Moon
As ruas de Hongdae continuavam movimentadas apesar da chuva que caía.
Desliguei meu celular cansada de sentir a vibração em meu bolso enquanto ainda tentava lidar com a fúria dentro de mim, de não ter ido atrás de Dojin e ter lhe dado uma surra que tanto ansiava.
Encarei o pub brevemente antes de seguir pela íngreme rua.
Seguranças que trabalhavam para Do Hwan costumavam cuidar da segurança do bairro e também de sua charmosa casa em um dos pontos mais caros da região. Apertei sua campainha ignorando as gotas que caíam agressivamente pelas minhas costas e alguns olhares curiosos de bêbados que passavam por ali. Respirei fundo tentando aliviar a tensão em minhas mãos mesmo sabendo que essa sensação não cessaria tão cedo.
Poucos minutos depois, encarei seus olhos intensos à minha frente.
Do Hwan costumava ter este tipo de olhar — afiado e atento — desde os tempos de colegial, mas havia certa preocupação quando notou que, por mais que eu tentasse, as palavras continuavam entaladas em minha garganta.
— Vem, entra. — ele me convidou segurando minha mão. — Caramba, você ficará doente assim, Anna.
Deixei que ele me guiasse por sua casa moderna e planejada até um dos quartos bem aquecido. Estava tentando me manter calma, mas estava sendo difícil camuflar a dor que Dojin me fez voltar a sentir.
Doía saber que Mingyu havia se atraído e escolhido uma pessoa como ela em seu passado.
Fechei os olhos enquanto Hwan retirava meu moletom encharcado. Segurei seus ombros cobertos por músculos assim que ele se abaixou para tirar minhas meias ainda com um olhar preocupado.
— Vi a Dojin hoje. — sussurrei para Hwan assim que ele soltou meus cabelos delicadamente. — A dor que sinto no peito parece tão insuportável agora, Hwannie.
— Tome um banho quente primeiro e depois conversamos. — Do Hwan afagou meus braços apontando para a porta da suíte. — Vou pegar algumas roupas secas para você. Não saia daqui, hm?
Concordei apesar de saber que meu corpo não tremia pelo frio, mas pela raiva.
Não sei por quanto tempo fiquei embaixo da água quente e mesmo massageando constantemente meu peito, aquela dor não ia embora, ganhava gradativamente ainda mais força. Uma batida na porta ecoou antes de seu braço pousar algumas roupas no chão e fechar a porta novamente. Eu queria tanto ir atrás de Dojin e acabar com seu sorriso cínico e debochado, mesmo sabendo que precisávamos agir com cuidado.
Encarei brevemente meu reflexo no espelho ao limpar o vidro embaçado. Me sentia esgotada, mas a imagem de meu gêmeo continuava a me encarar de volta, me pedindo por algo silenciosamente. Limpei meus olhos soltando a respiração que segurava ao me vestir com as roupas de Do Hwan.
Sentado na beirada da cama, Do Hwan me esperava com um secador de cabelos em mãos.
— Sabe que não precisa fazer isso. — comentei sentando-me ao seu lado.
— Eu sei, mas faria de qualquer forma para você. — ele respondeu me virando para começar a secar meu cabelo. — Está se sentindo melhor?
Encarei minhas mãos enquanto balançava a cabeça.
— Você não a agrediu, certo? — Do Hwan comentou com precaução.
— Não, por mais que eu quisesse. — respondi fechando os olhos brevemente. — O mundo certas vezes parece tão pequeno, não acha? Porque fui me meter justamente com o ex dela?
Seus dedos pararam de se mover com minha súbita confissão.
— A pessoa com quem você tem saído é o ex dela? — conseguia sentir o desconforto em sua voz. — Você tem um péssimo gosto, Anna. O que pretende fazer agora?
— O que eu deveria fazer agora? — repeti sua pergunta sem obter uma boa resposta para mim mesma. — O que eu deveria fazer agora que todos sabem que dormi com o amigo do meu melhor amigo de infância?
— Você gosta dele? — Do Hwan me perguntou sem receios. — Não deixe sentimentos banais tomarem seu lado racional, hm? Lembre-se do que aconteceu comigo e com você no passado por causa disso.
Fiquei em silêncio por um tempo apreciando ele secar meu cabelo enquanto massageava a dor do vazio em meu peito. No fundo eu sabia que Do Hwan tinha razão, fomos destruídos por quem acreditávamos nos amar. E por mais que Mingyu me fizesse sentir amada e desejada, Dojin era meu principal alvo nesse possível triângulo amoroso. Eu não teria remorso em usar ou atacar caso precisasse se ele realmente fosse o ponto fraco dela.
— Não irei quebrar nosso acordo, Hwan. — finalmente respondi ouvindo seu suspiro. — Irei até o fim.
Virei-me para encarar meu cão de caça.
O único que acreditou e ainda acreditava em mim.
Segurei sua mão vendo-o concordar, apesar de saber que seu coração também poderia estar balançado por uma pessoa.
— Vamos fazer uma última visita a Yun amanhã. — propus observando a fina e longa cicatriz por seu pulso seguir por seu braço me trazendo uma vaga memória de como ele havia conseguido ela. — E então, para o seu alvo.
Seus dedos apertaram os meus em resposta antes de voltar a secar meus cabelos após pigarrear. Ouvi atentamente qual seria a tática que iríamos usar desta vez.
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Havia poucos dias desde minha última visita na penitenciária em que Yun esperava por um de seus julgamentos em aberto. Caminhei em silêncio seguindo o policial a minha frente em direção a uma das salas de visita pronta para meu ultimato. Do Hwan permaneceu do lado de fora com o policial assim que o detento surgiu sem mais aquele olhar de soberba que costumava ter. Me dando um olhar de confirmação, Do Hwan dispensou o policial ficando em seu lugar como segurança.
Yun estava destruído, mas não o suficiente quebrado assim que se sentou na cadeira à minha frente.
— Park. — o cumprimentei deixando o envelope de lado.
— Aish, o que mais você quer de mim? — Yun resmungou em tom baixo encarando as próprias algemas. — Eu fiz o que você queria, não fiz?
Dei uma boa olhada na pessoa em que no passado confiei, mas não consegui conter um sorriso vendo-o tão impotente como agora.
— Está ressentido comigo? — perguntei mesmo sabendo a resposta. — Você sabe porque estou fazendo isso. Certas memórias não podem ser apagadas, mas estou te dando uma chance para me dizer quem o empurrou naquele dia.
— Eu não matei seu irmão, Moon. — Yun respondeu mecanicamente. — Ele se matou. Porque não esqueça isso de uma vez?
Soltei um suspiro ao me levantar e caminhei brevemente pela sala refletindo sobre minhas ações futuras. Sentei-me na lateral da mesa avaliando seu rosto com leves hematomas mantendo-me neutra.
— Nós dois sabemos que não foi isso que aconteceu, Yun. — respondi mantendo nossos olhos fixos. — Quem o empurrou?
Sua resposta foi um silêncio vazio.
— Tudo bem, estou vendo que ter tirado o seu dinheiro e a vida luxuosa não foi o suficiente. — sorri alcançando o envelope. — Bem, já que você me tirou o que eu mais amava, eu deveria devolver o seu karma, não acha?
Pousei diversas fotos em sua frente na mesa observando seu olhar mudar.
Bingo.
— Você conseguiu construir uma família e ter um lindo bebê, estou com inveja já que jamais Jae poderá ter essa oportunidade. — avaliei as fotos tiradas em diversos ângulos. — Aigo, mas acidentes acontecem, não é?
Sorri satisfeita ao ver a fúria e o pavor lhe tomar, o mesmo sentimento que eles me fizeram sentir anos atrás. Segurando meu braço, ele começou a chorar pedindo desculpas mesmo que não fosse o suficientemente verdadeiras.
— Caramba, tudo bem, eu errei feio com você! — Yun choramingou encarando a foto de sua família. — Moon, eu juro que não empurrei o Jae! Você não pode fazer isso comigo, por favor!!
— Quem o empurrou, Yun? — repeti calmamente ignorando sua crise de choro teatral.
Agarrei seus cabelos observando ele balbuciar algo que não entendi de primeira mas que logo se tornou audível. Soltei a respiração que segurava, dando batidinhas em seu ombro ouvindo sua confissão.
Dando uma última olhada em Yun, lhe entreguei a última foto fazendo-o seu choro se intensificar.
— Você pode não ter o empurrado, mas foi cúmplice de tudo o que fizeram com o Jae e comigo naquele dia. — falei desmanchando o sorriso sabendo que o tempo estava esgotando. — Não sou uma pessoa tão baixa ao ponto de tirar a vida de uma criança, mas me certificarei de que você viva o suficiente para apodrecer dentro desta prisão. Estou feliz que sua esposa tenha pedido o divórcio, ela teria perdido tempo ficando com uma pessoa tão mesquinha como você.
Suas lágrimas se intensificaram juntamente com um grito furioso que saiu por sua garganta. Antes que eu pudesse agir, minhas costas bateram contra a parede quando Yun finalmente me mostrou sua verdadeira face. Forcei minhas mãos a continuarem empurrando seu pulso para longe, bloqueando a lâmina que ele segurava em mãos tentando me atingir.
Lhe dei um sorriso vendo seus olhos se tornarem ainda mais agressivos assim que o sangue começou a ser derramado.
Em segundos captei Do Hwan entrar na sala e Yun cair como pluma ao chão após ser nocauteado por um de seus punhos de aço. Pressionei meu pulso tentando conter o sangramento assim que diversos policiais entraram no ambiente insatisfeitos com o que havia ocorrido.
— Cuidem do detento, irei levar ela para a enfermaria. — Do Hwan agora falava como um verdadeiro investigador policial, dando mais veracidade ao distintivo que raramente ele usava em nossos encontros.
Encarei o traste continuar jogado no chão, ainda respirando. Me movi irritada em sua direção por ele ter o privilégio de viver. Braços de ferro me ergueram do chão me obrigando a deixar a sala antes que eu pudesse agir. Do Hwan ignorou meus protestos ao me guiar por um corredor sem fim.
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Massageei brevemente a região de meu pulso enfaixada após verificar a velocidade da internet em minha nova área de trabalho. Ter montado um setup no subsolo do pub de Do Hwan não havia sido planejado, mas eu sabia que seria uma questão de tempo até que alguém me procurasse.
O barulho de luvas se chocando me fizeram desviar o olhar dos monitores para eles. Do Hwan e um de seus seguranças fiéis praticavam um round de boxe em uma energia intensa. Vestindo apenas luvas e calções, eles eram maiores do que já aparentavam.
Pigarreei com o súbito olhar que Do Hwan me deu e finalmente decidi ligar meu celular, não ficando surpresa com a quantidade de notificações e as mais variadas ameaças de Boo com a minha partida na noite passada. Massageei a região desconfortável em meu peito lendo as diversas mensagens até receber uma chamada de Mingyu.
— Merda. — suspirei por saber que no fundo eu não poderia ficar brava com ele.
Cruzei os braços esperando sua ligação cair.
Mingyu me deixou um recado de voz segundos depois em meio as demais mensagens acumuladas.
Continuei encarando o celular e brevemente avaliei o mural de informações na parede à minha frente. Girei-me na cadeira vendo seu nome brilhar novamente na tela. Xinguei baixo me inclinando sob a mesa sabendo que não estava pronta para falar com ele. Mandei uma mensagem para Boo e coloquei o celular no silencioso voltando a encarar a grande muralha de músculo mais ao fundo treinar.
— Você quer me dizer alguma coisa ao invés de ficar com essa cara de enfezado? — perguntei já que desde minha até a enfermaria da prisão Do Hwan não estava com uma boa expressão.
Dando mais alguns golpes no saco de pancadas que seu segurança segurava, ele expirou alto o suficiente para que eu soubesse que ele estava bravo.
— Vamos terminar por hoje. — ele falou ao seu segurança e me olhou. — Eu te disse para não se deixar levar pelas emoções ontem. O que teria acontecido se eu não tivesse entrado a tempo na sala?
— Você sabe que não sou uma mulher indefesa. — retruquei vendo seu sorriso debochado ao se livrar das luvas. — Esqueceu de quando nos conhecemos? Você quase encontrou Jesus com o meu nocaute.
Seu segurança já havia deixado o ambiente assim que ele riu e apontou desafiadoramente para mim.
— Cuidado com suas palavras, Anna. — Do Hwan respondeu deixando o ringue. — E você teve sorte naquela vez.
Sorri achando graça e fiquei mais tranquila por a carranca ter se suavizado em seu belo rosto.
— Iria te desafiar para um round, mas serei legal e deixarei passar só porque você levou alguns pontos. — ele continuou a falar até chegar próximo a mim. — Está sentindo dor? Talvez devesse descansar o resto do dia.
— Estou bem. — confirmei apesar do certo desconforto. — Mas talvez eu devesse ir para meu apartamento.
Suas sobrancelhas arquearam com certa surpresa, me fazendo lhe dar um soquinho de brincadeira em seu abdômen trincado. Segurando minha mão, Do Hwan suspirou encarando o teto.
— Passe a noite aqui, quero me certificar de que ficará bem. — ele pediu pousando minha mão sob seu peito acelerado. — Podemos trabalhar juntos na localização do Wajoon e comer seus mandu favoritos, o que acha?
— Preciso trazer o restante da pesquisa para o mural se quisermos avançar de forma mais eficiente. — apontei para a parede ainda mantendo meus olhos fixos aos seus. — Hwannie, foi só um corte, não é como se ele fosse vir atrás de mim.
Ainda com um olhar incerto, lentamente ele soltou minha mão concordando.
— Mantenha seu celular ligado, Anna. — ele me avisou bagunçando meu cabelo. — Irei chamar meu motorista para te levar.
— Posso ir de metrô. — falei vendo-o caminhar para a porta.
— Não, está tarde demais e sempre há tarados nesta região. — ele negou me dando mais um olhar sério. — Me ligue quando chegar em casa.
— Está levando muito a sério sobre ser um cão de caça. — tirei com sua cara vendo-o dar de ombros.
— Não irei deixar que mais uma mulher importante na minha vida seja machucada. — sua voz era baixa ao confessar um de seus pensamentos do momento. — Se não quiser que meus seguranças fiquem de vigia onde mora, é melhor me ligar, hm?
Encarei a porta ser fechada de forma silenciosa enquanto segurava meu braço. Soltei um palavrão baixo dando uma breve olhada em meu celular. Reconhecia aquele número antigo brilhar na tela, mas não estava pronta para dar um passo em um caminho no qual abandonei tão jovem.
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Sr. Chuu — motorista de confiança de Do Hwan — me deixou em frente ao meu prédio após certificar de que nada parecia fora do normal. O agradeci pela viagem antes de seguir para o hall de entrada e mandar uma mensagem a Do Hwan.
Dessa vez, ignorei os elevadores e segui pelas escadas já que precisava colocar meus pensamentos em ordem. Após lances e mais lances de escadas, empurrei a porta de emergência do andar e segui em passos silenciosos até meu apartamento. Dei uma breve olhada para a porta mais adiante enquanto digitava minha senha.
Estava ansiosa para tomar um banho e ter algumas horas de sono.
— Moon. — sua voz me chamou ao me ver prestes a entrar no ambiente escuro.
Pressionei meus dedos na porta encarando o chão.
Conseguia ouvir seus passos vindo em minha direção assim que suspirei sabendo que Mingyu não me deixaria em paz já que nosso último momento juntos ainda era uma pedra fresca e de certa forma dolorida entre nós.
— Moon, onde esteve esse tempo todo? — ele perguntou com certa irritação. — Ya, você sabe o quanto nos preocupou? Boo Seungkwan estava a um passo de surtar!
Levantei o rosto vendo a tensão em seu olhar, assim como o desconforto era evidente nos meus olhos.
— O que você quer? — perguntei sendo direta sem conseguir manter o contato visual. — Já viu que estou bem, que tal voltar a cuidar da sua própria vida?
— Ya…não faz isso, Moon. — ele pediu ao me ver lhe dar as costas. — Eu sei que você não está bem, sua mentirosa. E sei que tem o direito de estar brava comigo.
Encarei a escuridão de meu apartamento enquanto nossas sombras se projetavam no corredor bem iluminado. Sua mão me puxou pelo casaco me obrigando a dar um passo para trás contra minha vontade. Fechei os olhos tentando não sentir nada assim que suas mãos seguraram meu rosto.
— Ei, olhe para mim. — Mingyu pediu em um tom que apenas nós dois poderíamos ouvir. — Podemos conversar?
Não queria discutir com Mingyu. Não queria sentir a raiva me consumir novamente. Eu só não queria ficar perto dele por mais que meu corpo reagisse de forma contrária.
— Quero ficar sozinha. — respondi retirando suas mãos de mim. — Não estou brava com você, mas estaria mentindo se eu dissesse que estou bem com o que aconteceu.
— Acha que me ignorar então vai resolver a situação? — ele bufou travando minha porta com a mão. — Vamos conversar e …o que aconteceu com o seu pulso?
Cruzei os braços vendo seus olhos se fixarem em meu curativo e sua voz estressada cessar.
— Eu caí. — menti sem me preocupar com a carranca que surgiu em seu rosto. — Dá para você ter o mínimo de respeito e me deixar sozinha agora? Ou também todos precisam saber que eu caí?
Mingyu soltou um belo palavrão sem se importar.
— Ah, sério, você me deixa maluco! — ele exclamou massageando o pescoço.
Continuei de forma imparcial lhe encarando. Evitei dizer em voz alta o que passava em minha cabeça e simplesmente empurrei sua mão de minha porta, sendo a deixa perfeita que ele precisava para conseguir entrar junto comigo no apartamento.
A escuridão nos abraçou quando apenas conseguia ouvir o som de sua respiração contra minha testa.
— Ya, Mingyu. — rosnei assim que senti minhas costas serem pressionadas contra a parede.
— Acha mesmo que deixaria tudo aquilo acontecer se eu soubesse o quanto ela te machucou? — sua voz era séria contra meu ouvido ao segurar minhas mãos que estavam prontas para agir. — Apenas me ouça, Moon.
Virei o rosto ao sentir seu toque em minha cintura.
— Moon, se eu pudesse voltar ao passado, pode ter certeza de que teria feito tudo diferente. — Mingyu confessou após um suspiro. — Meu relacionamento com Dojin não foi nada além de casual, nunca houve sentimentos.
— Pare com isso, não tenho interesse na sua vida sexual. — retruquei tentando o empurrar para longe sem sucesso. — Kim Mingyu, estou te avisando.
Suas mãos me seguraram com mais intensidade no lugar.
— Não existe nada entre mim e ela há bastante tempo, então me ouça. — ele pediu sem muita paciência. — Eu li o que aconteceu com o seu irmão. Com você. Não contei sobre ela antes porque eu sabia que vocês não se davam bem.
Não consegui segurar uma risada sarcástica com suas palavras sobre ela.
— Ela foi uma das pessoas que matou meu irmão, não me venha com essa de “não se davam bem”. — rosnei irritada por ele estar mexendo em um ponto que me machucava. — Acha mesmo que sou capaz de esquecer o que ela me causou?
— Me escuta. — Mingyu segurou meu queixo ainda sério. — Eu acredito em você, por mais que a justiça tenha falhado nisso. E eu nunca iria expor o que está acontecendo entre nós para os rapazes sem você saber e se sentir confortável, então pare de tentar me manter longe de você.
Fechei os olhos tentando controlar minhas emoções, por mais que ele conseguisse mexer com todas facilmente. Boas e ruins.
— Você tem todo o direito de estar brava e magoada, eu deveria ter sido sincero com você quando soube da situação entre vocês duas. — Mingyu continuou em um tom mais brando. — Mas não desapareça assim novamente, Moon. Nunca fiquei tão atordoado como nessas últimas horas achando que algo ruim tinha acontecido com você.
Não sei quanto tempo ficamos calados apenas ouvindo a respiração um do outro em meio ao escuro, mas de alguma forma, seu toque em meus dedos aquietava a grande bagunça em minha mente.
— Porque ela? — balbuciei exausta de ficar engolindo o que mais me incomodava. — Sei que você pode escolher qualquer uma, mas porque uma pessoa como ela?
Senti ele expirar relaxando sua testa contra minha.
— Não me orgulho de como fui no passado, certas vezes achei que o exterior da pessoa era o que mais importava. — ele confessou com certa amargura. — Nunca me importei o suficiente com as pessoas que ficavam comigo por uma ocasião ou uma noite, já que eu sabia que não nos tornaríamos íntimos. Mas então uma nova vizinha se mudou para este andar, me fez começar a ver a vida de uma nova maneira e a parte mais cruel foi que ela me acertou bem no peito com algo que nunca acreditei em poder sentir. Loucura, não acha?
Ouvi ele rir fracamente ao me ouvir bufar um pouco menos tensa, mas não iria cair em seu charme.
— Já ouvi o suficiente nessa noite, charlatão. — cutuquei sua costela em busca de um pouco mais de espaço entre nós. — Preciso descansar um pouco.
— Hm, isso soa como se estivesse me dando um pé na bunda. — Mingyu analisou em voz alta dando um passo para trás. — Preciso achar uma maneira de cuidar desse seu coração ranzinza e tão gelado.
— Vá encher o saco de outro vizinho. — pedi o empurrando para a saída.
Colocando a mão sob o batente na porta, ele me avaliou por um instante finalmente entendendo que eu queria ficar sozinha.
— Você é a única. — Mingyu falou descaradamente ao apontar para mim. — É melhor responder minhas mensagens a partir de agora se não quiser que eu apareça na sua porta tão tarde da noite como hoje, hm?
— Tchau para você também. — respondi fechando a porta antes de seus protestos começarem.
Apesar do estresse do dia, tentei não sorrir ao ouvir seu drama do lado de fora.
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Nos dias seguintes estava tentando voltar a minha rotina normal de trabalho com meus planos com Do Hwan. Ainda estava um pouco ressentida com Seungkwan por ter falado de assuntos que não deveriam envolver os rapazes, mas estávamos dando o espaço necessário para fazermos as pazes.
Ainda me sentia desconfortável para ir ao encontro semanal, fazendo com que Mingyu ignorasse qualquer limite que eu tentasse colocar entre nós.
Bilhetes começaram a ser pregados em minha porta, certas vezes ele deixava caixas de suplementos e vitaminas em meu tapete de entrada. Algumas noites ele me chamava para sair mesmo sabendo a resposta, em outras noites ele aparecia com comida extra me obrigando a guardar na geladeira dizendo que não estava comendo o suficiente. E em algumas vezes, Mingyu apenas me esperava para me abraçar por longos minutos e voltar para seu apartamento como se nada tivesse acontecido.
Dessa vez, caminhando pelo corredor, o observei parado em frente a extensa janela de vidro observando o sol se pôr. Seu sorriso era contido assim que me aproximei.
— Chegou cedo hoje. — ele comentou engolindo o restante de sua cerveja.
Observei a rua principal de nosso prédio concordando, não havia muito no que trabalhar hoje. Amanda estava indo bem sendo a nova gerente do setor de T.I.
— Como foi seu trabalho? — perguntei vendo sua careta.
— O mesmo de sempre, meu amor. — ele deu de ombros ao soltar um suspiro. — Ei, ainda está brava comigo?
— Não, mas você deveria parar de ficar me mandando vitaminas. — respondi fazendo-o rir com as caixas ainda acumuladas em minha porta. — Você sabe que é impossível tomar tudo isso, certo?
Observei as horas em meu relógio desconfiada por ele não ter ido ao encontro semanal no restaurante, nenhum dos rapazes costumava faltar ao evento caótico e barulhento.
— Você está bem? — perguntei tentando não ficar o analisando devido ao seu estranho comportamento.
Mingyu se virou para me olhar até sua mão livre me puxar gentilmente pela blusa e ele me abraçar. Inspirei seu perfume inebriante misturado com o cheiro de álcool sentindo seu coração bater contra meu ouvido.
— Hm, é, eu só precisava do seu abraço. — ele murmurou afagando minhas costas. — Seu cabelo está cheiroso.
Sorri achando graça ao sentir que ele erguia o peso que estava minha bolsa ao notar minha postura. Tirei a garrafa de cerveja de sua mão notando que ele estava um pouco alto.
— Você comeu antes de beber? — perguntei ouvindo negar contra meu ouvido. — Ya, Mingyu.
— Gyu. — ele me corrigiu. — Você jantou?
— Estou pensando nisso quando você estiver pronto para me soltar. — concordei segurando um sorriso.
— Posso ficar a noite inteira aqui sem me importar, meu amor. — ele retrucou cheirando novamente meu cabelo. — O que você vai jantar?
Ergui a pequena sacola em mãos ouvindo-o concordar ao sentir o cheiro de frango frito no ar. Seu rosto estava sonolento assim que voltamos a ter contato visual.
Tudo bem, não seria o fim do mundo ter um pouco de companhia esta noite.
— Você quer jantar comigo? — perguntei ignorando seus olhos brilharem.
— Claro que eu quero. — ele riu consigo mesmo vendo minha careta. — Só não acho que a porção que você comprou irá ser suficiente para nós dois.
— Certo, irei pedir mais, enquanto isso se livre do cheiro de álcool. — comentei seguindo para minha porta.
— Só tomei uma garrafa, como posso estar cheirando assim? — ele perguntou com uma carranca.
Lhe dei um olhar provocativo fazendo-o bufar e seguir para o seu apartamento apressadamente.
Alguns minutos depois de pedir um delivery de mais frango frito, tomei um banho rápido antes de cuidar de meus pontos em fase de cicatrização. Observei meu apartamento levemente bagunçado e suspirei sabendo que não seria uma boa ideia convidá-lo essa noite para cá. Peguei meu celular e a sacola sentindo minha barriga roncar enquanto cruzava o corredor.
Bati em sua porta logo sendo atendida. Mingyu ainda estava secando o cabelo quando me deu espaço para entrar ao analisar meu pijama de ursinhos. Esperava me encontrar com Bobpul, mas seu apartamento estava completamente silencioso e tão bem organizado como sempre. O segui até a sala de estar observando a mesa de centro já com alguns acompanhamentos.
— O delivery logo irá chegar. — comentei vendo-o vestir uma camiseta para meu alívio.
— Quer beber algo? — ele me perguntou sem mais a sonolência alcoólica de antes.
— Estou bem. — comentei me sentando no sofá encarando sua imensa televisão desligada.
Ficamos em silêncio cômico por um instante até Mingyu se oferecer para pegar o delivery na portaria do prédio enquanto eu continuava sentada esperando ansiosamente para comer.
Talvez não tenha sido uma boa vir ao apartamento de Mingyu, a intensidade natural vinda dele era algo que ainda era algo novo e nada habitual para mim. O observei voltar com uma sacola farta sorrindo satisfeito. Ajeitei com cuidado as porções variadas de frango sob a pequena mesa quando Mingyu desapareceu em sua cozinha moderna.
— Agora sim está completo. — ele pousou algumas garrafas de cervejas e soju no chão ignorando meu olhar desconfiado.
Peguei uma grande coxa do frango empanado sem me preocupar com as boas maneiras e mordi um grande pedaço fazendo seu sorriso aumentar.
— Hum, uau! — exclamei extasiada com o sabor. — Uau, eu poderia comer isso todos dias.
Mingyu riu abrindo uma garrafa de cerveja ao escolher um pedaço generoso do frango ao molho agridoce. Ouvi ele exclamar em aprovação enquanto eu provava outro estilo de frango soltando mais um som positivo. Abri uma garrafa de soju dando um gole direto do vidro sem me preocupar com seu olhar provocativo. O líquido quente desceu facilmente pela minha garganta fazendo-me soltar mais um barulho positivo, era uma excelente combinação.
— Hm, prove esse. — Mingyu indicou surpreso com outro estilo de frango na caixa. — Ya, sério, o melhor!
Estávamos ocupados demais devorando os melhores frangos fritos que já havia comprado para nos preocuparmos em conversar ou poupar a quantidade de álcool que ingerimos em tão pouco tempo. Estava me sentindo no paraíso satisfeita com o jantar quando ele desapareceu novamente na cozinha.
— Ei, não vamos beber mais, não quero ter uma ressaca amanhã — falei um pouco arrastada ao me sentar em seu tapete fofo e me encostar no sofá.
Estava sentindo o calor me consumir assim que ele voltou com um pote de sorvete. Sorri assim que ele se sentou ao meu lado com duas colheres, Mingyu sabia que jamais negaria um sorvete caro e de graça.
— Você está babando? — ele riu tirando com a minha cara ao me ver sorrir degustando uma colherada generosa do sorvete.
Peguei mais uma colher relaxando ao seu lado, o gelo ajudava a diminuir o calor interior causado pelo álcool e a inquietação que estava começando a sentir. Acabamos assistindo juntos um anime aleatório disponível em seu catálogo na televisão e apreciando a sobremesa em um silêncio confortável.
E talvez eu pudesse compreender a razão de Mingyu ter agido estranho mais cedo. Ele estava se sentindo sozinho. Ele sentia falta do que havíamos desenvolvido juntos.
Pousei minha cabeça no encosto do sofá deixando meus olhos vagarem por seu rosto concentrado no anime. Sua mão procurou pela minha enquanto ainda assistia a trama, entrelaçando nossos dedos em um ato tranquilo.
Lá estava novamente as cócegas em meu estômago que ele vinha me fazendo sentir.
— Sei que sou bonito, mas talvez você fique cansada de olhar tanta beleza por tanto tempo. — ele respondeu segurando um sorriso provocativo.
Ergui as sobrancelhas ao ter seu olhar divertido em mim.
— Estou observando sua incapacidade de comer sem se sujar. — comentei passando meus dedos por sua bochecha suja de sorvete. — Viu só, bebê chorão?
Mingyu sorriu segurando meu pulso com cuidado. Em um ato surpresa, observei ele limpar meus dedos de uma maneira nada convencional.
— Resolvido. — ele comentou beijando meus dedos em seguida.
Continuei encarando Mingyu que sustentava meu olhar assim que se aproximou um pouco mais. Sua mão ajeitou uma mecha de meu cabelo para trás certificando se eu estava bem com seu toque.
— Talvez eu devesse ir embora, está ficando tarde. — comentei sem conseguir me mover.
— Não está tão tarde. — Mingyu respondeu parando seu rosto a centímetros do meu. — Ou está?
— Você sabe o que eu quero dizer. — sussurrei sem conseguir não olhar para sua boca.
— Claro que sei. — ele concordou focado em meus olhos. — Mas o que você quer, Moon?
Algo em meu coração estava vacilando com o seu olhar, a forma como meus batimentos cardíacos estavam mais intensos fazia-me me sentir uma idiota completa. Acariciei seu pescoço vendo sua boca beijar-me o braço esperando minha confirmação. Seu nariz tocou o meu pacientemente enquanto eu lutava com a onda de sentimentos que apenas ele estava conseguindo me fazer sentir.
Segurando seu maxilar, dei fim a necessidade que sentia em beijá-lo.
Os lábios de Mingyu eram convidativos assim que os toquei, mas ele não tinha pressa alguma para prosseguir. Fechei os olhos sentindo sua língua provocar a minha antes dele concordar em me oferecer um beijo calmo com o sabor de baunilha do sorvete. Suas mãos me puxaram para perto enquanto ele dominava minhas emoções.
— Gyu, não faça isso. — pedi apavorada em como ele estava me testando.
— Shhh, apenas me sinta. — sua voz estava rouca enquanto seus dedos entravam pela parte de trás de minha camiseta.
Sua boca pousou um beijo quente em meu pescoço antes de voltar a me olhar. Fechei os olhos apreciando suas mãos passear por minha pele antes de eu o beijar com urgência. Sua boca reagiu instantaneamente enquanto seu corpo guiava o meu ao tapete lentamente. Mingyu se livrou de sua blusa antes que eu sentisse seus dedos em busca de mais contato físico.
— Não esqueça de respirar, Moon. — Mingyu me provocou entre beijos assim que se aninhou entre minhas pernas.
— Não comece algo se não for terminar. — retruquei ouvindo sua risada fofa assim que ele se afastou para me observar.
Precisava confessar que Mingyu me deixava sem fôlego ao me encarar daquela maneira. Ajeitando meu short, mordi os lábios assim que sua mão desapareceu por dentro do tecido começando a me tocar.
— Gyu. — murmurei aterrorizada de como era boa a sensação de seus dedos deslizarem por minha pele.
— Fica comigo essa noite, Moon. — Mingyu pediu se livrando da camada de tecido de minha calcinha.
Não conseguia raciocinar claramente vendo ele me apreciar assim que confirmei a ideia. Seus olhos estavam atentos enquanto me estimulava. O beijo de Mingyu era intenso quando seu corpo me prensou ao chão. Era impossível controlar minhas pernas a não se fecharem quando seus dedos estavam fazendo um bom trabalho.
— Ei, espere. — comentei atordoada com uma nova sensação. — Gyu, espere.
Beijei seu ombro sem conseguir conter um gemido ao sentir a dor aguda me consumir. Apertei minha mão contra o peito sentindo uma súbita falta de ar me tomar violentamente assim que o empurrei para longe.
Estava queimando e pressionava cada vez mais.
— Moon? — ouvi sua voz me chamar apesar de estar presa naquele maldito topor.
Senti meu corpo ser erguido quando o pânico começou a me tomar assim que a fraqueza abraçou meu corpo. Minha visão se tornou turva conseguindo visualizar apenas borrões de seus traços.
— Não me deixe sozinha, por favor. — pedi tentando controlar minha respiração em vão.
Não conseguia mais ouvir o que Mingyu me dizia, muito menos manter meu corpo em pé. Mantive meus olhos abertos com grande esforço sentindo ele me balançar constantemente enquanto seguia para o elevador com pressa.
— Ei, estou aqui com você, está tudo bem. — sua voz era branda contra meu ouvido. — Preciso que você inspire e expire devagar, gatinha.
Apertei meus dedos em sua camiseta reconhecendo o arrepio correr pela minha coluna tentando dizer a mim mesma que tudo iria cessar em breve. Não sentia que estava chorando até sentir sua mão limpar meu rosto e de como sua voz era calma e angelical ao me dizer palavras confortantes.
Estava acontecendo novamente, mas eu não estava mais sozinha.
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