Saïd não tinha certeza de quando ele começou a sentir contrações, mas sabia que seu corpo já estava o avisando do que iria, inevitavelmente, acontecer.
Como um ômega grávido prestes a dar à luz, ele deveria estar frequentemente acompanhado, mas insistiu firmemente, tanto a sua família quanto aos seus alfas, que era capaz de se cuidar sozinho.
Bem, ele não era.
Por não ter nada para fazer além do leve trabalho doméstico, visto que as mães, avós e irmãs da família iam, quase diariamente, à casa deles para limpar tudo - para que ele não fizesse esforços - a cozinha era o único lugar onde ele poderia se distrair. Ou pelo menos tentar.
“Urg, droga!” Ele grita, após a segunda fornada de biscoitos queimar.
O ômega sentia que tudo estava indo da maneira errada. Seu bebê estava em plena agonia desde a madrugada, chutando e se mexendo sem parar, e ele não conseguiu dormir por medo de que algo acontecesse. E, para completar, Vinz e Hubert estavam brigados, e não achavam que ele havia percebido.
Desde que se lembra, Saïd agia como um mediador nas brigas entre os dois. Quando ambos se apresentaram como alfas, Saïd era o único que conseguia separar os dois, com lágrimas brilhantes e olhos tristes, aos quais ambos os alfas nunca conseguiram resistir.
A mãe de Hubert sempre costumava falar que os três terminariam juntos, porque de maneira alguma o destino separaria três almas tão grudadas.
Bom, uma vez, ele quase os separou.
Vinz e Saïd eram como carne e unha, sempre vistos juntos, mesmo sem Hubert por perto. E quando o alfa em questão percebeu isso, ele se sentiu horrível. Sabendo que ele nunca poderia fazer parte do que os dois tinham, porque um ômega com dois alfas não era comum, e não parecia muito provável. Para ele, parecia muito óbvio quem o ômega escolheria, e então, para se safar da dor, ele escolheu se afastar. Após terminar o colégio, ele decidiu que iria para Paris, tentar sua carreira como boxeador.
Saïd sorriu ao se lembrar de como Vinz pareceu desesperado ao ouvir a mãe de Hubert dizer que ele havia ido embora, de como seus olhos escureceram de dor ao saber que seu companheiro tinha ido embora sem contá-los, sem se despedir. Felizmente, tudo havia dado certo no final de alguma forma.
As lembranças se entrelaçavam com as sensações presentes, e Saïd percebia que o momento crucial se aproximava rapidamente. Seus pensamentos se dividiam entre as dores do parto iminente e a reconciliação que se desenhava diante dele.
Enquanto a cozinha ainda carregava o aroma dos biscoitos queimados, o ômega tentava se concentrar, mas as emoções tumultuadas ameaçavam tomar conta. A campainha ecoou, interrompendo seu fluxo de pensamentos. Com dificuldade, ele se levantou, e foi para a sala. Ao abrir a porta, deparou-se com Vinz e Hubert, rostos carregados de preocupação e arrependimento.
"Saïd, nós..." começou Vinz, mas Hubert ergueu a mão, interrompendo-o suavemente.
"Sabemos que você disse que pode cuidar de si mesmo, mas não podemos ignorar o que está acontecendo," disse Hubert, com sinceridade em sua voz.
Saïd suspirou, tanto pela nova onda de dor que percorreu seu corpo quanto pela surpresa dos alfas estarem cientes da sua situação. O vínculo deles ainda era forte, mesmo que estivesse em um momento turbulento.
Hubert rapidamente agiu, pegando delicadamente seu corpo e o segurando no estilo noiva. Saïd se aconchegou no pescoço do alfa, cheirando a glândula de acasalamento.
“Quero fazer biscoitos,” ele murmurou para os alfas, que riram baixinho.
“Faremos todos os biscoitos que você quiser, petit chat sauvage.”
Eles foram à cozinha, o alfa o colocou no chão e tirou sua jaqueta, passando para Vinz. Para que o ômega pudesse ter algo que cheirasse como os dois. E então ambos se sentaram no balcão, observando o menor se mover pelo espaço.
Enquanto tentava focar na cozinha, Saïd não conseguia evitar pensar em como seria difícil cuidar de um bebê com o temperamento intenso de ambos os alfas. A mistura de impulsividade de Vinz e a determinação obstinada de Hubert poderiam resultar em desafios consideráveis.
Saïd sentiu a ansiedade aumentar. "Cuidar de um bebê com esses dois será como equilibrar no fio de uma navalha," pensou, com um misto de preocupação e ternura.
Vinz e Hubert trocaram olhares cúmplices, percebendo a inquietação de Saïd. A tensão persistia, mas uma decisão silenciosa foi tomada. Eles precisavam conversar da maneira correta.
Mais tarde, com biscoitos bem assados e barrigas cheias, os alfas encontraram o ômega no quarto do bebê, seu pequeno corpo envolto da jaqueta carregada com o cheiro dos alfas. Seu próprio cheiro se sobrepondo exalava preocupação e dor, enquanto ele olhava para o berço vazio.
Ambos entraram e se aproximaram do ômega, envolvendo o ambiente com seus feromônios calmantes.
“Nos sabemos que você está com medo e que está preocupado, mas você precisa nos contar o que está pensando, para podermos tentar te ajudar,” Vinz começou, colocando delicadamente a mão sobre a barriga do ômega. “Temos que fazer isso juntos, ou nada vai dar certo.”
Ele estava surpreso, dos três, Vinz era o mais temperamental. Poucas vezes suas palavras saiam desta maneira, geralmente se resolvendo muito mais em ações ou sexo.
“Quem te fez falar dessa maneira?” Saïd murmurou com um pequeno sorriso.
Vinz riu e deu de ombros: “ O grandalhão ali colocou um pouco de razão na minha bunda.”
“Só um pouco?” O ômega provocou, com um sorriso relutante.
"Pode ter certeza que foi o bastante para ele gritar como uma vadia," O outro alfa resmunga.
"Oh, eu imagino."
Eles riram e se abraçaram. Hubert por trás e Vinz à frente, como um pequeno sanduíche.
“Queremos você e este pequeno bem, só isso,” Hubert diz, acariciando a cintura grávida.
Saïd assentiu. “Eu sei. Amo vocês, mes idiots d'alpha.”
Entre as incertezas do futuro, o ômega finalmente sentiu um alívio. A união dos três, agora focada na nova vida que vinha ao mundo, prometia superar as dificuldades que se apresentavam. O calor humano substituiu a tensão, e juntos, enfrentariam os desafios e alegrias que o destino reservava.
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