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História Seeing Red - De olhos fechados - História escrita por Peixotize - Spirit Fanfics e Histórias
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História Seeing Red - De olhos fechados


Escrita por: Peixotize e FernandaRedfield

Notas do Autor


Chegamos aqui com mais um capítulo dessa história!
Atenção nas tags e fiquem atentos aos gatilhos.

Responsáveis pelos POVS:
- FernandaRedfield escreve Blake Belladona, Winter Schnee, Robyn Hill e Ruby Rose.
- Peixotize escreve Yang Xiao Long, Weiss Schnee e Pyrrha Nikos

Capítulo 31 - De olhos fechados


 

"Tales of an endless heart

Cursed is the fool who's willing

Can't change the way we are one kiss away from killing

Don't you say, don't you say it

Don't say, don't you say it

One breath, it'll just break it

So shut your mouth and run me like a river"

(River, Bishop Briggs) 

 

Essa era a primeira vez na vida de Yang que, mesmo com muitos sinais de que não estava tudo bem, ela se sentia bem. Muitas ameaças distantes, outras mais próximas do que nunca, algumas só esperando ela vacilar. 

Primeiro vinha Salem, pairando sem mostrar as caras, deixando todos ansiosos, na beira dos assentos, só aguardando o momento em que ela faria uma aparição; Então tinha Cinder com uma sniper, no formato de um documento, escolhendo seus alvos e atirando silenciosamente. Era óbvio que essas duas tinham uma ligação e que, provavelmente, Cinder era só um peão de Salem. Um peão muito perigoso e que sabia bem o que estava fazendo e como atingir cada um. Principalmente, Winter Schnee. O que elas queriam? Não existia uma resposta. Tudo que sabiam era: 

Cinder queria destruir os MC’s. Ela faria qualquer coisa para conseguir isso. 

Por último, James Ironwood. Dava para sentir os olhos azuis fixos nela, mesmo através de uma parede de gesso, Yang sabia que ele esperava ela cometer um erro, apenas um. Ainda não tinha como adivinhar o que poderia vir dele, mas era inevitável. 

No entanto, apesar de tudo isso e suas inseguranças, Yang estava se sentindo feliz. Mantinha um contato muito bom com Ruby, estava mais do que bem com Blake, suas melhores amigas viviam relacionamentos saudáveis, apesar de outros problemas. As coisas pareciam estar caminhando bem. 

Mas era fisicamente impossível permitir que seu corpo relaxasse. 

Com uma caneca de café em mãos, o corpo apoiado no balcão do bar da sede do MC, Yang tinha seus próprios olhos fixos na janela da sala de reuniões. Ou, como todos lá diziam, Capela. Yang gostava do conceito. Um lugar sagrado para seus guardiões - os membros do MC - onde eram feitos juramentos entre eles. Para ela, não existia melhor definição e o significado dela para todos que vestiam o manto. 

Seu olhar fixo só era interrompido quando decidia tomar um gole do café, mas ainda mantinha os olhos lilases nas persianas fechadas. Sabia que Ironwood estava lá dentro e não estava sozinho. Não tinha noção de quem estava com ele, mas suspeitava que fosse Raven. Sua mãe biológica não estava em lugar algum da sede, sua última aposta era a capela. 

Mas não era saudável pensar no que poderiam estar conversando naquela sala. 

Suspirando pesadamente, Yang levou a caneca até os lábios, sorvendo mais um gole do café quente. Faziam algumas horas que não tinha o que fazer pelo MC. Tinha cumprido seu horário na Mecânica, fez tudo que precisava pela sede do MC. Agora não sabia se deveria ficar ansiosa olhando para a capela ou só… sair. Talvez devesse voltar para o apartamento, fazer algum almoço para o caso de Blake decidir aparecer por lá de surpresa, como o fez no dia anterior - uma baita de uma surpresa. 

Tomou mais um gole do café para sufocar o sorriso que tremeu em seus lábios. Blake e ela estavam em uma rotina saudável de um casal que mora na mesma casa. No entanto, era de se esperar que elas estivessem fazendo bastante sexo, mas ninguém as preparou para o cansaço do final do dia. 

Ao chegar em casa, Yang deu de cara com uma Blake adormecida no sofá, um braço jogado sobre os olhos e vestindo o que deveria ser um pijama, mas apenas era uma de suas camisas oversized. Com uma risada baixa e o coração quente de amor, Yang apanhou o corpo da mulher que amava, acolheu ela em seus braços e a levou para o quarto. 

Deixou um riso escapar com a memória. Adormeceu admirando a sua Bella naquela noite. Como em todas as outras, mas essa pareceu um pouco diferente. 

“— Para sempre é bom para mim.”

- Yang! - A voz de Nora lhe acordou de um momento que ela não queria ser acordada. Grunhindo, Yang olhou por cima do ombro, erguendo uma sobrancelha para a amiga de cabelo alaranjado, que se aproximava ansiosamente, batendo o celular descartável contra a palma da mão. - ‘Tá fazendo alguma coisa? Espero que não, a gente precisa sair agora. 

Yang ficou mais ereta, colocando a caneca no balcão e se inclinando sobre ele para se aproximar da amiga. 

- O que aconteceu? - Sussurrou, esperando que Nora lhe falasse alguma coisa pessoal. Nora balançou a cabeça, o cabelo curto estava preso em um rabo de cavalo alto, assim como o de Yang. - Weiss está bem? Pyrrha te disse alguma coisa?

- Não, está tudo bem. As Schnees estão bem e Pyrrha não falou comigo, acho que ela deve ‘tá lá na oficina ainda. O que eu quero falar é outra coisa. - Ela balançou o celular na frente de Yang, e a VP percebeu que estava enganada. 

Não era o descartável de Nora e, sim, o smartphone pessoal. Lançou um olhar para a sua amiga antes de apanhar o celular. Elas raramente usavam o smartphone pessoal para coisas do MC, por diversos motivos e questões de segurança. 

Nora ainda estava inquieta, olhava ao redor antes de se inclinar e ver a mensagem juntamente com Yang, invadindo o espaço dela sem hesitar. A VP engoliu a vontade de mandar ela se afastar, abrindo a mensagem do celular de Nora e vendo toda a conversa com um número desconhecido. 

- Quem é…? Neon? - Yang ia passando os olhos pelas mensagens, reconhecendo a forma que Neon falava através da conversa. - Espera, como assim? O que o Roman… 

- Neon acha que o Roman está prendendo uma das garotas dela no Umbrella. Ela tentou falar com você, mas não me explicou porque não conseguiu. Você mudou de número? Não, eu saberia. - Nora balançou a cabeça quando Yang piscou, confusa. - Enfim, não é importante, foca aqui. Ela pensou se deveria falar com o Hazel ou fazer algum pedido ao Ironwood. Mas, por algum motivo, decidiu falar comigo antes. 

Vendo as mensagens, Yang percebeu que Neon falou com Nora porque não sabia como falar com a VP do Ravenscrow MC. Mesmo com Yang tendo certeza de que a Neon tinha o seu telefone. Ignorando esse fator, decidiu focar no que Nora tinha acabado de lhe informar. 

Lendo as mensagens explicativas de Neon, Yang juntou as informações que a dançarina tinha enviado e montou sua própria teoria baseando-se nelas. 

Roman teria impedido uma das dançarinas de Neon de chegar até o ‘Never Miss a Beat’ e, aparentemente, a própria dona não tinha contato com a dançarina há uma semana. Pelas mensagens, Yang entendeu que Neon estava com medo do que poderia ter se passado com a dançarina. 

Ninguém confiava em Roman e muitos tinham medo do que ele podia fazer. Não existiam dúvidas de que ele seria capaz de prender uma das garotas de Neon só para prejudicá-la ou, pior ainda, incitar alguma briga, sabendo que o MC se envolveria para proteger a dançarina. 

O MC tinha contratos totalmente diferentes com ambos os clubes. Se existisse uma rixa entre os dois, o contrato de proteção ao Never Miss a Beat os forçaria a tomar o partido deles, já que Roman só tinha o contrato de compra de armamento para sua gangue pessoal. No entanto, graças a esse acordo com o Umbrella, o Ravenscrow era obrigado a tentar resolver isso da forma mais pacífica possível. Afinal, começar uma guerra com um dos maiores criminosos era a última coisa que o MC queria. 

Uma guerra com o Roman só dificultaria os problemas com a tal da Promotora Fall. Yang engoliu a ansiedade, tentando não demonstrar tanto quando ergueu os olhos para Nora, que saltitava nos próprios calcanhares, o rosto franzido para o celular na mão da VP. 

- Vamos lá. Precisamos entender essa história. - E entregou o celular de volta para a sua amiga. - Leva o seu bastão, mas só por precaução! Não me sinto confiante indo só nós duas resolver isso, mas… 

Olhou para a capela por cima do ombro. Nora murmurou em consentimento. Envolver Ironwood agora poderia permitir que ele enxergasse ela vacilando. A última coisa que Yang queria era mudar como as coisas estão funcionando pelo MC, ao menos não agora. Cinder e Salem precisavam parar de serem ameaças antes de James Ironwood possa virar uma. 

 

Nora estava uma pilha enquanto elas manobravam suas Harleys até o ‘Never Miss a Beat’ e Yang entendia. Enquanto passavam entre os carros pelas ruas da cidade, ela se deixou refletir. Desde o encontro que tiveram há umas semanas, Yang sentia uma preocupação a tudo que se referia a Roman Torchwick. A forma como ele falava quando elas entregavam as caixas com as armas, era como se ele soubesse de várias coisas. Ele agia como se soubesse mais do que elas. E que esse conhecimento o colocaria acima, não só delas, mas de todo o MC. 

Se tinha uma pessoa que sempre incomodava, era Roman Torchwick. 

Ao chegarem no ‘Never Miss a Beat’, Yang não se surpreende ao ver Neon na porta. Assim como também não se surpreendeu quando a viu usando um vestido preto, extremamente curto, o cabelo rosado solto em lindos cachos emoldurando seu rosto. A última coisa que Yang tinha feito antes de sair do MC, foi mandar uma mensagem para ela - do seu próprio telefone - avisando que estava indo até lá para que pudessem conversar melhor sobre o que aconteceu. 

- Olha só, ainda bem que trouxe o melhor vestido para trabalhar hoje! - Foi a primeira coisa que Neon disse quando Yang tirou o capacete e fixou os olhos nela. Abaixando os óculos, Yang piscou para ela, rindo logo em seguida quando a viu fingindo se abanar. - Ai se você não fosse comprometida, Xiao Long! 

Nora riu atrás de Yang e foi como se tudo estivesse bem. Neon tinha esse véu sobre ela, um tipo de glamour que ela tirava no momento em que estava entre quatro paredes. Essa pose sexy e animada era mais do que falsa. 

No momento em que entraram na sala de Neon, essa pose saiu e a dançarina virou para as duas. Os olhos avermelhados de tanto chorar, as mãos tremendo enquanto ela apertava os dedos, ansiosa. O vestido curto, o salto alto, o cabelo perfeitamente arrumado, tudo parecia fora do lugar quando ela deixava esse véu cair para mostrar o que realmente estava sentindo. 

- Neon. - Yang chamou, fechando a porta atrás de si. Nora estaria do lado de fora, deixando as duas conversarem a sós. A dançarina não olhava para ela ainda, mas andava de um lado para o outro, o salto clicando pelo chão perfeitamente encerado do escritório dela. - Neon. Vai ficar tudo bem, a gente só veio para que você falasse o que… 

- Eu vi a sua namorada. - Neon soltou e Yang parou de andar até ela, um braço erguido no ar, pronta para acolher a dançarina ansiosa. Neon virou para ela, lambendo os lábios ansiosamente, ainda apertando os dedos. A VP inclinou a cabeça para o lado, confusa. - Ela é muito bonita, Yang. Uma delícia, realmente. Não é muito o meu tipo, porém. Você tem muita sorte! Ela sabe das nossas festas do pijama? 

E riu da forma mais falsa possível. Yang se sentiu desconfortável, quase virando para abrir a porta e pedir que Nora ficasse com elas na sala. Engoliu em seco, lembrando da última briga que teve com Blake, a briga que começou graças a um abraço que Neon lhe deu. 

Naquele dia, Yang não sabia se existiria volta para as duas, não quando começaram a soltar várias verdades que tinham sido omitidas “pelo bem da outra”. 

- Neon, isso não é hora pra… 

- Na verdade, não era bem uma festa do pijama quando não se envolvia “pijamas”... mas, se a gente parar para pensar, todas as festas do pijama acabam da mesma forma. - Ela riu falsa novamente, mas o riso foi quebrado com um soluço e Yang ergueu os olhos para ela, o rosto franzido, ainda confusa, mas mais preocupada do que antes. Neon tinha as mãos no rosto, soluçando. - Desculpa, por favor desculpa. Eu não queria dizer nada disso, é que… 

- Neon. - Yang se aproximou e ergueu a mão novamente, pronta para acolher a dançarina. Quando a outra não se moveu e nem falou algo que lhe afastasse, Yang se aproximou e envolveu os braços ao redor dela. Neon murchou em seus braços, soluçando sem parar, chorando com o rosto enfiado em seu ombro. Era de partir o coração, realmente. Yang não lembrava a última vez que viu aquela mulher chorando. Era difícil ver alguém tão cheia de si, alguém que se conhecia de verdade, chorar sem parar, completamente desolada. - A gente vai resolver isso, vai ficar tudo bem…

- Nós duas sabemos que isso não vai acabar tranquilo, Yang. - Neon choramingou contra a sua camisa, apertando o tecido dela e soluçando de forma quebrada. Yang apenas colocou a mão na nuca dela, lhe acolhendo da forma que podia. - Se o Roman se negar a entregar a Shani, ele tem um exército para proteger ele… 

- E você tem a gente, sabe disso. 

Com um riso amargo, Neon se afasta, passando a mão onde estava molhado na camisa de Yang. Ela balançava a cabeça, se afastando completamente dos braços da VP e indo até a mesa onde tinha uma garrafa de uísque e alguns copos de vidro. 

- Não vamos nos iludir, Yang. Por favor. No momento em que ele declarar guerra contra mim, o MC não vai focar em tentar me proteger. - Ela abre a garrafa, de costas para Yang, ainda balançando a cabeça enquanto enchia os copos. - O dinheiro que ele paga a vocês é maior do que o que eu posso gerar. Posso ter o melhor clube da cidade, atingir as pessoas da alta classe, mas ainda vivemos em Vale. Eu não trabalho com prostituição, minhas garotas me procuram para ter um lugar para dormir, ter um emprego fixo e seguro. 

- Eu sei do que está falando, e entendo. Mas eu ainda sou a vice-presidente daquele clube, se chegar nesse caso, e não vai, nós vamos te proteger. - Yang sentava no sofá, os olhos fixos na forma de Neon, que parecia pesar a cada segundo que se passava. A dançarina virou para ela e em mãos, dois copos meio cheios com um líquido âmbar. A VP suspirou, sabendo que seria oferecido um, mesmo com Neon sabendo que ela não bebia. 

- Você tem uma alma boa, Yang Xiao Long. Mas você sabe que uma alma boa não é o suficiente para o seu MC. - Neon dizia e Yang piscou. A dançarina não era mais velha que a VP, mas, naquele momento, esse parecia ser o caso. Neon falava com um pesar de alguém que sabe do que está falando e queria estar errada. - Enfim, vamos logo conversar sobre o meu ponto de vista das coisas, quero a Shani aqui e não perdida naquele clube. 

Yang apanhou o copo que lhe era estendido, mas não fez esforço para erguê-lo até os lábios. Não iria beber, mas também não iria ficar se justificando para Neon. 

- Shani. Esse é o nome dela? 

- Não. Mas é o que ela usa. Minhas garotas não usam seus nomes reais por aqui, Yang. Não seria inteligente. - Neon sentou na sua frente, cruzando as pernas nuas e bebendo um longo gole do uísque, quase acabando com ele no primeiro gole. Yang desviou o olhar para a própria mão. - Eu falei a verdade, sua namorada é bem bonita. Agora faz sentido o seu coração estar tão preso nela, se fosse comigo, eu também esperaria anos por ela. Se eu fosse você, já tinha dado um jeito de colocar um anel nela, claramente ela já tem a guia da sua coleira, então… nada mais justo. 

Yang riu e balançou a cabeça, se inclinando para colocar o copo em cima do porta-copos, na mesa de centro em frente ao sofá. 

- Ah, eu sei bem, Katt. 

 

Roman Torchwick não estava na porta quando Yang e Nora chegaram no Umbrella. Afinal, ele não sabia que elas estavam indo até lá, apesar de Yang duvidar dessa afirmação. Roman sabia de quase tudo que acontecia por aquela cidade e, por esse motivo, tinha medo do que mais ele poderia estar sabendo e ela não.

Estacionaram as Harleys na frente do Umbrella. O motor ecoando na rua vazia e fazendo ambas terem certeza de que não estavam sendo furtivas naquele momento. Yang tirou o capacete e saiu da moto, tirando os óculos ao se aproximar das janelas extremamente escuras do estabelecimento. Um lugar como aquele, definitivamente, teria as janelas quase impossíveis de ver o que acontecia dentro dele. 

Já tinha passado do meio dia, o sol estava mais quente do que nunca e Yang queria ir embora. Poderia estar em casa, fazendo um ótimo almoço, algum exercício, esperar Blake chegar em casa. Mas não podia fazê-lo ainda. Não quando ela prometeu para Neon que iriam resolver isso, levariam Shani de volta para o Never Miss a Beat e, se possível, evitariam conflitos. 

- O quão fodidas estamos só de vir até aqui de mãos vazias? - Yang brincou, olhando por cima do ombro a tempo de ver Nora se levantar da própria Harley, ainda de óculos e não fazendo o movimento para tirá-los. O sol estava incomodando demais e Yang sabia o quão fotossensível Nora era. - Eu diria que bastante. Não sei se concorda comigo. 

- Nem me faça pensar nisso, já tô querendo ir embora e ainda nem começamos as… negociações. - Sua amiga resmungou baixinho, o taco dela tinha ficado no Never Miss a Beat e, sem ele, ela parecia ainda mais deslocada.

Yang olhou para ela, enfiando as mãos nos bolsos e acenando com a cabeça, realmente era desconfortável. Elas não estavam totalmente desarmadas, já que Yang ainda tinha uma faca presa debaixo da calça e o coldre de corpo ainda portava a sua glock. Mas uma glock não era o suficiente para se livrar do exército de Roman. 

Se afastou um pouco do prédio. A sua ideia era se aproximar de Nora e tentar armar um plano com ela, decidir como abordar a conversa. Já tinham planejado antes de sair do  Never Miss a Beat, mas queria poder relembrar antes de ter que lidar com alguém como Roman Torchwick. 

Mas foi tarde demais. 

- Eu diria que vocês são beeeem idiotas. - A porta da frente se abriu e Yang sentiu algo metálico encostar na sua nuca. Pelo frio contra a sua pele quente e suada, não tinha dúvidas de que era o cano de uma pistola. Seu corpo inteiro travou de tensão e seus olhos se fecharam, sabendo que Nora estava mais do que alerta na sua frente. - Mas é muito bom saber que os corvinhos estão desarmados, podemos conversar melhor assim. 

Mas ele não tirou a arma de onde estava. Yang abriu os olhos e fixou-os em Nora, que estava com os punhos fechados, a mandíbula travada, pronta para agir. 

- Que tal tirar a arma da minha cabeça? - Yang pediu, uma onda de raiva e impaciência lhe tomando juntamente com o coração martelando contra suas costelas. Cerrou os dentes, respirando fundo e tentando conter a vontade de só se virar e desarmá-lo com um movimento rápido. Sabia que conseguiria fazer, já fez mais vezes do que conseguia contar. Porém, se o fizesse, seria mais difícil fazer ele concordar com elas. - E aí, a gente pode conversar algum acordo para você soltar a dançarina do Beat, huh? 

Aparentemente, isso foi engraçado. Roman soltou uma gargalhada, apertando o cano da arma contra a pele de Yang, fazendo-a abaixar a cabeça, rapidamente ergueu os olhos para Nora de novo, balançando a cabeça minimamente, pedindo para que ela não saísse do lugar. 

Sua amiga se tremia de ódio na sua frente, provavelmente duvidando da capacidade mental da VP e procurando alguma abertura para tomarem de volta o controle da situação. 

Se é que realmente o tiveram.

- Ah, vamos lá, gralhinhas! Não sejam estúpidas. - E, com um empurrão, ele só empurrou a arma para frente, fazendo Yang dar dois passos antes de virar e vê-lo com a arma erguida, mas não apontava para ninguém. Roman ainda usava o chapéu de sempre, mas suas roupas eram um terno preto com uma gravata laranja. Escolha interessante, já que o sol de Vale estava torrando a cabeça deles. Mas, ele sorria de forma vitoriosa. - Vocês não mandam mais nessa cidade, e claro que sabem disso. Está só na hora de começarem a agir de acordo. 

Yang, agora livre de Roman, pôde encará-lo. Ergueu os olhos, tentando se impor mais do que já estava. 

- A gente não quer começar um problema, Torchwick. - Yang praticamente rosnou e, contra tudo que queria fazer, levantou as mãos em rendição. Uma movimentação no canto do olho a fez ficar atenta. Neo se aproximava, a mesma cor de roupa de antes, o cabelo metade castanho e metade rosado. Como já era normal de vê-la, Neo estava debaixo do guarda-chuva que, dessa vez, a protegia do sol. Não virou para ela, mas ficou atenta para o caso de alguma coisa vir da mesma direção. - Queremos resolver isso e tentar manter alguma paz nesta cidade. Deus sabe que nós precisamos disso depois de toda a merda que aconteceu no ano passado. Então, que tal ser um bom garoto e soltar a garota do Beat?

A impaciência já era clara na sua voz, assim como a sua vontade de socá-lo mais uma vez. Roman percebeu isso e riu mais uma vez, uma risada ruidosa, exagerada. Ele enfiou a pistola dentro do paletó, os olhos indo para Neo, que se aproximava e, agora, tinha uma arma apontada para Yang, ainda debaixo do guarda-chuva, como se nada tivesse acontecido. 

- Você anda bem feroz, loirinha. - Ele comentou e Yang se esforçou para segurar a vontade de revirar os olhos. Torchwick se apoiava na porta de madeira, atrás dele era tão escuro que não dava para saber o que acontecia. Mas não era difícil de imaginar o que era. - Esses olhos, quase avermelhados… está te deixando cada vez mais parecida com a sua mãe… 

Agora era o seu corpo que tremia de raiva e, com esse conhecimento, Yang teve que se obrigar a recuar e respirar profundamente, sabendo que a última afirmação, se estivesse mais perto, teria feito ela levantar a mão para socá-lo. 

- Torchwick, nós dois sabemos que se não resolver tudo agora, vamos ter que voltar e não vai ser bonito quando a gente voltar… - Yang alertou lentamente, inclinando a cabeça com uma falsa simpatia. - Então, vamos resolver isso da forma mais civilizada possível…

- Esse é o problema com vocês corvos. - Roman lhe interrompeu, passando as mãos sobre o paletó antes de arrumá-lo sobre o corpo, inclinando a cabeça em zombaria. - Diga a Neon que, no tempo certo, ela terá a garota dela de volta. 

Após terminar de falar, Neo estava parada ao lado dele, a arma ainda apontada para elas. Ambos sorriam da mesma forma doentia quando deram um passo para trás e fecharam a porta na cara das duas. 

Yang não sabe quanto tempo passou olhando para as portas duplas de madeira, mas sentiu a mão de Nora em seu ombro.

- Como a gente vai resolver isso, VP? - Tinha raiva no tom de Nora, o mesmo ódio contido que corria quente pelas veias de Yang. Estava brigando consigo mesma para saber como deveria reagir naquele momento. 

Se ela ainda fosse a mesma de um ano atrás, teria derrubado aquela porta e chamado reforços do MC. Porém, a Yang de um ano atrás não sabe que Cinder Fall está só esperando o momento certo para abater todo o MC. Ela não poderia entregar isso em uma bandeja de prata, precisava focar, entender como poderia resolver essa situação sem iniciar uma guerra. 

- Nós vamos voltar mais tarde. - Yang decidiu, olhando para o lado e encontrando os olhos azul esverdeados da amiga, que tinha retirado os óculos escuros. - Nós vamos voltar e voltaremos com pessoas que podemos confiar. Roman quer um show, daremos isso a ele, mas faremos da nossa forma. 

 

 

Winter perdeu o distintivo, mas continuava com a maioria dos hábitos adquiridos na carreira de agente do FBI. Agora, pela rotina, pela sua nova ocupação e, principalmente, pela conversa que teve com Blake. Por isso, ela não deixou de atender o celular quando tocou em uma das poucas noites que passou na Mansão Schnee.

Robyn tinha alguns assuntos do Huntresses MC para lidar e a própria Winter precisava de um tempo sozinha para colocar a cabeça no lugar e cobrar alguns favores em troca de informações sobre Salem e Cinder. Foi, de certa forma, providencial que ela estivesse só ou duvidava que pudesse ter prestado atenção na ligação.

Do outro lado da linha, Clover Ebi. Ele ainda estava no FBI, mas a lealdade dele era dos MCs mesmo com o círculo se fechando na agência. Winter quase revirou os olhos quando viu o nome no identificador de chamadas, mas Clover era a sua única fonte de informações dentro do lugar que costumava trabalhar e por isso, o atendeu mesmo no horário inoportuno. 

— Schnee? É Ebi. Você pode falar?

— Acho que posso, você acabou de me acordar.

— Que bom… Porque se não tivesse acordado, com certeza acordaria com o que acabei de saber. A promotora deu uma ordem no final do expediente. Uma equipe formada pelos agentes que subiram na hierarquia desde que ela chegou foi destacada para Vytal

— Vytal? O Huntresses MC tem algum negócio lá? Porque os corvos não têm…

— Eu acredito que não, mas você pode confirmar com a sua namoradinha… De qualquer forma, avise o Ravenscrow MC. Vai saber o que essa mulher encontrou lá…

Clover desligou em seguida e Winter culpou o sono diante da lentidão de seu raciocínio. Demorou alguns minutos até que ela passasse pelo inventário mental de propriedades do MC que protegia para se dar conta de que, talvez, Cinder não estivesse atrás daquilo no momento.

Ela se bateu na testa quando lembrou do RICO e de que foi ela mesma quem disse a Blake que a promotora pressionaria até que não houvesse mais para onde os membros e associados dos clubes pudessem fugir. 

E o que poderia despertar o interesse dela e, provavelmente, de Salem em Vytal? Tyrian Callows. Um conhecido assassino de aluguel com tendências psicopatas que poderia, pelo preço certo, chegar a Vale para provocar o caos. 

Winter despertou imediatamente diante daquela conclusão, não conseguiu mais dormir enquanto pensava em como agir. Ela sabia que Robyn estaria na sede na manhã seguinte porque elas tinham combinado de se encontrar, assim como sabia que poderia ligar para Blake e deixar que ela espalhasse para os demais o que poderia estar prestes a cair sobre eles. 

E Winter? Ela precisava contatar os seus informantes em Vytal e, se necessário, ir até lá para ver se, por sorte, interceptava o assassino antes que ele desaparecesse sob as sombras de Cinder Fall. Levando em conta que a promotora deu início a operação antes, aquilo era improvável, mas não custava tentar. Se ela não conseguisse a custódia de Tyrian, poderia manipular a situação para que Cinder tivesse que processá-lo pelos crimes que cometeu.

Então, quando o sol se ergueu, ela passou direto pela sala de refeições e ignorou o café-da-manhã. Precisou acordar um dos seguranças que cochilava na guarita dos portões de ferro da Mansão Schnee para conseguir sair dos gramados do imenso terreno e esqueceu completamente que não portava mais um distintivo ao acelerar o sedan preto rumo à parte baixa de Vale.

As ruas estavam desertas e isso era bom, porque ela não perdia tempo, mas também chamava a atenção das patrulhas que, agora, cumpriam novos itinerários pela cidade. Winter conseguiu ver um ou dois carros da polícia e outro do FBI à paisana pelo canto dos olhos enquanto mantinha a sua atenção à frente. Winter chegou à parte baixa em vinte minutos. 

Eram vinte e cinco minutos passados quando ela parou abruptamente em frente ao restaurante de comida caseira que também era a sede do Huntresses MC. A freada abrupta chamou a atenção de alguns trabalhadores que caminhavam na calçada e ela os ignorou enquanto se olhava no espelho retrovisor e prendia os cabelos brancos. Uma pontada de dor no centro da testa a fez fechar os olhos de forma abrupta e ela praticamente saltou para fora do sedan.

O céu do dia ainda era escuro e, mesmo assim, Winter colocou os óculos de sol. Era um costume, uma forma de esconder o que verdadeiramente sentia, mesmo sabendo que Robyn provavelmente enxergaria através daquilo e perceberia o seu desespero. Antes de atravessar a rua, Winter parou e respirou fundo, se encostando à lataria do carro. 

Nenhum deles merecia aquilo que estava acontecendo e mesmo que Winter se sentisse culpada por ser Cinder, no meio de tantos promotores, a ameaçar a sua família, sabia muito bem que não era merecedora do que podia destruir tudo que conheciam em Vale. 

Os MCs tinham uma noção de justiça que não compactuava com a lei na maioria das vezes, porém, se não existisse algo que funcionasse nisso, nem corvos e nem caçadores existiriam na cidade. No começo, Winter pensou que se vendia à custa da segurança da sua família e com o tempo, percebeu que protegia Weiss, Willow e Whitley da lei enquanto o Ravenscrow MC os protegia de todo o resto. Porque existia justiça para os inimigos do clube, assim como existia retribuição para quem os ameaçava. Os corvos, por mais violentos que fossem, eram fiéis e a fidelidade, muitas vezes, era algo mais coerente do que a justiça. 

Se a justiça fosse perfeita, pessoas como Cinder Fall não a usariam como arma ao invés de meio. Ao longo dos anos no FBI, Winter conheceu agentes mais perigosos do que foras-da-lei justamente porque não possuíam fidelidade àquilo que defendiam, ela sabia daqueles que não concordavam em ajudar os MCs a não ser que fossem pagos para isso assim como ouviu falar de outros que sofreram as consequências por passarem dos limites com os corvos e caçadores. Eram pessoas cuja fidelidade era paga em dinheiro ou em violência e essas não eram justas, independente da circunstância. 

A fidelidade dos MCs vinha do companheirismo e da união e se manifesta em atos de violência ou, simplesmente, de proteção. Como no dia que Yang Xiao Long tirou Jacques de cima de Weiss aos socos e pontapés quando ele estava prestes a mutilá-la, ou no assassinato do parque, quando Blake e Yang mataram um agente corrupto para que pudessem sobreviver ou quando Pyrrha Nikos, uma soldado condecorada, preferiu perder tudo para salvar a mulher que amava. 

Winter aprendeu, com o tempo, que justiça e paz não caminhavam lado a lado. E com isso, o seu trabalho de informante e agente dupla se tornou mais fácil. Porém, agora, não tinha mais acesso ao que sabia fazer, Cinder a afastou porque sabia que ela faria de tudo para que os MCs e sua família fossem protegidos e também porque tinha uma ideia da mulher em que ela se tornou quando foi quebrada e reconstruída. 

Claro que Cinder estava sendo bem paga para sufocar a organização delicada de Vale, mas Winter a conhecia o suficiente para saber que ela se deliciava com conflitos pessoais em meio aos profissionais, especificamente, em ver o que sobrou depois de destruí-la há tanto tempo. A ex-agente sabia que mais do que dinheiro, Cinder queria vê-la implorando por algo de novo.

— Ora, ora… Você já teve bom gosto, Schnee. — A voz aveludada e cínica pareceu ter sido convocada das profundezas do ódio gélido de Winter. O som dos saltos clicando no asfalto fizeram a Schnee mais velha semicerrar os olhos, sentindo as pontadas de dor na cabeça aumentarem. Claro que deveria prever que Cinder colocaria um alerta para a sua presença e obviamente, viria encontrá-la quando a sua guarda baixasse. Cinder era covarde, jamais a enfrentaria quando existisse chances de perder. — Lembro que costumávamos frequentar lugares melhores nas nossas manhãs juntas. 

Winter não tirou os óculos escuros, mantendo a sua armadura e tencionando a postura ao se erguer. O esforço não a fazia mais alta do que Cinder, mas impedia que a outra mulher a olhasse tão de cima como estava acostumada a fazer. A promotora, por sua vez, ajeitou o blazer cor de cobre e passou as palmas da mão pela camisa social branca embaixo. Winter conhecia aquela atitude e sabia que Cinder esperava que o seu olhar acompanhasse os movimentos lânguidos.

Só que aquele corpo não a interessava mais. Curvas não conseguiam esconder as rachaduras na personalidade desprezível daquela mulher. Então, os olhos azuis e gélidos continuaram no sorriso irônico de Cinder e Winter manteve a expressão estóica ao responder:

— Engraçado você dizer que lembra enquanto eu tinha me esquecido da sua existência até alguns dias atrás.

— Não, não, não… Não foi assim que eu ensinei você, Winter. — A promotora ronronou com um biquinho, dando um corajoso passo à frente que fez a ex-agente reagir, virando o corpo para frente e encarando o Toupeira, o restaurante e sede do Huntresses MC e um refúgio diante do que tinha próximo de si. Em outros tempos, aquele tom de voz provocou arrepios perigosos em Winter, mas agora, tudo que ela conseguia sentir era repulsa e frustração por não poder revidar sem a certeza de que seria presa. — Talvez, você devesse parar de tentar ser quem não é… Eu sei que você não é assim tão… Inconsequente. Você gosta de seguir regras, de cumprir ordens, de fazer o que mandam você fazer… E você é maravilhosa nisso.

Cinder enumerou o que achava que pudesse engatilhar Winter e, de certa forma, ela conseguiu o que queria. A Schnee mais velha realmente se lembrou dos momentos em que fez tudo aquilo que a promotora disse que era boa em fazer. Porém, não eram mais lembranças das duas. O que veio à mente de Winter tinha Robyn em foco, com a voz imperativa rouca, mas as mãos calejadas carinhosas e que, a cada momento juntas, parecia conhecer o seu corpo como Cinder jamais conheceu. 

Por alguns segundos, Winter fechou os olhos atrás das lentes escuras e lembrou da sensação dos dedos ágeis massageando o seu couro cabeludo, da boca gananciosa interrompendo as suas falas com um beijo, dos braços fortes que a erguiam e a sustentavam quando o mundo desabava ao seu redor em uma onda de prazer, ela se lembrou de Robyn que mesmo sabendo o que fazer para tirá-la do eixo, jamais usou isso contra ela como Cinder fez no passado. 

Com a VP do Huntresses MC, Winter seguia ordens, mas nunca estava em desvantagem porque existia retribuição e, essencialmente, confiança. 

Ao abrir os olhos azuis, Winter se sentia quente. Toda vez que pensava em Robyn, o gelo em que viveu por tanto tempo derretia. Ela sorriu e o olhar âmbar acompanhou a sua reação, Cinder jogou os cabelos para longe do rosto e se inclinou em direção ao rosto de Winter que, sem temer, virou-se para olhá-la. Elas estavam próximas e a ex-agente conseguiu sentir o enjoativo perfume forte que impregnou as suas roupas no passado. Agora, tudo que ela amava sentir era feito de eucalipto e hortelã, refrescante ao invés de sufocante. O sorriso não combinou com as palavras frias:

— Uma pena que você não soube aproveitar isso, não? Eu garanto que continuo tão boa quanto antes… O mesmo não posso dizer de você.

Winter esperava que Cinder se afastasse, surpresa com o seu contragolpe. Mas tudo que a promotora fez foi olhar brevemente ao redor, antes de se mover o suficiente para que ficasse de costas para rua e aprisionasse Winter de encontro ao carro. Existia um brilho escaldante que avermelhava os olhos de Cinder sob o sol matinal diante da fala rebelde. Winter não engoliu em seco, nem se encolheu e a outra mulher a olhou de cima em baixo antes de sussurrar ameaçadora:

— Hum… Mimada… Não sabia que tinha isso em você, Winter. E confesso que adoraria arruinar completamente o que acabei de descobrir.

Dessa vez, a ex-agente estremeceu e não foi pelos motivos que Cinder adoraria que fossem. Quer dizer, o medo era familiar, mas não existia a excitação de antes. Winter engoliu em seco e inclinou o corpo para trás, observando o sorriso da promotora aumentar ao reconhecer o temor em seus olhos. Cinder sorria como uma predadora e também se aproximava como uma até que uma voz familiar e risonha soou do outro lado da rua:

— Promotora Fall, que surpresa! Espero que esteja por aqui para experimentar o café-da-manhã do Toupeira e não…!

Robyn foi interrompida por duas Harley Davidson que passaram, providencialmente, na rua naquele momento. Winter viu que as motos pararam na esquina da quadra e reconheceu os cabelos arrepiados de Joanna e os fofos de Fiona quando os capacetes foram retirados. Robyn atravessou a rua e se juntou a elas, Winter teve vontade de rir ao ver que ela ainda fingia tão mal como na noite em que a salvou de um membro da White Fang, porém, algo nos olhos arroxeados a fez ofegar.

A presidente do Huntresses MC tinha o olhar afiado para a Promotora Fall por mais que um sorriso tentasse dissimular a dureza de sua expressão. E isso sim fez Winter suspirar e Cinder se afastar. Naquele instante, a ex-agente estava mais do que feliz em ser observada daquela forma. A promotora riu baixinho e, ao alisar as dobras do blazer, olhou discretamente sobre o ombro e notou a presença das demais caçadoras na rua. Depois, respondeu sarcástica:

— Bom dia, Srta. Hill. Infelizmente, estava apenas cumprimentando uma velha conhecida. Não sabia que Winter voltou à cidade e apenas quis deixar claro que faço tudo ao meu alcance para tê-la de volta.

— De volta…? — Robyn repetiu com desprezo, cruzando os braços em frente ao corpo e o movimento não passou despercebido por Winter que, agora, tinha os olhos azuis atentos à musculatura. Naturalmente, ela gravitou para o corpo da outra e parou ao lado da presidente, distante de Cinder. A promotora olhou de uma para outra e crispou os lábios de forma quase imperceptível antes de dizer:

— Ao trabalho, é claro. Winter é muito boa no que faz e eu estava apenas seguindo protocolos ao afastá-la. Porém, acredito que ela possa se reencontrar e…

— Eu a manterei informada se surgir alguma coisa ao meu favor, promotora. — Winter a interrompeu com a voz firme, ainda que tivesse que esconder as mãos trêmulas nos bolsos traseiros da calça jeans. Cinder arqueou uma sobrancelha e acenou a cabeça, sorrindo arrogante antes de recolocar os óculos de sol e deixá-las. 

Elas continuaram imóveis até o carro de Cinder, um blindado de vidros escuros, desaparecer na esquina seguinte, sob os olhares ameaçadores de Joanna e Fiona. Somente então, Winter soltou o ar e os ombros caíram. Ela não precisou esperar muito pelo toque de Robyn porque, no segundo seguinte, sentiu uma mão calejada remover a sua direita do bolso do jeans. Os dedos se entrelaçaram e Winter puxou a mão de Robyn para que se encaixasse na curva de seu quadril, os corpos se aproximaram e Winter ofegou de olhos fechados quando a presidente respirou em seu pescoço e grunhiu:

— Eu quase perdi a cabeça só pela oportunidade de arrancar o sorriso da cara dela com um soco. 

Robyn não disse que fazia isso por ela, mas Winter tinha certeza das razões que a levaram a se aproximar e, essencialmente, a se enrolar com ela daquela forma. A presidente estava em todos os seus sentidos, com a mão em sua cintura, a respiração em seu pescoço e os lábios juntos a sua pele. Winter se virou abruptamente nos braços dela e a segurou pelo queixo com uma das mãos enquanto o outro braço enlaçou o pescoço dela.

A rua estava silenciosa quando elas se beijaram e isso permitiu que Winter escutasse Robyn ofegar o seu nome enquanto a empurrava em direção a lataria do próprio carro, encaixando-se entre as pernas dela enquanto sentia a presidente escorregar em seus lábios para que elas ficassem no mesmo nível. Sempre em equilíbrio, nunca com uma delas levando mais do que a outra estava disposta a dar. Winter deixou que seus dentes corressem pela mandíbula de Robyn que apertou as laterais de seu corpo, subindo os toques até que as mãos se abrissem em suas costas e ombros ao sussurrar:

— Você gostou de ouvir isso, não? De ter a certeza de que eu seria capaz de me arriscar para aquela mulherzinha não chegar perto de você de novo…

Winter cerrou os dentes e foi a vez dela adentrar no pescoço de Robyn. O cheiro refrescante a invadiu completamente enquanto acenava positivamente com a cabeça, sem conseguir responder com clareza diante da voz da presidente rouca e próxima de si. Naqueles segundos, ela se esqueceu de que estava ali por causa de Cinder e de que provavelmente teriam que lidar com um assassino de aluguel nos próximos dias. Tudo que ela conseguia sentir se resumia a Robyn e tudo que ela despertava remetia a segurança e a posse, mas não no sentido negativo e sim, de pertencer a um lugar que sempre seria seu. 

Os braços pálidos envolveram a cintura forte de Robyn e Winter afundou o rosto no peito dela, se aconchegando enquanto pensava que teria que sair dali em breve. Precisava verificar como estavam as coisas em Vytal e temia que os seus meios de comunicação estivessem sob vigilância depois desse encontro com Cinder… Porém, ela precisava da presidente do Huntress MC no momento. E aquilo, na rua, não era suficiente. Então, os seus lábios correram sob a ligadura do pescoço e do peitoral de Robyn e sussurrou:

— Sabe o que eu gostaria ainda mais? Que você me mostrasse por que eu não preciso daquela mulher perto de mim…

— Ah é? O seu desejo é uma ordem, rainha do gelo. Quando a gente terminar, você sequer vai lembrar o nome dela e muito menos o seu. — Robyn murmurou em seu ouvido antes de afastá-la e beijá-la na testa, colocando em conflito o desejo e a veneração. Winter quebrou por alguns segundos, antes de sentir que era colocada de pé e uma mão se fechava delicadamente em sua nuca, puxando-a para um beijo roubado antes de deslizar pelas suas costas e ancorar seu corpo até a entrada dos fundos do Toupeira. 

Winter se esforçava para não esquecer do que precisava fazer e, principalmente, do que Robyn precisava fazer. Ela tinha que avisar os outros do que suspeitava e… A presidente a beijou antes que pudesse completar o raciocínio e logo, a sua mente se perdeu no ato de arrancar as roupas e se entregar ao prazer. 

Ela lembraria do que veio fazer ali, mas não agora. Naquele momento, ela preferia se concentrar em corresponder única e exclusivamente a Robyn.

 


 

Yang percebeu que estava dissociando quando sentiu o cheiro de algo queimando. Seu corpo agiu antes que sua mente pudesse acompanhar. Imediatamente enfiando as mãos nas luvas, correu para frente do fogão e puxou-o aberto, suspirando aliviada ao ver que tinha reagido na hora certa. Alguns segundos de atraso e os seus pãezinhos teriam queimado. 

Felizmente, Yang conseguiu salvá-los. Tirou a bandeja do forno, colocando nas grades do fogão. Desligou tudo, puxou as luvas para fora das mãos e, finalmente, encostou-se de volta no balcão. Suspirando aliviada, o coração batendo mais rápido do que deveria por algo tão simples como pães queimando.  

Fazia tempo que não dissociava. Era um dos motivos para odiar tanto o silêncio ao seu redor. Quando deixava sua mente vagar, parava de prestar atenção nas coisas que aconteciam. Não fazia ideia do que a tirava desses momentos, mas quando o acontecia, Yang só tinha que agradecer. 

Respirando fundo, Yang empurrou a franja para trás, soltando e prendendo o cabelo mais uma vez. Estava na hora de voltar a ocupar a sua mente. Apanhou as luvas de pano mais uma vez, começando a separar os pãezinhos. Em alguns, pincelou a mistura de leite condensado, água e côco. Nos que sobraram, colocou queijo parmesão ralado. 

Sem pensar muito, virou com os pratos para sair da cozinha. 

- Essa é a primeira vez que eu escuto tanto barulho vindo da cozinha. - A voz de Blake a fez erguer os olhos dos pães para encontrar os dourados lhe observando da porta. Sua namorada tinha o corpo apoiado na entrada da cozinha, os braços cruzados e um olhar preocupado. Ela tinha o cabelo solto, caindo em uma linda bagunça sobre uma das camisas que tinha roubado da parte de Yang do guarda-roupa, que quase parecia um vestido nela graças ao short jeans minúsculo. - Normalmente o barulho é o de alguém com muita agilidade, sabendo que vai cozinhar algo incrível para nós duas. Agora, pareceu só que você ia queimar alguma coisa. Você é uma excelente cozinheira. Tem alguma coisa te incomodando. 

Não era uma pergunta e Yang sentiu seus lábios tremerem em um sorriso, mas não o fez, apenas suspirando e olhando para os pratos que tinha em mãos. 

Blake tinha voltado mais cedo para o apartamento, de acordo com ela, Weiss estava lhe dando folga para compensar o estresse que foi no dia anterior. Yang acreditava que sua amiga estava fazendo isso como uma forma de se desculpar por ter feito a Belladonna derrubar café em si mesma, mas duvidava que a herdeira fosse falar alguma coisa. No entanto, imaginava que Blake já soubesse disso. 

Ao voltar para casa naquele horário da tarde e encontrar a sua Bella sentada no sofá, com milhões de papéis ao seu redor, a fez sorrir e suspirar tranquilamente. Sua vida poderia ser uma bagunça, mas ver como Blake pertencia ali, no sofá do apartamento - que, por tantos anos, viveu sozinha - era exatamente o tipo de abraço que ela precisava. 

Então, passaram parte da tarde juntas. Yang tomou banho, decidiu que faria um lanche para as duas, Blake a provocou algumas vezes. Era a domesticidade que ela precisava depois de uma manhã agitada e estressante. 

Yang só não esperava que, ao sair de perto da Belladonna, sua mente ia começar a lhe pregar peças. O primeiro sinal, ela já tinha em mente, se sentiria desconectada com as coisas que fazia, seu olhar ia se perder em algo que estava se concentrando, logo em seguida, o silêncio ia lhe rodear. 

Não sabia se Blake já tinha lhe visto dessa forma. Sabia que Weiss sim, já que presenciou alguns e lhe acordou com um tapa na cara. Você precisa procurar ajuda. Weiss lhe dizia com frequência quando lhe encontrava dessa forma. Yang sabia que ela estava certa, mas não queria ter que ir atrás de alguém para conversar sobre os traumas na sua vida. 

- Algumas coisas. - Respondeu quando percebeu que estava em silêncio por tempo demais. Blake tinha o olhar suave, mais preocupado do que antes, mas cheio de amor, carinho e aceitação. Ela se aproximou, apanhando os pratos das mãos de Yang e acenando para que a acompanhasse. Enquanto iam para a sala, Yang continuou falando: - Estava tudo bem lá no MC hoje cedo, então Nora apareceu com uma mensagem da Neon e… 

Yang se interrompeu. Percebendo como a expressão de Blake fechou. Elas ainda não tinham falado sobre Neon e o que ela representou para Yang durante os oito anos que se passaram sem a Belladonna. Com toda a tensão que se instalou, Yang assistiu como Blake continuou agindo com tranquilidade, colocando os pratos em cima da mesa de centro, afastando os papéis do sofá e batendo nele para que ela sentasse.

- E então? - Blake acenou para ela continuar falando, apanhou um pãozinho salgado e mordeu. O clima tinha mudado, claramente, mas Yang não sentiu hostilidade ou intranquilidade, apenas algo que ainda não tinha sido conversado. Mas, Blake não parecia querer falar disso agora e, sim, sobre o que estava incomodando Yang. Ela soltou um ‘hmmm’ enquanto mastigava. - Esse deve ser o melhor que já fez. 

Fazendo o que ela lhe pediu, Yang sentou, apanhou um pãozinho salgado, virando-o entre os dedos, admirando o trabalho. Concordava com Blake, era o mais bonito que já fez, mas não sentia fome para comer um desses agora. O colocou de volta no prato e recostou no sofá. 

- Você com certeza conhece Roman Torchwick. - Yang olhou para Blake, recebendo um olhar preocupado e um aceno. Suspirando pesadamente, continuou: - Não sei se você sabe, mas Neon ajuda umas garotas a terem empregos, lhe dá um teto, salário digno. Ela dá para essas meninas tudo que precisam para continuar vivendo de forma honesta. Porém, é normal que algumas desviem desse caminho para irem atrás de mais dinheiro ou drogas. Não é sempre que acontece, mas quando acontece… normalmente a culpa é do Torchwick. 

- Torchwick pegou uma das garotas dela. Por isso que ela foi atrás de vocês? - Blake perguntou, esperta como sempre. Yang tentou não sorrir, mas o fez minimamente. Não virou para olhá-la, mas, com o canto do olho, a viu pegar mais um pãozinho. Doce, dessa vez. 

- Sim, ele fez isso. Nora e eu fizemos o reconhecimento hoje, antes do almoço. Fomos até o Never Miss a Beat, pegamos mais informações sobre a garota com Neon. Pelo jeito ela não era do tipo que iria tranquilamente com Torchwick. Então, partimos pro Umbrella. - Respirou pesadamente e deixou a cabeça cair no encosto do sofá, fechando os olhos com mais um suspiro. Estava cansada. Mentalmente cansada. Sentiu os dedos finos de Blake em seu ombro, apertando-o e indo até sua nuca, embrenhando os dedos nos fios loiros que escapavam do rabo de cavalo. Mesmo fechados, seus olhos pesaram mais com o carinho, continuou falando: - A ideia era que não deveríamos deixar que ocorra algo sério. Nem levamos armas. Queríamos só conversar e resolver tudo da forma mais limpa possível. Mas, claro, não tinha como Roman querer o mesmo que nós. 

- E o que acontece agora? - Blake perguntou, as unhas curtas arranhando seu couro cabeludo e a fazendo suspirar. 

- Acontece que eu não consegui evitar uma guerra idiota. Fui inocente demais por achar que as coisas poderiam ser resolvidas sem precisar fazer algum show na frente do Umbrella. A última coisa que eu queria era dar mais armas para Cinder Fall usar contra a gente… 

O silêncio preencheu o espaço entre elas. Yang não sabia mais o que falar, mas continuou sentindo o carinho da Belladonna, se questionando se acabaria cochilando em algum momento. Seu corpo não parecia querer relaxar, mas o carinho de Blake era entorpecente.  

- Bom, nós duas sabemos que você não vai deixar o Torchwick ter aquela garota. - Blake começou a falar, surpreendendo Yang, que abriu os olhos e virou a cabeça para olhá-la. O carinho na sua cabeça parou e a Belladonna não lhe encarava quando continuou a falar: - Sabe, Yang… às vezes, a gente pode se permitir usar a violência. Principalmente se isso significa que estaremos salvando outras pessoas. 

Yang sentou-se mais ereta, o rosto franzindo para o que acabou de escutar. De tudo que ela esperava ouvir de Blake… a VP puxou as pernas para cima do sofá, imitando a posição da Belladonna. 

- Eu sei disso, Blake. A gente vai fazer alguma coisa, mas consequências disso serão ridículas e… 

A Belladonna virou o rosto para ela. Os olhos dourados estavam ferozes, a mandíbula travada e os lábios pressionados em uma linha reta. 

- A gente lida com as consequências quando elas chegarem. Agora, você vai lidar com o fato de que um homem sequestrou uma garota inocente. Por mais que eu odeie saber que você vai estar arriscando a sua vida, por mais assustador que tudo isso seja… - Blake engoliu em seco, fechando os olhos por alguns rápidos segundos. Yang assistiu tudo com as sobrancelhas erguidas. Quando os olhos dourados encontraram os seus mais uma vez, ela sentiu um arrepio descendo pela sua espinha e se concentrando no meio de suas pernas, espalhando um calor que conhecia bem demais. - Eu não quero saber de você voltando pra casa sem me falar que a garota está bem. E você precisa sempre voltar para casa, pra mim, Xiao Long. 

Yang apenas sorriu com isso, seu coração parecia explodir de tanto amor por aquela mulher, e ela não se lembrava da última vez que um discurso de Blake a fizesse ficar tão… excitada. 

- Eu te amo. - Yang ofegou, olhando profundamente nos lindos olhos dourados. Blake piscou, confusa, mas soltou uma risada pela espontaneidade. 

- Que bom, porque eu também te amo. - E segurou o seu rosto, juntando seus lábios da forma mais casta possível. Yang até tentou aprofundar, se inclinando para enfiar os dedos nos fios negros, mas Blake se afastou com um olhar falsamente inocente. - Volte pra casa e a gente pode resolver umas… questões, que ficaram pendentes na noite passada. 

Rapidamente, Yang se pôs de pé e correu para o quarto, escutando a risada de Blake ecoando pela sala. 

Desde que decidiram ter esse relacionamento mais saudável, Yang sabia que Blake não queria estar sempre escutando sobre as coisas terríveis que aconteciam pelo MC. No entanto, Yang também sabia que era a Vice Presidente do Ravenscrow MC, e que essas ‘coisas terríveis’ iriam continuar acontecendo, mas ela também poderia fazer algo para evitá-las. 

Porém, nem sempre poderia evitá-las. Por isso, mesmo com o relacionamento comunicativo, Yang acabava por manter algumas coisas para si. Obviamente, causando o seu episódio dissociativo na cozinha - quase custando a vida dos seus belos pãezinhos. Se abrir para Blake sempre era a melhor opção e, depois de finalmente o fazer, se sentia mais leve e pronta.

Alguns minutos depois, Yang saiu do quarto colocando o coldre ao redor da cintura. Tinha tomado um longo banho para se refrescar depois do que tinha presenciado. Vestindo uma camiseta e moletom por cima, para esconder o volume do colete a prova de balas. 

- É quase um crime eu te deixar sair daqui com essas calças. - Yang parou o que fazia para erguer os olhos e olhar por cima do ombro. Blake estava sentada no sofá, o prato com o pãozinho doce no colo, os olhos dourados brilhavam com um tom mais escuro, mais pesado, enquanto ela analisava da cintura para baixo. - Por Deus, Yang… 

Ela não continuou a falar, mas Yang viu como ela mordeu o lábio, as bochechas avermelhadas. 

Oh. 

A calça que Yang usava era um jeans azul escuro, mas, diferente de muitas que ela usava, era um jeans mais apertado. Ressaltando os lugares certos nas suas pernas que, ela se orgulhava em falar, eram bem torneadas. Raramente usava jeans tão apertados, eles não eram bons no momento em que precisava de agilidade. No entanto, esses, especificamente, eram mais flexíveis. 

Yang soltou uma risada, parando de fechar o coldre para se apoiar na cadeira e virar para a Belladonna. 

- Então, eu tenho que voltar logo, né? Afinal, alguém vai precisar me ajudar a sair desses jeans. - Deu um tapinha na própria coxa e piscou para Blake, que revirou os olhos, mas sorria com as bochechas coradas. 

- Dependendo de mim, não vai nem precisar tirar eles…

Yang se engasgou com a saliva. 

Ia continuar provocando, mas uma batida na porta fez as duas travarem onde estavam. Blake se ergueu do sofá, lançando um olhar assustado na direção da namorada. Yang acenou na direção do quarto e Blake assentiu, correndo para dentro do quarto enquanto a VP puxava a glock do coldre que tinha acabado de colocar. 

Se ninguém informava que estava indo até o apartamento delas, o procedimento era quase sempre o mesmo. Blake não tinha ido se esconder, mas sim, pegar a própria pistola que tinha dentro da bolsa. Coisas demais aconteceram com as duas, não poderiam deixar outra pessoa acabar com a felicidade que tinham atualmente. 

Lentamente, tentou fazer com que seus passos fossem silenciosos, mas suas botas soavam como alarmes. Colocou uma mão na chave e encostou a testa na porta, tentando enxergar pelo olho mágico. 

O cabelo loiro claro e a postura tranquila de Robyn Hill lhe trouxe alívio e confusão. Antes mesmo de pensar no que fazer ou em avisar Blake antes de qualquer coisa, Yang apenas virou a chave, colocando a glock de volta no coldre, e abriu a porta. 

- Ei, soquinho! Nossa, isso é tudo pra mim? - Robyn tinha os olhos em Yang e na forma como ela estava totalmente pronta para sair em uma das tarefas do MC, mas logo os olhos arroxeados foram para cima do ombro dela e se arregalaram. Rapidamente a caçadora ergueu as mãos em rendição, todo o humor desaparecendo. - Gente, calma! Eu só vim… 

Yang olhou por cima do ombro e viu que Blake apontava a sua pistola para Robyn, mas logo revirou os olhos e guardou no cós da calça de moletom que colocou no meio tempo. 

- O que veio fazer aqui? - Yang perguntou, mas abriu espaço para que Robyn entrasse no apartamento, fechando atrás dela. - De qualquer forma, preciso sair daqui a pouco, então preciso que seja rápida ou…

- Na verdade, segura aí, soquinho. - Yang parou de falar, confusa. Robyn virou para ela, enfiando as mãos nos bolsos. Os olhos roxos foram para Blake, que estava em pé, de braços cruzados, com a expressão dura e de cabelos presos. - Não é com você que eu preciso conversar. 

Yang ergueu as sobrancelhas, surpresa, e lançou um olhar para a Belladonna. Blake tinha uma expressão parecida com a sua. 

- Como assim? - Foi Yang que perguntou, os olhos ainda em Blake antes de piscarem de volta para Robyn, que sorriu para a VP. 

A postura tranquila retornou, afinal, não existiam mais armas apontando para ela. Era até estranho ver Robyn tão tranquila, mesmo sem usar o colete das Huntresses. Ela parecia confiante e inabalável. Saber que ela estava transando com Winter Schnee era engraçado e, ao mesmo tempo, impressionante. Por isso, Yang entendia o porquê dela se sentir tão confiante, mas não deixava de ser irritante. 

- Fica tranquila, soquinho. Não é como se eu fosse fazer alguma coisa com a sua garota. Achei que confiasse em mim? - Tinha brincadeira e deboche na voz dela. Queria trazer a leveza para o que acontecia ali. Yang entendeu e sorriu para Robyn.

- Ah, Hill. Não é de você que eu tenho medo. E sim, por você. - Olhou para Blake, que tinha um pequeno sorriso no canto dos lábios. Robyn franziu o rosto, mas soltou uma risada baixa, concordando com Yang. - Vai ficar tudo bem? 

- Sim, Yang, eu já disse que…!

- Não é com você que eu tô falando, Hill. - Yang nem olhou para Robyn ao cortá-la, seus olhos estavam firmes em Blake. - Eu posso atrasar um pouco se… 

- Não. - Blake lhe interrompeu, erguendo a mão para impedi-la de continuar falando. Yang assistiu um sorriso tomar conta dos lábios dela, era suave e cheio de garantias. - Vai ficar tudo bem aqui. Você tem um assunto para resolver. Só… Yang? Não esqueça de voltar pra mim. 

Yang sentiu o rosto esquentando sob o olhar atento de Robyn Hill. Lançou um olhar de canto, vendo como a caçadora tinha um sorriso nos lábios, mas não olhava de volta, tinha o olhar para as próprias botas, se balançando nos calcanhares. Assentiu para Blake, sentindo o rosto esquentar mais ainda. 

Deu alguns passos para trás, checando se tinha tudo que precisava. Apanhou as chaves e o capacete, se firmando antes de abrir a porta novamente. 

- Se comporte, Hill. - Yang ordenou, parando do lado de fora do apartamento. - Ou eu vou ter que me justificar pra Winter sobre o porquê do seu desaparecimento. 

Ela brincava, mas não totalmente. Se algo acontecesse com Blake enquanto ela tinha sido deixada com Robyn, Yang poderia virar a caçadora fácil, fácil. 

- Fica tranquila, soquinho. Sua garota é melhor do que nós duas no gatilho. - E piscou para Yang, que riu, concordando. 

Ela sairia, resolveria o que precisava resolver, e voltaria para Blake, como prometeu que faria. 

 

 

Blake sempre se orgulhou de ser perceptiva, apesar de ter se deixado levar pelo que Adam criou para conquistá-la. Poucas foram as vezes em que foi enganada ou que não desconfiou de alguém mesmo sem motivo, Weiss e Yang poderiam achar que ela era paranóica ou, se tratando de mulheres, ciumenta demais… Mas, Blake quase sempre estava certa e tudo que aconteceu em sua vida apenas deu mais motivos para que ela desconfiasse de tudo e de todos. 

Por isso, era surpreendente que não conseguisse sentir desconfiança quando olhava para Robyn Hill que tentava, de forma miserável, parecer distraída pelo apartamento a ponto de não olhá-la nos olhos. Existia desconforto, mas a presidente do Huntresses MC não parecia querer sair dali. 

— Sabe, em todos os meus anos de clube, eu jamais pensei que conheceria a famosa Blake Belladonna pessoalmente… — O tom de voz era leve, mas Blake viu os olhos arroxeados procurando-a com cuidado, em busca de algum sinal de incômodo ou de que havia passado do limite. A assessora cruzou os braços e se manteve em pé, antes de passar por Robyn e acenar para que ela se sentasse. A presidente suspirou e se jogou no sofá, enquanto Blake se acomodava na poltrona ao lado. — Você é famosa… Já era quando foi embora e agora, provocou uma mudança na cidade que ninguém esperava.

O olhar dourado focou em Robyn, enxergando apenas sinceridade no que foi dito. Ainda assim, Blake não sabia se eram elogios ou, apenas, constatações. De qualquer forma, parecia que aquilo era realmente o que a caçadora queria dizer e de fato, não deixava de ser mentira. Ela realmente provocou mais mudanças do que gostaria desde que voltou a Vale, isso a fez lembrar-se do parque, de Adam, do disparo… Mas também a fez recordar Weiss, Winter, Willow, as eleições… Aparentemente, nada em Vale vinha separado da violência, nem mesmo a alegria. Blake pigarreou, cruzou as pernas e se encostou no estofado, respondendo com um sorrisinho sarcástico:

— Ah claro, eu imaginei que tinha escutado sobre mim quando nos encontramos na feira de caridade… E quanto às mudanças, Yang já deve ter comentado que eu não sou uma pessoa fácil de lidar quando contrariada.

A risada cheia de Robyn preencheu o apartamento silencioso e Blake se conteve em não rir com ela. Claro, ela ainda pensava na menor possibilidade do Huntresses MC estar envolvido no acidente de seu pai, porém, aquilo parecia algo tão pequeno depois de tudo que viu próxima ao Ravenscrow MC e também, do que leu no diário… Ah, o diário. Tantas coisas aconteceram e ela se esqueceu momentaneamente das memórias de seu pai. Se as encontrasse, aquilo a ajudaria a seguir em frente com as suas investigações e, também, diminuiria toda a amargura que sentia agora. 

Ela precisava, em algum momento, se concentrar naquilo. E era irônico que tentasse, a todo custo, defender o Ravenscrow MC quando, posteriormente, poderia destruí-lo com o que descobrisse na investigação da morte de seu pai. Aquelas coisas não divergiam, ambas faziam parte de sua vida e também, de Yang. E elas lidariam com a podridão dos corvos mesmo que, agora, lutassem pela sobrevivência deles. 

— Eu me desculpo pelo dia da feira, apesar de não ter mentido. E Yang nunca comentou, mas nem precisa, né? Só olhar para vocês duas e já dá para saber quem colocou a coleira em quem. — Robyn falou entre risadas e isso fez Blake sorrir pequeno, não era a primeira pessoa que fazia aquele tipo de comentário e a assessora começava a acreditar que, de fato, tinha a VP dos corvos na palma de suas mãos. Era um sentimento bom, afrodisíaco, na realidade. — E diria que vocês duas têm sorte. Porque a Soquinho ficou bem demais naquela calça.

Agora, Blake gargalhou e agitou a cabeça de forma negativa enquanto escutava Robyn rir dentro do apartamento. Aquilo que acontecia era uma evidência clara de como a sua vida mudou desde que voltou a Vale. Jamais imaginou que sentaria na mesma sala com uma caçadora e que sorriria com ela sem se sentir angustiada pela lembrança do pai. Em meio a tantos momentos complicados, a tantas descobertas dolorosas, era bom ser surpreendida daquela forma.

Por algum motivo, era como se compensasse tudo que passou para chegar até ali. Ainda não estava curada, ainda existiam feridas abertas que deveria fechar, mas era um alívio saber que o que não fazia sentido ainda tinha a capacidade de mantê-la acreditando nas coisas que faziam sentido e doíam por isso. Blake pensou em Raven, na forma como a matriarca não tremeu ao ameaçá-la mais de uma vez. Robyn poderia fazer o mesmo, mas estava ali, fazendo-a rir depois de ter ajudado Yang a salvar a sua vida. Elas não tocaram no assunto Adam, mas existia um silencioso entendimento de que aquele homem marcou a vida de ambas. 

E Blake tinha a impressão de que Robyn não agiria muito diferente de Yang, ainda mais observando-a de longe com Winter. Tanto a VP dos corvos como a presidente dos caçadores eram protetoras por natureza, elas jamais desistiriam enquanto não vissem quem amavam seguros. Isso as fazia colocar o coração além da razão e era o que, ao mesmo tempo, as torna frágeis e, também, poderosas. Elas eram como canhões de vidro, extremamente fortes, mas facilmente quebráveis se atingidas no lugar correto.

— Ok, Hill… Mas eu imagino que não veio até aqui para jogar conversa fora comigo, não é? — Blake comentou de forma gentil, quando as risadas morreram e parecia que ambas teriam mais um silêncio contemplativo entre elas. Robyn ainda sorria quando ergueu os olhos e apoiou os cotovelos nos joelhos. Porém, a preocupação endureceu as feições dela e ela respondeu calmamente:

— Eu acho que Winter me mataria por ainda estar falando com você sem abordar o assunto que ela me confiou, então… Ela tá desconfiada da promotora vadia, acha que tá sendo monitorada. E me pediu para dizer que vai sair da cidade por causa de uma pista. Ela formou uma teoria enquanto a gente estava… Junto. 

O trecho final da fala dela foi praticamente sussurrado e Blake precisou conter a risada apesar da seriedade do assunto abordado. O que foi complicado, porque Robyn corou brevemente ao mencionar a Schnee mais velha e Blake sentiu a expressão amenizar. Era bom saber que Winter também encontrou alguém naquele mundo violento que queria tirar tudo dela. Mas, passado isso, ela sentiu um calafrio percorrer o corpo. 

Cinder ainda estava no encalço de Winter e parecia querer fechar o cerco, exatamente como as duas imaginaram que fosse acontecer. E agora, ela estava sozinha e fora de Vale? Isso a tornava um alvo fácil para uma ameaça de Cinder que não envolvesse a lei. Blake engoliu em seco, sentindo o coração apertar e o pânico tomar conta do seu corpo. Distante, ela escutou Robyn se mexer no sofá e se inclinar para perto, Blake ofegou e chacoalhou a cabeça, perguntando exasperada:

— Ela disse para onde ia? O que a motivou a fazer isso…? O que eu posso fazer para ela…?

— Hey, calma, Belladonna… Não precisa surtar. — Robyn a assegurou com as mãos erguidas, como se questionasse se podia tocá-la. Inconsciente, Blake acenou e as mãos calejadas da presidente envolveram as suas em seu colo. Robyn era tão ou mais alta do que Yang, então, era fácil para ela oferecer conforto. Ela massageou a tensão nas mãos da assessora e tinha um sorriso no rosto quando Blake a olhou de novo. — Winter tá seguindo a pista de um assassino de aluguel, Tyrian Callows, que foi visto em Vytal. Ela já tava na cola dele por causa da recompensa, mas o meu informante do FBI disse que Cinder destacou uma equipe para lá. Winter acha que ela pode ter interesse no trabalho dele e se isso for comprovado, aí a gente começa a se preocupar…

— Você ainda não está preocupada? — Blake perguntou surpresa porque, por mais que assegurasse Yang antes de ela sair, ela mesma estava à beira de um ataque de nervos sabendo que a sua mulher provavelmente teria que se defender de um psicopata dali a algumas horas. Como Robyn conseguia ter tanta calma a ponto de consolá-la? E como se tivesse escutado a sua pergunta, a presidente continuou a sorrir e disse gentilmente:

— Eu tô, mas sei que Winter se garante sozinha e também sei que nada pode mantê-la longe de Vale por muito tempo. Ela vai voltar porque tem que voltar… Assim como Soquinho, a Soldadinha que tava presa… Você.

Os olhos dourados lacrimejaram e olharam inquietos para Robyn. Porém, parecia que nada era capaz de abalar a esperança e a crença daquela mulher. Blake suspirou e tentou absorver aquelas palavras, tentou encontrar um pouco de otimismo para o que, com certeza, iriam enfrentar. Ela disfarçava o seu pessimismo com planejamentos e estratégias e deveria ter voltado a acreditar mais nas pessoas. Porque agora, mais do que nunca, eles precisam do que os unem e não somente de estratégias de guerra. 

Blake sabia que Yang voltaria para ela sempre que pudesse, porque tudo ficava pior quando elas estavam separadas enquanto Pyrrha voltaria para Weiss porque era a constância que jamais se rompeu na vida da herdeira. Ela não sabia o que faria Winter voltar para Robyn, mas a forma como elas se olhavam era o suficiente para saber que elas não se separariam tão cedo… E Blake? Por que ela voltou para Vale? A primeira resposta era Yang, porém, ela desconfiava que existia mais naquilo. Não era somente a pessoa que a VP do Ravenscrow MC era que a fez voltar como, também, o que ela significava.

Yang era o seu sol que iluminava as suas sombras, sem desaparecer com elas e sim, contornando-as para que elas ficassem definidas e não atrapalhassem as partes de si que brilhavam. Era o lar que ela reencontrou depois de passar por tantas casas e abraços que não continham metade da gentileza e do carinho que aqueles braços musculosos tinham e que aquele apartamento possuía quando Yang estava em casa, preparando o almoço ou apenas se exercitando na sala. Também era o seu alívio, o que a fazia deixar de lado o seu cinismo pessimista para acreditar no pouco que havia de bom no mundo porque Yang incorporava isso da forma mais brilhante que poderia existir. 

Blake voltou pela segurança, pela paz, pela felicidade, pelo amor… Blake voltou porque Vale era sua casa e Yang, o seu lar. E isso não mudou em 8 anos e não mudaria dali para frente, não depois que o sangue correu entre elas e elas o pararam para continuarem vivas e felizes. Existia maior prova de amor do que a violência que inspirava para protegê-lo? 

Ela foi envolvida por uma súbita onda de emoção e seu corpo tremeu, ela sentiu as lágrimas escorrerem, motivadas pelo medo por Winter, por Yang, por Weiss, por Pyrrha… Por todos que conviviam com aquela violência e que estavam prestes a entrar em guerra por causa dela. Blake sabia que precisava ser forte, que precisava do seu cinismo de volta, mas não naquele instante. Ali, na frente de Robyn Hill (pelos deuses!), ela precisava fraquejar e deixar que a sua insegurança escorresse pelo seu rosto. Ela soltou as mãos para levá-las aos olhos, mas antes que o fizesse, sentiu que Robyn se encarregava de consolá-la e sussurrar insegura:

— Não torne minha vida mais complicada, Belladonna. Se a Pavio Curto da sua mulher descobrir que você chorou perto de mim, ela corta meus dedos e a minha língua. E aí, a Winter vai matar a sua mulher e a guerra estoura em Vale antes do esperado…

A intenção de Robyn era fazê-la rir e assim ela conseguiu. Blake riu entre as lágrimas e logo escutou a presidente fazer o mesmo. Era engraçado como ela fez a mesma piada em relação a Weiss e em como Robyn falava de Winter sem a necessidade de estardalhaço. Até nisso, as irmãs Schnees divergiam. Blake deixou que Robyn limpasse o seu rosto e suspirou, depois, os olhos arroxeados a observaram por mais alguns segundos para verificarem se estava tudo certo e por fim, Robyn se levantou.

— Você não quer ficar um pouco? Yang fez alguns pãezinhos e ela se orgulha demais das capacidades culinárias dela, então… — Blake se viu oferecendo sem perceber e isso, talvez, fosse resultado da impressão que adquiriu de Robyn Hill. A presidente era uma boa pessoa, alguém que valia a pena ter por perto. A caçadora deu um tapinha de leve no joelho dela e acenou negativamente rumo à porta. Blake encolheu os ombros e a acompanhou, mas quando estava prestes a abrir, Robyn pigarrou e se virou para ela.

Agora, existia um sentimento pesaroso nos olhos arroxeados. Também existia algo que tencionava a postura relaxada de Robyn e a fazia colocar as mãos nos bolsos da calça jeans. A caçadora parecia querer fugir daquela caça, mas corajosa, respirou fundo e disse:

— Eu sinto muito pelo seu pai. Eu ainda era uma prospect quando aconteceu, mas… Eu só sinto muito, Blake. Não tem como eu saber se meu MC esteve envolvido nisso, mas eu tenho quase certeza que não.

— Você não precisava dizer isso, aconteceu há muito tempo e… Foram outras pessoas, não? — As palavras saíram mais honestas do que Blake imaginou. Talvez, porque o seu olhar pairasse exclusivamente no Ravenscrow MC e na corrupção que, provavelmente, tirou o seu pai de si. Talvez, nem considerasse mais a hipótese do MC adversário ter alguma relação com aquilo. Realmente, um longo caminho foi percorrido. Robyn agitou a cabeça e disse resoluta:

— Bem, é a coisa certa a se dizer. Eu sinto muito, Blake… Por tudo.

Blake acenou porque aquelas palavras tão simples voltaram a transbordar a emoção dentro dela. Ela esperava resolução quanto ao que ocorreu com o pai, mas aquilo era um consolo que ela não esperou durante todos aqueles anos. Robyn, ainda sem graça, aproximou-se dela e a abraçou brevemente antes de se afastar, girar a chave na fechadura e sair do apartamento.

Quando a porta se fechou e Blake se viu novamente sozinha no apartamento silencioso, ela sentiu parte do peso da perda do pai desaparecer no ar. Contudo, a amargura também se manifestou quando ela se lembrou do diário que sumiu misteriosamente. Durante todo aquele tempo, ela pensou que estivesse com Adam, mas se isso fosse verdade, Cinder provavelmente já teria acesso ao material.

Será que entendeu as coisas de forma errada durante todo aquele tempo? Isso reforçava o que vinha pensando, de que o próprio Ravenscrow MC pudesse ter interesse nos segredos manchados de sangue que foram deixados no passado. 

E como Robyn disse, existiam coisas certas… E descobrir a verdade era uma delas. 

Quando tudo aquilo acabasse, Blake daria voz às suas perguntas e conseguiria as respostas, mesmo que morresse tentando.

 

 

Yang sabia que Pyrrha não estava feliz com o fato de que teria que ficar para trás. Tentou fingir que estava tudo bem, mas a VP conseguia ver que estava mentindo. Pyrrha era uma terrível mentirosa. Excelente em desviar assuntos, mas não conseguia mentir para salvar a própria vida e, honestamente, Yang achava que era adorável vê-la tentar. 

Com esse pensamento, ela subiu na própria Dyna, sentindo o motor roncando abaixo de si, e manobrou a moto para sair do enorme estacionamento da oficina. O coração martelando contra as costelas, o estômago se revirando de ansiedade, mas a adrenalina pulsando nas veias. Atrás de si, seguia um pequeno exército que Nora e ela conseguiram montar em poucas horas. No entanto, apesar de pequeno, Yang sabia que James Ironwood lhe seguia com a sua própria Harley, armado com dois revólveres presos de cada lado do coldre de cintura. Um preto e outro branco, ambos ornamentados com ilustrações vitorianas. 

Due Process, era o nome que dava para suas armas. Ela sabia pouco da história dessas armas, mas pelo que Qrow já lhe mencionou, elas foram sua companheira por grande parte da guerra de Mantle. E foi com essas armas que Qrow, Taiyang e Ghira o encontraram, salvando-o de uma emboscada feita pelo próprio exército. Uma traição que poderia cair nos livros de história, se não tivesse sido tão bem arquitetada ao ponto de quase ninguém, além dos que presenciaram, sabe o que aconteceu. 

Enquanto manobrava sua moto pelas ruas de Vale, sendo mais uma Harley cortando caminho e acendendo as ruas escurecidas pelo anoitecer, Yang sentiu Ironwood pegar velocidade e diminuir quando começou a se aproximar da sua Dyna. Um sinal claro de tentar manter uma comunicação, mas Yang não virou a cabeça para olhá-lo. 

Ele tinha um plano próprio, Yang sabia, mesmo sem ter ficado para escutar. Iria ignorá-lo o máximo que podia. Não daria corda para um plano que só geraria mais violência em uma cidade como Vale. Os cidadãos não mereciam isso, o próprio MC não merecia esse holofote, não quando ela mesma sabia o quanto isso custaria com os olhos de Cinder Fall sobre eles. 

O MC, apesar de andarem juntos, não vestiam coletes naquela noite. Estavam armados até os dentes, mas vestiam roupas escuras. Roupas que foram essenciais quando entraram na parte baixa da cidade, adentrando ruas mais apertadas, menos iluminadas, mais vazias. Fizeram questão de desligar os faróis, diminuindo a velocidade para que o escapamento não fizesse tanto barulho e atraísse atenção. O objetivo era se camuflar mais e mais, ao ponto de esquecerem da presença do MC. 

Estavam cada vez mais próximos do Umbrella e, já com a intenção de anunciar sua chegada, Yang acendeu o farol da sua Dyna, sendo seguida por aqueles que estavam mais próximos. Olhando de canto, viu Nora fazer o mesmo, se inclinando para frente e ficando lado a lado com a sua Harley. Ironwood, Yang percebeu, tinha ficado mais para trás. No entanto, lhe surpreendendo, ele tinha ligado os faróis junto com ela, sendo seguido pelo restante dos membros que o seguiam. 

Esse era um plano que ela tinha passado assim que anunciou o que queria fazer. Seriam intimidantes. Tinham o objetivo de mostrar o poder que o Ravenscrow MC tinha sobre Vale, mas tentar, ao máximo, não fazer o uso da violência. 

Mesmo depois das coisas que Blake lhe disse mais cedo, era arriscado demais. 

- Vamos ver até onde isso é uma boa ideia, VP. - Ironwood contrariou quando ela terminou de contar o que planejava, batucando os dedos na mesa de madeira. Ele falava da mesma maneira que o fazia para diminuir e invalidar suas ideias. Yang pensou se deveria só dar as costas, tinha lançado sua ideia, alguns concordaram, mas outros ficaram com o Presidente. 

Por isso, ficou surpresa quando o viu seguindo sua ideia, concordando, mesmo que horas depois, com algo que ela tinha proposto demonstrando sua preocupação. Talvez, em algum lugar naquele coração de aço, houvesse alguém com alguma noção do que estava em jogo. 

Yang não arriscaria um tiroteio quando podia arruinar a vida de uma garota que não pediu para estar naquela situação. 

Pararam as Harleys na formação que Yang tinha proposto horas atrás. Todos apontando as frentes para a entrada do Umbrella. Não precisavam buzinar, nem fazer mais barulho. As várias luzes eram pressão o suficiente. 

O corpo de Yang estava tenso, tinha tirado o capacete assim que parou a moto, buscando atrair os olhares do interior para ela. Se Roman quisesse negociar, aceitar o que ela iria, mais uma vez, exigir, então ele o faria com ela. Olhando nos olhos dela. Olhos esses que ele sempre fez questão de mencionar em suas conversas anteriores. 

O letreiro rosado estava apagado, assim como todas as luzes do ambiente. Foram vários minutos de tensão. Enquanto Yang sentia a própria glock apertando contra o lado de fora da sua coxa, a VP temeu que tivessem chegado no momento errado. Sabia pouco das coisas que poderiam acontecer naquele clube. 

E se tivessem chegado tarde demais?

O que Roman seria capaz de fazer com uma garota que estava com ele a contragosto? 

Apertando os dentes, Yang sentiu o corpo tencionando ainda mais. Seu estômago se revirava com força. Estava prestes a ficar irracional e puxar a glock do coldre. Apertava os dedos com força contra o guidom da moto e o suor descia frio por suas costas. 

No minuto seguinte, a porta dupla do Umbrella se mexeu. Não inteiramente, mas o suficiente para uma mão aparecer pela fresta. Uma mão pálida segurando uma shotgun pelo barril, bastante longe do gatilho. Um pedido de rendição. Não precisava de muito para adivinhar quem era, a manga alaranjada no pulso o entregou, mesmo que ele não estivesse tentando se esconder. 

Yang tirou a glock do coldre, mas não puxou na direção dele, não tinha intenção de mirar. Era apenas para lhe dar agilidade, caso Roman decidisse que viraria aquela shotgun na direção deles. Enquanto o fazia, sentiu o olhar de Nora nela, assentindo, totalmente de acordo, puxando o bastão das costas. 

Era ótimo ter alguém que sabia o que ela tinha em mente. 

- Não precisa de show! Está tudo bem. Calma, calma, gralhinhas. - A voz de Torchwick ecoou pelo ronco baixo das Harleys. Mesmo com o barulho, dava para sentir a ironia pingando em cada palavra. - Já saquei o que vocês querem. Não precisa causar nenhum problema desnecessário. 

Idiota. Usando as palavras de Yang contra ela. 

Yang ergueu a mão que não segurava a glock, um pedido silencioso para que todos relaxassem. Não fazia ideia do resultado, mas levantou da moto, ainda com a glock em mãos. Andou pelo asfalto, subindo na calçada. As luzes das Harleys a pegava por trás, esquentando suas costas e criando uma aura quase etérea ao redor dela. 

- Não precisou de muito, Roman. Achei que tentaria mais. Qual é a pegadinha da vez? - A voz de Yang não entregava o quão tensa se sentia. Sabia se fingir quando precisava. Sorria, fingindo que não sentia todos os seus órgãos se apertando de ansiedade por dentro do seu corpo. 

Sabia o quanto tudo podia dar errado. Não confiar em todos que lhe seguiam era uma sensação que lhe deixava na beira de um precipício. Se alguém resolvesse puxar a arma e atirar em Torchwick, se iniciaria uma guerra. Guerra essa que, sem dúvidas, Yang sabia que viria de Neopolitan. 

A porta se abriu inteiramente e Yang tentou olhar por cima do ombro de Torchwick, mas só encontrou a escuridão e isso a frustrou. Sabendo o que ela queria, Roman sorria para ela, aquele mesmo sorriso doentio que lhe indicava o quão falso ele estava sendo. Antes que pudesse tentar olhar mais uma vez, o mafioso só fechou a porta atrás de si, a shotgun ainda em uma mão, mas nada firme. 

- Sabe, Xiao Long… eu só pensei melhor! Não vale a pena começar uma guerra por causa de uma garota que… - Ele fez uma careta e se inclinou na direção dela, como se quisesse contar um segredo. Yang quis socá-lo, mais uma vez. Não conseguiria contar em mãos a quantidade de vezes que teve vontade de quebrar os dentes brancos de Roman Torchwick. - Aqui entre nós, não parece ser boa em nada. Ela só faz chorar e chorar! Ninguém quer levar uma garota assim para a cama. Bom, a não ser que esse seja o seu tipo, Yang. Nós dois sabemos como as coisas já foram antes… Afinal, minhas garotas sentem falta de você, sabe? 

Apertou os dedos com tanta força ao redor do punho da glock que, por um segundo curto, se imaginou subindo a mão e apertando o gatilho. Roman Torchwick amava trazer o passado à tona e Yang amava a ideia de matá-lo sempre que o fazia. 

Sabendo o que fez, Roman sorriu mais uma vez para ela, o mesmo sorriso que ela conhecia bem. Era o sorriso de alguém que sabia mais do que ela. O vendo mais uma vez, Yang começava a acreditar que, talvez, esse sorriso fosse honesto. 

Após isso, Roman abriu a porta mais uma vez e, graças ao interior escuro, Yang se assustou quando uma garota saiu pela porta. Magra, cabelos curtos em um vermelho vivo, olhos verdes claros, quase amarelados. A garota tremia, mesmo suando profusamente dentro de roupas pequenas demais. Os olhos estavam manchados, assim como as bochechas, que lidavam com as lágrimas que caíam intensamente. As feições não eram nada familiar, certamente era alguém de fora da cidade, alguém que Neon ajudou imensamente ao oferecer um teto e um emprego digno. 

E agora, Neon ajudaria aquela garota a lidar com o trauma que acabou de passar nas mãos de Roman Torchwick e seus capangas. 

Apertando a glock no punho mais uma vez, Yang a guardou de volta no coldre, olhos lilases fixos nos de Roman, que revirou os olhos para a garota. Em algum momento, Shani - Yang lembrou - tropeça no salto alto que ela, claramente, não sabia usar. A VP a segurou pelo braço suavemente, o que a obrigou a tirar os olhos de Torchwick. 

- Depois não diga que nunca fiz nada por você. Foi ótimo ver seus lindos olhos mais uma vez, Yang. Espero que não seja a última, é sempre tãããão bom te ver! - Foi a última coisa que escutou ele falar quando a porta se fechou. 

 

Duas horas depois, Yang ainda estava confusa pelo que aconteceu. Seu corpo tremia levemente, a adrenalina correndo pelas veias, lhe mostrando o quão ansiosa e tensa ela estava com tudo. A quantidade de coisas que poderiam dar errado. A VP não conseguia parar de listar para si mesma. No entanto, tudo foi melhor do que ela imaginava. 

Tinha acabado de levar Shani ao Never Miss a Beat. Shani correu para os braços de Neon, muito maior do que a empresária, mesmo com os enormes saltos que usava. Yang assistiu tudo de cima da moto, recebendo um olhar choroso e agradecido de Neon. Shani não olhou para trás quando Neon a guiou para dentro do clube. Yang pensou em ir embora, mas queria garantir que a porta se fecharia atrás das duas. 

Com um olhar atento, ordenou que reforçassem a segurança no clube. Os membros que tinham ficado, garantiram que o fariam. Entre eles, Nora garantiu que ficaria para passar a noite. Ela tinha energia e Yang sabia que era a mesma adrenalina que corria nas veias de ambas. 

Tudo poderia ter dado errado… mas não deu. 

Yang estava com a boca seca enquanto guiava a sua Dyna por entre as ruas de Vale, total intenção de voltar para o apartamento e falar para Blake o que tinha acontecido. Seu coração batia alto nos ouvidos enquanto sentia o vento frio daquela noite quente. Ainda suava debaixo da quantidade de roupas que vestia, mas se sentia mais leve. 

Acelerou ao máximo. Queria chegar na sua casa, queria receber Blake nos braços. As ruas vazias daquela madrugada não iriam se incomodar se ela passasse dos limites de velocidade. 

- Yang? - Foi a primeira coisa que escutou quando abriu a porta do apartamento. Sorrindo internamente para si mesma, Yang não levantou os olhos para a Belladonna sentada no sofá. Sentiu o peso dos olhos dourados nela, mas continuou fazendo o que sempre fazia quando voltava após alguma tarefa do MC. Puxou o moletom preto para fora do corpo, colocando-o em cima de alguma cadeira da mesa de jantar, seguido do colete a prova de balas. - Yang? Está tudo bem? Não vai me dizer que… 

Ela não terminou de falar, a voz ficando tensa. Yang teve que apertar a mandíbula para não soltar uma risada e botar a perder os planos que se formaram enquanto vinha para casa. Por isso, focou em tirar o coldre da cintura, puxando-o pelas pernas e colocando em cima do moletom, travando a glock logo em seguida. 

Respirando profundamente, Yang levou as mãos até os cabelos loiros, ainda sentindo o peso do olhar preocupado de Blake. Apertou o rabo de cavalo, virando os olhos para a Belladonna preocupada no sofá. Exatamente onde a tinha deixado quando saiu do apartamento, sabendo que ela estaria com Robyn por um tempo. 

- Como foi com a Robyn? - Perguntou, mantendo a frieza no tom de voz. Por dentro, estava rindo e sentindo as veias quentes com tamanho desejo que sentia pela mulher sentada ali. Já Blake, puxou as pernas para mais perto, o olhar preocupado se intensificando. 

- A gente pode falar sobre isso depois. - Blake se levantou rapidamente do sofá, não chegou a se aproximar de Yang, mas deu alguns passos curtos, parando no meio da sala. A luz da TV era a única coisa que iluminava todo o ambiente. Yang sentiu o lábio tremendo com a vontade de sorrir. E, perceptiva como sempre, Blake percebeu. Revirando os olhos dramaticamente, Blake virou de costas para ela. - Você é uma ridícula quando quer, sabia? Eu já estava aqui pensando nas possibilidades de algo muito sério ter acontecido, alguma perda no MC, alguma coisa que deixasse você bem triste e se sentindo culpada. 

Antes que ela continuasse falando, Yang deu passos longos até ela, enfiando os dedos nos fios negros e virando seu corpo para puxá-la para um beijo. 

Desde antes de sair do apartamento, Yang pensava no momento em que poderia fazer isso. Seu sangue estava quente, tanto pela adrenalina das coisas que tinham acontecido, quanto pelo desejo que sentia pela mulher em seus braços. Sua mente não registrava nada corretamente a partir do momento em que colocou suas mãos na Belladonna.

- Yang… - Blake ofegou contra seus lábios, correspondendo seu beijo, enfiando os dedos nos fios loiros e ficando na ponta dos pés. Yang riu nos lábios dela, uma risada baixa e obscura. Ideias correndo pela sua mente nada racional no momento. O cheiro do perfume de uva lhe inundou, assim como o sabor do chá de amora pintou a sua língua enquanto aprofundava mais e mais o beijo que trocavam. 

Levantou Blake pelas pernas, apertando suas coxas com os dedos e a pressionando com força contra a parede que dava para o corredor do apartamento. As mãos de Blake torciam seu cabelo, puxando-a para cada vez mais perto. Yang sentia o estômago se revirando da forma mais deliciosa possível.

Sem avisar, soltou as pernas da assessora e a pressionou na parede para impedi-la de desmontar sobre suas próprias pernas. Confusa, Blake afastou-se do beijo, mas Yang não estava racional. Ela tinha ideias em mente e as colocaria em prática. Começou por ficar de joelhos na frente da sua namorada, erguendo os olhos para encontrar os dourados. 

- Eu te fiz uma promessa. - Sua voz era profunda, rouca, arrastada e pesada de desejo. Os olhos dourados escureceram e Blake jogou a cabeça para trás, ofegante, seus dedos torcendo os fios loiros com mais força, trazendo o rosto de Yang para mais próximo de onde ela precisava. 

E Yang? Bem, ela nunca foi de negar o desejo de Blake Belladonna. 

A calça de moletom de Blake foi o primeiro item a ser descartado. A calcinha seguiu sem reclamações. Em menos de segundos, Yang puxou uma das pernas da Belladonna para cima do seu ombro, rindo e mordiscando as coxas úmidas, preparando-a para o que estava por vir. 

Yang sempre foi muito dedicada nas coisas que fazia. Principalmente quando se tratava de Blake. Ela fazia questão de se provar, tanto para a Belladonna quanto para si mesma, o quanto ela conseguia fazer para deixá-la completamente entregue a si. E ah, ela fazia. 

Em momentos como esse, o corpo de Blake se movia como uma orquestra e lhe obedecia como se Yang fosse sua maestra. E, com toda a honestidade, ela sabia que era. Era viciada pela forma que Blake respondia aos seus toques, viciada pelas reações, pelos sons, pelos sabores. 

Ela era viciada na sua Bella. 

Enquanto o corpo de Blake tremia após um orgasmo intenso, Yang subia lentamente, beijando-a por todo o caminho, até ficar inteiramente de pé. As mãos da Belladonna se prenderam na sua bunda, ficando ali enquanto Yang beijava sua mandíbula, esperando que ela se acalmasse após a intensidade do que seu corpo passou. 

- O que eu fiz para merecer isso? - A voz de Blake quase não saiu. Era baixa, ofegante, risonha. Yang riu contra seu queixo, tocando sua mandíbula com ambas as mãos, erguendo-a para que lhe desse espaço para explorar seu pescoço. 

Sentiu a Belladonna ofegar, as mãos apertando sua bunda, enfiando os dedos nos bolsos do seu jeans. Yang riu mais um pouco, enfiando os dentes na pele do pescoço da sua Bella. Marcando-a onde sabia que iria irritá-la no dia seguinte, quando tivesse que cobrir aquelas marcas. 

- Não terminamos ainda, Belladonna. Estou longe de terminar com você. - Sussurrou, os lábios passando suavemente contra a orelha dela, sabendo os arrepios que estariam correndo pelo corpo. Yang enfiou os dedos nos fios negros, a puxando pelos cabelos, fazendo-a arquear e ofegar. 

Esperava que os olhos dourados encontrassem os seus lilases. Um sorriso tomou seus lábios quando recebeu um olhar escuro. Mas não ficou por muito tempo, já que a sua namorada sabia como lhe provocar sem fazer muita coisa. Blake lambeu os lábios sob o olhar atento de Yang, sorrindo quando percebeu o olhar lilás acompanhando o movimento da sua língua. 

- Talvez eu possa fazer algo por você… - Ela comentou, sugerindo cheia de intenções. Yang considerou por três longos segundos. Sentia a calça jeans apertando no seu corpo, úmida pelo suor e pelo fluxo intenso entre suas pernas. Poderia, simplesmente, tirar a calça e deixar que Blake fizesse algo por ela. A boca da Belladonna era tudo que ela mais desejava, principalmente vendo os lábios cheios, inchados pelos beijos e dentes que lhe maltrataram, mas… 

- Ainda não. - Sussurrou, olhando intensamente nos olhos dourados. Sorriu, o mesmo sorriso que deu anteriormente, um sorriso cheio de promessas e, com  apenas um fio de voz: - Está na hora de tirar aquele nosso brinquedo da gaveta. 

 

- Não tira a calça. - A voz de Blake lhe interrompeu quando ela ia fazer justamente isso. Yang ergueu a sobrancelha, observando a Belladonna nua, deitada na cama, a mão entre as pernas, adiantando o trabalho que ela teria. A VP tirou as mãos do botão do jeans e apanhou o strap-on na beira da cama. 

- Eu preciso, se for para colocar isso aqui, Blake. - E balançou o apêndice roxo de borracha, rindo ao ver a Belladonna revirar os olhos. Observou o corpo dela se movendo para se ajoelhar na cama e se arrastar até Yang, que ainda estava em pé. Elas ficaram da mesma altura, mas os piercings brilhavam com a luz do luar, atraindo o olhar lilás imediatamente. 

Ela estava muito entregue. 

Os dedos úmidos de Blake tocaram o cós do jeans, enquanto a outra mão subia por dentro da camiseta branca, tocando seu abdômen e arranhando sem delicadeza alguma. Yang estremeceu com dor e prazer, focando os olhos nos dourados que diziam o óbvio. Yang faria o que ela mandar. 

- Eu só acho que… - Os dedos dela curvaram no cós da calça, o polegar sentindo o tecido jeans. Yang tremia e sentia que podia babar enquanto observava o que tinha na sua frente, ambas tinham os olhos fixos nas mãos de Blake passando pelo seu corpo. - Vai ser legal sentir enquanto você… 

Ela não precisou terminar, os olhos dourados voltaram para os seus, esperando sua resposta. Yang engoliu em seco, pigarreando logo em seguida. Estava com a garganta seca. Sabendo que não precisaria responder, Yang fixou os olhos nos dela enquanto desabotoava as calças. 

Todo o processo ela fez com os olhos nos dourados, que a acompanhavam de forma meticulosa. Com tudo pronto. Blake a olhava em expectativa, mordendo o lábio inferior e sentando-se sobre os calcanhares. Uma inocência disfarçada, os olhos queimando em cada movimento das suas mãos enquanto se despia. 

Sorrindo, Yang se inclinou, ainda com os olhos nela, e puxou os jeans de volta. Subindo-o e deixando-os desabotoados, apenas o apêndice roxo entre elas. 

- Muito bem. - Blake sussurrou satisfeita, ofegante enquanto admirava o corpo de Yang. A VP puxou a camisa branca, tirando-a e jogando para trás, o top saindo logo em seguida, deixando-a nua da cintura para cima. Os olhos dourados se fixaram nos seus seios por alguns segundos antes dela puxar a respiração e se voltar para os lilases. - Como você vai querer fazer isso? A ideia foi sua, afinal. 

Sentiu a mão de Blake no seu braço, correndo pelo dragão dourado. A outra mão subindo até tocar nas beladonas. Yang a deixou que o fizesse, sentindo os dedos úmidos correndo pela sua pele, ignorando os arrepios que corriam pelo seu corpo. Ela ainda arriscou os dedos para os seios da VP, circulando seus mamilos com a ponta dos indicadores, rindo baixinho quando percebeu os arrepios de Yang. 

Lambendo os lábios, Yang pensou em responder verbalmente, mas tinha uma forma mais divertida. 

Apanhou ambas as mãos de Blake, olhando-a nos olhos e sorrindo ao virá-la de costas para si. Antes que houvesse perguntas, Yang colou sua frente nas costas dela. Subiu na cama, ficando de joelhos atrás dela e apertando seus corpos juntos. Sentindo o próprio corpo arrepiar com a pele macia tocando a sua. Ambas no meio da cama, nenhum espaço respirava entre elas, seus corpos se encaixavam perfeitamente. 

Blake deixou a cabeça cair contra o seu ombro, arfando enquanto as mãos de Yang corriam pelo seu corpo, agarrando seus seios, descendo para as coxas, abrindo suas pernas. Logo elas estavam conectadas novamente, o corpo de Blake cantando, ofegante, dançando sobre o seu, as mãos apertando suas coxas enquanto fazia o trabalho de se mover sobre o colo de Yang. 

A VP sentia o corpo inteiro se arrepiando, ajudando a movimentação de Blake, que estava completamente entorpecida pelo prazer. Com as mãos livres, Yang sentia que tinha muitas possibilidades. Enquanto a Belladonna trabalhava pelo próprio prazer, a VP usava as mãos para intensificá-lo ao máximo. Vez ou outra, se surpreendendo pelo prazer que o brinquedo também a fazia sentir, já que apertava em áreas que ela mais precisava. 

A calça jeans tinha sido uma ideia interessante, Yang precisava admitir. O jeans apertava mais e mais graças ao suor. Quando flexionava suas coxas para impulsionar os quadris contra Blake, Yang sentia que ela poderia rasgar a qualquer momento. O tecido do jeans arranhava na pele de Blake, o que parecia excitá-la ainda mais, incentivando a movimentação frenética. 

Se fosse para perder essa calça assim, seria uma excelente forma de ir. 

O cheiro de suor e sexo era predominante no quarto. Elas se moviam como um rio, intenso e carregado. Yang sentia o corpo queimando enquanto se movia contra Blake, suas mãos agarrando todo o corpo da Belladonna. O corpo dela suava profusamente contra o seu, umedecendo mais ainda os seus jeans. 

Com um gemido rouco, Blake caiu para frente, as mãos agarrando os lençóis, o corpo tremendo, desesperada. As mãos de Yang foram para as costas dela, acariciando a pele suada e enfiando os dedos nos fios negros, agarrando ela pelos cabelos e puxando-a de volta para ficar ereta. Com os quadris colados nos seus, Blake caiu contra o seu corpo, totalmente entorpecida. Yang ria rouca contra sua orelha, os dedos brincando com o piercing em um dos mamilos da Belladonna. 

- Do que você precisa? - Yang sussurrou sua voz pesada, sentindo o desespero crescendo no corpo que ela manejava tão habilmente. Blake choramingou, a cabeça caindo de volta contra o ombro da VP, os olhos fechados apertados, os dedos voltando para o jeans, apertando suas coxas. Ela balançava os quadris impacientemente, a ponta dos dedos apertando o jeans com mais força. - Vamos lá, Bella. Me fala. Você tá quase lá. O que está faltando? 

Ela sabia que Blake não seria verbal naquele momento, então não foi uma surpresa quando sentiu uma das mãos dela sair do jeans e ir para uma das suas, que estava plantada em seu ventre. Yang assistiu com os olhos pesados como Blake levou sua mão lentamente pelo seu corpo, parando na sua clavícula e, sem hesitar, posicionando ao redor do pescoço. 

Yang sentiu todo o seu corpo queimar com mais intensidade, precisou se concentrar para não fazer algo que poderia assustar Blake. Mas, enquanto sentia o pulso dela contra seu polegar, os dedos finos plantados sobre os seus, mostrando exatamente o que ela queria que fizesse… Yang precisou fechar os olhos, deitar a testa no ombro de Blake, e puxar a respiração com força. O autocontrole era tudo que ela podia confiar agora. Quando tirasse os jeans, teria uma enorme mancha entre as pernas, ela nem precisava supor, só sabia que já estava acontecendo enquanto o seu ventre se apertava. 

- Por favor… - Foi o que Blake gemeu, os quadris se apertando contra os dela, como se só a posição da mão fosse o suficiente para que a assessora chegasse ao ápice, mas não era. Yang fechou os olhos com mais força. 

Elas não tinham conversado sobre isso antes, não exatamente. Já tinha tido uma conversa sobre os fetiches, sobre o que cada uma gostava. Era natural quando se tinha uma vida sexual ativa. Blake tinha comentado que talvez ela descobrisse algo com Yang, já que não teve tantos parceiros sexuais quanto a VP. Ela já tinha sinalizado que desejava algo antes, outras vezes. 

Yang lembrava bem dos momentos que Blake levava sua mão para sua garganta, antes de descê-la pelo seu corpo e levá-la até o meio das suas pernas. Isso aconteceu mais vezes do que poderia contar. 

E, agora, estava acontecendo de novo. Porém, agora, Blake sabia o que queria. 

A respiração de Blake falhava contra ela, seus quadris balançando com mais e mais intensidade, tremendo e gemendo sem parar. Tudo isso graças à pressão que Yang fazia na sua garganta, apertando as laterais, controlando seu aperto o máximo que podia, ofegando contra a pele suada da têmpora da Belladonna. 

Quando Blake se entregou a um dos orgasmos mais intensos que Yang a assistiu ter, não demorou para que a própria VP a seguisse, se surpreendendo pela intensidade. As duas caíram para frente, Yang caindo sobre o corpo de Blake, se apoiando nas mãos para não esmagá-la, mas sentindo a Belladonna lhe puxando, não permitindo que se separassem. 

Enquanto esperavam os corpos se acalmarem, Yang beijava o ombro de Blake, sorrindo e mordiscando a pele levemente. Suas calças estavam um nojo e, provavelmente, rasgadas, mas a VP não estava se importando. O strap-on ainda estava dentro de Blake e ela não estava lhe deixando sair de cima dela. 

- Bella, eu realmente preciso tirar essas calças ou vou perder as pernas. - Reclamou depois de alguns minutos sentindo o carinho de Blake no seu cabelo. A assessora riu contra o colchão. 

- Não exagere, Yang. Se tem alguém que perdeu as pernas, esse alguém sou eu. - Mesmo reclamando, Blake permitiu que Yang se afastasse, gemendo de leve quando se retirou completamente. Enquanto tirava a calça e o strap-on, sentiu os olhos dourados nela. - Eu… não imaginava que tanto fosse acontecer. 

Blake estava de barriga para cima na cama, a ponta dos próprios dedos acariciando o estômago suado, rosto corado, tanto de suor quanto de vergonha pelas coisas que aconteceram. Era apaixonante. Yang sorriu para ela, encantada, apaixonada e cansada. Os olhos dourados brilhavam para ela, retribuindo o seu olhar. 

Logo as duas estavam deitadas na cama, Yang puxando-a para que estivessem o mais próximas que pudessem ficar. 

- De todas as coisas que a gente já fez, hoje deve ter sido o mais… 

- Eu entendo. - Blake completou antes mesmo que Yang pudesse refletir mais. A VP assistiu as bochechas dela se avermelharem e os olhos dourados se desviarem, envergonhada. - Obrigada por… você sabe. 

Yang sorriu para ela, inclinando a cabeça para passar a ponta do nariz sobre o dela, vendo como os olhos dourados se esconderam por trás das pálpebras. Uma expressão de serenidade assumindo a vergonha. Não sentia a necessidade de brincar com um desejo de Blake, sabendo que isso poderia ativar a insegurança nela. Mas não queria não falar sobre. Afinal, a comunicação era importante no relacionamento das duas. 

- Você fala da calça? - Yang perguntou, seu tom indicava que estava se divertindo só de falar. Assistiu Blake abrir os olhos e assumiu uma expressão falsamente inocente, vendo o sorriso começar a surgir nos lábios da Belladonna. - É, eu perdi ela, mas valeu muito a pena, talvez nem coloque no lixo. Guardar para a posteridade.  

Blake riu alto. Aquela risada linda que a obriga a fechar os olhos e gargalhar. Yang assistiu tudo com um sorriso. Sua Bella lhe encarou com amor, levando a mão até o seu rosto e puxando-a para um beijo. 

- Sim, eu falo sobre a calça. - Ela fala contra seus lábios, rindo e beijando-a mais uma vez. 

As duas sabiam que não era sobre a calça. 

Em algum outro momento, Yang conversaria novamente com Blake sobre outros fetiches que ela poderia ter e, provavelmente, conversaria sobre explorarem melhor o que acabou de acontecer. Foi absurdamente bom, e ela definitivamente vai querer explorar tudo mais algumas vezes. 

Longos e maravilhosos minutos se passaram com as duas abraçadas, trocando beijos suaves e deixando o amor transbordar pelos olhos uma da outra. 

- Deu tudo certo. - Yang murmurou depois de alguns minutos naquela posição, olhando carinhosamente para os olhos dourados, acariciando a tatuagem de espinhos na lateral do corpo de Blake. A Belladonna ergueu uma sobrancelha, curiosa, risonha e sonolenta.

- Se você está falando do sexo que a gente acabou de ter, sim. Deu muito certo. - Ela ria, empurrando Yang de leve, fazendo-a deitar de costas e deitando em cima dela. 

- Não era exatamente disso que eu estava falando, mas que bom que deu certo pra você. Deu muito certo para mim também. - Yang ergueu as sobrancelhas, rindo e beijando-a na testa antes de abraçá-la. Blake riu baixinho, enfiando os dedos nos fios dourados e voltando a fazer carinho no seu couro cabeludo. - Mas eu estava falando da garota. Deu tudo certo, consegui levar ela de volta pro Beat. 

Blake apenas murmurou algo de volta. Yang virou a cabeça, vendo a expressão tranquila no rosto dela. Os olhos fechados, um sorriso calmo nos lábios. Não ia demorar muito para adormecer. Sorrindo, Yang apenas deitou a cabeça na dela e suspirou, feliz. 

Tinham muito para o que se preocupar, mas agora não era o momento. Não quando elas estavam tão bem, tão tranquilas e tão satisfeitas. 

- Eu te amo. - Escutou Blake murmurar baixinho, os lábios se movendo contra a pele da sua clavícula. Yang se perguntou se ela disse isso enquanto dormia. 

- Eu também te amo, Bella. - Sussurrou de volta, beijando a testa dela e se aconchegando. - Eu te amo, muito. 

 

 


Notas Finais


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