Sasuke
Já fazia kickboxing há tanto tempo que simplesmente não via mais sentido naquilo. Seu quarto era cheio de medalhas, já havia alcançado o mesmo título de Itachi na categoria infantil, mas conforme o tempo ia passando, percebia que nada daquilo importava mais, não tinha mais o mesmo interesse de antes. Sasuke percebeu que tentar alcançar Itachi já não fazia tanto sentido, então decidiu que pararia de vez com as aulas de luta e sairia das competições. Fora bem gratificante por um tempo, mas desde que conseguiu o título de campeão municipal infantil, o interesse foi se perdendo cada dia mais, direcionando-o para outra coisa. Sasuke queria tocar um instrumento agora, e havia escolhido a bateria. Desde que vira Suigetsu falando sobre o instrumento, havia se encantado, e depois de vê-lo tocando-o numa apresentação na escola, tornou-se decidido e determinado. O som era atrativo, o desafio da coordenação era uma bela barreira a se romper, e Sasuke adorava se sentir desafiado quando se interessava de verdade por alguma coisa.
– Suigetsu! Queria perguntar umas coisas sobre sua bateria...
– E aí, Sasuke! Pode falar!
– É que eu estou interessado, querendo pedir uma de presente pros meus pais, mas não sei… Queria saber se posso fazer um teste tocando a sua pra ver se quero mesmo ter uma pra mim.
– Claro cara, vamos depois da aula… É demais! Eu aprendi rápido com o meu professor novo, posso até te dizer onde fica se quiser…
Aulas. Sasuke não pensara nisso de início. Não tinha apenas que ter a bateria, mas também pagar as aulas… Não seria problema, na teoria. Sasuke estava tirando excelentes notas na escola, não tinha problemas em casa e nem nada que o impedisse de ganhar tais presentes. A única objeção possível seria do pai, pois ele ainda esperava que Sasuke se espelhasse no irmão para tudo, mas ele não queria. Itachi já não era motivo de ciúmes, ou podia apenas ter se acostumado com o fato de que o irmão mais velho sempre teria mais atenção do pai, independente do que acontecesse. Ainda mais agora que Itachi estava começando a fazer natação, ele era realmente fã de esportes, enquanto Sasuke se direcionava pra exercícios intelectuais, deixando-se fazer o que queria de verdade dessa vez, começando aos poucos a fazer suas escolhas e pensar sozinho.
Passou a aula distraído pensando sobre a bateria. Seria um grande passo, depois de seis anos lutando kickboxing apenas chegar para o pai e dizer que está desistindo porque quer outras coisas, algo que não tem absolutamente nada em comum com nenhum tipo de luta ou esporte. O pai teria teria problemas em aceitar, mas a mãe com certeza o apoiaria. Itachi já estava entrando pra faculdade agora com dezoito anos, então ele acabaria tendo mais atenção dentro de casa, mesmo que não quisesse isso no momento. Aliás, a atenção excessiva que tinha as vezes por pessoas indesejadas estava deixando-o diariamente irritado. Pessoas, não… Pessoa. Sakura tinha virado uma menina fútil, aparentemente. Insuportável e implorava por todo tipo de atenção que pudesse receber de qualquer pessoa, mas Sasuke era seu alvo favorito. Quando eu a queria por perto, ela sequer se importava, agora mal somos amigos. Sasuke começava a entender o que o pai e o irmão diziam sempre sobre mulheres serem “criaturas complicadas”. Itachi já tinha aparecido com algumas meninas, mas nenhuma durou. Ele não parecia muito fiel, Sasuke tinha notado. Ainda bem que parei de segui-lo… Não gostaria de levar aquele tapa na cara. Riu lembrando-se de quando uma das namoradas do irmão descobriu a existência de outra e fez uma verdadeira bagunça a respeito, chegando até a estapear o rosto de Itachi, que sequer parecia se importar com a situação problemática. Sabia que não queria isso para ele, apenas. O sinal estava tocando, então, finalmente a aula tinha acabado.
A casa de Suigetsu era perto, então chegaram rápido. Sasuke sentou-se na bateria e segurou as baquetas como foi explicado pelo amigo. Suigetsu ensinou coisas básicas, como o tempo medido em um dos pratos. Sasuke percebeu que suas mãos e pés não o obedeciam, mas quando conseguia algo, seguir um ritmo... Sentia-se realizado. E então passou a ter certeza, ele teria a bateria nem que tivesse que passar meses pedindo por uma. Pegou também o cartão do professor que Suigetsu não parava de elogiar. Kakashi, estava escrito ali. Agora só faltava chegar em casa e torcer para que o pai não o contrariasse, senão teria que esperar até ter mais idade para poder comprar uma sozinho, mas tinha esperanças, o máximo que poderia acontecer era que o pai exigisse algo em troca, mas nesse caso, Sasuke já sabia o que poderia oferecer.
– Como assim você não vai mais fazer kickboxing?!
– Pai, eu não me interesso mais. Eu quero tocar bateria, aprendi umas coisas hoje com Suigetsu e gostei, então…
– Sasuke! Você não vai ser um músico sem futuro, está me entendendo?
E por mais que aquilo soasse absurdo, pois Sasuke tinha apenas onze anos e ser músico era a última coisa que pensava fazer da vida, o pai continuava batendo sempre na mesma tecla.
– Pai, não quero ser músico… Apenas quero tocar bateria.
– Fugaku, o menino tem medalhas pelo quarto todo, deixe-o! Vamos comprar a bateria! – a mãe ficou ao seu lado, como esperado – Desde que as notas da escola continuem altas…
– Tudo bem, eu compro essa porcaria! Mas com uma condição… Você praticará algum esporte junto!
– Sim, vou jogar futebol.
– Ótimo, compramos na semana que vem, fecharei um contrato no trabalho e lhe darei de presente.
Sabia que Naruto chamando-o toda semana pra entrar pro time de futebol seria útil, apesar de ser extremamente irritante. O treino era leve, apenas uma vez na semana por obrigação. Sasuke não gostava, não tinha o menor interesse… Mas podia ficar apenas no banco, como muitos. Como queria.
Sakura
Por que tinha que ser tão difícil conseguir a atenção dele? Sasuke já não se importava com ela fazia muito tempo e isso apenas a deixava mais irritada. Não sabia mais o que podia fazer para chamar a atenção… Já havia tentado de tudo, até mesmo aceitar beijar pessoas que ele conhecia. Beijar não era nada demais para Sakura, ela já tinha a experiência desde os dez anos, estava mais avançada que a maioria das garotas de sua idade, e gostava de se orgulhar disso. Não tinha nenhum conhecimento sexual, sequer sabia que beijar tinha significado, mas ela via apenas como um ato físico do qual podia se gabar. Naruto sempre pedia para que ela parasse, sempre em seu pé… E Sasuke não se importa comigo, enquanto Naruto não me deixa em paz.
Desde que Sasuke tinha conseguido ganhar a bateria, ele só se afastava de Sakura, e isso a irritava. Ouvia suas amigas falando sobre ele, sobre gostarem dele… e o ciúme que sentia era enorme e inexplicável, mesmo que Sasuke não se importasse mais com ela, Sakura nunca desistia de ter uma conversa, fosse sobre qualquer coisa. Apenas queria ouvi-lo, já que ultimamente ele sequer falava com ela, apenas com Naruto. Naruto deveria arrumar isso pra mim…
Teve a infeliz decisão de tentar conversar com Sasuke sobre música e sobre o instrumento novinho do qual ele não parava de falar para todos os amigos, exceto ela. Aproveitou-se que tinha o visto sentado sozinho no começo do intervalo da escola e se aproximou, sorridente por ele ainda não ter se afastado e nem dito nada sobre ela não se sentar ao lado dele.
– Então, você está no time de futebol agora, não é?
– É sim.
– Torcerei por você no campeonato entre as escolas!
– Legal.
– Ei, Sasuke… É verdade que você tem uma bateria agora?
– É.
– E eu poderia, sabe… ver você tocando um dia?
– Não.
– Mas…
Mal teve tempo de falar alguma coisa e Sasuke já havia se levantado. Ele estava andando, completamente despreocupado, como se não tivesse sido a pessoa mais grossa possível. Sakura estava se sentindo horrível, ninguém nunca tinha tratado-a daquela forma, nem mesmo ele. O que poderia ter acontecido? Ela não sabia o que fazer, estava sentada e quebrada, completamente perdida. Mas aquilo não ficaria assim. Não vai ficar assim de jeito nenhum… Mesmo sendo ele...
Tinha um garoto, um tal de Sasori. Era um dos amigos mais próximos de Naruto e Sasuke, e ele havia dito em segredo para Tenten, uma amiga de Sakura, que gostaria muito que seu primeiro beijo fosse com ela. Sakura não ia aceitar, porque isso poderia fazer com que Sasuke a odiasse de verdade, mas ela estava pensando seriamente em dizer sim ao menino ruivo e bonito. Ela não sabia, mas aquilo se tratava de orgulho, a fonte e motivo de muitos problemas, a inocência só permitiria que ela entendesse bem mais tarde do que tudo isso se tratava de verdade
Ainda era intervalo, Sasuke estava com Suigetsu, Naruto e Sasori sentados em um canto do pátio conversando sem parar. Pelos gestos, estavam falando sobre a bateria. Porcaria de instrumento. Sakura era direta e precisava se manter firme no que tinha pensado em fazer. O plano? Aceitar beijar Sasori, mas sem aviso prévio, sem enrolação e com certeza sem privacidade. Já tinha visto em vários filmes e novelas algumas cenas assim acontecerem e nunca tinha dado errado, então por que daria agora?
– Sasori! Venha aqui…
Aproximou-se da roda e o chamou, pode ver que o menino hesitou na hora de se levantar e todos os outros pararam de falar e fazer o que estavam fazendo apenas para olhar aquela cena. Sasori levantando em câmera lenta, Sakura fazendo pose com as mãos pra trás e com o joelho dobrado, fazendo com que o pé direito apontasse para o chão.
– S-sim?
Ele engoliu em seco logo após olhar para ela, então Sakura achou que a hora era aquela, ele não a afastaria, ao menos não deixava transparecer isso. Sem mais delongas, Sakura se aproximou de Sasori e colocou as duas mãos naquele cabelo ruivo desarrumado, sorrindo para ele, mas sentindo imensa vontade de chorar quando viu de relance a expressão de desprezo no rosto de Sasuke. Nem assim ele se importa… Mas será que vai continuar assim se eu…? E o beijo aconteceu. Sakura encostou seus lábios no de Sasori por alguns segundos, ele era tímido demais para abrir a boca e usar a língua tão rápido, então ela não forçou. Para finalizar, apenas puxou levemente o lábio inferior de Sasori e se afastou em seguida. Todos olhavam, ela tentou não olhar de volta, mas não conseguiu. Sasuke tinha se levantado dali e saído de perto de todos, em sua expressão tinha apenas o desprezo. Mas ninguém se afastaria assim de algo que realmente não incomoda, Sakura ainda não conseguia pensar dessa forma ou compreender sentimentos complexos, mas aquele que ela mais compreendia ainda estava ali, sussurrando todos os dias quando ela fingia ser feliz, fingia ser melhor do que todos no que pudesse. O sentimento, a sensação… Estou sozinha. De novo…
No final de semana, Sakura estava em sua casa, ela e Hinata tinham saído comprar alguns vestidos pra festa de halloween da escola, e agora estavam ocupadas provando e pedindo ajuda para fazerem uma maquiagem assustadora. Hinata tinha escolhido ser vampira e Kushina a prepararia pra isso. Sakura seria uma bruxa, tinha pedido para a mãe de Naruto ajuda-la com o resto também. As roupas daquela babá seriam úteis agora… Ria enquanto pensava sozinha e guardava a roupa para a semana seguinte, quando o telefone celular tocou. Correu para atender, pois era o toque personalizado, era seu pai.
– Papai!
– Sakura? Estou indo para casa, vista-se de forma bonita, estou levando alguém especial… Até daqui a pouco, princesa.
“Princesa”, ele apenas usava essa palavra quando estava pra dar alguma notícia ruim. Sempre antes de cancelar passeios, não voltar pra casa no dia combinado ou negar qualquer coisa, ele adicionava essa mesma palavra na frase que seria usada como desculpa. Sakura se desmanchou em desânimo enquanto pensava no que seria dessa vez. Hinata até tinha tentado perguntar sobre, mas não tinha obtido respostas, apenas um pedido para que deixasse a amiga sozinha.
Sakura vestiu-se com um vestido que o pai tinha lhe comprado há aproximadamente um mês. Era branco e cheio de rendas, “detalhes delicados para uma menina delicada”, palavras de seu pai. Apesar de não conseguir se ver dessa forma, ou até mesmo ser o que o pai pensava que era, tentava ao máximo em sua rara presença. Se ele ao menos estivesse perto as vezes… Saberia que essa não sou eu. Ouviu o carro do pai estacionando na garagem e correu pra entrada, mesmo que não se sentisse animada, ainda sentia saudades. Assim que a porta se abriu, pode ver o pai e ele segurava a mão de alguém… Esse alguém surgiu nas frações de segundos seguintes. Era uma mulher… Aparentemente jovem. Cabelo azul, curto… Maquiagem forte, e nariz empinado. Não… Por favor…
– Princesa… Essa é minha namorada! O nome dela é Konan e a partir de hoje ela vai viver com a gente.
Por favor, não… Não… Ele não pode estar fazendo isso comigo, não pode de jeito nenhum. Eu…
– Sakura, seu pai fala de você a todo momento! Como vai?
– Eu… – Agora vou perdê-lo para sempre. Essa mulher… Eu a odeio.
Sakura estava se sentindo traída, não era a primeira vez que se sentia assim. Só conseguia pensar no quanto era absurdo o pai trazer aquela mulher até ali e coloca-la pra dentro de casa. Era horrível, Sakura não aceitaria facilmente. Ela não vai ser minha mãe, ninguém vai! Decidiu correr até seu quarto, onde poderia chorar sem ser vista. O pai sequer foi atrás, o que apenas a fez chorar ainda mais pela sensação de ser deixada de lado, pelo abandono. E eu queria tanto conversar com ele, queria tanto contar como foi meu dia na escola… Falar sobre a festa… Queria tanto meu pai…
“Você está sozinha” aquela voz lá no fundo de sua mente sussurrava, mas agora era possível ouvir com mais clareza. A dor era tanta que chegava a parecer um grito. Em nenhum momento Sakura pensou que pudesse estar exagerando, ou estar errada. Não… Isso não era algo que ela conseguisse fazer. Eu a odeio!
Hinata
Estava escovando seus longos cabelos na frente do espelho após tomar banho. Tinha um carinho enorme por cada fio, pois lembrava-se de sua mãe, era o que ambas tinham de mais parecido. Onde será que você está?
Não tinha palavras para agradecer aos seus novos pais, quando pensava na imensa sorte que teve por encontrar aquela família, podia sentir um arrepio na espinha. Ainda tinha medo de perder tudo de novo, mesmo com toda a confiança, mesmo com a segurança… Ela sentia medo. Todo o medo era facilmente esquecido e afastado quando via Naruto. Hinata tinha sentimentos por ele, algo que ia além do carinho e amor fraterno, realmente gostava do irmão adotivo, desde que vira seus olhos pela primeira vez, desde que fora aquecida por aquele sorriso.
A única coisa que a incomodava em relação a Naruto, era sua inocência quando se tratava de Sakura. Até mesmo ela tinha percebido que Sakura era uma criança diferente das outras, ela tirava proveito… Ela pedia coisas absurdas e Naruto sempre atendia a todas as suas vontades. O incidente com o algodão doce anos atrás foi onde tudo começou, desde então só piorou. Sakura não conseguia enxergar seus erros, não conseguia ver o lado das outras pessoas e muito menos ficar por baixo em qualquer situação que fosse. Suas notas eram as custas de outras pessoas, ela nunca fazia algo sem tirar de alguém. Lembrou-se de quando ela estava querendo a atenção do pai e como não obteve, pediu por dinheiro para gastar em brinquedos, e como se não bastasse, pediu uma quantia absurda e o pai lhe deu. “Só queria testar se ele gosta mesmo de mim”, ela disse. Hinata enxergava aquelas maldades como algo desnecessário, eram amigas, as duas… Mas poucas eram as coisas em que concordavam. Sasuke tinha se afastado dela por causa disso. As atitudes e personalidade de Sakura tinham mudado completamente conforme o passar dos anos, Naruto era incapaz de enxergar isso, todos os outros viam. Naruto não é capaz de ver maldade nas pessoas… Espero que isso não o machuque um dia.
Apesar de odiar praticamente tudo que Sakura fazia com outras pessoas, Hinata passava bastante tempo com a amiga, até mesmo combinaram de ir a uma festa da escola juntas. Podia-se dizer que eram melhores amigas, pois Sakura lhe contava tudo, ou quase isso. Ela evitava falar sobre a família, principalmente depois do aparecimento de uma madrasta, pois depois dela, Sakura passou a ser mais fechada e demonstrar mais ódio do que o comum. Hinata não entendia, era como ter uma mãe… Ela mesma não tinha mais a sua, mas amava Kushina de todo o coração, mesmo que não fosse sua mãe de verdade, então não via por que aquilo não poderia funcionar para Sakura também. Ela deve ter os motivos dela…
Agora estavam na escola, era aula vaga, então Hinata reuniu-se com Sakura e Karin. Karin era uma das amigas mais próximas de Sakura dentro da escola, mas nunca se viam ou se falavam fora dela. Uma coisa engraçada é que Sakura tinha algo por Sasuke… E odiava todas as meninas que tentavam chegar perto dele, e Hinata desconfiava que apenas por isso ela conseguia ser amiga de Karin. Faria sentido, Karin era a única que era indiferente em relação ao Sasuke ou qualquer outro menino. Estavam as três reunidas e o assunto era beijar na boca. Hinata não sabia o que era isso na prática, já tinha visto acontecer com muitas pessoas e sentia o rosto queimar em se imaginar na mesma situação, mas quando Sakura falava, parecia ser algo tão vazio e sem sentido, que Hinata sequer sabia se queria ou não ter aquela experiência logo.
– Então, beijei aquele menino ontem, o loiro… Foi até bom, sabe. Eu já gostei dele antes de gostar do Sasuke.
“Já gostei dele”, essas palavras fizeram eco na mente de Hinata. Ela nunca tinha tentado beijar alguém que gosta, e só havia um garoto que gostava desde sempre e provavelmente não o beijaria. Sakura já tinha gostado de muitos, beijado muitos até mesmo sem gostar, só para tentar mexer com alguém. Isso é tão triste…
– É bom que ele não goste de mim, sabe… A cara dele me enjoa.
Esse tipo de comentário era bem comum, fazia Hinata se questionar se ela falava aquilo por maldade ou se estava sendo realmente sincera. Nunca era possível saber o que Sakura estava sentido de verdade, a menos que ela estivesse com raiva, nesse caso todos eram obrigados a saber. Hinata era mais reservada com sentimentos, não conseguia se expor daquela forma e nem queria. Apesar de não entender o por quê daquilo, sabia que não seria assim de forma alguma. Mas, ironicamente… Tudo que Sakura falava, fazia com que Hinata refletisse sobre. E apesar de nunca terem a mesma opinião, as duas tinham sempre as mesmas perguntas ao mundo de forma geral, e isso fazia com que fossem realmente amigas. A proximidade entre as duas aconteceu do nada, e assim permaneceu. Elas se entendiam de forma torta e estranha, as vezes Hinata sentia que Sakura podia enxergar sua dor escondida, assim como ela sentia o mesmo em algumas ocasiões. E esse fato de se entenderem sem dizerem nada, as tornava amigas quase inseparáveis.
Hinata agora estava sozinha em seu quarto, tinha acabado de chegar da escola e trocar suas roupas. Kushina tinha saído para fazer compras, Minato estava trabalhando e Naruto tinha acabado de chegar, estava tomando banho. Toda aquela história sobre beijos tinha deixado Hinata mais do que intrigada, ela queria saber como era, mas não poderia ser qualquer pessoa. Alguns meninos já tinham tentado na escola e ela apenas os afastava, não gostava de pensar em ter uma intimidade assim com algum desconhecido. E justamente por isso, tinha se dirigido até o quarto de Naruto, estava sentada em sua cama, esperando-o sair do banho. Espero que ele saia de lá vestido…
– Hinata? O que tá fazendo aqui?
– Ah, eu… Então. É. Assim…
– Ahn? Você tá bem?
Ele estava com aquela cara de preguiçoso, iria dormir daqui a pouco como sempre fazia após a escola, e enquanto ficava com aquela cara de dúvida, esfregava a toalha nos cabelos loiros e mais desarrumados do que nunca, que ainda pingavam água pelo quarto todo. Acho que ele vai apanhar por isso depois…
– Ah! Sim! Claro… É, eu… Sabe… Queria te pedir uma coisa.
– Era isso? Pode me pedir o que quiser, Hinata!
– Então, é… Assim. Claro, é algo meio… Incomum.
Naruto tinha se sentado ao lado dela na cama, e era quase possível ver uma interrogação desenhada em sua expressão. Como posso pedir isso?! Acho que devo desistir…
– Como assim? Pode me pedir, está tudo bem… – agora ele tinha uma expressão de preocupação, Hinata quase achou graça de como era fácil ler o que se passava na cabeça dele naquele momento.
– Você já beijou alguém?
– Eu… Claro! Por que a pergunta? Alguém tentou beijar você na escola? Me diga quem é! Ele vai se ver comigo… Ok, talvez não comigo, mas com o Sasuke com certeza, ele vai me ajudar e…
– Naruto! Não… Não é isso.
– Então o que é? Você tá me deixando nervoso, Hinata…
– É que eu nunca… Beijei.
– E o que tem? É normal…
– Eu queria… Mudar isso…
– Mas claro! Uma hora você vai conhecer alguém e… Espera. O que isso tem a ver com o que você quer me pedir? Você quer minha ajuda?
– Sim…
– Ah, era só dizer de uma vez! Eu conheço vários garotos legais e…
– Naruto! Eu quero um beijo seu!
A frase saiu pela impaciência, Hinata se arrependeu de ter dito tão diretamente assim que terminou de falar. Ficou vermelha, podia sentir seu rosto quente como nunca, e Naruto estava paralisado e com os olhos arregalados, sem saber o que dizer. Ele vai negar…
– Ah, Hinata… Eu não acho que eu deveria. Sabe, não que eu não te ache bonita, porque você é bem bonita, er… Bastante mesmo, mas isso não dá. É, não que eu não goste de você, sabe… Mas não sei, não parece certo, e se alguém souber…
– Ninguém saberá… Eu queria que fosse com você porque não confio em outro garoto…
– Ah, então… Nesse caso… Acho que tudo bem. Não é? Tudo bem? Acho que sim… Tudo bem.
Ele estava nervoso e não conseguia dizer uma frase sem gaguejar ou repetir várias vezes algumas palavras. Mas Hinata queimava por dentro e por fora, sentia um frio na barriga que afetava diretamente sua respiração, fazendo-a esquecer de soltar o ar as vezes. Estavam sentados de frente um para o outro, Hinata sentia seu coração querendo sair do peito, nunca imaginou que ficaria tão nervosa por algo que todos faziam parecer tão simples.
– Então, é… É bem simples, assim…
Naruto se aproximava devagar, hesitando em chegar perto de uma vez, aparentemente esperando que Hinata se movesse também, e ela o fez. Estavam sentados numa distância em que mal se encostavam, então precisaram inclinar os corpos para frente, chegando cada vez mais perto. E finalmente, os lábios haviam se tocado. Hinata sentia um turbilhão de sensações dentro de si, mas não conseguia pensar em outra coisa, estava beijando Naruto… Seus lábios estavam encostados por alguns segundos e ela não sabia como prosseguir depois daquilo. É tão… Macio.
Naruto se afastou, Hinata pode abrir os olhos lentamente e ver que ele ainda estava nervoso, mesmo que ele tentasse esconder. Naruto era expressivo demais, seu rosto o entregava antes de suas palavras.
– É só isso?
– Mais ou menos… Dá pra… Assim, usar a língua sabe, mas… Não acho que devemos… Sabe? Devemos? Não...
– Naruto… Por favor, é só uma vez.
– Hinata, você vai acabar matando nós dois… Eu… Ok. Só dessa vez… Er… Você vai precisar abrir a boca e me seguir… Você está me deixando sem graça explicando isso e… Ok. Abrir a boca só um pouco… Não que eu seja um profissional nisso, mas é assim que se faz, sabe? É… Isso. Ok.
Antes que Hinata respondesse, Naruto se acalmou e se aproximou dela novamente, e seus lábios se colaram de novo, dessa vez Hinata pode senti-lo abrindo um pouco a boca, então o acompanhou. Assim que sua língua tocou na dele, outro frio na barriga aconteceu, mais forte dessa vez. Macio e… Molhado. Ela não entendia de onde vinha aquele sentimento, sentia como se seu corpo não a obedecesse, como se alguma voz estivesse gritando lá no fundo, dizendo para que ela chegasse mais perto dele. Alguns segundos depois de perfeita sincronia, Naruto se separou dela de novo. A expressão no rosto dele agora era de medo…
– Ok Hinata, agora falando bem sério… Isso não pode acontecer de novo. Foi a primeira e última vez, tudo bem?
– Tá, mas... Não pode ter uma vez antes da última?
Naruto revirou os olhos e se beijaram de novo. E parecia bem mais simples dessa vez. Ele não sabe mesmo dizer não… E eu estou me aproveitando dele, mas não quero parar. Mais alguns segundos, fazendo com que ela se arrependesse de pedir por outro beijo, pois esse tinha sido ainda melhor do que o primeiro e ela só conseguia pensar em como queria mais. Mas agora não pediria de novo, sabia que era perigoso, sabia que era errado… Mas não podia negar o que sentia. Tinha saído do quarto de Naruto, não o agradeceu pois ainda não tinha palavras. Seus pensamentos estavam altos demais, ela se sentia tonta. Muitas emoções misturadas, estava confusa como nunca. E ninguém nunca saberá disso…
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