que estavam dentro do ambiente. 

Com os olhos arregalados, um suporte carregando dois copos grandes de café, e o cabelo levemente desgrenhado, estava Blake. Olhando de Yang para Kali e vice e versa. Yang ainda pigarreava graças ao engasgo com as palavras de Kali, engolindo saliva rapidamente, mas um olhar atento na expressão da Belladonna mais nova.

Sabia exatamente o que aquele olhar significava. A insegurança, o desconforto, a preocupação - ao ver que Yang ainda tinha uma expressão de alguém que chorou. Blake estava passando por vários sentimentos e ainda não deu um passo para dentro do consultório. 

- Entre, Blake. Já terminamos por aqui, ela já vai sair. - Quando Kali falou, Yang assistiu a postura de Blake crescer. Ela estava entrando na defensiva. A Belladonna mãe sabia disso tanto quanto Yang e, por isso, apenas soltou um suspiro ao lado da VP e colocou uma mão no ombro dela. - Você, mocinha, se cuide. Sei bem que foi por pouco que essas costelas não resolveram quebrar do esforço que você andou fazendo. Por favor, evite descumprir as regras do Dr. Klein, ele é um bom homem e excelente profissional. O que significa que ele quer o seu bem, Xiao Long! Vocês motoqueiros são uns pestes quando querem. 

Yang sentiu as bochechas corarem com o esporro que estava levando do nada. Pigarreou mais uma vez e apenas assentiu, sem saber como falar diante de dois pares de olhos dourados fixados nela. Terminou de vestir a camisa, se forçando para não fazer uma expressão de dor com a movimentação. 

- Ela está bem? - A voz de Blake ressoou pela sala pela primeira vez, olhando ao redor e fixando o olhar em Kali. As defesas ainda estavam ali e Yang duvidava que fossem sair até o momento que deixassem aquele hospital. 

Kali se voltou para ela e Yang viu como a postura da mãe suavizou ao ver a filha. Tinha tanto amor e arrependimento ali. Yang mal podia esperar para o momento em que as duas conversarem. 

- Sim, querida. Yang está muito bem, eu só queria trocar umas palavrinhas com ela, por isso estou aqui. - E virou os olhos dourados para Yang, que estava sentada na maca, amarrando o cadarço da bota. Porém, seus ouvidos estavam atentos nas duas Belladonnas, sentindo a tensão e a saudade entre ambas, mas nenhuma das duas parecia querer agir sobre isso. 

Em algum momento, Kali se despediu das duas e saiu da sala. Blake ainda olhava para a porta enquanto se aproximava lentamente da maca que Yang terminava de colocar a outra bota, fingindo que não estava atrasando de propósito para saber o que sua namorada tinha em mente. 

- Desculpa a demora, eu não queria tomar o café terrível do hospital, então fui na cafeteria aqui da frente. - Foi a primeira coisa que ela disse e Yang levantou os olhos para ela, franzindo o rosto e apanhando o café que ela lhe estendia. Blake estava sem olhar nos seus olhos, olhando ao redor de forma curiosa. - O que aconteceu…?

Essa era a pergunta que ela esperava e isso fez Yang dar uma risada baixinha. Tomou um gole do café e deu de ombros. 

- Sua mãe sabe como você é ciumenta e veio aqui conversar comigo sobre como andam as coisas. Sabe como é, conversa de nora e sogra. - Deu de ombros mais uma vez e sorriu da forma mais idiota possível, sabendo que isso traria um sorriso de volta para os lábios de Blake. 

Apesar das defesas ainda altas, Yang conseguiu forçar um sorriso de Blake, que revirou os olhos de forma afetuosa. 

- Você vai realmente fingir que eu não te peguei com a cara inchada de choro, né? - O tom de Blake era irritado, mas o olhar dela tinha carinho e preocupação. Yang apenas continuou sorrindo, recebendo outro revirar de olhos. - Você é impossível. 

- E eu te amo. 

Blake soltou uma risada dessa vez e Yang se sentiu vitoriosa, tomando mais um gole do café, feliz pelo gosto bom de um café de qualidade. 

 

 

Blake odeia café, agora, mais do que nunca. Claro que isso não é totalmente verdade, já que a rotina maluca como assessora de imprensa das Corporações Schnee exigia que ela passasse mais tempo acordada do que descansando. Porém, agora que o líquido gruda na sua pele por causa da camisa molhada, ela realmente odeia café.

Aquela camisa social branca de algodão provavelmente teria que ir para o lixo e Blake realmente esperava que Weiss lhe desse outra, afinal, ela só estava em casa, em pleno horário de almoço em uma segunda-feira que prometia ser mais longa do que o normal por causa da falta de organização da herdeira Schnee. 

Ok, não era tudo culpa de Weiss, mas ela tinha a parcela e por mais que Blake amasse sua melhor amiga, não iria redimi-la disso. Não com uma camisa manchada para sempre e uma queimadura no abdômen. 

O alívio que sentiu ao chegar no apartamento que dividia com Yang era conhecido. Só que, naquele dia, ela também se sentiu melhor porque estava em casa (e segura) depois de uma manhã de estresse. Ela abriu a porta sem olhar para o corredor, já que a camisa morna pelo calor e pela temperatura do café voltou a grudar em sua pele e ela rosnou para isso. Porém, os passos pesados a fizeram erguer os olhos dourados e mesmo se ela não os tivesse escutado, a voz sorridente em seguida a teria feito ir para qualquer lugar:

Bella…? Eu não te esperava hoje, mas que bom que…! O que aconteceu com você?!

— A sua ex, ela aconteceu! — Blake grunhiu irritada, colocando a bolsa na mesinha próxima à porta e fechando os punhos ao lado do corpo, sentindo-se corar por estar tão irritada a ponto de quase chorar. Os olhos lilases a observaram com um sorriso triste e foram imediatamente atraídos para as suas mãos, quando ela começou a desabotoar a camisa manchada. — Aliás, eu não sei se existe algo na minha vida ultimamente que não envolva a mimada da sua ex!

Os dedos tremiam ao tentar desabotoar a camisa e Blake fechou os olhos, apertando-os enquanto respirava fundo e tentava se acalmar. O efeito foi imediato, mas não por causa disso, já que o perfume cítrico tomou o ar ao seu redor e ela sentiu as mãos calejadas de Yang sobre as suas, guiando os seus dedos e abrindo a camisa com cuidado. Blake olhou para ela, os lábios entreabertos e mais calma, vendo como o olhar lilás se fixava na porção exposta de seu abdômen e Yang perguntava preocupada:

— Eu vou querer saber disso depois, mas… Será que você precisa ir ao hospital? A sua pele tá vermelha aqui… 

A ponta do dedo dela passou cuidadosa sobre a pele irritada e Blake se encolheu, não pela dor e sim, pelas cócegas. Yang retraiu a mão com uma expressão chocada, mas logo relaxou quando Blake riu baixinho e enlaçou o pescoço dela, juntando as testas das duas. Yang fechou os olhos, parecendo quase em paz, o que era raro nos últimos dias e Blake acariciou o nariz dela com o próprio antes de responder charmosa:

— Ou você pode cuidar de mim.

— Mas você não tem que trabalhar…? — Os olhos lilases escureceram e Blake sentiu o coração acelerar diante do efeito que, depois de anos juntas e separadas, continuava o mesmo. Apenas um olhar já a fez sorrir e esquecer que, segundos atrás, queria estrangular Weiss Schnee com as próprias mãos. Blake guiou as mãos de Yang para a sua cintura, rebolando discretamente para atiçá-las e encaixá-las em suas curvas. Foi a vez de Yang fechar os olhos e apertá-los, grunhindo. — Se você continuar, eu vou queimar nosso almoço.

— Isso seria impossível, você é uma excelente cozinheira… Só me resta saber se você também é multitarefa. — Blake deixou que a sua voz arrastasse enquanto empurrava Yang para a parede mais próxima e arranhava as coxas parcialmente expostas pelos shorts apertados. A mudança de comportamento da outra deixou claro que tinha apertado os botões certos e que, talvez, elas realmente não almoçassem naquela segunda-feira. 

Nos últimos dias, depois do patch de Pyrrha e da frustração quanto às investigações do acidente do pai, Blake se via cada vez mais atraída por Yang. Não sabia se foi o instinto protetor que estava se manifestando de forma desconexa, tentando fazer Yang enxergar algo além do Ravenscrow MC ou se era influência indireta de Weiss que não tinha vergonha em contar sobre as noites dela com Pyrrha, mas Blake sentia que era cada vez mais complicado resistir a Yang.

Parecia que mesmo agora, em que elas tinham tempo de sobra apesar de tudo, ainda não era suficiente diante do que elas perderam. E a assessora esperava que aquilo nunca passasse, que essa necessidade de ter o seu sol perto de si sempre existisse e nunca fosse aplacada.

Os lábios de Yang gravitaram sobre os de Blake e ela sorriu ao ver a loira tão próxima e quando estavam prestes a se beijar, a outra inverteu as posições e se afastou bruscamente. A VP do Ravenscrow MC tinha as bochechas coradas e ofegava, com um sorriso urgente e radiante nos lábios ao dizer:

— O almoço… Meu arroz chinês…!

A frustração novamente tomou conta de Blake e ela se encostou na parede, suspirando pesado. O calor que sentia agora nada tinha a ver com a camisa manchada de café nem com o verão de Vale. Os passos pesados voltaram a serem escutados e ela ergueu a cabeça, ansiosa, na espera por algo. Yang a olhava com metade do corpo para dentro da cozinha e dizia:

— Eu já tô terminando, se quiser ir se trocar, podemos almoçar juntas e eu levo você de volta.

— Eu vou tomar um banho. Um frio, de preferência! — Blake rosnou antes de sair a passos pesados do corredor para a suíte que dividiam, escutando as risadas e pedidos de desculpas de Yang. 

E por mais que estivesse irritada, ela tinha um sorriso ao entrar no box e deixar que a água fria aliviasse todos os calores do seu corpo. Há alguns meses, aquela realidade nem passava pela sua cabeça. Há algum tempo, ela vivia nas sombras esperando que o seu passado a apanhasse. E agora, ela lutava para que a presente realidade se tornasse o seu futuro, sem sombras, com Yang. 

Ainda existia muito a ser feito e mais ainda a ser enfrentado, mas a tranquilizava saber que poderia voltar para uma casa onde teria o seu amor de infância (e da vida inteira) esperando por ela mesmo quando nenhuma das duas sabia disso. Blake lutaria o tempo todo para que aquele sorriso nunca deixasse de iluminar o rosto já cheio de luz de Yang. As asas de corvo poderiam ser escuras, mas Blake sabia lidar com a escuridão e a absorveria se isso significasse que a luz de Yang jamais deixasse de existir. 

O banho terminou com um suspiro e Blake saiu do box, secando os cabelos com a toalha e ainda deixando-os úmidos para aliviar o calor. Eles estavam mais compridos do que quando chegou a Vale, quase do comprimento que eram na adolescência e em parte da vida que levou em Mistral. Antes, esse pensamento a fazia ter calafrios, mas agora… Ela gostava da forma como Yang afastava os fios com delicadeza antes de beijar o seu pescoço, sua nuca ou a tatuagem de dragão atrás da sua orelha. Assim como amava quando ela os puxava para mantê-la perto dos seus lábios, ou quando massageava seu couro cabeludo quando estava com enxaqueca. 

Claro que grande parte de sua melhora veio de dentro de si, mas a cada dia que vivia com Yang, Blake se amava mais porque redescobriu partes de si com o toque e o olhar dela. 

No quarto, Blake escolheu uma calça de alfaiataria preta e leve que deixava os seus tornozelos à mostra e vestiu uma camiseta branca regata elegante, deixando à mostra os espinhos e a rosa tatuados em seu braço. Sabia que precisaria colocar um blazer por cima para não atrair olhares para si (ainda mais naquele dia) e o separou sob a cama, enquanto calçava os sapatos Oxford. 

Quando saiu do quarto com o blazer no braço, deixou para trás o seu perfume e percebeu quando os sons da cozinha emudeceram brevemente. Yang não conseguia resistir a ela normalmente e piorava quando saía do banho. Então, quando chegou à cozinha depois de deixar o blazer junto da bolsa, os olhos lilases acompanharam os seus movimentos, mesmo com as mãos ocupadas em forrar a mesa para o almoço. Blake afastou os cabelos úmidos, expondo parte da tatuagem e com um sorriso, sussurrou:

— Você vai ter que se contentar em olhar, Xiao Long.

— Por agora, sim. À noite, vamos ver no que dá… — A VP respondeu divertida e Blake se sentiu capturada por ela quando tentava chegar à cozinha. Yang a abraçou pelas costas e as duas meio que andaram e se arrastaram até chegarem às panelas. Blake quase gemeu de prazer ao ver o arroz chinês na panela e o frango à milanesa em uma tigela de vidro forrada. Ela inclinou a cabeça em direção ao rosto de Yang e sussurrou:

— Você me mima demais e por isso, está perdoada.

— Mas eu achei que a mimada fosse a Weiss? Não foi isso que você disse quando chegou aqui? — Yang estava cheia de gracinhas e gargalhou quando Blake se virou em seus braços e a empurrou para longe, apanhando um prato e se servindo com brutalidade antes de ter a colher tomada dela. Yang servia o frango para ela agora, com as sobrancelhas erguidas e um sorriso de quem parecia ter ganhado na loteria naquele dia. — E eu mimo você e não ela agora… E não vou ligar de fazer isso para sempre. 

Foi impossível, para Blake, continuar com a irritação quando Yang dizia aquelas coisas ao sorrir envergonhada. Ela abaixou o rosto rapidamente, se concentrando em continuar a servir o prato, mas Blake segurou o rosto dela com as duas mãos e o ergueu, beijando-a nos lábios e sussurrando junto dela:

— Para sempre é bom para mim. 

Yang ficou ainda mais vermelha e suspirou, o que provocou um riso livre em Blake para, enfim, apanhar o prato e se sentar à mesa. A loira veio minutos depois, de cabelos presos e as duas se sentaram lado a lado. Blake sorriu quando sentiu uma das mãos de Yang se instalar em sua perna enquanto a outra segurava o garfo. Ela mesma deu uma mordida no frango e suspirou para o sabor.

Ela simplesmente tinha uma mulher linda, gostosa, que cozinhava bem e era perigosa o suficiente quando se tratava de protegê-la. Blake Belladonna não sabia o que tinha feito para cair nas graças do universo, mas não reclamaria.

O silêncio no apartamento, enquanto comiam, era reconfortante. Blake foi quem terminou primeiro, satisfeita e sorridente, o que era surpreendente para alguém que se alimentou mal durante tanto tempo. Yang ainda comia e Blake a observava, com o queixo apoiado na mão e os olhos dourados brilhando, o ocorrido com a camisa manchada de café esquecido no mesmo lugar de sua irritação. Yang olhou de lado para ela e ruborizou um pouco antes de perguntar risonha:

— Não quer me contar porque você estava cogitando matar a Weiss quando chegou aqui?

— Matar não, mas cogitei cortar os dedos e a língua dela. — Blake grunhiu com um revirar de olhos, o que fez Yang quase engasgar. A VP engoliu a comida a muito custo e comentou:

— Bem, isso seria um tipo de morte para ela.

— É o que ela merece depois de entrar do nada na minha sala e me fazer derramar café em mim mesma. Isso porque eu enfatizei, mais de uma vez, que ela precisa bater na porta. — Blake gesticulou enquanto esbravejava e mesmo com a irritação pela herdeira Schnee voltando, nada superou o calor em seu peito com Yang olhando para ela com adoração enquanto se encostava na cadeira e acariciava a sua perna embaixo da mesa. — E como se não bastasse, Weiss e a secretária pessoal esqueceram que a Academia Beacon iria até à empresa à tarde e eu tive que, literalmente, me virar para organizar algumas conversas entre ela e os alunos, além de encomendar um coffee-break e mobilizar a assessoria de imprensa para cobrir o evento para tentar melhorar a nossa imagem pela vigésima vez nos últimos dias. 

Blake se virou para Yang quando terminou de falar, ofegante por causa do desabafo. Os olhos lilases estavam semicerrados e a loira tinha um sorriso sacana no canto dos lábios, foi a vez da assessora ruborizar e se jogar nos braços dela, escondendo-se no pescoço que cheirava à cítrico com resquícios de temperos e vapor. Uma das mãos de Yang massageou a sua nuca e Blake ronronou antes de escutar em seu ouvido:

— Você fica muito gostosa quando fala do trabalho. Mesmo quando quer matar alguém e esse alguém é nossa melhor amiga e minha ex, como não cansa de lembrar. 

— Por que a gente está falando da Weiss no primeiro almoço que temos juntas em dias? — Blake grunhiu indignada, mas rindo baixinho antes de morder o pescoço de Yang. A outra se encolheu e soltou uma exclamação de dor, afastando-a somente para beijá-la antes de morder a bochecha dela e dizer brincalhona:

— Quem começou a falar da princesa foi você.

— Então, eu acho melhor a gente parar de falar dela e fazer algo mais proveitoso enquanto ainda temos tempo. — E era pouco, Blake sabia que precisava voltar logo às Corporações Schnee para ver se tudo estava dentro do planejado às pressas por ela. Yang pareceu satisfeita com essa sugestão, porque arrastou a cadeira para longe da mesa enquanto a puxava para perto, Blake se encaixou no colo, sobre as pernas fortes e puxou os fios loiros presos, sorrindo satisfeita quando a dona deles gemeu.

Lentamente, ela se aproximou e roubou um, dois, três beijos até sentir que os dedos em sua cintura estavam enterrados em sua pele. Se elas continuassem, aquela blusa amassaria e Blake teria outro incidente de guarda-roupa naquele dia. E como se o seu pensamento atraísse o que não deveria, seu telefone tocou em cima da mesa e, desviando os lábios de Yang que passaram para o seu pescoço, ela leu o nome no visor.

Weiss Schnee.

Blake nunca quis tanto jogar o celular na parede. Os toques se tornaram cada vez mais ensurdecedores, de forma que até atraíram a atenção de Yang. Ela se afastou, mas ainda com Blake emburrada e de braços em seu colo, se esticou para o aparelho e o atendeu:

— Oi princesa… Sim, ela tá comigo… Eu sei, eu sei e ela sabe que tem que tá aí… Não, você não interrompeu nada… Ok, eu já levo ela. Beijos!

Belladonna, eu não acredito que você usou a desculpa de trocar de roupa para dar uma…! — Foi tudo que Blake escutou de Weiss antes de Yang desligar o celular e fazer a cara mais santa possível. Isso a fez revirar os olhos e se levantar do colo da outra, sentindo as pernas bambas enquanto caminhava até o banheiro para escovar os dentes.

Yang ria enquanto tirava a mesa e exatamente como no banho, foi impossível para Blake deixar de sorrir. A risada da VP era um dos seus sons preferidos e nem mesmo o péssimo timing e a organização bisonha de Weiss seriam capazes de amargar algo que ela lutou tanto para ter de volta.

Quando Yang ria, Blake sentia que nada mais poderia dar errado… Porque era nessa hora que o seu sol brilhava sem interferência alguma.

 

Em Mistral, Blake tentava esquecer qual era a sensação de andar de moto. Isso porque sempre sentiu liberdade quando estava em uma e a sua realidade com Adam era cruel demais para que ela ainda se torturasse com recordações que a lembravam de como foi feliz. 

Agora, com o vento quente do verão de Vale entrando pela viseira aberta de seu capacete e firmemente abraçada às costas fortes de Yang, ela não precisava mais lembrar do que tinha em mãos. E a sensação de estar na garupa de uma Harley Davidson sempre seria um sopro de alívio em meio a todas as pressões que viviam.

Talvez, a estrada, o asfalto e a moto também ressoavam nela, como fizeram com o seu pai e como faziam com Yang. 

E falando na VP do Ravenscrow MC, também era perceptível como pilotar uma moto daquelas relaxava a postura que, ultimamente, se acostumou a ser tensa. Então, Blake se aproveitava daqueles poucos e breves momentos de tranquilidade, arranhando o abdômen da outra por cima da camisa ou a beliscando na cintura. As vibrações da risada rouca de Yang a alcançaram e ela sorriu apoiada nas costas fortes, respirando profundamente o perfume cítrico e quente enquanto encontrava os olhos lilases pelo retrovisor da moto. 

Com o vento no rosto delas e a velocidade deixando tudo para trás, elas quase conseguiram ignorar o que tinham que enfrentar para permanecerem juntas e seguras. Só que Vale as relembraria sempre do carmesim que corria naquelas ruas e do que realmente governava aquela cidade e assim, elas pararam no acostamento contrário da rua onde o prédio das Corporações Schnee se localizava. 

Blake suspirou triste antes de tirar o capacete e ajeitar os cabelos escuros que, naquela altura, já estavam secos. Yang permaneceu sentada na moto, observando enquanto ela se arrumava para ir. Isso era algo que a assessora se acostumou a lidar, aqueles olhos tão expressivos sempre ficavam com ela até o fim, como se tivessem medo de que ela fosse escapar. 

Mas, ela não iria. Não mais. Existia uma promessa entre elas, uma que, daquela vez, Blake cumpriria independente do que tivesse que fazer. 

A risada de Yang chamou a atenção de Blake que percebeu, com tristeza, que os olhos lilases não estavam mais em si. Então, os dourados seguiram o rastro de seu par e encontraram a fachada do prédio empresarial que não parecia, em nada, com o que estavam acostumadas.

Um grupo de adolescentes uniformizados estava reunido ali. Blake reconheceu o Prof. Port e escutou a voz retumbante dele pedir para que os estudantes se organizassem. Contudo, o que chamou a atenção era a figura pequena, mas imponente que estava em frente às portas de vidro do prédio, com um sorriso que, mesmo à distância, Blake e Yang reconheceram ser ensaiado. 

Apesar do calor, Weiss Schnee não abandonava os seus ternos. Quer dizer, o paletó não estava com ela, mas a calça azul-escura estava, assim como os suspensórios e a camisa social branca, com as mangas dobradas até os cotovelos. Ela usava saltos scarpins, mas ainda parecia mais baixa do que vários alunos da Academia Beacon. Os longos cabelos brancos estavam presos no alto, ligeiramente tortos. E ela podia estar com toda a atenção voltada aos visitantes, mas ouviu o som do motor Harley Davidson e agora, o olhar azul elétrico estava nelas.

Porém, mais rostos se voltaram para elas quando Yang desligou a moto e assim, Blake também localizou Ruby e Penny no meio dos mais jovens. A ruiva sorriu e acenou delicada, segurando a mão de Ruby e a puxando para olhá-las, já que a caçula Rose estava atenta a Weiss. 

Ao ver Yang, Ruby abriu um sorriso enorme e acenou freneticamente. Blake riu baixinho quando viu a namorada corar e acenar de volta antes de procurá-la para se firmar. As mãos rudes se fecharam em suas curvas e a VP beijou a sua bochecha antes de sussurrar: 

— Você sabia que Ruby estaria aqui?

— Não… A Weiss dá tanto dinheiro para a Academia Beacon que fica complicado saber qual turma é a da visita do dia. — Blake respondeu de forma sincera, os braços circundando o pescoço de Yang e a ponta dos dedos dedilhando a nuca dela. A loira não parecia incomodada com o encontro surpresa, pelo contrário, estava radiante. Os olhos dela estavam no prédio enquanto Blake, de costas, aproveitava para tê-la por mais alguns minutos antes da realidade a chamá-la de volta. Tanto ela como Yang sentiram o vibrar no bolso da camisa e Blake se afastou para que a outra atendesse a chamada, mas a VP ria. — E eu nem preciso atender para saber que Weiss tá pedindo socorro. Olha a cara dela…

Blake se virou nos braços de Yang e tentou se afastar, mas foi puxada de volta enquanto gargalhava. O sorriso cortês desapareceu e agora, Weiss tinha uma careta na tentativa de ser gentil enquanto as procurava, freneticamente, com os olhos. Blake cruzou os braços em frente ao corpo e sentiu Yang amparar a sua cintura quando disse irônica:

— Sempre tão madura, ela nunca soube conviver com adolescentes, nem quando era uma.

— Você tá maldosa demais hoje, Bella… — Yang comentou com um tom de voz que, mesmo sem querer, parecia orgulhoso. Era impossível não sorrir grande para isso e com a sobrancelha arqueada, ela retribuiu o olhar da melhor amiga. Era a hora do contragolpe.

E Weiss parecia prestes a chorar enquanto os alunos a cercavam. 

Ruby tinha os olhos na herdeira Schnee e isso não passou despercebido de Blake, muito menos a carinha desconfortável de Penny. Ciumenta como era, a assessora conseguia reconhecer esse sentimento em outras pessoas e estava prestes a comentar com Yang quando sentiu-a se mexer às costas e sair da moto. A VP ainda sorria, mas uma sombra de seriedade nublava os olhos lilases ao dizer:

— Vou lá salvar a nossa mimada preferida. Preciso falar com ela sobre você-sabe-quem.

Era sobre Salem, mas Blake cerrou os olhos para a referência a Harry Potter. Em seguida, os revirou quando percebeu que Yang estava particularmente orgulhosa sobre o que fez, com as sobrancelhas erguidas e um sorriso charmoso no canto dos lábios. Ela resistiu a vontade de beijá-la, mas Yang se aproximou mesmo assim e a beijou na têmpora, antes de puxá-la pela mão para atravessarem a rua. 

As duas se separaram na calçada, quando Yang entrou a pé na garagem subterrânea e Blake se encaminhou para a entrada do prédio. Ela e Weiss trocaram um breve olhar, antes da herdeira se desculpar com o grupo visitante e, com o melhor sorriso que conseguia dar no momento, entrar no prédio. 

Os olhos dourados ainda acompanhavam o movimento da CEO da empresa quando Blake sentiu o corpo ser abraçado por uma pessoa que estava quase do seu tamanho. Talvez, estivesse tranquila demais com o jeito que vivia agora ou, simplesmente, era capaz de reconhecer a sua cunhadinha mesmo que não a visse chegando. Ruby a abraçava apertado e Blake retribuía, rindo, enquanto afagava os cabelos escuros e rebeldes.

— Blake! Eu não esperava ver você aqui, nem Yang! Mas que bom ver vocês, eu e Penny pensamos em fugir do grupo para procurar você e…! — A caçula continuaria a falar rapidamente se não fosse a chegada de Penny que, calmamente, se aproximou e sorriu para Blake em forma de cumprimento. Ruby olhou para a amiga e corou levemente. Pelo visto, as coisas entre aquelas duas ainda estavam no meio do caminho. Ruby respirou fundo e se aproximou. — Temos notícias sobre a investigação, o pai de Penny pediu para a gente contar quando visse vocês, mas com as provas e a escola, tava difícil… 

— Papai acha que tem algo grande vindo aí para nossos… Amigos em comum. Eles estão revirando o passado assim como pressionam o presente. — Penny parecia habilidosa ao dizer muito sem revelar tanto e Blake admirou isso, de imediato, nela. A assessora acenou com a cabeça, checando o em torno delas para verificar se ainda podiam ter a conversa.

Tanto o grupo como o Prof. Port pareciam interessados na guia que acabara de chegar e agora, dava uma breve introdução a respeito da fundação das Corporações Schnee e de suas áreas de interesse. Segura de que não atraíam a atenção, Blake respondeu preocupada:

— Foi algo que eu achei que estivesse acontecendo, mas é bom saber de alguém que tem contato direto com quem manda nas coisas… Pietro não estará em problemas se eu falar com Yang a respeito, não é?

— Não, Blake… Papai sabe se virar sozinho e ele tá doido para se aposentar, então, se algo acontecer, ele vai agradecer você. — Penny tinha uma expressão risonha ao responder e os olhos de Blake não acompanharam o sorriso acanhado que ela deu. Afinal, era muita ingenuidade pensar que uma aposentadoria compulsória seria o pior a acontecer caso a informação de uma investigação importante contra o Ravenscrow MC vazasse do FBI.

Aquilo poderia acontecer quando Cinder Fall não estava na cidade, mas agora…? Blake desconfiava que a promotora resolvia os seus problemas de forma mais… permanente.

A burocracia das investigações não era um dos fortes de Blake, por isso, ela sabia que precisava conversar com alguém a respeito. Diante da informação de Pietro que praticamente reforçava o que ela viveu quando pediu para o Delegado Ozpin ajudá-la com o caso de seu pai, precisava que alguém adiantasse o que poderia vir até ela… E Winter estava na cidade, felizmente. 

Blake pediu licença para as meninas e tirou o celular da bolsa. Ela enviou uma mensagem breve e direta para Winter, pedindo para que ela a encontrasse ali mesmo. Weiss com certeza ficaria feliz com a presença da irmã naquele dia tão diferente nas Corporações Schnee e…

— (...) meu pai vive dizendo que ricos não dão dinheiro, eles só enfiam onde podem cobrar depois. Certeza que esses Schnees estão doidos para cobrarem a gente. — Os olhos dourados procuraram o dono daquelas palavras tão odiosas e encontraram um adolescente grandalhão cochichando isso e outras coisas para o grupo ao redor dele, mas de uma forma que pudesse ser ouvido por todos, inclusive para a guia que, agora, gaguejava ao continuar sua explicação. — Ainda mais agora que estão na merda porque se meteram com aqueles motoqueiros de bosta que…!

— Você só fala isso porque seu pai foi demitido, Cardin… E por justa causa. — Penny, para a surpresa de Blake, foi quem rebateu ao comentário desnecessário do garoto. De imediato, ele se virou para ela e grunhiu:

— E o que você sabe, retardada? O que a sua amiguinha Schnee conta ou o que a sua namoradinha, irmã de uma corvo, fala?

— Ninguém fala nada para a Penny porque ela é esperta para deduzir tudo sozinha. Diferente de você que sempre precisa colar dela para passar de Álgebra, Winchester… — Agora sim, Blake viu Ruby dar um passo à frente, colocando o corpo como um escudo em frente a Penny e segurando a mão dela enquanto os olhos prateados fuzilavam o grandalhão que ria. 

A assessora revirou os olhos, talvez, Weiss tivesse um ponto e adolescentes realmente fossem desnecessários. O Prof. Porter se aproximou da onde estava o trio de alunos que chamavam a atenção, já que os demais tinham se afastado para observarem a cena. 

— Sabe como é, uns inteligentes em coisas que importam e outros em coisas irrelevantes, Rose. Você sabe bem disso, já que foi idiota o suficiente para se aproximar da chave de cadeia que é a sua irmã! O que os corvos fizeram com a sua mãe não foi o suficiente para você saber a merda que eles são?! — Cardin cuspiu as palavras e assim que as ouviu, Blake soube que Ruby seria incapaz de respondê-las. Os olhos prateados brilharam e se encheram de lágrimas e Cardin riu satisfeito ao ver Penny puxar Ruby para si e abraçá-la apertado.

Era a primeira vez que Blake via o ódio que Vale podia ter ao Ravenscrow MC de perto. E era assustador ver quanta raiva existia mesmo em um adolescente que não viveu metade do que os mais velhos daquela cidade viveram sob a influência violenta da lei dos motoqueiros. Isso era algo que ela deveria pensar depois porque agora, tudo que conseguia escutar eram os suspiros pesados Ruby, escondida no abraço de Penny.

O Prof. Port já estava perto de Cardin, bronqueando-o pela falta de tato. Mas aquilo não era suficiente, nada era quando as pessoas debochavam do luto daquela forma. Blake sentiu a frustração de antes se transformar em raiva e por isso, se viu marchando até o adolescente antes que pudesse evitar. O professor, conhecendo-a, sorriu por entre o bigode grisalho e começou a dizer:

— Bom dia, Srta. Belladonna. É um prazer encontrá-la aqui, eu sinto muito pelo comportamento de…!

— Cardin Winchester, não é? — Blake interrompeu o professor com uma fúria escaldante nos olhos dourados. Ela tinha plena consciência da mulher que se tornou e por isso, contemplou o corar no rosto dele com um ar de vitória. O moleque mal tinha estrutura para lidar com ela de perto. Então, o observou de perto e enxergou o broche dourado com uma bola de basquete e um “C” de capitão. Yang odiava aqueles broches porque abominava os atletas que os usavam. Blake não tinha problemas com eles até então. Blake ergueu os olhos para Cardin que, agora, engolia em seco sem saber se a olhava ou se desviava os olhos. — Se eu me recordo bem, Weiss, que estava aqui até a pouco, demitiu o seu pai por passar informações confidenciais para o Diário de Vale que tem se divertido em destruir a reputação dessa empresa e, consequentemente, causar a demissão de pessoas mais decentes do que o seu pai. Ela também faz uma doação generosa todo ano para os times da Academia Beacon por acreditar que os esportes moldam caráter… Quer dizer, eu vou dizer a ela o que aconteceu aqui e vamos ver se ela continuará pensando isso.

Um burburinho cresceu conforme ela falava e Blake percebeu que tinha ganhado a maioria. Cardin podia ser bom em ferir pessoas, mas ela sabia, melhor do que ninguém, como virar a opinião pública a seu favor. Todos ali tinham alguém que trabalhava direta ou indiretamente para os Schnees e alguns até conhecessem pessoas que foram demitidas por causa da perseguição do Diário de Vale à empresa. 

Quando se tratava de alguém mais próximo, a opinião das pessoas sempre mudava.

E citar os times da Academia Beacon foi o golpe final. Claro que muitos atletas ficariam indignados com a possibilidade de perderem o patrocínio que os permitia competir porque um dos seus foi burro o bastante ao criticar a mão que os alimentava. 

Blake deu às costas e o burburinho aumentou. Ruby tinha os olhos brilhando ao olhá-la, mas sorria pequeno enquanto Penny continuava firme ao lado dela, fuzilando Cardin com o olhar. Então, a assessora escutou um gaguejar as suas costas:

— Eu… Eu… Desculpa, senhorita. Eu só estou nervoso com a demissão do meu pai e…!

— E terá mais um motivo para ficar nervoso, Sr. Winchester. Weiss tinha concordado em não processar o seu pai pela espionagem, mas ela saberá do que aconteceu aqui. E bem… Acredito que o senhor saiba porque, algumas vezes, ela é chamada de Rainha do Gelo.

E sem olhar no rosto do adolescente, sentindo o corpo tremer de raiva da cabeça aos pés, Blake os deixou do lado de fora e entrou no prédio, marchando até os elevadores. Só acenou para Penny e Ruby ao sair e conseguiu escutar a voz eufórica da caçula mesmo além das portas de vidro:

— Aquela lá é a minha cunhada, seus perdedores!

Isso a fez sorrir… Porque ser cunhada de Ruby significava fazer parte da família dela. E se tratando de família, Blake seria capaz de cometer os piores crimes (como já cometeu alguns) para mantê-los seguros. Humilhar um adolescente babaca era só mais um dia normal na sua vida.

 

 

Aquela semana tinha tudo para ser a sua melhor. 

Nenhuma semana que começava com o seu corpo saindo do colchão, enquanto arqueava na direção do teto do quarto da forma mais deliciosa possível, tinha como ser uma semana ruim. Sua visão estava completamente turva quando caiu ofegante na cama, sentindo os lençóis grudando na sua pele suada e um riso rouco ecoando pelo quarto. 

- Com esse, foram quantos até agora? - Pyrrha lhe perguntou, ainda rindo enquanto os enormes dedos apertavam a sua coxa, puxando suas pernas para colocar sobre as suas. Weiss não tinha forças para responder, se concentrando em puxar o ar. Então, apenas levantou quatro dedos úmidos na direção da sua deliciosa namorada ruiva, que parecia cada vez mais insaciável a cada orgasmo que lhe proporcionava. - Precisamos de mais três pra bater aquele recorde. Mas, a gente pode parar por aqui se você acha que…

Weiss soltou uma risada ofegante, impedindo que Pyrrha continuasse o que ia falar, respirando fundo, fechou os olhos azuis para aproveitar o ar frio que entrava pela janela. Foi curto, mas lhe deu energia para cruzar as pernas nas costas da namorada, esticando as mãos para que ela segurasse.

Ainda de olhos fechados, Weiss deu o seu sorriso mais sacana antes de falar:

- Você subestima o quanto eu aguento, Nikos. - E abriu os olhos, sentindo-se quente ao admirar a sua ruiva. 

Pyrrha ainda não tinha tido tempo de ficar completamente nua, estava sem as calças e calcinhas, mas ainda vestia a camiseta branca que usava por baixo da camisa preta. O cabelo ruivo estava solto e descia pelo seu corpo. Weiss ainda se admirava com o quão longo ele era. A ex-militar sorriu de volta, os dedos fortes apertando suas coxas antes de soltar para pegar suas mãos, entrelaçando seus dedos e puxando-a para sentar. 

- Eu não sei, você está bem maleável. Normalmente isso é um sinal de que está cansada. - Pyrrha falava de forma debochada, seus lindos olhos verdes esmeralda estavam em um tom escuro, quase preto. Ela puxava o corpo de Weiss com facilidade, sentando-a em suas coxas, seus dedos lhe apertando sem pudor algum. - Vamos ver se você aguenta mais um. Mas, acho que não… 

A herdeira se divertia, sentindo um aperto forte entre as pernas, a excitação pela forma que a sua namorada lhe tocava. Era sem controle, quase violento, mas, ainda sim, tão carinhoso. Outra risada borbulhou dentro de si, juntamente com a vontade provar o contrário àquela mulher. 

Não era mistério para ninguém que Weiss era uma pessoa competitiva. Seu falecido e miserável pai sempre tentou fazer com que os filhos competissem entre si e, apesar de não se deixarem levar, era impossível não se sentir orgulhosa quando tirava uma nota mais alta ou conquistava algum prêmio.  

E, claro, ela era a CEO - atualmente -  de uma das maiores Corporações de Remnant. Ela ajudou a empresa a chegar onde está, se sente orgulhosa disso e, apesar do que passavam no momento, ela ainda fazia de tudo para se manter onde estava. 

Mas Weiss também era competitiva em outros pontos da sua vida. Um deles era esse. Ninguém iria lhe dizer o quanto ela aguentava na cama, ela mesma sabia o que conseguia fazer e até onde conseguia ir. 

E, claro, Pyrrha também sabia. Por isso, fazia provocações. Queria lhe atiçar mais do que já estava. 

Os lindos olhos verdes desapareceram atrás das pálpebras quando Weiss levou as mãos até os fios ruivos, enfiando os dedos, apertando os fios avermelhados sem nenhum impedimento, puxando-os para trás e escutando o gemido rouco saindo da garganta da sua namorada. 

Com um rosnado, Weiss levou os dentes até a mandíbula de Pyrrha, arrastando os dentes até o queixo, descendo até o pescoço antes de colar os lábios no ouvido dela. Sua namorada tremia sob suas pernas, apertando sua bunda com tanta força que Weiss se sentiu ficar ainda mais úmida - se é que era possível - só de imaginar a marca que aquelas mãos divinas deixariam na sua pele. 

A ideia de ainda sentir as marcas quando estivesse andando pelos corredores da Corporação era tentadora e ainda mais excitante. 

Puxando-se mais ereta, Weiss riu contra a orelha de Pyrrha, escutando o gemido rouco mais uma vez, sendo puxada com mais força e apertada contra o corpo forte. 

- Se acha que eu não vou aguentar, podemos inverter os papéis e dar um tempo para o meu corpo se recuperar. Mas eu não preciso ficar parada pra isso. - E, com um movimento até que surpreendente para alguém do tamanho dela, Weiss se jogou para trás, puxando Pyrrha para deitar sobre o seu corpo e, em outro movimento rápido, virou o corpo para o lado. 

Com esses dois movimentos, ela estava montada nos quadris divinos da mulher da sua vida. Sentindo seus olhos queimando de desejo, Weiss apoiou as mãos em cada lado da cabeça de Pyrrha, rindo ao ver o resultado do que fez: 

Pyrrha estava completamente sem reação, os olhos mais escuros que antes, a boca aberta e ainda mais ofegante. Seu coração explodia no peito com a visão que tinha da sua ruiva. Ia mostrar, com muito amor, o quanto sentiu falta da sua namorada neste mês dolorosamente longo. E, ela tinha certeza, não demoraria muito para conquistar o que queria e ela o faria entre as longas pernas da sua ex-militar favorita. 

O calor do vinho esquentava as duas, mas nada se comparava aos toques que trocavam. Com o tempo, o calor foi se tornando insuportável e, depois de um pouco mais de uma hora, Weiss decidiu que elas precisavam tomar um ar e, finalmente, conversar. 

Foram longos minutos deitadas na cama, apenas aproveitando a presença uma da outra. Weiss tinha a testa colada na mandíbula de Pyrrha, uma mão fazendo cafuné no cabelo da ex-militar e a outra entrelaçada às dela, sobre o abdome forte. Seu coração batia tão forte, mesmo tão relaxada. Ainda sentia medo de fechar os olhos e não estar mais nos braços da sua fora-da-lei favorita. 

Weiss pensava como faria para começar o assunto que precisavam conversar. Temia que Pyrrha acabasse dormindo com o carinho que fazia, mas também sabia que a sua ruiva precisava daquilo, depois de passar um mês dormindo em uma cela desconfortável. 

- Você ‘tá pensando muito alto, Weiss. - Pyrrha sorria ao falar, inclinando a cabeça contra a sua, virando o rosto para vê-la. Weiss olhou para cima e os lindos verdes encontraram os seus azuis. Tinha conflito neles. Ela travava uma batalha interna. Por um segundo, a Schnee desejou poder ler mentes, só para saber o que passava na cabeça daquela mulher tão fascinante. - Eu sei o que você quer falar. Pode começar, está tudo bem. 

- Não é a melhor conversa para ter depois de seis orgasmos. - Weiss brincou e Pyrrha riu baixinho, quebrando a troca de olhares para fixar o olhar no teto. 

Com a ponta do dedo, tocou a ponte do nariz da ruiva, arrastando delicadamente até a ponta do nariz dela. Sabia que os olhos verdes acompanhavam seu dedo. Achando a ideia engraçada, Weiss se apoiou no cotovelo para ver os olhos cruzados da namorada, sorrindo e beijando-a na bochecha antes de morder a ponta do nariz dela. 

As duas riram juntas, Pyrrha tocou seu quadril e, em um rápido movimento, Weiss estava deitada sobre o corpo forte, apoiada no colchão para que não quebrassem os olhares. 

- Eu estou bem. - Pyrrha garantiu e Weiss não acreditou nela. Pelo seu olhar, a sua namorada sabia disso. Então, com um suspiro pesado, a ex-militar quebrou o olhar por um tempo, perdida em pensamentos antes de voltá-los até os seus. - Tive muito tempo pra pensar quando estava lá. A gente já conversou bastante também, sei que não me culpa de verdade pelo que aconteceu. Já até estou entrando de acordo com esse pensamento. Vem até ficando mais fácil. Realmente estou bem. De verdade! É só que… eu não esperava que uma costura no colete fosse pesar tanto… e nem é ele o problema, e sim… tudo isso. 

Ela parecia frustrada ao tentar explicar, mas Weiss não queria que ela o fizesse, a entendia muito bem. 

- Não querendo levar esse assunto para outro ponto delicado, mas eu lembro bem quando a Yang ganhou esse pedaço de costura. - Desviou o olhar para isso, mas escutou uma leve risada da namorada. Pyrrha não sentia um pingo de ciúmes do seu relacionamento com Yang, e isso era algo que admirava nela. Já que, por muito tempo, assistiu esse relacionamento acontecer na sua frente. - Nós duas sabemos como Yang é. Ela não ficou nada bem. Acho que foram umas três semanas acordando no meio da noite e vendo a luz da sala acesa. Foi bem… intenso. É difícil consolar alguém que não externaliza o que sente. Mas com você é diferente, eu te sinto bem mais leve. Só me questiono se isso é por causa do que aconteceu e das nossas conversas ou se você está escondendo esse conflito todo de mim. 

Isso fez sua namorada rir de novo e Weiss sentiu ela depositar um beijo nos seus lábios antes de arrumá-la em cima de si. A herdeira voltou os olhos para os dela, vendo a leveza atrás dele, os conflitos diminuindo aos poucos. Pyrrha sempre foi assim, leve, tranquila, e bastante comunicativa quando estavam a sós. 

- Ter ajudado a Yang naquela época foi importante para lidar com isso agora. Eu não me sinto mal por ter conseguido um patch que é… requisitado entre os membros do MC. O problema não é ter ganhado isso, e nem a forma como consegui. Claro que isso pesa, mas não é o que está me incomodando no momento. - Pyrrha respirou fundo, puxando o ar e desviando o olhar dos azuis. Respirando fundo o cheiro amadeirado, suor e sexo, Weiss desviou os seus para seus próprios dedos, levando-os até o rosto pálido da namorada, acariciando as bochechas acentuadas, sentindo um aperto ao perceber o quanto ela emagreceu nesse mês. - Meu problema mesmo é Cinder Fall. 

Weiss grunhiu irritada, deitando a testa no ombro da namorada. Se tinha algo que ela ainda não tinha digerido era a tal da Promotora Fall. 

- Eu sonho com o soco que vou dar na cara dessa mulher. Me incomoda que ela foi até você para conseguir essas informações. Ela se aproveitou de todas as suas vulnerabilidades só pra ver se conseguia mais… 

- Mas é exatamente isso, Weiss. - Pyrrha se moveu na cama e Weiss entendeu. Se afastou e ambas sentaram na cama, ficando frente a frente. A herdeira estava infeliz por ter saído dos braços da namorada, mas não tirou as mãos das dela. - Eu sou uma ex-militar, sou o alvo perfeito pra ela. 

- Mas ainda sim, isso não dava a ela o direito de… 

- Esse é o problema, ela não se importa com essas coisas. - Pyrrha olhava nos olhos de Weiss, os lindos olhos verdes tinham uma agonia guardada. O assunto era sério, mas Weiss não podia deixar de admirar a beleza da mulher na sua frente. Completamente nua, sentada em meio aos lençóis, o cabelo ruivo caindo pelo corpo, todo desgrenhado. Se Weiss não tivesse certeza de que já era apaixonada por Pyrrha, ela teria agora. - Ela vai atrás do MC, não importa se não conseguir isso comigo. O meu problema é que… Nora disse algo nas vezes que foi me ver lá… Cinder tentou isso comigo e me deixou dessa forma, mas ela não vai tentar só comigo. 

Ah, sim! Claro, o assunto ainda estava sério. 

- E você é a pessoa mais leal que eu conheço, se está assim, quer dizer… - Weiss engoliu em seco. - Outras pessoas não precisariam de muito convencimento. 

Pyrrha assentiu, a expressão séria deixando ela ainda mais atraente, mas Weiss não podia pensar nisso. Desviou o olhar, passando as mãos pelo lençol branco, sentindo o algodão e tentando não ficar ansiosa com o que acabou de perceber. 

- Ela vai tentar atacar o MC de todas as formas possíveis. - Pyrrha sussurrou e Weiss fechou os olhos. Alguém do MC entregando o próprio clube, deixaria os Schnees sob um enorme holofote. Holofote esse que brilharia sob todas as sujeiras que a Corporação acobertou para eles. Sentiu uma mão cobrir a sua e soltou o ar que nem sabia que estava prendendo. - Se tem algo que eu sei que vou fazer, é não deixar que isso aconteça. 

- Você não tem como saber quem ela vai atacar, além de que, tem a condicional que a Ilia disse…

Pyrrha a cortou com um beijo nos lábios, algo suave, macio e que fez Weiss derreter. Mãos fortes seguraram seu rosto e a herdeira sentiu que era exatamente o que ela precisava naquele momento. 

- Não precisa pensar demais, meu amor. Vamos em um passo de cada vez, se apressar só vai nos levar para o problema. - A voz de Pyrrha era grave, baixa, e Weiss abriu os olhos lentamente, piscando antes de focar nos olhos verdes e suspirar, feliz. 

Precisava de tão pouco para Pyrrha cuidar dela. Palavras certas, toques firmes, beijos perfeitos, cinco orgasmos e contando… 

Ela era a mulher mais feliz do mundo nos braços fortes de Pyrrha Nikos. 

- Argh, eu tô parecendo a Blake. - Grunhiu quando avaliou toda a conversa que aconteceu até aquele momento. Isso tirou o peso de toda a conversa, juntamente com a risada de Pyrrha. - E eu achando que a quantidade de sexo e terapia estavam me fazendo ser uma pessoa melhor, mas não, a convivência com ela está me levando para esse caminho. 

Pyrrha ainda ria enquanto a puxava para deitarem. Novamente, voltaram para a posição que estavam antes do assunto ficar muito sério. Dessa vez, se sentia mais leve, assim como a mulher que, agora, acariciava o seu cabelo como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Weiss fechou os olhos, enfiando o nariz embaixo da mandíbula da sua namorada, sentindo aquele cheiro amadeirado que era só dela. 

- Eu sempre quis te perguntar algo, mas sinto que isso pode levar para dois tipos diferentes de conversa. - Pyrrha sussurrou, não querendo interromper a calma que tinha se instalado entre elas. Weiss franziu o rosto em confusão, mas permaneceu de olhos fechados quando emitiu um ‘hmm?’ para que sua namorada continuasse falando. - É verdade que a Blake ainda sente ciúmes pelo que você e Yang tiveram?

A risada alta que saiu de Weiss foi difícil de segurar, e quando percebeu que o fazia, soltou mesmo assim. Seu corpo inteiro tremia com o riso de incredulidade e diversão. Se tinha algo que lhe divertia de forma genuína, era o ciúme irracional de Blake Belladonna. 

- Se é verdade…? Pyrrha, aquela mulher é tão possessiva que me surpreende ela não andar segurando a coleira da Yang. Bom, pensando bem, ela já anda com a Yang em uma coleira, só não é tão literal quanto ela faz parecer ser. - Foi a vez de Weiss de se sentar, mas não deixando Pyrrha o fazer, subindo na cintura dela e sentando com uma perna de cada lado. Sua namorada pareceu satisfeita com o que fez, colocando as mãos nas suas coxas nuas, lhe sentindo. Weiss sorriu para a sua mulher: - Era esse tipo de conversa que você esperava?

Pyrrha riu mais uma vez, apertando suas coxas. Weiss se inclinou para beijá-la, mas se parou no último segundo, apoiando as mãos na cama e ficando totalmente sobre ela. 

- Admito que eu sempre achei que teria ciúmes de vocês também, mas é muito diferente do que eu sentia. - A ruiva comentou e Weiss ergueu as sobrancelhas. Devia ser a primeira vez que conversavam sobre o relacionamento de Weiss e Yang para Pyrrha. Sua namorada não era uma mulher ciumenta, mas também não queria ficar falando sobre sua ex-namorada. - Eu sentia inveja, mas não como esperava sentir quando visse você com outra pessoa. Eu tinha… aceitado? Não acho que essa seja a melhor palavra, mas é o que consigo pensar agora. 

E apertou suas coxas, puxando-a um pouco para cima. Weiss tremeu, sentindo o abdômen forte entre suas coxas. Um aperto no ventre implorou para ela parar de falar e começar os trabalhos mais… urgentes. 

- Blake vai superar esse ciume em algum momento… ou vai viver com ele para sempre, eu só sinto pena da Yang nesse caso. Na verdade… - Weiss sorriu de forma sacana, beijando os lábios de Pyrrha lentamente antes de se afastar, rindo ao ver sua namorada tentando lhe trazer de volta, mas ela tinha algo pra falar. - Confesso que invejo a Yang. Sexo ciumento com a Blake deve ser… interessante, para dizer no mínimo. Violento, excitante…

- Ah, então agora você está interessante em ter sexo violento com a Blake? 

Não tinha um pingo de ciúmes na voz de Pyrrha, ela se divertia com o assunto, e Weiss continuou dando corda. 

- Difícil não pensar, sabe? Eu já vi a forma como a Yang fica depois de um momento com a Blake. É como estar com uma gata… Aqueles olhos dourados, o cabelo longo, selvagem… - Ironicamente, ela não estava mais brincando ao falar isso, e Pyrrha percebeu. Estava claro que o pensamento lhe afetava pela forma que seu quadril começou a mexer acima da sua namorada. Balançando a cabeça, Weiss tentou deletar essa visão da sua mente. - Não é como se ela fosse aceitar um sexo a quatro, então… 

- Quatro? Olha só, parece que a minha competição é maior do que eu esperava! - E Pyrrha sentou subitamente, apanhando Weiss pelas coxas e virando na cama, deitando o corpo sobre o seu, apertando os dedos na sua pele e rindo contra o seu pescoço. Weiss gemeu ofegante, sentindo-se mole com as ideias insistindo na sua mente. Se sentia quente, pegando fogo. Apertou as pernas em volta do quadril da mulher forte, e as cruzou, segurando-a contra si. - Como vai ser, Weiss? Como que eu, Blake e Yang vamos cuidar de você? 

Nenhuma semana que começava assim poderia ser ruim. 

Mas a sua vida conseguiu surpreender. 

 

- Diga para a sua namorada que ela deveria ter me preparado para isso. - Weiss resmungava ao deixar a porta aberta, mas não olhando para trás enquanto marchava na direção da sua cadeira. - Se eu tiver que lidar com crianças mais uma vez, vou acabar cometendo algum crime e isso não é bom para a minha imagem. 

- Primeiro, de acordo com o que Blake me disse, já era pra você e para a sua assistente estarem sabendo disso. Segundo, eu tenho certeza de que eram adolescentes, não crianças. - Yang fechou a porta atrás de si, e tudo na sua voz mostrava o quanto ela estava se divertindo com tudo. Weiss só grunhiu, sem olhar para ela antes de ir até as janelas atrás da sua mesa, fechando as cortinas com violência. - E terceiro, eu achei que você gostava de crianças? 

Weiss virou para ela com o rosto franzido. Yang tinha parado de andar no meio da sala, o cabelo preso em um rabo de cavalo alto, calça jeans, camisa de botão de manga curta marrom acima de uma camiseta branca. Os braços cruzados acentuam os músculos definidos daquela mulher que ela conhecia muito bem. Mas ela só queria socar aquele sorriso irônico da cara dela. 

- Eu tenho um limite para crianças. Mais de vinte é… excessivo. Se é que posso chamar assim. Eu quero ter um par de crianças, Yang, não um time de futebol! - E puxou a cadeira para trás, sentando-se e virando de frente para a mesa. Com os olhos, procurou a sua caneca térmica, mas só se frustrou mais ao ver que não estavam em lugar algum. - Preciso de café. Porque você veio mesmo?

Yang andava até a mesa, sentando-se na poltrona e cruzando uma perna sobre a outra, ficando confortável naquele lugar, como se fosse dela em primeiro lugar. Era muito semelhante à forma que Pyrrha o fazia, mas sua namorada era mais delicada nisso. Yang era mais violenta, mais autoritária no ambiente. Era sexy, Weiss tinha que admitir, mas sua paciência estava curta para pensar nisso. 

- Eu vim falar algo sério, mas se você não tiver tempo para…

- Chega de tentar me preparar, Yang. Só fala logo que tem algum problema que eu tenho que resolver. - Weiss bufou, recostando na cadeira. Os olhos azuis fixos nos lilases, que sorriam para ela. Yang estava feliz demais, era irritante. Mas revigorante, de certa forma. Weiss queria socá-la e abraçá-la. 

- Bom, primeiro… nós vamos lidar, juntas. - Yang começou e Weiss revirou os olhos, como se o que ela disse não tivesse tirado o peso que tinha em seus ombros. Yang tinha essa mania de tentar, e conseguir, aliviar esses pesos. A VP se inclinou para frente, descruzando as pernas e apoiando os cotovelos nos joelhos, olhando firme nos olhos de Weiss. - Lembra que eu te perguntei sobre a Salem antes de toda aquela merda acontecer no dia da eleição? Então, queria ouvir sua resposta antes de continuar a falar. 

Weiss franziu o rosto, cruzando as mãos sobre o colo e observando a postura de Yang. Sua amiga estava tensa, tentava não demonstrar isso, porém, conhecia ela bem demais. A perna da herdeira já balançava embaixo da mesa e seus dedos se apertavam, a ansiedade rastejava para dentro de si, como sempre o fazia. Se Yang estava ali, tensa e preocupada, Weiss sabia que tinha muito motivo para se sentir da mesma forma. 

- Não, eu não sei quem é Salem. O nome não me é estranho, mas não sei de onde que conheço. - Weiss deu de ombros, sentia o próprio corpo travando com tensão. - Yang, se isso é mais algum problema para a minha família… 

- E é. - Yang lhe calou e Weiss engoliu em seco, sua respiração falhou e ela arregalou os olhos. - Eu vou começar a falar, então… 

Ela começou, começou e não parou. Tudo que Yang sabia sobre Salem, ela colocou na mesa de Weiss com palavras. Detalhou todo o seu conhecimento sobre essa mulher que tinha um controle sobre tudo, literalmente tudo. 

Salem era exatamente o tipo de pessoa que teria o poder de fazer tudo que a Corporação Schnee estava passando no momento. As demissões, as notícias falsas, os decretos desnecessários, a perda nas ações… tudo estava acontecendo porque existe essa mulher. Se Salem tinha esse poder sobre a Corporação, e claramente ela tinha, só podia significar uma coisa. 

Quando Yang terminou de falar, Weiss piscou, forçando a saliva para baixo, juntamente com a vontade de vomitar. 

- Eu preciso falar com a minha mãe. - Sussurrou, engolindo novamente, e Yang se levantou da cadeira, rodeando a mesa e ficando de joelhos na frente de Weiss. 

Se fosse qualquer outro momento, Weiss faria uma piada, mas agora ela só aceitou o abraço da mulher forte. O cheiro cítrico imediatamente lhe trazendo segurança, mas não o suficiente para acalmar os espinhos que apertavam o seu coração. 

Se sentia dormente. Sem ar e com vontade de chorar. Sua mãe escondia algo deles, e ela precisava saber o que era. Depois de tudo que eles passaram… o universo ainda não terminou. 

Com um suspiro trêmulo, se enterrou nos braços de Yang, enfiando o rosto nos enormes seios da sua ex-namorada. O primeiro soluço fez os braços fortes se apertarem em volta dela.

O que Weiss poderia ter feito nas outras vidas para pagar tanto nessa? 

 

 

Blake trabalhava quando Winter Schnee, felizmente, bateu em sua porta. Não era uma surpresa a outra mulher estar ali, já que elas tinham combinado uma conversa em qualquer momento da tarde, porém, a assessora ainda se surpreendeu com o imediatismo da Schnee mais velha e com a forma que ela se apresentou nas Corporações Schnee.

Aquela camisa xadrez preta e verde musgo não podia ser de Winter, Blake era perceptiva o suficiente para saber da preferência dela por camisas sociais de algodão e tecidos mais refinados. Isso sem contar os cabelos, os fios brancos estavam presos como sempre, mas estavam úmidos. 

Porém, tirando esses dois fatos superficiais, Winter parecia a mesma de sempre. Mesmo sem o distintivo do FBI, ela ainda tinha a aura de comprometimento e de autoritarismo que funcionou o suficiente e por muito tempo para manter o Ravenscrow MC longe dos problemas com a lei.

Era frustrante e providencial que Winter não estivesse mais no FBI e se Blake soubesse ainda menos do que sabia agora, ela ainda assim desconfiaria. 

— Boa tarde, Blake… Eu vim assim que pude, estava… Resolvendo algumas coisas. — Winter cumprimentou de forma vaga ao passar por ela e entrar na sala. A assessora riu baixinho porque sabia quais coisas ela estava resolvendo, provavelmente, envolviam o outro MC da cidade. Na realidade, a presidente do Huntresses MC. Blake pigarreou para esconder a risada e respondeu:

— Sem problemas. O dia está lento por causa da visita da Academia Beacon. Então, eu tenho tempo e espero não atrapalhar o seu dia. 

Winter acenou com a cabeça e sorriu brevemente, o que ainda era surpreendente para alguém tão sisudo como ela. Então, as duas caminharam até a mesa e Blake contornou o móvel para se sentar em sua cadeira de couro preto. Ao se sentar, procurou se aconchegar no estofado porque a conversa não seria agradável.

Blake sabia quão desconfortável era retomar o passado apenas para tentar salvar o presente e era exatamente isso que precisava de Winter naquele dia. Era um alívio que as duas, de certa forma, tivessem experiências parecidas porque assim podiam se entender. Porém, não seria uma conversa fácil…

Nunca foi quando se tratava da sobrevivência do Ravenscrow MC.

A antiga herdeira do Império Schnee estava relaxada, apesar dos olhos azuis observarem a sala, provavelmente notando o que mudou desde que aquele lugar deixou de ser a sala de Weiss e passou a ser a de Blake. Com a vitória de Willow, a caçula assumiu a sala da presidência e praticamente ignorou o vice em exercício, um dos investidores com grande parte das ações da empresa, para acomodar a melhor amiga em sua antiga sala. Assim, as duas estavam sempre próximas uma à outra e por mais que Blake fingisse se irritar com isso, era reconfortante saber que estaria ali para tudo que pudesse perturbar Weiss. 

— Como estão as coisas na empresa? — A pergunta direta cortou o silêncio como uma avalanche e Blake suspirou. Claro que Winter perguntaria a verdade para ela enquanto desse suporte para Weiss. Era o que faria se estivesse no lugar dela. Por isso, cheia de empatia, respondeu:

— Não vou mentir para você. Tivemos uma melhora no mês passado, mas as reportagens sobre as demissões, além das declarações de alguns ex-funcionários insatisfeitos para o Diário de Vale têm danificado a imagem da empresa. Eu tento o máximo, colocando Weiss em evidência através da filantropia e dos acordos que fazemos, mas… A cada passo para frente que damos, são dois para trás e eu temo pelo dia em que não tivermos para onde caminhar. 

O silêncio voltou a se instalar entre elas porque ambas lidavam bem com isso. Os olhos dourados perceberam quando Winter se mexeu incomodada, passando a mão pelo rosto e respirando fundo. Depois, ela se ajeitou, com a postura ereta e os olhos azuis gélidos na vista panorâmica da sala, em seguida, pigarreou e perguntou:

— E quanto aos MCs? Eles estão seguros? Minha mãe não vai conseguir lidar com uma guerra no primeiro ano dela como prefeita. 

— Sobre isso… Pyrrha foi pressionada na prisão, como você sabe. E Pietro Polendina pediu para avisar que estão revisando todos os casos em que o Ravenscrow MC esteve envolvido nos últimos anos. — Blake não podia esconder muita coisa de alguém tão analítico como Winter, por isso, não tirou os olhos dela enquanto falava. Weiss era a figura pública naquele ajuste com os MCs, Yang e Pyrrha ficavam próximas demais da violência e sobravam ela e Winter para trabalharem nas sombras, entre a luz e a escuridão. A mais velha das Schnee ficava cada vez mais pálida conforme a escutava. — E o Delegado Ozpin também me confirmou isso. Inclusive, eu acho que ele até tem medo de perder o departamento dele para a Promotoria.

Pronto, Blake introduziu o assunto. Cinder Fall pairava entre elas, como uma fumaça densa demais para ser dissipada. Tanto que, ao escutar a menção ao alto escalão da justiça em Vale, Winter olhou diretamente para Blake e dentro dos olhos azuis só existia gelo, do tipo que queimava de tão intenso que era. A assessora engoliu em seco e esperou. 

Weiss contou tudo que podia a respeito do passado de Winter com Cinder e era impossível não sentir certa empatia pela Schnee mais velha. Afinal, Blake também teve o passado em seus calcanhares depois de abandoná-lo numa tentativa de continuar sobrevivendo. Cinder e Adam não eram iguais, mas isso não os impediu de fazerem a mesma coisa, de tentar possuir aquilo que quebraram. 

Era uma sensação amarga presenciar aquilo de novo. Blake estava bem, mas sempre existiria uma parte dela que não se recuperaria do que passou com Adam, ainda mais diante do fim que ele teve. E sentia que, se tratando de Winter e Cinder, a situação era diferente nesse aspecto. Blake sentia medo, algo patético enquanto, diante de si, via o ódio de Winter fluir gélido através do olhar determinado.

Elas eram diferentes nesse aspecto, mas vítimas da mesma forma.

— Isso não me surpreende, Fall sabe o que faz. Aliás, ela é famosa por isso. Cretina. — Winter praticamente rosnou as palavras e se levantou abruptamente, esse movimento brusco perturbando a elegância que Blake sempre enxergou nos movimentos dela. A ex-agente do FBI andou a esmo pela sala, respirando ruidosa, como se precisasse do ar para não enlouquecer. A culpa fez os olhos dourados se desviarem e Blake dizer envergonhada:

— Eu sinto muito… Eu não tocaria nesse assunto com você se não fosse necessário, eu imagino como deve ser insuportável lidar com isso de novo. 

— Insuportável não, Blake… É desconfortável, mas uma hora isso ia acontecer. Eu sabia o que estava atraindo quando aceitei proteger a minha família e o MC. Cinder estaria no meu encalço, ela não perderia a oportunidade de me cobrar pelo que tivemos enquanto ganha fama com isso. — Winter grunhiu as palavras e assim que ela falou da família, a postura voltou a mudar. Os ombros caíram e ela respirou fundo, passando a mão sobre os olhos e finalmente, olhando para Blake. A assessora enxergou a dor e a vergonha nos olhos azuis e isso a fez se levantar. 

Winter não precisava sentir que aquilo era culpa exclusiva dela. Ainda tinham Salem na jogada e, com certeza, era a empresária quem dava as cartas. Cinder era uma mera peça no tabuleiro de xadrez enquanto Salem era a rainha. Sem jeito, Blake se aproximou e tocou a mão de Winter, sentindo a pele dela gelada. Aquela era, de fato, a Rainha de Gelo entre os Schnees. Weiss tinha um calor que não conseguia esconder sempre, mas Winter… Ela permitia que o gelo a machucasse, desde que servisse para proteger a sua família.

— Você sabe o que acontece com quem se mete nos negócios do MC… Especialmente aqueles que tem um histórico com alguém importante para os corvos. — Talvez, aquelas não fossem as palavras certas. Winter fazia o que deveria ser feito somente para proteger os Schnees e raramente concordou com o Ravenscrow MC, mas ela era importante ao clube. Se não fosse para eles, seria para Yang, Pyrrha e a própria Blake. Ela precisava entender que não estava sozinha, Blake sabia o que essa sensação provocava. Winter não precisava se isolar. Winter pensou o mesmo que ela, porque estalou os lábios e a assessora apertou a mão dela, mantendo-a no lugar. — E não diga que você não é importante para, pelo menos, alguns corvos. Duas que, literalmente, matariam para proteger você, sua irmã e sua família. E se isso não for o suficiente… Eu tenho certeza que uma caçadora iria até o fim do mundo para arrancar o couro daquela promotora. 

Uma linha foi ultrapassada ali e Blake esperou que fosse rechaçada por isso, mas deveria saber que as mulheres da Família Schnee sempre a surpreenderiam. Porque, atrás de todo aquele gelo e aquela tempestade, um resquício de calor se fez presente nas bochechas de Winter. E, mesmo tímida, a mais velha sorriu e apertou a mão dela de volta. 

E agora, o frio dentro dos olhos azuis se acalmou, permitindo que os dourados entrassem ali. Blake sorriu com uma sensação morna no peito, sentindo-se vitoriosa por ter conseguido impedir que Winter entrasse em pensamentos que só a machucariam. A outra mulher voltou a se sentar, a elegância retornando aos seus movimentos e então, ela esperou que Blake fizesse o mesmo antes de perguntar:

— Você me chamou aqui e me disse tudo isso… O que eu posso fazer para ajudar?

— Eu aceitei que teremos que lutar contra Cinder e com o que vem com ela. E no meu lado, eu preciso saber o que esperar para poder me planejar… Você é a pessoa que lidava com a lei do Ravenscrow MC. — Blake sentia que o seu cérebro colocava as coisas no lugar enquanto as palavras expressavam, em voz alta, o que ela pensava. Winter se recostou na cadeira e levou a mão ao queixo, pensativa. — A Promotoria pressionou Pyrrha, impediu que os MCs sejam identificáveis na cidade e, principalmente, está revendo casos antigos… O que isso pode significar?

— Sendo otimista, ela provavelmente não tem nada material contra os MCs. Digo, os atos criminosos são, tecnicamente, individuais aos olhos da justiça e ela não pode usá-los contra o Ravenscrow, nem contra o Huntresses. — As palavras de Winter eram analíticas e, diante da situação silenciosamente caótica em que se encontrava, Blake as recebeu de bom grado. Porém, ela sabia que estavam falando de otimismo. Por isso, esperou. Winter levou a mão à testa e a massageou. — Mas eu, infelizmente, conheço Cinder. E a única justificativa para ela ter tanta paciência é porque ela não pode errar no que planeja fazer. 

Aí estava a informação crucial e temerária que Blake esperou receber desde o começo daquela conversa. Então, não estava errada ao desconfiar que as ações desconexas de Cinder estavam diretamente ligadas com a pressão sobre as Corporações Schnees. O jogo só estava no começo.

Depois do que escutou, o silêncio era uma recompensa para Blake. Ela precisava continuar a fortalecer a imagem das Corporações Schnees e precisava que Yang reforçasse, na mesa de decisões do Ravenscrow MC, que a cautela era necessária. Duvidava que Cinder fosse esquecer o que estava fazendo ou que Salem perdesse o interesse em Vale, mas o tempo talvez fosse a melhor arma que eles tivessem no momento…

E quando pensava nos próximos passos, pelo canto do olhar dourado, Blake viu Winter levantar abruptamente. O corpo da ex-agente do FBI tremia, ela tinha os punhos fechados ao lado do corpo e voltava a caminhar a esmo pela sala. Confusa, a assessora perguntou:

— Winter…? O que aconteceu?

— Eu não sei como não percebi os sinais, eu…! — A outra se calou abruptamente e ergueu os olhos marejados, não existia gelo neles e sim, o fracasso. Winter agitou a cabeça e mordeu o lábio, sufocando um choro que Blake esperou que ela soltasse, porque ali ela não precisava se manter tão intocável. Mas a Schnee mais velha não chorou e sim, socou o tampo da mesa com fúria. Blake a observava assustada, sem saber o que deveria fazer para alcançá-la. — Cinder provavelmente quer usar o RICO. E se ela usar, isso vai desmontar qualquer coisa que a gente lutou para manter em Vale… Não serão somente os MCs que cairão e também… Também…

Winter não terminou a frase e a Blake a alcançou quando isso aconteceu. Sem saber como, ofereceu contorno ao passar o braço pelos ombros magros, a ancorando até que ela se sentasse novamente. Winter levou a mão ao rosto e o corpo tremia enquanto Blake massageava as costas tensas em movimentos circulares, olhando para a porta com medo de que Weiss entrasse ali sem bater. 

Mas nada aconteceu, apenas o silêncio e os tremores do corpo de Winter na palma da mão de Blake. Ela queria saber o que era aquele RICO, ainda mais porque, aparentemente, sabia o que poderia acontecer. 

Cinder Fall (e Salem) destruiriam Vale e a construiriam do zero, um novo mundo onde elas reinariam.

Winter demorou a se acalmar ou, talvez, o tempo passasse lentamente enquanto Blake observava uma pessoa tão resistente ser reduzida àquilo por medo. Os dedos longos limparam, agressivos, os olhos azuis inchados. As duas não se olharam e a voz da ex-agente estava rouca ao dizer:

— RICO é um instrumento jurídico que Cinder pode usar para bloquear tudo que envolve os MCs, não existiria dinheiro, nem saída se isso for acionado. E se isso acontecer… Minha família vai perder tudo, Weiss verá Pyrrha ser presa e também pode acabar da mesma forma por lavar o dinheiro do MC. Todos nós estaríamos no mesmo barco. Não existiria segunda chance… 

— Se isso é tão poderoso, o que a impede de acioná-lo agora…? Todo mundo sabe o que os MCs fazem na cidade. — Blake conseguiu ofegar uma pergunta antes de sua garganta se fechar e ela precisar se sentar, sem saber como reagir. Se Cinder acionasse aquilo, Yang… Elas não recuperariam o tempo perdido. Porque uma membro de uma organização criminosa em queda na cadeia era um chamariz para que outros tirassem proveito ou se vingassem. Winter bufou, as mãos apertavam o tecido da calça enquanto ela grunhia:

— Ela precisa de provas, de conexões… Se os MCs saírem da linha e forem pegos ou se alguém resolver traí-los agora… Pode ser o fim de tudo. 

E dessa vez, a ausência de sons entre elas era desconfortável. Porque esse silêncio podia ser um prelúdio do que aconteceria com o MC se Cinder Fall, protegida por Salem, conseguisse o que precisava para derrubar tudo. Os corvos deixariam de existir, assim como os caçadores… Vale deixaria de existir da forma como conheciam. 

Summer Rose seria mais um nome em uma história que logo seria apagada pela lei, assim como Ghira Belladonna e todos os outros que tiveram conexões com a violência com aquela vida que levavam… Uma que era violenta, mas que continha certa liberdade, certa adrenalina que Blake não teve em Mistral. O que conheciam como lar, por mais distorcido que fosse, acabaria. 

Blake sentiu os olhos arderem e por instinto, procurou algo em que se ancorar. E Winter estava ali, segurando a sua mão enquanto as duas contemplavam o que se revelava para elas. 

O fim estava próximo… Restava saber qual era. 

 

— Você está ok para ir? — Blake perguntou preocupada quando ela e Winter esgotaram tudo que podiam ter dito para se consolarem ou para entenderem o que foi revelado a elas. A outra Schnee estava exausta, o que não era surpreendente diante da longa conversa que tiveram. Ainda assim, a teimosia nos olhos azuis a fez acenar a cabeça e dizer:

— Eu acho que preciso ir, Blake… E a culpa não é sua.

— Tudo bem, eu entendo. Mas se precisar conversar e não quiser alarmar ninguém, minha porta está aberta para você. — Era ironia que dissesse aquilo a Winter quando teve o imprevisto envolvendo a falta de tato de Weiss em entrar sem bater. Blake sorriu pequeno e acompanhou a outra até a porta. 

Quando estava próxima o bastante, escutou vozes, mas não prestou atenção. Sentia que Winter precisava ir embora e não a seguraria ali, então, abriu a porta e deu de cara com Yang saindo do escritório de Weiss mais a frente no corredor. Imediatamente, o seu aperto na maçaneta se tornou intenso contra a sua vontade. Não precisava sentir ciúmes, não quando Weiss parecia tão exausta quanto Winter.

— Winter, o que você está fazendo aqui? O que Blake fez para ter o direito de conversar contigo e eu, a sua irmã, não ter o mesmo? — A CEO das Corporações Schnee, mesmo com os olhos azuis brilhantes e inchados, foi a primeira a exigir respostas. Winter deu um sorrisinho amargo e revirou os olhos antes de responder estóica:

— Estávamos em reunião. Blake me atualizou das coisas por aqui e pediu minha opinião para outras. Ela com certeza vai falar contigo depois sobre isso.

Aqui, Blake foi lembrada porque tinha as suas questões com as Schnees. Winter estava deixando a parte mais complicada, contar a Weiss, para ela. A assessora não resistiu e deu um empurrão de leve na mais velha que soltou uma exclamação surpresa. A caçula olhava para as duas com uma expressão desconfiada e comentou maliciosa:

— Ah, então é esse o nome que dão para esse tipo de coisa agora?

— Não fale assim da sua irmã com a Blake, princesa. — Yang comentou com uma risada rouca que pretendia aliviar o ambiente. Porém, Blake a conhecia o suficiente e, por isso, não se surpreendeu com os olhos lilases fixos em seu rosto, procurando alguma explicação. A sua corvo parecia tão exausta quanto ela e por isso, ela resolveu poupá-la da conversa que teriam. Então, deu um sorrisinho e arqueou a sobrancelha, cruzando os braços. 

E Yang pareceu quebrar, no meio do corredor, enquanto caminhava até ela. Weiss, quando viu que não era mais acompanhada, revirou os olhos e voltou para puxá-la por um dos braços definidos. Yang chegou pigarreando até elas e Weiss comentou indignada:

— Sério, Xiao Long? Um olhar e um sorrisinho e você já esquece como pensar? Parabéns, Belladonna… A coleira está firme e forte no pescoço dela.    

Para a surpresa do trio, Winter foi quem riu primeiro. Então, diante da expressão chocada de Weiss, ela puxou a irmã caçula para um abraço que, provavelmente, era reflexo do que conversou anteriormente. Blake as observou com o coração apertado, mas sentiu o perfume cítrico ocupar o seu olfato e um braço quente rodear a sua cintura. Então, fechou os olhos e desfrutou do beijo em seus cabelos antes de sentir a respiração quente em seu ouvido sussurrar:

— Tá tudo bem, Bella?

— Agora sim… — Foi tudo que conseguiu responder porque sim, enquanto tivesse Yang junto dela, tudo ficaria bem. A VP a fez acreditar em finais felizes de novo e mesmo agora, com tudo parecendo levá-las para o pior, não perderia as esperanças. Tinha pelo que ficar e principalmente, pelo que lutar. 

E ela não entregaria o seu amor sem sangrar por ele.

— Seja lá o que você fez com a minha irmã, Belladonna… Obrigada por lembrá-la que ela tem família e precisa dar oi para a gente quando volta para a cidade. — Weiss não conseguia esconder o ar mimado enquanto resmungava ainda abraçada a Winter que a apertou dolorosamente entre os braços magros, fazendo-a grunhir antes de dizer aos risos:

— Eu passei para dizer oi, mas só encontrei mamãe e Whitley. Você estava ocupada falando, ou melhor, gemendo o nome de Nikos bem alto na mansão.

— Assim como você passou esses últimos dias fazendo o mesmo com a caçadora, não é? — Weiss respondeu com aquele ar irritante e malicioso que, normalmente, tiraria Blake do sério. Mas como ela não era a vítima ali, apenas riu e se aconchegou à frente do corpo de Yang às suas costas, sentindo os braços em sua cintura se apertarem.

Será que Weiss interpretaria mal se escapasse dali mais cedo na garupa da Harley Davidson de Yang?       

— Winter?! — A voz aguda e animada que Blake reconheceu ser de Penny as interrompeu. As quatro se viraram e observaram, chocadas, quando a ruiva saiu do elevador privativo da diretoria com Ruby Rose em seu encalço. Winter olhou de lado para Weiss e perguntou preocupada:

— O seu elevador não deveria ter um código de segurança?

— E tem, mas… — Weiss se calou no meio da resposta quando Winter passou por ela e abraçou Penny com mais delicadeza do que antes. Blake procurou os olhos da amiga, tentando enxergar o que ela sentia diante daquela interação e se surpreendeu, pois a CEO sorria pequeno e acenou para Penny que, sem avisar, também a abraçou. 

O calor em suas costas desapareceu e, à procura, Blake encontrou Yang abraçando Ruby apertando e até erguendo-a. A caçula Rose batia nos ombros largos da irmã até ser colocada novamente no chão. Então, brevemente, os olhos prateados olharam para Weiss e Ruby… Corou? Blake não pode pensar muito sobre aquilo porque Yang perguntou séria:

— O que vocês estão fazendo aqui? Esses passeios da Academia Beacon não costumam durar tanto tempo assim…

Blake concordou enquanto era invadida por lembranças da sua época no colegial. Realmente, os passeios nunca duravam o suficiente para ela e Yang porque as duas sempre achavam que o tempo que passavam juntas, distante do grupo de alunos, se ia rápido demais. Não foram poucas as vezes que elas tiveram que correr para o ônibus enquanto tentavam dar um jeito em suas roupas amassadas, seus cabelos bagunçados e suas bocas manchadas… Bons tempos. 

As bochechas coraram e ela voltou para a realidade quando Ruby assobiou baixinho, com vergonha. E então, sentiu os olhos de Weiss em si e foi a vez da herdeira arquear a sobrancelha. Claro que ela sabia o que pensou, afinal, era ela que ficava encarregada de encontrá-las quando perdiam a hora. 

— Ninguém tava muito animado depois do que rolou com o Cardin… E o Prof. Port se sentiu culpado, aí… Eu disse que ia ficar por aqui para falar com a Blake. — Ruby respondeu encolhendo os ombros, as bochechas corando cada vez mais. Yang colocou as mãos na cintura e agitou a cabeça e foi impossível, para Blake, não enxergar um pouco de Summer naqueles movimentos. O sorriso veio genuíno e cheio de emoção e até desconcentrou Yang que estava prestes a bronquear a irmã antes de olhá-la. Então, Penny disse calmamente:

— E eu disse que ia me responsabilizar por ela, já que conhecia uma das Schnees.

— Você só não disse qual, não é? — Winter comentou divertida, mas a expressão séria, o que fez Penny se encolher levemente até a mais velha das Schnees bagunçar os cabelos ruivos e sorrir. Yang desmontou a postura e fez o mesmo com Ruby e Blake se aproximou, segurando a outra mão dela e a beijando no ombro enquanto via Ruby sorrir enorme. Um pigarro foi ouvido e Weiss perguntou:

— Ok, ok… Mas isso não explica como vocês chegaram à cobertura no meu elevador privativo que tem um código de segurança para ser usado.

— Ah, sobre isso… — Ruby tentou explicar, mas bastou um olhar de Weiss para que ela voltasse a corar e gaguejasse. Blake riu ruidosamente, atraindo a atenção de Yang que a olhava, segurando o riso, provavelmente por ter percebido o mesmo que ela. Weiss também parecia ter percebido, porque ergueu o queixo e ajeitou as mangas da camisa social. Ruby apenas ficou de boca aberta, sem produzir som algum e Penny deu uma cotovelada nas costelas dela antes de respondeu educada, mas irritada:

— Eu e Ruby fazemos parte do clube de informática e de mecânica e estamos nas turmas avançadas de física, cálculo e química. Aquilo não foi nada para a gente. 

Yang tinha uma expressão de orgulho no rosto, seria hipocrisia ela não se sentir assim quando a sua irmã descumpria regras e ainda se dava bem com isso. Blake ria baixinho e abraçou a cintura dela, sentindo-a apertar a sua inconscientemente. Winter levou a mão à testa e a massageou, mas o sorriso dela era perceptível no movimento. Já Weiss semicerrava os olhos enquanto olhava para as duas garotas, Penny permanecia séria e cruzou os braços enquanto Ruby olhava inquieta para ela, evitando a mulher mais velha a sua frente. 

Por fim, Weiss suspirou e se virou para Blake que, a contragosto, se separou de Yang. A herdeira colocou as mãos na cintura e perguntou:

— O que a minha assessora diria se eu abrisse duas vagas de estágio na área de tecnologia das Corporações Schnee?

— Primeiro, eu não sou sua assessora. — Blake implicou com o sorriso provocado por toda aquela situação aleatória ainda nos seus lábios, Yang tossiu para esconder a risada enquanto Weiss revirava os olhos, o que fez Blake se sentir vitoriosa por aquela reação. — Segundo, eu diria que seria incrível para a opinião pública. Você pode organizar um concurso para outras áreas das Corporações Schnee ou até fornecer estágios para os filhos dos pais que precisaram ser desligados dos empregos aqui. 

Blake sequer tinha terminado de falar quando sentiu o seu corpo ser girado e um beijo ser roubado de seus lábios. Yang ria de encontro a sua boca e tudo que ela conseguiu fazer foi dedilhar a nuca quente e puxar os fios loiros dali. Elas escutaram sons coletivos de nojo das outras, mas a VP os ignorou para sussurrar:

— Eu preciso me controlar para não me ajoelhar sempre para você.

— Ah é, e o que você faria de joelhos, hein? — Blake sussurrou rouca, mordendo o lábio de Yang e a beijando de novo, sentindo as pernas cederem somente para ser ancorada por Yang enquanto sentia o coração acelerado. Ruby soltou uma exclamação desconfortável, Penny riu e Winter comentou fria:

— Essa é a minha deixa, eu com certeza não quero saber o que essas duas estão falando.

— Ah, pois eu quero, você vai me contar né, Belladonna? Ainda temos umas horas de expediente… — Weiss comentou cheia de intenções e foi isso que fez Blake se separar de Yang, os lábios inchados e os olhos dourados escurecidos, com uma expressão de tédio no rosto. A CEO parecia satisfeita consigo e Yang, suspirando e ainda com as mãos na cintura de Blake, disse:

— Eu preciso ir embora ou não vou conseguir sair daqui.

— Agora, eu mudei de ideia, fique Xiao Long. Podemos ter a reunião na minha sala. — Claro que Weiss Schnee faria uma coisa inofensiva como aquela soar algo extremamente inapropriado para as adolescentes que estavam em frente a elas. Winter botou a mão no rosto e suspirou, parecendo exausta com o teor da conversa enquanto Blake se segurava para não pegar um dos vasos nas mesinhas do corredor e jogar na cabeça da melhor amiga. Penny estava corada e Ruby se escondeu, o máximo que pode, embaixo do capuz do moletom. Por fim, Winter pigarreou e disse:

— Eu vou levar Penny e Ruby para casa, porque vocês não vão resolver isso do estágio hoje, pelo visto. 

— E eu preciso passar na Mecânica, verificar se alguém sentiu minha falta hoje… — Yang tinha um sorriso fácil nos lábios e os olhos lilases brilhavam. Blake sentiu o peito se encher de calor e suspirou quando a outra piscou para ela, dando às costas e seguindo Winter com as mais jovens. Porém, na metade do caminho, Yang parou e se virou com aquele sorriso radiante que fazia as pernas de Blake tremerem. — E respondendo a sua pergunta, Blake… Eu vou esperar para fazer aquilo que você me implora para continuar. 

Blake se sentiu corar da cabeça aos pés, assim como sentiu um aperto violento abaixo do seu estômago. Estava difícil respirar e, também, pensar. Winter xingou Yang em voz alta enquanto Penny abaixou a cabeça e caminhou em linha reta para o elevador, puxando uma Ruby catatônica pela mão. Winter não deixou Yang entrar no elevador com elas e apontou para as escadas antes das quatro desaparecerem da visão das duas que ficaram.

Os olhos dourados estavam escuros e a dona deles sentia uma dificuldade absurda de voltar para a terra, para os problemas que a aguardavam. Tudo que pensava era no calor, naquele que sentia agora, no outro que Yang emanava e, principalmente, naquele que ela e Yang queimavam quando estavam juntas. Blake suspirou, daria tudo para ser irresponsável como era em alguns momentos de sua adolescência, daria tudo para seguir Yang pelas escadas e…

Uma risadinha a fez voltar e pela dona dela, era possível sentir o frio que se espalhou em todas porções quentes de sua pele. Blake abriu os olhos e se virou para Weiss que removeu os suspensórios e brincava com eles enquanto a observava, então, impaciente e frustrada, rosnou:

— Não ouse perguntar o que eu peço para que Yang continue a fazer. 

— Ah, eu acho que sei o que é… — Weiss comentou com ar de quem sabia de tudo e Blake não resistiu, dessa vez, ela realmente agrediu a melhor amiga. Weiss foi empurrada em direção à sala dela aos risos e, lembrando de tudo que conversou com Winter, ela acabou sorrindo porque era bom aproveitar o que tinham agora. — A propósito, Ruby realmente é irmã de Yang já que eu, aparentemente, tenho um efeito marcante nas mulheres daquela família. 

Blake a empurrou de novo e quando Weiss estava prestes a cair, acabou a puxando e as duas terminaram meio que abraçadas enquanto caminhavam para resolver os novos estágios recém-criados. 

O fim estava próximo e Blake esperava, enquanto aturava a melhor amiga ser mimada, de que fosse o fim de qualquer coisa, menos do que elas eram e do que elas amavam.

 


Notas Finais


Essa história está sendo postada no Archive of Our Own (AO3) e Social Spirit.

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