Haviam se passado dois dias, que tinham se tornado os mais especiais da minha vida. Tudo girou a favor de nossos planos. No mesmo dia que a Moonbyul me pediu em namoro, ela me levou para passear pela cidade, mostrando todos os lugares que mais conviveu na sua infância. Comemos em vários lugares e aproveitamos cada segundo do dia. Infelizmente já era nosso último dia na casa da sua mãe, iríamos partir pela tarde, logo após o almoço. As malas já estavam prontas e todas organizadas na sala para apenas serem colocadas no carro. Haneul preparava um almoço para nós enquanto ajudávamos com o que podíamos, mas sempre rindo dos comentários da mesma. Moonbyul se oferece para arrumar a mesa, então acabo ficando a sós com sua mãe.
– Yongsun, nem consigo acreditar que minha filha está namorando e com uma garota tão incrível! Ela realmente é sortuda. - diz enquanto mexia nas panelas.
– Não diga essas coisas! Eu que me sinto sortuda por ter a chance de estar ao seu lado, sua filha é realmente uma pessoa maravilhosa.
– Depois do acontecimento na escola, eu pensei que ela não iria conseguir se relacionar com alguém novamente. Me alivia a vê-la dessa forma, alegre ao lado de alguém. - passa suas mãos em seus cabelos e olha para o chão. - A Krystal procurou vocês?
– Sim.. Mas ela apenas se encontrou comigo, eu acho. Moonbyul não me disse nada sobre ter conversado com ela.
– Sabe, apesar dela ter feito minha filha sofrer muito, eu tenho pena dela. Eu sei que a decisão de trocar de escola na época, não tinha sido dela. Nem mesmo a decisão das duas se afastarem tão repentinamente. - ela bufa. - Por causa disso, Moonbyul ficou muitos anos sem amigos, ela teve que ir para uma escola quase no final da cidade, onde ninguém a conhecia e por fim, poder frequentar as aulas sem medo.
Eu não sabia o que dizer, então apenas a deixava desabafar tudo o que queria falar.
– Eu conheço muito bem o país que vivemos, de como ele é conservador e preconceituoso. Meu medo sempre foi do que a minha filha fosse sofrer com isso, quando eu descobri que ela é lésbica, eu não fiquei triste por isso, e sim por saber que não seria fácil a convivência com a sociedade desse porte. Você me entende, certo?
– Entendo sim, e acho incrível como você a apoiou e ajudou nesse momentos difíceis. - vou até ela e coloco minha mão sobre seu ombro.
– Não teria como fazer diferente, ela é minha filha e eu a amaria sem me importar com esses detalhes.
– E você é incrível por pensar desse jeito, a Moonbyul tem sorte de ter uma mãe tão maravilhosa assim.
– Não fale coisas assim, eu fico tímida! - cobre o rosto com suas mãos. - Mas e sua mãe? Como ela reagiu com tudo isso? Bem ou mal? Se for preciso eu converso com ela...
– Na verdade, ela não está sabendo, já que não tenho mais tanto contato com ela. Desde que me mudei, comecei a falar cada vez menos com a minha mãe. Nunca fui muito apegada a ela, então nunca foi uma preocupação na minha mente.
– Oh… Não sabia disso, me desculpe por perguntar!
– Está tudo bem, eu não tenho nenhum problema com isso, as vezes é bom desabafar um pouco, certo? - solto uma risada.
– Certíssima. Você é uma pessoa incrível, Yongsun. Minha filha realmente tem muita sorte!
– Não se preocupe senhora Haneul, eu irei dar a sua filha o máximo de felicidade que eu puder. - coloco minha mão sobre seu ombro ao ver que seus olhos marejaram um pouco.
– Fico feliz em ouvir isso, Yongsun. - ela me abraça rapidamente, respirando profundamente e passando os dedos para secar as lágrimas que caíram. - Ah! Isso não é hora de lágrimas!
Começamos a rir e Moonbyul entra na cozinha, querendo saber o motivos das nossas risadas. O resto das nossas horas na casa foi assim, apenas risadas e conversas agradáveis. Realmente não tinha vontade de ir embora daquele lugar. Colocamos nossas malas no carro e nos despedimos de Haneul, que tentava segurar as lágrimas mas sempre deixava alguma descer.
– Voltem o quanto antes, eu vou sentir saudade de vocês aqui comigo. - dizia abraçando forte sua filha e depois me abraçando também.
– Iremos voltar o mais rápido possível! Quando perceber já estaremos de novo aqui.
Abraçamos mais uma vez ela e entramos no carro, dando partida e acenando para ela.
xx
– Eu não consigo acreditar! - Wheein pulava e gritava em nosso apartamento. Havíamos contado sobre nosso namoro e a mesma se mostrava completamente feliz. - Finalmente, né? Demorou mas saiu.
– Nem me fala, eu mesma já tinha perdido as esperanças de tanto esperar… - sinto um soco da Moonbyul em meu braço, a mesma havia entendido o que eu falei. - A Hwasa está vindo pra cá, assim já contamos a notícia para ela também.
Escutamos algumas batidas na porta e me direciono para abrir ela. Vejo Hwasa e a abraço, dou passagem para ela entrar e fecho a porta. Moonbyul a abraça também e pede para que sentasse no sofá.
– Que caras sérias são essas? Estão me assustando. - se pronuncia enquanto sentava no sofá.
– Temos uma coisa a dizer para você. - digo.
– O que seria?
– Então, na viagem a Moon-.
– A Moonbyul pediu a Yongsun em namoro! - Wheein grita, me cortando completamente. - Desculpa Yongsun, mas você enrola demais e eu não aguentei a pressão!
– O quê?! Vocês estão namorando? - ela coloca suas mãos sobre sua boca, mostrando estar surpresa. - Tava na hora mesmo! Moonbyul enrolou um monte. - vejo-a rir de sua amiga que tentava se defender. - Enfim, precisamos comemorar esse momento inesquecível!
– Eu pego o vinho. - Wheein diz, levantando a mão e logo se direcionando a cozinha, trazendo a garrafa de vinho e quatro taças. Entrega para cada uma e enche com um pouco de vinho. - Ao novo casal!
– Ao novo casal! - Hwasa fala.
Brindamos juntas e tomamos o vinho. Wheein coloca uma música alta e começa dançar, eu olho para ela no mesmo instante, tentando avisar o erro que estava cometendo. Moonbyul segura minha mão e me puxa para dançar com ela, no começo estranho mas a mesma diz que conseguia ouvir algumas batidas da música então poderia dançar. Então foi assim que passamos o dia, dançando, rindo e bebendo. Pela madrugada, apenas lembro de ter apoiado minha cabeça sobre a barriga da Moonbyul que estava deitada no chão, logo fechei meus olhos e acabei apagando completamente.
5 anos depois…
Era incrível como a vida conseguia sempre nos surpreender, mesmo se fosse com coisas que já desejávamos. Claro que nenhuma vida é perfeita, mas eu me sentia contente com o que eu conquistei. Me formei na faculdade e trabalho em uma escola como professora de português. Depois que comecei a ministrar as aulas, me senti mais apaixonada pela minha profissão. Consegui comprar um carro do meu gosto com o salário, e logo, conseguiria adquirir meu apartamento. Finalmente iria realizar meu sonho de ser independente. Mas nada disso eu estava fazendo sozinha. Moonbyul permanecia ao meu lado em todo o instante. O apartamento que estava interessada, não seria apenas meu, e sim, nosso. Nós duas economizamos para isso, fomos atrás dos apartamentos e quais eram os melhores com um preço agradável. No dia que escolhemos foi uma emoção incrível, era como se fosse o apartamento dos nossos sonhos. Mas antes de finalizarmos a nossa compra, tinha algo a ser feito antes.
E era onde eu estava neste momento, sentada numa sala com paredes brancas e os sofás da mesma cor, apenas escutava a televisão com o som um pouco baixo para não atrapalhar as outras pessoas que permaneciam no local. Estava na sala de espera do hospital da cidade. Ver a pessoa que eu amava realizando seu sonho me deixava tão feliz. Depois de muitos exames, recebemos a notícia que através de uma cirurgia para colocar o implante coclear, Moonbyul seria possível conseguir ter um pouco da sua audição. Isso fez que, não apenas ela chorasse, mas eu também. A cirurgia foi cara mas conseguimos pagá-la, sua mãe também nos ajudou bastante.
Fazia algumas horas que esperava por alguma notícia dela, não havia comido ou dormido por estar ansiosa demais. Me levanto para pegar mais um café, observo pela décima vez toda a decoração da sala. Os quadros coloridos com pinturas abstratas e alguns vasos com flores amarelas pelas estantes. Escuto a porta abrir e me viro rapidamente para olhar quem era. Sinto meu corpo levemente cambalear ao ver o médico que estava responsável pela Moonbyul. Sua expressão era séria o que me fez estremecer por inteira. Vejo seu olhar percorrer pela sala até parar em mim.
– Senhorita Kim Yongsun, pode me acompanhar?
Apenas concordo com a cabeça e o acompanho até sua sala. Ele pede que eu sente na cadeira que ficava na frente de sua mesa, então o homem também faz o mesmo em sua cadeira. Vejo-o mexer em alguns papéis e lê-los, então solta uma pequena tossida, testando sua voz antes de se pronunciar.
– Você pode ficar tranquila, a cirurgia ocorreu tudo certo e ela no momento está dormindo no quarto. Foi colocado o implante coclear bilateral, ou seja, será capaz de ter a audição nos dois ouvidos.
– Você não tem ideia de como isso me deixa feliz! - esfrego minha mão no meu rosto, soltando toda a tensão do meu corpo.
– Eu que agradeço por confiarem tanto em nossa equipe para essa cirurgia, todos nós nos esforçamos ao máximo, com o resultado, sua amiga agora terá a oportunidade de ouvir todos os sons que desejar. - ouço ele falar e sorrio rapidamente ao ouvir a palavra “amiga”.
– Doutor, eu posso vê-la?
– Claro! Acho que logo ela irá acordar, mas você ficará encarregada de nos chamar quando ela despertar da anestesia.
– Pode deixar, doutor!
Ele se levanta e vai até a porta, o sigo pelo caminho que levava até o quarto de Moonbyul. Subimos três andares pelo elevador, até que, finalmente, o médico sinaliza o quarto. Antes que eu pudesse tocar na maçaneta, o homem segura meu braço, fazendo-me o olhar.
– Lembre-se, agora ela tem, mesmo que não seja por completo, um pouco da sua audição. Barulhos, mesmo que baixos e simples para seus ouvidos, vão ser sensíveis para ela. Nunca teve a oportunidade de ouvir então sua audição está sensível. - ele se afasta um pouco, dando alguns passos para voltar a sua sala. - Boa sorte! - e dá um pequeno aceno.
Olho para a grande porta e lentamente abro ela. Fecho-a em seguida e vou andando, até que vejo a mulher que tanto amo dormindo calmamente sobre a cama do hospital. Puxo uma da cadeia e sento ao seu lado. Passo levemente a minha mão sobre a sua, sentindo sua pele fria e suave. Fico apenas olhando para a mesma por quase uma hora, apenas desejando que a mesma acordasse logo. Vê-la daquela forma era agoniante. Apoio minha cabeça para trás pelo cansaço que começou a me consumir, meus olhos forçavam para manter abertos.
– Eu deveria ter tomado um café antes. - falo baixinho.
No mesmo instante, ouço a Moonbyul se mover pela cama. Seus olhos estavam abertos e mexia sua boca como se quisesse dizer algo. Vejo seu olhar se direcionar para mim quando toco novamente sua mão.
– Meu amor, como você está? - pergunto e faço um carinho com a minha mão em seu rosto.
Lágrimas começam a escorrer pelo seu rosto. Tentava secar elas mas cada vez caíam mais. Moonbyul levanta sua mão e faz o sinal para eu falar novamente.
– Falar? Você quer que eu fale? - vejo-a concordar. - Moonbyul…
E mais lágrimas começam a correr pelo seu rosto.
– Você consegue me ouvir? Consegue me entender?! - minha voz começa a falhar minha voz ao perceber que ela realmente conseguia me ouvir. - Moonbyul, eu não consigo acreditar! - sinto agora lágrimas correndo pelo meu rosto.
– Solar… - sua voz saiu fraca, mas seus olhos brilharam ao poder ouvir sua própria voz. - Solar. - pela primeira vez, sua voz saiu sem desafinação. Isso bastou para que eu apenas começasse a chorar ainda mais.
– Meu amor, parece que tudo isso é mentira! Eu estou tão feliz… - encosto minha cabeça em sua mão enquanto a segurava. Ela passa sua outra mão em meus cabelos e desliza até meu queixo, levantando minha cabeça.
– Kim Yongsun.
Sinto meu coração aquecer ao ouvir sua voz pronunciar meu nome, cada centímetro do meu corpo foi afetado com sua voz. Me aproximo do seu rosto e deposito um beijo demorado em seus lábios. Ficamos por alguns minutos olhando uma para outra com um sorriso bobo no rosto, até que me lembro que deveria ter chamado o médico no mesmo segundo que a Moonbyul acordou.
Algumas semanas depois…
A recuperação de Moonbyul foi incrível, até mesmo o médico ficou impressionado. No começo ela sentia fortes dores de cabeça pela sensibilidade dos sons muito altos, mas aos poucos, ela foi se acostumando. Uma das primeiras coisas que ela foi fazer ao chegar em casa, foi pegar seu celular e ouvir todas as músicas que tinha, sendo que antes apenas só conseguia ouvir algumas batidas e sentir as vibrações. Ficou horas deitada na cama, de olhos fechados, apenas ouvindo todas suas músicas. E eu fiquei o tempo todo ao seu lado, olhando para ela e observando suas reações enquanto ouvíamos suas músicas. Abracei-a e encostei minha cabeça em seu peito, logo sentindo o sono chegar. Mesmo com as músicas tocando eu estava começando a ficar com sono. Moonbyul percebe isso e começa a fazer a passar sua mão em meus cabelos, me fazendo uma cafuné. Assim que eu acordei, a mesma me abordou falando das músicas que ela gostava tanto antes mas agora percebeu que não são tão boas. Enquanto eu estava dormindo, ela procurou outras músicas. Músicas que antes não escutaria por seu toque ser suave demais para que ela sentisse alguma vibração.
Eu conseguia ver em seus olhos a animação de poder dizer qual música ela gostou e qual ela não gostou. E eu apenas a olhava. Ela não falava, ainda se comunicava por libras.
– Eu não tenho palavras pra descrever a minha felicidade em te ver assim… Tão animada em poder realizar o seu sonho.
– Por favor, me ensine a falar, me sinto perdida.
– Meu amor, é claro que eu vou te ajudar nisso, não se preocupe com isso. - passo minha mão sobre sua bochecha. - Eu te amo, Moon Byulyi.- rapidamente seus olhos vem em minha direção.- Você conseguiu me entender? - ela concorda. - Olha só, já é um começo!
Dou um beijo em seus lábios e a abraço. Sinto-a me apertar com força. Era como se toda sua felicidade estivesse sendo transmitida por aquele abraço, só me deixando mais feliz do que já estava.
Um ano depois…
– Wheein, vamos logo! Não podemos enrolar num momento desse! - grito da cozinha, desejando que a Wheein chegasse logo com os ingredientes que pedi.
– Tudo bem, tudo bem! Já estou indo. - escuto-a gritar do corredor. - Calma mulher, está tudo sobre controle.
– Mas vai sair do controle se você não me der as sacolas agora. - minha voz acaba saindo mais grossa que o normal. Apenas vejo a Wheein me entregar as sacolas e sair da cozinha com cara assustada. - Eu realmente tenho paciência, mas nem sempre dá para aguentar, certo? - coloco a mão na testa e viro minha cabeça de um lado para outro.
– Falando sozinha de novo, amor? - seus braços me envolvem e ela me abraça por trás, me dando um beijo em minha bochecha.
– Você sabe que eu sou organizada e a Wheein não colabora com a minha paciência.
– São amigas há tantos anos, pensei que já tinha se acostumado com suas loucuras. - ela me solta e vai até as panelas, sentindo o cheiro das coisas que estava preparando. - Isso está muito bom.
– Tem que agradecer a sua mãe, ela que me ajudou e compartilhou suas dicas! - digo enquanto ia tirando as coisas da sacola, pego uma barra de chocolate, abro-a e começo a cortar em pedaços para uma receita de sobremesa que dona Haneul havia me ensinado. Vejo sua mão se preparar para pegar um dos pedaços, dou um tapa fraco em sua mão. - São para a sobremesa, Moonbyul.
– Ah, qual é?! Só um pedacinho. - a mesma começa a fazer cócegas em minha barriga.
– Ta bom! - coloco um pedaço do chocolate em sua boca. - Agora vá ajudar Wheein no que falta, logo teremos que buscar sua mãe no aeroporto e já vamos ter que deixar tudo arrumado para a surpresa da Hwasa.
– Sua fala é uma ordem, alteza. - ela se curva e sai da cozinha dando pequenos pulos.
Anos atrás eu nunca iria imaginar que uma cena dessa iria acontecer. Eu e Moonbyul conversando sem que seja em libras. Foi difícil, mas com muito esforço eu consegui ensinar ela a falar. Assistia vários filmes legendados para ajudar na pronúncia, e aos poucos, começou a falar sem desafinar sua voz. Era nítido sua felicidade em poder conversar com as pessoas.
O dia foi corrido pela festa surpresa que estávamos arrumando. Era aniversário da Hwasa e a Moonbyul teve a ideia de fazer uma festa surpresa. A ideia foi cogitada praticamente um mês antes, quando já colocamos a mão na massa. Deixamos avisado que no final de semana que seria o aniversário da Hwasa, iria com a Moonbyul para a casa da mãe dela. Percebemos que ela acreditou quando uma expressão triste surgiu em seu rosto.
Eu fui encarregada de fazer a comida, Moonbyul e Wheein foram atrás das decorações. Liguei alguns dias antes para pedir ajuda para a mãe da Moonbyul sobre alguns pratos que decidi fazer, a mesma me deu muitas dicas sobre como deixar a comida mais saborosa. Das três, eu era a mais ansiosa e nervosa com a festa, nem parecia que era a Wheein estava planejando uma festa para sua namorada, e sim eu. Mas ainda era algo incrível como as duas acabaram ficando juntas. Depois de tanto tempo, negando seus sentimentos, indo atrás de outras pessoas, mas no final de tudo, acabaram juntas. Era algo que eu e Moonbyul torcíamos, apenas nós conseguíamos ver os sentimentos dos dois lados, o que foi demorado para elas. Quando digo que foi demorado, eu digo que foram três anos. Hoje em dia apenas rimos de todas as confusões que entramos por causa das duas. A pior de todas, que até hoje eu começo a rir quando lembro, é de quando a Wheein marcou de se encontrar com um cara num bar. Tudo estava perfeito quando a Moonbyul veio me avisar que a Hwasa tinha marcado de se encontrar com um cara nesse mesmo bar. Decidimos ir até lá escondidas para ver no que iria dar. Ao chegar lá, encontramos as duas disputando que tava mais afim do homem que estavam acompanhadas, completamente bêbadas. Os homens totalmente perdidos com a reação das duas, apenas as ignoraram e saíram do bar. Seguramos as duas crianças birrentas e as levamos para suas casas. Reclamações durante a viagem toda. Mas tudo isso serviu de lição para as duas, hoje em dia se arrependem de terem demorado tanto.
Algumas horas depois, consegui ajeitar toda a comida e chamei Moonbyul para nos arrumar e buscar sua mãe, que também foi convidada da festa, já que a mesma amou a Wheein e Hwasa no dia que as levamos para sua casa. Tomo um banho demorado para tirar todo o estresse do meu corpo, então me seco e visto a roupa que preparei há dias para usar na festa surpresa. Um vestido azul com alguns retoques em preto. Quando estava colocando a maquiagem, Moonbyul aparece na porta, apoiando um dos braços sobre a parede e fazendo uma posição sensual. Usava uma camisa social branca que estava por dentro de sua calça social preta, que era um pouco justa. Seus cabelos pretos estavam presos em um rabo de cavalo.
– Estou bonita? - pergunta, dando um pequeno sorriso.
Borrei um pouco meu batom ao ouvir sua voz. Tento limpar rapidamente mas meu nervosismo só aumentou ao vê-la rir do meu erro.
– Está linda demais, na verdade, não tenho palavras para descrever como está linda. - digo, ignorando minha maquiagem borrada.
– Você também está muito linda, esse vestido ficou muito bom em você! - ela me dá um tapa na bunda e volta para a porta. - Apresse-se, logo teremos que sair.
Arrumo rapidamente minha maquiagem e por fim, fomos até o nosso carro para buscar a sua mãe. Na viagem, ligo o rádio e começa a tocar uma música que ouvi no dia que fomos a primeira vez juntas a casa de dona Haneul.
– Você conhece essa música? - pergunto calmamente, continuando meu olhar na estrada.
– Não, porque?
– Essa música tocou no dia que a gente tava indo para a casa da sua mãe pela primeira vez. Eu estava bem nervosa na época e essa música conseguiu me acalmar.
– Então ela é nossa música?
– Pode ser… - olho para a janela do carro e fecho os olhos, sentindo o vento bater em meu rosto. - Sabe que a gente andando por aí de carro, me deixa feliz?
– E por qual motivo? - ela pergunta enquanto ria.
– Por que na nossa primeira viagem, você me pediu em namoro. Agora sempre que estamos no nosso carro, a sensação daquele dia volta.
Moonbyul fica em silêncio e respira fundo, olho para ela e penso em falar algo, mas acabo desistindo.
xx
A festa da Hwasa foi um sucesso. Sua cara ao ver que todos estavam aí para comemorar seu aniversário foi a mais satisfatória, e aquilo serviu como pagamento de tudo o que fizemos a ela. Mesmo tendo começado não muito cedo, a comemoração não passou das duas da madrugada, quando todos, principalmente nós três que tinhamos preparado tudo, esgotamos nossas energias. Moonbyul, que era a única que não havia bebido, ficou encarregada de levar as duas para casa. Iria ficar para ajudar Haneul a dar uma ajeitada na casa, mas a mesma me mandou acompanhar Moonbyul. Insisti bastante mas a mesma me empurrou até a porta, ordenando que eu fosse com sua filha. Decidi por desistir, então fui até o carro. Encontro Wheein já deitada nas pernas de Hwasa, enquanto a mesma fazia carinho em seu rosto.
– Ela está bem? - pergunto a Hwasa.
– Sim, assim que entrou no carro, já pegou no sono. Não a julgo, sei que deve ter dado trabalho a minha festa.
– Sua festa ou ela? - cochicho.
– Como?
– Apenas concordei. - solto uma risada para disfarçar e entro no carro.
As ruas estavam vazias então não foi demorado para chegar na casa da Wheein.
– Obrigada pela festa, meninas. Realmente conseguiram me deixar surpresa, havia acreditado na história da viagem de vocês. - ela diz enquanto a Moonbyul estacionava o carro.
– Vou duro até para nós, sua cara com a notícia quebrou meu coração. - Moonbyul fala com uma voz debochada, enquanto mexia no celular.
– Aham, sei! - todas rimos da resposta. - Preciso que vocês me ajudem a levar essa criança pelo menos até o portão do prédio.
– Claro.
Acordamos a Wheein, que estava em seu sono mais profundo. Praticamente carregamos ela até o portão, oferecemos ajuda para carregar até o apartamento, mas Hwasa recusou quando percebeu que Wheein começou a recuperar a consciência. Nos despedimos e voltamos para o carro.
– Huh, eu cansei. - apoio minha cabeça no banco. - Mas foi uma festa agradável, né?
– Foi… - Moonbyul fica quieta por alguns minutos e estranho pela mesma não ter ligado o carro.
– Aconteceu algo? - pergunto, preocupada.
– Preciso te levar em um lugar antes. - rapidamente, ela liga o carro e dá partida.
– Onde?
– Você já verá.
O caminho que a Moonbyul começa a fazer chega a ser familiar. Aos poucos reconheço a rua e vejo de longe a lanchonete que trabalhei por tanto tempo. Olho para o ponto de ônibus que eu sempre esperava para pegar o mesmo ônibus que a Moonbyul. Sinto uma lágrimas escorrer pelo meu rosto, limpo-a para que ela não visse. Depois de alguns minutos, paramos em frente a um prédio. Quando observo qual era, me recordo ser o antigo lugar onde a Moonbyul morava.
– O que estamos fazendo aqui?
Ela sai do carro e caminha até o lado do passageiro, abrindo a porta.
– Venha.
Com a mão estendida, a seguro. Começamos a caminhar até o portão, onde o porteiro nos reconheceu e abriu a porta para nós. Nos cumprimenta e seguimos nosso caminho. Subimos algumas escadas até chegar na porta do seu antigo apartamento. Ela puxa uma chave do bolso e lentamente coloca na fechadura, abrindo a porta. Faz sinal para que eu entrasse e eu apenas faço o que pediu. Logo na entrada, encontro pétalas de lírios espalhadas pelo corredor, vou seguindo o caminho das flores até chegar na sala. Minha boca simplesmente não aguentou fechada. Me surpreendi com o que estava organizado a minha frente. Com algumas velas apenas iluminando o lugar, havia um enorme coração feito com lírios brancos e algumas rosas no centro.
– O que isso significa?! - pergunto, tentando não demonstrar o meu nervosismo. Moonbyul apenas me puxa até o grande coração, onde ficamos no centro dele.
– Com um pouco de ajuda de algumas pessoas importantes para mim, eu consegui arrumar esse lugar. Quando soube que esse lugar estava vazio, implorei para o dono ceder por pelo menos uma noite. Por ter morado tantos anos aqui, não foi difícil. - ela segura minhas mãos e respira fundo antes de continuar a falar. - Sabe? Esse lugar é muito importante para mim, foi aqui que as coisas mais importante da minha vida aconteceram. Foi aqui que eu soube que havia passado na faculdade, também foi aqui que eu soube da vaga de emprego na escola que tanto amei trabalhar. Mas não posso deixar de falar que foi aqui que beijei pela primeira vez a mulher que mais amo na minha vida, e foi aqui onde nos tornamos uma só pela primeira vez. Esse espaço está guardado em um lugar especial na minha memória. - ela dá uma pequena tossida e eu uso de oportunidade para voltar a respirar, já que meu coração havia acelerado e tinha esquecido totalmente o que era respirar. - Eu não teria outro lugar para escolher se não fosse esse. Não sei se sente da mesma forma, mas eu me sinto bem nesse lugar por todas as coisas que aconteceram aqui.
– Eu também me sinto dessa forma. - digo e a vejo sorrir com minhas palavras.
– Uma das minhas maiores vitórias foi ter começado a ouvir, eu agradeço todo dia por ter tido a chance de poder ouvir sua voz dizendo que me ama. Todos esse momentos estão guardados em minha memória também. - e mais uma respirada funda, me deixando só mais ansiosa. - Eu sei muito bem como é o nosso país, conservador, preconceituoso e machista, mas eu não quero deixar esse motivos nos abater, não vou desistir de nós por esses motivos. Acho que poderemos fazer em outro país, já que eu sei que é um dos seus maiores desejos. Agora vamos voltar a moda antiga.
Ela se ajoelha, beija a minha mão e solta. Ela estrala seus dedos e prepara sua mão para fazer algo.
– Kim Yongsun, amor da minha vida, mulher que eu mais amo e a que eu mais amarei enquanto estiver viva. Você me fez a pessoa mais feliz do mundo apenas por permanecer ao meu lado por incríveis seis anos. Eu quero permanecer ao seu lado por mais seis, e se possível, até o final da minha vida. - ela descansa um pouco suas mãos. - Me perdoe, não estou mais acostumada a conversar em libras. - então, volta a fazer sinais. - Então, Kim Yongsun, você quer se casar comigo?
Assim que eu vejo seus sinais, meu coração simplesmente pára. Vejo-a tirar uma caixinha do seu bolso, abrí-lo e mostrar dois anéis de ouro mais lindos que já vi. Ela, que sorria para mim, apenas me observava esperando uma resposta. Me ajoelho a sua frente e me aproximo.
– Sim, eu quero.
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