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História Servidão e Liberdade (Malec) - Capítulo 52 - História escrita por Thalia_Miranda - Spirit Fanfics e Histórias
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História Servidão e Liberdade (Malec) - Capítulo 52


Escrita por: Thalia_Miranda

Notas do Autor


Genteeee, gente, gente
Capítulo mais "paradinho" um pouco, sem fortíssimas emoções, mas ainda assim com cenas essenciais para desenvolvimento do enredo.
Aproveitem amores <3

Capítulo 52 - Capítulo 52


- Londres está quente...

Maryse não respondeu ao comentário. Alec deu de ombros levemente e voltou a comer seu bolo de limão. Estavam em Londres. Até recentemente era chamada de Vila London. Entretanto, crescera desenfreadamente nos últimos tempos, e já era consenso geral que fosse uma cidade. E estava fazendo calor. Muito calor. Alec olhou novamente para a porta, mas ainda não havia sinal de Magnus.

- Ele não vai fugir, Alexander – Maryse disse, por fim.

- Não estou pensando que ele vai fugir – Alec disse, rindo pelo nariz.

- Isso é demais... – Maryse disse, a voz tingida de certa desaprovação.

- Desculpe? – Alec perguntou, perdendo o interesse pelo bolo de limão, que realmente estava bem gostoso até alguns segundos atrás. – O que disse?

- Olhe a forma como fala comigo, Alexander – ela repreendeu, meneando a cabeça – Ainda sou sua mãe.

- Desculpe, senhora minha mãe – ele disse, imprimindo um leve sarcasmo na voz (herança da convivência diária com Magnus, certamente) – O que disse?

Ela mastigou outro pedaço do bolo, lentamente, pesando as palavras. Ele esperou, impacientemente.

- Eu disse que isso é demais – ela repetiu – Tudo isso é demais para mim.

Alec cruzou os braços. A convivência com Maryse na Casa realmente não estava das melhores. Ela não tinha chegado a reclamar, mas suas expressões desaprovadoras e o nítido esforço que ela fazia para parecer não se importar com Magnus sentado à mesa durante as refeições, era o suficiente. Ela claramente desaprovava a vida que o filho levava.

- Sinto muito – ele disse – Mas não é algo que eu possa mudar.

- Eu sei – ela disse, parecendo meio cansada – Eu vejo a forma como olha para aquele feiticeiro.

- O nome dele é...

- Eu sei qual é o nome dele, Alexander – Maryse resmungou – Acredite em mim, eu sei exatamente qual é o nome dele. O que não muda o fato de quem ele é.

- Lá vamos nós – Alec suspirou e olhou para os lados. Felizmente, todos os clientes da pequena taverna eram mundanos e pareciam não estar nem um pouco interessados na conversa que eles estavam tendo.

- Eu estou me mudando de volta para Idris – Maryse disse – Não pretendo atrapalhar a vida que vocês levam.

- A senhora certamente sabe que ficar em Somerset conosco é a melhor opção.

- Não vejo porquê, Alexander – ela suspirou também – Em Idris eu tenho família também.

Ela de fato tinha irmãs, cunhados e sobrinhos em Idris. Mas Alec tinha alimentado a esperança de que talvez um dia ela pudesse considerar Magnus e Rafe como família também. Entretanto, essa viagem a Londres estava sendo reveladora. Após quatro meses do nascimento de Rafe, Magnus finalmente tinha conseguindo relaxar e concordado com a contratação de uma ama para ele.

Agora, que o bebê estava com seis meses, ele tinha se sentido seguro para deixá-lo por dois dias com a ama, Izzy e todos os criados, e ir a Londres para comprarem algumas coisas de que realmente estavam precisando: ingredientes para suas poções, roupas para o bebê e roupas e calçados para Magnus e Alec.

Maryse tinha decidido ir na viagem, por sua própria conta e risco. Ela não tinha ainda ficado tanto tempo perto do casal e ver a intimidade deles e a forma como se relacionavam tinha sido o estopim para que ela revelasse o que realmente pensava sobre. E o que ela realmente pensava sobre, era isto: “era demais” e ela “preferia morar longe”.

- Não acho que seja justo – Alec continuou argumentando – Estamos prosperando e nada lhe falta em Somerset.

- Eu certamente também sei disso, Alexander – ela voltou a usar o garfo para pegar mais um pedaço do bolo – Você realmente merece reconhecimento pelo retorno do crescimento da vila.

- A senhora sabe que isso se deveu ao trabalho de Magnus.

- Ele fez a obrigação dele.

Alec sentiu o maxilar doer pela forma como ele o apertou. Não queria discutir com a mãe sobre isso. Mas também não deixaria que ela banalizasse o trabalho de Magnus.

- Ele fez muito mais do que a obrigação dele. E é por isso que estamos prosperando.

Maryse mastigou o pedaço de bolo sem encará-lo. Somerset estava mesmo prosperando a olhos vistos. Após a intervenção de Magnus na luta contra os demônios invocados de Edom, exatamente dezessete condados voltaram a estabelecer contato com eles, pedindo renegociações e reabertura das relações comerciais.

O primeiro a se retratar tinha sido Carlisle Cullen. Em uma missiva pública, no Correio de Londres, ele tinha escrito que “Os senhores Lightwood, do condado de Somerset, juntamente ao Alto Feiticeiro Magnus Bane, realizaram um trabalho essencial ao impedir que o Reino fosse infestado de demônios que causariam uma catástrofe sem precedentes. O fato de terem feito isso sem esperar recompensa ou reconhecimento é ainda mais surpreendente e exatamente por isso, merecedor de toda aclamação e aprovação públicas, quiçá uma moção de aplausos real”.

Alexander tinha ficado estupefato ao ler a carta no jornal. Estava especialmente feliz por terem citado nominalmente Magnus Bane. Todos eles ficaram em crescente expectativa a respeito do que aconteceria após isto. E o que aconteceu foi que choveram cartas de reconhecimento e restabelecimento de relações comerciais.

Os Cullen também lhes convidaram para a festa de casamento de Renesmee Cullen e o mundano Jacob Black.  

- Ele não é mundano – Magnus disse, por cima de seu ombro, lendo o convite de casamento – Ele é o lobisomem que vimos no dia do combate.

Alec ficou boquiaberto. Os Cullen eram ousados. O casamento aconteceria no final do ano e eles certamente pretendiam estar presentes. Maryse ficara chocada com isso. Magnus, Alec, Izzy e Simon ficaram encantados. Bom, ela certamente não se encaixava mesmo no molde em que eles estavam vivendo agora.

Alec sacudiu a cabeça, desviando-se das memórias, e voltou a olhar para a porta. Nada de Magnus. Ele estava demorando. Tinha saído com o bendito Ragnor para comprar ingredientes e eles tinham combinado de se encontrar ali para o lanche da tarde.

- Você mal se aguenta em ficar longe dele – Maryse resmungou baixinho, mas Alec escutou bem – Às vezes eu me pergunto se não é um feitiço...

- Com todo o respeito, senhora – ele respondeu no mesmo tom – Mesmo que fosse um feitiço eu não reclamaria.

- Você não sabe o que está dizendo – ela o encarou.

- Sei – Alec disse, com firmeza – Não é um feitiço, mas mesmo que fosse, eu ainda estaria imensamente feliz.

- Com ele – ela repuxou os lábios.

- Com ele – Alec reafirmou.

- Você não pode viver como se ele fosse... seu.. sua esposa, Alexander - Ela sacudiu a cabeça.

Alec sentiu a caixinha que carregava no bolso interno do sobretudo esquentar. Mais cedo, enquanto Magnus já andava com Ragnor, e Maryse fazia compras em uma boutique famosa do centro, ele tinha se esgueirado para dentro de uma ourivesaria. Ali, um pouco tímido, tinha tentado encontrar algo que pudesse colocar no dedo de Magnus. Algo que não fosse tão chamativo quanto tudo o mais que ele usava, mas que não deixasse passar despercebido o fato de que Magnus Bane tinha compromisso. Com ele. 

Tinha se decidido por um par de alianças de ouro branco com alguns detalhes que ele achou serem lindos. Estava ansioso e inseguro sobre como pedir a Magnus para... bem... para se comprometer com ele pelo restante de sua vida.

- Eu não vivo com ele como se ele fosse minha esposa – ele respondeu, para a mãe.

- Isto é o que você pensa – ela grunhiu de volta – Vocês dormem juntos! E ele carrega aquele bebê mundano como se fosse a mãe dele!

Ela falou isso como se fosse um insulto. Mas Alec percebia como um elogio. Magnus era um excelente pai. Rafe o reconhecia instantaneamente e sempre parecia muito satisfeito quando ele estava por perto. Alec ainda era desajeitado nisso, mas também sentia-se satisfeito por estar melhorando a cada dia. Rafe era deles. Sentia isso em seu coração: Rafe era filho deles.

- Magnus é um homem, senhora minha mãe – ele frisou – E não nego que ele realmente age como pai de Rafe. O que não acho que seja uma coisa ruim.

- Ah – ela o olhou afetada – E você também é pai daquele menino, conforme você diz.

- Está no registro da família – Alec levantou o dedo – Não há mais como mudar.

Ela sacudiu a cabeça novamente, desanimada. Sim. Alexander tinha manchado o livro da família, registrando tanto o casamento com a rameira mundana quanto o filho mundano dela com outro mundano qualquer, como se fosse filho dele. Céus. Isso era demais.

- Você não pode me culpar por querer uma nora e netos, Alexander.

- Uma nora realmente não posso lhe dar – a voz de Alec estava fria – Mas Rafe é seu neto.

Ela fechou os olhos brevemente.

- Faça como quiser, Alexander – ela disse.

Alec olhou novamente pela janela. Tinham decidido comer um bolo com suco de uva enquanto Magnus não aparecia. Tinha sido uma decisão errada, porque tanto ele não aparecia quanto a fome tinha ido embora, completamente.

- Você não para de olhar para a porta – Maryse disse, com desalento na voz – Eu realmente estou voltando para Idris.

- Prepararemos o melhor para que faça uma boa viagem, senhora – Alec disse, distraidamente.

 

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- Espero que não tenham restado quaisquer dúvidas – Magnus disse a Ragnor.

Este, por sua vez, revirou os olhos e suspirou.

- Eu já disse que em nenhum momento quis ofender o seu cãozinho de guarda.

- Não fale dele assim – Magnus rosnou.

- Eu só quis deixa-lo ciente de que você tem quem te defenda – Ragnor continuou – Ah, faça-me o favor, ele fica na sua frente como se sempre estivesse preparado para se jogar na frente de um dardo que viesse lhe atingir.

Magnus encarou o amigo.

- Você sabe que isso não é nem de longe um insulto para mim, não é? – Ele estendeu dois pares de sapatos pequenos – Este ou este?

- Ontem foi ridículo – Ragnor disse e apontou para o par de sapatos bordados de preto – Este parece mais com a cor da família Lightwood.

- Tem razão -  Magnus olhou para o par de sapatinho. Estava levando para Rafe. Era um exagero, com certeza. Crianças não precisam de sapatos. Mas ele tinha bastante dinheiro. Tinha o seu salário. E tinha mais dinheiro que Alec tinha lhe empurrado com a desculpa de que “O que é meu é seu, oras”. Então, sim, ele estava levando um sapato para uma criança que nem andava ainda – Como assim, ontem foi ridículo? O que quer dizer com isso?

Ragnor suspirou.

- Você sabe a que eu me refiro.

Magnus sabia. Na noite anterior, quando chegaram a Londres, eles decidiram jantar na estalagem. Lá haviam alguns submundanos, que começaram a hostilizar Magnus. Nem todos os submundanos aceitavam bem que um deles estava em um relacionamento com um caçador. Muitos pareciam considerar isso uma traição.

Então, Alec, num ato muito corajoso e tolo se colocou entre Magnus e eles. Foi bonito? Sim. Mas isso piorou as coisas. Eles argumentaram que era irracional que um caçador quisesse proteger um submundanos de outros submundanos, sendo que historicamente, os caçadores é quem sempre tinham sido a ameaça. Alguns até levantaram a hipótese de que Magnus estava sendo coagido.

No final das contas, eles não puderam jantar lá, e a coisa só não ficou mais feia porque Magnus segurou firmemente a mão de Alec, mostrando que estava sim com ele e convencendo-o a sair de lá. Alec não era do tipo caçador de confusão, mas ele tinha ficado muito chateado por afirmarem que ele estava obrigando Magnus a algo.

Mais tarde, quando já estavam deitados, em casa de Elias, o Velho Feiticeiro, Alec se aproximou muito de Magnus e perguntou, baixinho:

- Você está comigo porque realmente quer, não é?

Magnus abraçou-o, consternado. Não devia ser fácil para ele também.

- Sim – respondeu – Porque eu quero muito. E porque você beija bem.

Ouviu Alec sorrir no escuro e abraçá-lo de volta. Enquanto eles estivessem bem, nada os derrubariam.

Voltou para o presente, entregando as moedas para a velha senhora que estava vendendo as peças de roupas para bebês. Ela recebeu o dinheiro, ressabiada. Pouquíssimas pessoas compravam roupas para bebês. Era muito mais prático enrolá-los nas roupas grandes dos pais. Um homem então, comprando sapatinhos de bebê... isso era decididamente estranho.

- Ele deve estar cansado de esperar – Magnus disse – Vamos nos apressar.

- Ai – Ragnor levou a mão ao coração – Que saudades de quando vínhamos a Londres realmente para aproveitar esse lugar. Agora não podemos mais porque certas pessoas estão enroladas com caçadores de sombras...

- Olha o drama – Magnus continuou andando, se desviando das pessoas que vinham em direção contrário – Não estou enrolado. Eu tenho um compromisso com ele. E com o bebê.

- Magnus seja sensato – o amigo pediu – Que compromisso é esse? Tem algo que te dê algum respaldo? Se esse homem decidir se casar com uma caçadora, para que ela crie o filho dele, você terá direito a quê?

- Ele não vai fazer isso – Magnus disse – Eu confio nele.

- Pelo Anjo! – Ragnor grunhiu e logo depois – Olhe aí, você fica usando as expressões estranhas dele e eu acabo pegando também.

A taverna em que tinham combinado se encontrar estava à frente, e Magnus estancou de repente, fazendo Ragnor bater contra ele.

- Ragnor -  ele fechou os olhos e levantou uma mão – Eu estou com Alec. Sei que você se preocupa, mas preciso que respeite. Já disse isso e é a ultima vez em que repito: preciso de você como meu apoio, e não mais um deles me jogando pedras. Se não puder ser meu apoio, então não faz sentido que continuemos como amigos.

- Então vou falar uma última coisa – Ragnor ergueu um dedo. Magnus sacudiu a cabeça. Pelo Anjo! Ragnor o segurou pelo ombro – Sério, só mais uma!

Magnus começou a andar para a taverna. Estava com saudades de Alec. Eles tinham se visto no começo da manhã. Ragnor o acompanhou, meio correndo, meio andando:

- Se vai ficar com ele, faça ele se comprometer.

- Nós já estamos comprometidos – Magnus grunhiu – Ou você acha que o homem ia me defender daquele jeito ontem, se ele não estivesse levando isso a sério?

- É fácil fazer isso para os submundanos, Magnus – Ragnor revirou os olhos – Mas ele agora está reconquistando espaço no Reino. Ele vai se comprometer com você na frente dos iguais a ele? Os caçadores?

Magnus empurrou a porta da taverna, pondo fim à tagarelice sem fim de Ragnor. Imediatamente seu olhar alcançou Alec que abriu o rosto em um sorriso e acenou para ele. Maryse, sentada de costas para a porta, não se deu ao trabalho de virar. Magnus caminhou tranquilamente até eles, tendo consciência de que todos estavam olhando enquanto ele entrava.

- Que bom que você chegou – disse Alec, quando ele se aproximou.

- Desculpe pela demora – ele falou, arrastando a cadeira e sentando-se – Achei um sapatinho para Rafe.

 

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A longa viagem de volta cansou a todos eles. Maryse foi a primeira a cair no sono, enquanto o coche recém adquirido deles sacolejava pelas estradas. Era uma carruagem confortável e Alec se permitia sentir bastante orgulho de mais essa conquista. Estava sendo puxada por dois cavalos puro-sangue inglês, e agora eles também tinham seu próprio cocheiro.

Após Maryse cair no sono, Magnus também começou a ficar muito silencioso. Alec olhou para ele e se divertiu ao vê-lo lutando contra as pálpebras fechadas. Muito oportunamente ele se moveu para mais perto de Magnus, bem a tempo do feiticeiro pender para a direita e se ajeitar no seu ombro.

Alec suspirou satisfeito. Estar com Magnus lhe dava às vezes uma sensação muito boa, que ele não sabia definir, mas que era exatamente a mistura do pensamento com o sentimento de que aquele homem, aquela pessoinha que estava cochilando em seu ombro agora, tinha lhe escolhido para viverem juntos. Lhe dava um monte de frios no estômago pensar nisso. Não merecia nada disso, ainda assim, Magnus continuava ao seu lado.

Alec olhou para as mãos de Magnus, sentindo o coração acelerar com o pensamento de colocar ali o anel que comprara. Na mão esquerda seria melhor. Significava compromisso definitivo. Alec queria perguntar algo específico a Magnus. E estava ansioso sobre como ou quando fazer isso. Além disso, estava ansioso a respeito da resposta.

Pensou bastante enquanto Magnus continuava a ressonar levemente, e quando chegaram à entrada principal da aldeia, já tinha uma ideia geral de como fazer. A carruagem parou com um solavanco e tanto Maryse quanto Magnus acordaram. Uma parte do cérebro de Alec registrou que Magnus era adorável com esse rostinho de sono.

Ele abriu a janela para olhar o que estava acontecendo. Um dos guardas se adiantou, e fez uma reverência:

- Está tudo certo? – Alec perguntou.

- Sim, senhor – o guarda respondeu – Mas temos visitas.

- Visitas? – Alec olhou rapidamente para Maryse e Magnus. Ambos tinham a mesma expressão confusa.

- Sim – o guarda se adiantou mais um pouco, ficando bastante próximo à janela – Vieram sem avisar. Integrantes da Clave.

- Há quanto tempo estão na propriedade?

- Cerca de duas horas, sir.

A expressão de Alec tornou-se dura. Na Casa estava apenas Izzy de caçadora. E seu filho estava lá. Ele bateu com a bengala no teto da carruagem e o cocheiro bateu as rédeas. Magnus estava muito acordado agora, e Maryse também.

- Rafe está lá – Magnus disse.

- Izzy está lá – Maryse bufou.

- Ambos são igualmente importantes – Alec disse, enquanto a Casa se tornava maior pela proximidade que iam estabelecendo – Resta saber o que vieram fazer.

- É simples – Maryse disse, arregaçando suas mangas e ativando suas runas – Vieram conferir como anda sua vida.

Alec também pegou sua estela e passou-a sobre as marcas de agilidade, força e audição. Magnus esfregou as mãos, faíscas azuis saltando das palmas. Assim que a carruagem parou, eles saltaram e entraram correndo no pavilhão que levava ao Grande Salão.

A cena à sua frente lhes fez parar derrapando. Izzy, sentada com Rafe no colo, bebericava um chá, tranquilamente. Atrás dela, Simon estava em pé, protetor. Outros três homens estavam sentados, também bebendo chá, e levantaram os olhos assim que chegaram.

Alec respirou fundo. Tudo parecia estar sob controle, até o momento. Izzy sorriu, muito amavelmente.

- Que bom que vocês chegaram – ela disse, num tom meigo que ela raramente usava em situações normais – Temos visitas de Idris.

- Boa noite, senhores – Alec fez uma levíssima reverência. Estava tentando se manter na frente de Magnus. Para sua surpresa, sua mãe se postou ao lado dele, bloqueando a visão dos outros para o feiticeiro. – Se soubéssemos da sua visita, não teríamos viajado para tão distante e teríamos preparado uma recepção à altura.

- Ah – o velho George White acenou, com um meio sorriso – Não se preocupe. Estávamos passando para Devon e calhamos de passar aqui. Resolvemos parar, para colocar os assuntos em dias.

- Compreendo – Alec acenou.

- Sra. Lightwood! – Herbert, um dos homens mais novos acenou – Nossos sinceros sentimentos pelas suas perdas.

- Obrigado – os três Lightwoods responderam em uníssono. Não era segredo para mais ninguém que Maryse e Jonathan tinham dado fim a vida de Robert. As pessoas que estavam lá, no dia, não pouparam detalhes a ninguém dentro do Reino. A família ainda possuía certo temor de que fossem ser punidos por isso, de algum modo.

- Muito trágico, muito trágico – Ramond disse. Ele era o mais perspicaz de todos ali, apesar de George White ser o líder – Ahn, meu caro rapaz, não consigo enxergar quem está atrás de você.

Alec, a contragosto, se afastou um pouco. Eles trocaram olhares entre si, após constatarem que ali estava o feiticeiro mais falado do Reino.

- Ora, este é Magnus Bane? – George White ajeitou o monóculo, encarando-o.

Alec queria gritar NÃO. Não é Magnus Bane. Vão embora. Mas Magnus se adiantou um pouco e fez uma reverência um pouco mais profunda.

- Eu mesmo, ao seu dispor, senhores.

O fato dele fazer uma reverência pareceu causar boa impressão neles. De certo estavam esperando um feiticeiro rebelde e totalmente sem modos.

- Ouvimos histórias de que você... trabalha aqui, submundano?

- Sim, caçador – Magnus devolveu. E o fato dele ter falado “caçador” e não “senhor” certamente causou outra impressão. Se boa ou ruim, Alec não sabia afirmar.

- Em troca de salário? Ou como escravo marcado?

Alec quase revirou os olhos. Obviamente eles já sabiam de tudo, em primeira mão.

- Atualmente trabalho aqui em troca de salário, sir – Magnus respondeu.

- Entendo, entendo – Ramond coçou a barbicha – É incomum que um feiticeiro trabalhe por salário.

- Verdade – Magnus disse. Todos esperaram pelo “mas”. Entretanto, Magnus não trouxe um “mas”. Simplesmente continuou olhando para os caçadores e sorrindo quase amavelmente.

Rafe começou a chorar, provavelmente por ouvir a voz de Magnus, e Alec notou o esforço que ele fazia para não se mover até ele e pegá-lo no colo de Izzy, que parecia um pouco perdida com o choro dele. Ao invés disso, Maryse se adiantou:

- Com licença senhores, meu netinho está chorando – e pegou-o no colo.

Alec sentiu um misto de medo e alegria. Talvez Maryse estivesse apenas representando um papel, na frente daqueles integrantes da Clave, mas ele tinha imensa vontade de que ela realmente aceitasse Rafe como tal. Ela acalentou-o por alguns segundos e como o bebê não parava de chorar, ela estendeu-o para Magnus:

- Feiticeiro, procure a babá da criança e entregue-o a ela.

Os olhos de Magnus se arregalaram de surpresa, mas ele pegou seu filho no colo e após fazer outra reverência, se afastou em direção à escada. Alec olhou para Maryse com gratidão. A astúcia dela tinha matado dois coelhos em uma só cajadada: entregou o bebê para o pai e tirou Magnus da vista dos caçadores. Ainda assim, eles o seguiram com o olhar até que ele sumisse.

Eles se sentaram, então, e um criado veio da cozinha para servir mais chá. A noite já ia adiantada e Alec queria muito que eles não aceitassem se hospedar ali.

- Alexander – Ramond tomou a palavra – Não fomos informados de seu casamento.

- Sinto muito, senhor – ele disse e bebericou o chá. Era de hortelã e estava gostoso. – Na verdade, minha esposa Lydia foi inicialmente contratada como minha dama de companhia. Entretanto, o amor floresceu – continuou – e logo ela ficou gestante. Faleceu no parto, mas antes disso, tivemos tempo de nos casarmos, para que nosso filho não precisasse crescer como bastardo.

- Você é um homem estranho – Herbert pontuou – Tem um vampiro em sua casa; casou-se com uma rameira no seu leito de morte e legitimou o filho dela; e além disso, contratou por dinheiro um feiticeiro...

Os olhos repousavam sobre ele. Alec acenou que sim com a cabeça.

- Verdade, senhor – concordou – Devido à história que todos conhecem, precisei fazer alianças... peculiares para retornar à minha Casa.

- Nós tomamos a liberdade de pedir à senhorita Lightwood o registro do casamento – Ramond avisou – Parece legítimo.

- É legítimo – Alec bebeu mais do chá. – Os senhores tem mais alguma dúvida?

- Temos muitas dúvidas, Alexander – George White tomou a palavra – Muitas dúvidas. Entretanto, há que se considerar que vocês realizaram um feito nobre em prol do Reino. As pessoas tem nos pressionado para legitimar seu retorno à sociedade... como uma espécie de moção de reconhecimento.

Alec sentia o coração pulando no peito. Ramond puxou um pergaminho do bolso e pigarreou.

- Ainda temos as ... acusações de ... sodomia aqui.

- Certamente tem – Alec disse, cautelosamente.

- O que tem a nos dizer sobre isso?

Alec piscou, duas vezes. Não ia recuar. Não agora. Não podia ganhar algo negando sua vida real.

- Não tenho nada a dizer sobre senhor.

- Não vai procurar negar?

- Não posso negar, senhor – ele disse, olhando nos olhos esbranquiçados de George White.

Houve um silêncio pesado na sala. Os integrantes da Clave se entreolharam, indecisos.

- Isso é um caso sério, rapaz – George White prosseguiu – Pode negar agora, se quiser. Inclusive é o mais indicado. A Santa Igreja costuma mandar para a fogueira as pessoas que se comportam assim.

- Há muitos anos nós não seguimos mais a Santa Igreja, não é mesmo, sir White?

O velho respirou fundo, estufando o peito. Ele era conhecido em todo o Reino por suas orgias intermináveis no tempo de jovem. Orgias estas que sempre incluíam um ou mais rapazes. Ninguém tinha visto algo, mas todos falavam sobre. E a forma como ele engoliu duas vezes antes de responder parecia indicar que era verdade.

- Sim, bem... bom... Na verdade a Santa Igreja está designada para cuidar mais dos casos dos mundanos – ele acenou com a mão – Mas você é um homem casado, e tem um filho... Não vejo motivo para nos preocuparmos.

Herbert e Ramond não pareciam muito contentes, entretanto, a fala de George White era lei. Eles também inspecionaram os documentos de posse da propriedade, e Alec se sentiu intimamente feliz pro Jace ter lhe entregado os papéis antecipadamente. Quando tudo está resolvido, a noite já estava bastante escura.

- Senhores, por favor, aceitem estadia por esta noite – Alec ofereceu.

Herbert e Ramond pareciam estar propícios a isso. George White, entretanto, não estava disposto.

- Precisamos partir – ele grunhiu -Chegaremos a Devon antes do dia amanhecer, a tempo de nossos compromissos.

 

Quando eles sumiram na estrada, os Lightwoods respiraram aliviados. Maryse apertou a fronte, onde uma dor de cabeça começava a latejar.

- Essa foi por pouco – ela resmungou.

E tinha sido mesmo. Eles atribuíam a benevolência da Clave à sucessão de eventos ruins que lhes ocorreram. Poderiam ter detido a família como suspeita de cúmplice com Valentim, mas o fato de Maryse ter matado Robert parecia atenuar tudo. Assim que todos subiram para seus quartos, Alec galgou as escadas e se dirigiu aos seus aposentos.

Magnus o esperava em pé, perto da janela, embalando um Rafe, agora adormecido, em seus braços. Alec caminhou até eles, sentindo o alívio corroer seus ossos. Abraçou Magnus e beijou-o na testa. Depois fez um carinho leve na bochecha rechonchuda do filho.

- Vi que eles já foram embora – Magnus perguntou – Acabou?

- Sim – Alec disse, e mostrou a ele o selo da Clave nos documentos tanto de seu casamento quanto de posse da propriedade – Deu tudo certo, consideraram tudo legítimo.

Magnus suspirou de alívio e se deixou apoiar no corpo de Alec. Ele abraçou sua família, sentindo que enfim podia respirar. Talvez um dia a Clave reabrisse o processo, ou instaurasse um inquérito. Mas por enquanto estava tudo certo.

- Fiquei preocupado por vocês – ele disse, baixinho – Fiquei muito preocupado.

- Eu sei, querido – Magnus beijou-lhe o maxilar – Mas você manteve a calma e foi perfeito, acabou tudo bem.

- Izzy também foi espetacular – Alec sorriu levemente, ao lembrar da postura sem defeitos da irmã, quando chegaram.

- Sim, é uma coisa de família – Magnus riu.

Alec apertou-o levemente mais uma vez.

- Cuidado amor – Magnus alertou – Ou vai acordar o bebê. 


Notas Finais


Eu AMO uma família <3
Diga aí vc, o que achou dessas coisa linda? ahn? <3


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